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Centro Universitário de Santo André - BVS Psicologia ULAPSI Brasil

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SANTO ANDRÉMÁRCIA ANGELITA MARTOS GEORGETTIJULIANA TABATSCHNICEMOÇÕES HUMANAS NA INTERAÇÃO COM ANIMAIS<strong>Santo</strong> André2006


MÁRCIA ANGELITA MARTOS GEORGETTIJULIANA TABATSCHNICEMOÇÕES HUMANAS NA INTERAÇÃO COM ANIMAISTrabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso –TCC, apresentado ao Curso <strong>de</strong><strong>Psicologia</strong> do <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong><strong>Santo</strong> André para obtenção do Grau<strong>de</strong> Bacharel em <strong>Psicologia</strong>.Orientadora: Prfª Drª Rosalice Lopes<strong>Santo</strong> André2006


Emoções Humanas na Interação com AnimaisMárcia Angelita Martos GeorgettiJuliana TabatschnicBanca ExaminadoraProf.ª Dra. Rosalice Lopes<strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André - UNIAAssinatura: _____________________________Prof.ª Dra. Maria <strong>de</strong> Fátima MartinsUniversida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo – USP – Campus PirassunungaAssinatura ______________________________Prof.ª MS. Ivone Varoli<strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André – UNIAAssinatura ______________________________TCC <strong>de</strong>fendido e aprovado em ___/___/___


Dedico este trabalho ao Jairo, Abraão eLuca pela base familiar que me projetecom segurança para todos os meus vôos.(Márcia Angelita Martos Georgetti)Dedico este trabalho aos meus pais Hidale Ana, aos meus irmãos Marcos eDaniela, à minha avó Dora e à minha tiaRaquel pela felicida<strong>de</strong> que me trazemtodos os dias e pela importância emminha vida.(Juliana Tabatschnic)


AGRADECIMENTOSPessoas lindas são aquelas que não se conformam com realida<strong>de</strong>s aviltantes etêm ou buscam idéias para modificar tais situações. Muitas vezes a idéia po<strong>de</strong>não ser original, mas quando a pessoa adota boas idéias <strong>de</strong> outrem paramodificar o que está posto, e se dispõe a transcendê-las para fazer a diferença,isso dignifica a humanida<strong>de</strong>. Foi o que fez Nise da Silveira, é o que fazem aspessoas que investem em novos caminhos como a TAA - Terapia Assistida porAnimais para dar qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida aos homens e aos animais.Por isso agra<strong>de</strong>cemos profundamente à Prof.ª Dra. Rosalice Lopes, Prof.ª Dra.Maria <strong>de</strong> Fátima Martins, Prof.ª Dra. MS. Ivone Varolli e aos amigos humanos eanimais que participaram tão gentilmente do experimento.Agra<strong>de</strong>cemos profundamente pelo apoio, amor e solidarieda<strong>de</strong> aos nossosfamiliares: Jairo, Abraão, Tchwz, Gláucia, Benedicta, Luca, Hidal, Ana, Marcos,Daniela, Dora e Raquel..À amiga Lucidalva pelo carinho e amor <strong>de</strong>dicados a mim e aos meus filhosAbraão e Luca.Gostaríamos <strong>de</strong> agra<strong>de</strong>cer ainda a todas as pessoas que direta ouindiretamente contribuíram para nossa formação acadêmica e humana, masprincipalmente a Deus que nos possibilitou encontrar todos esses seus filhoslindos pelo nosso caminho.


Para ser gran<strong>de</strong>, sê inteiro nadaTeu exagera ou exclui.Sê todo em cada coisa. Põe quanto ésNo mínimo que fazes.Assim em cada lago a lua todaBrilha, porque alta vive.Fernando PessoaToda gente é interessante se a gente souber ver toda a gente.Que obra-prima para um pintor possível em cada cara que existe!Que expressões em todas, em tudo!Que maravilhosos perfis todos os perfis!Vista <strong>de</strong> frente, que cara qualquer cara!Os gestos humanos <strong>de</strong> cada qual, que humanos os gestos!Fernando Pessoa


SUMÁRIOIntrodução 111 – As emoções 141.1 – Conceituando Emoções 141.2 – Teorias da Emoção 201.3 – Emoção e Cognição 211.4 – Nojo 232 – Simbologia dos animais 282.1. O animal na vida do homem 282.2. O animal da pesquisa 323 – Projeção 344 – Método 384.1 – Participantes 38Anexo 1 394.2 – Instrumentos 46Anexo 2 464.3 – Local 474.4 – Procedimentos 474.5 – Categorias <strong>de</strong> Análise 495 – Apresentação dos Dados 506 – Análise dos Dados 737 – Consi<strong>de</strong>rações Finais 82Referências 84


GEORGETTI, M.A.M; TABATSCHNIC, J. Emoções Humanas NaInteração Com Animais, 2006. 75 f. Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong>Curso – <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André – UNIA, <strong>Santo</strong> André,2006.O estudo enfoca as reações experimentadas por um grupo <strong>de</strong> 13 – 7 mulheres e6 homens – alunos estudantes <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong> <strong>de</strong> um centro universitário nacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André na interação com o animal exótico Escargot (Achatinafulica). A partir do relato dos participantes e utilizando-se dos recursos da<strong>Psicologia</strong>, Psicanálise e Biologia, foi possível verificar que <strong>de</strong>ntre as emoçõesbásicas (emoções comuns a todos os seres humanos e que originam as <strong>de</strong>mais)as mais evi<strong>de</strong>ntes e freqüentes foram a tristeza (84.61%), nojo (76.92%) e medo(61.54%). No entanto, outras como a curiosida<strong>de</strong> (100%) e a surpresa (100%)também foram registradas com unanimida<strong>de</strong>. O contato com os animaispermitiu que os participantes falassem <strong>de</strong> outros aspectos <strong>de</strong> suas vidas(100%), relatassem histórias <strong>de</strong> sua infância (38.46%) e experiências comoutras pessoas e animais (100%). As reações emocionais relacionadas ao nojosugerem em alguns casos uma clara conotação sexual (segundo o nojofreudiano este agiria como uma barreira, impedindo a realização dos <strong>de</strong>sejosinconscientes, cuja função seria se unir a vergonha e ao moralismo buscandofrear o instinto sexual). O estudo aponta que o contato com animais permitesim um acesso ao mundo interno das pessoas, mas que ainda se faz necessárioum longo processo <strong>de</strong> pesquisa antes que ele venha a adquirir um valordiagnóstico.Palavras chave: interação homem-animal, emoções, nojo, escargot e psicologia


GEORGETTI, M.A.M; TABATSCHNIC, J. The Human Emotions inthe Interaction with Animals, 2006. 75 f. Trabalho <strong>de</strong> Conclusão<strong>de</strong> Curso – <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André – UNIA, <strong>Santo</strong>André, 2006.The study focus the reactions experienced by a group of 13 (7 women and 6men) Psychology stu<strong>de</strong>nts of a University downtown <strong>Santo</strong> André interactingwith an exotic animal Escargot (Achatina fulica). Based on the participants’reports and using Psychology, Psychoanalysis and Biology resources, it waspossible to i<strong>de</strong>ntify that among the basic emotions (Common emotions to allhuman being which originate the others) the most evi<strong>de</strong>nt and frequent weresadness (84.61%) disgust (76.92%) and fear (61.54%). On the other hand, otheremotions like curiosity (100%) and surprise (100%) were registeredunanimously. The contact with the animals allowed the participants to talkabout other aspects of their lives (100%), telling about childhood stories(38.46%) and experiences with other people and animals (100%). In some casesthe emotional reactions related to disgust show a clear sexual connotation(according to Freudian disgust this would act as a barrier, preventing theaccomplishment of the unconscious <strong>de</strong>sires whose function would be to uniteitself to the shame and morality in or<strong>de</strong>r to break the sexual instinct). Thestudy shows that the contact with animals do allow an access to the innerworld of the people, but it is still necessary a long research process before it canhave a diagnostic value.Key words: Human-animal interaction, emotions, disgust, escargots,psychology.


IntroduçãoO ser humano é gregário por natureza. Ele busca contato tendo em vistaque a solidão é produtora <strong>de</strong> angústia e ansieda<strong>de</strong>. Muitos seres humanosapresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> contato inter-pessoal, sendo que essas dificulda<strong>de</strong>spo<strong>de</strong>m tanto ser <strong>de</strong> origem relacional – problemas familiares como, porexemplo, resultantes <strong>de</strong> problemas congênitos e/ou adquiridos ao longo davida. Nesses casos po<strong>de</strong>mos citar, por exemplo, as <strong>de</strong>ficiências físicas – visuais,motoras, etc, e as advindas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ou mesmo produzidas peloenvelhecimento. Existem muitos casos em que a pessoa que tem algum tipo <strong>de</strong>dificulda<strong>de</strong> não po<strong>de</strong> contar com a ajuda <strong>de</strong> um outro ser humano, <strong>de</strong> modopermanente, para superar suas necessida<strong>de</strong>s. Nesses casos, a solução po<strong>de</strong> virpela ajuda <strong>de</strong> um animal <strong>de</strong> outra espécie.O Homem vêm utilizando animais para melhorar sua vida há séculos,tanto na produção quanto para proteção e companhia. Mais recentemente,especialmente nas duas últimas décadas, pesquisas vêm mostrando outrosusos/benefícios trazidos pelos animais ao Homem, como a T.A.A – TerapiaAssistida por Animais. Entre elas <strong>de</strong>stacam-se a eqüoterapia, animais nasescolas, animais em hospitais, animais em asilos, animais em centros <strong>de</strong>reabilitação social, cães guias, entre outros.Nessa interação ser humano-animal ocorre melhora nas condiçõesneurológicas, fisio-motoras, ensino-aprendizagem, cardiovasculares comcontrole <strong>de</strong> pressão arterial, diminuição <strong>de</strong> processos dolorosos e conseqüentediminuição da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medicamentos utilizados em pessoas comenfermida<strong>de</strong>s graves.Por outro lado, até o momento <strong>de</strong>sse estudo, não encontramos registrossobre pesquisas que investiguem as emoções que <strong>de</strong>terminadas espécies <strong>de</strong>animais, muitos <strong>de</strong>les consi<strong>de</strong>rados exóticos ou incomuns, <strong>de</strong>spertam nos seres


humanos. Muitas <strong>de</strong>ssas emoções estão relacionadas ao medo, à ansieda<strong>de</strong> e àrepugnância.Nossa hipótese é que muitas <strong>de</strong>ssas emoções surgem à vista do animal,em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> experiências construídas ao longo da vida das pessoas, quer sejapor uma experiência concreta e <strong>de</strong>sagradável ou, em outras circunstâncias, oque nos parece mais freqüente, porque apren<strong>de</strong>ram com alguém que o animal<strong>de</strong>veria ser “excluído do convívio”, sem que, <strong>de</strong> fato, tivesse ocorrido qualquertipo <strong>de</strong> aproximação.Nessa direção, o presente estudo visa oportunizar o contato com o animalexótico Escargot (Achatina fulica), <strong>de</strong> modo a avaliarmos as reações humanasadvindas <strong>de</strong>ssa aproximação. Por ser um animal exótico imaginamos quemuitas po<strong>de</strong>rão ser as reações manifestadas pelos participantes nestainteração, já que esses animais po<strong>de</strong>m mobilizar conteúdos psicológicosconscientes e inconscientes, resgatando assim possíveis situações e emoçõespreviamente vivenciadas.A importância <strong>de</strong>ssa pesquisa se dá na investigação <strong>de</strong> como algumasimagens repulsivas são construídas e também <strong>de</strong> como o contato com umanimal exótico po<strong>de</strong> mobilizar conteúdos não imediatamente conscientes. Oestudo almeja ser um primeiro passo na direção <strong>de</strong> novas alternativas <strong>de</strong>conhecimento do mundo interno das pessoas, enquanto uma ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong>caráter projetivo.Intrigadas com a diversida<strong>de</strong> das emoções e com a perspectiva <strong>de</strong>aprofundar os conhecimentos no assunto, julgamos oportuno relatar que o fatocatalisador da presente pesquisa ocorreu em uma das aulas práticas dadisciplina zooterapia VNP244 ministrada pela Prof. Dra. Maria <strong>de</strong> FátimaMartins – USP Pirassununga 1 . Em contato com um camundongo transgênico(animal <strong>de</strong>sprovido <strong>de</strong> pêlos) Márcia, diante da fragilida<strong>de</strong> e do aspecto doanimal que, em virtu<strong>de</strong> da transparência da pele <strong>de</strong>ixava visíveis seus vasossanguíneos, reviveu <strong>de</strong> forma intensa momentos que passou com seu filho1 Uma das pesquisadoras do presente estudo, Marcia, é médica veterinária e freqüentava o Curso <strong>de</strong> Zooterapia nareferida Universida<strong>de</strong>.


Abraão, submetido, aos quatro dias <strong>de</strong> vida, a uma cirurgia cardíaca poralteração congênita (Cris-cross heart com Transposição das Gran<strong>de</strong>s Artérias).Essa interação mobilizou <strong>de</strong> forma intensa e inesperada, conteúdos atéentão não conscientizados os quais, para uma estudante <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, foramsuficientes para suscitar a questão <strong>de</strong> que esse tipo <strong>de</strong> contato po<strong>de</strong>ria ser umaforma <strong>de</strong> acesso às emoções humanas, ou seja, que os animais po<strong>de</strong>m servistos como catalizadores/veiculadores <strong>de</strong> emoções <strong>de</strong> natureza inconsciente,bastaria apenas que nos orientássemos para o fato <strong>de</strong> um modo maissistemático e científico.De modo a atingir esses objetivos no campo do presente estudo foiabordado no capítulo 1 como se processam, se expressam e quais são asemoções humanas <strong>de</strong> modo a obter algumas pistas sobre o quê uma pessoapo<strong>de</strong> sentir diante <strong>de</strong> um animal exótico. Para isso foi usado um referencialteórico predominantemente psicológico, com algumas contribuições daneurociência, filosofia e biologia.O capitulo 2 apresenta uma breve incursão histórica da presença dosanimais na vida do ser humano, através das diferentes relações que foram seestabelecendo entre homens e animais. Os autores que contribuem para essaexposição são predominantemente da área médica (Medicina Humana eVeterinária).O capítulo 3 aborda alguns conceitos sobre o mecanismo da projeçãotomando como referência as concepções da psicanálise freudiana a partir <strong>de</strong>autores contemporâneos. Pensamos que o contato com animais, e no caso <strong>de</strong>nosso estudo um animal exótico, seja capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar conteúdos <strong>de</strong>natureza inconsciente na forma <strong>de</strong> projeção e, portanto, nos aprofundarmossobre esse tema é pertinente à pesquisa.O capítulo 4 apresenta o método utilizado no estudo e o capítulo 5 osresultados obtidos com o experimento utilizando as categorias <strong>de</strong> análise.No capítulo 6 segue a discussão dos resultados obtidos no experimentoem confronto com os objetivos iniciais do projeto. O capítulo aborda nossasconclusões.


Capítulo 1 – AS EMOÇÕES1.1 – Conceituando EmoçõesAs emoções humanas são causas <strong>de</strong> constantes inquietações ecuriosida<strong>de</strong>s. Às vezes fluem <strong>de</strong> forma espontânea, sem qualquer dificulda<strong>de</strong> ouobstáculo, como no caso da paixão entre jovens, do medo em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> umperigo real, da alegria diante <strong>de</strong> algo engraçado. Outras vezes, o acesso àsemoções se dá <strong>de</strong> forma indireta, com a finalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se produzir algum tipo <strong>de</strong>conhecimento sobre a personalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alguém, como nos casos <strong>de</strong> avaliaçõespsicológicas. Em quaisquer das situações é inegável que, ao se abordar o temaemoções, estamos trilhando um terreno complexo, profundo e <strong>de</strong> difícil acessopois as emoções estão na alma, isto é, na psique.Mas, o que são as emoções?Segundo o Dicionário <strong>de</strong> Filosofia a raiz etimológica <strong>de</strong> emoção é latinaemotio, <strong>de</strong> emovere, e tem o sentido <strong>de</strong> <strong>de</strong>slocar, movimentar, comover. Emoçãotambém remete a um “estado afetivo brusco, passageiro e violento,acompanhado <strong>de</strong> reações corporais.” (JACQUELINE RUSS,1994, p. 81)O Dicionário Oxford <strong>de</strong> Filosofia nos informa que as emoções humanastípicas são o amor, o <strong>de</strong>sgosto, o medo, a raiva e a alegria sendo que cada uma<strong>de</strong>las é capaz <strong>de</strong> produzir <strong>de</strong>terminadas ações e interferir em outras tantas. Osestados emocionais encontram-se relacionados a sentimentos e expressõescorporais típicas. Ao contrário das disposições ou dos estados <strong>de</strong> espírito, asemoções têm um objeto, ou seja, a pessoa emocionada sofre por algo ou poralguém em particular, tem medo <strong>de</strong> algo ou alguém, tem raiva <strong>de</strong> algo oualguém. (SIMON BLACKBURN, 1997)


No campo da filosofia, os racionalistas da Antiga Grécia afirmavam que asemoções não po<strong>de</strong>riam ser mantidas sobre controle, que elas, invariavelmente,eram <strong>de</strong>scarregadas <strong>de</strong> maneira <strong>de</strong>vastadora sobre as funções mentaissuperiores – pensamento e vonta<strong>de</strong>. (CACIOPPO e GARDNER, 1999 apud MORRIS eMAISTO, 2004)No passado, a psicologia via as emoções como um “instinto básico”, ouseja, um vestígio da herança evolutiva humana, a qual <strong>de</strong>veria ser reprimida eocultada em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seus efeitos. (MORRIS e MAISTO 2004)No presente, os cientistas <strong>de</strong> um modo geral, vêem as emoções <strong>de</strong> umaperspectiva mais positiva e elas passaram a ser “consi<strong>de</strong>radas essenciais para asobrevivência e uma importante fonte para o aperfeiçoamento pessoal.”(NATIONAL ADVISORY MENTAL HEALTH COUNCIL, 1995 apud MORRIS e MAISTO,2004)No campo da neuroanatomia e neurofisiologia, MacLean (1949/1952 apudGAZZANIGA; IVRI e MANGUN, 2006) ampliou o circuito <strong>de</strong> Papez (re<strong>de</strong> <strong>de</strong> regiõescerebrais incluindo o hipotálamo, tálamo anterior, giro do cíngulo e hipocamposubjacente ao comportamento emocional) esten<strong>de</strong>ndo essa re<strong>de</strong> emocional paraincluir a amígdala, o córtex órbito-frontal e porções do núcleo da base, o qualchamou <strong>de</strong> sistema límbico e i<strong>de</strong>ntificou-o como “cérebro emocional”. Esteconceito no entanto não tem se sustentado com o passar dos anos. (BRODAL,1982; SWANSON, 1983; LE DOUX, 1991; KOTTER e MEYER, 1992 apud GAZZANIGA;IVRY; MANGUN, 2006)Muitas estruturas límbicas são conhecidas por participarem na emoção,entretanto tem sido impossível estabelecer um critério que <strong>de</strong>fina quaisestruturas e vias <strong>de</strong>vem ser incluídas no sistema límbico. Concomitantementeáreas límbicas clássicas, como o hipocampo, têm se mostrado mais importantesem processos não emocionais como a memória. Dessa maneira sem uma claracompreensão do porquê algumas regiões cerebrais são partes do sistemalímbico e outras não, é que o conceito <strong>de</strong> MacLean provou ser mais <strong>de</strong>scritivo e


histórico que funcional na compreensão atual das bases neurais da emoção.(GAZZANIGA, IVRY, MANGUM, 2006)Atualmente há um reconhecimento que a emoção é um comportamentomultifacetado que talvez não possa ser capturado por uma <strong>de</strong>finição única ecolocado em um único circuito neural ou sistema cerebral. Estudos recentestêm apontado tipos específicos <strong>de</strong> tarefas emocionais i<strong>de</strong>ntificando os sistemasneurais subjacentes a comportamentos emocionais específicos. Estudos <strong>de</strong>neurociência cognitiva da emoção apontam um número <strong>de</strong> regiões cerebraiscom papel em diferentes tarefas emocionais (giro do cíngulo anterior,hipotálamo, núcleos da base, córtex insular, córtex somatossensorial). Porém, aamígdala e o córtex orbitofrontal estão associados como as regiões nas quais asfunções primordiais estão relacionadas com o processo da emoção. (GAZZANIGA;IVRY; MANGUN, 2006)O córtex orbitofrontal é a parte do córtex pré-frontal que forma a base dolobo frontal e localiza-se na pare<strong>de</strong> superior da órbita acima dos olhos. Estaregião do cérebro está relacionada com as tomadas <strong>de</strong> <strong>de</strong>cisão sociais eemocionais. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006)Com o formato <strong>de</strong> uma amêndoa, a amígdala é uma pequena estruturalocalizada no lobo temporal medial, adjacente a porção anterior do hipocampo.A amígdala tem o seu mais importante papel no aprendizado e na memóriaemocional. Esse papel afeta uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> comportamentos emocionaisrelacionados a aprendizado implícito, memória explícita, respostas sociais evigilância. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006)Pesquisas recentes estão começando a mostrar como essas regiões,amígdala e córtex orbitofrontal, trabalham juntas para produzir respostasemocionais normais. (GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006)No campo do comportamento humano, R. Plutchik (1980 apud MORRIS eMAISTO, 2004) propõe a existência <strong>de</strong> oito tipos <strong>de</strong> emoções básicas: medo,surpresa, tristeza, repulsa, raiva, antecipação, alegria e aceitação. Para ele,cada uma <strong>de</strong>ssas emoções contribuiria para que nos adaptemos às


