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USO DE RECURSOS VEGETAIS DA CAATINGA EM UMA ...

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Núm. 34: 217-238Agosto 2012ABSTRACTThis study sought to identify the potentialutility of native speciesin the Caatinga areain the municipality of Soledade (NortheasternBrazil). The survey was conductedin two stages, first a phytosociologicalinventory was carried out in fragmentsof vegetation next to the community toidentify the species, then an ethnobotanicalsurvey was conducted using structured interviewswith 33 informants of both sexesin order to investigate their knowledgeabout the attributed uses to plants. A totalof 101 species were identified, and 84of those were considered useful by thecommunity. Reported species were dividedinto nine categories of use (forage,medicine, technology, construction, food,fuel, veterinary, poison-arbotive, others),among which the most relevant in termsof number of species were the categoriesof fodder, medicine and technology, withover 20 species each. The leaf is the plantpart most used, followed by wood andbark, reinforcing the importance of timberresources to the community. Knowledgeabout the potential utility of native vegetationappears to be evenly distributedamong the informers. Few species arehighly valued, while most have marginaluse values. Although there is no real distinctionbetween use and cognitive use ofplant resources, it is indispensable to reportknowledge on plant-use. These traditionalknowledge and practices are essential toestablish techniques and for sustainableuse and management of these resources,in order to minimize the human action onthe biodiversity of the Caatinga, for thepotential of this biome can be enjoyed byfuture generations.Key words: Caatinga, ethnobotany, usevalue, local knowledge.RESUMENEste estudio trata de determinar la utilidadpotencial de especies nativas en un áreade Caatinga en el municipio de Soledade(Nordeste de Brasil). El trabajo se realizóen dos etapas. Primero se llevó a cabo uninventario fitosociológico en los fragmentosde vegetación acerca de la comunidadpara identificar las especies, y después secondujo un estudio etnobotánico usandoentrevistas semiestructuradas con 33 informantesde ambos sexos para investigar susconocimientos acerca de los usos atribuidosa las plantas. Un total de 101 especies fueronidentificadas, 84 del total fueron consideradosútiles para la comunidad. Ademáslos taxa inventariados fueron divididos ennueve categorías de uso (forraje, medicina,tecnología, construcción, alimentos,combustible, veterinario, veneno-arbotivo,otros), entre los cuales las más relevantesen cuanto al número de especies incluidasfueron las categorías de forraje, medicina ytecnología, con más de 20 especies. La hojaes la parte de la planta más utilizada, seguidade la madera y la corteza, lo que refuerzala importancia de los recursos madereros dela comunidad. El conocimiento sobre la utilidadpotencial de la vegetación nativa pareceestar distribuido uniformemente entre losinformantes. Pocas especies tienen un altovalor de uso, mientras que la mayoría presentanvalores de uso marginales. Aunqueno exista una verdadera distinción entre usoy uso cognitivo de los recursos vegetales,conocer y tener en cuenta el conocimientolocal es indispensable para establecer lastécnicas de uso y manejo de estos recursos,218


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú Paraibanoa fin de minimizar la acción humana sobrela biodiversidad de la Caatinga, para que elpotencial de este bioma pueda ser disfrutadopor las generaciones futuras.Palabras clave: Caatinga, etnobotánica,valor de uso, conocimientos tradicionales.INTRODUÇÃOA Caatinga, uma vegetação típica do Nordestebrasileiro, ocupa uma área com cercade 844.453 km² (IBGE, 2004) e caracterizasepor longas estações secas e chuvas irregulares.Publicações recentes identificarama ocorrência de 932 espécies de plantas, dos18 gêneros de espécies lenhosas e suculentasdescritas, 318 espécies são endêmicas(Giulietti et al., 2004). Segundo Tabarelli& Vicente (2004) o número real de biodiversidadeda Caatinga, é provavelmenteainda maior, uma vez que, os estudos aindasão escassos e muitas áreas nunca foraminvestigadas.Cerca de 25 milhões de pessoas vivem naCaatinga, e muitas populações dependem douso dos recursos oferecidos por esta (Araújoet al., 2007; Alves et al., 2008). A utilizaçãode tais recursos é determinada pela sazonalidadeclimática, em virtude dessa regiãopossuir suas estações bem definidas, tendoum período de seca bem determinado, noqual as pessoas encontram a sua disposiçãotroncos e ramos de árvores, dos quais produzemmedicamentos, utensílios e materiaisde construção, além da produção de lenhae carvão vegetal (Albuquerque e Andrade,2002a,b); já na estação chuvosa, o elenco derecursos disponíveis se torna maior, comopor exemplo os recursos alimentícios. Etodo esse potencial utilitário da vegetaçãoencontrada na Caatinga tem sido registradana literatura etnobotânica (Albuquerque etal., 2005; Almeida et al., 2005; Lucena etal., 2008; Leal et al., 2005).As pesquisas mais recentes evidenciam aspotencialidades e os padrões de uso da vegetaçãodo semiárido, e têm demonstradouma importante contribuição das espéciesde plantas nativas para atender as necessidadeslocais das populações que dependemdesses recursos. O conhecimento dos usose das necessidades locais é uma ferramentafundamental para o desenvolvimento detécnicas de manejo e conservação dessasáreas Segundo Capobianco (2002), a Caatingaé uma das áreas brasileiras maismodificadas pelas atividades humanas.Albuquerque e Andrade (2002a,b) cita que,no Nordeste do Brasil, a expansão pecuáriaresulta na conversão de florestas em pastagense cultivos. A intervenção antropogênicasobre esta área pode ser percebidana devastação da vegetação nativa paraatividades agropastoris, extração da madeirae construção de rodovias (Castellettiet al., 2003). Assim, a conservação destepatrimônio biológico parece de extremaimportância.Diante do exposto, o presente trabalho tevepor objetivo contribuir para o registro doconhecimento local recorrendo a estudosetnobotânicos desenvolvidos na bioma Caatingae conduzindo um inventário acercadas plantas úteis presentes em uma comunidaderural localizada no município de Soledade(Paraíba, Brasil). Também se buscoudeterminar se há diferenças entre usos madeireirose não madeireiros, determinandose existem categorias potencialmente maisimportantes que outras.219


