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Michel Foucault, choses dites, choses vues - Culturgest

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<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>,<strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong><strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>,coisas ditas, coisas vistas


TEATRO 22 E 23 DE ABRIL21h30 · Grande Auditório · Duração 1h00 · Falado em francês com legendas em portuguêsUm espectáculo de Jean Jourdheuil e Mark Lammert a partir de textos de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>Texto estabelecido por Jean Jourdheuil e Mark Lammert Encenação Jean Jourdheuil Espaço Cénico MarkLammert Luz Philip Bussmann Com Marc Barbé (actor) e Stéphane Leach (glass-harmónica) Música W. A. MozartDirecção de Cena Zimuth Contra-regras Alain Gravier e Laurent Mathias Assistente de Encenação YounessAnzane Assistente de Dramaturgia Hannah Dübgen Estagiário de Direcção de Cena Franck Condat Construçãodo Cenário Alain Merlaud Co-produção Festival de Outono em Paris, Parvis/Tarbes, le Maillon/Théâtre deStrasbourg e Théâtre de la Bastille Com o apoio de Sociedade Civil dos Editores de Língua Francesa (SELF),da Fundação Pierre Bergé-Yves Saint Laurent, da Comissão Nacional de ajuda à criação de obras dramáticas– Ministério da Cultura e da Comunicação (DMDTS) Estreia 13 de Setembro de 2004, Théâtre de la Bastille, ParisAgradecimentos a Daniel Defert, Philippe Artières, Philippe Arrii-Blachette, Claudette e Jean-Bernard CauxAssim como a Sascha Reckert pela glass-harmónica e a Thomas Bloch pelos seus preciosos conselhos.<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, <strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong>Tradução Isabel Ribeiro Legendagem Daniel Pires – Media Writers & Translators Com o apoio da AFAA– Ministério dos Negócios Estrangeiros Francês. Ed. La Librairie du XXème siècle, Seuil.


história à ciência, etc. Não se pode atribuirum território ao seu pensamento. O perigopóstumo é evidentemente querer recortarde novo a sua obra, que era essencialmentemóvel e inesperada, recortando espaçosdisciplinares: o <strong>Foucault</strong> para psiquiatras, o<strong>Foucault</strong> para filósofos, o <strong>Foucault</strong> para historiadores,etc.Porquê este recurso a <strong>Foucault</strong> hoje?– Ao trabalhar sobre a obra de Müller ou deMozart, <strong>Foucault</strong> forneceu-me iluminaçõestão preciosas quanto inesperadas. E naquiloa que é preciso chamar um marasmointelectual, a leitura dos seus textos trazconsigo uma precisão incrível, um métodomuito preciso que manipula o escalpelo evê um pouco mais longe, ou de forma umpouco diferente.Há muitos anos que explora esta questãodo espaço no teatro, mas não com umcenógrafo profissional.– Há vários anos que trabalho com MarkLammert, que é pintor. [...] Trata-se sempredo mesmo: privilegiar a realidade deum espaço, contra a noção de cenário. Aideia parece banal, quando na realidade émuito sensível. Percebe-se bem se nos debruçarmossobre a estreia de À Espera deGodot. Na estreia, a árvore induzida porBeckett não era de Giacometti, mas deSergio Gerstein, e provavelmente do próprioRoger Blin. Era uma espécie de objectoexpressionista, torcida e um pouco torturada,dizendo o sofrimento e a solidão humanos.Era um objecto colocado em cena, eraum elemento de cenário. Em 1961, há umareposição no Théâtre de l’Odéon, e Beckettpropõe a Blin encomendar uma árvore aGiacometti. Quando se olha para as fotografias,está-se incontestavelmente diantede um espaço inédito: esta árvore inventa,suscita um espaço, que é tudo menos umaembalagem, ou um contentor elegante.Abre zonas perfeitamente desconhecidas,que abrem um mistério. [...]Quando diz que quer fazer aparecer clarõesde filosofia no espaço do palco, tem-se osentimento de que está a aplicar ao teatroa lógica das heterotopias cara a <strong>Foucault</strong>.– No nosso processo de trabalho, a intuiçãodo espaço é colocada antes da elaboraçãodo texto; este não é acima de tudo a traduçãodo programa preestabelecido doespectáculo. A estética do espectáculo édefinida em dois terços assim que as potencialidadesespaciais são destacadas e afirmadas.Em seguida, claro, convém exploraras possibilidades deste espaço. E o textoque será ouvido só é elaborado e acabadodepois. É esboçado no lançamento do trabalhoe é depois modificado, alterado poresta afirmação espacial. [...] O problemanão é o de domesticar <strong>Foucault</strong> no espaçodo teatro mas o de conceber um objecto,um espaço, um espectáculo que convenha.De facto será necessário poder colocar aquestão como o próprio <strong>Foucault</strong> a colocaem “O que é um autor?”, quando diz, citandoBeckett, “Que importa quem fala”.Espero que aquilo que vamos produzir sejaum “objecto experimental”. [...] Que arteé hoje concebível para estar em eco destepensamento de <strong>Foucault</strong>? Que objectos artísticosconvêm a este pensamento? Comose pode enquanto artista vir colocar-se nolimiar mesmo do crânio de <strong>Foucault</strong>?[Extracto de uma entrevista com Bruno Tackels, realizadaem Junho de 2004, corrigida no início de Agostoantes dos ensaios que começaram a 17 de Agosto,para ser publicada no número de Setembro-Outubroda revista Mouvement.]


Projecto para um monumento funerárioA comemoração do 20º aniversário da mortede <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong> serviu de ocasiãopara a realização do espectáculo <strong>Michel</strong><strong>Foucault</strong>, <strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong>. Oratoda a comemoração traz consigo o risco dasaturação comunicacional e de uma espéciede paralisia do entendimento. É por isso quea Théâtre/Public apresenta apenas o textodo espectáculo, sequência de citações,percurso pela obra de <strong>Foucault</strong>, sem outrocomentário a não ser esta curta apresentaçãoem forma de “modo de usar” e, comoeco, um único texto, o de Jean-Louis Bessonconsagrado ao poeta Georg Büchner, autorde Woyzeck e da Morte de Danton, duas peçasque tinham atraído a atenção de <strong>Michel</strong><strong>Foucault</strong> e que dão testemunho de certasafinidades entre as suas obras respectivas,nomeadamente na forma de apreender oque se convencionou chamar as Luzes. Paraquê enquadrar o texto de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>,<strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong> com comentáriosconsagrados a este ou àquele aspecto doseu pensamento? No entanto, sentimo-nostentados a tratar as seguintes questões: oespaço, a imagem, a pintura, sendo o espectáculouma tentativa para apreender oobjecto “<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>” sob o ângulo doespaço.A actual fragmentação do saber induzno leitor espectador contemporâneo umaabordagem por fragmentos. Foi esse o nossoponto de partida: não excluir o espectador,partir do que ele é no estado actual dasociedade. Mas sobretudo nada de demagogia,nada de Bouvard e Pécuchet condenadosaos “trabalhos forçados da sedução”,nada de angariação. O actor em cena (MarcBarbé) não é uma personagem de teatrousando o nome do filósofo, vem da plateia,e se se introduz no palco é primeiro quetudo para o explorar, para o medir, perseguesem dúvida um objectivo que ignoramos. Ecomo os espectadores estão ali, dirige-lhesde passagem, sem destinatário específico,como um operário ocupado a fazer o seu trabalho,enunciados que por acaso são todos(menos um) “citações” de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>.Este fulano “cita” <strong>Foucault</strong> sem ligar aosusos universitários, também sem fazer poucodeles. Descobre neste palco um círculode cor cinzenta clara que gira em volta doseu centro, podia ser a “roda” de um oleiro.Sobre esta roda, vai instalar em leque, trabalhode marceneiro ou de escultor, váriospainéis azuis de dois metros e picos de alturae com um pouco menos de um metro delargura: este marceneiro é provavelmenteum pintor. Consoante estes painéis ficamna metade de trás ou na metade da frenteda “roda”, instauram um espaço teatral oupanóptico: assim que o actor se instala nocentro do dispositivo, estando os painéis colocadosentre ele e o público, altera a relaçãoteatral, deixa de ser um actor, é ele quemobserva o público. Quem observa quem,quem é observado, um jogo de olhares, umespectáculo para uma voz, um corpo, umacor, um objecto arquitectural, luzes e uminstrumento de música; é do espaço que setrata; espaço teatral, espaço panóptico. Atéque um último painel, o 7º, fecha o panópticoe o torna impraticável. O actor vê-se encerrado.No lugar onde o actor escultor podiasubtrair-se ao olhar teatral e invertê-lo,ei-lo encerrado, prisioneiro do objecto arquitecturalque ele próprio construiu, entreguenovamente ao olhar do espectador. É entãoque cita dois extractos de uma conferênciaintitulada “Dos espaços outros”, consagradosrespectivamente ao cemitério e aoespelho. Quando <strong>Foucault</strong> escreveu estetexto, Jean Genet propunha construir os teatrosnos cemitérios. O nosso espectáculoinverte a proposta. Um teatro é um lugaronde construir e apresentar um projectode monumento funerário. Sabemos agora oque o Festival de Outono esperava de nós:imaginar um possível monumento funeráriopara <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>.