Dessa forma, por exemplo, a submissão é uma emoção entre a aceitaçãoe o medo; o remorso uma emoção on<strong>de</strong> encontramos a repulsa e a tristeza; oamor uma emoção on<strong>de</strong> estão presentes a aceitação e a alegria e assim pordiante. Da mesma forma, a surpresa está mais relacionada ao medo que àraiva, que por sua vez, se assemelha mais a repulsa.Segundo Plutchik (1980 apud MORRIS e MAISTO, 2004) “quando aantecipação e a alegria ocorrem juntas, elas produzem o otimismo; a alegria e aaceitação se fun<strong>de</strong>m para gerar amor; a surpresa e a tristeza geram<strong>de</strong>sapontamento.” (pg.281)Alguns cientistas rejeitam o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Plutchik, afirmando não só que eleé valido apenas para os países <strong>de</strong> língua inglesa, como também que existemdiferenças no modo como cada cultura <strong>de</strong>fine emoção, ou mesmo o número <strong>de</strong>palavras ou expressões que <strong>de</strong>finem emoções que seria impossível umaproposta generalizadora. No entanto, o mo<strong>de</strong>lo do estudioso, sem dúvida,oferece muitos elementos <strong>de</strong> reflexão.Segundo Morris e Maisto (2004)Em razão das diferenças na distinção das emoçõespelas culturas, a tendência hoje em dia é distinguirentre emoções primárias e secundárias. As emoçõesprimárias são aquelas compartilhadas pelas pessoas domundo inteiro, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da cultura. Issoinclui, no mínimo, o medo, a raiva e o prazer, mas po<strong>de</strong>também incluir a tristeza, a repulsa, a surpresa eoutras.(p.282)Ainda para esses autores a maior parte dos pesquisadores usa quatrocritérios básicos para i<strong>de</strong>ntificar as emoções primárias: o primeiro é que aemoção <strong>de</strong>ve ser evi<strong>de</strong>nte em todas as culturas; o segundo que a emoção básica<strong>de</strong>ve contribuir para a sobrevivência. O terceiro que a emoção <strong>de</strong>ve estarassociada a uma expressão facial distinta e o quarto que essa emoção <strong>de</strong>ve serevi<strong>de</strong>nte em primatas não humanos. Até o momento, não existiria consenso a


espeito das emoções básicas, mas o que se admite é que elas pertençam a umgrupo pequeno. (MORRIS e MAISTO, 2004).As emoções primárias “emergem cedo no <strong>de</strong>senvolvimento do indivíduo,são inatas no leque das emoções humanas.” (DOUGHERTY, ABE, & IZARD, 1996;IZARD & BUECHLER, 1980). Elas operam em resposta a outros ativadores nãocognitivos, além <strong>de</strong> serem freqüentemente ativadas pela avaliação ouinterpretação cognitiva.Já as emoções secundáriassão aquelas encontradas em uma ou mais culturas,mas não em todas. Po<strong>de</strong>-se consi<strong>de</strong>rá-lasamalgamações sutis das emoções primárias. Existemmuito mais emoções secundárias que primárias, mastambém não há consenso sobre quais ou quantas sãoelas. (MORRIS e MAISTO, 2004, p.282)Cada ação que fazemos é colorida pelo que nela valorizamos, pois cadaum <strong>de</strong> nós tem uma personalida<strong>de</strong> única com uma maneira <strong>de</strong> pensar e agir emum mundo social.Segundo GAZZANIGA; IVRY; MANGUN (2006, p.557):Embora usemos palavras como exaltação, alegria esatisfação para <strong>de</strong>screver como nos sentimos, amaioria das pessoas concorda que cada um <strong>de</strong>ssestermos representa uma variação <strong>de</strong> sentir-se feliz.Des<strong>de</strong> o trabalho <strong>de</strong> Darwin sobre as bases evolutivasdo comportamento humano, investigadores têmproposto que se <strong>de</strong>fina um conjunto finito e universal<strong>de</strong> emoções básicas. Darwin abordou esse problemaquestionando pessoas familiarizadas com várias ediferentes culturas ao redor do mundo a respeito <strong>de</strong>suas vidas emocionais. Diante do que soube, Darwin<strong>de</strong>terminou que humanos evoluíram <strong>de</strong> um conjuntofinito <strong>de</strong> estados emocionais, cada um <strong>de</strong>les único emsua significância adaptativa e expressão fisiológica.Os indicadores fisiológicos (contração muscular, freqüência cardíaca,pressão sanguínea, etc) <strong>de</strong> emoção também cruzam as fronteiras culturais.Apesar <strong>de</strong> algumas diferenças, culturas e linguagens, também partilhammuitas semelhanças na maneira como categorizam emoções. Assim, a forma


como fazemos nossas expressões faciais para <strong>de</strong>monstrarmos que estamosfelizes, tristes, aborrecidos, com medo, surpresos ou furiosos é muito parecida.Há outras formas <strong>de</strong> se abordar as emoções. Elas po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>scritasnão como estados isolados, mas como reações a eventos no mundo que variam,em um continuum. Dessa forma, “uma abordagem dimensional que tem sidousada propõe que reações emocionais a estímulos e eventos po<strong>de</strong>m sercaracterizadas por dois fatores: valência (agradável/não-agradável e bom/ruim)e estado <strong>de</strong> alerta (quão intensa é a resposta emocional interna, alta/baixa).”(OSGOOD et al., 1957; RUSSEL, 1979 apud GAZZANIGA; IVRY; MANGUN, 2006,p.558).1.2 – Teorias da EmoçãoFoi W.James, psicólogo americano quem, na década <strong>de</strong> 1880, criou aprimeira teoria mo<strong>de</strong>rna sobre emoções. Na mesma época C. Lange chegou àsmesmas conclusões. De acordo com a teoria que ficou conhecida como James-Lange,os estímulos do ambiente (por exemplo: ver umgran<strong>de</strong> cão rosnando e correndo em nossadireção) provocam alterações físicas em nossoscorpos (batimentos cardíacos acelerados,pupilas dilatadas, respiração mais superficialou mais profunda, transpiração excessiva,etc), eas emoções se originam <strong>de</strong>ssas mudançasfisiológicas. Assim a emoção do medo seriasimplesmente uma consciência quaseinstantânea e automática das mudançasfisiológicas. (MORRIS e MAISTO, 2004, p.283)Embora algumas pesquisas posteriores tenham vindo a apoiar a teoriaJames-Lange, as novas teorias sobre o funcionamento do cérebro i<strong>de</strong>ntificamuma gran<strong>de</strong> falha na primeira.Segundo Chwalisz, Diener e Gallangher (1988 apud Morris e Maito 2004)As informações sensoriais relativas àsmudanças corporais seguem até o cérebro pormeio da medula espinhal. Se as mudanças


corporais fossem a origem das emoções, aspessoas portadoras <strong>de</strong> severos danos à medulaespinhal <strong>de</strong>veriam sentir emoções menosintensas e em uma freqüência menor, mas nãoé o que ocorre. Além disso, as mudançascorporais não provocam emoções específicas epo<strong>de</strong>m nem mesmo ser necessárias para aexperiência emocional.Indo à busca <strong>de</strong> uma solução para essa questão, a “teoria <strong>de</strong> Cannon-Bard afirma que nós processamos mentalmente as emoções e, ao mesmotempo, respon<strong>de</strong>mos fisicamente, e não o contrário.” (MORRIS E MAITO 2004, p.284). Dessa forma quando vemos um cão raivoso sentimos medo e nossocoração acelera ao mesmo tempo.Os teóricos cognitivistas contemporâneos, foram um pouco além da teoria<strong>de</strong> Cannon- Bard. Eles argumentam que nossa experiência emocional <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>da percepção que temos <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>terminada situação. Para a teoria cognitivada emoção, as situações que vivemos nos dá pistas <strong>de</strong> como <strong>de</strong>vemosinterpretar nosso estado <strong>de</strong> estimulação. AssimQuando vemos o cão, alterações corporais realmenteocorrem; em seguida, utilizamos informações relativasà situação para saber como reagir a tais alterações.Somente quando percebemos que estamos em perigosentimos tais alterações corporais sob a forma <strong>de</strong>medo. (MORRIS e MAITO, 2004, p.284).Refletindo sobre isso no campo <strong>de</strong>sse estudo, cabe verificar no que forpossível, como os participantes reagiram – expressões faciais, verbais,memórias associadas, etc – diante do animal a eles apresentado, consi<strong>de</strong>randoalgumas variáveis que certamente interferiram – realização do experimento porcolegas <strong>de</strong> turma, local do experimento – no interior do CAMPUS –, etc.1.3 – Emoção e CogniçãoÉ prolífico o campo <strong>de</strong> discussão sobre as possíveis influências dasemoções sobre o pensamento, cabendo <strong>de</strong>staque a algumas pesquisas que se


direcionaram ao esclarecimento da relação entre emoção ecognição.(ZAJONC,1980; R. LAZARUS, 1984/1991 apud GAZZANIGA; IVRY;MANGUM, 2006).Lazarus (1984/1991 apud GAZZANIGA; IVRY; MANGUM, 2006), admite quea cognição é essencial; muitas emoções importantes <strong>de</strong>rivam <strong>de</strong> nossasinferências. Para ele o cérebro processa e reage a gran<strong>de</strong>s quantida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>informações sem nossa percepção consciente. Também acaba por reconhecerque algumas reações emocionais não precisam <strong>de</strong> pensamento consciente.Zajonc (1981 apud Myers, 1999), <strong>de</strong> outro lado, afirma que algumasreações emocionais simples ocorrem <strong>de</strong> forma instantânea, não apenas fora dapercepção consciente, mas também antes da ocorrência <strong>de</strong> qualquerprocessamento cognitivo. Para ele julgamentos afetivos ocorrem antes ein<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da cognição. Sendo assim, ele argumenta que sentimosalgumas emoções antes <strong>de</strong> pensarmos. Dessa forma sua posição é antagônica àdos teóricos cognitivistas.A emoção, assim como qualquer outro comportamento mental, temcaracterísticas únicas e <strong>de</strong>finidas. Na medida em que as emoções estãoenraizadas no pensamento, po<strong>de</strong>-se ter a esperança <strong>de</strong> alterá-las pela mudançado pensamento.Para Mira (1987), a emotivida<strong>de</strong> é resultante <strong>de</strong> suscetibilida<strong>de</strong> particularem vivenciar as emoções. As emoções e a afetivida<strong>de</strong>, embora correlatas, não<strong>de</strong>veriam ser confundidas. Enquanto a afetivida<strong>de</strong> se relaciona aos sentimentose é uma reação mais íntima e mais psíquica, a emotivida<strong>de</strong>é a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> sentir em profundida<strong>de</strong> asimpressões e, quando percebidas intensamenteocasionam o choque emotivo que se <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>iaem forma brusca e violenta originando uma reaçãoglobal do sujeito, tanto orgânica como psíquica.(p.87)De todas as emoções que po<strong>de</strong>mos sentir, algumas são mais corriqueirase po<strong>de</strong>ríamos dizer, socialmente aceitáveis do que outras. Atualmente, po<strong>de</strong>mosconviver e até mesmo aceitar homens que se emocionam até às lágrimas diante


da dor e mulheres que manifestam sua raiva quando fortemente frustradas. Asconcepções <strong>de</strong> gênero mais antigas têm sido gradualmente superadas e asmanifestações emocionais estão, gradativamente, sendo re-interpretadas. Noentanto, uma emoção em especial ainda causa <strong>de</strong>sconforto e, quando nos<strong>de</strong>paramos com ela a vonta<strong>de</strong> é, quando não fugir, disfarçar.Estamos nos referindo ao nojo. Essa reação emocional é <strong>de</strong> sumaimportância em nosso estudo tendo em vista o tipo <strong>de</strong> animal que usamos emnosso experimento. O Escargot (Achatina fulica), por suas características morfofisiológicasé um forte candidato a <strong>de</strong>spertar nos humanos “reações <strong>de</strong> nojo”.Mas, afinal, o que vem a ser o nojo?1.4 - NojoSegundo Darwin (2004), o nojo é uma sensação referente a algo repulsivo,primariamente relacionado à gustação, seja realmente sentido ou vividamenteimaginado e, secundariamente, relacionado a qualquer coisa que cause umsentimento similar por meio do sentido do olfato, do tato e mesmo da visão. O<strong>de</strong>sprezo extremo, que se mistura à repugnância, pouco difere do nojo.Decompondo a palavra “disgust” (nojo), temos “gust” com sentido <strong>de</strong>“gosto, paladar” e o prefixo “dis” com sentido <strong>de</strong> negação equivalente ao nosso“<strong>de</strong>s", significando, portanto, em sua acepção mais simples, algo <strong>de</strong>sagradávelao paladar. O nosso “<strong>de</strong>sgosto” remete à ausência <strong>de</strong> prazer, ou seja, temos<strong>de</strong>sgosto em situações <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprazer.O nojo é facilmente <strong>de</strong>spertado por qualquer alteração na aparência, odorou natureza da nossa comida. Em seu livro “A Expressão das Emoções noHomem e nos Animais”, Charles Darwin diz:Na Terra do Fogo, um nativo tocou com o <strong>de</strong>do umacarne fria <strong>de</strong> conserva que eu comia em nossoacampamento, e claramente <strong>de</strong>monstrou um enormenojo pela sua consistência mole; enquanto eu senti umprofundo nojo em ver minha comida ser tocada por umnativo nu, apesar <strong>de</strong> suas mãos não aparentaremsujas. Restos <strong>de</strong> sopa na barba <strong>de</strong> um homemprovocam nojo, ainda que não haja, é claro, nada <strong>de</strong>


nojento na sopa propriamente dita. Acredito que issose <strong>de</strong>ve à forte associação que fazemos em nossasmentes entre visão da comida, qualquer que seja acircunstância, e a idéia <strong>de</strong> comê-la. (2004, p.241)A sensação <strong>de</strong> nojo é <strong>de</strong>spertada primariamente em conexão ao ato <strong>de</strong>comer ou saborear, sendo portanto, sua manifestação principalmente pormovimentos ao redor da boca. O nojo causa também mal-estar, geralmenteacompanhando-se <strong>de</strong> um franzir do semblante, e muitas vezes por gestos comoempurrar ou proteger-se do objeto que o provocou. (DARWIN, 2004).Essas idéias <strong>de</strong> Darwin nos remetem aos escritos freudianos sobre a faseoral, período típico <strong>de</strong> todo o <strong>de</strong>senvolvimento humano, no qual o mundo éapreendido pela boca. Não seria equivocado supor que nesse aprendizado ereconhecimento do que nos cerca venhamos, fatalmente, a experimentar –quando nossas mães permitem, é claro! – gostos mais ou menos(<strong>de</strong>s)agradáveis.Segundo Zimerman (1999) a boca, durante a fase oral, não é o únicoórgão importante, mas ela se constitui num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> incorporação e <strong>de</strong>expulsão, ou seja, um protótipo <strong>de</strong> funcionamento arcaico que faz aintermediação entre o mundo interno – da criança – e o mundo externo e assimÉ útil <strong>de</strong>stacar que, pelo fato <strong>de</strong> o bebê não tercondições <strong>de</strong> distinguir a origem dos diferentesestímulos, ele também não conseguirá diferenciar oconteúdo dos mesmos, resultando daí que tudo aquiloque vier a tocar tem o mesmo significado que oalimento, logo, da mesma forma, ele também querincorporar. (p.92)O nojo mo<strong>de</strong>rado é <strong>de</strong>monstrado <strong>de</strong> diversas maneiras; abrindo-se aboca, como que para cair um pedaço <strong>de</strong>sagradável <strong>de</strong> comida; cuspindo;soprando com os lábios protraídos; ou pelo som <strong>de</strong> se limpar a garganta (sonsguturais tipo agh!ou ugh!, sendo às vezes acompanhados por arrepio, os braçosapertados contra a lateral do tronco, e os ombros levantados como ao ficarmoshorrorizados). (DARWIN, 2004)


O nojo extremo manifesta-se com movimentos ao redor da boca,idênticos àqueles que preparam o ato <strong>de</strong> vomitar. A boca abre-se totalmente,com o lábio superior fortemente retraído, enrugando as laterais do nariz, e como lábio inferior protraído e evertido tanto quanto possível. Cuspir parece ser umsinal quase universal <strong>de</strong> <strong>de</strong>sprezo ou nojo; cuspir representa a rejeição aalguma coisa agressiva para a boca. (Darwin, 2004)Darwin (2004) nos diz ainda que escárnio, <strong>de</strong>sdém, <strong>de</strong>sprezo e nojo sãomanifestados <strong>de</strong> muitas e diferentes maneiras por movimentos faciais egestuais, sendo idênticos ao redor do mundo. Esses sentimentos evi<strong>de</strong>nciam arejeição ou expulsão <strong>de</strong> algum objeto real <strong>de</strong> que não gostamos ou que nosrepugna e, que pela força do hábito e da associação, são <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>adas açõessimilares toda vez que alguma sensação análoga surge em nossas mentes.Quando sentimos nojo, uma região central <strong>de</strong> nosso cérebro, chamadaínsula fica especialmente ativada, é este ponto que i<strong>de</strong>ntifica situaçõesrepulsivas e permite reconhecer o nojo que outra pessoa manifesta.Curiosamente nas crianças pequenas (entre três e cinco anos), a repulsa jáexiste, mas não tem ainda motivo <strong>de</strong>finido. Nesta fase a criança não tem idéia<strong>de</strong> contaminação por exemplo. O nojo é uma emoção ligada à civilização, ao<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> se manter distante <strong>de</strong> qualquer situação ofensiva aos olhos dasocieda<strong>de</strong>. (VARELLA, 2006)Segundo Miller (1997), o nojo é um universo rico em significados queengloba principalmente o corpo e seus orifícios, e também a or<strong>de</strong>m política,social, moral e cultural. Diz também que o nojo <strong>de</strong>ve necessariamente repelir,senão não é nojo. O nojo é uma emoção e portanto, se relaciona a paradigmassociais e culturais; nojo é um sentimento sobre alguma coisa e uma resposta aalguma coisa, não sendo assim um sentimento isolado.Miller (1997) diz também, que o nojo vai para além da rejeição da comidae aspectos do paladar. O nojo envolve os cinco sentidos, sendo a audição osentido que menos <strong>de</strong>sperta o nojo, já o paladar resulta numa forte correlaçãoentre comida e nojo, na medida em que pureza e impureza, pureza e perigo,


emetam ao que entra pela boca. A boca vista como um orifício, que como tal éaltamente contaminante e contaminado, no sentido físico e simbólico.Para o autor, emoções são sentimentos que se conectam a idéias e,geralmente, resultam em ações. A consciência <strong>de</strong> estar “enojado” parte <strong>de</strong> sesentir enojado. O nojo nos força a olhar, por mais que não queiramos. Ao tocaralgo viscoso, úmido, pegajoso, esponjoso ou escorregadio, imediatamentesentimos aversão. Os odores nauseabundos parecem ser capazes <strong>de</strong>contaminar, são ameaçadores.William Miller (1997) refere que sentir nojo é humano e “humanizante”,por ser uma experiência sensorial que mexe com todos os nossos sentidos,tomando-nos <strong>de</strong> assalto.Miller em seu livro “The Anatomy of Disgust” (1997), classifica o nojo emdois tipos: - O freudiano, no qual o nojo age como uma barreira a impedir arealização dos <strong>de</strong>sejos inconscientes unindo-se ao moralismo e à vergonha parafrear o instinto sexual. Assim o nojo nos impediria <strong>de</strong> chegar muito perto,ainda que tenhamos vonta<strong>de</strong>.O outro se relaciona ao nojo por excesso, é aquele que aparece apósagirmos ou pensarmos em agir (comer, beber ou ter relações sexuais emexcesso). O excesso aqui funciona como um castigo pelos nossos atos, nãocomo uma barreira. O autor relaciona os atos com a moral, dizendo que o nojotorna matar, roubar, violentar, caluniar, trair, etc atitu<strong>de</strong>s ainda maisreprováveis. Para Miller o nojo habita cada um <strong>de</strong> nós, reconhecendo que nossapureza está constantemente ameaçada nos colocando <strong>de</strong>ssa forma em contatocom nossa vulnerabilida<strong>de</strong>.Fenichel (1981) afirma que o precursor do nojo é uma síndrome arcaica<strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa fisiológica que se produz, <strong>de</strong> forma automática, a partir do momentoem que algo repulsivo chega até a boca. O primeiro “juízo” negativo que o egoarcaico do bebê realiza seria isso não é comestível! E como conseqüência elecospe.O ego, reforçado apren<strong>de</strong> a usar esse reflexo para o que necessita etransforma-o em <strong>de</strong>fesa; “primeiro, em expressão <strong>de</strong> negação em geral; <strong>de</strong>pois


em <strong>de</strong>fesa contra certos impulsos sexuais, particularmente orais e anais”.(FENICHEL, 1981, p.128).Como pu<strong>de</strong>mos verificar a partir dos diferentes autores, muitas são asrepresentações acerca do nojo e, muito embora muitas <strong>de</strong> nossas reaçõespossam ter sido aprendidas a partir <strong>de</strong> nossos contatos com outras pessoascom as quais apren<strong>de</strong>mos o que <strong>de</strong>veria ser julgado como “aceitável” ou“nojento”, <strong>de</strong>vemos admitir que na base <strong>de</strong> toda reação <strong>de</strong> nojo existe um<strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aproximação cujas raízes remontam a fase oral e seus mecanismosincorporativos.Despertados pelas emoções e pelos antagonismos <strong>de</strong> nossas reações <strong>de</strong>nojo po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>spertar em nós, mesmo que não saibamos a princípio, o próximocapítulo visa apresentar alguns aspectos sobre a simbologia animal.


CAPÍTULO 2 - SIMBOLOGIA DOS ANIMAIS2.1. O animal na vida do homemO homem vem utilizando animais para melhorar sua vida há séculos,tanto na produção (trabalho e alimento) quanto para a proteção e companhia.Mais recentemente, pesquisas vêm mostrando outros usos/benefícios trazidospelos animais ao homem, como a TAA – Terapia Assistida por Animais. Dentreelas <strong>de</strong>stacam-se a eqüoterapia, animais nas escolas, animais em hospitais,animais em asilos, animais em centros <strong>de</strong> reabilitação social, cães guias, entreoutros. (DOTTI, 2005).Nas mais remotas civilizações, há registros históricos antigos quei<strong>de</strong>ntificam elos <strong>de</strong> ligação com os animais por meio da representação daafetivida<strong>de</strong> e seus relacionamentos, retratados com muita proprieda<strong>de</strong> por meio<strong>de</strong> símbolos e <strong>de</strong>senhos. (DOTTI, 2005; SILVEIRA, 2006)Os animais sempre foram retratados como po<strong>de</strong>rosos, daí a sua gran<strong>de</strong>importância para o homem, o que, <strong>de</strong> alguma forma, indicava claramentetransmutação, proteção, sentimentos básicos humanos e até mesmo evoluçãoespiritual. Sendo assim, seus espíritos eram evocados em diversas cerimôniaspara trazer saú<strong>de</strong> e mediar curas. (DOTTI, 2005).A origem do homem e a referência aos seus instintos sempre estiveramvinculadas à natureza animal sendo que esta se encontra inserida no mundonatural por meio da contemplação <strong>de</strong> algo maior e superior. Dessa forma, osanimais representados pelo homem primitivo, eram i<strong>de</strong>ntificados pelasnecessida<strong>de</strong>s básicas, tais como alimentação, vestuário e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> conquista.(DOTTI, 2005).Em muitas inscrições os animais representavam status <strong>de</strong> tribos e <strong>de</strong>grupos, pelos registros da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> animais caçados. Nas vitórias docotidiano da vida, também eram tidos como seres que conferiam força e po<strong>de</strong>raos humanos. (DOTTI, 2005).


