In Focus 3 - Unimar

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12.07.2015 Views

Heron Fernando de Souza Gonzaga et al.O filósofo e psicanalista Karl Jaspers verá na morte umcomponente importante para a estrutura interna do homem. Elea define como uma situação-limite, conceito que convida a umaabordagem mais psicanalítica que filosófica. Situações-limite sãoaquelas em que o homem “se acha como na frente de um murocontra o qual bate sem esperança”. Pode ser um “dever tomar aseu cargo uma culpa”, um “não poder viver sem luta e sem dor”etc. Nessas situações, o homem é convidado a sair do anonimatoda espécie para assumir sua autenticidade, forjar e construir suavida segundo um plano próprio, não se perder nem se deixarlevar pela massificação, pela frivolidade, pela tagarelice; enfim,a metamorfosear-se emexistenzatravés da angústia em torno dassituações-limite (JASPERS, 1971).No texto Luto e melancolia, Freud afirma que a morte deum ente querido nos revolta, pois leva consigo uma parte do eu.A perda do ser amado exige uma retirada da energia libidinal doobjeto perdido, sendo muito penoso o deslocamento dessa energiapara outro objeto. A perda está relacionada com a idealizaçãodo objeto. Sobre ele é colocado algo de muita importância emum processo que não é consciente. Por isso, aparecem sentimentosde ambivalência, amor e o ódio, pois, ao mesmo tempo emque sofremos por ter perdido o objeto amado, temos ódio por elenão fazer mais parte de nossa vida (FREUD, 1996b).Segundo Freud (1996b, p.249), “o luto é a reação à perdade um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupouo lugar de alguém”. Sendo assim, como diz o mesmo autor, oabandono à posição libidinal nunca é vivenciado tranquilamente,podendo a nossa própria morte levar o indivíduo a um desviode realidade. Conforme a mesma ideia, não é possível represen-186 |In Focus 3 - Unimar

Reflexões sobre a morte e seus vários significadostarmos a própria morte, pois quando a imaginamos não conseguimosnos ver como mortos, uma vez que somos o expectadorque vê a pessoa morta. Isso também acontece porque a consciêncianão é capaz de representar sem deixar de existir, e também,inconscientemente, todos somos imortais, pois para o inconscientenão existe o tempo e, consequentemente, sua passagem,envelhecimento e morte como a vivência da morte em vida; é aúnica possibilidade de experiência da morte que não a própriamorte física. A morte também pode ser vivenciada pelas separaçõestemporárias ou definitivas, as quais sempre são dolorosas.Nesse sentido, para Kovács (2002), perda e morte tambémsão sinônimos, uma vez que ambas remetem a vínculos rompidos,a desligamentos e à reorganização da vida interna de quemfica. Apesar das tentativas do homem de ficar longe da consciênciada morte, essa pode ser representada nos sonhos e nos símbolos.Esse mesmo autor refere que é por isso que o temor da mortena verdade, acaba por funcionar como instinto de autopreservação,porque, se esse sentimento for o tempo todo consciente,nossa mente não funcionaria normalmente e, portanto, pode-sedizer que a negação passa a ser saudável para que consigamos nosmanter com um mínimo de conforto mental (KOVACS, 2002,p.153).Nesse sentido, o homem busca um lugar privilegiado nanatureza, busca se destacar, já que é uma criatura com imensacapacidade de poder e abstração. Constrói edificações que demonstramseu valor e transmitem para as gerações seu poder, explicitandoo quanto ele é útil para a criação e tem um significadoímpar. O homem espera que todas essas representações possamse sobrepor à morte e assim ele seja lembrado mesmo depois delaIn Focus 3 - Unimar | 187

Reflexões sobre a morte e seus vários significadostarmos a própria morte, pois quando a imaginamos não conseguimosnos ver como mortos, uma vez que somos o expectadorque vê a pessoa morta. Isso também acontece porque a consciêncianão é capaz de representar sem deixar de existir, e também,inconscientemente, todos somos imortais, pois para o inconscientenão existe o tempo e, consequentemente, sua passagem,envelhecimento e morte como a vivência da morte em vida; é aúnica possibilidade de experiência da morte que não a própriamorte física. A morte também pode ser vivenciada pelas separaçõestemporárias ou definitivas, as quais sempre são dolorosas.Nesse sentido, para Kovács (2002), perda e morte tambémsão sinônimos, uma vez que ambas remetem a vínculos rompidos,a desligamentos e à reorganização da vida interna de quemfica. Apesar das tentativas do homem de ficar longe da consciênciada morte, essa pode ser representada nos sonhos e nos símbolos.Esse mesmo autor refere que é por isso que o temor da mortena verdade, acaba por funcionar como instinto de autopreservação,porque, se esse sentimento for o tempo todo consciente,nossa mente não funcionaria normalmente e, portanto, pode-sedizer que a negação passa a ser saudável para que consigamos nosmanter com um mínimo de conforto mental (KOVACS, 2002,p.153).Nesse sentido, o homem busca um lugar privilegiado nanatureza, busca se destacar, já que é uma criatura com imensacapacidade de poder e abstração. Constrói edificações que demonstramseu valor e transmitem para as gerações seu poder, explicitandoo quanto ele é útil para a criação e tem um significadoímpar. O homem espera que todas essas representações possamse sobrepor à morte e assim ele seja lembrado mesmo depois dela<strong>In</strong> <strong>Focus</strong> 3 - <strong>Unimar</strong> | 187

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