Quando Mark Lammert, alguns mesesdepois da morte de Heiner Müller, fez umaescala em Paris antes de irmos juntos aLisboa ter com Jorge Silva Melo para estudara “fazibilidade” de Germania 3 – Espectrosdo Morto-Homem, fomos ao Père Lachaisever o túmulo que Giacometti concebeupara Gerda Taro. Alguns meses mais tardeLammert entregava o túmulo que HeinerMüller lhe tinha pedido que concebessepara a sua sepultura no Dorotheenfriedhofde Berlim.À direita baixa, um músico (StéphaneLeach) e o seu instrumento, uma harmónicade vidro. Benjamin Franklin é suposto tersido o seu inventor. Taças de vidro encaixadasumas nas outras e fixadas num eixo que,accionado por intermédio de uma pedaleiracomo nas antigas máquinas de costura,gira. Resta ao músico mergulhar os dedosna água de duas tigelas previstas para esseefeito à direita e à esquerda do instrumentoe aplicá-los sobre as taças. A música do espectáculo,fragmentos de composições deMozart para harmónica de vidro, uma músicaestranha, improvável, esférica.Uma vez fechado o panóptico, evocadoso cemitério e o espelho, o escultor (MarcBarbé) pode finalmente tornar-se actor nosentido tradicional do termo e, numa relaçãofinalmente directa com o auditório, falardo corpo como “cruzamento de espaços”.Uma das nossas primeiras discussões 1relativas ao que não era mais do que um projectohipotético teve lugar em Estugardano Parkhotel am Rundfunk, não longe daNeckarstrasse. Beckett morou neste hotelquando realizava para a estação de televisãoSWR Quad I&II, o Trio du fantôme,…que nuages… e Nacht und Traüme 2 .Quanto a nós, ensaiávamos Im Spiegelwohnen (Habitar o Espelho) de AndreasBreitscheid a partir de Bildbeschreibung(Descrição de um Quadro) de HeinerMüller. Uma manhã lemos o poema queBeckett dedicou à Neckarstrasse:em Estugarda não deixarde ir à longa rua Neckardo nada ali a atracçãojá não é o que era nãoé a suspeita tão grandede lá estar de ora em diante 3Jean Jourdheuil[Apresentação do texto do espectáculo para o númeroespecial da revista Théâtre/Public saído em Abrilde 2005 dedicado ao trabalho de Jourdheuil sobre<strong>Foucault</strong>, Müller e Mozart.]1 - Nelas participavam Jorge Siva Melo, Marc Barbé,Mark Lammert e eu próprio.2 - Quad, et autre pièces pour la télévision, suivi deL’épuisé par Gilles Deleuze, éditions de Minuit, 1992.3 - “ne manquez pas à Stuttgart / la longue rue Neckar/ du néant là l’attrait / n’est plus ce qu’il était / tant lesoupçon est fort / d’y être déjà et d’ores”, Poèmes, suivide mirlitonnades, éditions de Minuit, 2002, p. 42.


<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>: algumas datas1926 A 15 de Outubro, nasce em Poitiers Paul-<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, filho de Paul-André <strong>Foucault</strong> (cirurgião)e Anne-Marie Malapert.1937 Diz ao pai, que lhe preparava um futuro de cirurgião, que quer ser professor de História.1937-1944 Estudos secundários em Poitiers, primeiro no liceu Henri-IV, depois (por causa da desorganizaçãono liceu causada pela guerra) no colégio Saint-Stanislas.1945 Depois de não ter conseguido entrar à primeira para a École Normale Supérieure, entra parao liceu Henri-IV de Paris para outro ano de preparação. Tem aulas de filosofia com JeanHyppolyte, tradutor de Hegel.1946-1951 Aluno na École Normale Supérieure. Amizade com Maurice Pinguet, Robert Mauzi, PierreBourdieu, Jean-Claude Passeron, Jean-Pierre Serre, Paul Veyne, etc. Aulas de psicologia comMerleau-Ponty e de filosofia com Louis Althusser.1948 Licenciatura em filosofia na Sorbonne. Em Dezembro, tentativa de suicídio.1949 Em Fevereiro, declarado inapto para o serviço militar por má vista. Licenciatura em psicologia.Tentado pelo álcool, inicia uma psicoterapia. Redige o seu diploma de estudos superioresde filosofia sobre Hegel sob a direcção de Jean Hyppolite.1950 Adere ao partido comunista, por causa da guerra da Indochina. A 17 de Junho, nova tentativade suicídio. Faz psicanálise. Em Julho falha a agregação (suspeita de caça às bruxas).Em Outubro, breve cura de desintoxicação. Escreve no jornal dos estudantes comunistas evende o Humanité.1951 A 14 de Junho, conhece Pierre Boulez. Em Agosto, admitido à agregação de filosofia. Tira àsorte como tema para lição “a sexualidade”, proposto por Georges Canguilhem. Em Outubrotorna-se explicador de psicologia na École Normale, onde as suas aulas das segundas--feiras se tornam muito frequentadas. Ao longo dos anos assistem Jacques Derrida, GérardGenette, Maurice Pinguet. Começa tese sobre os pós-cartesianos e o nascimento da psicologia.Leitura de Heidegger.1952 Exerce funções de psicólogo no serviço do P. Delay. Em Maio, início de uma relação intensacom o compositor Jean Barraqué (1928-1973). Em Junho, passa no diploma de psicopatologiano Instituto de psicologia de Paris. Em Outubro, torna-se assistente de psicologia naFaculdade de Letras de Lille. Abandona o partido comunista com o assentimento de Althusser.1953 Em Janeiro, assiste a uma representação de À Espera de Godot, que considera uma ruptura.Lê Blanchot e Bataille. Partilha com Barraqué a descoberta de Nietzsche. Segue em Sainte--Anne o seminário de Jacques Lacan. Traduz artigos de Binswanger (1881-1966, introdutor deHeidegger na prática psicanalítica e psiquiátrica), que visita na Suíça. Admitido ao diplomade psicologia experimental no Instituto de psicologia. Em Julho, substitui Althusser comoexplicador de filosofia. Redige um longo artigo sobre a constituição da psicologia científica.1954 Em Abril, publicação de Maladie mentale et Personnalité (P.U.F.), livrinho encomendado porAlthusser para uma colecção destinada aos estudantes. Quase em simultâneo sai a sualonga introdução a Traum und Existenz de Binswanger. É indicado por Dumézil para a Casa deFrança em Uppsala, Suécia.1955 No Outono, ocupa o lugar em Uppsala, onde ficará três anos. No Natal, é apresentado aRoland Barthes. Início de uma longa amizade.1956 As edições Table Ronde encomendam-lhe uma curta História da psiquiatria, sem objectivosuniversitários.