Muitas civilizações ao redor do mundo utilizaram a simbologia dosanimais para conceitos e princípios <strong>de</strong> vida. Para a cultura greco-romanaalguns animais eram consi<strong>de</strong>rados a representação <strong>de</strong> Deus, da saú<strong>de</strong> e dareencarnação.Há registros no século IX a.C., nos quais Hommerescreveu sobre Asklepios, o <strong>de</strong>us grego da saú<strong>de</strong>.Asklepios tinha o po<strong>de</strong>r divino que era estendido a cãessagrados. A crença era que uma pessoa cega po<strong>de</strong>riavoltar a enxergar imediatamente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser lambidapor um cão sagrado. (BURCH, 2003 APUD DOTTI,2005, p.35)Des<strong>de</strong> o Egito antigo até os tempos medievais, os animais ocuparam umpapel <strong>de</strong> suma importância na socieda<strong>de</strong> e ainda continuam ocupando, embora<strong>de</strong> forma diferente, com uma manifestação distinta, com proprieda<strong>de</strong>s aindamais <strong>de</strong>finidas e refinadas, como sendo instrumento e catalisador paratratamentos diversos. (DOTTI, 2005).Os egípcios foram os primeiros criadores <strong>de</strong> animais híbridos. Em todasas suas dinastias, os animais assumiram formas <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses, pois semisturavam aos humanos e <strong>de</strong>ssa união mágica resultavam seres com formassemi-humanas, que tinham em sua maior parte a caracterização <strong>de</strong> animaisdiversos. (DOTTI, 2005).Em sua essência esses animais representavam a sabedoria, proteção esolução para as necessida<strong>de</strong>s humanas. Esses seres eram reconhecidos pelaesperança do homem em alcançar a evolução do espírito, e por meio <strong>de</strong>les terum exemplo da perfeição e do caminho i<strong>de</strong>al para se chegar a ela. (DOTTI, 2005).Para Dotti (2005), os animais traçam um paralelo entre um mundo real(mundo dos homens) com um mundo imaginário, pois marcam a mitologia ecriam um ambiente esplendoroso <strong>de</strong> <strong>de</strong>uses. Através dos tempos, <strong>de</strong>ixammarcas culturais, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o cristianismo, com a associação dos santos aosanimais, até a época medieval, da cultura indígena aos celtas. Em todos oscontinentes os animais foram adorados e ainda continuam sendo.Ainda segundo esse autor é <strong>de</strong> suma importância notar que a presençados animais foi fundamental para situar o homem e suas aspirações em quase


todas as culturas, em diferentes épocas e continentes. Ocuparam um papelimportantíssimo na vida do homem para atingir o segredo, a magia e ailuminação.Os animais, que freqüentemente intervém nos sonhos e nas artes,formam i<strong>de</strong>ntificações parciais com o homem, aspectos, imagens <strong>de</strong> suanatureza complexa. Nas artes eles se <strong>de</strong>stacam na complementação dasmensagens inseridas nas obras, revelando um profundo significado. (DOTTI,2005)Segundo Dotti (2005), <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a infância os animais estão presentes emnossas vidas por meio dos primeiros brinquedos na sua maioria recebidos <strong>de</strong>pais e parentes. Roupas, utensílios domésticos, quartos, fantasias sempreforam <strong>de</strong>corados por imagens <strong>de</strong> animais. Na literatura os animais estãopresentes <strong>de</strong> forma constante, conferindo amor e sabedoria e <strong>de</strong>monstrandopara os humanos os laços <strong>de</strong> união com esses seres. Os animais têm gran<strong>de</strong>importância na vida dos humanos como elos <strong>de</strong> ligação entre o mundo exteriore o interior do homem. (DOTTI, 2005)Os animais ocupam atualmente um lugar <strong>de</strong> fundamental importâncianos lares, hospitais, comunida<strong>de</strong>s etc. No <strong>Brasil</strong>, a psiquiatra Nise da Silveira,foi pioneira na TAA – Terapia Assistida por Animais, na pesquisa das relaçõesafetivas entre pacientes e animais, os quais chamava <strong>de</strong> co-terapeutas. (DOTTI,2005)Foi na década <strong>de</strong> 50 que a Dra. Nise da Silveira utilizou os animais comoco-terapeutas no tratamento com esquizofrênicos. Isto ocorreu no <strong>Centro</strong>Psiquiátrico D. Pedro II – Engenho <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, Rio <strong>de</strong> Janeiro. Segundo elaHá animais que permanecem no hospital em suafunção <strong>de</strong> co-terapeutas e outros que participam <strong>de</strong>visitas organizadas a hospitais a fim <strong>de</strong> levar vida ecalor a esses frios lugares.(SILVEIRA, 2006, p.114).Segundo Dotti (2005), o homem por ser sociável relaciona-sementalmente com a natureza e com os animais. Nossa história cultural<strong>de</strong>monstra que vemos os animais como eternos companheiros <strong>de</strong> conquistashumanas, seja nas batalhas, na ciência, nos estudos biológicos, na religião e


mesmo na formação das crianças por meio <strong>de</strong> fábulas. Esse inconscientecoletivo <strong>de</strong>monstra um intenso relacionamento entre nós seres humanos eesses seres e, a cada dia que se passa, a tendência é aumentar e intensificar afreqüência <strong>de</strong>sse relacionamento.É <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância lembrar que culturas similares <strong>de</strong> povosdiferentes espalhados nos mais longínquos lugares do mundo, mesmo estandoincomunicáveis, <strong>de</strong>monstravam em suas construções formas, <strong>de</strong>senhos,pinturas e temas <strong>de</strong> animais.Para Jung (2000) Silveira (2003), o inconsciente coletivo refere-se àscamadas mais profundas do inconsciente e correspon<strong>de</strong> aos fundamentosestruturais da psique, comuns a todos os seres humanos. Enquanto oinconsciente pessoal constitui-se <strong>de</strong> experiências individuais, os conteúdos doinconsciente coletivo são impessoais comuns a todos os homens e transmitemsepor hereditarieda<strong>de</strong>. A esses conteúdos Jung <strong>de</strong>nominou arquétipos.Os arquétipos são possibilida<strong>de</strong>s herdadas para representar imagenssimilares, formas instintivas <strong>de</strong> imaginar, matrizes arcaicas on<strong>de</strong> configuraçõesanálogas ou semelhantes tomam forma. O arquétipo funciona como um nódulo<strong>de</strong> energia psíquica concentrada que ao assumir uma forma produz a imagemarquetípica diferente do arquétipo que é somente uma virtualida<strong>de</strong>. (JUNG,2000; SILVEIRA, 2003)Darwin em seu livro “A Origem das Espécies” (1859), diz que asemelhança entre embriões vertebrados em suas fases iniciais <strong>de</strong><strong>de</strong>senvolvimento é uma das melhores evidências <strong>de</strong> sua teoria evolutiva, poisobservou que os embriões <strong>de</strong> mamíferos, pássaros, peixes e répteis sãoinicialmente semelhantes, porém quando totalmente <strong>de</strong>senvolvidos sãobastante diferentes. Com isso Darwin acreditou que o <strong>de</strong>senvolvimentoembrionário mostrava as etapas da evolução ocorrida na espécie da qualpertencia o embrião, chamando isso <strong>de</strong> recapitulação.Então o que Darwin (2002) propõe para a formação do corpo po<strong>de</strong> seranálogo ao que Jung (2000) propõe para o funcionamento do inconscientecoletivo, arquétipos e imagens arquetípicas, ou seja, que cada ser vivo revive


seu passado evolucionário durante seu <strong>de</strong>senvolvimento físico e psíquico e,talvez consista aí o estreito vínculo que une homens e animais.2.2. O animal da pesquisaO Achatina fulica é um escargot (caracóis comestíveis), pertencente aogrupo dos moluscos, classe dos gastrópo<strong>de</strong>s e mais especificamente da or<strong>de</strong>mdos pulmonados, sendo consi<strong>de</strong>rada a mais diversificada classe do filomollusca. É um animal <strong>de</strong> origem africana, terrestre, hermafrodita, tem cabeçacarnosa contendo dois pares <strong>de</strong> tentáculos retráteis e um par <strong>de</strong> olhos naextremida<strong>de</strong> <strong>de</strong>sses tentáculos.A cabeça liga-se diretamente a um pé musculoso e sobre o qual está aconcha formada <strong>de</strong> carbonato <strong>de</strong> cálcio. Um epitélio mucoso reveste todas aspartes carnosas expostas. Produz uma secreção mucosa através da glândulapedal localizada abaixo da boca, locomove-se através <strong>de</strong> movimentos bastantelentos. (STORER et al, 1991).A princípio po<strong>de</strong>mos perceber que se trata <strong>de</strong> um animal incapaz <strong>de</strong>produzir riscos ao ser humano, ao contrário, sua fragilida<strong>de</strong> é inquestionável.No entanto, recordando o que já foi afirmado com relação às reaçõesemocionais <strong>de</strong> nojo, o escargot aparece como um animal associado àslembranças mais remotas – por vezes até inconscientes – <strong>de</strong> repulsa, evitação,enfim, nojo.A escolha <strong>de</strong>sse animal por parte do grupo foi influenciada – e facilitada –pelo contato <strong>de</strong> uma das pesquisadoras com o animal em seu Curso <strong>de</strong>Zooterapia. Nada, além do fato <strong>de</strong> ser exótico e comestível, havia chamado aatenção das pesquisadoras até o momento da escolha <strong>de</strong>sse “participante” noexperimento.A seguir fotos do animal da pesquisa: Escargot (Achatina fulica)


Figura 1Figura 2Figura 1 e 2 – Gentilmente cedidas pela Prof. ª Maria <strong>de</strong> Fátima Martins – Heliciário Experimental Prof.ª Dra. Lor Cury– USP Pirassununga


CAPÍTULO 3 – PROJEÇÃODo ponto <strong>de</strong> vista neurofisiológico e psicológico, projeção é o<strong>de</strong>slocamento e localização no exterior <strong>de</strong> fatos neurológicos ou psicológicos. Jádo ponto <strong>de</strong> vista psicanalítico, projeção é a situação na qual o sujeito expulsa<strong>de</strong> si e localiza no outro (pessoa, animal ou coisa), qualida<strong>de</strong>s, sentimentos,<strong>de</strong>sejos e mesmo objetos que ele ignora ou recusa nele. Neste caso é uma <strong>de</strong>fesabastante arcaica encontrada basicamente na paranóia, mas também em modosnormais <strong>de</strong> pensamento. O termo projeção é utilizado em um sentido bastanteamplo, na neurofisiologia (sentido da matemática geométrica), na psicologia ena psicanálise. (ANZIEU, 1979; LAPLANCHE e PONTALIS, 2004)Em seu livro “Os Métodos Projetivos”, Anzieu (1979), apresenta umaanalogia da projeção em psicologia com a física, matemática e ótica. Sendo quena física, como em um lançamento <strong>de</strong> projétil, os testes projetivos favorecem a<strong>de</strong>scarga <strong>de</strong> tudo que o sujeito recusa ser, que vivencia em si mesmo comomau, ou como vulnerabilida<strong>de</strong>s. Na matemática, com a organização dageometria projetiva que estabelece correspondência entre um ponto ou conjunto<strong>de</strong> pontos do espaço com um ponto ou conjunto <strong>de</strong> pontos <strong>de</strong> uma reta, damesma forma os testes projetivos levam o sujeito a produzir em seu protocolo<strong>de</strong> respostas uma estrutura que correspon<strong>de</strong> à estrutura <strong>de</strong> sua personalida<strong>de</strong>através <strong>de</strong> características fundamentais <strong>de</strong>sta.Na ótica, um foco emite raios luminosos incidindo sobre uma superfície,ou seja, o teste projetivo é como um raio-X que ao atravessar a personalida<strong>de</strong>do indivíduo projeta seu núcleo secreto sobre um revelador (material ambíguo),ficando <strong>de</strong>ssa forma iluminado o que estava escondido, manifesto o que estavalatente, o interior vêm à tona <strong>de</strong>svelando o que temos <strong>de</strong> estável e <strong>de</strong> instável.Freud inaugura o termo projeção em 1896 para <strong>de</strong>finir o mecanismo daparanóia afirmando que a projeção é a expulsão <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejo intolerável e suarejeição para fora da pessoa, ou seja, projeta-se aquilo que não se quer ser.(ANZIEU, 1979; ROUDINESCO e PLON, 1998; LAPLANCHE e PONTALIS, 2004)


Segundo Roudinesco e Plon (1998), o termo projeção foi mais tar<strong>de</strong>retomado por todas as escolas psicanalíticas para <strong>de</strong>signar uma forma <strong>de</strong><strong>de</strong>fesa primária, comum à psicose, à neurose e à perversão, pelo qual o sujeitoprojeta em um outro indivíduo ou objeto, <strong>de</strong>sejos que provêm <strong>de</strong>le, mas cujaorigem ele <strong>de</strong>sconhece, atribuindo-os a uma alterida<strong>de</strong> que lhe é externa.Laplanche e Pontalis (2004), afirmam que a base das técnicas projetivasé o aparecimento <strong>de</strong> estruturas ou traços essenciais da personalida<strong>de</strong> atravésdo comportamento manifesto. As provas estandartizadas, ou seja, os testesprojetivos, colocam o sujeito diante <strong>de</strong> situações pouco estruturadas e <strong>de</strong>estímulos ambíguos. O que permite, segundo Anzieu apud Laplanche e Pontalis(2004, p.375):[...] ler, segundo regras <strong>de</strong> <strong>de</strong>cifração próprias do tipoproposto <strong>de</strong> material e <strong>de</strong> organização do seucomportamento e das suas emoções.Então, em uma situação <strong>de</strong> teste projetivo, as associações livres dosujeito <strong>de</strong>vem ser provocadas. Daí a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se apresentar ao sujeito ummaterial <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador <strong>de</strong> tais associações, sendo este o mais informe eambíguo.(LAPLANCHE e PONTALIS, 2004)Segundo Zimerman (2005), muitos autores após Freud, como M.Klein,por exemplo, postularam que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a condição <strong>de</strong> recém-nascido, o ego dobebê está afligido por primitivas e fortes angústias que impelem a criança àutilização <strong>de</strong> mecanismos <strong>de</strong>fensivos <strong>de</strong> tipo primitivo.Essas formulações têm sido entendidas como um gran<strong>de</strong> avanço nocampo da psicanálise pois permitiram uma compreensão mais clara daevolução da personalida<strong>de</strong> e dos quadros consi<strong>de</strong>rados psicopatológicos,especialmente os mais regredidos como os psicóticos.De acordo com Zimerman (2005) existiriam oito tipos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesasprimitivas: Dissociação, Projeção, Introjeção, I<strong>de</strong>alização, Denegrimento,controle Onipotente, Deslocamento e Con<strong>de</strong>nsação.


Na projeçãoos pedaços que foram “dissociados”, e que são sentidoscomo maus e intoleráveis, são projetados para fora (porexemplo, os sentimentos <strong>de</strong> ódio que a criança, ou oadulto, não conseguem suportar) A pessoa atribuicomo sendo da outra pessoa em que projetou seu ódioe, então, sente-se perseguida por ela. (ZIMERMAN,2005, p.146-7)A i<strong>de</strong>ntificação projetiva, conceito criado por M.Klein, <strong>de</strong>ve ser entendidacomo um mecanismo que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início da vida e na sua continuida<strong>de</strong>, opsiquismo emprega , trata-se <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>fesa que consiste em projetar nasoutras pessoas sentimentos que não po<strong>de</strong>m ser contidos <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si e isso comtal intensida<strong>de</strong> que o outro passa a ser caracterizado como uma réplica <strong>de</strong>le, ouseja, imaginariamente ficam iguais. (ZIMERMAN, 2005)A situação on<strong>de</strong> uma menina no colo <strong>de</strong> seu pai em uma visita ao jardimzoológico, ao se <strong>de</strong>frontar com um leão rugindo na jaula, nega para si mesmaque esteja com medo e or<strong>de</strong>na ao pai: “pai, vamos embora daqui porque vocêestá com medo”, ilustra a ação da i<strong>de</strong>ntificação projetiva.Para Zimerman (2005) a i<strong>de</strong>ntificação projetiva, a exemplo <strong>de</strong> outras<strong>de</strong>fesas po<strong>de</strong> ter um caráter positivo e saudável, como por exemplo no caso daempatia, on<strong>de</strong> a pessoa, a partir <strong>de</strong> suas próprias experiências emocionais,consegue se colocar no lugar do outro.Quando pensamos na projeção ou na i<strong>de</strong>ntificação projetiva comofenômenos possíveis no âmbito do presente estudo, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rar que o conteúdo projetado, em algum momento, foi objeto <strong>de</strong>incorporação e que, portanto possa estar relacionado com experiênciasprecoces na vida das pessoas.Dessa forma, levantamos a hipótese <strong>de</strong> que ao entrar em contato com osescargots, os participantes humanos são estimulados a manifestar conteúdosarcaicos <strong>de</strong> seu <strong>de</strong>senvolvimento e que suas falas po<strong>de</strong>m conter,projetivamente, esses conteúdos.


É importante também apontar que este estudo po<strong>de</strong>rá ser utilizado emdiferentes contextos <strong>de</strong> psicologia clínica e medicina veterinária, tendo em vistao valor e a eficácia do trabalho zooterapeutico, que nesta pesquisa serão<strong>de</strong>monstrados <strong>de</strong>ntro dos rigores da pesquisa científica.


CAPÍTULO 4 – MÉTODO4.1– ParticipantesOs participantes do experimento foram treze alunos do curso <strong>de</strong>psicologia do <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André, com ida<strong>de</strong>s acima <strong>de</strong> <strong>de</strong>zoitoanos, sendo seis do sexo masculino (46.15%) e sete do sexo feminino (53.85%)selecionados ao acaso (conforme gráfico abaixo). Cujos nomes por questõeséticas visando preservar a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos mesmos serão ficticiamentechamados <strong>de</strong> Atena, Minerva, Vênus, Diana, Cori, Ártemis, Ceres, Vulcano,Dionísio, Horus, Zeus, Apolo e Netuno, em alusão aos <strong>de</strong>uses da mitologiagreco-latina e egípcia e também como forma <strong>de</strong>ferência aos participantes peladisponibilida<strong>de</strong> e generosida<strong>de</strong> <strong>de</strong>les durante o experimento. Participaramtambém do experimento quinze escargots (Achatina fulica), provenientes doHeliciário Experimental Profa. Dra. Lor Cury – Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São PauloCampus Pirassununga, gentilmente cedidos pela Profa. Dra. Maria <strong>de</strong> FátimaMartins.7DISTRIBUIÇÃO DOS PARTICIPANTES DO EXPERIMENTO PELO SEXO7665número <strong>de</strong> participantes43210masculinosexofeminino


Anexo 1TERMO DE CONSENTIMENTOEu,_________________________________________,RG_______________________,dou meu consentimento livre e esclarecido para participar voluntariamente <strong>de</strong> uma pesquisa<strong>de</strong>senvolvida por alunas do <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André, do Curso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, soborientação da Profª Dra. Rosalice Lopes. Declaro estar ciente que o objetivo <strong>de</strong>sta ativida<strong>de</strong> éinvestigar aspectos da Emoção diante <strong>de</strong> animais.Autorizo a gravação das entrevistas em áudio e ví<strong>de</strong>o, para tanto estou ciente <strong>de</strong> que osprocedimentos <strong>de</strong>vem seguir as normas do Código <strong>de</strong> Ética do Psicólogo e que os dadoscoletados nessa pesquisa, preservarão a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do entrevistado, sendo utilizados apenas,para fins científicos. Temos o compromisso <strong>de</strong> divulgação e publicação dos resultados,preservando o anonimato dos participantes, apenas em revistas especializadas e eventoscientíficos.Obtive as informações necessárias para a participação na referida ativida<strong>de</strong> e recebi a garantia<strong>de</strong> que os dados serão mantidos em sigilo. Po<strong>de</strong>rei contatar o <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong>André – UniA e o responsável pelo estudo, Profª Dra. Rosalice Lopes através do telefone4435-8899 ou também através das pesquisadoras : Márcia Angelita Martos Georgetti 9513-5841 e Juliana Tabatschnic 8266-7886.Este documento possui duas vias <strong>de</strong> igual teor, ficando uma <strong>de</strong>las sob meu po<strong>de</strong>r.____________________________Assinatura do participanteou seu responsável__________________________________Profª Orientadora Dra. Rosalice Lopes<strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André- Unia__________________________________Márcia Angelita Martos Georgetti_____________________________Juliana Tabatschnic


PERMISSÃO PARA USO CONDICIONADO DE IMAGEMEu,_________________________________________________,brasileiro(a), aluno (a) docurso <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>, portadora da cédula <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> RG nº _______________, CPFnº ______________, resi<strong>de</strong>nte na Rua __________________, nº ____, bairro________________, _________cida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> mora__________, pelo presente, AUTORIZA,a título gratuito que Juliana Tabatschnic, brasileira, solteira, portadora dacédula <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> RG nº 2087755-3, CPF nº 024787049-86, Cel: 8266-7886 eMárcia Angelita Martos Georgetti, brasileira, casada, portadora da cédula <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> RG nº 20577133-6, CPF nº061699058-83, Cel: 9513-5841, a utilizarseu nome, a sua imagem (pessoal, gravada e filmada) e <strong>de</strong>clarações no trabalho <strong>de</strong>Conclusão <strong>de</strong> Curso a ser realizado no <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André –UniA e posteriores pesquisas científicas.O consentimento expresso na presente autorização e permissão para o uso daimagem está em concordância com as disposições da Lei 10.406/2002.<strong>Santo</strong> André, ___ <strong>de</strong> ________________ <strong>de</strong> 2006.__________________________________________


<strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> AndréTRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO - TCCCURSO DE PSICOLOGIAFORMULARIO PARA SUBMISSÃO DE PROJETO DE PESQUISA ENVOLVENDOSERES HUMANOS E ANIMAIS AO COMITÊ DE ÉTICAI -Título do Projeto: EMOÇÕES HUMANAS NA INTERAÇÃO COM ANIMAISII - Nome completo do(s) Aluno(s) Pesquisador(es):1 – MÁRCIA ANGELITA MARTOS GEORGETTI....................................................................................................RGM 634.801..................2- JULIANA TABATSCHNIC............................................... RGM 648.239.................III – Nome completo do Orientador– Pesquisador Responsável:PROFa. DRa. ROSALICE LOPESIV – Classificação da pesquisa:Estudo DocumentalPesquisa-AçãoX Estudo ExperimentalEstudo ObservacionalEstudo Epi<strong>de</strong>miológicoEstudo Clínico( ) Outro. Qual? ____________________________________________________XQualitativaQuantitativaQuali-quantitativaV– Os participantes da pesquisa pertencem a algum dos grupos abaixo:( ) População indígena( ) Crianças /Adolescentes menores <strong>de</strong> 18 anos( ) Portadores <strong>de</strong> Transtornos Mentais( ) Idosos( ) Presidiários( X ) Outro? Qual? Estudantes <strong>de</strong> <strong>Psicologia</strong>


VI – Justificativa Resumida:O ser humano é gregário por natureza. Ele busca contato tendo em vista que a solidão éprodutora <strong>de</strong> angústia e ansieda<strong>de</strong>. Muitos seres humanos apresentam dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong>contato inter-pessoal, sendo que essas dificulda<strong>de</strong>s po<strong>de</strong>m tanto ser <strong>de</strong> origem relacional –problemas familiares como, por exemplo, resultantes <strong>de</strong> problemas congênitos e/ouadquiridos ao longo da vida. Nesses casos po<strong>de</strong>mos citar, por exemplo, as <strong>de</strong>ficiênciasfísicas – visuais, motoras, etc, e as advindas <strong>de</strong> aci<strong>de</strong>ntes ou mesmo produzidas peloenvelhecimento. Existem muitos casos em que a pessoa que tem algum tipo <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>não po<strong>de</strong> contar com a ajuda <strong>de</strong> um outro ser humano, <strong>de</strong> modo permanente, para superarsuas necessida<strong>de</strong>s. Nesses casos, a solução po<strong>de</strong> vir pela ajuda <strong>de</strong> um animal <strong>de</strong> outraespécie.O Homem vêm utilizando animais para melhorar sua vida há séculos, tanto na produçãoquanto para proteção e companhia. Mais recentemente, pesquisas vêm mostrando outrosusos/benefícios trazidos pelos animais ao Homem, como a T.A.A – Terapia Assistida porAnimais. Entre elas <strong>de</strong>stacam-se, a eqüoterapia, animais nas escolas, animais em hospitais,animais em asilos, animais em centros <strong>de</strong> reabilitação social, cães guias, entre outros.Nessa interação ser humano-animal ocorre melhora nas condições neurológicas, fisiomotoras,ensino-aprendizagem, cardio-vasculares com controle <strong>de</strong> pressão arterial,diminuição <strong>de</strong> processos dolorosos e conseqüente diminuição da quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong>medicamentos utilizados em pessoas com enfermida<strong>de</strong>s graves.Por outro lado, poucas são as pesquisas que apresentam seus resultados sobre as emoçõesque <strong>de</strong>terminadas espécies <strong>de</strong> animais, muitos <strong>de</strong>les consi<strong>de</strong>rados exóticos ou incomuns,<strong>de</strong>spertam nos seres humanos. Muitas <strong>de</strong>ssas emoções estão relacionadas ao medo, àansieda<strong>de</strong>, à repugnância.Nossa hipótese é que muitas <strong>de</strong>ssas emoções surgem à vista do animal, em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong>experiências construídas ao longo da vida das pessoas, quer seja por uma experiênciaconcreta e <strong>de</strong>sagradável ou, em outras circunstâncias, o que nos parece mais freqüente, porque apren<strong>de</strong>ram com alguém que o animal <strong>de</strong>veria ser “excluído do convívio”, sem que, <strong>de</strong>fato, tivesse ocorrido qualquer tipo <strong>de</strong> aproximação.Nessa direção, o presente estudo visa oportunizar o contato com o animal exótico Escargot(Achatina fulica), <strong>de</strong> modo a avaliarmos as reações humanas advindas <strong>de</strong>ssa aproximação.Esperamos com o estudo, ampliar o conhecimento das emoções humanas junto aosanimais.


VII – Objetivos:• I<strong>de</strong>ntificar emoções e reações humanas advindas da interação com o animalescargot (Achatina fulicans);• Buscar correlação entre as emoções vividas durante a experiência com possíveisemoções não imediatamente conscientes;• Pesquisar como se constrói rejeições à algumas coisas (Produção cultural <strong>de</strong>imagens repulsivas);• Apontar mais uma utilida<strong>de</strong> do animal ao homem, contribuindo assim paradiminuir o aspecto <strong>de</strong> <strong>de</strong>scartabilida<strong>de</strong> sofrido pelos animais.VIII – Método (Participantes, Instrumentos, Local, Procedimentos):Participantes• Alunos do curso <strong>de</strong> psicologia do Unia - <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André;• Acima <strong>de</strong> 18 anos;• 6 homens e 7 mulheres;• 5 escargots (Achatina fulicans) provenientes do Heliciário Experimental Profa.Dra. Lor Cury –Universida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Paulo campus Pirassununga;Nota: Os animais em questão serão transportados segundo critérios técnicos eéticos pela pesquisadora Márcia Angelita Martos Georgetti, que é médica veterináriacom CRMV 11.197.Procedimentos• O experimento será individual, em sala do LEAPSI – Laboratório <strong>de</strong> AvaliaçãoPsicológica on<strong>de</strong> o participante humano será colocado em contato visual e/ou físicopor opção do sujeito, com os animais por 30 (trinta) minutos;• Registrar as reações do participante frente ao animal.Instrumentos• Entrevista semi-dirigida:1. O que você sentiu com essa experiência?2. Esses sentimentos o remeteram a alguma situação já vivida?• Gravador;• Filmadora.IX – Termo <strong>de</strong> Consentimento Livre e Esclarecido:• Mo<strong>de</strong>lo do termo <strong>de</strong> consentimento livre e esclarecido anexo• Mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> permissão do uso da imagem anexo


X – Referências: (Citar duas referências básicas ao estudo)• Darwin, Charles – A Expressão das Emoções no Homem e nos Animais – São Paulo:Companhia das Letras, 2000.• Dotti, Jerson – Terapia & Animais – São Paulo: PC Editorial, 2005.• Beck, Alan; Katcher, Aaron – Between Pets and People: the importance of animalcompanionship – Indiana: Purdue University Press, 1996.<strong>Santo</strong> André, _________ <strong>de</strong> _______________ <strong>de</strong> 2006 _____.


AoComitê <strong>de</strong> Éticado <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong><strong>Santo</strong> AndréAs autoras do presente Projeto <strong>de</strong> Pesquisa vêm, mui respeitosamente, requerer <strong>de</strong>Vs. Sas. a análise e parecer necessários a sua consecução, para o que anexam osdocumentos exigidos.Atenciosamente,Aluno(s) Autor(es):_____________________________________________Márcia Angelita Martos Georgetti RGM 634.801_____________________________________________Juliana Tabatschnic RGM 648.239“A vida é breve, a ciência é duradoura, a oportunida<strong>de</strong> é ardilosa, a experimentação é perigosa, ojulgamento é difícil.”Hipócrates (Aforisma I 1)


4.2– InstrumentosNesta pesquisa foram utilizados:1) Entrevista semi-dirigida com três questões disparadoras:As questões procuraram <strong>de</strong>tectar, <strong>de</strong> forma o mais espontânea possível,as emoções dos participantes advindas da interação com o animal escargot,além disso buscamos verificar se o contato com esse animal exótico mobilizavavivências anteriores dos participantes. Por fim direcionamos nossa atençãopara <strong>de</strong>tectar se a reação <strong>de</strong> nojo estava presente no contato e se po<strong>de</strong>ria estarassociada a alguma característica do animal inclusive ao paladar.Anexo 2Entrevista semi-dirigida• O que você sentiu com essa experiência?• Esses sentimentos o remeteram a alguma situação já vivida?• Você comeria esse animal?2) FilmadoraO registro visual da interação dos participantes permitiu captar asexpressões não verbais da interação com o animal, ou seja, as posturas docorpo e expressões faciais, sendo <strong>de</strong>sta forma um importante objeto no estudo,pois registra momentos vivenciados que facilitarão na interpretação dos dadoscoletados.


3) GravadorA utilização <strong>de</strong>sse equipamento visava o registro da fala dos participantese operou como um elemento adicional à filmadora, caso alguns elementos dodiscurso verbal não pu<strong>de</strong>ssem ser captados <strong>de</strong> forma clara.4) Acessórios• Mini-fitas cassete• Papel e caneta• papel toalha, luvas <strong>de</strong> látex e álcool para os participantes• caixa plástica branca com tampa e uma ban<strong>de</strong>ja plástica brancautilizadas para acomodar os escargots• Placa <strong>de</strong> petri contendo ração balanceada para os animais• Placa <strong>de</strong> petri contendo água para os animais• Folhas <strong>de</strong> couve para alimentação dos animais.4.3– LocalLeapsi – Laboratório <strong>de</strong> Estudos em Avaliação Psicológica do <strong>Centro</strong>Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André - UNIA – <strong>Santo</strong> André – S.P.4.4– ProcedimentosAs pessoas foram convidadas a participar do experimento através <strong>de</strong> umconvite verbal expresso da seguinte forma:Nosso T.C.C 2 será sobre emoções humanas na interação com animais. Faremosum experimento no LEAPSI 3 utilizando um animal, que nesse momento nãopo<strong>de</strong>rei dizer qual é, <strong>de</strong>vido a importância do fator surpresa para avaliação dasemoções nesse contato. Você gostaria <strong>de</strong> participar?2 TCC – Trabalho <strong>de</strong> Conclusão <strong>de</strong> Curso3 LEAPSI – Laboratório <strong>de</strong> Estudos em Avaliação Psicológica do <strong>Centro</strong> Universitário <strong>de</strong> <strong>Santo</strong> André – UNIA


À medida que as respostas eram positivas, agendávamos os horários paraa realização do experimento oferecendo três datas pré-estabelecidas em virtu<strong>de</strong><strong>de</strong> questões operacionais e <strong>de</strong> manejo dos animais envolvidos no experimento,visando assegurar o bem estar dos mesmos.As entrevistas ocorreram nos dias 14,15 e 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 2006, noshorários das 14:00h às 18:00h na sala 2 do LEAPSI, sendo que esta temaproximadamente seis metros quadrados <strong>de</strong> área.Uma caixa branca plástica com tampa, com dimensões 50cmX40cm,contendo os escargots foi colocada sobre uma mesa <strong>de</strong> fórmica branca pequena(aproximadamente 100cmX60cm) no canto esquerdo da sala próximo à porta.Foi disponibilizado aos participantes papel toalha, luvas <strong>de</strong> látex e álcool, além<strong>de</strong> uma ca<strong>de</strong>ira para que os mesmos, caso quisessem, se sentassem. Haviaainda na sala, duas ca<strong>de</strong>iras para material <strong>de</strong> apoio, como mini-fitas cassete,fitas para a filmadora, filmadora, gravador, caneta para i<strong>de</strong>ntificação domaterial gravado, lista dos participantes, etc.Uma das pesquisadoras manejou a filmadora permanecendo a umadistância razoável do participante <strong>de</strong> modo a minimizar uma possívelinterferência na interação do participante com o animal. A outra pesquisadoraficou um pouco mais próxima do participante controlando o gravador.Ao chegar para a entrevista o participante foi atendido na recepção doLEAPSI, momento em que recebeu, para preenchimento <strong>de</strong> dados e assinatura,um termo livre-esclarecido e outro termo <strong>de</strong> permissão <strong>de</strong> uso da imagem comfinalida<strong>de</strong> científica (mo<strong>de</strong>los anexos), ambos em duas vias, ficando uma viacom o sujeito e outra com as pesquisadoras. Os termos foram preenchidos eassinados antes <strong>de</strong> a<strong>de</strong>ntrar a sala 2. Feito isso encaminhamos o participantepara a sala <strong>de</strong>stinada ao experimento, quando fizemos a seguinte orientação:Esse experimento tem por objetivo avaliar as emoções humanas, nesse caso, assuas emoções na interação com esse animal que já vamos lhe mostrar. Essainteração po<strong>de</strong>rá ser visual e/ou física a seu critério. Caso você tenha algumapergunta sobre a biologia do animal pedimos que faça ao final do experimento,pois a intenção agora é que você entre em contato com o animal e relate assim


que quiser o que você estiver sentindo. Queremos também que você relate, senesse contato você lembrar <strong>de</strong> alguma situação vivida anteriormente.Após essas instruções uma das pesquisadoras <strong>de</strong>stampava a caixa paraque a interação ocorresse. A filmagem tinha início pela outra pesquisadora apartir do momento que o participante entrava na sala. Após o relato <strong>de</strong> suasemoções, o participante era informado que se tratava <strong>de</strong> um animal comestívele então o participante era questionado quanto ao fato <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r vir a comer esseanimal.A entrevista era dada por encerrada quando o participante sinalizava quehavia terminado. Por fim solicitávamos ao participante que não comentassesobre qual animal havia sido utilizado no experimento para não tirar o fatorsurpresa dos <strong>de</strong>mais participantes.4.5 – Categorias <strong>de</strong> AnáliseDe modo a estabelecer uma organização nos dados coletados durante oexperimento optamos por organizá-lo em categorias <strong>de</strong> análise a saber:1- O primeiro contato visual2- Seqüência Interacional: Reações verbais e não verbais e disposição aocontato3- Memórias associadas ao contato4- É possível ir além e comer o animal?5- Curiosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>spertadas com o contato


CAPÍTULO 5 – APRESENTAÇÃO DOS DADOSDISTRIBUIÇÃO DO TOTAL DAS EMOÇÕES PROVOCADAS PELO EXPERIMENTO COM ESCARGOT14121086420CONTATO10 103 3NOJOCOMERIA?10 1330LEMBRANÇASLEMBRANÇAS INF.85SEXUALIDADEemoções49TRISTEZA112ALEGRIA58MEDO/RECEIO1383CURIOSIDADES0NÃOSIMSIMNÃO1 – O primeiro contato visual - buscou-se i<strong>de</strong>ntificar nos participantes qualemoção surgiu no primeiro contato visual com o animal exótico e, portanto, forado contexto cotidiano dos participantes humanos. Observamos que em suamaioria, os participantes <strong>de</strong>monstraram uma certa angústia, expressa porinquietação, <strong>de</strong> nojo e <strong>de</strong> evitação. Essas expressões eram seguidas <strong>de</strong>racionalizações sobre o que o contato causava.Netuno: Parece que é friozinho aqui né? Vocês não colocam gelo aqui <strong>de</strong>ntro?Dionísio: É limpo esse animal?Ceres: (Aproxima-se da caixa e olha os animais atentamente com um sorrisoindulgente. Olha-os <strong>de</strong> diferentes ângulos mostrando-se curiosa.) Que tem aqui


embaixo hum... (risos), eu conheço esse bichinho! (risos) Ai que turma! Eles ficamparados aqui oh! Que bonitinho! Eu posso até falar já! Pegar o bichinho, tirardaí... Eu não sei o que é isso pra cabeça <strong>de</strong>les né? De ser manipulado, né? tipo talá sossegado né nenenzão?! Uuuu! (...) que bonito né?Horus: É... eu acho que não entendi tudo. Assim, eu tenho que pegar o bichoe,...faze o quê?Zeus: Isso é um caramujo? É escargot <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>? Ai meu Deus. Hahaha. Vousentar. Aí, eu nunca estive <strong>de</strong> frente com um <strong>de</strong>sses. Aí, eu tenho que... Como queeu vou interagir? Com um animalzinho <strong>de</strong>sses? Na verda<strong>de</strong>, eu já... Já tinha vistoassim, mas não <strong>de</strong> perto. A gente nem presta muita atenção. Que monte! E ai? Oque que eu posso fazer?Apolo: Pegar? (Ficou um longo tempo observando os animais sem tocá-los,porém bem próximo da caixa e com as mãos apoiadas do lado externo damesma, numa postura contemplativa)Cori: Que bonito! Ficou observando os animais em pé bem junto à caixa e,eventualmente mexendo neles.Vulcano: Nossa! É esses daqui que come?...Daqui uns vinte minutos do jeito queele vai... Esse troço é nojento! Isso é estranho, comer isso aqui.Ártemis: Haiii, Márcia, falei pra você. (ficou em silêncio olhando para o interiorda caixa contendo os animais, as mãos sendo esfregadas no quadril pelaslaterais, queixo alongado em semi relaxamento) Que bonitinho, né?! Muitomeigos eles, bonitinhos. Quantos! São bonitinhos, só que eu vou ter que pegarneles? Vou ter que pôr eles na mão?Vênus: Aahh, isss! (tirou os olhos dos animais baixando a cabeça, com a mãona testa, então com a cabeça ainda baixada olhou em direção aos animais,num soslaio, em seguida aproximou-se da caixa contendo os animais sentou-sena ca<strong>de</strong>ira próxima a eles porém, mantendo o corpo retesado para trás, pôs amão na boca, em concha. Sempre mantendo contato visual como que parasaciar a curiosida<strong>de</strong> em olhar aquele animal estranho) Em seguida porém,disse: Tô com nojo. Muito Nojo!Diana: (Ficou olhando, inclinou-se na direção da caixa que continha os animaismantendo uma certa distância, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um tempo foi ficando com a pele dorosto vermelha e com um sorriso nervoso perguntou): Éhh, eu pre, preciso pegarou não?Atena: (No momento em que viu os animais, imediatamente fez um bico e foi seafastando dos animais, mantendo o bico virou o rosto lentamente em direção àspesquisadoras e sorrindo perguntou Preciso chegar perto?


Minerva: Ai. É pra ir até lá? Então se aproximando dos animais disse: É, naverda<strong>de</strong> não é um animal, eu particularmente não pego na mão. Por mais que euesteja ciente que ele seja limpo. É <strong>de</strong> biotério. Mas isso não é aquele escargot queo pessoal come, é?!2 – Seqüência interacional: reações verbais e não verbais e disposição aotoque - buscou-se verificar, após o primeiro contato, como os participantes<strong>de</strong>ram continuida<strong>de</strong> à interação com o animal e quais emoções ficaramevi<strong>de</strong>nciadas e quais <strong>de</strong>les se dispuseram a tocar o animal. A maioria dosparticipantes <strong>de</strong>monstrou nojo em consonância com a expressão física e verbal<strong>de</strong>ssa emoção. Alguns se arriscaram a um contato mais próximo mas todos, aolongo <strong>de</strong> suas falas evi<strong>de</strong>nciam seus sentimentos e é possível perceber comofatos <strong>de</strong> suas vidas ou formas particulares <strong>de</strong> estabelecer relação com “umoutro” vão sendo manifestadas. No entanto, ficou evi<strong>de</strong>nte que todos tentarammanter o controle sobre possíveis experiências <strong>de</strong> insegurança, indignação,raiva, frustração, curiosida<strong>de</strong>, racionalização, evitação, fuga por regressão emedo <strong>de</strong> rejeição.Netuno: (Pegou o animal e colocou-o sobre o dorso da mão, tendo contato coma parte mole) Eu posso manuseá-los? É...é...é...não há dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong>les saíremda pele, nada? Bom o primeiro sentimento que eu tive foi <strong>de</strong> algum foi <strong>de</strong> algumreceio, uma espécie <strong>de</strong> medo..é o novo!... por causa <strong>de</strong> um certo medo, mas eusenti o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aproximar-me <strong>de</strong>les, e ainda (.....) ....então colocando alguns<strong>de</strong>sses seres em contato com a minha pele, agente percebe que ele se recolhe....é....que há uma certa esquiva... ele.....<strong>de</strong> alguma maneira eu me senti assimtambém em contato com esses seres no primeiro momento vou ou não vou! <strong>de</strong>alguma maneira parece que esses serzinhos aqui representavam a mim... ... elesforam se sentindo mais à vonta<strong>de</strong>... ... foram se....saindo do seu espaço semostrando como são... ...pra....relacionar-se com esses seres, esse sujeitos fazagente mudar um pouco da...da nossa maneira <strong>de</strong>....<strong>de</strong> se sentir, há alteraçãona...nos nossos sentidos... ...que inicialmente era um sentimento assim <strong>de</strong>...certaprecaução <strong>de</strong> distanciamento a partir <strong>de</strong>...quando agente se aproxima agenteinterage é....tem sido essa sensação <strong>de</strong> que não tem porque ter receio, ter temorque a experiência po<strong>de</strong> ser boa, agradável, esse é um sentimento gostoso nessemomento, agradável a ambos. (O participante verbalizava todo o tempo paracertificar-se <strong>de</strong> que o animal não lhe ofereceria qualquer risco ao entrar emcontato físico com ele, apresentava um sorriso constante e uma certa agitação,entretanto após ter suas perguntas respondidas pegou o animal sem qualquer