Núm. 34: 217-238Agosto 2012MATERIAIS E MÉTODOSÁrea de estudoO trabalho foi desenvolvido na comunidaderural de Bom Sucesso, no município deSoledade, estado da Paraíba (Nordeste doBrasil) (Fig. 1). Situa-se na mesorregiãodo Agreste e microrregião do CurimataúOcidental (7º03’26” de latitude sul e,36º21’46” de longitude oeste). O municípiodista 186 km de João Pessoa, capitaldo estado (SEBRAE, 1998), limita-se aonorte com o município de São Vicente doSeridó, a leste com Olivedos e Pocinhos, aoeste com Juazeirinho e ao sul com Gurjãoe Boa Vista, estando a 521 metros acimado nível do mar. Possui uma área territorialde 560 062 km 2 , e sua população estimadaé de 13.128 habitantes (IBGE, 2007), comaproximadamente 70% da população residindona área urbana, e 30% no zona rural.O clima é quente e seco, apresentando umabaixa precipitação pluviométrica anual, emtorno de 300mm³ (SEBRAE, 1998). Possui24.981 hectares de áreas cobertas com vegetaçãonativa (Silva e Sá et al., 2009).A vegetação de Soledade é predominantementede Caatinga hiperxerofila, típica dosemi-árido nordestino (Alves et al., 2008),com predominância do tipo arbustivo-arbórea,e uma grande quantidade de cactáceas,hoje visivelmente predominantes em decorrênciadas grandes derrubadas de espéciesarbóreas para a produção de energia, comolenha e carvão para utilização nas residências(SEBRAE, 1998).A comunidade estudadaA comunidade rural selecionada para esseestudo foi o Distrito Bom Sucesso (Fig.1), em virtude da facilidade de acesso, distando21 km da zona urbana. Cerca de 28famílias vivem na comunidade, totalizando95 pessoas (44 do sexo masculino e 51 dosexo feminino). O distrito é estruturalmenteorganizado, sua divisão física é caracterizadapor uma área com propriedades ruraisafastadas e um aglomerado de casas dispostasem uma rua pavimentada evidenciandoum aspecto de vila. Nesta, encontra-se umaIgreja Católica, uma escola de ensino fundamental,duas mercearias e um posto médico,que disponibiliza atendimento semanal ascomunidades locais e circunvizinhas. Aagricultura de subsistência, principalmenteo cultivo de milho e feijão, e a pecuária sãofontes de renda indispensáveis à comunidade(Araújo et al., 2005).Inventário da vegetaçãoPara a identificação das espécies ocorrentesna região foram realizadas amostragensvegetacionais na comunidade de BomSucesso com a finalidade de coletar informaçõesfitossociológicas e botânicas. Essaamostragem foi dividida em quatro áreascom fisionomias semelhantes. Em cadauma das quatro áreas selecionadas forammarcadas 25 parcelas semi permanentesde 10 m x 10 m, totalizando 100 parcelase perfazendo uma área total de 1ha. Registraram-setodas as espécies lenhosas queapresentaram um diâmetro do caule no níveldo solo (DNS) igual ou superior a três centímetros,excluindo-se cactos, bromélias,trepadeiras, lianas e pequenas herbáceas(Araújo e Ferraz, 2010). Os parâmetrosfitossociológicos adotados foram área basal,valor de importância, densidade relativa,dominância relativa e frequência relativa,sendo analisados de acordo com Araújo eFerraz (2010).220


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoFig. 1. Localização do Distrito Bom Sucesso, município de Soledade, Paraíba, Nordeste do Brasil (Fonte: Alves et al., 2008).221