1957 A História da psiquiatria passa a História da loucura e é projecto de tese sueca. Hyppolite lêo manuscrito e aconselha a convertê-lo em tese francesa sob a orientação de Canguilhem.1958 Em Outubro, deixa a Suécia e vai para Varsóvia, encarregado de reabrir o Centro de civilizaçãofrancesa. Reescreve Folie et déraison. No Natal, Canguilhem aceita a tese.1959 Em Setembro, morte do pai. Em Outubro, destacado para dirigir o Instituto francês deHamburgo.1960 Escreve a sua tese secundária, Genèse et Structure de l’Anthropologie de Kant. Escreve oprefácio de Folie et déraison, já terminada. Em Outubro, eleito para a Faculdade de Clermont--Ferrand como professor de psicologia. Instala-se em Paris. É apresentado a Daniel Defert,estudante de psicologia, que será seu companheiro até à morte.1961 Em Maio, apresenta as suas duas teses na Sorbonne, com vista ao doutoramento. Publicaçãode Folie et déraison. Histoire de la folie à l’âge classique (éditions Plon). Nomeado examinadorno concurso de entrada para a École Normale. A 27 de Novembro, termina a redacção deNaissance de la clinique, “sobras” da Histoire de la folie.1962 Reedição de Maladie mentale et personnalité com modificações e novo título: Maladie mentaleet psychologie. Em Fevereiro, conhece Gilles Deleuze.1963 Em Janeiro, com Barthes e <strong>Michel</strong> Deguy, entra para o conselho de redacção da revistaCritique, de Georges Bataille, onde figura até 1977. Em Abril, publicação de Naissancede la clinique: une archéologie du regard médical (P.U.F.) e em Maio de Raymond Roussel(Gallimard). Em Agosto é-lhe proposta a direcção do Instituto francês de Tóquio. EmSetembro, começo de relações pessoais com o grupo da revista Tel Quel. Em Outubro renunciaa Tóquio para ficar com Daniel Defert. Inicia “um livro sobre os signos”. Em Novembro,conferências em Lisboa (onde contempla o quadro de Bosch, As Tentações de Sto. Antão) eem Madrid (encontro com As Meninas de Velázquez).1964 Relações regulares com Deleuze e Pierre Klossowski. Em Setembro, publicação em ediçãopopular e não integral de Histoire de la folie (Plon), com numerosas tiragens. No Natal, estadiana Tunísia. Terminada primeira redacção do livro sobre os signos.1965 Em Janeiro, nomeado para a Comissão de reforma das universidades. Em Abril pensa emconcorrer ao Collège de France mas renuncia ao saber da candidatura do historiadorGeorges Duby. Canguilhem entusiasmado com o manuscrito do livro sobre os signos. EmOutubro, viagem a São Paulo, onde a série de conferências é interrompida devido ao reforçarda ditadura militar.1966 Em Março, conferências no Teatro Universitário de Budapeste. Em Abril, publicação de LesMots et les Choses: une archéologie des sciences humaines (Gallimard). O título desejado, “AOrdem das Coisas”, já tinha sido usado e não foi autorizado. Em Maio, dá-se com Derrida eAlthusser. Início de correspondência com Magritte. Em Junho, comentários na imprensa sobreo livro e as suas vendas. O estruturalismo surge como movimento: nesse ano publicamtextos importantes Lacan, Lévi-Strauss, Benveniste, Genette, Greimas, Todorov e Barthes.Em Setembro decide instalar-se em Túnis, onde lhe propõem, pela primeira vez, uma cátedrade filosofia e não de psicologia. Em Outubro, Sartre ataca o estruturalismo.1967 Em Fevereiro, lê Dumézil e Trotski. Em Março, dá em Paris uma conferência sobre as “heterotopias”e faz uma emissão radiofónica sobre o mesmo assunto. Em Abril, lê Wittgensteine os analistas ingleses. Em Maio, sai a tradução inglesa de Histoire de la folie. Candidata-seà Universidade de Nanterre, para onde é eleito em Junho. Em Junho, encontro com o presidenteBourguiba; lê Panofsky; manifestações anti-imperialistas em Túnis. Em Agosto, mortede Magritte. Termina L’Archéologie du savoir. Em Outubro regressa a Túnis devido ao atraso


na ratificação da sua eleição para Nanterre. Em Novembro termina um texto sobre Magritte.Promete às éditions de Minuit um livro sobre Manet, sobre quem dá uma conferência emMilão. Conhece Umberto Eco. Em Dezembro descobre uma lesão na retina, talvez cancerígena.1968 Em Janeiro, relê Beckett e Rosa Luxemburgo. Em Março, lê Che Guevara. Manifestaçõesestudantis em Túnis. Os panfletos dos estudantes são copiados em casa de <strong>Foucault</strong>, quefica no país para lhes dar apoio logístico. Em Maio, durante as manifestações de Paris, ficaretido em Túnis. Apanha um voo único a 27. Em Junho participa nas últimas manifestaçõese nas assembleias da Sorbonne. Blanchot conta ter falado com ele sem a certeza de ter sidopor ele identificado. Em Setembro é contactado para participar na criação da universidadeexperimental de Vincennes. Depois de várias intimidações policiais na Tunísia é reintegradoadministrativamente em Nanterre. Em Outubro lê os Black Panthers. Sabe da morte de JeanHyppolite. Em Novembro recruta os professores do departamento de filosofia de Vincennes,com o conselho de Alain Badiou. Cria com Serge Leclaire o primeiro departamento de psicanálise.Em Dezembro é nomeado professor de filosofia em Vincennes.1969 Em Janeiro, abertura efectiva de Vincennes. <strong>Foucault</strong> é preso nos primeiros confrontos dosestudantes com a polícia. A 22 de Fevereiro, conferência na Sociedade francesa de filosofiasobre a função do autor. Em Março, publicação de L’Archéologie du savoir (Gallimard).1970 Em Março é convidado pelo departamento de literatura francesa da Universidade de Buffalo.Publicação da versão modificada que então apresenta de “Quest-ce qu’un auteur?”. Apoiaos estudantes socialistas democratas. Dá uma conferência em Yale. Em Maio escreve o prefáciodas Oeuvres Complètes de Bataille. A 17 de Junho é nomeado para o Collège de France,com a cátedra de História dos sistemas de pensamento. Em Setembro e Outubro, convidadopara ir ao Japão, onde dá três conferências. As edições Gallimard reeditam a versão integralde Histoire de la folie. Lê os estóicos e Deleuze. Redige um longo texto sobre Manet e outrosobre os retratos de Marylin Monroe por Warhol. Em Novembro, conferência em Florençasobre Manet. A 2 de Dezembro, lição inaugural no Collège de France.1971 Em Fevereiro anuncia a criação do G.I.P., grupo de informação sobre as prisões, com a suamorada como sede. Publicação de L’ordre du discours (Gallimard), texto sem os cortesdevido às limitações de tempo da lição inaugural no Collège de France. Em Abril, estadiaem Montréal. Em Maio é agredido com outros membros do G.I.P. às portas de uma prisão.Sai a primeira brochura do G.I.P., com respostas a questionários, organizada e prefaciada(anonimamente) por <strong>Foucault</strong> (Champ Libre). Em Junho, encontro com Jean Genet. Planeiamescrever um texto para a libertação de George Jackson. Em Agosto estuda a história daspráticas judiciárias e relê o Journal du voleur de Genet. A 21, assassinato de George Jackson.Publicação de L’Assassinat de George Jackson (Gallimard), desmontando a informação americana,por Catherine von Bülow, Genet, Deleuze, Defert e <strong>Foucault</strong>. A 27 de Novembro, primeiroencontro com Sartre no bairro da Goutte d’Or, num apelo dos intelectuais aos trabalhadoresárabes. Convidado a Eindhoven para debater a questão da natureza humana com Chomsky.1972 Em Janeiro organiza um sit-in no átrio do Ministério da Justiça para fazer ouvir as reivindicaçõesvindas de diferentes prisões. Em Março reedição de Naissance de la clinique.Organizam-se grupos a partir do modelo do G.I.P. <strong>Foucault</strong> volta a Buffalo. Em Abril, conferênciaem Minneapolis e visita à prisão de Attica. Em Junho Ariane Mnouchkine transcreveos debates do processo dos motins da prisão de Nancy a partir dos quais o Théâtre du Soleilfaz um espectáculo. <strong>Foucault</strong> e Deleuze fazem de polícias. Conhece François Ewald, que seráseu assistente no Collège de France a partir de 1977. Em Novembro, início do seminário noCollège de France sobre “Pierre Rivière e as suas obras” e preparação colectiva do dossier.