cerimônia e colocou-o sobre sua mão esquerda e com a mão direita ficoumanipulando outros animais, testando a “resistência” ao puxá-los da superfícieda tampa. Ficou por longo tempo em silêncio nessa contemplação.)Dionísio: (Aproximou-se da caixa contendo os animais ficando com as mãospara traz e esfregando os <strong>de</strong>dos na palma da mesma mão, a expressão facialera <strong>de</strong> nojo intenso e ansieda<strong>de</strong>. Pegou o animal e colocou-o sobre a palma damão, tendo contato com sua parte mole) É comestível? Come isso aqui? Não no<strong>Brasil</strong>?! No <strong>Brasil</strong> come isso aqui? Qual classe social come isso aqui? Fico curiosopra pega, mas... ...Pronto? ...Mor<strong>de</strong>? ...não mor<strong>de</strong>? ... Ai que susto! (risos) ... Fezum barulheiro. Já <strong>de</strong>u pra passar alguma coisa né? ... Mas no começo dava asensação <strong>de</strong> nojo mesmo né? ... A gente vai per<strong>de</strong>ndo o medo né? ... Com nojoenten<strong>de</strong>u? ... Depois eu vi que é... uma espécie bem dócil viu? Bem... sabe... dáaté pra cultivar em casa. [...] De, <strong>de</strong> nojo mesmo né? ... Uma coisa bem dócil né?Uma coisa bem, bem sensível ou <strong>de</strong>licada né? São esses dois, né? Que eu meexpressei mais, né? Medo! Eu só tive medo só <strong>de</strong>, <strong>de</strong>, <strong>de</strong>, pegar e puxar, entãomedo <strong>de</strong> alguma maneira <strong>de</strong>, <strong>de</strong> machucar ele enten<strong>de</strong>u? De... soltar do casco é...arrebentar ele enten<strong>de</strong>u? Mas eles têm uma boa elasticida<strong>de</strong> né? Agente ficameio retraído [...]Você grudou <strong>de</strong> propósito né? Isso no começo é... soltinho é...mas quando eles se juntam... mais quando vier uma quantida<strong>de</strong> coletiva ai... damais nojo ainda. Expressar isso...por que eles ficam ali parado! Parecem morto!Eles estão morto ali, tão...não? Ta tudo vivo? (Dionísio reluta, tira a mãoesquerda que estava atrás em suas costas e leva em direção aos animais,esfrega os <strong>de</strong>dos na palma da mesma mão como se estivesse com aflição,permanece com a mão direita nas costas. Finalmente pega um dos animais queestava na tampa da caixa, olha-o por baixo (ventralmente) em seguida coloca oanimal <strong>de</strong>ntro da caixa. Durante a manipulação a expressão <strong>de</strong> nojo seintensifica em sua face.)Ceres: (Não pegou o animal na mão. Somente toca em sua concha) [...]Eu nãome sinto à vonta<strong>de</strong> pra pegá-los por que é mais a questão assim <strong>de</strong> não quererinterferir na, no “estar” <strong>de</strong>les, assim só pegar pra que? Só pra sentir, já já... nãosei, eu não tenho essa, essa necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>, <strong>de</strong> ter esse contato com eles não épor nojo, não é por nada, é que... é mais por eles mesmo! Se tá assim <strong>de</strong> repentealguém te arranca assim, te pega, pra sentir você, né? Tem varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>espécie? Essa coisa <strong>de</strong> mexer neles é mais, eu não gosto muito <strong>de</strong>ssa relaçãoassim que agente acaba manipulando os animais com uma espécie <strong>de</strong>, sentindomesmo... “há! Eu pego! Eu... né” Eu não sei, eu... é claro que se fosse um gatinhonossa! Já tava trepado aqui (risos) mas por que é outro tipo <strong>de</strong> interação né? ...Animal que se move lentamente....Deixa eu... mas não vou por a mão po<strong>de</strong>assustar, eu não sei como eles sentem né?... ... eu não vou por a mão a partemolinha <strong>de</strong>les... ... , por que eu não tenho conhecimento, se eu tivesse lidoalguma coisa sobre isso (risos) as sensações <strong>de</strong> scargot, mas...como eles... né?Expressam <strong>de</strong> um jeito muito diferente, eu não tenho contato, então eu não quero


manipulá-los, mas eu gosto muito, gostei muito acho muito “fofos”, e acho quealguns <strong>de</strong>les ficam me ouvindo aqui, por que eles tiram a “antenona” pra fora.(Ceres fica com o corpo encurvado para frente para po<strong>de</strong>r enxergar osanimaizinhos mais <strong>de</strong> perto e emitindo sons <strong>de</strong> júbilo como quem fala com umbebê, então toca nos animais fazendo carinho com o <strong>de</strong>do indicador da mãoesquerda enquanto a mão direita permanece entre suas pernas.)Horus: (Se aproxima da caixa e olhando para as pesquisadoras começa agesticular com as mãos e a questionar. Pegou o animal apenas pela concha.Não o colocou na mão) [...] É... eu acho que não entendi tudo. Assim, eu tenhoque pegar o bicho e fazer o quê? E se eu quiser perguntar alguma coisa? Ah, nofinal? Vou mexer nele aqui, ver se me... se eu falo alguma coisa vendo ele. Vocêstamparam aqui porque os mosquitos ficam pousando neles? E ele vem aquigrudado? Ah, pra mim não... você quer que eu fale alguma coisa sobre... ? O queme vem na cabeça... alguma coisa assim? O que que me <strong>de</strong>sperta?” (Em seguidatoca nos animais e permanece assim por longo tempo)... “Toda vez que eu vejoum animal, principalmente assim, é... eu tenho uma me vem uma coisa, assim,<strong>de</strong> que eu não <strong>de</strong>vo... não <strong>de</strong>vo mexer com ele [...] o animal não quer serincomodado. Um bicho... tudo bem, ele não, sei lá... ele transmite uma coisameio... <strong>de</strong> ser meio... sei lá... gosmento, assim. [...] É um bichinho curioso sim. Eugosto bastante... eu gosto <strong>de</strong> animais... Eu sou curioso com relação à vida doanimal, assim. A forma como eles se relacionam... Ele chega a sair totalmente<strong>de</strong>sse... <strong>de</strong>sse casco ou ele tem... ele é preso? Uma parte <strong>de</strong>le é presa? Uma parte<strong>de</strong>le é presa, né? E ela só vai crescendo? Mas nunca se <strong>de</strong>staca <strong>de</strong>le? Legal. Eusou meio fascinado, assim, pela natureza. Por incrível que pareça essa concha<strong>de</strong>le tem uma relação matemática precisa. Vocês tinham ouvido falar nisso? É onúmero <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong>. É uma progressão geométrica que vai, que vai... que elaexplica esse aumento... na natureza tem muita coisa disso. Apesar <strong>de</strong> pareceruma coisa meio aleatória, meio caótica... mas interessante. [...]A sucção <strong>de</strong>le...qual que é a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sse bicho? Fora a casca? Legal! Nunca tinha tido umcontato, assim, diretamente. Mais alguma coisa? Preciso falar mais? Fazer mais?Por mim não. Sei lá. Não tenho muito mais o que dizer ou fazer. Sei lá!Zeus: (Pegou o animal e o colocou no dorso da mão, não tendo coragem <strong>de</strong>colocá-lo na palma) [...]Ai meu Deus. Hahaha! Vou sentar. Ai eu nunca estive <strong>de</strong>frente com um <strong>de</strong>sses. Ai eu tenho que... Como que eu vou interagir? Com umanimalzinho <strong>de</strong>sses? Na verda<strong>de</strong>, eu já... já tinha visto assim, mas não <strong>de</strong> perto.A gente nem presta muita atenção. Que monte! E aí? O que que eu posso fazer?Não, não. Eu prefiro não pegar, porque senão po<strong>de</strong> machucar. Não, não a mim,mas sei lá. Parece tão sensível. Meu Deus. Não, mas ele... Ah, não sei. Não émelado? Tem muco, né? Eu não quero. Tem outro comendo aqui. Eu to em dúvida.Eu acho que eu vou pegar, eu acho. Como que pega? Pela casca <strong>de</strong>le?...Não, não,eu prefiro não pegar, porque po<strong>de</strong> machucar (o bicho). Ai, e agora? Esse fechoutodo em baixo! Ele vai ficar <strong>de</strong>itado se eu pôr ele assim. Parece que estãodormindo aqui. Dormiu. Não, não. Aqui, esse aqui. Psiu, psiu, psiu... psiu, psiu,psiu...está um <strong>de</strong>baixo do outro. ...Sai da mão <strong>de</strong>pois essa gosma? Ele não é


oleoso não, né? E se ele colar <strong>de</strong>pois ele <strong>de</strong>sgruda? Da mão ele <strong>de</strong>sgruda fácil?Ele vai ficar gosmando na minha mão? Ai! Não tenho coragem, não... não tenhocoragem <strong>de</strong> pôr na mão. Eu queria, tenho vonta<strong>de</strong>, mas eu tenho medo. Medonão, né? Nojo! É gelado? Tem que pôr? ...Mas eu quero pôr. Pôr...ai...eeeee...agora ta bom. Eu não vou <strong>de</strong>ixar ele se abrir em mim não. Eu tenho acho que nojo<strong>de</strong> ele se abrir e grudar assim, como se fosse uma chupetinha, sabe? Ele<strong>de</strong>sgruda fácil da mão, né? Qualquer coisa vocês tiram, ta? Ele não chupa não.Né? Ai, ele não vai me chupar não, vai? Eu não acredito que eu estou com umnegócio <strong>de</strong>sse na minha mão. Ai! Ele está colocando a boca em mim! Ele não vaime chupar não, né Márcia? ...Ai, meu Deus! Ele está colocando a boca em mim!Ele está colocando...ai, ele está colocando a boca em mim! Colocando a boca emmim? O que que ele está fazendo? Ah, não. Pelo amor <strong>de</strong> Deus... Meu Deus, euacho que ele está me chupando, Márcia. Você me falou que ele não chupava.Márcia, eu acho que ele ta me chupando sim! Olha, ele está se escorregando! Taescorregando a boca inteirinha em mim. Ah não, agora eu vou tirar. Psiu. Levantaa cabeça... levanta a cabeça! Levanta a cabeça! Ai, todos eles ficam com a bocaassim? Ai, meu Deus... gelado. Eu acho que ele está me chupando! Meu Deus! Ai,mas ele não vai querer sair daqui, não. Ai, mas... como que eu tiro? Só dá medoque ele chupa. Mas a gosma <strong>de</strong>le não é nojenta, não. Parece que... água comsabão. Não vai machucar, né? Porque dá impressão que vai puxar essa cascaaqui e vai... Ele vai tentar se pren<strong>de</strong>r e vai machucar ele. Ele não quer seencolher mais. Será que ele se acostumou? Ao toque, pra se encolher? Ai, ele tamuito gran<strong>de</strong> na minha mão. Ele não estava <strong>de</strong>sse tamanho. Ai... Agora, essesgran<strong>de</strong>s ali não dá coragem não. O que que é isso aqui? É cocô? Ou é? É cocô<strong>de</strong>les? Nossa! Quer que eu pegue um gran<strong>de</strong> agora? Psiu, psiu. Uh... [...]Ai, esseaqui eu não tenho coragem não. Ele é muito gran<strong>de</strong> pra pôr na minha mão. Nãodá medo. Dá aflição <strong>de</strong> ficar grudado. Escargot. Ai, que chique, escargot. Não faznada mesmo, né gente? Gente, eu não acredito que to com um negócio <strong>de</strong>sses naminha mão. Ai não é nojento não, né? É que eu não conhecia, eu acho. Depoisque pega... Dá até pra pegar dois agora, né?. Psiu, psiu psiu... psiu, psiu, psiu...Vai, vai, pra <strong>de</strong>ntro... psiu, psiu, psiu... Meu Deus! Não machucou não, né? Nãomachucou, tem certeza? Ah, meu Deus, tadinho! Que susto. Já pensou se ele caimesmo? Ia machucar! Deixa eu pôr ele aqui. Pronto. Já está ótimo. Olha, ele estáprocurando agora... Ta me olhando <strong>de</strong> novo... pronto, pronto... passou, passou osusto. Então, <strong>de</strong> começo foi apavorante, né? Porque logo... lesma, assim... eununca tinha... tinha estória já, né? Que a gente achava que... mas <strong>de</strong>pois que agente entra em contato, vai passado. Pelo menos comigo... foi passando e perdi.Acho que agora se fosse pra pegar qualquer um outro, eu pegaria. Normal. Nãotenho mais receio algum. Não tenho... ah, não faz nada. Só assim... ele <strong>de</strong>u umachupada... uma sensação que ele vai chupar, assim, a pele... a minha pele. Mascoloquei até na mão. Imagina. Eu pensei que nem ia conseguir. Eu não vou pegaresse aqui não, que esse aqui eu tenho nojo. Mas eu coloquei na mão. Imagina queeu ia conseguir colocar na mão. Nunca! (Participante ao ver os animais mudou<strong>de</strong> lado na sala, estava com os braços cruzados, em seguida esfregou a mãoesquerda no ombro direito, <strong>de</strong>monstrando aflição, enquanto fazia as perguntasfoi mudando <strong>de</strong> lugar, ouve uma mudança no tom <strong>de</strong> voz assumindo um tom


mais agudo e sua gesticulação era, prevalentemente, <strong>de</strong> tipo caracterizado comofeminino a qual permaneceu até o final do experimento. As mãos ficaram porlongo tempo entre as pernas e, quando começou a manipular os animais, apóstitubear bastante, o fez com a mão direita, mantendo a esquerda bem firmeentre as pernas.)Apolo: (Aproximou-se da caixa colocando as duas mãos nas bordas, olhandopara baixo em direção aos animais após um tempo observando os animaiscomeçou a tamborilar a borda da caixa com a mão esquerda, encurvou-se umpouco mais em direção aos animais, em seguida retornou a postura anterior,<strong>de</strong>monstrando uma certa impaciência/<strong>de</strong>sconforto. Pegou o animal apenas pelaconcha. Não o colocou na mão) [...] Não tenho nojo. Não tenho nojo, não tenhoasco, não tenho dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação com ele. [...]Ele já é todo câmera lenta etal... pra ver se fica mais a sensação <strong>de</strong>... <strong>de</strong> que ele precisa <strong>de</strong> proteção do que...Não precisa fugir <strong>de</strong>le. Ele é <strong>de</strong>vagar. Eu acho que são bichinhos muito frágeis.Dá mais a sensação <strong>de</strong> querer empurrá-los porque ele anda muito <strong>de</strong>vagar doque <strong>de</strong>ixar assim. Largar. Eles são mais, assim, passiveis <strong>de</strong> proteção do que <strong>de</strong>agressão. Essa... essa associação que eu faço [...] Ele não vai pegar a gente.Não é ofensivo. Não tem garras, não tem chifres, aquelas armas <strong>de</strong> predador... e<strong>de</strong>monstra mais fragilida<strong>de</strong>. Estão bem arrumadinhos aqui, bem quentinhos.Acho que é isso aí. Precisava conhecê-los melhor. [...] eu vejo mais como umamiguinho do que como um... um brinquedo do que como um prato <strong>de</strong> comida. (Notranscorrer da narrativa os movimentos da mão direita foram aumentando,eventualmente movimentava também a esquerda como que para reforçar aexplicação. O contato físico com o animal ocorreu somente muito tempo <strong>de</strong>poisdo início do experimento.)Cori: (Ficou em pé, levemente inclinada em direção aos animais, corpo bempróximo à caixa, com a mão esquerda na cintura e a direita apoiada na bordada caixa.) Eu nunca tinha visto assim, <strong>de</strong> perto. (Em seguida toca nos animaisque estão <strong>de</strong>ntro da caixa. Pegou vários animais somente pela concha) [...] Bom,igualzinho, assim, eu nunca tinha visto mesmo. Como que chama? Escargot. Ébonito pra ver, mas pra comer não. Uma judiação. Bem bonito. É, eu gostei <strong>de</strong> verassim <strong>de</strong> perto. Você me falou algo assim que... eu tivesse alguma lembrança...algum outro animal também? Eu achei bonito. Da impressão que se eu for pegaresses que estão pra fora, que vai... <strong>de</strong>sgrudar daqui, enten<strong>de</strong>u? É, mas elesestão grudados aqui, né? Daí se eu pegar parece que dá impressão que ele vai...vai pressionar aqui em baixo. Dá impressão que vai machucar. A impressão é queele está grudado. É melhor não pegar não. Nossa, parece que ele gruda mesmo,né? Dá receio em puxar. Eu gosto <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> animalzinho. Eu gostomesmo. Tem pessoas que têm preferência por cachorro <strong>de</strong> raça, pedigree... Eugosto <strong>de</strong>... <strong>de</strong> qualquer um! eu nunca tinha visto <strong>de</strong> perto. Nunca tinha pegadocomo eu peguei. Acho até que invadi um pouco, né? Porque ele está ali quietinho evem alguém e pega o... mas eu achei interessante. Gostei. Muito legal. Não fiqueichocada <strong>de</strong> ter visto. Porque eu imaginava até um bichinho <strong>de</strong> pêlo, sabe? ... Eunão gostaria <strong>de</strong> ser assim (como o escargot)


Vulcano: (Aproximou-se dos animais, <strong>de</strong>bruçou-se totalmente sobre a caixacontendo os animais, apoiando a mão esquerda na pare<strong>de</strong> à sua frente e com amão direita começou imediatamente a manipulá-los, no entanto só os pegoupela concha não colocando sobre a mão) [...] É esse daqui que come? (Mudou <strong>de</strong>posição ficando agora <strong>de</strong> frente para a mesa contendo os animais, continuouora manipulando, ora observando os bichos. Então sentou-se na ca<strong>de</strong>ira, aindamanipulando-os. Virou a tampa da caixa, on<strong>de</strong> havia um animal como sequisesse vê-lo melhor. Em seguida parou <strong>de</strong> mexer neles e, ficou somenteobservando em silêncio. Com uma expressão <strong>de</strong> nojo e ao mesmo temporesignação disse) Eles são muito nojento! (Então volta a tocar nos animaisdizendo) Acho muito estranho comer isso aqui, esse tipo <strong>de</strong> bicho assim. Achavaque ia sê um rato ou outro bicho...Estranho (puxou a ban<strong>de</strong>ja para perto <strong>de</strong> si).Quando olhei a caixa assim, eu falei, pensei, né? Que ia ser outro tipo <strong>de</strong> bicho,assim, né? Pronto! Mais alguma coisa? Acho que ta bom! (pegou um papel toalhae começou a limpar as mãos) Tô com nojo! Tô com nojo! Esses tão grudado.(começou a tirar alguns escargots da tampa e em seguida fechou a caixa)Chega! Ah, “mor” estranho! Dá um sensação estranha mexer com um bicho<strong>de</strong>sses. Não tinha pego na mão. Eu gosto muito <strong>de</strong> animal. [...]Até bicho tem umlado afetivo assim... Não que nem nós. Não sei se um bicho tem afetivida<strong>de</strong> ounão, mas muito interessante [...] o cachorro, que é o bicho que eu gosto mais sepo<strong>de</strong> dar o maior esporro no cachorro ele ta do seu lado... animal é, é instinto... ...A gente que põe é, é... nossa cultura nele, é pet shop, num sei quê, cachorropassa com psicólogo (rsrsrs) acho tão, estranho, gozado. To dizendo assim, talvezanimal não tem assim é, ... uma afetivida<strong>de</strong>, acho que talvez nossa, minhamaneira <strong>de</strong> enten<strong>de</strong> é que assim, no fundo o que se tem com o animal é afetivo,querendo ou não, que acho que afetivida<strong>de</strong>, não é só pá, assim pra cruza a portado sentimento humano, <strong>de</strong> carinho, atenção, afetivida<strong>de</strong> também po<strong>de</strong> sê umsentimento pra <strong>de</strong>struí algo, pra sei lá, <strong>de</strong>tona com alguma coisa, né? Acho que éisso... mas ó, eu não esperava que tinha uma penca <strong>de</strong> caramujo aqui (risos).Achei nojento assim. Achei que ia ter um hamister aqui. (Após Vulcano fechar acaixa no início do experimento, ele cruzou as pernas, continuou seu relato enão mais abriu a caixa até o final.)Ártemis: (Se aproximou da caixa olhando para o animais, inicalmente em tocálos.Depois pega um dos animais e coloca-o na palma da mão) [...] Muito meigoseles. Bonitinhos! Quantos? São bonitinhos, só que eu vou ter que pegar neles.Vou ter que pôr eles na mão? Uhum. Vou pegar, eu acho. Eles são bonitos, lindos.Mas eu acho que eu tenho um pouquinho <strong>de</strong> nojo, assim, sei lá. Ai, ele égru<strong>de</strong>nto. Ele não solta. Olha, as anteninhas aumentam. Por que que ele taassim? Ta com medo? Acho que eu vou pegar um menorzinho pra eu tentar pôrna mão. Gelado.Dá uma sensação, assim, fresquinha na mão, meio gosmenta.Acho que eu prefiro pegar um maior. Peraí. Eu gostei <strong>de</strong> pegar nele. Ai! Nossa,olha aqui, tadinho. Ele <strong>de</strong>ve ter ficado morrendo <strong>de</strong> medo. Deve estar um


