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o uso da história em quadrinhos no ensino de história: “will eisner ...

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História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 10, abril/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brO USO DA HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO ENSINO DE HISTÓRIA:“WILL EISNER ENTRA OU NÃO ENTRA NA SALA DE AULA?”Welson Luiz PereiraMestre <strong>em</strong> História pela UFPREspecialista <strong>em</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História pela FACINTER/IBPEXwelsonpereira@hotmail.comResumo:Este artigo t<strong>em</strong> por objetivo analisar as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> (fragmentos selecionados) presentes nas obrasseleciona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Will Eisner e verificar <strong>em</strong> que medi<strong>da</strong> pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s pelos professores <strong>em</strong> suas aulas <strong>de</strong>História. Eisner, <strong>de</strong> um modo geral, produziu narrativas gráficas que retratam vários aspectos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>estaduni<strong>de</strong>nse <strong>no</strong> início do século XX, abor<strong>da</strong>ndo t<strong>em</strong>as históricos e relacionando-os com questões cotidianas,como a violência urbana e os conflitos familiares. Estas obras, que abor<strong>da</strong>m t<strong>em</strong>as “reais”, são chama<strong>da</strong>s porEinser <strong>de</strong> “Graphic <strong>no</strong>vel”. Com uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> teórico-metodológica que abor<strong>da</strong> a peculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s múltiplasleituras e dos <strong>quadrinhos</strong> para o ensi<strong>no</strong>, procurou-se, além <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s obras aquiseleciona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Will Eisner, d<strong>em</strong>onstrar a sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> para o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História.Palavras-chave: Histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, Leitura, Conhecimento histórico.


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br1 INTRODUÇÃOEste artigo t<strong>em</strong> por finali<strong>da</strong><strong>de</strong> discutir as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> (fragmentosselecionados) presentes nas obras seleciona<strong>da</strong>s <strong>de</strong> Will Eisner e suas possíveis aplicações <strong>no</strong>ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História. As obras seleciona<strong>da</strong>s para este artigo são: “O Nome do Jogo”, “UmContrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço” e “Força <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”. De um modo geral,Eisner produziu narrativas sobre vários aspectos sociais <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> estaduni<strong>de</strong>nse <strong>no</strong> iníciodo século XX, sobretudo os conflitos entre famílias judias estabeleci<strong>da</strong>s <strong>no</strong>s Estados Unidos eas diferenças sociais ali presentes, interligando questões cotidianas com momentos históricosmais amplos, como a crise do liberalismo econômico, <strong>em</strong> 1930, e o período entre as duasgran<strong>de</strong>s guerras mundiais. Deste modo, a história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> <strong>de</strong> Will Eisner possui,mesmo utilizando personagens fictícios, uma dimensão histórica que po<strong>de</strong>rá, com a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>orientação dos professores, ser utiliza<strong>da</strong> <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História.Algumas obras historiográficas que analisam a história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> enfatizamquestões i<strong>de</strong>ológicas ali presentes, <strong>em</strong> maior ou me<strong>no</strong>r grau, inserido-a <strong>no</strong> <strong>de</strong>bate sobre oimperialismo cultural estaduni<strong>de</strong>nse <strong>no</strong> contexto <strong>da</strong> Guerra Fria 1 , <strong>em</strong>bora estas tambémproponham ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s metodológicas <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. O enfoque, entretanto, que o presenteartigo preten<strong>de</strong> enfatizar é <strong>de</strong> uma proposta metodológica, com algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>em</strong> tor<strong>no</strong><strong>da</strong> narrativa histórica presente na arte sequencial <strong>de</strong> Will Eisner, com base nas propostasmetodológicas <strong>de</strong> Túlio Vilela e nas discussões <strong>da</strong> aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong><strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História <strong>de</strong> Marcelo Fronza. Além disso, preten<strong>de</strong>-se neste artigo discutir oconceito <strong>de</strong> leitura <strong>de</strong> Eni Orlandi que analisa a multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> sentidos <strong>da</strong>dos ao mesmotexto por diferentes leitores.Uma <strong>da</strong>s justificativas <strong>em</strong> utilizar a história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> na sala <strong>de</strong> aula, aponta<strong>da</strong>por parte <strong>da</strong> historiografia, é a relevância <strong>de</strong> sua utilização <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História como recursodidático, fonte <strong>de</strong> pesquisa e interpretação histórica. Especificamente as histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong>, como fonte histórica, pod<strong>em</strong> trazer aspectos sociais do passado e pontos <strong>de</strong>parti<strong>da</strong> para discussões conceituais, como o conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e suas múltiplas dimensõest<strong>em</strong>porais: sucessão, duração e simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>.Organizou-se, então, o presente artigo <strong>em</strong> três partes. A primeira <strong>de</strong>las discute, <strong>em</strong>linhas gerais, a biografia <strong>de</strong> Will Eisner e as suas obras aqui seleciona<strong>da</strong>s. Em segui<strong>da</strong>, na1 Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> são os trabalhos mo<strong>no</strong>gráficos <strong>de</strong> MIRANDA e FERNANDEZ, “O <strong>uso</strong> <strong>da</strong> revista<strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História para o 4º ciclo: o imperialismo <strong>no</strong> Brasil nas aventuras do Tio Patinhas esobrinhos”, e <strong>da</strong> mo<strong>no</strong>grafia <strong>de</strong> NASCIMENTO e SANTOS, “Batman e a História”, ambos <strong>de</strong>fendidos <strong>no</strong>Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Pós-graduação e Extensão.2


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brsegun<strong>da</strong> parte, analisam-se os aspectos teóricos e metodológicos e suas implicações para os<strong>quadrinhos</strong> aqui selecionados, <strong>de</strong> modo que possamos compreendê-los e <strong>de</strong>stacar as suasespecifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Por último, na terceira parte, são <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>spe<strong>da</strong>gógicas <strong>em</strong> tor<strong>no</strong> <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> seleciona<strong>da</strong>s e, a partir disto, discutir a suarelevância para o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História.2 APRESENTAÇÃO DO AUTOR E DAS OBRAS SELECIONADASConsi<strong>de</strong>rado o mais influente e importante criador <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> (HQs)do século XX, Will Eisner, filho <strong>de</strong> imigrantes ju<strong>de</strong>us, nasceu na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova York <strong>em</strong> 6<strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1917 e faleceu <strong>no</strong> dia 3 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 2005. Seus primeiros trabalhos, ain<strong>da</strong>quando frequentava o ensi<strong>no</strong> básico <strong>em</strong> sua infância, foram publicados <strong>no</strong> jornal <strong>da</strong> escola DeWitt Clinton Hight Scholl, <strong>no</strong> Bronx. Ingressou <strong>no</strong> mercado <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> <strong>em</strong>1936, após cursar a New York Art Stu<strong>de</strong>nts League, e publicou seus primeiros trabalhosprofissionais, “Harry Karry” e “O Flama”, na revista “Wow! What A Magazine”.Mais tar<strong>de</strong>, Eisner fundou, com a aju<strong>da</strong> <strong>de</strong> seu amigo, Samuel Maxwell “Jerry” Iger, oEisner-Iger Studio que produzia <strong>quadrinhos</strong> <strong>de</strong> vários gêneros para editoras americanas,britânicas e australianas. Nesta época, criou vários heróis <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> como “Shenna”, aRainha <strong>da</strong>s Selvas, o “Gavião dos Mares”, o “Tio Sam”, “Sr. Místico” e o seu personag<strong>em</strong>mais conhecido, o “Spirit”, um mascarado s<strong>em</strong> superpo<strong>de</strong>res que combatia o crime urba<strong>no</strong>com apenas seus punhos e inteligência.Eisner fundou ain<strong>da</strong> a American Visual Corporation, que produzia histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> educacionais entre as déca<strong>da</strong>s <strong>de</strong> 1950 e 1970. Em 1978, publicou a obra “UmContrato Com Deus”, com a qual criou o conceito “graphic <strong>no</strong>vel” 2 . Mais tar<strong>de</strong>, após acriação dos personagens acima mencionados, passou a se <strong>de</strong>dicar apenas a “graphic <strong>no</strong>vel”com t<strong>em</strong>as mais realistas, como “No Coração <strong>da</strong> T<strong>em</strong>pesta<strong>de</strong>”, “O Último Dia <strong>no</strong> Vietnã”, “AForça <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”, “Aveni<strong>da</strong> Dropsie”, “O Nome do Jogo”, “O Complô” e, além <strong>da</strong> primeiraobra <strong>de</strong>sta categoria, “Um Contrato Com Deus” (EISNER, 2007a, p. 149 e 150).Boa parte do que Eisner escreveu são m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> sua infância e juventu<strong>de</strong>, poissendo filho <strong>de</strong> imigrantes ju<strong>de</strong>us vindos <strong>da</strong> Europa para Nova Iorque, durante as déca<strong>da</strong>s <strong>da</strong>2 A tradução para o português seria “Novelas Gráficas” que pelas obras referencia<strong>da</strong>s significa longas narrativas(<strong>em</strong> livros completos) <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong> indivíduos comuns <strong>em</strong> situações reais, violência urbana, <strong>em</strong> “artesequencial”. Esta, para Eisner, significa um “veículo <strong>de</strong> expressão criativa, uma disciplina distinta, uma formaartística e literária que li<strong>da</strong> com a disposição <strong>de</strong> figuras ou imagens e palavras para narrar uma história oudramatizar uma idéia” (EISNER, 2001, p. 5).3