Em Dezembro o G.I.P. decide a sua dissolução. A 16, novamente preso numa manifestaçãonos Grands Boulevards protestando contra o assassinato de um trabalhador imigrante.Participa na elaboração do novo jornal Libération.1973 A 22 de Fevereiro, para os números preparatórios do Libération, debate com o militanteoperário José Duarte, despedido da Renault de Billancourt. Em Março sai uma edição piratade fragmentos do seu curso sobre “a sociedade punitiva”. Em Abril termina uma primeiraredacção de Surveiller et punir. Em Maio, série de conferências em Montréal, Nova Iorque,Rio e Belo Horizonte. A 10 de Agosto, morte de Jean Barraqué, que só tinha revisto uma vezdesde os anos 50. Em Setembro, publicação do dossier constituído, estudado e anotadopelos participantes do seu seminário do Collège Moi, Pierre Rivière... (Gallimard-Juillard),que tem grande sucesso. Em Outubro, publicação de Ceci n’est pas une pipe (Fata Morgana),sobre Magritte.1974 Em Março e Abril, conferências na universidade de Montréal. Não viaja para Portugalpara assistir à revolução. Em Julho, paixão pelo novo cinema alemão. Deseja que WernerSchroeter faça um filme a partir de Pierre Rivière. Dá-se com Daniel Schmidt e encontraFassbinder.Em Agosto, termina o seu livro “sobre os suplícios”. O cineasta René Allio propõe-se fazerum filme a partir de Pierre Rivière. Em Outubro e Novembro, dois seminários e seis conferênciasno Rio de Janeiro.1975 Em Fevereiro, publicação de Surveiller et Punir: naissance de la prison (Gallimard). Em Abrile Maio, primeira viagem à Califórnia (Berkeley). Em Setembro, René Allio começa a rodagemde Pierre Rivière. <strong>Foucault</strong> interpreta o papel de um juiz na versão longa não comercializada.Preparação de uma intervenção em Madrid contra a condenação ao garrote de onze espanhóispelo regime franquista. Em Outubro e Novembro, regresso à universidade de SãoPaulo. Lê um texto sobre o assassinato numa esquadra do jornalista Herzog. Volta a NovaIorque. Em Novembro, propõe que seja criada uma cátedra de semiologia literária paraRoland Barthes.1976 As aulas no Collège de France passam para as 9h30 para evitar a assistência demasiadonumerosa. De Março a Maio, conferências em Montréal, Berkeley e Stanford. Em Agosto terminaLa Volonté de Savoir. Em Novembro, conferência na Bahia. Em Dezembro, publicação dotomo I da Histoire de la sexualité, La Volonté de Savoir, apresentado como uma introdução àhistória da sexualidade em seis volumes, mas o autor confessa que não tem intenção de osescrever. Em 1975 pedira à Gallimard duzentos mil francos para o filme de Allio, e assinou emtroca um contrato de exclusividade de cinco anos: decide então que para além de La Volontéde savoir, não haveria outro livro em cinco anos.1977 Em Janeiro, publicação na revista Les Cahiers du chemin de La Vie des hommes infâmes.Escreve o prefácio para a tradução americana de L’Anti-Oedipe de Deleuze. Tradução americanade Surveiller et punir, criando um vasto movimento de interesse pela sua obra. EmMarço, publicação em Moscovo de uma tradução de Les Mots et les Choses, com uma circulaçãosemi-alternativa nos países do bloco soviético. Em Julho, publicação em Itália (e naAlemanha e no Brasil) de uma recolha de textos políticos, Microfisica del potere. Em Agostoescreve sobre os Padres da Igreja e vai a Bayreuth ver o Ring do centenário com encenaçãode Chéreau e direcção de Boulez. Em Outubro comunicação em Toronto sobre “a evoluçãoda noção de indivíduo perigoso”, síntese do seu seminário de 1976 no Collège. Em Dezembroescreve o prefácio de um inquérito sobre os tribunais militares para apoiar o movimentoem favor da legalização da objecção de consciência. Estadia em Berlim. Debate sobre as


prisões. Detido pela polícia federal devido à semelhança de Heidi Paris, sua editora, comquem estava, com a militante Inge Viett da Rote Armee Fraktion. Publicação de Politiques del’habitat, 1800-1850 (Corda), pesquisas dirigidas por <strong>Foucault</strong> e realizadas por uma equipa deinvestigadores ligados à sua cátedra.1978 Trabalha no segundo tomo da Histoire de la sexualité sobre a noção cristã da carne. EmMarço e Abril, viagens a Berlim e ao Japão. Em Maio faz uma contra-proposta ao Corrieredella sera para a constituição de um grupo de intelectuais repórteres do movimento dasideias. A 27, conferência na Sociedade francesa de filosofia publicada sob o título “Qu’est-ceque la critique?”. Publicação de Herculine Barbin, dite Alexina B (Gallimard) sobre um caso dehermafroditismo. Entre Julho e Agosto, hospitalizado uns dias depois de ter sido atropeladoà frente da sua casa. Em Agosto aceita iniciar a série de reportagens do Corriere della serasobre o Irão. Em Setembro vai a Teerão. Em Novembro relê sistematicamente Thomas Mann.Regresso ao Irão.1979 A história da confissão condu-lo a estudar os primeiros textos cristãos, orientando a suapesquisa genealógica para a Antiguidade tardia. Em Fevereiro recusa voltar ao Irão, depoisdo regresso triunfal de Khomeyni. Em Março é atacado pelo seu apoio à revolução iraniana.Em Abril escreve para o primeiro número do primeiro jornal homossexual francês, Le GaiPied, um artigo a favor do suicídio. Em Junho organiza no Collège de France com BernardKouchner, André Glucksmann, Sartre e Aron uma conferência de imprensa a favor domaior acolhimento na Europa dos boat people. Em Outubro, conferências em Stanford eSacramento.1980 Em Março, morte de Barthes depois de um acidente de automóvel. Em Abril junta-se aoenorme cortejo no enterro de Sartre. Em Agosto sai o primeiro estudo longo de Focaultem inglês, The Will to Truth, de Alan Sheridan. De Outubro a Novembro, conferências emBerkeley e Nova Iorque. Em Dezembro decide suprimir o seu seminário do Collège de France,assegurando aulas de duas horas sobre a matéria imediata dos seus livros.1981 Em Março-Abril recusa associar-se às petições para a eleição de Mitterrand à presidênciacom o argumento repetido de que um intelectual não é um director de consciência eleitoral.Em Dezembro protesta com Bourdieu contra a não-intervenção francesa sobre o estado deguerra instaurado na Polónia. Conhece Werner Schroeter.1982 Entre Abril e Maio, protesto contra a prisão em Praga de Derrida. Encontram-se depois dasua libertação. Dá várias entrevistas para promover a publicação de obras sobre a históriada homossexualidade. Conferência em Grenoble que dará o primeiro capítulo de Le Souci desoi. Entre Maio e Junho participa em Toronto numa universidade de Verão com John Searle,Eco e outros. Trabalha agora regularmente sobre os estóicos. Em Junho pensa em demitirsedo Collège de France e viver do seminário permanente que lhe é oferecido em Berkeleye dos direitos de autor. Em Julho, sinusite persistente. Em Agosto, depois de um atentadono restaurante judeu Goldenberg, vai lá jantar sempre que pode, como resistência ao terrorismo.Em Setembro, almoço, com outros convidados, no Eliseu com Mitterrand para falardo Médio Oriente. A 22, com Bernard Kouchner, Jacques Lebas, Simone Signoret, etc., ida àPolónia com o último camião de medicamentos e material autorizado. Conduzem por turnos.Visitam Auschwitz. Não são autorizados a ver Walesa. Em Outubro publicação de Désordredes familles, lettres de cachet des archives de la Bastille (Gallimard-Juillard), escrito a duasmãos com Arlette Farge. De Outubro a Novembro dirige um seminário no departamentode religião da Universidade do Vermont. Propõe às éditions du Seuil um livro chamado LeGouvernement de soi et des autres.