Núm. 34: 217-238Agosto 2012Em outro momento, foi realizada umaturnê guiada (Albuquerque et al., 2010)com alguns informantes para registrar ecoletar as espécies citadas nas entrevistas,as quais não foram incluídas no inventáriofitossociológico, como os cactos, broméliase herbáceas de pequeno porte.Inventário etnobotânicoOs dados etnobotânicos foram coletadospor meio de entrevistas semiestruturadas,visitando-se todas as residências habitadaspresentes em Bom Sucesso durante doisanos (março de 2007 a março de 2009). Paracada informante foi explicado o objetivo doestudo, e em seguida estes foram convidadosa assinar o Termo de ConsentimentoLivre e Esclarecido, que é solicitado peloConselho Nacional de Saúde por meio doComitê de Ética em Pesquisa (Resolução196/96). Os informantes da pesquisa foramtodos os chefes domiciliares de todas asresidências, considerando-se tanto o homemcomo a mulher, em momentos distintos.Entrevistaram-se 33 pessoas, 16 mulheres(22-74 anos) e 17 homens (31-78 anos).O formulário utilizado nas entrevistas abordouperguntas específicas sobre as espéciesconhecidas e utilizadas pelos moradores,por meio das quais se puderam conheceras espécies úteis, bem como as categoriasnas quais as mesmas são enquadradas. Ascategorias foram determinadas de acordocom a literatura (Phillips e Gentry, 1993a,b;Galeano, 2000; Albuquerque e Andrade,2002a,b; Ferraz et al., 2006; Lucena et al.,2008), sendo elas: alimentação, combustível,construção, forragem, medicinal, tecnologia,veneno-abortiva, veterinária e outrosusos. Dentro da categoria “outros usos” foramincluídas as espécies citadas para aplicaçõesmágico-religiosas, ornamentação ehigiene pessoal. Tal união foi realizada emvirtude desses usos serem pouco expressivosna comunidade estudada.As informações foram enriquecidas econfirmadas com a utilização de outrastécnicas de investigação como a observaçãodireta (Albuquerque et al., 2010) e a turnêguiada (Spradley e Mccurdy, 1972), queconsistiu em visitas pelas casas e matas dacomunidade, com dez informantes que sedispuseram em colaborar nessa etapa dapesquisa, visando assim identificar as espéciescitadas nas entrevistas e coletar materialpara posterior identificação botânica.Os espécimes recolhidos foram processadosno campo e levados para o Laboratório deEtnobotânica Aplicada para seu tratamentoe incorporação no herbário. A identificaçãofoi realizada por taxonomistas, consultanos herbários e especialistas na área. Osvouchers encontram-se no Herbário VasconcelosSobrinho da Universidade FederalRural de Pernambuco (PEUFR). Como asplantas foram coletadas em propriedadesrurais particulares não foi preciso a autorizaçãodo IBAMA para tais coletas.Análise dos dadosO valor de importância (VI) mencionadonos métodos trata-se de um parâmetrofitossociológico utilizado para analisar avegetação local, o mesmo sendo associadocom os parâmetros de densidade, frequênciae dominância. Tais parâmetros foram analisadoutilizando-se o programa FITOPAC.O valor de uso (VU) foi calculado para cadaespécie pela fórmula proposta por Rossatoet al. (1999): VU = ∑Ui/n; em que: Ui =número de citações de uso mencionadospor cada informante, n = número total de222


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú Paraibanoinformantes. O valor de uso foi divididoem classes para avaliar a quantidade deespécies que se enquadrava em cada uma,identificando dessa forma as espécies commaiores valores. Essa inforomação é importante,pois espécies com altos valoresde uso podem indicar que esteja ocorrendopressão de uso.RESULTADOS E DISCUSSÃOO inventário fitossociológico, identificou24 espécies, sendo todas consideradas úteispela população local, e pertencentes a 20gêneros e 12 famílias.Este resultado está de acordo com os obtidosem estudos similares também realizadosna Caatinga e concretamente em Soledade,área de estudo do presente trabalho, sendodesenvolvido por Lucena (2009) em duascomunidades vizinhas à de Bom Sucesso,encontrou número semelhante de espécieslenhosas na vegetação, obtendo 29 espéciesna comunidade Barrocas e 19 na comunidadeCachoeira. Inventários em outrasáreas de Caatinga, Lucena et al. (2007), porexemplo registraram em um fragmento florestalno município de Caruaru (Pernambuco)um total de 32 espécies. Baseado nestesdados, o número de espécies inventariadasna comunidade estudada foi relativamentesignificativo, evidenciando que o inventáriofitossociológico foi satisfatório, registrandoas principais espécies arbóreas ocorrentesna caatinga.As espécies que mais se destacaram foramCroton blanchetianus com 1854 indivíduos,Poincianella pyramidalis com 781, Aspidospermapyrifolium com 352 e Jatrophamolissima com 174. As demais espécies obtiverammenos de dez indivíduos registradosnos fragmentos de vegetação estudados naárea. O predomínio dessas espécies tambémfoi encontrado por Lucena (2009).Em relação ao valor de importância (VI) queavalia a importância ecológica do táxon noambiente. E, considerando apenas as espéciescitadas como úteis pelos informantesde Bom Sucesso, destacam-se C. blanchetianus(115,23), P. pyramidalis (89,99) e A.pyrifolium (40,22). Essas mesmas espéciestambém apresentaram altos valores de VI notrabalho de Lucena (2009). Já no trabalho deFerraz et al. (2006), realizado no sertão dePernambuco, identificou-se como espéciesmais importantes de acordo com o VI oZiziphus joazeiro, Crataeva tapia e Lonchocarpussericeus. Comparando os resultadosdo presente estudo com os de Ferraz et al.(2006) verifica-se que P. pyramidalis e A.pyrifolium são menos importantes no sertãoPernambucano porque no ordenamentodo VI aparecem na 12ª e na 23ª posição,respectivamente.Nas entrevistas etnobotânicas consideraram-setodas as espécies botânicas conhecidaspela população local e registraram-se84 plantas, sendo identificadas 66 espécies,pertencendo a 57 gêneros e 31 famílias, nãotendo sido possível identificar e classificaro material correspondente a 15 plantas(Tabela I). O inventário etnobotânico pôsem evidência o conhecimento de um vastoelenco de plantas úteis por parte dos moradoresdo semiárido nordestino. Os resultadosobtidos no presente estudo estão deacordo com a informação disponível paraoutra área do semiárido, em Alagoinha noPernambuco, na qual Albuquerque e Andrade(2002a) registraram 75 espécies úteis.Outros trabalhos realizados na caatingadeterminaram também espécies úteis con-223