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brGran<strong>de</strong> Depressão e <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, acabou abor<strong>da</strong>ndo <strong>em</strong> suas obras oantiss<strong>em</strong>itismo na socie<strong>da</strong><strong>de</strong> estaduni<strong>de</strong>nse, as rivali<strong>da</strong><strong>de</strong>s entre as diferentes colônias <strong>de</strong>imigrantes ju<strong>de</strong>us que se estabeleceram <strong>em</strong> Nova Iorque, a ascensão do Nazismo e arepercussão <strong>da</strong> Revolução Russa (VILELA, 2008, p. 119).Especificamente, as obras aqui analisa<strong>da</strong>s merec<strong>em</strong> algumas consi<strong>de</strong>rações gerais. Nolivro “O Nome do Jogo” (2003), Eisner narra uma história que atravessa três gerações, <strong>em</strong>tor<strong>no</strong> <strong>de</strong> três famílias <strong>de</strong> <strong>de</strong>scendência ju<strong>da</strong>ica, que lutam <strong>em</strong> manter o po<strong>de</strong>r, o privilégio e ostatus social por meio do casamento; enquanto as famílias mais ricas buscam assegurar o seufuturo através <strong>de</strong>ste, os me<strong>no</strong>s afortunados utilizam-<strong>no</strong> para obter riquezas e posição social.Em “Um Contrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço” (1978) é narra<strong>da</strong> várias históriascotidianas <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica <strong>de</strong> um cortiço e suas lutas pela sobrevivência nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920. Por último, <strong>em</strong> “Força <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>” (1988), Eisner examina a vi<strong>da</strong>, os sonhos, asesperanças e os t<strong>em</strong>ores <strong>de</strong> pessoas comuns que sobreviveram à <strong>de</strong>pressão econômica nadéca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1930; nesta obra é narra<strong>da</strong> a luta diária <strong>de</strong> moradores <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica <strong>de</strong> umcortiço <strong>em</strong> Nova York que t<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>nças <strong>em</strong> suas vi<strong>da</strong>s provoca<strong>da</strong>s pela ascensão <strong>de</strong> Hitlerna Al<strong>em</strong>anha. Portanto, são obras que narram conflitos cotidia<strong>no</strong>s interligados <strong>em</strong> contextoshistóricos b<strong>em</strong> específicos.Vale a pena ressaltar que uma <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> Will Eisner, “Um Contrato Com Deus &Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço”, foi alvo <strong>de</strong> polêmicas divulga<strong>da</strong>s pela imprensa que <strong>de</strong>stacoualguns educadores que consi<strong>de</strong>raram o conteúdo <strong>da</strong> obra como ina<strong>de</strong>quado para os alu<strong>no</strong>s – olivro <strong>de</strong> Eisner foi distribuído às escolas públicas pelo Ministério <strong>da</strong> Educação –, conformeum trecho <strong>em</strong> específico que trata <strong>da</strong> polêmica <strong>no</strong> estado do Paraná:A on<strong>da</strong> <strong>de</strong> caça a obras literárias disponíveis <strong>em</strong> bibliotecas escolares chegouao Paraná. O vereador Jair Brugnago (PSDB), <strong>de</strong> União <strong>da</strong> Vitória, na RegiãoSul do estado, retirou <strong>da</strong>s prateleiras <strong>da</strong> biblioteca <strong>da</strong> Escola Estadual SãoCristóvão, on<strong>de</strong> é diretor, duas obras literárias indica<strong>da</strong>s para alu<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong>médio. Após consi<strong>de</strong>rar o conteúdo dos livros ina<strong>de</strong>quado, Brugnago entroucom ação <strong>no</strong> Ministério Público do município para pedir que todos osex<strong>em</strong>plares <strong>de</strong> Amor à Brasileira – que reúne vários contos, <strong>de</strong>ntre eles um <strong>de</strong>Dalton Trevisan – e Um Contrato com Deus – e Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço, doescritor america<strong>no</strong> Will Eisner, sejam retira<strong>da</strong>s <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as escolas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Aretira<strong>da</strong> dos livros é critica<strong>da</strong> por especialistas (...)As obras são envia<strong>da</strong>s pelo Ministério <strong>da</strong> Educação, por meio do ProgramaNacional <strong>da</strong>s Bibliotecas Escolares (PNBE), às escolas públicas <strong>de</strong> todo país.Elas faz<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> uma lista seleciona<strong>da</strong> e analisa<strong>da</strong> por uma comissão <strong>de</strong>professores universitários <strong>da</strong> área selecionados pelo MEC. Os livros só chegamàs bibliotecas <strong>da</strong>s escolas <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aprovados. A ação do vereador ocorreuapós casos s<strong>em</strong>elhantes <strong>em</strong> São Paulo e Santa Catarina. Em São Paulo, o4


