In Focus 3 - Unimar
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Érica Flávia Motta e Patrícia Malheirosa visão psicanalítica não se restringe a um padrão objetivo decorpo obeso concreto (como acontece na medicina).Em outras palavras, a psicanálise defende que a origem e aevolução da doença têm profundas relações com questões do desenvolvimentopsíquico, assim como com a influência da sociedadee da família. Para a autora, a relação entre corpo, sintomae psique, é tratada a partir dos estudos de Freud sobre a histeria,uma vez que as ideias se tornam patológicas, após persistiremcom muito vigor emocional, sendo-lhes negados os processos dedesgaste normais.Seixas (2009) compreende a necessidade de se pensar naobesidade como resultado de sintomas neuróticos. Sendo assim,o ato compulsivo de se alimentar é uma resposta à hesitação impostapelo conflito, compensando a dúvida. Tanto que a compulsãoà repetição, trabalhada por Freud em Além do Princípiodo prazer (1920), não se refere a um conflito, mas a uma característicafundamental da pulsão, que precede logicamente ainstalação do conflito pulsional e impõe ao sujeito a organizaçãodos impulsos.Não que o ato represente uma simples obediência à imposição,visto que, para Gondar (2001, p.30), “[...] os atos compulsivossão uma tentativa de fazer obstáculo ao cumprimentoda injunção cruel, ainda que essa tentativa fracasse: há neles umlampejo de subjetivação que não chega a efetivar-se como afirmaçãode desejo.”Dessa forma, o consumo alimentar excessivo se apresentariacomo uma estratégia diante da frustração intolerável, umavez que o sujeito carece de recursos simbólicos para lidar com oconjunto de exigências sociais que se traduzem para o obeso em242 |In Focus 3 - Unimar
Obesidade: o excesso de peso como sintomasaúde e magreza. Para Seixas (2009), esse comportamento trazpara o plano da pulsão a explicação dessa dinâmica dos sintomasalimentares da obesidade.Recalcati (2002, apud SEIXAS, 2009) afirma que a dinâmicaque acontece na obesidade, de comer em excesso, fornece aosujeito recursos simbólicos para lidar com a frustração resultanteda impossibilidade de preenchimento e satisfação da demanda.Assim, o corpo obeso e a própria fome parecem manifestar apulsão, no ponto em que não há a captura pela linguagem, evidenciandoa estreita relação entre o corpo somático e o corpopulsional da psicanálise.O autor entende, assim, que o indivíduo privado de recursossimbólicos para lidar com o desejo traduz o conflito psíquicoem sintoma, como se o corpo neutralizasse o encontro traumático,separando-se do sujeito e destacando o corpo como umobjeto separado do sujeito, uma dificuldade de reconhecimentodo corpo obeso como próprio.A obesidade pode, então, apresentar-se para o sujeito comoa impossibilidade de recusar a demanda do outro (corpo obeso)e se torna fixo no objeto (comida), restando ao sujeito a compensaçãono consumo do objeto alimento.É importante, neste momento, pensar na representação docorpo e do objeto que o obeso constrói e na relação do sujeitocom o objeto, para entender que, na obesidade, não se trata dafome fisiológica, mas de uma sobreposição do objeto da demandaem um objeto de necessidade. Explicando-se, assim, que, nadinâmica da obesidade, a inscrição psíquica da pulsão acontecena tentativa de preenchimento de um vazio (resposta do sujeitopara sua performance), em que a materialidade do preenchimen-In Focus 3 - Unimar | 243
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Obesidade: o excesso de peso como sintomasaúde e magreza. Para Seixas (2009), esse comportamento trazpara o plano da pulsão a explicação dessa dinâmica dos sintomasalimentares da obesidade.Recalcati (2002, apud SEIXAS, 2009) afirma que a dinâmicaque acontece na obesidade, de comer em excesso, fornece aosujeito recursos simbólicos para lidar com a frustração resultanteda impossibilidade de preenchimento e satisfação da demanda.Assim, o corpo obeso e a própria fome parecem manifestar apulsão, no ponto em que não há a captura pela linguagem, evidenciandoa estreita relação entre o corpo somático e o corpopulsional da psicanálise.O autor entende, assim, que o indivíduo privado de recursossimbólicos para lidar com o desejo traduz o conflito psíquicoem sintoma, como se o corpo neutralizasse o encontro traumático,separando-se do sujeito e destacando o corpo como umobjeto separado do sujeito, uma dificuldade de reconhecimentodo corpo obeso como próprio.A obesidade pode, então, apresentar-se para o sujeito comoa impossibilidade de recusar a demanda do outro (corpo obeso)e se torna fixo no objeto (comida), restando ao sujeito a compensaçãono consumo do objeto alimento.É importante, neste momento, pensar na representação docorpo e do objeto que o obeso constrói e na relação do sujeitocom o objeto, para entender que, na obesidade, não se trata dafome fisiológica, mas de uma sobreposição do objeto da demandaem um objeto de necessidade. Explicando-se, assim, que, nadinâmica da obesidade, a inscrição psíquica da pulsão acontecena tentativa de preenchimento de um vazio (resposta do sujeitopara sua performance), em que a materialidade do preenchimen-<strong>In</strong> <strong>Focus</strong> 3 - <strong>Unimar</strong> | 243