pouquinho assustado também, que eu <strong>de</strong>rrubei ele. Haha. Mas é bonitinho.Quando ele se sentir mais à vonta<strong>de</strong> ele vai abrir e vai ficar igual ao que ele tavana caixa, na minha mão? Vai? Quem sabe eu não consigo transmitir pra ele queeu não to mais com nojo <strong>de</strong>le e com medo? Ai, agora eu to sentindo ele mexer.Esse aqui é mais nojentinho. Esses que eu coloquei aqui eles já se abriram. Sesentiram mais seguros no plástico. Do que na minha mão. Não comeria. Sãobonitinhos também, como eu já disse. Bem exóticos, lindos. Mas não comeria. Euachei meio assim, que eu não ia pegar, mas peguei e eu acho que é uma coisabem... parece lesma. Bem maravilhoso, super exótico, afrodisíaco. Digamos, né?Hahaha. É um negócio diferente. É muito lindo. Mas não... Olha que lindo ver elese movimentar. Bem lento. Mais escorregando, né? Mas eu acho bonitinhos elesali, né? Acho que do jeitinho que eles estão ta na natureza. Não faria nada comeles não. Deixaria eles quietinhos. Só isso. nunca imaginei pegar um negocio<strong>de</strong>sse. Nunca. Sou meio nojenta pra essas coisas. Não, não foi ruim. No começoeu tava com um pouquinho <strong>de</strong>... acho que <strong>de</strong> aversão <strong>de</strong> colocar na mão e sentiraquele negócio. Né, mas peguei um menor primeiro [...] do menor pro maior. Ahora que eu peguei e coloquei ele na mão foi tudo normal. A única sensação queeu tive foi dum gelo, assim, geladinho, úmido, né? Um negócio úmido, mas nemme <strong>de</strong>u nojo. A hora que eu coloquei ele na mão também não me <strong>de</strong>u, assim. Foimais a primeira vista em pensar que eu tinha que pegar ele. Que eu <strong>de</strong>veriapegar ele, né? Não é que eu teria que pegar, mas... foi essa. Só essa. Uma coisameio estranha, mas legal. [...] Haha. É, eles são bonitos, assim, todosexuberantes, né? Essas anteninhas quando eles vão... que nem você falou quequando a anteninha está pra fora é porque ele já não está mais com medo, né?Com as anteninhas em pés... esse corpo mole. Hahaha. Não sei não. Por issoque... que parece afrodisíaco. É exuberante. É bonito. É uma coisa bonita.Exótica. É bonita. Ver esse corpinho saindo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, assim, se movimentando,<strong>de</strong>vagarinho. É legal. Me veio na memória chocolate. Mas mesmo vindo namemória chocolate eu não comeria ele não. Hahaha. Eu não... só a... como quechama? A conchinha, né? Só a conchinha. A conchinha é linda. A cor, essemarrom, uma cor que eu gosto também. Que mais? Já te falei porque que eu achoele exótico e afrodisíaco. Hahaha. Mas ele é sim. Não, parece que ele transmitepaz, parece, né? Por causa dos movimentos <strong>de</strong>le, assim. Bem lento, né? Não éaquela coisa agitada, que... Mostra o quanto que a natureza é bela, né? Porque...eu achei ele... ele é bonito, ele é super lindo, né? Acho que é só isso. Acabou?Agora acabou mesmo. Hahaha” (Em seguida pega um dos animais na mão pelaconcha, com os <strong>de</strong>dos em pinça, olha-o por todos os ângulos, a boca mostra-secontraída, bem como os músculos do pescoço, indicando nojo.)Vênus: Aahh, isss! (tirou os olhos dos animais baixando a cabeça, com a mãona testa, então com a cabeça ainda baixada olhou em direção aos animais,num soslaio, em seguida aproximou-se da caixa contendo os animais sentou-sena ca<strong>de</strong>ira próxima à eles porém, mantendo o corpo retesado para trás, pôs amão na boca, em concha. Sempre mantendo contato visual como que parasaciar a curiosida<strong>de</strong> em olhar aquele animal. Não teve contato físico com eles)[...] Tô com nojo. Muito Nojo! Eu tenho nojo. Eu tenho nojo. Ai gente. Falo nojo <strong>de</strong>


novo. [...] Eu to com muito nojo. Hahaa. Quero ir no banheiro. Não, to brincando.Ah assim, me arrepio. Aquele negócio daquelas anteninhas mexendo. Daquelascoisas melecadas, espalhadas... que eles espalham assim né? Aquilo frio... ele éfrio né? Sei lá. Só isso. Eu imaginava qualquer animal menos esse. Hahaha. Aténuma cobra eu pensei. É bem light mesmo. (Ficou o tempo todo <strong>de</strong> lado olhandopara os animais por cima do ombro esquerdo. Depois <strong>de</strong> um tempo afastou aca<strong>de</strong>ira para distanciar-se dos animais e não mais olhando para eles colocou asduas mãos sobre os joelhos e numa expressão <strong>de</strong> alívio disse) Não sinto maisnada, viu gente?! (E abriu um sorriso. Vênus não tocou nos animais emnenhum momento, permanecendo até o fim com a boca contraída, engolindo asaliva, os canto da boca contraídos para baixo, em franca expressão <strong>de</strong> nojo.)Ai. Ta me filmando... Ah assim, me arrepio. Não tenho medo. Acho que tenhomais nojo disso do que <strong>de</strong> barata. Pra mim é. Não gosto não. Hahaha. Você querme olhar assim é isso? Por isso que eu to sendo filmada? Pra mim já era. Não.Não me vem mais nada assim. Infelizmente é só isso mesmo. Só o nojo. Nãoassim, por mim né? Porque eu sinto nojo. Eu não queria ter isso. Porque não temnada a ver né? Um animalzinho dócil. Uma coisinha tão... não sei.. eu acho tãonojento. (Após a entrevista ser dada por encerrada, e parar a filmagem, Vênusfez um longo relato sobre seus problemas familiares relacionados a drogadiçãodo irmão adotivo, o qual se encontra preso, problemas com o marido que tentasuperar vício em jogo, problemas financeiros, insatisfação com a terapeuta quelhe sugeriu que esquecesse o irmão, a cardiopatia do pai <strong>de</strong>vido a preocupaçãocom o filho <strong>de</strong>tido e ainda a preocupação com a filha pequena <strong>de</strong>vido aosproblemas enfrentados. Durante todo esse relato Vênus chorou muito e falavacom indignação por toda essa situação)Diana: (Sentou-se na ca<strong>de</strong>ira com as mãos entre as pernas e esfregando-as esorrindo nervosamente. Pegou apenas pela concha. Não o colocou na mão)[...]Eu pensei que eles iam ficar aí <strong>de</strong>ntro. Eles estão grudadinhos aqui. Eu nãotenho coragem <strong>de</strong> pegar, Márcia. Hahaha. Eu não tenho, porque eu tenho nojo.Mas eu particularmente, eu não... é só o contato visual mesmo... porque eu nãoconsigo. Hahah. Não consigo pegar. Não consigo assim, nem pra sentir ele. Eunão tenho coragem assim nem pra sentir a casquinha <strong>de</strong>le em cima. Então euacho que a repugnância é maior. Eu não consigo não. Pra ver até que textura tema casquinha em cima. Que seria o máximo que eu conseguiria pegar. Mas jamaistocar na parte <strong>de</strong> baixo. Que é ele em si. Talvez por assimilar uma lesma, por sernojento alguma coisa assim, mas eu não consigo ter contato com a carcaça. Coma carcaça em si talvez, mas ela sozinha, mas do jeito que ela está aí não [...]Éum bicho que eu po<strong>de</strong>ria ter contato, pegar, mas eu não consigo. No máximo baterassim bem <strong>de</strong> levinho na casquinha para ver a reação <strong>de</strong>le, né. Por ser umanimal assim que por ter um experimento eu não sei como as pessoastrabalhariam, esse não seria um que eu teria habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> pegar paramanusear, alguma coisa assim. Hum, eu não teria essa habilida<strong>de</strong>. Eles fazem omovimento e o barulho do que eu imagino que possa acontecer se eu pegar, quevai melecar minha mão. Que ele é muito molengo. Mas eu não tenho coragemnão. Vocês querem que eu pergunte alguma coisa ou eu fico em silencio mesmo?


A princípio ansieda<strong>de</strong>, assim eu não imaginava o que seria. Eu imaginava queseria realmente, eu tinha certeza assim que seria um animal que eu po<strong>de</strong>ria terum contato físico. Acho que foi o nojo que me distanciou totalmente, então eunão... não tenho coragem, não tenho força para tocar eles. Agora, a emoção forteassim foi <strong>de</strong> nojo, tanto que a minha salivação já ta assim em abundância. Nãosei se fosse preciso pegar eles ou po<strong>de</strong> ver na caixinha eu não ia conseguir não.Talvez eu até pegasse... A carcaça é a única coisa assim que me protege, paratentar pegar. Que eu não tenho tanto nojo, mas o restante <strong>de</strong> jeito nenhum. Nãopego não. Só tendo nojo mesmo. Até aqui ta doendo. Hahaha... Mas <strong>de</strong> emoçãomesmo, a única coisa que eu senti foi que o batimento cardíaco alterou... Não seise <strong>de</strong>pois da expectativa isso também não se estabilizou um pouco. . A únicacoisa que impe<strong>de</strong> <strong>de</strong> eu chegar nele, é que eu vejo que ele é mole e que vai <strong>de</strong>ixarmarca na minha mão, ele é molengo. A única coisa tenho nojo, mas não temnenhum forma, não tem nada <strong>de</strong> ofensivo. Ele é todo no seu, quietinho. Mas eunão tenho coragem, por qualquer coisa <strong>de</strong>le... Eu tenho nojo do que po<strong>de</strong> tocar emmim e marcar, mesmo que eu saiba que eu vou lavar a mão na saída, mas eutenho essa repugnância <strong>de</strong> que essa parte mole encoste em mim. Eu tinha atécuriosida<strong>de</strong> para saber como que ele é <strong>de</strong> baixo, mas eu não tenho coragem <strong>de</strong>pegar. Vocês estão grudados. Não machuca não, né? Eu não posso matar elesfazendo isso, né? Ai. Acho que eu não comeria não. Piorou quando eu olhei embaixo. Pensei que eu ia ter menos aversão. Não tive. Agora esse, como a gentenão tem contato... Se eu tivesse comido já seria diferente. Agora, não seria fácilpara mim ter que fazer um experimento, trabalhar diariamente com um bichinho<strong>de</strong>sse. Acho que vai evoluindo, né? Quando a gente vai ficando mais tempo vaitendo coragem <strong>de</strong> fazer certas coisas só para experimentar. Mas quando eu pegoeu tenho nojo. Quando eu toco eu tenho nojo. De longe até vai, mas na hora queeu crio essa coragem <strong>de</strong> ir pegar ele, <strong>de</strong>pois eu fico com nojo. Pegar esse que émenorzinho. Aii, meu Deus!!!! Parece um peixinho!!!! Não é feio, né? Só é muita<strong>de</strong> meleca. Ta vendo, agora se fosse preciso guardar tudo na caixinha euguardaria. Quer que eu guar<strong>de</strong>? Agora eu tenho coragem. Água para beber.Quando eles sentem se<strong>de</strong> eles vão lá e tomam. Eu só estou conseguindo fazerisso, porque eu fui criando coragem. Mas eu não me imaginei fazendo. Se me<strong>de</strong>ssem pouco tempo... Assim como com as coisas que eu tive que comer paraexperimentar. De primeira não. Tive que ver direito. Não sei se eu vou conseguirpegar todos. Aqui não dá para brincar, né? Não dá para medir o quanto eu estousendo agradável com eles, né? Dói no meu peito <strong>de</strong> nojo, mas eu faço sabia? Dóino meu peito <strong>de</strong> tanto nojo, mas eu faço [...] Que nem agora. Se precisasse... etivesse sozinha eu teria que agir. Mesmo com nojo, medo. Porque não é umbichinho bonitinho. Eu não conheço muito sobre ele, então eu não sei se as coisasque a gente faz lhe agrada...ou ele tem medo. Agora essa imagem vai ficarmarcada. Ainda mais pela... coragem <strong>de</strong> eu ter pego eles. Acho que eu já superei.Ah, mas eu já fiz bastante coisa. Eu achei que meu contato seria só visual. Minhaansieda<strong>de</strong> já passou. No início assim, a repugnância por ser feio, ser nojento, elavai passando com o tempo. Eu já não tenho mais. Não tenho mais repugnânciapelo nojento e nem é mais tão feio. Só não tenho coragem <strong>de</strong> colocar, <strong>de</strong> tocar naparte mole. As sensações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do experimento até agora é medo,


ansieda<strong>de</strong>, nojo, receio, receio <strong>de</strong> qual bichinho que ia ter. Mesmo pegando nascasquinhas <strong>de</strong>le eu tinha medo <strong>de</strong> que ele <strong>de</strong>sgrudasse e tocasse com a partemolinha no meu <strong>de</strong>do. O que eu tenho mais receio <strong>de</strong> tocar é a parte melecada.Se estivesse caindo e eu tivesse que pegar <strong>de</strong> qualquer jeito eu não ia tercoragem <strong>de</strong> pegar. Vonta<strong>de</strong> eu tenho <strong>de</strong> superação, sabe. De pegar na partemole. Mas, hoje não. Nenhum eu posso tocar agora, porque estão todos grudadose a melequinha ta bem em cima um do outro. Eu po<strong>de</strong>ria ficar horas observandoeles e tocando neles <strong>de</strong> vez em quando. (A medida que o experimento transcorreDiana vai se mostrando cada vez mais nauseabunda, engole constantemente,cantos da boca contraídos para baixo, movimenta-se na ca<strong>de</strong>ira todo o tempo.Após um longo tempo toca com o indicador na concha <strong>de</strong> um dos animais, emseguida pega um <strong>de</strong>les pela concha mas sucumbe ao nojo e recoloca-oimediatamente sobre a tampa.)Atena: (Aproxima-se apenas um pouco da caixa contendo os animais, inclinaselevemente em direção aos animais balançando-se suavemente como queembalando-se, observa-os por um pequeno espaço <strong>de</strong> tempo. Não teve contatofísico com os animais) [...] É só! Só nojo! Não! Me lembram lesmas.(fala isso como rosto franzido e olhando para as pesquisadoras) Só! E me causam nojo.Escargot em si eu não conhecia. Vocês levam e trazem essa caixa todo dia? Nãotem cheiro né? Essas são as fezes <strong>de</strong>les? Que bonitinho. Tão namorando. Haha.Só gente!”Minerva: (Aproxima-se um pouco da caixa contendo os animais porémmantendo uma boa distância <strong>de</strong>les, permanecendo levemente inclinada parafrente com as duas mãos entre as pernas, faz alguns relatos e então diz): É prair até lá? Interessante. É, na verda<strong>de</strong> não é um animal, eu particularmente nãopego na mão. Por mais que eu esteja ciente que ele seja limpo. É <strong>de</strong> biotério[...]Sei da importância <strong>de</strong>les na ca<strong>de</strong>ia alimentar, mas é um bicho que eu respeito.Assim, que eu gosto <strong>de</strong> ficar longe. A principio quando olha assim, dá meio queum... uegh!... mas é interessante o trabalho <strong>de</strong> vocês. Eu até quero saber <strong>de</strong>pois,quero ler... Aqui têm machos e fêmeas?” (Ao saber que os animais sãohermafroditas Minerva diz): Que legal! Mas não se auto-reproduzem? Eles têmque ter um contato com outro animal? Tem um aqui me olhando. Interessante.Quanto aos meus sentimentos, assim. É um animal que eu... que é curioso, até euacho interessante, né? [...]Por mais que você fale que eles não mor<strong>de</strong>m, eu seique eles não saem correndo, mas eu não... <strong>de</strong>ixa eles lá e eu aqui. Não gosto.Interessante... Se eles estão aqui entre nós alguma finalida<strong>de</strong> eu sei que elestêm. Até para o equilíbrio da ca<strong>de</strong>ia alimentar... mas eu não me interesso. É isso.Uma sensação <strong>de</strong> nojo. Eu tenho a sensação <strong>de</strong> nojo. E eles quando andam<strong>de</strong>ixam aquele rastro também ou não? Engraçado quando você vê em algumlugar aquele muco, assim, aquele rastro, você fala assim: Hum, passou essebicho. É isso Márcia. Só achei interessante esse trabalho <strong>de</strong> vocês. Por isso queeu vim. Faço questão <strong>de</strong> ver a apresentação <strong>de</strong> vocês. Acho interessante. Tudo oque é diferente né? A gente ta tão cansado <strong>de</strong> ver... pesquisas são sempre asmesmas todo semestre... tanto que a <strong>de</strong> vocês, quando você brincou aquele dia


comigo que era um experimento com animais, eu brinquei com você porque geracuriosida<strong>de</strong>... acho que tudo que é benéfico pra pesquisa científica eu acho que agente tem que ajudar, compartilhar, incentivar a participar, né? Por isso que eu toaqui.3 – Memórias associadas ao contato – Buscou-se verificar a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong>mobilização <strong>de</strong> conteúdos psicológicos/emocionais conscientes ou nãoimediatamente conscientes dos participantes pelo escargot. A maioria dosparticipantes <strong>de</strong>monstra que o contato foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar memóriasantigas, ligadas à infância ou comportamentos associados a elas. Suas falasinformam não só sobre emoções como medo, admiração ou nojo, mas tambémdão notícias sobre situações <strong>de</strong> violência, conflitos familiares, medo da rejeição<strong>de</strong>ntre outros dinamismos psíquicos.Netuno: [...] essa experiência me remete à isso, algumas situações que noprimeiro momento você...quer distância é... parece que aproximação se mostraarriscada...<strong>de</strong> alguma maneira a confiança em vocês me possibilitou essaaproximação...parece que o melhor seria o distanciamento, à nãoaproximação...<strong>de</strong>pois da...da aproximação agente vê que foi uma situação quevaleu a pena, que eram temores banais que a gente tinha...nesse momento mesinto humil<strong>de</strong> diante <strong>de</strong>sses seres...às vezes eu acho que na própria vida euacabo me posicionando assim, né? Achando que eu sei mais que o outro, nãonecessariamente assim né? Toda pessoa que não teve acesso aos estudos que eutive mas tem uma experiência <strong>de</strong> vida que po<strong>de</strong>ria me ensinar muito mais essesseres acho que são o retrato disso tudo...então, minha relação para com eles,principalmente os que eu tenho nas mãos né? É <strong>de</strong> proporcionar-lhes o bemestar...a emoção que eu tenho...insatisfação que agente tem <strong>de</strong> em se realizarnum encontro com um outro...havia um certo temor...receio, medo né?...agoratranqüilida<strong>de</strong>, esse sentimentos são substituídos por tranqüilida<strong>de</strong>...eles <strong>de</strong>alguma maneira, eles ou elas não sei!...po<strong>de</strong>ria tentar concluir se essaaproximação...se é uma aproximação comum na espécie <strong>de</strong>les...se eles buscammais a aproximação do que o isolamento...Acho que eu disse todos ossentimentos. Essa proximida<strong>de</strong> que eles tiveram para comigo que não querem me<strong>de</strong>ixar mais, se tornaram íntimos.Dionísio: Eu tentei comparar ele com outra espécie que fica no brejo, na águaestagnada, alguma coisa assim. Até que é bem dócil. Dá até pra cultivar emcasa. O que eu tinha pra falar é o sentimento <strong>de</strong> asco, nojo. Mas também é umacoisa bem sensível, <strong>de</strong>licada. Isso é o que eu senti mesmo. Só tive o medo só <strong>de</strong>pegar, puxar. Dá um medo <strong>de</strong> machucar ele. De soltar do casco.


Ceres: Eu tive uma amiga que criou escargot. Ela tinha uma criação. Essa coisado passado. Foi uma criação até meio trágica porque eles foram se reproduzindocom muita rapi<strong>de</strong>z e no final ela não conseguia ven<strong>de</strong>r porque ela achava que iaven<strong>de</strong>r o animalzinho pra culinária mesmo. E ela acabou tendo que dar fim neles,eu nem sei direito o que que ela fez. Também nem me interessei em saber porqueera meio trágico. Falei: Não me conte! Mas ela procurou ser ética e ser bondosacom os animais na medida do possível, mas acabaram criando muitos e elaseparou do marido.[...]Mas eu acho que o impacto essencial pra mim é a beleza<strong>de</strong>les. A sensação que eu tenho em relação a eles é muito boa e comocoincidência não existe, eles são animais muito lentos. E tem um sentimento emrelação a esses animais lentos, como o bicho-preguiça, todo animal que se movelentamente, eu tenho uma afinida<strong>de</strong> com isso porque as coisas na minha vidasão muito lentas [...] Todos os processos pra mim são lentos. Então eu tenho umasimpatia pelos animais que se movem lentamente. Meu pai sempre dizia que“Você tem que fazer as coisas <strong>de</strong>vagarzinho. E eu sempre fui contemplativa.Então eu tenho uma simpatia pelas coisas que se movem <strong>de</strong>vagar. Pelas pedrasque <strong>de</strong>moram muito tempo pra mudar <strong>de</strong> forma na natureza. Eu tenho umaadmiração. É um aspecto da natureza que me atrai muito mais do que a correria,filme <strong>de</strong> ação [...] No meu jardim tinha bastante caracolzinho, e quando chovia,eles saiam <strong>de</strong> bando e eu ainda tinha que tirá-los pra não pisar em cima, porquevocê quebra, achata com eles. E eles eram bem menores e já fazia aquele (ploc)[...] É uma <strong>de</strong>lícia <strong>de</strong> certa forma, pra mim ver coisas que se movem <strong>de</strong>vagar. Eugosto <strong>de</strong>ssa idéia. É por afinida<strong>de</strong> mesmo. Eu sou muito rápida. Eu ando muitorápido. Eu faço muitas coisas muito rápido. De certa forma essa lentidão écontemplatória, não sei explicar. Eu tinha um amigo que falava que os carnívoros<strong>de</strong>veriam colocar os bois no curral e o carnívoro ia lá, pegava o boi, matava o boi,<strong>de</strong>strinchava o boi, pra comer o boi. Porque eu como a carne, mas eu precisosempre abstrair do que é a carne. Se eu penso no que eu estou comendo, eu jáfico triste, eu já não tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> comer [...] Eu sou muito esquisita. Eu seique a vida se alimenta da morte. Então sempre a vida, o que a gente come estávivo e vive na gente, se transforma. Tive galinha já e todas as galinhas quemataram eu não comi nenhuma. O galo quando mataram e quiseram fazer sopa,eu não comi porque eu fazia amiza<strong>de</strong> com os animais. Então essa coisa doanimal é complicado. Eu preferia ser vegetariana. Acho que porque a planta nãogrita só [...] Então é complicado. Não sei qual é essa minha relação com osanimais. É que eu não me sinto, <strong>de</strong> maneira nenhuma, superior ao escargot. Eunão acho que sou um animal superior. Eu acho que sou um animal diferente doescargot. Mas não superior. Então como a vida <strong>de</strong>le é distante da minha, omáximo que eu posso fazer é apren<strong>de</strong>r a conviver com ele.Horus: [...] eu lembro <strong>de</strong> quando eu era pequeno, às vezes, eu ia pra casa daminha avó no interior e aí tinha uns... às vezes lesma mesmo... né? Ou algunsbichos assim... até aqueles caramujinhos e os meus primos, eles tinham aquelecostume <strong>de</strong> pegar sal e jogar em cima, e ficava lá olhando o bicho morrer. Euficava pensando o que que ele fez, né? Um bicho... tudo bem, ele não, sei lá... ele