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brconteúdo <strong>de</strong> Um Contrato com Deus já havia sido questionado por algunseducadores (...) por conter cenas <strong>de</strong> violência, sexo, estupro e pedofilia. Escrita<strong>em</strong> 1978, a obra recria m<strong>em</strong>órias <strong>da</strong> infância do autor, vivi<strong>da</strong> <strong>em</strong> um cortiço doBronx, <strong>em</strong> Nova Iorque, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 30. Eisner é consi<strong>de</strong>rado um dos artistasmais importantes <strong>de</strong> histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> e <strong>da</strong> cultura popular do século20. 3Em resposta a esta polêmica o Ministério <strong>da</strong> Educação afirmou, entre outras, que asobras questiona<strong>da</strong>s pertenc<strong>em</strong> ao “Programa Nacional <strong>de</strong> Bibliotecas nas Escolas (PNBE). Ouseja, são livros <strong>da</strong> biblioteca escolar, cuja cessão <strong>de</strong>ve ser intermedia<strong>da</strong> pelo professor ou pelobibliotecário e <strong>de</strong>stina-se à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar: dirigentes, professores, pais e estu<strong>da</strong>ntes.” 4A leitura realiza<strong>da</strong> por estes educadores, portanto, <strong>de</strong> uma <strong>da</strong>s obras aqui referencia<strong>da</strong>sconsi<strong>de</strong>rou o seu conteúdo como ina<strong>de</strong>quado para os adolescentes, pois segundo eles,apresentaria imagens <strong>de</strong> violência, como estupro e pedofilia. Neste sentido, caberia aqui aseguinte pergunta: por que estes educadores leram esta obra <strong>de</strong> Will Eisner <strong>de</strong>sta maneira? Aresposta estaria relaciona<strong>da</strong> ao tipo <strong>de</strong> leitura que faz<strong>em</strong>os ao texto e isso é reflexo direto domomento social e histórico <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os. Como será abor<strong>da</strong>do na sequência, Eni Orlandianalisa a leitura <strong>em</strong> seu aspecto social e histórico e pela interação entre os interlocutores, istoé, o autor e o leitor atribu<strong>em</strong> diferentes significados para suas leituras, <strong>no</strong> mesmo texto, <strong>em</strong><strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s épocas. Desta forma, a obra “Um Contrato Com Deus” po<strong>de</strong> ser compreendi<strong>da</strong>como um texto e como tal passível <strong>de</strong> várias interpretações, uma <strong>de</strong>las é a crítica que oseducadores fizeram sobre a obra <strong>de</strong> Eisner.3 METODOLOGIAPara compreen<strong>de</strong>r a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s fontes aqui seleciona<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> respon<strong>de</strong>r àquestão coloca<strong>da</strong> anteriormente, são discutidos nas páginas seguintes alguns conceitos quepossam possibilitar uma melhor apreensão sobre as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>. O primeiro <strong>de</strong>lesé apresentado por Eni Orlandi, que probl<strong>em</strong>atiza a complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> gera<strong>da</strong> pela leitura, pois,para ela, to<strong>da</strong> leitura e todo leitor têm suas histórias, isto é, “para um mesmo texto, leituraspossíveis <strong>em</strong> certas épocas não o foram <strong>em</strong> outras, e leituras que não são possíveis hoje serão3 SIMAS, Anna e DUARDE, Tatiana. Censura a livros chega ao Paraná. Gazeta do Povo. Curitiba. 17 <strong>de</strong> junho<strong>de</strong> 2009. Ensi<strong>no</strong>. Disponível <strong>em</strong>: Acesso <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.4 GONZATTO, Marcelo. Pedofilia, estupro e adultério são t<strong>em</strong>as para estu<strong>da</strong>nte?. Portal Social. Rio Gran<strong>de</strong> doSul. 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2009. Notícias. Disponível <strong>em</strong>: Acesso <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>2010.5


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br<strong>no</strong> futuro”, pois “o conjunto <strong>de</strong> leituras feitas configuram, <strong>em</strong> parte, a compreensibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> leitor específico.” (ORLANDI, 2008, p. 41 e 43).As diferentes leituras que faz<strong>em</strong>os ao mesmo texto <strong>de</strong>pend<strong>em</strong>, segundo estaafirmação, <strong>de</strong> condições históricas e sociais, on<strong>de</strong> as práticas sociais são vivencia<strong>da</strong>s, pois“todo falante e todo ouvinte ocupa um lugar na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>”, ca<strong>da</strong> um atribuindo diferentessignificados às suas leituras. Para autora, o sujeito não se apropria <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> <strong>de</strong> maneiraindividual, mas <strong>de</strong> forma social (ORLANDI, 2008, p. 18 e 19).Assim, a atribuição <strong>de</strong> sentidos a um texto po<strong>de</strong> variar amplamente e, neste sentido,po<strong>de</strong> apresentar dois tipos <strong>de</strong> leituras: 1) leitura parafrástica: se caracteriza peloreconhecimento ou reprodução <strong>de</strong> um sentido que se supõe ser o do texto, estabelecido peloautor, e que procura repetir o que o autor disse e permite a produção do mesmo sentido <strong>em</strong>diversas maneiras; 2) leitura polissêmica: se <strong>de</strong>fine pela atribuição <strong>de</strong> múltiplos sentidos aomesmo texto.Segundo Orlandi, a tensão entre a leitura parafrástica e a polissêmica constitui “asvárias instâncias <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong>”. Na perspectiva discursiva, esta tensão básica cria umaambigui<strong>da</strong><strong>de</strong>, tornado-se peça fun<strong>da</strong>mental “entre o texto e o contexto histórico-social: porquea linguag<strong>em</strong> é sócio-historicamente constituí<strong>da</strong>, ela mu<strong>da</strong>; pela mesma razão, ela se mantém amesma” (ORLANDI, 2008, p. 12 e 20). Para Orlandi é possível i<strong>de</strong>ntificar três tipos <strong>de</strong>discurso:o tipo autoritário é o que ten<strong>de</strong> para a paráfrase (o mesmo) e <strong>em</strong> que se procuraconter a reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> (há um agente único: a reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a zero),<strong>em</strong> que a poliss<strong>em</strong>ia é conti<strong>da</strong> (procura-se impor um só sentido) e <strong>em</strong> que oobjeto do discurso (seu referente) fica dominado pelo próprio dizer (o objetopraticamente <strong>de</strong>saparece). O discurso polêmico é o que apresenta um equilíbriotenso entre poliss<strong>em</strong>ia e paráfrase, <strong>em</strong> que a reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> se <strong>da</strong> sobcondições, é disputa<strong>da</strong> pelos interlocutores, e <strong>em</strong> que o objeto do discurso nãoestá obscurecido pelo dizer, mas é direcionado pela disputa (perspectivaparticularizantes) entre os locutores, havendo assim a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong>um sentido: a poliss<strong>em</strong>ia é controla<strong>da</strong>. O discurso lúdico, que é o terceiro tipo,é aquele que ten<strong>de</strong> para a total poliss<strong>em</strong>ia, <strong>em</strong> que a reversibili<strong>da</strong><strong>de</strong> é total e <strong>em</strong>que o objeto do discurso se mantém como tal <strong>no</strong> discurso. A poliss<strong>em</strong>ia éaberta. O exagero do discurso autoritário é a ord<strong>em</strong> <strong>no</strong> sentido militar, o dopolêmico é a injúria e o exagero do lúdico é <strong>no</strong>n sense [s<strong>em</strong> nexo, disparatado].Em <strong>no</strong>ssa forma <strong>de</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> atual, o discurso autoritário é dominante, opolêmico é possível e o lúdico é ruptura. (ORLANDI, 2008, p. 24 e 25)Estas <strong>de</strong>finições não pod<strong>em</strong> ser compreendi<strong>da</strong>s como algo estanque, pois para Orlandinão se <strong>de</strong>v<strong>em</strong> “estabelecer relações categóricas entre os tipos.” A forma mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> é6