1983 Em Fevereiro, início da colecção “Des travaux”, dirigida por <strong>Foucault</strong>, Paul Veyne e FrançoisWahl nas éditions du Seuil. Em Março, o segundo volume da Histoire de la sexualité, com otítulo L’Usage des plaisirs, é um enorme manuscrito em quatro partes. Vários encontros comHabermas. Publicação de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, an Annotated Bibliography de Michael Clark, commais de três mil entradas. Em Abril visita a retrospectiva Manet no Grand Palais e confidenciaao comissário ter um espesso manuscrito sobre o pintor. De Abril a Maio, conferênciase debates em Berkeley. Em Agosto, L’Usage des plaisirs é redistribuído em dois volumes; reescreveigualmente o prefácio. De Outubro a Novembro, novamente convidado em Berkeley.Propõe aos seus alunos fazerem a história da governamentalidade desde os anos trinta. LêJaurès, Blum e Mitterrand. Pensa não voltar às aulas no Collège de France. Não quer inquietaros que o rodeiam. Em Dezembro são-lhe prescritos vários exames pulmonares.1984 Em Janeiro, tratado com antibióticos, reencontra uma grande vitalidade. Em Fevereiro,ainda cansado, volta às aulas no Collège de France. Corrige as provas do segundo volumeda Histoire de la sexualité até ao fim de Março. É regularmente seguido no hospital Tarnier.Não pede nem recebe nenhum diagnóstico. Em Abril relê o diário de Kafka e regressa aomanuscrito dos Aveux de la chair. Dá uma festa em honra de William Burroughs. Em Maio,publicação de um número especial do Magazine littéraire dedicado a <strong>Foucault</strong>. Publicação, a14, de L’Usage des Plaisirs. A 3 de Junho é hospitalizado pelo irmão no hospital Saint-<strong>Michel</strong>.A 9 é transportado para a Salpêtrière, para o serviço de neurologia. A 10 entra nos cuidadosintensivos. A 20, momentaneamente melhor, recebe o terceiro volume da Histoire de la sexualité,Le Souci de soi. A 25, às 13h15: morte de <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong> de complicações provocadaspela sida (septicemia, focos de supuração cerebral). A 29, é enterrado em Vendeuvre.[A partir da cronologia preparada por Daniel Defert em <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, Dits et Écrits I, Paris, Gallimard, 2001, pp. 13-64.]


Textos de <strong>Foucault</strong>A escrita[…] Para chegar a descobrir o prazer possível daescrita, foi preciso estar no estrangeiro. Estava naaltura na Suécia e na obrigação de falar ou suecoque sabia muito mal, ou o inglês que pratico combastante dificuldade. O meu mau conhecimentodestas línguas impediu-me durante semanas, mesese mesmo anos de dizer o que realmente queria.Via as palavras que queria dizer a travestirem-se,a simplificarem-se, a tornarem-se como que pequenasmarionetas derisórias à minha frente nomomento em que as pronunciava.Dando por mim nesta impossibilidade de utilizara minha própria linguagem, apercebi-meprimeiro de que esta tinha uma espessura, umaconsistência, que não era simplesmente como oar que respiramos, uma transparência absolutamenteimperceptível, e depois que tinha as suasleis próprias, que tinha os seus corredores, osseus caminhos de facilidade, as suas linhas, assuas inclinações, as suas costas, as suas asperezas,em suma, que tinha uma fisionomia e queformava uma paisagem onde era possível passeare descobrir nas esquinas das palavras, em voltadas frases, bruscamente, pontos de vista que nãoapareciam antes. Nesta Suécia onde tinha de falaruma língua que me era estrangeira, compreendique podia habitar a minha linguagem, com a suafisionomia subitamente particular, como sendo olugar mais secreto mas também mais seguro daminha residência neste lugar sem lugar que constituio país estrangeiro onde nos encontramos.Finalmente, a única pátria real, o único chão ondese pode andar, a única casa onde se pode parare ficar abrigado, é mesmo a linguagem, a que seaprendeu desde a infância. Tratou-se para mim,então, de reanimar esta linguagem, de construirpara mim uma espécie de casinha de linguagemde que fosse senhor e de que conhecesse os recantos.Julgo que foi isto que me deu vontade deescrever. Estando-me recusada a possibilidade defalar, descobri o prazer de escrever. Entre o prazerde escrever e a possibilidade de falar existe umacerta relação de incompatibilidade. Ali onde já nãoé possível falar, descobre-se o encanto secreto,difícil, um pouco perigoso, de escrever.[...] Até esta experiência, a escrita não era paramim algo de verdadeiramente sério. Era mesmoalgo perfeitamente ligeiro. Escrever era fazer vento.Aqui, pergunto-me se não era o sistema de valoresda minha infância que se exprimia nesta depreciaçãoda escrita. Pertenço a um meio médico, um dessesmeios médicos de província que, relativamenteà vida um pouco adormecida de uma cidade pequena,é sem dúvida um meio de certa forma adaptável,ou, como se costuma dizer, progressista. Não deixano entanto de ser verdade que o meio médico emgeral, especialmente na província, permanece profundamenteconservador. [...]Com efeito, o médico – particularmente o cirurgião,e eu sou filho de cirurgião – não é aquele quefala, é aquele que ouve. Ouve a palavra dos outros,não para a levar a sério, não para compreendero que ela quer dizer, mas para perseguir atravésdela os sinais de uma doença séria, quer dizer, umadoença do corpo, uma doença orgânica. O médicoouve, mas é para atravessar a palavra do outro eir ter com a verdade muda do seu corpo. O médiconão fala, age, quer dizer, palpa, intervém. O cirurgiãodescobre a lesão no corpo adormecido, abreo corpo e volta a cosê-lo, opera, tudo isto em silêncio,na redução absoluta das palavras. As únicaspalavras que pronuncia são as palavras breves dodiagnóstico e da terapêutica. O médico só fala paradizer numa palavra a verdade e prescrever a receita.Nomeia e ordena, é tudo. Neste sentido, a palavrado médico é extraordinariamente rara. Foi semdúvida esta desvalorização profunda, funcional dapalavra na velha prática da medicina clínica quepesou sobre mim durante muito tempo e que fezcom que, até há uma dezena, uma dúzia de anos, apalavra, para mim, fosse ainda e sempre vento. [...]Apesar de tudo, qualquer que tenha sido a minhaconversão, devo ter retido da minha infância,e mesmo na minha escrita, um certo número defiliações que deve ser possível encontrar. Porexemplo, o que me impressiona muito é que osmeus leitores imaginam sem grande dificuldade