transmite uma coisa meio... <strong>de</strong> ser meio... sei lá... gosmento, assim. Mas, só porisso você tem que torturar ele e jogar uma... jogar sal em cima? Eu achava issohorrível. Eu não gostava. [...]algumas vezes que eu fui no zoológico eu tinha essamesma impressão. Assim, do bicho estar ali e mas ele não está gostando <strong>de</strong> todomundo estar em volta olhando. Ele <strong>de</strong>ve estar pensando por que que essepessoal não vai embora, né, pra eu ficar tranqüilo? A primeira coisa que eu tenhoé isso, assim. Toda vez que eu vejo um bicho numa gaiola ou num lugar assim eutenho essa coisa, essa impressão. Lembrança, a única que me dá é essa. Dosmeus primos jogando sal no bichinho. [...] Tem uma cida<strong>de</strong> aqui no <strong>Brasil</strong> queeles estavam tendo problema porque esse tipo <strong>de</strong> caramujo, ele se prolifera muitofacilmente e ele foi trazido pra ser criado, consumido. E acabou não tendo ummercado muito bom e aí o pessoal meio que abandonou a criação e elescomeçaram a se multiplicar e tava virando até uma praga lá. Não lembro quelugar que era do <strong>Brasil</strong>. Agora que eu to lembrando.Zeus: Eu tenho um pouco <strong>de</strong> receio porque, quando eu era pequeno, eu estavanum jardim e lógico, acredito que não sejam os mesmos. Eles estavam lá. E umaspessoas falaram pra mim que ah, não pega porque isso daí tem veneno e ai, vaifazer mal. Eu acho que isso daí... daí... estava reprimida essa vonta<strong>de</strong>. Hahaha.De entrar em contato, né? Mas não é igual aquelas lesma comprida, nojenta, não,né? Ah... fica aquela gosma igual <strong>de</strong> lesma? Colorida... que fica brilhando? Não éné? Elas parecem diferente <strong>de</strong>ssa aqui. É diferente, né? [...] Eu acho que <strong>de</strong>poisque eu peguei esse bicho eu pego qualquer um agora. Acho que pior que isso sóuma lagartixa mesmo. Se vocês me aparecessem com uma lagartixa aqui eu iasumir daqui, hein? Eu tenho um pavor a esse bicho. Lagartixa. Quando eu erapequeno eu gostava <strong>de</strong> mexer com bicho assim. Não com esse. Mas eu pegavaaranha e ficava pren<strong>de</strong>ndo aquelas aranhinhas que aparecem no quintal, sabe?Colocava <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um aquário, rs. Colocava duas ou três pra ver elas brigando.Minha mãe falava pra eu jogar fora aquilo. Eu tinha um quintal gran<strong>de</strong> e eucolocava elas... uma vez eu criei um, um bom tempo, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um aquário.Caçava mosquitinho pra dar a ele. E ela pegava eles. Também criei lagarta.Haha. Até achei que era lagarta aqui, quando eu vi. Mas não eles. Eu acho quese a minha mãe visse isso ela ia ter um treco. Ela vai falar: “Eu não acredito quevocê colocou isso na mão! Meu Deus do Céu!” Minha tia que falou que tinhaveneno. Sei lá se aquele lá tinha veneno, mas... eu acho que não tem veneno, né?Porque logo... lesma, assim... eu nunca tinha... tinha estória já, né?Apolo: O que vem na minha lembrança... Na minha infância eu brincava na beira<strong>de</strong> rios e acho que eu via bichinhos parecidos com esses ou até mesmo <strong>de</strong>ssaespécie. Não... não me provocava medo. Porque ele ele é um tanto... muito<strong>de</strong>vagar. Não me provocava medo. Tinha uma sensação <strong>de</strong> querer colecionar. Porconta <strong>de</strong>ssa casinha, né, que ele entra. Eu associo mais a um bichinho praproteger, porque eu acho ele um tanto frágil. Um tanto limitado, assim, nalocomoção. Foi essa lembrança. Mas vinha sempre a idéia <strong>de</strong> que eles tinham ohabitat <strong>de</strong>les, né? Então eu não po<strong>de</strong>ria tirar e levar pra casa. É sempre bom vero bichinho na casinha porque ele fora da casinha ele é um tanto estranho. Causa


uma repulsa pra quem não teve esse contato na infância, como eu tive. Muito<strong>de</strong>vagar. Por isso que não dá pra levar pra casa. Porque ele aparenta fragilida<strong>de</strong>.Eu posso associar a minha infância a esse bichinho. É uma lembrança beminteressante. Da infância. Quando eu era pequenininho, brincava e via, ou numaárvore ou quando sentava na beira <strong>de</strong>sse rio. Me traz uma boa lembrança, umaboa memória. Não é... não é algo assim pra cortar, pra <strong>de</strong>ixar, mas pra guardar.Também a casinha lembra as conchinhas da praia. Parece que é um material queé da mesma família, na minha associação. No mar também tem muito bichinhosque também moram <strong>de</strong>ntro da casinha. Eu me lembro das conchinhas também.Só que esses daqui não são <strong>de</strong> praia. Mas na praia tem muitos bichinhos quevivem na casinha. Uma terceira lembrança é que na minha infância tinham umascampanhas pra prevenção <strong>de</strong> esquistossomose. E o bichinho daesquistossomose, não sei... também <strong>de</strong>ve ser dos ancestrais da mesma família<strong>de</strong>sse bichinho aqui. Então tinha aquela....aqueles cartazes que mostravam umacriança num rio contaminado e através do pezinho quando ele pisava noscaracoizinhos eles ficavam com a doença [...] Então me remeteu à beira do rio, dobrinquedinho. À beira da praia, por causa da família e uma lembrança ruim, né?Que muita... entrar no rio era proibido porque o bichinho era usado pra inibir aspessoas a... a não se contaminarem. Lembrei da música do Roberto Carlos,<strong>de</strong>baixo dos caracóis dos seus cabelos. Foi uma música feita em homenagem aoCaetano Veloso, que estava no exílio em 1971. E sempre que a gente canta ououve essa música, lembra do formato do bichinho. Caracolzinho.Cori: [...]Sabe, esses dias mesmo eu tava aqui e já era tar<strong>de</strong> da noite e tava umabagunça <strong>de</strong> gente aí fora na rua. Dava pra se ouvir. E um cachorro latindo. Aí eujá fiquei imaginando. Será que estão fazendo alguma coisa <strong>de</strong> mal pra ele? Ele<strong>de</strong>ve estar perto do bar, on<strong>de</strong> tem gente comendo, assim, e estão querendoexpulsar. Isso mexe muito comigo. Quando eu venho... estou na rua vindo pra cá,se eu vejo um cachorro atropelado... uma vez eu parei pra socorrer. Tava sozinho.Aí quando eu parei, aí começaram a parar. Aí, não, não põe a mão. Que ele vai temor<strong>de</strong>r, ele não te conhece e ele vai ficar com medo. Ainda era perto <strong>de</strong> casa e eufui até um veterinário lá perto. Expliquei pra ela o que estava acontecendo. Meaconselharam a não mexer nele, que ele po<strong>de</strong> me avançar. Ela falou, realmente,não po<strong>de</strong>. Aí eu fui embora arrasada. Não pu<strong>de</strong> fazer nada. Sabe? Ela falou queela não podia sair <strong>de</strong> lá também pra estar indo... Quer dizer, eu não gostaria <strong>de</strong>ser assim [...] Quando eu era criança eu já tive cachorro. Des<strong>de</strong> criança eu gosto.Mas não era tanto. Não era tanto assim. Depois <strong>de</strong> adulta é que foi mais... <strong>de</strong>gostar mais, sabe? Num sei por que isso. Mas é... sei lá. Eu preferia não serassim. É assim... me preocupar tanto, sabe? Sentir tanta pena <strong>de</strong> ver essesofrimento. Sentir muita pena. Não... e sem po<strong>de</strong>r fazer alguma coisa, enten<strong>de</strong>u?Que eu não posso também... eu sei que eu não posso. Os cachorros que ficamabandonados na rua. Se eu pu<strong>de</strong>sse eu levava pra minha casa. Eu tenho o meutambém em casa, né? Se eu ver um assim na rua, eu num queria que o meupassasse por isso, né? Eu lembro <strong>de</strong>le... É, o comportamento <strong>de</strong>le é <strong>de</strong> filhote.Que, sei lá. Dez anos, né? Não era pra ele se comportar assim. O meu lá em casa,eu saio fico o dia todo fora. A hora que eu chego, nossa, é uma festa que não tem


tamanho, né? É, eu... sei lá [...] eu sempre pensei assim... na importância dafamília, né? E em casa, eu tenho dois filhos, um casal. E a gente se dá superbem. Não tenho mais pai, né? Eu tenho mãe, tenho irmãos, mas num... a minhafamília é do meu portão pra <strong>de</strong>ntro [...] Eu não fui criada com eles, né? Eu fuicriada com a minha vó. Então, não tem assim aquele laço. Nunca teve. Nem commeus irmãos... acho... acho não... é por isso, né? Ah, ela (avó) foi uma gran<strong>de</strong>mulher, né? Porque ela já tinha [...] 64 anos quando ela ficou comigo. Então, umasenhora <strong>de</strong> 64 anos assumir um bebezinho <strong>de</strong> 15 dias... e ela ficou comigo atéuns 12 anos. E eu não queria sair <strong>de</strong> perto <strong>de</strong>la e nem ela <strong>de</strong> perto <strong>de</strong> mim, né?Ela falava que quando eu comecei a falar eu comecei a chamar ela <strong>de</strong> mãe masela não <strong>de</strong>ixou. Ela falava que eu era a avó... ela era a minha avó e não minhamãe. A convivência era com ela e pra mim ela foi, né, a minha mãe. Aí ela sepreocupava comigo... que... eu lembro que ela falava que não ia me ver casar...que ela queria mas que ela não ia ver. Ela viu, conheceu meus filhos. Conheceuos dois filhos [..] Não posso falar pra você que eu gosto, adoro a minha mãe etenho muitas amigas que eu ouço falar, né? A gente não teve um contato. Nãoteve um apego, não teve... então pra mim é indiferente. Eu faço por ela o queprecisa ser feito mas assim, não... por obrigação. E mágoa também não tenho. Equando ela engravidou <strong>de</strong> mim ela ia fazer outro aborto. E a minha avó que não<strong>de</strong>ixou. Então eu penso... eu penso assim, falo: “Pó, ela não queria a gravi<strong>de</strong>z. Foiin<strong>de</strong>sejada a gravi<strong>de</strong>z. Minha avó me queria. Então quando eu nasci, né, você mequeria? Era você que queria, né?. Eu acho que afinida<strong>de</strong>, o amor, é tudoconstruído, né? Não é que eu não queira me aproximar. É que não vejo propósito[...] Como eu te falei no início, é indiferente. Eu acho que eu vejo pelos meusfilhos, né? Sei lá. Depois que a gente é mãe a gente começa a ver diferente. Aenxergar as coisas diferente, né? [...] É como eu te falei, Márcia. Não tenho umsentimento. Não tenho sentimento bom e nem sentimento ruim. [...] Eu não dou oque eu não recebi [...] E eu nunca tive isso antes <strong>de</strong> conhecer o meu marido. Antes<strong>de</strong> conhecer o meu marido eu nunca tive isso. Eu fui ter isso <strong>de</strong>pois que eucomecei a freqüentar a casa <strong>de</strong>le, na época <strong>de</strong> namoro. Então, eu via ocomportamento da minha sogra com os filhos. Totalmente, assim, o oposto, né? Eo meu distanciamento com a minha mãe e os meus irmãos ficou maior <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>um fato que ocorreu. O meu irmão que hoje mora com ela, ele morava junto comuma pessoa. Essa pessoa já tinha duas filhas, a mais velha da ida<strong>de</strong> da minhafilha. Na época <strong>de</strong>veria ter uns <strong>de</strong>zesseis anos. Ele, meu irmão, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> casa,ele quase abusou sexualmente da menina. Enten<strong>de</strong>u? Eu, quando a minhacunhada foi em casa chorando e me contar esse fato eu achei isso um absurdo. Ea minha mãe já falou que não. Que eu tava <strong>de</strong> um lado, da... das duas, da minhacunhada e da filha e eu não tava do lado do sangue do meu sangue. Sabe, eufalei: “Não estou mesmo, mãe. Ta errado o que ele fez.” Eu falei: “Eu nãoconcordo.”Vulcano: Fico olhando assim, fico lembrando que na casa da minha tia, lá noprédio, nas pare<strong>de</strong>s dos prédios tinha tipo assim, caramujos, né? Que lembramuito esse aqui. Tudo grudado na pare<strong>de</strong> assim, e a atirava uma pedra, atirava


uma pedra. Eu gosto muito <strong>de</strong> animal. Lá em casa chegou até tê coelho, né? Eee,atualmente tem três cachorras e um viveiro <strong>de</strong> piriquito. Né? E aí... Teve uma vezque eu fiquei cuidando dos piriquitos lá em casa, né? Porque meus paisviajaram, fiquei sozinho em casa [...] aí, aí, eu não gostei! Aí me impedia <strong>de</strong> sairporque eu tinha que dar comida para eles e trocar, não sei que e pô água. Além<strong>de</strong> tê que cuidá da cachorras tinha que cuidá <strong>de</strong> mim, ainda cozinhá, fazê fejão,arroiz. [...] Eu lembro assim que teve algumas vezes que eu fui lá pro nor<strong>de</strong>ste eque aí... Eu tinha um primo lá, ele que cuidava das criações do meu vô lá. Entãocomo não tinha muita coisa pra faze a minha diversão era cuida dos bichos juntocom meu primo. (rsrsrs) Aí ficava zoando com as cabras, com os cabritos (rsrsrs)Né? Até que uma vez lá, meu vô, ele matou um boi. Assim, foi um fato que eutenho muito guardado na minha cabeça, acho que eu tinha [...] uns oito anos e aí[...] o boi veio, ele tava com um pedaço <strong>de</strong> ma<strong>de</strong>ira [...] ele veio <strong>de</strong>u uma porretadana cabeça do boi, ele caiu, aí foi todo mundo lá tirando a pele, tirando o sangue<strong>de</strong>le. Nossa! Nunca vi tanta carne na minha vida! [...]Eu lembro até hoje assimque eu tava perto do curral e aí tinhaa, uma carcaça assim do, do boi, né?[...]Lembro queee, eles pegaram e abriram o curral, e ficava as vacas lá e asvacas foram ao redor dos restos assim, e começaram a chorar. Achei muitointeressante isso! Até bicho tem um lado afetivo assim [...] Eu gosto muito <strong>de</strong>cachorro, eu sempre tive cachorro, <strong>de</strong>s<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, eu tive um cachorro quechamava urso, é estranho , um cachorro chamar urso né? (risos) E ele se impactomuito assim, por que ele ta <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a minha infância, até mais ou menos os 17anos, eu peguei ele filhotinho, da vizinha, então ele cresceu com agente, ele abriaa porta, não podia sentir cheiro <strong>de</strong> bolo, né? [...] acho que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> criança, eu taenvolvido com, com, cachorro, meu... tem que ter cachorro senão não dá, condiçãobásica né, e assim, tem vezes né, que assim, eu vou dar banho nas cachorras,fico cantando pras cachorras, coisa <strong>de</strong> loco! Fico conversando com as cachorras(risos). ...eu to meio emocionado assim, <strong>de</strong> falar disso assim, pra mim o convíviocom o animal é importante assim, acho que assim tem horas que eu to meio prabaixo, eu vou lá, fico falando com os cachorros, conversando com eles, oscachorros cheguei, eles já chegô a jogar bola com a gente em casa, chuta bolavai atrás, né?[...] É impossível ficar sem cachorro, não dá. Assim tem vezes queeu penso em comprar um apartamento pra ir mora, aí tem aquela coisa, espaçoreduzido, né? Ai eu penso nisso às vezes, mas se um dia eu for morar sozinho oucom alguém sem cachorro não dá! Assim, é condição sine qua non pra felicida<strong>de</strong>[...] As vezes tô em terapia eu comento isso né? As vezes eu pego alguma coisa euvou lembrando, lembrando, lembrando, uma palavra me lembra várias coisas [...]E acho que não sei, as vezes eu fico pensando na questão assim, <strong>de</strong>, damemória, tem uns enca<strong>de</strong>amento assim, né? [...] Não sei por que é... os animaispra mim, lembra assim, muito vida sabe? Lembra... assim é... essa afetivida<strong>de</strong>legal entre você e o animal... Morte acho que é uma coisa que... sei lá, acho queultrapassa nossa razão <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r, né? A gente tem uma... um vínculo com apessoa assim, né? Lembro uma vez, né? Assim, foi a única vez na minha vidaque assim, a coisa da morte mexeu comigo, quando um tio meu morreu ele bebiamuito, né? I ai é... ele fez parte da minha infância e tal, ele que me ensinou aassoviar! Ele gostava muito <strong>de</strong> música, eu adoro música também, e ai quando ele


morreu sabe, tive uma sensação muito estranha, assim... Não queria falá <strong>de</strong>morte, e tô falando, e aquilo sei lá, o que me passou assim pela cabeça, é que,poxa vida, como uma pessoa tá aqui e <strong>de</strong> repente não tá mais? Não se mexemais? Então eu fico louco com isso, agente ta aqui, né? [...] quando uma pessoamorre, eu acho que ela saiu da cultura [...]Ártemis: A hora que eu vi, como eu brinquei a hora que eu cheguei, eu faleiassim, é uma lesma... hahaha. Não é uma barata? Não é nada? Eu achei meioassim, que eu não ia pegar, mas peguei e eu acho que é uma coisa bem... parecelesma. Mesmo, né? É uma lesma.? A hora que eu cheguei eu falei assim: “Esperoque não seja uma lesma.” Né, nunca imaginei pegar um negocio <strong>de</strong>sse. Nunca.Sou meio nojenta pra essas coisas. Eu acho que eu nunca... a sensação, assim,foi essa. No começo eu tava com um pouquinho <strong>de</strong>... acho que <strong>de</strong> aversão <strong>de</strong>colocar na mão e sentir aquele negócio. A hora que eu peguei e coloquei ele namão foi tudo normal. A única sensação que eu tive foi dum gelo, assim,geladinho, úmido, né? Um negócio úmido, mas nem me <strong>de</strong>u nojo. A hora que eucoloquei ele na mão também não me <strong>de</strong>u, assim. Foi mais a primeira vista empensar que eu tinha que pegar ele. Que eu <strong>de</strong>veria pegar ele, né? Não é que euteria que pegar, mas... foi essa. Só essa. Uma coisa meio estranha, mas legal.Ah, me lembrou uma coisa. Aqueles chocolates que ven<strong>de</strong> no freeshop. Sabeaqueles <strong>de</strong> conchinha? Lindo. Me lembrou isso. Me <strong>de</strong>u essa memória agora.Aquele chocolate. Muito lindo. Quando eu ver no freeshop vou lembrar que eupeguei esse negocio na mão. Hahaha. Afrodisíacos. Haha. É, eles são bonitos,assim, todos exuberantes, né? Essas anteninhas quando eles vão... que nemvocê falou que quando a anteninha está pra fora é porque ele já não está maiscom medo, né? Com as anteninhas em pés... esse corpo mole. Hahaha. Não seinão. Por isso que... que parece afrodisíaco. É exuberante. É bonito. É uma coisabonita. Exótica. É bonita. Ver esse corpinho saindo <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro, assim, semovimentando, <strong>de</strong>vagarinho. É legal. Me veio na memória chocolate. Não, pareceque ele transmite paz, parece, né? Por causa dos movimentos <strong>de</strong>le, assim. Bemlento, né? Não é aquela coisa agitada, que... Mostra o quanto que a natureza ébela, né?”Vênus: [...] Ele é muito família né? [...] Assim, pela casa, pela união <strong>de</strong>les, aindasão muito assim, família né? Dentro <strong>de</strong> si, aquela coisa... no meu modo <strong>de</strong> ver. Acasa <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si... eu acho que me passou muito isso. Sempre me passaramisso. Não assim, realmente tem. Mas é mais nojo. Não tenho medo. Acho quetenho mais nojo disso do que <strong>de</strong> barata. Pra mim é. Não gosto não. Hahaha. Não.Eu falei esse negocio <strong>de</strong> família porque eu sempre olhei eles com isso né? Atécomo a própria tartaruga. Ela <strong>de</strong>ntro do casco e tal... a casinha. E então eusempre tive essa imagem <strong>de</strong>sses animaizinhos. Mas não que me lembrou nadanão. Mais lembrança nenhuma. Hahaha. Porque não tem nada a ver né? Umanimalzinho dócil. Uma coisinha tão... não sei.. eu acho tão nojento. Pior que eusempre fui acostumada a jogar sal neles... aquelas coisas para morrer. Hahaha.