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brcompreendê-las por tendências, assim há tendências para o tipo autoritário ou mais para olúdico, não tendo, assim, tipos puros, a não ser i<strong>de</strong>almente (ORLANDI, 2008, p. 25).Para a autora, portanto, a plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s leituras não é apenas a leitura <strong>de</strong> váriostextos, mas a “possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se ler um mesmo texto <strong>de</strong> várias maneiras” (ORLANDI, 2008,p. 87). Assim, quando l<strong>em</strong>os, participamos do processo <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> sentidos, que sãoconstruídos historicamente.Discussão s<strong>em</strong>elhante à <strong>de</strong> Orlandi sobre o significado construído pelos leitoresatravés <strong>de</strong> suas leituras, mas com propósitos diferentes, Fronza probl<strong>em</strong>atiza como os alu<strong>no</strong>sdo Ensi<strong>no</strong> Médio constro<strong>em</strong> conhecimentos históricos 5 a partir <strong>de</strong> suas leituras <strong>da</strong>s histórias<strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> com t<strong>em</strong>as históricos e, assim, <strong>de</strong>scobrir quais as inferências 6 que estessujeitos produz<strong>em</strong> para significá-las. Assim, Fronza se aproxima <strong>de</strong> Eni, ao afirmar que autilização <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> pelo narrador gráfico (autor) po<strong>de</strong> gerar <strong>no</strong> “leitor umamultiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> significações advin<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma situação histórico-social concreta”(FRONZA, 2007, p. 46).Para Fronza, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> são artefatos culturais que pod<strong>em</strong> mediar arelação entre a cultura dos alu<strong>no</strong>s (pois estão presentes <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> dos alu<strong>no</strong>s) e a cultura doambiente escolar, incluindo ali o conhecimento histórico, fazendo com que os alu<strong>no</strong>s possamsentir satisfação <strong>em</strong> conviver <strong>no</strong> ambiente <strong>da</strong> sala <strong>de</strong> aula. Partindo <strong>de</strong>ste pressuposto, ashistórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> trabalha<strong>da</strong>s como fontes históricas pelos professores pod<strong>em</strong> suscitaraos alu<strong>no</strong>s a produção <strong>de</strong> inferências relativas ao conhecimento histórico (FRONZA, 2007, p.1 e 7). Segundo as suas conclusões, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> com t<strong>em</strong>as históricos, taiscomo as obras aqui referencia<strong>da</strong>s, possibilitam uma passag<strong>em</strong> <strong>da</strong> cultura primeira(conhecimento prévio), dos estu<strong>da</strong>ntes <strong>em</strong> seu cotidia<strong>no</strong>, para um conhecimento históricoelaborado (saber sist<strong>em</strong>atizado), produzido <strong>no</strong> ambiente escolar. (FRONZA, 2007, p. 98 e 99)Assim, <strong>de</strong> acordo com este autor, as HQs b<strong>em</strong> trabalha<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula po<strong>de</strong>rão favorecero <strong>de</strong>senvolvimento educacional do alu<strong>no</strong>, sobretudo, o conhecimento histórico. Mas como otrabalho pe<strong>da</strong>gógico envolvendo <strong>quadrinhos</strong> po<strong>de</strong>ria criar condições para tal <strong>de</strong>senvolvimentocognitivo?Para respon<strong>de</strong>r a esta probl<strong>em</strong>ática, o presente artigo abor<strong>da</strong>, a partir <strong>de</strong> agora, asespecifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos <strong>quadrinhos</strong> com t<strong>em</strong>as históricos como documento e <strong>de</strong> sua aplicabili<strong>da</strong><strong>de</strong>5 Aqui entendido como saber elaborado ligado à epist<strong>em</strong>ologia <strong>da</strong> História, como a objetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>, evidência, aexplicação histórica, a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po histórico entre outros.6 A inferência po<strong>de</strong> ser entendi<strong>da</strong> como uma “relação lógica entre os documentos e os contextos <strong>de</strong> sua produçãoe <strong>da</strong>s experiências culturais do historiador que geram uma probl<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> investigação” (FRONZA, 2007, p.54).7


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brpara o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História e, assim, favorecer a construção do conhecimento histórico.Defen<strong>de</strong>ndo a argumentação favorável a sua utilização, Vilela propõe que as histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s pelos professores para trabalhar conceitos relevantes aoensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História, como o t<strong>em</strong>po e suas dimensões, sucessões, durações e simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>s(VILELA, 2008, p. 107). Além disso, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> ser interpreta<strong>da</strong>scomo documentos históricos, pois são construí<strong>da</strong>s com um propósito específico, <strong>em</strong> uma<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>em</strong> um <strong>de</strong>terminado contexto social, se enquadrando, assim, nadiscussão <strong>de</strong> Le Goff sobre o documento e monumento, pois:O documento não é inócuo. É (...) o resultado <strong>de</strong> uma montag<strong>em</strong>, consciente ouinconsciente, <strong>da</strong> história, <strong>da</strong> época, <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que o produziu, mas também<strong>da</strong>s épocas sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido,durante as quais continuou a ser manipulado, ain<strong>da</strong> que pelo silêncio. (...). Odocumento é monumento. Resulta do esforço <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas paraimpor ao futuro – voluntária ou involuntariamente – <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> imag<strong>em</strong> <strong>de</strong> sipróprias (LE GOFF, 2003, p. 537-538).Para este historiador, o documento é uma construção <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> que o criousegundo relações <strong>de</strong> forças que dominavam <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminado momento. Assim, as histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> também são produções suscetíveis às tensões históricas b<strong>em</strong> específicas.Especificamente, a história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> presente nas obras <strong>de</strong> Eisner é abor<strong>da</strong><strong>da</strong> nesteartigo como documento histórico que apresenta representações <strong>de</strong> cenários e vestimentas,sugerindo, assim, uma criteriosa pesquisa histórica realiza<strong>da</strong> pelo autor. Para Fronza, apeculiari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s HQs, como documento, é o equilíbrio existente entre imagens e palavras,caracterizando assim um dos el<strong>em</strong>entos que <strong>de</strong>terminam a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> como fontes históricas (FRONZA, 2007, p. 47).Umas <strong>da</strong>s diferenças entre as obras <strong>de</strong> Eisner pesquisa<strong>da</strong>s e as d<strong>em</strong>ais histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> inscritas na “cultura <strong>de</strong> massa” é a limitação <strong>de</strong>stas últimas na abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> dosaspectos sociais, pois Eisner apresenta <strong>em</strong> suas obras, a “graphic <strong>no</strong>vel”, as contradiçõesinerentes à socie<strong>da</strong><strong>de</strong> estaduni<strong>de</strong>nse. A cultura <strong>de</strong> massa, conforme Fronza,apresenta algumas limitações. Dentre elas po<strong>de</strong>-se citar muitas “zonas <strong>de</strong>silêncio”: a não ser nas gran<strong>de</strong>s obras-primas do gênero, nas histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> raramente aparec<strong>em</strong> a exploração do trabalho, as greves e mesmo avi<strong>da</strong> dos trabalhadores e dos que n<strong>em</strong> lhes foi permitido ter uma profissão e,quando aparec<strong>em</strong> nestas raras vezes, geralmente as classes trabalhadorasapresentam uma atitu<strong>de</strong> passiva perante às classes dominantes. Outra limitaçãoé que quase s<strong>em</strong>pre os sujeitos são apresentados <strong>em</strong> sua individuali<strong>da</strong><strong>de</strong>, d<strong>em</strong>odo que a ação individual do herói <strong>de</strong>termina o <strong>de</strong>sti<strong>no</strong> <strong>da</strong> maioria. Isto8


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.bracontece necessariamente porque a cultura <strong>de</strong> massa é um fenôme<strong>no</strong> <strong>da</strong>indústria cultural e está nas mãos <strong>de</strong>sta, na sua busca por vantagens financeirase pela constituição <strong>de</strong> um mercado cultural. Logo, essa indústria se caracterizapelo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> limitar ou eliminar a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong>s estruturassociais (SNYDERS apud FRONZA, 2007, p. 26).As histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, mesmo utilizando el<strong>em</strong>entos simplificadores, como o<strong>de</strong>senho <strong>da</strong> forma humana, não necessariamente produz<strong>em</strong> narrativas simplistas, pois formase el<strong>em</strong>entos simples pod<strong>em</strong> se combinar e criar histórias complexas, isto é, a organização, asist<strong>em</strong>atização e o prazer estético complexo, aquilo que Fronza discute como “culturaelabora<strong>da</strong>” (saber sist<strong>em</strong>atizado), também estão presentes <strong>em</strong> algumas histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> (FRONZA, 2007, p. 45 e 46). Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sta abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> são as obras aquianalisa<strong>da</strong>s que narram <strong>de</strong> maneira realista e reflexiva o cotidia<strong>no</strong> <strong>de</strong> homens e mulheres <strong>de</strong>“carne” e “osso”, pessoas sujeitas a falhas, com paixões humanas e até mesmo lutando contraa morte.Abor<strong>da</strong>ndo a relevância <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> para o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História, algunsautores apontam o potencial didático <strong>de</strong>stas para o ensi<strong>no</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que sejam observados algunscritérios específicos. Como por ex<strong>em</strong>plo, Fronza <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> o potencial educativo <strong>da</strong>s HQsquando utiliza<strong>da</strong>s <strong>de</strong> maneira didática nas salas <strong>de</strong> aula, pois para ele as histórias <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> são artefatos culturais que pod<strong>em</strong> ser transformados <strong>em</strong> material didático e, alémdisso, “a utilização <strong>de</strong> um instrumento relativamente distante <strong>em</strong> relação aos materiaistradicionais <strong>em</strong> <strong>uso</strong> nas escolas po<strong>de</strong> causar um positivo estranhamento ao alu<strong>no</strong>”, po<strong>de</strong>ndofavorecer a construção do conhecimento histórico (FRONZA, 2007, p. 52 e 53).Para Vilela, entretanto, as HQs são apenas mais um dos recursos pe<strong>da</strong>gógicosexistentes que, se b<strong>em</strong> utilizados, pod<strong>em</strong> trazer bons resultados, dinamizando, assim, o seupotencial pe<strong>da</strong>gógico. Mas, como <strong>no</strong> cin<strong>em</strong>a e na literatura ficcional, os <strong>quadrinhos</strong> sãomuitas vezes abor<strong>da</strong>dos pelos professores apenas como suporte <strong>de</strong> conteúdos (VILELA, 2008,p. 106). O presente artigo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>, aqui, que os <strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> ser mais do que simplessuportes didáticos, po<strong>de</strong>ndo ser encarados como documentos históricos que favoreçam oprocesso <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizag<strong>em</strong> como um todo, principalmente ao conhecimento histórico.Outra especiali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> é que n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são obrasficcionais. Porque, muitas vezes, os <strong>quadrinhos</strong> t<strong>em</strong> um caráter autobiográfico que pretend<strong>em</strong>reconstituir momentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus autores. Antes <strong>de</strong> tudo, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>autobiográficas são relatos <strong>de</strong> algumas m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> seus autores. Assim sendo, elas não sãoreconstituições <strong>de</strong> fatos tal como aconteceram, mas recriações, do modo como são l<strong>em</strong>brados9