Núm. 34: 217-238Agosto 2012hecidas pelas populações locais, contudo, serestringindo a espécies lenhosas (Ferraz etal., 2005; 2006; Lucena et al. 2007, 2008),o que difere do presente estudo, que consideroutanto plantas lenhosas, como as deporte herbáceo.As espécies consideradas úteis, nesse casounindo as do inventário fitossociológicocom o etnobotânico, foram distribuídasem nove categorias de uso, destacando-sea categoria forragem (52 espécies), devidoao grande número de espécies herbáceas,cactáceas e bromeliáceas utilizadas na alimentaçãodos rebanhos locais (Fig. 2). Destacaram-setambém as categorias medicinal(39 espécies) e tecnologia (28 espécies).O peso da categoria forragem também foiregistrado por Ferraz et al. (2006) em umacomunidade rural no sertão de Pernambuco,motivo este associado a tradição localna criação de animais, tradição tambémregistrada em Bom Sucesso.O grande número de espécies reconhecidasno tratamento médico local no presenteestudo é, de certa forma esperado, vistoque, muitos estudos etnobotânicos temevidenciado a importância de plantas locaisno tratamentos de enfermidades, tantopara pessoas como para animais (Monteiroet al., 2006; Lucena et al., 2007; Lucena,2009; Almeida et al., 2010), principalmenteespécies como Anadenanthera colubrinae Myracrodruon urundeuva, ambas muitoutilizadas para fins medicinais, além dasmesmas serem muito estudadas em virtudede seus riscos de extinções locais, como evidenciaas listas nacionais e internacionaisde espécies em risco de extinção.Já no caso da categoria tecnologia, a mesmanão vem sendo evidenciada em destaque emoutros estudos, como aconteceu em BomSucesso, no qual a comunidade utiliza, principalmente,a madeira para confeccionarferramentas de uso cotidiano, como cabosde machado e enxada. Geralmente, dentrodas categorias de usos madeireiros, semprese destacam as categorias combustível econstrução (rurais e domésticas), comoapresenta a literatura (Ferraz et al., 2006;Lucena et al., 2007; Albuquerque et al.,2009; Ramos et al., 2008a,b; Lucena, 2009),o que pode ter levado esse destaque do usotecnológico na comunidade estudada é pelofato da mesma ter como principal fonte derenda as atividades agrícolas. Também evidenciadono presente estudo, em que o usoda lenha e de estacas de madeira para delimitarterritórios são bastante contudentes nolocal, demonstrando que, ao passo em que avegetação é extremamente importante paraa comunidade, o manejo adequado destesrecursos torna-se imprescindível.Registrou-se no inventário geral um totalde 2451 citações de uso, representandouma média de 74,2 citações por informante.Deste número total, 1200 (correspondendoa citações de 34 espécies) são de uso madeireiro,e 725 (64 espécies) de uso nãomadeireiro. Assim como no presente estudo,as categorias de uso madeireiro tambémvêm se destacando em outros estudosdesenvolvidos na caatinga (Albuquerque eAndrade, 2002b; Ferraz et al., 2005; Lucenaet al., 2007; Lucena, 2009), evidenciandoa grande utilização das espécies de portelenhoso, o que por sua vez, pode está colaborandopara uma pressão de uso dessasespécies, já que tais usos são amplamentedestrutivos e, geralmente, não seguem ummanejo sustentável. Contudo, tornam-senecessários estudos específicos que avaliemtal situação, principalmente distinguindo os224