que há na minha escrita uma certa agressividade.Pessoalmente, não a sinto de todo desta forma.Julgo nunca ter atacado realmente, nomeadamentealguém. Para mim, escrever é uma actividadeextraordinariamente doce, almofadada. Tenhocomo que uma impressão de veludo quando escrevo.Para mim, a ideia de uma escrita aveludadaé como um tema familiar, no limite do afectivo edo perceptivo, que não pára de assombrar o meuprojecto de escrita, de guiar a minha escrita assimque estou a escrever, que me permite a cadainstante escolher as expressões que quero utilizar.O aveludado, para a minha escrita, é uma espéciede impressão normativa. Fico portanto muito espantadoquando vejo que as pessoas reconhecemprimeiro em mim alguém que tem uma escrita secae mordaz. Após reflexão, penso que são eles quemtem razão. Imagino que haja na minha caneta umavelha hereditariedade do bisturi. Talvez, no fim decontas, eu trace na brancura do papel os mesmossinais agressivos que o meu pai traçava antes noscorpos dos outros quando operava. Transformeio bisturi em caneta. Passei da eficácia da cura àineficácia do livre propósito; substituí a cicatriz nocorpo pelo graffiti no papel; substituí o inapagávelda cicatriz pelo sinal perfeitamente apagável e rasurávelda escrita. Talvez fosse mesmo necessárioir mais longe. A folha de papel, para mim, é talvezcomo o corpo dos outros...O que é certo, o que senti desde logo quando,por volta dos trinta anos, comecei a experimentaro prazer da escrita, é que este prazer de escreversempre comunicou um pouco com a morte dos outros,com a morte em geral. Desta relação entre aescrita e a morte mal ouso falar, porque sei quantoalguém como Blanchot disse sobre este assuntocoisas muito mais essenciais, gerais, profundas,decisivas do que posso dizer agora. Falo aqui ao níveldestas impressões que são como que o avessoda minha escrita. É o outro lado da tapeçaria queprocuro seguir actualmente e parece-me que o outrolado da tapeçaria é tão lógico e no fim de contastão bem desenhado, em todo o caso não mais maldesenhado, que o direito que mostro aos outros.Gostaria de, consigo, me deter um pouco nesteavesso da tapeçaria. E direi que a escrita, paramim, está ligada à morte, talvez essencialmenteà morte dos outros, mas isto não significa que escreverfosse como assassinar os outros e executarcontra eles, contra a sua existência, um gestodefinitivamente homicida que os expulsaria dapresença, que abrisse diante de mim um espaçosoberano e livre. Nada disso. Para mim, escreveré certamente relacionar-me com a morte dos outros,mas é essencialmente relacionar-me com osoutros na medida em que já estão mortos. Falode certa forma sobre o cadáver dos outros. Devoconfessá-lo, postulo um pouco a sua morte. Falandodeles, estou na situação do anatomista que fazuma autópsia. Com a minha escrita, percorro ocorpo dos outros, inciso-o, levanto os tegumentose as peles, procuro descobrir os órgãos e, desvelandoos órgãos, fazer enfim aparecer esse focode lesão, esse foco maligno, essa coisa qualquerque lhes caracterizou a vida, o pensamento eque, na sua negatividade, organizou finalmentetudo aquilo que foram. Esse coração venenosodas coisas e dos homens, eis no fundo aquilo quesempre procurei desvelar. Também compreendoporque é que as pessoas sentem a minha escritacomo uma agressão. Sentem que há nela qualquercoisa que as condena à morte. Na verdade, soumuito mais ingénuo do que isso. Não as condenoà morte. Parto simplesmente do princípio de quejá estão mortas. É por isso que fico tão surpreendidoquando as ouço gritar. Fico tão espantadoquanto o anatomista que sentisse bruscamenteque acordava, sob o seu bisturi, o homem sobre oqual quis fazer uma demonstração. Bruscamenteos olhos abrem-se, a boca põe-se a berrar, o corpoa torcer-se e o anatomista espanta-se: “Olha, afinalnão estava morto.” É, julgo eu, o que me acontececom os que me criticam ou que se insurgemcontra mim depois de me terem lido. É-me sempremuito difícil responder-lhes, a não ser através deuma desculpa, desculpa que eles tomarão talvezpor um traço de ironia mas que é verdadeiramentea expressão do meu espanto: “Olha, afinal nãoestavam mortos.”[…][Extracto de entrevista inédita de 1966 ao crítico Claude Bonnefoy,por ocasião da publicação de Les Mots et les Choses.]


O espelho[...] As utopias são colocações sem lugar real. Sãocolocações que estabelecem com o espaço real dasociedade uma relação geral de analogia directaou invertida. É a própria sociedade aperfeiçoadaou é o avesso da sociedade mas, de qualquermodo, estas utopias são espaços que são fundamentalmenteirreais.Há igualmente, e isto provavelmente emtodas as culturas, em todas as civilizações, lugaresreais, lugares efectivos, lugares que sãodesenhados na própria instituição da sociedade,e que são espécies de contra-colocações, espéciesde utopias efectivamente realizadas nasquais as colocações reais, todas as outras colocaçõesreais que se podem encontrar no interiorda cultura, são simultaneamente representadas,contestadas e invertidas, espécies de lugaresque estão fora de todos os lugares, ainda que noentanto sejam efectivamente localizáveis. A esteslugares, porque são absolutamente outros relativamentea todas as colocações que reflectem ede que falam, chamarei, por oposição às utopias,as heterotopias; e julgo que entre as utopias eestas colocações absolutamente outras, estasheterotopias, haveria sem dúvida uma espécie deexperiência mista, mediana, que seria o espelho.O espelho, no fim de contas, é uma utopia, já que éum lugar sem lugar. No espelho, vejo-me ali ondenão estou, num espaço irreal que se abre virtualmentepor trás da superfície, estou lá, ali ondenão estou, uma espécie de sombra que me dá amim mesmo a minha própria visibilidade, que mepermite olhar-me ali onde estou ausente: utopiado espelho. Mas é igualmente uma heterotopia,na medida em que o espelho existe realmente, eem que tem, no lugar que ocupo, uma espécie deefeito de retorno; é a partir do espelho que medescubro ausente no lugar onde estou já que mevejo ali. A partir deste olhar que de certa formase dirige para mim, do fundo deste espaço virtualque está do outro lado do vidro, regresso a mim erecomeço a dirigir os meus olhos para mim mesmoe a reconstituir-me ali onde estou; o espelhofunciona como uma heterotopia no sentido emque torna este lugar que ocupo no momento emque me olho ao espelho ao mesmo tempo absolutamentereal, em ligação com todo o espaço queo envolve, e absolutamente irreal, porque é obrigado,para ser percebido, a passar por esse pontovirtual que está ali. [...][“Des Espaces autres”, conferência no Cercle d’études architecturales,14 de Março de 1967, publicada em Architecture,Mouvement, Continuité, nº 5, Outubro de 1984 e recolhida emDits et Écrits II, 1976-1988, Paris, Gallimard, 2001.]O corpo utópicoO lugar que Proust, docemente, ansiosamente,vem ocupar de novo de cada vez que acorda, aesse lugar, a partir do momento em que tenho osolhos abertos, já não posso escapar. Não que euesteja, por ele, pregado ali, já que no fim de contasposso não só mover-me e mexer-me como possomovê-lo, mexê-lo, mudá-lo de lugar. Só que, pois é,já não me posso deslocar sem ele. Não o posso deixarali onde está para me ir embora, eu, para outrosítio. Posso perfeitamente ir ao fim do mundo, possoperfeitamente tapar-me de manhã debaixo doscobertores, fazer-me tão pequeno quanto possa,posso perfeitamente deixar-me derreter ao sol napraia, ele estará sempre no sítio onde eu estiver.Ele está aqui, irreparavalmente, nunca noutrosítio. O meu corpo é o contrário de uma utopia.Aquilo que nunca está sob um outro céu. É o lugarabsoluto, o pequeno fragmento de espaço com oqual, no sentido estrito, faço corpo. O meu corpo,topia impiedosa.E se, por sorte, eu vivesse com ele, numa espéciede familiaridade usada, como com umasombra, como com as coisas de todos os dias quefinalmente já não vejo e que a vida tornou baçascomo as chaminés, os telhados que se encavalitamtodas as tardes à frente da minha janela. Mastodas as manhãs, a mesma presença, a mesma ferida.Diante dos meus olhos desenha-se a inevitávelimagem que o espelho impõe: cara magra, ombrosencurvados, olhar míope, cabelos nenhuns,realmente nada bonito. E é nesta feia concha da