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brpelos autores; ou como eles gostariam que ficass<strong>em</strong> registrados para a posteri<strong>da</strong><strong>de</strong> (VILELA,2008, 116). As obras <strong>de</strong> Eisner pod<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como produções autobiográficas,pois, como foi <strong>de</strong>batido anteriormente, muitas <strong>de</strong>las são m<strong>em</strong>órias <strong>de</strong> infância e juventu<strong>de</strong> doautor, conforme trecho <strong>da</strong> obra “Um Contrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço”:Este livro contém histórias extraí<strong>da</strong>s do fluxo interminável <strong>da</strong>s ocorrênciascaracterísticas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> urbana. Algumas são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras. Outras pod<strong>em</strong> server<strong>da</strong><strong>de</strong>iras.Nascido e criado na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Nova York, e tendo sobrevivido e crescido lá, eucarrego comigo uma carga <strong>de</strong> l<strong>em</strong>branças, algumas dolorosas e outras alegres,que ficaram tranca<strong>da</strong>s <strong>no</strong> cárcere <strong>da</strong> minha mente. Tenho essa necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>um velho marinheiro <strong>em</strong> compartilhar meu acervo <strong>de</strong> experiência eobservações. Se quiser, po<strong>de</strong> me chamar <strong>de</strong> uma test<strong>em</strong>unha gráficaregistrando a vi<strong>da</strong>, a morte, o sofrimento e a luta incessante para triunfar... ou,pelo me<strong>no</strong>s, sobreviver (EISNER, 2007b, p. 7).O trabalho com HQs <strong>no</strong> ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História, neste sentido, requer alguns dosprocedimentos utilizados na leitura <strong>de</strong> outras fontes históricas: a análise <strong>da</strong>s informações arespeito do autor <strong>de</strong>stas obras (VILELA, 2008, p. 112 e 113). Algumas questões pod<strong>em</strong> serdireciona<strong>da</strong>s às histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, tais como: quando a obra foi produzi<strong>da</strong> e <strong>em</strong> queépoca e país as HQs foram produzi<strong>da</strong>s.Mesmo que implicitamente, os <strong>quadrinhos</strong> reflet<strong>em</strong> valores, i<strong>de</strong>ologias e formas <strong>de</strong> vero mundo, pois o autor po<strong>de</strong> expressar uma posição estritamente pessoal e / ou, <strong>no</strong> caso <strong>da</strong>shistórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, cria<strong>da</strong>s por encomen<strong>da</strong>, que acabam reproduzindo discursos quereflitam posicionamentos políticos <strong>da</strong> editora para a qual trabalha. Entretanto, não exist<strong>em</strong>apenas obras que reproduz<strong>em</strong> um discurso dominante, há, porém, <strong>quadrinhos</strong> que tentamreproduzir representações mais favoráveis <strong>da</strong>s mi<strong>no</strong>rias étnicas, especialmente <strong>da</strong>scomuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s negras, como o “Pantera Negra”, um dos primeiros super-heróis negros <strong>da</strong>srevistas <strong>de</strong> histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, criado <strong>em</strong> 1966, personag<strong>em</strong> inspirado, possivelmente,<strong>no</strong> movimento negro dos “Panteras Negras”, grupo atuante <strong>no</strong>s Estados Unidos nas déca<strong>da</strong>s<strong>de</strong> 1960 e 1970. O professor <strong>de</strong> História, neste sentido, <strong>de</strong>ve trabalhar com os alu<strong>no</strong>s apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> perceber “que to<strong>da</strong> criação não é fruto apenas <strong>da</strong> imaginação do autor, mas,também, <strong>da</strong>quilo que ele viu, leu, viveu etc. Afinal, o artista não é alguém que vive isolado domundo, alheio à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> que o cerca, fazendo parte <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> real, <strong>em</strong> época e lugarespecífico” (VILELA, 2008, p. 114 a 122).Além disso, os professores pod<strong>em</strong> analisar as finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>,pois, para Vilela, a maioria dos <strong>quadrinhos</strong> faz parte <strong>da</strong> chama<strong>da</strong> “indústria do10


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brentretenimento” e, portanto, foram publica<strong>da</strong>s com finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s comerciais. Entretanto, talfinali<strong>da</strong><strong>de</strong> comercial não “impe<strong>de</strong> que uma história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> seja uma obra <strong>de</strong> arte ouque tenha pretensões intelectuais.” Além do entretenimento, uma história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>po<strong>de</strong>r ser informativo, educativo, didático, e, inclusive, propagan<strong>da</strong> com i<strong>de</strong>ias políticas.Vilela <strong>de</strong>staca o ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s tiras <strong>da</strong> Mafal<strong>da</strong>, cria<strong>da</strong>s pelo cartunista argenti<strong>no</strong> JoaquimLavado, conhecido como Qui<strong>no</strong>, cuja aparente ingenui<strong>da</strong><strong>de</strong> muitas vezes escondia críticas àditadura militar na Argentina (VILELA, 2008, p. 115).As histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, às vezes, apresenta anacronismo, mesmo assim, pod<strong>em</strong>ser utiliza<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Para isso, conforme Vilela, “o professor <strong>de</strong>ve mediar a leiturados <strong>quadrinhos</strong>, chamando a atenção para os anacronismos.” Desta forma, os “erros”encontrados nas obras “pod<strong>em</strong> servir como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para informações historicamentecorretas, contribuindo para a construção” do conhecimento histórico (VILELA, 2008, p. 121).Normalmente, o anacronismo é el<strong>em</strong>ento estético vital para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> narrativa<strong>da</strong>s HQs, po<strong>de</strong>ndo confundir a compreensão histórica dos alu<strong>no</strong>s. Deste modo, surge anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> intervenção pe<strong>da</strong>gógica do professor quando se usa as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>nas aulas <strong>de</strong> História (FRONZA, 2007, p. 108). Entretanto, nas obras pesquisa<strong>da</strong>s não foramencontra<strong>da</strong>s nenhuma informação fora do contexto recortado pelo autor. Sugerindo assim queo autor possui um domínio, pela pesquisa ou m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> infância e adolescência, dosaspectos sociais, econômicos, políticos e culturais <strong>da</strong> época retrata<strong>da</strong>.Ao se trabalhar com histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>ente se contém ou nãoanacronismos, basea<strong>da</strong>s ou não <strong>em</strong> fatos verídicos, um conceito que <strong>de</strong>ve ser trabalhado peloprofessor <strong>de</strong> História é o <strong>de</strong> verossimilhança, pois uma história fictícia po<strong>de</strong> ou não serverossímil. A obra “Um Contrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço” é ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong>stadiscussão, pois mesmo apresentando uma narrativa fictícia, apresenta personagens críveis,como um marido alcoólatra que não consegue <strong>em</strong>prego e agri<strong>de</strong> a esposa grávi<strong>da</strong> que, apesar,<strong>de</strong> tudo, o suporta.Após discutir algumas especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, propõ<strong>em</strong>-se,agora, algumas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s metodológicas, relaciona<strong>da</strong>s às obras escolhi<strong>da</strong>s, que pod<strong>em</strong> ser<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s pelos professores <strong>de</strong> História <strong>em</strong> suas aulas, favorecendo, assim, o processo <strong>de</strong>ensi<strong>no</strong> e aprendizag<strong>em</strong> <strong>no</strong> que tange ao conhecimento histórico sist<strong>em</strong>atizado.11


