<strong>Plano</strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Acção <strong>para</strong> a Inclusão <strong>2006</strong>-<strong>2008</strong>Parte Ipelo menos uma criança e 34% das famílias com dois adultos e três oumais crianças estavam em situação <strong>de</strong> pobreza monetária em 2004 18 .Numa análise multidimensional da pobreza, é possível reforçar a i<strong>de</strong>ia<strong>de</strong> que são as famílias com crianças, em particular as mais numerosas,que têm uma maior incidência <strong>de</strong> privação (em 2001, cerca <strong>de</strong> 16%das famílias com um ou dois adultos com crianças estão em risco <strong>de</strong>privação face a 19% das famílias em geral) 19 , sendo precisamente estasas que constituem os principais beneficiários do Rendimento Social <strong>de</strong>Inserção.Prevalecem ainda outros riscos que colocam em causa o pleno<strong>de</strong>senvolvimento das crianças e a sua própria segurança. Por exemplo,situações <strong>de</strong> abandono e <strong>de</strong> negligência, maus-tratos, exposição a mo<strong>de</strong>los<strong>de</strong> comportamento <strong>de</strong>sviante, trabalho infantil, bem como outro tipo <strong>de</strong>situações ou activida<strong>de</strong>s que sujeitam as crianças a comportamentos queafectam a sua segurança, saú<strong>de</strong>, educação e formação.A protecção social às famílias tem assumido um papel essencial namelhoria do bem-estar das crianças. Contudo, as famílias, nomeadamenteas mais jovens, enfrentam actualmente novos <strong>de</strong>safios resultantes,sobretudo, da dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> conciliar a activida<strong>de</strong> profissional dos paiscom o cuidados dos filhos, da multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formas <strong>de</strong> vida familiarexistentes e das novas exigências do novo estatuto da criança, pelo quese torna fundamental dinamizar serviços e respostas sociais que lhesassegurem o bem-estar.A população idosa é o grupo populacional que vive em maior risco <strong>de</strong>pobreza. Em 2004, 29% viviam em risco <strong>de</strong> pobreza (30% <strong>de</strong> mulheres,29% <strong>de</strong> homens) face a 21% da população total 20 . A composição doagregado familiar permite verificar que as famílias com idosos constituemas situações mais vulneráveis: em 2004, as famílias constituídas porum idoso isolado (41%) e as famílias com dois adultos em que pelomenos um tem 65 ou mais anos (31%) constituíam as situações maispreocupantes 21 .A condição <strong>de</strong> reformado revela um risco <strong>de</strong> pobreza bastante maiselevado por relação aos indivíduos que estão a trabalhar, respectivamente26% contra 13%, em 2004. Em 2001, a distribuição do rendimentomonetário equivalente médio dos mesmos apresentava níveis inferioresaos da população portuguesa, ainda que se tenha sentido, entre 1995 e2001, uma melhoria da situação monetária das pessoas idosas <strong>de</strong> maisbaixos rendimentos e dos <strong>de</strong> classe média <strong>de</strong> rendimentos. Cerca <strong>de</strong> 66%tinham rendimentos mensais inferiores à média nacional 22 . Apesar damelhoria sustentada assegurada pelo sistema <strong>de</strong> segurança social, emparticular, do sistema <strong>de</strong> pensões, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a segunda meta<strong>de</strong> da década <strong>de</strong>90, prevalecem situações extremamente vulneráveis <strong>de</strong> idosos que vivem<strong>de</strong> pensões com valores muito baixos.A perda <strong>de</strong> autonomia, o isolamento social, as más condições habitacionaise o difícil acesso a serviços <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> e/ou <strong>de</strong> apoio social, reforça asvulnerabilida<strong>de</strong>s dos mais velhos.A pobreza e a exclusão social não se distribuem uniformementepelo território nacional. Em 2000, eram as regiões autónomas queevi<strong>de</strong>nciavam uma maior incidência <strong>de</strong> pobreza monetária (cerca <strong>de</strong> 33%)enquanto no continente, a incidência era mais elevada <strong>de</strong>signadamenteno Algarve (25%) e no Alentejo (22%). Por outro lado, eram as zonasmais rurais que estavam sujeitas a um maior risco <strong>de</strong> pobreza, 33% facea 16% no meio urbano em 2000 23 .A dimensão espacial revela-se, pois, fundamental na abordagem dosfenómenos <strong>de</strong> exclusão social, no sentido <strong>de</strong> percepcionar o efeito dasconfigurações dos territórios na ocultação, produção e reprodução <strong>de</strong>situações <strong>de</strong> pobreza. A distribuição dos factores <strong>de</strong> vulnerabilida<strong>de</strong> noespaço ocupado pelos diferentes grupos sociais, associa-se a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong>s18 Eurostat, SILC.19 Cálculos efectuados pela DGEEP/MTSS com base no PEADP do INE.20 Eurostat, SILC.21 Eurostat, SILC.22 Cálculos efectuados pela DGEEP/MTSS com base no PEADP do INE.23 Cálculos efectuados pela DGEEP/MTSS com base no Inquérito aos Orçamentos Familiares do <strong>Instituto</strong><strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Estatística no âmbito do projecto ‘Medidas <strong>de</strong> Pobreza e Exclusão Social’.1617