minha cabeça, nesta gaiola de que não gosto, quevou ter de me mostrar e passear-me. Através destagrade que terei de falar, olhar, ser olhado. Sobesta pele estagnada. O meu corpo é o lugar semrecurso a que estou condenado.Penso no fim de contas que é contra ele, ecomo que para o apagar, que se fizeram nascertodas estas utopias. [...] Pode bem ser que a utopiaprimeira, a que é mais inextirpável no corpo doshomens, seja precisamente a utopia de um corpoincorpóreo. [...]Fui tonto há bocado ao julgar que o corpo nuncaestava noutro sítio, que era um aqui irremediávele que se opunha a qualquer utopia. O meu corpo,com efeito, está sempre noutro sítio. Está ligadoa todos os outros sítios do mundo. E, para dizera verdade, só no mundo é que está noutro sítio.Porque é à volta dele que as coisas se dispõem,é relativamente a ele, e relativamente a ele comorelativamente a um soberano, que há um cima, umbaixo, uma direita, uma esquerda, uma frente e umatrás, um próximo e um distante. O corpo é o pontozero do mundo, ali onde os caminhos e os espaçosse vêm cruzar. O corpo não está em parte alguma,está no coração do mundo, este pequeno núcleoutópico a partir do qual sonho, falo, avanço, imagino,percebo as coisas no seu lugar, e as ligo assimpelo poder infinito das utopias que imagino. O meucorpo é como a cidade do sol, não tem lugar, masé dele que saem, que irradiam todos os lugarespossíveis, reais ou utópicos. No fim de contas, ascrianças demoram muito tempo até saberem quetêm um corpo. Durante meses, durante anos, têmapenas um corpo disperso, e tudo isto se organiza,tudo isto só toma literalmente corpo na imagemdo espelho. De uma forma ainda mais estranha, osgregos de Homero não tinham palavras para designara unidade do corpo. Por mais paradoxal queseja, diante de Tróia, sob os muros defendidos porHeitor e os seus companheiros, não havia corpos,havia braços levantados, havia peitos corajosos,havia pernas ágeis, havia elmos faiscantes sobreas cabeças, não havia corpos. A palavra grega quequer dizer corpo só aparece, em Homero, para designaro cadáver. São o cadáver e o espelho quenos ensinam, enfim, que ensinaram aos gregos eque ensinam agora às crianças, que temos um corpo,e que este corpo tem uma forma, que esta formatem um contorno, que neste contorno há umaespessura, um peso, em suma, que o corpo ocupaum lugar. É o espelho e é o cadáver que atribuemum espaço à experiência própria, profundamentee originariamente utópica do corpo. É o espelho eo cadáver que calam e apaziguam, e fecham numaclausura que está agora para nós selada essagrande raiva utópica que arruina e volatiliza acada instante o nosso corpo. É graças ao espelho eao cadáver que o nosso corpo não é puro espírito,nem simples utopia.Ora, se pensarmos que a imagem do espelhose aloja para nós num espaço inacessível, e quenão poderemos nunca estar no sítio onde estaráo nosso cadáver, se pensarmos que o espelhoe o cadáver estão eles próprios num invencíveloutro sítio, descobrimos então que só as utopiaspodem encerrar em si e esconder um instante autopia profunda e soberana do nosso corpo. Talvezseja também preciso dizer que fazer amor ésentir o próprio corpo fechar-se sobre si, é existirfinalmente fora de qualquer utopia, com toda a suadensidade, entre as mãos do outro. Sob os dedosdo outro que vos percorrem, todas as partes invisíveisdo vosso corpo começam a existir. Contraos lábios do outro, os vossos tornam-se sensíveis.Diante dos seus olhos semicerrados, a vossa caraadquire uma certeza, há finalmente um olhar paraver as vossas pálpebras fechadas. O amor, tambémele, como o espelho e como a morte, apazigua autopia do vosso corpo, fá-la calar-se, acalma-a,fecha-a como que numa caixa, encerra-a e sela-a.É por isso que é um parente tão próximo da ilusãodo espelho e da ameaça da morte. E se, apesardestas duas figuras perigosas que o rodeiam, segosta tanto de fazer amor, é porque, no amor, ocorpo está aqui.[Conferência radiofónica de 1966 editada em CD pelo INA]


Moi, Pierre Rivière...<strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, tendo participado no dossier,que pensa do filme de René Allio? Como é querecebeu a transposição para imagens destas personagensque viu aparecer progressivamente apartir dos textos?— Não participei minimamente na elaboração dofilme. Não estou a dessolidarizar-me, pelo contrário,mas a minha jogada, ao publicar este texto,era dizer a quem quisesse, médicos, psiquiatras,psicanalistas, comentadores, cineastas, homensde teatro... : “Façam com isto o que quiserem.”René Allio fez uma coisa boa, grande. O facto deter feito representar aquilo nos próprios lugares,por actores amadores que eram camponeses absolutamenteparecidos com os que eram contemporâneosda história, diria quase pelas mesmaspersonagens, tudo isto é importante. O filme nãoafastou a história do que ela foi. Permitiu, pelocontrário, que a história voltasse ao seu ponto departida. Conhecemos esta história porque Rivière,supostamente analfabeto, a escreveu. A maneiracomo Allio usou a voz off, querendo que tudo o queé dito no filme tivesse sido dito no relato (não hánenhum discurso original do filme) é, parece-me,muito novo.[...] Saber tantas coisas sobre pessoasque no fim de contas não foram nada, que nãodeixaram nenhum rasto na história, saber tantascoisas sobre a sua vida, os seus problemas, os seussofrimentos, a sua sexualidade também, é muitoimpressionante. Quanto mais sabemos, menos nofim de contas compreendemos. Acabam por serpequenos fragmentos de vida que se confrontamintensamente. Quanto mais vemos estas personagens,menos as compreendemos. Quanto mais sãoiluminadas, mais obscuras ficam.[...] O que me marcou foi uma coisa que aliásexistia no dossier, mas que o filme de Allio merevelou muito mais; é que este pobre Rivière, emsuma, para se tornar um intelectual, porque pertencea esta classe agrícola, de gente pequena,tem de degolar a mãe, o irmão e a irmã. A nós, eaos nossos equivalentes da época, para nos tornarmosintelectuais, bastava-nos, digamos, umapequena decisão, pegar em papel e numa caneta.Já ele, precisa de pegar num podão para se tornarintelectual, com este gesto que realiza, estegesto ritual, este assassínio real que realiza, enquantoque nós ficamos muitas vezes ao nível doassassínio simbólico, e melhor para nós num certosentido. Ele precisa de pegar num podão parater o direito de escrever, para ter uma históriapara contar, para sair do vulgar.- Sim, mas podemos dizer o contrário. Para chegara este assassínio, era preciso que tivesse tomadoa decisão de escrever, já que, no seu projecto, tratava-seprimeiro de escrever o assassínio futuro,e depois, uma vez feita a narrativa, ir matar. Há aliuma espécie de nó entre a escrita e o assassínioque é formidável.[...][“Pourquoi le crime de Pierre Rivière?” (entrevista com F.Châtelet), Parispoche, 10-16 de Novembro de 1976, pp. 5-7 (textoreproduzido em <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, Dits et Écrits II, 1976-1988,Paris, Gallimard, 2001, pp. 106-108).]