4 ATIVIDADES METODOLÓGICASHistória, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brAo trabalhar com as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula, o professor não <strong>de</strong>vetrabalhá-las <strong>de</strong> forma isola<strong>da</strong>, mas inseri-las <strong>em</strong> conteúdos, t<strong>em</strong>as e uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s específicos doensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História, acompanha<strong>da</strong> ou não <strong>de</strong> outros documentos. Assim, os <strong>quadrinhos</strong>po<strong>de</strong>riam ser trabalhados <strong>no</strong> final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> conteúdo, pois <strong>de</strong>sta forma as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s propostas,além <strong>de</strong> inseri-los ao t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> aula, possam ser relevantes ao <strong>de</strong>senvolvimento doconhecimento histórico sist<strong>em</strong>atizado. A história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> elabora<strong>da</strong> <strong>no</strong> final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong>conteúdo permite ao professor <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> reflexão final sobre o t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> suaaula e, além disso, preparar os alu<strong>no</strong>s para o conteúdo seguinte.Primeiramente, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s pelos professores paratrabalhar o conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po e suas dimensões: duração, simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> e sucessão,conforme discutido anteriormente, pois o t<strong>em</strong>po é um conceito fun<strong>da</strong>mental <strong>da</strong> epist<strong>em</strong>ologia<strong>da</strong> História que po<strong>de</strong> ser trabalhado nas histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> e o aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>análise do t<strong>em</strong>po histórico é reforça<strong>da</strong> pelas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s propostas. Assim, as recor<strong>da</strong>çõespresentes <strong>no</strong>s <strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> ser utiliza<strong>da</strong>s para ilustrar o conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po histórico: asexpressões como “mais tar<strong>de</strong>...” ou “logo <strong>de</strong>pois...” são ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> sucessão e, por sua vez,a expressão “enquanto isso...” po<strong>de</strong> facilitar ao alu<strong>no</strong> a compreensão <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong>simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong>. Além disso, os el<strong>em</strong>entos visuais presentes nas histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>pod<strong>em</strong> indicar a passag<strong>em</strong> do t<strong>em</strong>po, facilitando assim a reflexão dos diferentes tipos <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po: o <strong>da</strong> natureza, o do relógio e o <strong>da</strong> fábrica; como o <strong>de</strong>senho <strong>da</strong> lua para indicar oa<strong>no</strong>itecer, o relógio na pare<strong>de</strong> <strong>de</strong> um escritório, e o personag<strong>em</strong> marcando o cartão <strong>de</strong> ponto<strong>no</strong> final do expediente (VILELA, 2008, p. 107).De um modo geral, as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> <strong>de</strong> Will Eisner apresentam <strong>de</strong>scriçõesico<strong>no</strong>gráficas que apresentam articulações entre permanências e mu<strong>da</strong>nças que pod<strong>em</strong> sertrabalha<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Especificamente <strong>em</strong> um dos <strong>no</strong>ssos fragmentos selecionados(imag<strong>em</strong> 1), possibilita a utilização do flashback, um recurso relevante presente nas histórias<strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> muito utilizado também <strong>no</strong>s cin<strong>em</strong>as, que po<strong>de</strong> indicar os recuos <strong>no</strong> t<strong>em</strong>po.12


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brImag<strong>em</strong> 1EISNER, Will. O Nome do Jogo. São Paulo: Devir, 2003, p. 137No ex<strong>em</strong>plo acima, o personag<strong>em</strong> Aron é retratado <strong>no</strong> primeiro quadrinho quandoadulto e <strong>no</strong> quinto quadrinho quando criança, mostrando uma situação <strong>de</strong> sua infâncial<strong>em</strong>bra<strong>da</strong> por seu pai. Esta sequência po<strong>de</strong> ser trabalha<strong>da</strong> <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula para que os alu<strong>no</strong>sreflitam também sobre o conceito <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória, entendi<strong>da</strong> aqui como reinterpretação dopassado 7 . Como sugestão, o professor <strong>de</strong> História po<strong>de</strong> criar algumas questões para os alu<strong>no</strong>ssobre este fragmento:7 Para Ecléa Bosi, a m<strong>em</strong>ória implica <strong>em</strong> uma relação entre presente e passado e como esta relação interfere <strong>no</strong>momento atual <strong>da</strong>s percepções imediatas dos indivíduos quando l<strong>em</strong>bram. (BOSI, 2004, p. 46 e 47). MauriceHalbwachs, que estudou os aspectos sociais <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória, analisou a relação entre m<strong>em</strong>ória e reali<strong>da</strong><strong>de</strong> social pelaqual os indivíduos, construtores <strong>de</strong> m<strong>em</strong>órias, se inser<strong>em</strong>. Assim, “a m<strong>em</strong>ória do indivíduo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> do seurelacionamento com a família, com a classe social, com a escola, com a profissão; enfim, com os grupos <strong>de</strong>convívio e os grupos <strong>de</strong> referência peculiares a esse indivíduo.” Além disso, Halbwachs enfatizou a “iniciativaque a vi<strong>da</strong> atual do sujeito toma ao <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar o curso <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória”. O caráter espontâneo <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória é algoraro, pois na maioria <strong>da</strong>s vezes “l<strong>em</strong>brar não é reviver, mas refazer, reconstruir, repensar com imagens e idéias<strong>de</strong> hoje, as experiências do passado.” (HALBWACHS apud BOSI, 2004, p. 54 e 55).13