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoFig. 2. Distribuição da riqueza de espécies em diferentes categorias de uso na comunidaderural de Bom Sucesso, município de Soledade (Paraíba, Nordeste do Brasil). O númerodentro de cada barra significa o número de espécies pertencentes a cada categoria.usos efetivos dos usos que não são requisitadosno cotidiano das pessoas, pois taldistinção pode trazer perspectivas diferenciadassobre as espécies mais importanteslocalmente, como aquelas que possam estarsofrendo pressões de uso, como enfatizaLucena et al. (2012).O caule é a parte da planta mais utilizada(44.83%), principalmente como combustível(por exemplo, lenha), nas construçõesrurais (por exemplo, construções de cercas)e em artefatos tecnológicos (por exemplo,cabos de ferramentas), seguida pela casca(14.72%), utilizadas para fins medicinais;o fruto (12.64%) utilizado na alimentação;a folha (7.46%), principalmente, para forrageme a raiz (0.12%) também utilizadapara fins medicinais. O uso da madeira(tronco), no que diz respeito aos diversosprodutos que oferece, atende a diversasnecessidades locais, no entanto, os impactosgerados pela sua extração devem sercuidadosamente analisados, uma vez que,muitas práticas de coleta resultam na mortedo vegetal, principalmente quando se tratada retirada da casca para fins medicinais,como mencionado por Almeida e Albuquerque(2002).O predomínio de uso da casca e do caulelenhoso (em sua maioria), também foi registradoem outros estudos realizados em diferentesecossistemas (Galeano, 2000; Tacheret al., 2002; Dalle e Potvin, 2004; Cunha eAlbuquerque, 2006; Lucena, 2009).A maioria das espécies (69 spp.) recebeude um a cinco usos, como por exemplo,Bauhinia cheilantha, Maytenus rigida eWilbrandia sp. Nove espécies tiveram entreseis e dez indicações de usos, como Anadenantheracolubrina, Mimosa tenuifl ora eSchinopsis brasiliensi. As demais espéciesse distribuíram nas outras faixas de uso,conforme evidenciado na fig. 3.225


Núm. 34: 217-238Agosto 2012As espécies com maior número de citaçõesde uso foram Aspidosperma pyrifolium(244 citações), Commiphora leptophloeos(229 citações) e Myracrodruon urundeuva(175 citações). Entretanto, a espécie maisversátil em relação à variedade de partesutilizadas foi C. leptophloeos (sete partes),da qual se faz uso da casca, entrecasca,folha, fruto, madeira, raiz e outras partescomo o látex. Para esta espécie foram atribuídasseis categorias de uso: combustível,construção, forragem, tecnologia, medicinale veterinário. Outras espécies como M.urundeuva, C. blanchetianus e P. pyramidalisapresentaram cinco categorias deuso e cinco partes usadas, respectivamente(vease tabela 1).Oito classes de valor de uso (VU) foramestabelecidas, com intervalos de 1.0, comopode ser visualizado na fig. 4. Do total deespécies, 69% foram incluídas na classe 1.As espécies que se destacaram com maiorvalor de uso foram A. pyrifolium com VUde 7,72, seguido de C. leptophloeos (VU =7.30), M. urundeuva (VU = 5.30) Spondiastuberosa Arruda (VU = 4.75) e P. pyramidaliscom valor de uso de 4.15. Outros estudosetnobotânicos realizados na caatinga tambémregistraram altos valores de usos para essasespécies (Ferraz et al., 2006; Lucena et al.,2007; Lucena, 2009). Um número relevantede espécies úteis apresentou baixos valoresde uso, indicando que os valores mais altosse concentraram entre poucas espécies,um fenômeno que tem sido observado emoutros estudos com mesmo enfoque (Albuquerqueet. al., 2005, Cunha e Albuquerque,2006, Ferraz et al., 2006, Galeano, 2000).A. pyrifolium e P. pyramidalis devido a seualto valor de uso, podem ser indicadas comoespécies que necessitem uma maior atençãoem futuros estudos de conservação. Lucenaet al. (2007) e Lucena (2009) também encontraramesta correlação, justificando queo mesmo se deve ao fato dessas espéciesserem utilizadas, principalmente, nas categoriasconstrução e combustível. Contudo,para que tal recomendação possa acontecertorna-se necessário estudos mais específicos,analisando a quantidade e frequênciascom que essas espécies são extraídas davegetação.O método do valor de uso empregado naanálise dos dados remete a estimativasacerca do valor utilitário de uma espécie(Albuquerque et al., 2009) para determinadacomunidade, limitando à investigar oconhecimento acerca do uso dos recursosvegetais. Para analisar a pressão de usosobre uma dada espécie é necessário à aplicaçãode métodos que coletem informaçõessobre o uso real dos recursos, isso inclui aquantidade de materiais coletados e a freqüênciacom que isso acontece.A análise do valor de uso também evidenciouque o potencial utilitário se concentranum pequeno grupo de espécies. SegundoAlbuquerque e Oliveira (2007) a presençade várias espécies com usos idênticos podeafetar positivamente a conservação destas.As espécies com maior valor de uso sãomais versáteis em termos de potencial utilitário.Por outro lado, Alves e Rosa (2006,2007), ressaltam que a multiplicidade deusos pode ser fator adicional de pressãosobre as espécies exploradas, portanto seusimpactos devem ser corretamente avaliadose contextualizados.Como observado por Lucena et al. (2007),Oliveira et al. (2007) e Lucena (2009),as plantas da Caatinga normalmente têmmúltiplos usos, embora muitas vezes o uso226