JEAN JOURDHEUILJean Jourdheuil é encenador, tradutor, autor eprofessor de Artes do Espectáculo na UniversidadeParis X. Traduziu, entre outras, em colaboraçãocom Jean-Louis Besson ou Heinz Schwarzinger,peças de Georg Büchner, Heinrich von Kleist,Karl Valentin, Heiner Müller, Lothar Trolle, PeterHacks, Gottfried Benn, Bertolt Brecht. Publicou osseguintes livros de ensaios: L’artiste, la politique, laproduction; Le théâtre, l’artiste, l’État; Un théâtre duregard – Gilles Aillaud: le refus du pathos. Colaborounos argumentos de vários filmes de René Allio:Les Camisards, Moi, Pierre Rivière..., Un médecindes Lumières, Transit. Realizou a versão francesade vários filmes de Richard Dindo. No teatro,colaborou com Jean-Pierre Vincent e Jean-FrançoisPeyret. Consagrou diversos espetáculos a filósofose escritores como Rousseau, Montaigne, Espinozae Lucrécio, feitos em colaboração com pintores(Lucio Fanti, Gilles Aillaud, Titina Maselli). Trabalhounos anos 70 na Schaubühne de Berlim com PeterStein e Luc Bondy. Em 1976, o Teatro da Cornucópiamontou a sua peça Ah Q (escrita com BernardChartreux a partir de Lu Sun), com encenação deLuís Miguel Cintra e interpretação de Jorge SilvaMelo. Traduziu e encenou vários textos de HeinerMüller, sendo um dos responsáveis pela introduçãoda sua obra em França. Com Nikolaus Müller-Schöll,organizou o número especial da revista Théâtre/Public nº 160/161 intitulado Heiner Müller, Généalogied’une oeuvre à venir e publicou em 2003 Manuscritsde Hamlet Machine nas éditions de Minuit. Últimasencenações: La Bataille d’Arminius de Kleist (1995),Le Masque de Robespierre de Gilles Aillaud (1996),Germania 3 de Müller no Centro Cultural de Belém(1997), Comment meurent les scientifiques? emFrankfurt (1997), Identity, a play de Gertrud Steinem Giessen (1998), La Finta Giardiniera de Mozartno Staatsoper de Estugarda (2003, transmitidapela Arte e a SWR em 2004), Im Spiegel Wohnen(Habitar o Espelho), composição de AndreasBreitscheid a partir de Bildbeschreibung (Descriçãode um Quadro) de Heiner Müller, no Forum NeuesMusiktheater de Estugarda. Prepara actualmenteIdomeneu de Mozart no Staatsoper de Estugarda.MARK LAMMERTMark Lammert é pintor e vive em Berlim. Feznumerosas exposições individuais e colectivasna Alemanha (onde recebeu, entre outros, oprestigiado prémio Kâthe Kollwitz) e no estrangeiro(em Lisboa, no CCB, Galeria Diferença e CAM).Realizou o espaço cénico de Duell-Traktor-Fatzerde Heiner Müller e Bertolt Brecht, com encenaçãode Heiner Müller, no Berliner Ensemble em 1993.Em 1995, devia realizar a cenografia de Germania3, com texto e encenação de Müller, mas o projectofoi cancelado pela morte do autor. Concebeu oespaço cénico das seguintes encenações de JeanJourdheuil: Germania 3 – Espectros do Morto-Homem (CCB, 1997), La Finta Giardiniera (2003,Estugarda), Im Spiegel Wohnen (2004, Estugarda).Prepara a cenografia de Idomeneu de Mozart.MARC BARBÉMarc Barbé entrou como actor nos seguintesespectáculos: Liliom de Molnár (encenação deAlexis Moatti e Stratis Vouyoucas), Le Masquede Robespierre de Gilles Aillaud e Im SpiegelWohnen de Andreas Bretischeid (encenação deJourdheuil), L’avenir oublié e Chantier de SimoneBenaïssa (encenação de Jean-Louis Hourdin eSimone Benaïssa). No cinema, entrou em filmesde Eve Heinrich, Anne Théron, Philippe Giandrieux(Sombre), Philippe Legay (Trois huit), GérardMordillat (En compagnie d’Antonin Artaud), LaetitiaMasson (Pourquoi le Brésil), Philippe Garrel (LesAmants réguliers). Traduziu para francês as peçasSchool for Scandal de Sheridan, The Art of Successde Nick Dear e Tamburlaine de Marlowe.PHILIP BUSSMANNPhilip Bussmann é desenhador de luz. Trabalhoudurante oito anos com o Wooster Group em NovaIorque. Mais recentemente trabalhou com WilliamForsythe no Ballet Frankfurt e Wanda Golonka noSchauspiel Frankfurt, assim como com Sacha Waltz.Em 2004 colaborou com Jourdheuil e Lammert emIm Spiegel Wohnen.


STÉPHANE LEACHStéphane Leach é pianista-concertista, assistentemusical e compositor. Tocou e compôs para acena com Hélène Delavault em La Républicaine,encenação de Jean-<strong>Michel</strong> Rabeux; com JeanJourdheuil e Jean-François Peyret em CabaretValentin, com Frédérique Wolf-Michaux emCheckpoint Charlie, passage du XXe siècle; comOlivier Py, para quem escreveu a música de Contesde Grimm, Apocalypse joyeuse, Le Soulier de satinde Paul Claudel e Les Vainqueurs de Py. Escreveutambém a música do disco e do espectáculo Casinodes Trépassés sobre textos de Tristan Corbièrecantados por Pascal Héni; compôs música para ofilme Die Niebelungen de Fritz Lang.Para <strong>Michel</strong> <strong>Foucault</strong>, <strong>choses</strong> <strong>dites</strong>, <strong>choses</strong> <strong>vues</strong>,tocou pela primeira vez a “glass-harmónica”.Em Paralelo:21 de Abril · 18h30 · Pequeno AuditórioMoi, Pierre Rivière, ayant égorgé ma mère, ma sœuret mon frère..., filme de René Allio (cenógrafo, pintor,realizador) a partir de um caso estudado por M.<strong>Foucault</strong>. Apresentação de Jean Jourdheuil.Legendas em português (tradução de Daniela Garcia).22 de Abril · 18h30 · Pequeno AuditórioA escrita, o espaço e o corpo, leitura encenada detextos de M. <strong>Foucault</strong> com Jorge Silva Melo e ManuelWiborg (organização J. Jourdheuil)PRÓXIMO ESPECTÁCULOMÚSICA 27 DE ABRIL21h30 · Grande Auditório · Duração 1h00 (aprox.)Mark Lewisand The StandardsMark Lewis (Tompkins) é um coreógrafo e encenadoramericano que vive em Paris. A sua companhia, I.D.A.,apresenta frequentemente as suas coreografias portoda a Europa, e no resto do Mundo, desde há mais de20 anos. Nos últimos 10 anos Mark Lewis e Nuno Rebelotêm colaborado em inúmeros projectos - seja a músicade Nuno Rebelo para as suas coreografias, projectos deimprovisação, workshops leccionados conjuntamenteem vários países. Dado que em muitos dos seus espectáculosMark Lewis canta as suas próprias canções, bemcomo vários standards, nasceu assim o desejo mútuode formar uma banda, gravar um CD e dar concertos.Nesta aventura, é particularmente excitante e curiosoo background do grupo - Nuno Rebelo e Vítor Rua forammúsicos seminais do Rock Português dos anos 80(Mler ife Dada, GNR) antes de se dedicarem às músicasde carácter experimental a partir dos anos noventa.Alexandre Cortez e Samuel são a secção rítmica dosRádio Macau, grupo que continua a existir em toda asua pujança. Com esta combinação de grandes talentospoderia esperar-se uma música experimental e bizarra.Mas a simplicidade das canções, a voz de Mark Lewise os arranjos rock de Nuno Rebelo dão origem a umabanda simultaneamente mainstream e contemporânea,difícil de classificar mas muito fácil de apreciar: MarkLewis and the Standards.23 de Abril · 18h30 · Pequeno AuditórioDebate sobre este espectáculo e a actualidade dopensamento de <strong>Foucault</strong> com Philippe Artières(director do Centre <strong>Foucault</strong>), José Bragança deMiranda e J. Jourdheuil.Os portadores de bilhete para o espectáculo têmacesso ao Parque de Estacionamento da CaixaGeral de Depósitos.


Conselho de AdministraçãoPresidente Manuel José VazVice-Presidente Miguel Lobo AntunesVogal Luís dos Santos FerroAssessoresGil Mendo (Dança)Francisco Frazão (Teatro)Miguel Wandschneider (Arte Contemporânea)Raquel Ribeiro dos Santos (Serviço Educativo)Direcção de ProduçãoMargarida MotaProdução e SecretariadoPatrícia BlazquezMariana Cardoso de LemosExposiçõesAntónio Sequeira Lopes (Produção e Montagem)Paula Tavares dos Santos (Produção)Susana Sameiro (<strong>Culturgest</strong> Porto)ComunicaçãoFilipe Folhadela MoreiraAna Fonseca (estagiária)PublicaçõesMarta CardosoRosário Sousa MachadoActividades ComerciaisCatarina CarmonaServiços Administrativos e FinanceirosCristina RibeiroPaulo SilvaDirecção TécnicaEugénio SenaDirecção de Cena e LuzesHorácio FernandesAudiovisuaisAmérico FirminoPaulo AbrantesIluminação de CenaFernando Ricardo (Chefe)Nuno AlvesMaquinaria de CenaJosé Luís Pereira (Chefe)Alcino FerreiraTécnicos AuxiliaresTiago BernardoÁlvaro CoelhoFrente de CasaRute Moraes BastosBilheteiraManuela FialhoEdgar AndradeJoana MartoRecepçãoTeresa FigueiredoSofia FernandesAuxiliar AdministrativoNuno Cunha<strong>Culturgest</strong>, uma casa do mundo.Informações 21 790 51 55Edifício Sede da CGD, Rua Arco do Cego, 1000-300 Lisboaculturgest@cgd.pt • www.culturgest.ptCom o apoio da AFAA, Association Française d’ActionArtistique – Ministère des Affaires Étrangères

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