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br1) O pai <strong>de</strong> Aron está l<strong>em</strong>brando <strong>de</strong> um momento <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> Aron aparecequando criança, que situação é l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong> pelo personag<strong>em</strong>?2) Você já viu ou presenciou esta situação <strong>em</strong> algum momento <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong>? Comovocê l<strong>em</strong>bra e quando foi?3) Crie uma história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> que represente esta situação.O objetivo <strong>de</strong>stas questões é suscitar uma reflexão sobre a m<strong>em</strong>ória produzi<strong>da</strong> <strong>no</strong>momento atual do personag<strong>em</strong> (<strong>no</strong> ex<strong>em</strong>plo acima, o jantar <strong>em</strong> família suscitou l<strong>em</strong>branças<strong>de</strong> momentos difíceis), além <strong>da</strong>s discussões sobre o t<strong>em</strong>po, ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong> <strong>no</strong> fragmento: asdificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s sociais <strong>de</strong> uma família que imigrou para os Estados Unidos <strong>da</strong> América quepod<strong>em</strong> ser encontra<strong>da</strong>s também <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong> dos alu<strong>no</strong>s.Os alu<strong>no</strong>s, ao ler<strong>em</strong> as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, aprend<strong>em</strong> a perceber o t<strong>em</strong>po d<strong>em</strong>aneira espacialmente, pois para eles o t<strong>em</strong>po e o espaço pod<strong>em</strong> ser a mesma coisa. ParaFronza, isso ocorre “<strong>de</strong> tal modo que não se po<strong>de</strong> fazer a conversão <strong>de</strong> um pelo outro, porquenum espaço <strong>de</strong> poucos milímetros uma seqüência <strong>de</strong> <strong>quadrinhos</strong> po<strong>de</strong> transportar o leitor <strong>de</strong>um segundo para outro ou, <strong>em</strong> outra, viajar por centenas <strong>de</strong> milhões <strong>de</strong> a<strong>no</strong>s” (FRONZA,2007, p. 49).Trabalhando com esta perspectiva, o fragmento (imag<strong>em</strong> 2) traz relações t<strong>em</strong>porais <strong>de</strong>uma sequência à outra. Especificamente <strong>no</strong> quinto quadrinho <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> 2, apresenta o t<strong>em</strong>potranscorrido <strong>de</strong> dois meses. Além disso, apresenta aspectos históricos que pod<strong>em</strong> serinseridos, como ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>no</strong> final <strong>de</strong> um conteúdo sobre a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Comosugestão, pod<strong>em</strong> ser elabora<strong>da</strong>s nas aulas <strong>de</strong> História as seguintes questões que possam levaraos alu<strong>no</strong>s a compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> melhor o conceito <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, além dos aspectos sociais:1) Que aspectos históricos estão presentes na imag<strong>em</strong> 2? Tentando i<strong>de</strong>ntificar asequência representa<strong>da</strong>, isto é, uma situação antes dos dois meses ali representa<strong>da</strong>e outra <strong>de</strong>pois.2) Os personagens ali presentes são <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica e moram <strong>no</strong>s EUA, como elesreagiram ao final <strong>da</strong> guerra e à possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> refugiados, <strong>em</strong> grand<strong>em</strong>aioria <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> também ju<strong>da</strong>ica, para os Estados Unidos?3) Qual era a discussão do casal neste fragmento? T<strong>em</strong> relação com os eventoshistóricos representados? E você já viu esta situação <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong>?14


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brImag<strong>em</strong> 2EISNER, Will. O Nome do Jogo. São Paulo: Devir, 2003, p. 108 e 109.Além <strong>da</strong> t<strong>em</strong>porali<strong>da</strong><strong>de</strong> ali presente, o fragmento apresenta conteúdo histórico, o final<strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, e narra questões cotidianas que muitas vezes não t<strong>em</strong> relaçãocom questões conjunturais, como <strong>no</strong> fragmento.Este fragmento (imag<strong>em</strong> 2) está presente na obra “O Nome do Jogo” que apresenta,<strong>em</strong> outros fragmentos, aspectos peculiares, como o envelhecimento dos personagensretratados, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância até o falecimento, além <strong>de</strong> representar as mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong>comportamento durante os a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> e dos aspectos conjunturais. O professor, aotrabalhar com esta obra <strong>em</strong> específico, po<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolver ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s que envolv<strong>em</strong> o conceito<strong>de</strong> t<strong>em</strong>po, as mu<strong>da</strong>nças e permanências ao longo dos a<strong>no</strong>s. Além disso, o professor, com estaativi<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong>ve probl<strong>em</strong>atizá-la com o cotidia<strong>no</strong> dos alu<strong>no</strong>s.As histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> pod<strong>em</strong> mostrar o mesmo fato narrado <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>diferentes personagens, po<strong>de</strong>ndo contribuir, assim, para que os alu<strong>no</strong>s compreen<strong>da</strong>m aexistência <strong>de</strong> diferentes versões <strong>da</strong> História. Para isso, foram selecionados dois fragmentos(imagens 2 e 3) que mostram duas situações s<strong>em</strong>elhantes com personagens diferentes, com asseguintes questões:15


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.br1) Na imag<strong>em</strong> 2 <strong>no</strong>s mostra a opinião do personag<strong>em</strong> sobre a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vin<strong>da</strong><strong>de</strong> refugiados <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica para os EUA, qual é o ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong>le sobreisso?2) Na imag<strong>em</strong> 3, a carta en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong> ao personag<strong>em</strong> Jacob, relata a tentativa <strong>de</strong> fuga<strong>da</strong> personag<strong>em</strong> <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica na Al<strong>em</strong>anha, quando são <strong>de</strong>creta<strong>da</strong>s <strong>no</strong>vas leisantiss<strong>em</strong>itas. Que leis são essas? Explique. Qual o ponto <strong>de</strong> visa <strong>de</strong> Jacob sobre avin<strong>da</strong> <strong>de</strong>sta refugia<strong>da</strong>?Imag<strong>em</strong> 3EISNER, Will. A Força <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>. São Paulo: Devir, 2007. p. 92As histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, aqui trabalha<strong>da</strong>s, fornec<strong>em</strong> algumas i<strong>de</strong>ias sobre osaspectos sociais do passado, especialmente aos do início do século XX. Assim, os <strong>quadrinhos</strong>16


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brpod<strong>em</strong> ser utilizados como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para discussões t<strong>em</strong>áticas, aspectos e conceitosrelevantes para o ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História. No caso específico <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> Will Eisner, pod<strong>em</strong> ser<strong>de</strong>batidos os seguintes conceitos: Nazismo, Comunismo, Religião, Antiss<strong>em</strong>itismo entreoutros. Para isso, foram selecionados três fragmentos, um (imag<strong>em</strong> 4) que trata sobre oComunismo, um (imag<strong>em</strong> 3) sobre o Nazismo e um (Imagens 5) sobre a crise econômica <strong>no</strong>início do século XX.Para estes fragmentos, algumas questões, logo abaixo, pod<strong>em</strong> ser sugeri<strong>da</strong>s comoativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula. Os conteúdos históricos presentes <strong>no</strong>s fragmentos são: oComunismo, o qual está sendo manifestado por um grupo; o antiss<strong>em</strong>itismo e a ascensãonazista na Al<strong>em</strong>anha; e a crise econômica do início do século XX. Estas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s têmrelevância, após o <strong>de</strong>bate e a orientação do professor sobre os conteúdos citados, para aconstrução do saber histórico.1) Qual o conteúdo histórico presente <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> quadrinho (imagens 3, 4, 5)?2) O grupo presente <strong>no</strong>s <strong>quadrinhos</strong> (imag<strong>em</strong> 4) preten<strong>de</strong> o quê? E contra qu<strong>em</strong> elescombat<strong>em</strong>?3) Qual a estratégia cria<strong>da</strong> por eles para a manifestação? E por quê?4) Qual era a visão <strong>de</strong>ste grupo sobre a religião? E por quê?5) O conteúdo histórico presente nestes <strong>quadrinhos</strong> é diferente ao produzido <strong>em</strong> seulivro didático? Ou nas aulas <strong>de</strong> História? Justifique.6) Na imag<strong>em</strong> 3, <strong>no</strong> trecho presente na carta en<strong>de</strong>reça<strong>da</strong> ao personag<strong>em</strong> Jacob, há apresença <strong>de</strong> leis nazistas contra pessoas <strong>de</strong> orig<strong>em</strong> ju<strong>da</strong>ica? Qual? Explique.7) Na imag<strong>em</strong> 3, o r<strong>em</strong>etente <strong>da</strong> carta pretendia o quê?8) Faça uma narrativa sobre o conteúdo <strong>de</strong>stes <strong>quadrinhos</strong>, <strong>de</strong>stacando as diferenças es<strong>em</strong>elhanças com o conteúdo discutido <strong>em</strong> sala.9) No fragmento <strong>da</strong> imag<strong>em</strong> 5, é retratado um indivíduo que canta nas ruas, <strong>em</strong> busca<strong>de</strong> sustento, <strong>de</strong>vido à crise econômica <strong>de</strong> 1930. Em sua opinião as imagensrepresenta<strong>da</strong>s neste fragmento condiz<strong>em</strong> com os probl<strong>em</strong>as econômicos <strong>de</strong> 1930discutidos <strong>em</strong> sala? Por quê?10) Sobre a situação vivi<strong>da</strong> pelo personag<strong>em</strong>, imag<strong>em</strong> 5, já viu algo s<strong>em</strong>elhante <strong>no</strong> seudia a dia? Faça uma narrativa sobre isso.11) Elabore uma <strong>no</strong>va história <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> que narre a pobreza e as políticaspúblicas governamentais que tentam resolvê-la. Faça <strong>de</strong> maneira b<strong>em</strong> crítica.A ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> referente à imag<strong>em</strong> 3, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> após <strong>de</strong>bates sobre oNazismo <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula e, ain<strong>da</strong>, os alu<strong>no</strong>s pod<strong>em</strong> fazer comparações críticas entre oconteúdo representado neste quadrinho com os filmes que retratam o Nazismo e oantiss<strong>em</strong>itismo.17


