In Focus 3 - Unimar

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12.07.2015 Views

Heron Fernando de Souza Gonzaga et al.te, esse medo ficaria sem fundamento ou razão de ser: “Sema convicção de que vou me encontrar primeiramente juntode outros deuses, sábios, e bons, e depois de homens mortosque valem mais do que os daqui, eu cometeria um grandeerro não me irritando contra a morte.” Portanto, não havianada trágico sobre a morte e as pessoas deveriam morrerem uma atitude de reverência, agradecimento e paz, compaciência e aceitação. (PLATÃO, 2004, p.25).Os ensinamentos da Igreja influenciaram consideravelmenteas maneiras pelas quais as pessoas morriam e tinham esperançapara a vida após a morte. Esse período tem sido caracterizadopelo historiador francês Phillipe Ariès como o da “morte domada”.No seu entendimento, a morte domada caracteriza-seassim:“A atitude antiga em que a morte é ao mesmo tempo próxima,familiar e diminuída, insensibilizada, opõe-se demasiadoà nossa onde faz tanto medo que já não ousamos pronunciaro seu nome. É por isso que, quando chamamos aesta morte familiar a morte domada, não entendemos porisso que antigamente era selvagem e que foi, em seguida,domesticada. Queremos dizer, pelo contrário, que hoje setornou selvagem quando outrora o não era. A morte maisantiga era domada”. (ARIÈS, 2000).Nos dias de hoje, segundo Maranhão (1985), as pessoassão destituídas do direito outrora fundamental. Não se morriasem antes ter tido tempo para saber que se ia morrer. O homemtinha consciência do seu fim próximo, seja porque o reconheciaespontaneamente, seja porque cabia aos outros adverti-lo. Amorte súbita, repentina, era considerada desonrante, uma verdadeiramaldição, não só porque impedia o ato de arrependimento,178 |In Focus 3 - Unimar

Reflexões sobre a morte e seus vários significadoscomo também privava o homem de organizar e presidir solenementea sua morte. O que era reconhecido passou a ser dissimulado.Atualmente, o ideal é que o homem morra sem se dar contade sua morte, que ele jamais saiba que o seu fim se aproxima;nesse sentido, os familiares cuidam disso e podem contar coma cumplicidade do pessoal médico. Se, apesar de tudo, a pessoaadivinha, fingirá não saber para não criar embaraços, pois sabeque, no fundo, o que dele esperam é que respeite as convençõessociais, não perturbando os que sobreviverão (MARANHÃO,1985).Atualmente, os sinais que possam alertar o doente doseu real estado são cuidadosamente afastados. Um dos fatoresimportantes nessa mudança de atitude foi o deslocamento dolugar da morte. Mais da metade de todos os moribundos, nasnossas grandes cidades, passa a última etapa de suas vidas emum hospital, situação essa que tende a crescer em larga escala.Entre outros motivos, a transferência da morte para o hospitalfoi gerada pelo extraordinário avanço tecnológico da Medicina eda Cirurgia lembramos, dentre outros fatores: o surgimento dasespecialidades médicas; o desaparecimento da figura do médicode família; o número elevado de pacientes que, em geral, os médicosassumem, o que os impede de se deslocarem continuamente;a presença, nos hospitais, de instrumentos de alta tecnologia,pesados e em pequeno número, que permitem tratamentos maiseficazes do que os dispensados em casa. Tudo isto é correto, maso hospital impõe, em contrapartida, aos moribundos uma agoniamuitas vezes mais penosa que a vivida em casa. Ele possibilita oprolongamento da vida dos doentes pelo maior tempo possível,mas não os ajuda a morrer (MARANHÃO, 1985).In Focus 3 - Unimar | 179

Reflexões sobre a morte e seus vários significadoscomo também privava o homem de organizar e presidir solenementea sua morte. O que era reconhecido passou a ser dissimulado.Atualmente, o ideal é que o homem morra sem se dar contade sua morte, que ele jamais saiba que o seu fim se aproxima;nesse sentido, os familiares cuidam disso e podem contar coma cumplicidade do pessoal médico. Se, apesar de tudo, a pessoaadivinha, fingirá não saber para não criar embaraços, pois sabeque, no fundo, o que dele esperam é que respeite as convençõessociais, não perturbando os que sobreviverão (MARANHÃO,1985).Atualmente, os sinais que possam alertar o doente doseu real estado são cuidadosamente afastados. Um dos fatoresimportantes nessa mudança de atitude foi o deslocamento dolugar da morte. Mais da metade de todos os moribundos, nasnossas grandes cidades, passa a última etapa de suas vidas emum hospital, situação essa que tende a crescer em larga escala.Entre outros motivos, a transferência da morte para o hospitalfoi gerada pelo extraordinário avanço tecnológico da Medicina eda Cirurgia lembramos, dentre outros fatores: o surgimento dasespecialidades médicas; o desaparecimento da figura do médicode família; o número elevado de pacientes que, em geral, os médicosassumem, o que os impede de se deslocarem continuamente;a presença, nos hospitais, de instrumentos de alta tecnologia,pesados e em pequeno número, que permitem tratamentos maiseficazes do que os dispensados em casa. Tudo isto é correto, maso hospital impõe, em contrapartida, aos moribundos uma agoniamuitas vezes mais penosa que a vivida em casa. Ele possibilita oprolongamento da vida dos doentes pelo maior tempo possível,mas não os ajuda a morrer (MARANHÃO, 1985).<strong>In</strong> <strong>Focus</strong> 3 - <strong>Unimar</strong> | 179

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