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoFig. 3. Número de usos atribuídos para cada espécie pelos informantes da comunidade ruralBom Sucesso, município de Soledade (Paraíba, Nordeste do Brasil). O número dentro decada barra significa o número de espécies enquadradas dentro de cada classe de usos.Fig. 4. Percentagem de espécies em cada classe de valor de uso registrado na comunidaderural Bom Sucesso, município de Soledade (Paraíba, Nordeste do Brasil). O númerodentro de cada barra significa o número de espécies enquadradas dentro de cada classede valor de uso.227


Núm. 34: 217-238Agosto 2012atual não seja distinguido do uso cognitivo(uso conhecido, mas são requisitadoatualmente no cotidiano da comunidade),segundo o qual, aquilo que é citado peloinformante, não necessariamente este o fazuso. Pressupondo a necessidade de análisesmais detalhadas, para a confirmação destesusos. Albuquerque (2006) propôs a hipóteseda sazonalidade climática, que afirma quepopulações com acesso a florestas secas sazonaisnormalmente favorecem a utilizaçãode espécies lenhosas, já que estas fornecemrecursos o ano inteiro. Com isso, a extraçãodos produtos madeireiros deve ser avaliadacom base nas informações de uso e demandareal desses recursos. A fidelidade destas informaçõesé indispensável para desenvolverestratégias de uso e manejo destes recursosna região, partindo do estabelecimento detécnicas de extração que evitem a mortedesnecessária da planta.Considerações finaisO presente estudo buscou apenas realizarum levantamento etnobotânico das espéciesutilizadas pela população local, essainferência sobre a pressão de uso e conservaçãodas espécies da região, fica limitada,podendo no máximo, sinalizar espécies queprecisem de um estudo mais aprofundadopara verificar sua atual e real situação deuso e conservação nas áreas de vegetaçãoda comunidade estudada.A partir das informações registradas nopresente estudo, evidencia-se a importânciaeconômica, social e cultural dos recursosbotânicos disponíveis na área de Caatingaonde a comunidade Bom Sucesso estáinserida. O levantamento etnobotânico dasespécies úteis associado à inferência acercada pressão de uso, limitam o estudo à sinalizarespécies que precisam de dados maisaprofundados acerca de sua real situação deuso, em vistas à conservação.Percebe-se a necessidade de outros levantamentosetnobotânicos realizados noEstado da Paraíba, visto que a maioria dosestudos na referida área são desenvolvidosem outras regiões do Nordeste. Além disto,também se torna necessário a realização deteste de hipóteses etnobotânicas em comunidadesrurais do semiárido paraibano, paraque possa analisar se o uso dos recursosvegetais neste estado está seguindo ou não opadrão de uso dos mesmo em outras regiõesda Caatinga. A partir de tal conhecimento,poderá se determinar o grau de pressão deuso que uma espécie está sofrendo a nívelregional, e não mais local.REFERÊNCIASAlbuquerque, U.P. Andrade, L.H.C., 2002a.Conhecimento Botânico Tradicional eConservação em uma área de Caatingano Estado de Pernambuco, Nordestedo Brasil. Acta Botanica Brasilica,16: 273-285., 2002b. Uso de Recursos Vegetaisda Caatinga: O Caso do Agreste doEstado de Pernambuco (Nordeste doBrasil). Interciencia, 27(7): 336-346.Albuquerque, U.P. Andrade, L.H.C., Silva,A.C.O., 2005. Use of plant resourcesin a seasonal dry forest (NortheasternBrazil). Acta Botanica Brasílica, 19:27-38.Albuquerque, U.P., 2006. Re-examininghypotheses concerning the use andknowledge of medicinal plants: a228


