In Focus 3 - Unimar

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12.07.2015 Views

Heron Fernando de Souza Gonzaga et al.Sem ser platônicos, poderíamos, de fato, dizer que há doismundos: o do pensamento e o das atividades habituais do cotidiano.A relação íntima entre o ato de pensar, a filosofia e amorte está em que o filósofo é alguém que se habituou ao atode pensar e, se entendemos que a morte é a interrupção de todaação, pensar é parecido com morrer. Se o ato de pensar, nãoimportando sobre o que se pensa, já é parecido com a morte, oque se deve dizer do pensar sobre a morte? Esse pensar tem umefeito duplicado porque a “interrupção das atividades habituais”é intensificada em dobro: primeiro porque qualquer pensamentoé já interrompedor; segundo porque esse objeto pensado chamadomorte — especialmente nos dias atuais em que o temaparece estar banalizado — não faz parte das atividades habituaisda maioria das pessoas (ARENDT, 1995).Sob o ponto de vista da reflexividade, imaginemos o quesignificaria pensar sobre a própria morte. Além da reflexibilidadevinculada ao próprio ato de pensar, acrescente-se a que vem dissoque chamamos “própria morte”, a qual: a) não apresenta qualquersinal aparente; b) pertence exclusivamente à vida interiordo espírito e c) é capaz de interromper as atividades habituais(ARENDT, 1995).Pensar sobre a própria morte é pensar hiper-reflexivamenteporque é sobre algo que está exclusivamente “dentro de nós”.Não é o mesmo que simplesmente pensar sobre a morte, quepode implicar em se estar pensando sobre algo “fora de nós”,como a morte dos outros ou a morte de uma maneira geral. Umaquestão se coloca aqui: O hábito de pensar hiper-reflexivamente(o pensar sobre a própria morte) implicaria necessariamente nanegação da sociabilidade humana (ARENDT, 1995).184 |In Focus 3 - Unimar

Reflexões sobre a morte e seus vários significadosSartre (1997) dedicou-se ao problema da liberdade. Paraele, não há algo como uma natureza mortal necessária ao conceitode homem ou uma ordem cósmica que impõe a exigênciaabsoluta e metafísica de que todo homem morra. A frasetodohomem é mortalteria o mesmo sentido detodo homem é natal, istoé, a morte não será necessária para o indivíduo assim como nãofoi necessário que ele nascesse. O nascimento é um fato idênticoao da morte. São, ambos, fatos ocasionais, podem ou não acontecer,e quando acontecem fazem, respectivamente, aparecer edesaparecer o indivíduo do palco do mundo. A morte de alguémé algo que não tem qualquer significado para a sua própria vida— nem é sequer um fato da vida — ela simplesmente acontece etira-o do mundo. A existência humana ocorre em meio aos nadas(ou ao único nada?), cujos limites são o nascimento e a morte.O principal aspecto doexistenzé o fato de estar condenado a serlivre, ele é o ser que se cria a partir de nenhum fundamento,nenhuma certeza, nenhuma verdade, a não ser a de que ele éabsolutamente livre (SARTRE, 1997).Heidegger (1964) dá ênfase ao sentimento de angústia dohomem diante da morte. A angústia da morte é algo que alteratão radicalmente o homem que o transforma emexistenz, o únicoser autêntico, o único ser individual, o único ser realmentemortal. Todos os seres vivos morrem, é verdade, mas vivem emorrem enquanto espécie, não podem ter consciência da mortalidadeindividual. Oexistenz, entretanto, já não existe como espéciee sim como indivíduo. A angústia diante da própria mortelibera, individualiza e destaca oexistenzdo homem-massa, eleva ohomem-espécie à condição de um existente autêntico.In Focus 3 - Unimar | 185

Reflexões sobre a morte e seus vários significadosSartre (1997) dedicou-se ao problema da liberdade. Paraele, não há algo como uma natureza mortal necessária ao conceitode homem ou uma ordem cósmica que impõe a exigênciaabsoluta e metafísica de que todo homem morra. A frasetodohomem é mortalteria o mesmo sentido detodo homem é natal, istoé, a morte não será necessária para o indivíduo assim como nãofoi necessário que ele nascesse. O nascimento é um fato idênticoao da morte. São, ambos, fatos ocasionais, podem ou não acontecer,e quando acontecem fazem, respectivamente, aparecer edesaparecer o indivíduo do palco do mundo. A morte de alguémé algo que não tem qualquer significado para a sua própria vida— nem é sequer um fato da vida — ela simplesmente acontece etira-o do mundo. A existência humana ocorre em meio aos nadas(ou ao único nada?), cujos limites são o nascimento e a morte.O principal aspecto doexistenzé o fato de estar condenado a serlivre, ele é o ser que se cria a partir de nenhum fundamento,nenhuma certeza, nenhuma verdade, a não ser a de que ele éabsolutamente livre (SARTRE, 1997).Heidegger (1964) dá ênfase ao sentimento de angústia dohomem diante da morte. A angústia da morte é algo que alteratão radicalmente o homem que o transforma emexistenz, o únicoser autêntico, o único ser individual, o único ser realmentemortal. Todos os seres vivos morrem, é verdade, mas vivem emorrem enquanto espécie, não podem ter consciência da mortalidadeindividual. Oexistenz, entretanto, já não existe como espéciee sim como indivíduo. A angústia diante da própria mortelibera, individualiza e destaca oexistenzdo homem-massa, eleva ohomem-espécie à condição de um existente autêntico.<strong>In</strong> <strong>Focus</strong> 3 - <strong>Unimar</strong> | 185

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