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brImag<strong>em</strong> 4EISNER, Will. A Força <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>. São Paulo: Devir, 2007. p. 73 e 74.Imag<strong>em</strong> 5EISNER, Will. Um Contrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço. São Paulo: Devir, 2007. p. 81 e 82.18


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brEstas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s têm como objetivo reforçar o aprendizado dos alu<strong>no</strong>s <strong>no</strong> que se refereao conhecimento histórico. Para tanto, elas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s <strong>no</strong> final <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> t<strong>em</strong>a <strong>de</strong>aula com a <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> orientação do professor. Este <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>stacar ain<strong>da</strong> a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>shistórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> como documento histórico – uma criação humana com pretensõesb<strong>em</strong> <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s –, para isso, o professor po<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacar, <strong>no</strong> início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, um texto quecontextualize a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> Will Eisner. Além disso, ao introduzir as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> nasala <strong>de</strong> aula, os professores <strong>de</strong>v<strong>em</strong> propor e <strong>de</strong>senvolver diferentes tipos <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Além<strong>de</strong> propor questões dissertativas, leituras, interpretação e discussão <strong>de</strong> <strong>quadrinhos</strong>, o professorpo<strong>de</strong> também solicitar aos alu<strong>no</strong>s a elaboração <strong>de</strong> <strong>no</strong>vas histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> com t<strong>em</strong>ashistóricos, pertinentes ao assunto <strong>da</strong> aula. Para isso é importante que o professor peça paraque façam uma pesquisa <strong>em</strong> livros a respeito do t<strong>em</strong>a a ser <strong>de</strong>senvolvido. Ao elaborarhistórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong>, os alu<strong>no</strong>s, com a orientação do professor, pod<strong>em</strong> pesquisarfotografias, registros ico<strong>no</strong>gráficos, ilustrações <strong>de</strong> fontes e consultar peças <strong>de</strong> museus quepod<strong>em</strong> ser pesquisa<strong>da</strong>s <strong>em</strong> bibliotecas <strong>da</strong> escola ou na Internet.5 CONSIDERAÇÕES FINAISComo conclusão, o presente artigo <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> que a utilização dos fragmentosselecionados <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong> Will Eisner é pertinente ao ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que observa<strong>da</strong>algumas orientações: a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> proposta <strong>de</strong>ve ser inseri<strong>da</strong> <strong>em</strong> um conteúdo <strong>de</strong> aula e com a<strong>de</strong>vi<strong>da</strong> orientação do professor. Deste modo, evitam-se cometer situações puramente lúdicasque apresentam as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> com objetivo apenas <strong>de</strong> entretenimento ouilustração na sala <strong>de</strong> aula. As histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> como documento histórico carregado <strong>de</strong>especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser mais do que isso, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser alternativas ao professor, além <strong>de</strong> criarsituações pe<strong>da</strong>gógicas mais atraentes, <strong>em</strong> sua ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> profissional, que possam favorecer oprocesso <strong>de</strong> ensi<strong>no</strong> e aprendizag<strong>em</strong>, especialmente o conhecimento histórico. Além disso,retomando a discussão inicial, a obra <strong>de</strong> Eisner que recebeu críticas <strong>de</strong>vido ao seu conteúdo,<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>-se, aqui, a seguinte opinião: alguns trechos são ina<strong>de</strong>quados aos alu<strong>no</strong>s do Ensi<strong>no</strong>Fun<strong>da</strong>mental, pois, a obra é mais direciona<strong>da</strong> para o público adulto, mas sendo utiliza<strong>da</strong>,seleciona<strong>da</strong> e analisa<strong>da</strong> pelo professor <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula acaba se tornando uma ferramentape<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> utili<strong>da</strong><strong>de</strong>.19


História, imag<strong>em</strong> e narrativasN o 11, outubro/2010 - ISSN 1808-9895 - http://www.historiaimag<strong>em</strong>.com.brREFERÊNCIASBOSI, Ecléa. M<strong>em</strong>ória e Socie<strong>da</strong><strong>de</strong>: L<strong>em</strong>branças <strong>de</strong> Velhos. São Paulo: Companhia <strong>da</strong>sLetras, 2004.EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. São Paulo: Martins Fontes, 2001._____. O Nome do Jogo. São Paulo: Devir, 2003._____. A Força <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>. São Paulo: Devir, 2007a._____. Um Contrato Com Deus & Outras Histórias <strong>de</strong> Cortiço. São Paulo: Devir, 2007b.FRONZA, Marcelo. O significado <strong>da</strong>s histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> na educação histórica dosjovens que estu<strong>da</strong>m <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Médio. Curitiba, 2007. 170 f. Dissertação (Mestrado <strong>em</strong>Educação) - Setor <strong>de</strong> Educação, Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.GONZATTO, Marcelo. Pedofilia, estupro e adultério são t<strong>em</strong>as para estu<strong>da</strong>nte?. PortalSocial. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul. 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2009. Notícias. Disponível <strong>em</strong>:http://www.clicrbs.com.br/ especial/rs/portal-social/19,0,2551235,Pedofilia-estupro-eadulterio-sao-t<strong>em</strong>as-para-estu<strong>da</strong>nte-.html.Acesso <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.LE GOFF, Jacques. Documento/Monumento. In:_________ História e M<strong>em</strong>ória. Campinas:Editora <strong>da</strong> Unicamp, 2003.MIRANDA, Giovana Bendlin e FERNANDEZ, Viviane Gelowate. O <strong>uso</strong> <strong>da</strong> revista <strong>em</strong><strong>quadrinhos</strong> <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> <strong>de</strong> História para o 4º ciclo: o imperialismo <strong>no</strong> Brasil nasaventuras do Tio Patinhas e sobrinhos. Curitiba, 2002. 85 f. Mo<strong>no</strong>grafia (Especialização<strong>em</strong> História) – Instituto Brasileiro <strong>de</strong> Pós-graduação e Extensão.NASCIMENTO, José Renato Carneiro do e SANTOS, José Jeová Soares. Batman e aHistória. Belém, 2003. 59 f. Mo<strong>no</strong>grafia (Especialização <strong>em</strong> História) – Instituto Brasileiro<strong>de</strong> Pós-graduação e Extensão.ORLANDI, Eni Pulcinelli. Discurso e Leitura. 8ª ed. São Paulo: Cortez, 2008.SIMAS, Anna e DUARDE, Tatiana. Censura a livros chega ao Paraná. Gazeta do Povo.Curitiba. 17 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 2009. Ensi<strong>no</strong>. Disponível <strong>em</strong>:http://www.gazetadopovo.com.br/ensi<strong>no</strong>/conteudo.phtml?tl=1&id=896993&tit=Censura-alivros-chega-ao-Parana.Acesso <strong>em</strong> 19 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 2010.VILELA, Túlio. Os <strong>quadrinhos</strong> na aula <strong>de</strong> História. In: RAMA, Angela e VERGUEIRO,Waldomiro (Org.). Como usar as histórias <strong>em</strong> <strong>quadrinhos</strong> na sala <strong>de</strong> aula. São Paulo:Contexto, 2008.20

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