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Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoTabela 1. Espécies identificadas e organizadas nas categorias utilitárias e suas partes usadas pelos moradores da comunidade ruralde Bom Sucesso, município de Soledade (Paraíba, Nordeste do Brasil).Família/Espécies NomevernacularVoucherPEUFRCategoriasde usoPartes usadasAmaranthaceaeAmaranthus cruentus L. Bredo-de-espinho 49366 Fo FoAnacardiaceaeMyracrodruon urundeuva (Engl.) Fr. Aroeira ***EAN Cb, Ct, Fo, Me, Tc Cs, Fl, Fo, Fr, MdAllemãoSchinopsis brasiliensis Engl. Baraúna 47987 Cb, Ct, Me, Tc Cs, Ec, Fo, Fr, MdSpondias tuberosa Arruda. Umbuzeiro 48161 Al, Cb, Fo, Me Fo, Fr, Md, Op, RzApocynaceaeAspidosperma pyrifolium Mart. Pereiro 48164 Cb, Ct, Fo, Tc, Va, Ve Cs, Fo, MdAsteraceaeBlainvillea sp. Bamburrar 49367 Fo -BombacaceaeChorisia glaziovii (O. Kuntze) E.M. Santos Barriguda 48189 Me, Tc Md, OpPseudobombax marginatum (A.St.-Hil.) A. Imbiratã 48183 Me, Tc, Ve Cs, OpRobynsBoraginaceaeCordia leucocephala Moric. Maria Preta 47969 Ct MdHeliotropium elongatum (Lehm.) I.M. Johnst.Fedegoso ou crista-de-peru49341 Fo, Ve Fo, Cs, Pt, RzHeliotropium procumbens Mill. Mato azul 49342 Fo -BromeliaceaeNeoglaziovia sp. Caroá 49370 Fo, Tc Fo, PtBurseraceaeCommiphora leptophloeos (Mart.) J.B.GillettUmburana 47971 Cb, Ct, Fo, Me, Tc, Ve Cs, Ec, Fo, Fr, Md,Op, Rz233


Núm. 34: 217-238Agosto 2012Tabela 1. Continuación.Família/Espécies NomevernacularVoucherPEUFRCategoriasde usoPartes usadasCactaceaeCereus jamacaru DC. Cardeiro **45664 Al, Fo, Me Fr, Op, RzMelocactus sp. Coroa-de-frade **45690 Al, Fo, Me, Ot Fr, Op, Pt, RzTacinga inamoena N.P. Taylor & Stuppy Cumbeba ***EAN Al FrPilosocereus pachycladus (F.) Ritter Facheiro ***EAN Al, Cb, Ct, Fo, Tc Fr, Md, OpTacinga palmadora (Britton & Rose) N.P.Taylor & StuppyPilosocereus gounellei (F.A.C. Weber)Byles & RowleyCapparaceaeNeocalyptrocalyx longifolium (Mart.)Palmatória ***EAN Fo Fr, OpXiquexique ***EAN Al, Fo Fr, OpIcó 48174 Al, Fo FrCornejo & IltisCynophalla flexuosa (L.) J. Presl Feijão Brabo 48163 Fo, Me, Tc, Ve Cs, Fo, Fr, MdCleome spinosa Jacq. Mussambê 49337 Me Fl, RzCelastraceaeMaytenus rígida Mart. Bom Nome 48208 Fo, Me, Tc Cs, Ec, Fo, MdCombretaceaeCombretum futicosum (Loefl.) Stuntz Mufumbu 48165 Ct, Tc MdThiloa glaucocarpa (Mart.) Eichler João mole 49353 Ve Cs, RzCurcubitaceae49376 Al Fo, FrMomordica charantia L. Melão-de- São-CaetanoWilbrandia sp. Cabeça-de-nêgo **45686 Me, Ve, Ot PtCyperaceaeCyperus uncinulatus Schrad. Ex Nees Barba-de-bode 49361 Fo -234


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoTabela 1. Continuación.Família/Espécies NomevernacularEuphorbiaceaeCnidoscolus loefgrenii(Pax & K.Hoffm.)Pax& K.Hoffm.VoucherPEUFRCategoriasde usoUrtiga 49360 Me RzPartes usadasCnidoscolus sp. Urtiga Branca *IPA Me RzCnidoscolus quercifolius Pohl. Favela 48168 Me CsCroton aff. muscicarpa Müll.Arg. Cidreira Braba *IPA Me, Ve FoCroton blanchetianus Baill. Marmeleiro 47986 Cb, Ct, Fo, Me, Tc Cs, Fo, Md, Op, RzCroton heliotropiifolius Kunth. Quebra faca 49336 Me CsCroton rhamnifolius Willd. Velame 48198 Me Cs, Op47985 Me CsCroton sincorensis Mart. MarmeleiroBrancoJatropha molíssima (Pohl) Baill. Pinhão Brabo 43809 Ct, Me, Ve Md, OpJatropha ribifolia (Pohl) Baill. Pinhão Manso 43838 Ve RzManihot cf. dichotoma Ule. Maniçoba 47977 Tc, Va Cs, Fo, Fr, MdRichardia grandiflora (Pohl) Baill. Melancia-de-vaca 49359 Fo FoSapium lanceolatum (Mull. Arg.) Huber. Burra leiteira 48171 Fo FoFabaceaeAnadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebilAngico 48172 Cb, Ct, Me, Ot, Tc, Va Cs, Ec, Fo, MdAmburana cearenses (Arr. Câm.) A.C. Cumaru 48177 Ct, Me, Tc Cs, MdSmith.Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. Mororó 47991 Cb, Fo, Me, Ve Cs, Fo, MdDesmanthus virgatus (L.) Willd. Feijão-de-rolinha 48185 Fo OpErythrina velutina Will. Mulungu 47973 Ct, Me, Tc, Va Cs, Fl, Op, MdLibidibia rígida (Mart. ex Tul.) L.P.Queiroz Jucá 47981 Fo, Me, Tc Fr, Md235