<strong>Plano</strong> <strong>Nacional</strong> <strong>de</strong> Acção <strong>para</strong> a Inclusão <strong>2006</strong>-<strong>2008</strong>Parte I<strong>de</strong> acesso às esferas em que se geram e distribuem as oportunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>participação social, cultural, política e económica, <strong>de</strong>signadamenteaos mercados <strong>de</strong> trabalho, educação, formação, níveis <strong>de</strong> rendimento erecursos disponíveis. Enquanto palco <strong>de</strong> factores <strong>de</strong> exclusão social, aunida<strong>de</strong> territorial é simultaneamente, pelo seu carácter dinâmico, espaço<strong>de</strong> referência <strong>para</strong> introdução <strong>de</strong> recursos e potencialida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> inversão<strong>de</strong> processos geradores <strong>de</strong> pobreza. Nesta lógica, importa contrariarmodalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> respostas que estando inscritas territorialmente, nãotêm sido orientadas por abordagens e práticas integradas, <strong>de</strong> esforçoconcentrado quer nos objectivos quer nos meios e que não têm acauteladoa sustentabilida<strong>de</strong> das suas iniciativas e públicos.Em Portugal, as iniciativas <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento ten<strong>de</strong>ram a acentuarclivagens entre as regiões rurais periféricas e o litoral, com reflexosnuma gran<strong>de</strong> concentração populacional no litoral, com especialenfoque nas Áreas Metropolitanas e uma consequente <strong>de</strong>sertificação<strong>de</strong>mográfica no interior rural. As iniciativas <strong>de</strong> inovação e mo<strong>de</strong>rnizaçãodos diversos sectores concentraram-se sobretudo nas cida<strong>de</strong>s e vilas<strong>de</strong> média dimensão, fragilizando os territórios marcadamente ruraisvotados a um maior isolamento, rarefacção <strong>de</strong> investimentos produtivos,envelhecimento populacional e condições <strong>de</strong> precarieda<strong>de</strong>.Os meios rurais mais pobres congregam uma população mais idosa,composta por camponeses e antigos assalariados rurais com pensõesreduzidas, mantendo uma linha <strong>de</strong> continuida<strong>de</strong> entre a pobreza e aenvolvente sub<strong>de</strong>senvolvida. Em contrapartida, a visibilida<strong>de</strong> da pobrezanas áreas urbanas e periurbanas contrasta fortemente com o meio, pelaconcentração <strong>de</strong> territórios <strong>de</strong> exclusão estigmatizados e reprodutores<strong>de</strong> situações <strong>de</strong> pobreza persistente. Tratam-se geralmente <strong>de</strong> bairrosclan<strong>de</strong>stinos e <strong>de</strong> casas abarracadas, <strong>de</strong> bairros <strong>de</strong> habitação social oubairros antigos e <strong>de</strong>gradados das cida<strong>de</strong>s que incluem uma gran<strong>de</strong>multiplicida<strong>de</strong> <strong>de</strong> situações e <strong>de</strong> problemáticas – limitações <strong>de</strong> recursoseconómicos, baixas qualificações escolares e profissionais, precarieda<strong>de</strong><strong>de</strong> emprego, re<strong>de</strong>s <strong>de</strong> marginalida<strong>de</strong>, mercados <strong>para</strong>lelos, <strong>de</strong>pendênciasaditivas, entre outros – conducentes a diversos mecanismos <strong>de</strong> reprodução<strong>de</strong> condições <strong>de</strong> pobreza persistente pela dificulda<strong>de</strong> em romper com asteias da exclusão.O esforço realizado no sentido <strong>de</strong> reforço do sistema <strong>de</strong> protecção socialnacional e uma maior aproximação aos níveis dos restantes membrosda União Europeia (UE) reflectem uma melhoria a vários níveis. A pardo crescimento gradual das <strong>de</strong>spesas com a protecção social regista-seum aumento das situações e riscos cobertos, dos níveis <strong>de</strong> protecçãoconferidos e alterações nos critérios <strong>de</strong> elegibilida<strong>de</strong>, permitindo queum maior número <strong>de</strong> pessoas aceda às prestações, aos serviços e aosequipamentos sociais. A <strong>de</strong>spesa total em protecção social traduz esseesforço <strong>de</strong> convergência <strong>para</strong> a média da UE. Portugal <strong>de</strong>spendia emprotecção social 22.6% em 2003 (face a 19.3% em 1995).Existem, no entanto alguns factores, como é o caso da estrutura<strong>de</strong>mográfica da população (por via da ida<strong>de</strong>) e do nível <strong>de</strong> <strong>de</strong>semprego,que influenciam essa <strong>de</strong>spesa. A <strong>de</strong>spesa com velhice é a que representaa maior fatia no conjunto das <strong>de</strong>spesas em protecção social, seguindo-sea <strong>de</strong>spesa com a doença e cuidados <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> (respectivamente 8.9% e6.5% do PIB em 2003) 24 .Este esforço tem, inevitavelmente, efeitos positivos nas taxas <strong>de</strong> pobreza.Sem o efeito das transferências sociais (excluindo também as pensões), apercentagem da população em risco <strong>de</strong> pobreza monetária teria sido <strong>de</strong>27% em 2004 (face a 26% na UE25). Particularizando, o risco <strong>de</strong> pobrezadas crianças e dos idosos será <strong>de</strong>, respectivamente, 32% e 34% 25 .Para que sejam eficazes no combate à pobreza, as transferências sociaismonetárias <strong>de</strong>vem ser acompanhadas <strong>de</strong> serviços e equipamentos queconsigam dar resposta às necessida<strong>de</strong>s dos indivíduos e famílias. Apesardos esforços que se têm vindo a realizar, as respostas existentes aindanão são satisfatórias, constituindo uma das maiores fragilida<strong>de</strong>s dosistema <strong>de</strong> protecção social e, simultaneamente, uma das áreas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>potencialida<strong>de</strong> <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e crescimento com impactes múltiplos24 SESPROS, Eurostat.25 Eurostat, SILC.1819