Núm. 34: 217-238Agosto 2012Tabela 1. Continuación.Família/Espécies NomevernacularMimosa ophthalmocentra Mart ex Benth.Jurema-deimbiraVoucherPEUFRCategoriasde uso48158 Cb, Ct, Fo, Me Fo, MdPartes usadasMimosa tenuiflora (Willd.) Poir. Jurema preta 48159 Cb, Ct, Fo, Me Cs, Fo, MdPiptadenia stipulaceae (Benth.) Ducke Jurema branca 48157 Cb, Ct, Fo, Me Cs, Fo, MdPoincianella pyramidalis Tul. Catingueira 47976 Cb, Ct, Fo, Me, Va Cs, Fl, Fo, MdSenna martiana(Benth.) H.S. Irwin &BarnebyLamiaceaeHyptis sp. Maria-de-trêsbabadosCanafistula 48176 Fo Ct, Tc Fo, Md*IPA Me FoMalvaceaeSida galheirensis Ulbr. Malva 48203 Fo, Ot, Tc Fo, Md, PtMyrtaceaeEugenia sp. Ubaia 45773 Al, Fo FrNyctaginaceaeBoerhavia diffusa L. Pega pinto 49345 Fo, Me RzPlantaginaceaeStemodia maritima L. Meladinha *IPA Fo -PoaceaeAnthephora ermafrodita (L.) Kuntze Capim panasco 49358 Fo, Ot Fo, PtChloris orthanoton Döll Capim Belota 49357 Fo FoDactyloctenium aegyptium (L.) Willd. Capim-pé- degalinha49363 Fo -Tragus berteronianus (Mill.) N.E.Br. Carrapicho-deovelha49365 Fo -236


Farias Paiva de Lucena, R. et al.: Uso recursos vegetais da Caatinga em comunidade rural no Curimataú ParaibanoTabela 1. Continuación.Família/Espécies NomevernacularVoucherPEUFRCategoriasde usoPorlutacaceaePortulaca oleracea L. Beduega 49369 Fo, Ot Fo, PtRhamnaceaeZiziphus joazeiro Mart. Juazeiro 47979 Al, Fo, Me, Ot, Tc Cs, Fo, FrSapindaceaeSideroxylon obtusifolium (Roem. & Schult.)T.D. Penn.Quixabeira ouquixabeira brancaScrophulariaceaeScoparia dulcis L. Vassourinha(vassourinha verde)Partes usadas47989 Al, Cb, Fo, Me, Tc Cs, Ec, Fo, Fr, Md49347 Fo, Ot, Tc Fo, Pt, RzSolanaceaeSolanum agrarium Sendtn Gogoia 49343 Al, Ve Fr, RzSterculiaceaeWaltheria rotundifolia Schrank Malva branca 49338 Fo, Ve Fo, Pt, RzMelochia tomentosa L. Malva rosa 49371 Fo, Me FoSem IdentificacãoSem identificação 1 Macambira - Al, Fo, Tc Fo, OpSem identificação 2 Craibera - Ct, Fo, Tc MdSem identificação 3 Ingazeira - Fo FoSem identificação 4 Macambira- depedra- Tc Md, OpSem identificação 5 Bredo salgado - Fo FoSem identificação 6 Batata-de-purga - Me OpSem identificação 7 Quebra panela - Al -Sem identificação 8 Pau leite - Ct, Tc MdSem identificação 9 Cedro - Ct Md237


Núm. 34: 217-238Agosto 2012Tabela 1. Conclusion.Família/Espécies NomevernacularVoucherPEUFRCategoriasde usoPartes usadasSem identificação 10 Malicia - Fo, Tc -Sem identificação 11 Tomate-do-mato - Al FrSem identificação 12 Espinho-de-agulha - Fo, Me Fo, Op, RzSem identificação 13 Arritirana - Fo -Sem identificação 14 Vassourinha- Tc -vermelhaSem identificação 15 Capim mimoso - Fo PtCategorias de Uso: Al: alimento; Cb: combustível; Ct: construção; Fo: forragem; Me: medicinal; Ot: outros usos; Tc: tecnologia;Va: veneno abortiva; Ve: veterinário. Partes usadas: Cs: casca; Ec: entre casca; Fl: folha; Fo: flor; Fr: fruto; Md: madeira; Op: outraspartes; Pt: planta toda; Rz: raíz. PEUFR: Herbário Vasconcelos Sobrinho da Universidade Federal Rural de Pernambuco. *Herbáriodo Instituto de Pesquisa Agropecuária de Pernambuco - IPA. **UFP – Herbário Geraldo Mariz da Universidade Federal de Pernambuco.*** Herbário Jaime Coêlho de Moraes (EAN) da Universidade Federal da Paraíba, no Centro de Ciências Agrárias.238

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