Tem uns caramujinhos lá. Umas coisinhas, né? Eu sempre fui criada assim. Jogasal que morre. Então sempre criou aquele... né? Aquela barreira. Só isso.Diana: [...]Me lembra realmente lesma. Mesmo porque quando eu era criança eubrincava com isso. Só que eu já tinha repugnância. Só que eu já tinharepugnância [...] Eu tinha até curiosida<strong>de</strong> para saber como que ele é <strong>de</strong> baixo,mas eu não tenho coragem <strong>de</strong> pegar [...] Eu acho que todos os animais que têmpelo, eu tenho um melhor contato. Agora, animais como tartaruga... Todos osoutros animais que não têm pelo eu não tenho um bom contato. Eu acho difícil...Talvez fosse mais fácil se fosse qualquer outro animal que estivesse no nossomeio porque [...] Faço isso com tudo assim. Certas coisas muita gente tem nojo <strong>de</strong>fazer, e eu vejo que nessas situações só eu tenho que fazer, aí eu vou lá e faço.Quando tem lagartixa na garagem <strong>de</strong> casa, só eu tiro. Porque ninguém temcoragem. Não que eu sou a mais corajosa <strong>de</strong> todo mundo, mas eu vejo queninguém vai agir eu vou lá e faço. Agora, sei lá se numa abordagem diferenciadaou meu medo diferenciado dos <strong>de</strong>les. Mas eu sempre faço assim. Po<strong>de</strong> ser umaautopromoção ou alguma coisa assim, mas eu sempre faço. Quando todo mundofala não eu sempre falo que sim. Mesmo que o meu pensamento seja não, mas euvou lá e faço. Que nem agora. Se precisasse... e tivesse sozinha eu teria que agir.Mesmo com nojo, medo. Não digo para outro bicho. Outro bicho eu acho que... Éele não ta mais tão nojento. Mas continuo sem coragem <strong>de</strong> tocar certas parte, viu!Agora, admiro quem tem coragem <strong>de</strong> lidar, <strong>de</strong> tocar [...] Parece muito com umalesma e lesma eu morro <strong>de</strong> nojo.”Atena: Me lembram lesmas. Só. E me causam nojo. Dá lembrança da lesma né?Escargot em si eu não conhecia.Minerva: [...]Eu até esses dias assisti uma reportagem, eu assisto muito acultura, e saiu uma reportagem falando sobre eles... até acho que em uma cida<strong>de</strong>aí... talvez até não seja esse tipo <strong>de</strong> caramujo. Mas a cida<strong>de</strong> tava infestada comesses bichos. Tava tendo lá... uma <strong>de</strong>sorganização ambiental lá que tava tendouma apropriação muito gran<strong>de</strong>. Eu assisti bastante. Interessante.A principioquando olha assim, dá meio que um... credo... mas é interessante o trabalho <strong>de</strong>vocês. Quanto aos meus sentimentos, assim. É um animal que eu... que é curioso,até eu acho interessante, né? Engraçado quando você vê em algum lugar aquelemuco, assim, aquele rastro, você fala assim: Hum, passou esse bicho.4 – É possível ir além e comer o animal? - Objetivou-se verificar adisponibilida<strong>de</strong> dos participantes em comer o animal em questão. As respostasforam muito variadas. Dos participantes dois disseram que comeriam o animal,sete disseram que não o comeriam e quatro apresentaram conflito entre comer


e não comer, sendo que prevaleceu não comer representado por três dos quatroparticipantes.Netuno: (Você comeria o animal?) SimDionísio: [...] Não pra comer! Ainda tenho preconceito por que tenho nojo ainda... Mas...nada que nenhum tempero possa ajudar (risos)Ceres: Comeria, mas não é uma coisa que eu olho e falo: Ah, comeria. Porque naverda<strong>de</strong> eu como carne, porque minha alimentação é muito <strong>de</strong>sregrada. Porque aminha tendência seria <strong>de</strong> não comer. Porque eu não gosto <strong>de</strong> pensar. Eu tinha umamigo que falava que os carnívoros <strong>de</strong>veriam colocar os bois no curral e ocarnívoro ia lá, pegava o boi, matava o boi, <strong>de</strong>strinchava o boi, pra comer o boi.Porque eu como a carne, mas eu preciso sempre abstrair do que é a carne. Se eupenso no que eu estou comendo, eu já fico triste, eu já não tenho vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>comer. Eu não teria problema <strong>de</strong> comer escargot, bem preparado, por quemconhece, preparar bem. Mas se eu criasse escargot, daí não ia prestar. Não iacomer mesmo, e ninguém ia comer meus escargots.”Horus: Comeria sim. Eu tenho curiosida<strong>de</strong>, assim, <strong>de</strong> sabores. Eu tenho muitavonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> comer grilo. Lá no interior, é... aquele tipo <strong>de</strong> formiga que o pessoalfrita e come, eu já comi. É gostoso. Eles tiram a bundinha da formiga e fritam.Comem. Eu acho que eu comeria. Se ela fosse... se fosse feito assim, num pratomeio cru, assim... pega e come, eu acho que não. É muito forte, né?Zeus: Ah, não dá coragem <strong>de</strong> comer, né? Claro que não. Não dá coragem <strong>de</strong>comer porque... pôr na boca assim, né? Pensou como <strong>de</strong>ve ser? Duro, meio duro<strong>de</strong> tirar [...]Ah! gente, imagina... comer não. Não sei né, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> pronto àsvezes até sim...mas ver assim e comer, não. Vivo e <strong>de</strong>pois comer? Não.Apolo: Po<strong>de</strong>ria até comer sem a consciência <strong>de</strong> que são uns bichinhos frágeis.Mas se eu for informado que são os bichinhos frágeis que viram um prato, um<strong>de</strong>licioso prato, eu acho que eu teria dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingeri-los. Por conta <strong>de</strong>ssarazão. E acho que ele precisa mais se preservar e se multiplicar do que ter muitospratos, né? É melhor preferir soltos, né? Não sei bem pra que eles servem, proequilíbrio da... ecológico. Se eles tem uma função, assim, <strong>de</strong> preservação. Deveter, né? Mas eu não sei. Eu prefiro não fazê-los como prato <strong>de</strong> comida.Cori: (Você comeria?) Não.Vulcano: Não imagino eu comendo um bicho <strong>de</strong>sses muito... sei lá, estranho sêsabe que come, come... Isso para mim é caramujo. Um caramujo mais... maisavançado, mais sofisticado.- Ártemis: Não comeria.Vênus: (Você comeria?) Não.


Diana: Não. Eu gosto <strong>de</strong> experimentar várias coisas para saber que gosto quetem, mas também <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> da forma <strong>de</strong> preparo. Eu não sei como que isso seriapreparado. Talvez até sim.Eu até como coisa que algumas pessoas temrepugnância. Talvez até sim. Para experimentar sim. Mas assim <strong>de</strong>sse jeito eunão me imaginaria. Só <strong>de</strong>pois. Apesar <strong>de</strong> que eu nunca vi ele. É a primeira vezque eu to vendo assim.Então se alguém preparasse ele para mim assim nesseprimeiro contato, talvez eu comeria numa boa. Mas já tendo esse contato, talvezfosse mais difícil. Agora esse aqui eu acho que não comeria, porque eu achoassim, eu acho gosmento. Agora isso só <strong>de</strong> longe mesmo. Agora, comer mesmonão. Não pelo cuidado, porque eu não tenho dó, nada disso, é pelo formato <strong>de</strong>le,pela textura. Não sei se chega a ser tão saboroso quantos os outros dizem.Atena: [...]Quer dizer, se eu não soubesse que isso era escargot... se eu nãosoubesse que fosse esse o animal, talvez eu comeria. Mas vendo o animalassim... e <strong>de</strong>pois ó... esse é o prato feito... eu acho que não. As folhinhas eucomeria. Hahahaha.Minerva: O pessoal que gosta <strong>de</strong>ssa culinária, se come, se aprecia, porque algotambém passa pra eles <strong>de</strong> bom, saboroso, <strong>de</strong> gostoso. . Mas esse animal eu nãocomeria. Não dá pra falar eu não comeria. A princípio não. A principio eu achoque não comeria não.5 – Curiosida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>spertadas com o contato – Buscou-se verificar quaisforam as curiosida<strong>de</strong>s que os animais suscitaram nos participantes. Alguns sepreocuparam com a origem e características físicas imediatas, outros com asexualida<strong>de</strong>, outros já tinham ouvido falar que eram comestíveis, mas ficouclaro pelo tipo <strong>de</strong> curiosida<strong>de</strong> manifestada que a maioria nunca havia tidocontato com ele.Netuno: Me fala da origem <strong>de</strong>les? É só couve que eles comem? Eles caminhamquantos metros? Só em Laboratórios <strong>de</strong> Universida<strong>de</strong>s que eles são encontrados?Tempo <strong>de</strong> vida?Dionísio: Como que é parecido com qual outro animal? É um animal, né? Que agente vê no caramujo, é diferente né?Ceres: Eles têm varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> espécie? Mas você tem que puxar pela casca, né?Horus: Uma parte <strong>de</strong>le é presa, né? E ela (a concha) só vai crescendo? Masnunca se <strong>de</strong>staca <strong>de</strong>le? [...]É muito forte, né? A sucção <strong>de</strong>le... qual que é a <strong>de</strong>fesa<strong>de</strong>sse bicho? Fora a casca? E por que que ele é comestível e os outros tipos não?


Basicamente são o quê? Insetos que comem? Insetos, não. É.... pássaros quecomem eles?Zeus: Isso é um caramujo? É escargot <strong>de</strong> verda<strong>de</strong>? Não é melado? Tem muco,né? Como que pega? Pela casca <strong>de</strong>le? É cozido? Sai da mão <strong>de</strong>pois essa gosma?E não é oleoso não, né? É gelado? É igual lesma? Ele não chupa não, né? Ele vaificar gosmando na minha mão? Mas não é igual aquelas lesma comprida,nojenta, não, né? ...fica aquela gosma igual <strong>de</strong> lesma? E ele <strong>de</strong>sgruda fácil damão, né? Ele não chupa não, né? Não faz barulho não, né? Não vai machucar,né? Será que ele se acostumou - Ao toque, pra se encolher? É coco <strong>de</strong>les? . Nãotem problema <strong>de</strong> tocar a mão nele, né? Ai não é nojento não, né?Apolo: Não sei bem pra que eles servem, pro equilíbrio da... ecológico? Se elestêm uma função, assim, <strong>de</strong> preservação. Deve ter, né?Cori: Como que chama?Escargot? Muita gente acha muito saboroso, né?Vulcano: É esse daqui que come?Ártemis: Por que que ele ta assim? Ta com medo? Quando ele se sentir mais àvonta<strong>de</strong> ele vai abrir e vai ficar igual ao que ele tava na coisa, na minha mão?Eles se movimentam bem <strong>de</strong>vagarinho, né? E essas anteninhas é por on<strong>de</strong> elesenxergam? Esse pontinho preto? Quanto custa pra ter um <strong>de</strong>sse, hein Márcia?Vênus: Ele é frio né?Diana: Mas esse é daquele <strong>de</strong> se alimentar, Márcia? Ou não? Água para beberou para eles tomarem banho? Eu tinha até curiosida<strong>de</strong> para saber como que ele é<strong>de</strong> baixo...Atena: É lesma isso? Essa casquinha é dura? Vocês levam e trazem essa caixatodo dia? Eles não tem cheiro né? Essas são as fezes <strong>de</strong>les?Minerva: Mas isso não é aquele escargot que o pessoal come? Acho bastanteinteressante mas num... estranho, esquisito, eles só comem alface? Aqui têmmachos e fêmeas? Mas não se auto-reproduzem? Eles têm que ter um contatocom outro animal? Aí tipo assim, on<strong>de</strong> tem um grupo mais masculino, eles seestabelecem em alguns femininos, para um equilíbrio ou não? Eles têm os doissexos no mesmo animal, né? E eles quando andam <strong>de</strong>ixam aquele rastrotambém ou não?


CAPÍTULO 6 – ANÁLISE DOS DADOSForam muitas as informações obtidas a partir <strong>de</strong>sse experimento e foisurpreen<strong>de</strong>nte verificar como supúnhamos a princípio como a interação com osanimais é capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertar emoções dos mais diferentes tipos em humanos.Nossos participantes foram extremamente generosos em suas <strong>de</strong>scriçõese po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar que a maioria se comportou <strong>de</strong> forma espontânea. Éclaro que houve por parte <strong>de</strong> alguns <strong>de</strong>les uma tentativa <strong>de</strong> controle consciente<strong>de</strong> suas manifestações e uma certa evitação <strong>de</strong>fensiva <strong>de</strong> aprofundar certostemas. Alguns se paralisaram no nojo e foram pouco além. Outros no entantosimplesmente falaram. Lembraram <strong>de</strong> seu passado <strong>de</strong> experiências felizes,dolorosas e como as enfrentaram. Alguns chegaram a colocar no animal umaintenção, <strong>de</strong>sejo ou mesmo racionalida<strong>de</strong>, como se o contato com o animal <strong>de</strong>outra espécie <strong>de</strong>vesse ser constituído dos mesmos elementos <strong>de</strong> uma relaçãoentre humanos.Embora tenhamos apresentado os dados em categorias que<strong>de</strong>nominamos “<strong>de</strong> análise”, após a organização <strong>de</strong> todo o material, pareceu-nosmais a<strong>de</strong>quado se pudéssemos dirigir nossas tímidas interpretações falando <strong>de</strong>cada participante <strong>de</strong> uma vez, ao invés <strong>de</strong> abordar todos em cada uma dascategorias, mesmo porque alguns dados apresentados nessas categoriasacabaram por nos parecer óbvios <strong>de</strong>mais e dispensando uma análise maisprofunda, como por exemplo a última <strong>de</strong>las que fala das curiosida<strong>de</strong>s emrelação ao animal.É importante lembrar que estamos admitindo no âmbito <strong>de</strong>sse estudoque a forma particular <strong>de</strong> aproximação que cada participante estabeleceu com oanimal – comentários, interjeições, gestos, posturas, expressões faciais, etc -sejam passíveis <strong>de</strong> serem interpretadas como manifestações psíquicas querefletem seu mundo interno e portanto possíveis projeções <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>losparticulares <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação, interação e relação com o outro, sendo esse outro


entendido aqui como qualquer ser vivente e <strong>de</strong> qualquer espécie, inclusive ahumana.Consi<strong>de</strong>ramos que algumas análises que esboçamos estão <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> umcampo que po<strong>de</strong>mos chamar <strong>de</strong> provável, outras certamente necessitariam <strong>de</strong>validação por meio da utilização <strong>de</strong> técnicas <strong>de</strong> avaliação da personalida<strong>de</strong> jáconsagradas na <strong>Psicologia</strong>. Com alguns participantes conseguimos avançarmais, com outros um pouco menos. Afinal também <strong>de</strong>vemos assumir algumasresistências.Netuno, em sua interação com os escargots, <strong>de</strong>ixa claro seu medo diantedo novo, sua hesitação inicial, mas acima <strong>de</strong> tudo sua i<strong>de</strong>ntificação com elesquando afirma que esses serzinhos aqui representam a mim [...] no primeiromomento vou ou não vou, mas também que sentiu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> aproximar-me<strong>de</strong>les. Insiste no contato <strong>de</strong>ixa que eles entrem em contato com sua pele. Admiteque o contato com os outros po<strong>de</strong> mudar um pouco a nossa maneira <strong>de</strong> sentir.Não recusa a aproximação mesmo com temor inicial pois a experiência po<strong>de</strong> serboa e agradável. Admite que o contato com o animal o faz recordar situaçõesdas quais a princípio você quer distância e que a aproximação é arriscada. Ofato <strong>de</strong> conhecer as pesquisadoras ajudou na aproximação com os animais<strong>de</strong>ixando entrever que necessita <strong>de</strong> apoio <strong>de</strong> outras pessoas em algumassituações e que suas <strong>de</strong>cisões po<strong>de</strong>m ser influenciadas pela confiança que<strong>de</strong>posita nelas. Deixa transparecer que algumas <strong>de</strong> suas <strong>de</strong>cisões po<strong>de</strong>m sercontaminadas por um julgamento precipitado achando que sei mais que o outroporque estudou mais, o que po<strong>de</strong> sugerir certa arrogância, mas que aexperiência <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> pessoas simples assim como os escargots o fazem pensarem humilda<strong>de</strong>.Dionísio fica bastante perturbado com a presença dos animais. Suasprimeiras falas remetem a conteúdos relacionados à fase oral, tais comoapresentados pelos psicanalistas. É comestível? [...] Mor<strong>de</strong>? Fala também <strong>de</strong> seunojo, uma emoção que tem raízes na fase oral. O animal também evoca imagens<strong>de</strong> tipo <strong>de</strong>strutivo relacionadas à morte a ponto <strong>de</strong>le perguntar tá tudo vivo? Deoutro lado, o contato lhe permite associações relacionadas à docilida<strong>de</strong>,


sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong>lica<strong>de</strong>za e num continuum <strong>de</strong> seu medo <strong>de</strong> machucar essesanimais ao tocá-los. Essas imagens <strong>de</strong>spertadas em Dionísio sugerem, <strong>de</strong> umlado seu medo e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fuga diante do novo, um medo do contato quepo<strong>de</strong> produzir algum tipo <strong>de</strong> contaminação associado à imagem da águaestagnada, mas um medo que se dissipa quando vê no animal a fragilida<strong>de</strong> quelhe permite até pensar em cultivar em casa.Ceres manteve um contato fácil e afetivo com os animais, preocupada,inclusive, num possível significado que o contato po<strong>de</strong>ria ter pra cabeça <strong>de</strong>les,atribuindo aos mesmos uma racionalida<strong>de</strong> <strong>de</strong> tipo semelhante à <strong>de</strong>la. Suasverbalizações e vocalizações eram similares às <strong>de</strong> uma mãe falando com bebês.Houve uma gran<strong>de</strong> preocupação em não incomodar os animais e que nãoqueria interferir no estar <strong>de</strong>les e racionaliza dizendo que se tivesse lido algumacoisa sobre as sensações do escargot. Os animais a remetem à lentidão dosprocessos – que não chega a dizer quais são – em sua vida, ao fato <strong>de</strong> sercontemplativa, mas por outro lado diz ser muito rápida em muitas coisas quefaz. É possível supor que Ceres <strong>de</strong>va viver uma boa dose <strong>de</strong> frustração ao terque esperar, apesar <strong>de</strong> sua pressa, que as coisas aconteçam no seu tempo enão no <strong>de</strong>la. Transparece um sentimento <strong>de</strong> impotência em proteger o que éfrágil – como no caso da amiga que criava escargots - e um <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> nãointerferir no curso natural das coisas, apesar <strong>de</strong> sua pressa. Os animaispermitiram recordar muitos fatos <strong>de</strong> sua infância e admite uma relação <strong>de</strong>igualda<strong>de</strong> com todos os seres vivos. Sua interação permitiu até que sei<strong>de</strong>ntificasse projetivamente, com o animal e no que ele po<strong>de</strong>ria estar sofrendose ta assim <strong>de</strong> repente alguém te arranca assim, te pega, pra sentir você, né? [...]eu não vou por a mão na parte molinha <strong>de</strong>les [...] eu não quero manipulá-los.Suas associações nos remetem a possíveis conflitos <strong>de</strong> natureza sexual, osquais não po<strong>de</strong>mos afirmar.Horus, se coloca como quem chega e não sabe bem porque escolheu estarali, ou seja, é um voluntário <strong>de</strong>scompromissado que só percebe natureza daescolha que fez – e que talvez não tenha sido muito boa – quando já está lá: euacho que não entendi...eu tenho que pegá? Acaba tocando na concha talvez para


provar para os outros que não tem medo, mas suas perguntas insistentes falam<strong>de</strong> alguém que não queria entrar em contato com o animal e se ocupavamentalmente, perguntando sem parar. I<strong>de</strong>ntifica-se com o animal e afirma queo animal não quer ser incomodado, ou seja informa que só permite o toque naconcha, na exteriorida<strong>de</strong>, nada mais. Fala do animal como alguém que estápreso em si mesmo, em sua concha, ou numa gaiola o que nos faz refletir sobrepossíveis questões relacionadas aos espaços que tem e se permite para si e emseus vínculos. Em suas lembranças extrapola a experiência com os escargotspara outros animais e, i<strong>de</strong>ntificado com eles sugere sua necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong>reclusão e isolamento quando afirma ele <strong>de</strong>ve estar pensando porque essepessoal não vai embora, né, para eu ficar tranqüilo? Deixa evi<strong>de</strong>nte que se trata<strong>de</strong> uma pessoa inteligente – e que talvez mais racionalize do que se permita aentrar em contato com suas emoções – quando se põe a <strong>de</strong>screver as relaçõesmatemáticas presentes na concha dos escargots. Mas uma possívelvulnerabilida<strong>de</strong> aparece na pergunta: Qual é a <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong>sse bicho? Oparticipante <strong>de</strong> outro lado se mostra como alguém sem preconceitos, edisponível ao contato pois, apesar do animal ser assim gosmento, admite quecomeria pois tem curiosida<strong>de</strong>, assim <strong>de</strong> sabores. Se admitimos que a oralida<strong>de</strong> éa base do contato, Horus é alguém que quer experimentar, mas para isso talvezprecise enfrentar alguns bloqueios.Zeus, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do experimento apresenta clara mudança em seutom <strong>de</strong> voz que adquire um timbre mais agudo, assim como adota posturas egestos que lembram as usualmente classificadas como femininas. Suas falas,por várias vezes evocam imagens <strong>de</strong> natureza sexual: Não é melado? Tem muco?Ele vai ficar <strong>de</strong>itado? Eu não vou <strong>de</strong>ixar ele se abrir em mim... Se ele colar <strong>de</strong>pois<strong>de</strong>sgruda? Ele vai ficar gosmando na minha mão? Ai ele não vai me chupar nãovai? Ele está colocando a boca em mim! A presença do animal mobiliza em Zeusconteúdos primitivos ligados à sua sexualida<strong>de</strong>, especialmente a oral, a qual seapresenta permeada <strong>de</strong> conflitos entre o <strong>de</strong>sejo e a evitação. Tendo em vista quese refere ao animal, em todos os momentos utilizando-se dos pronomes nomasculino, é possível supor que esses conflitos ao fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejar/evitar um


contado com alguém do mesmo sexo. Esse <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> contato produz culpa: Saida mão <strong>de</strong>pois essa gosma? [...] Se eu lavar sai? Mas também produz medo enojo: Esse bicho não mor<strong>de</strong> não, né? Eu queria, tenho vonta<strong>de</strong>, mas eu tenhomedo. Medo não, né? Nojo! Eu tenho acho que nojo <strong>de</strong>le se abrir e grudar como sefosse uma chupetinha, sabe? É possível supor que parte <strong>de</strong> seus conflitosesteja relacionada à censura moral que a socieda<strong>de</strong> coloca quanto às escolhasque possa vir a fazer em sua vida o que sugere quando fala, simbolicamentesobre os animais: umas pessoas falaram pra mim que ah!, não pega porque issodaí tem veneno e vai, vai fazer mal. Fica claro que ele ainda não encontrouformas <strong>de</strong> superação pois estava reprimida essa vonta<strong>de</strong>.Apolo inicialmente faz o discurso <strong>de</strong>fensivo: não tenho nojo, não tenhoasco, não tenho dificulda<strong>de</strong> <strong>de</strong> interação. No entanto, não se permite tocar naspartes moles do animal. Usa expressões como proteção e nega a agressivida<strong>de</strong>projetada no animal: ele não vai pegar a gente [...] não é ofensivo, não temgarras, não tem chifres, armas <strong>de</strong> predador e evi<strong>de</strong>ncia seu medo <strong>de</strong> seratacado. Mas seu discurso assume, gradualmente, um tom regressivo einfantilizado enquanto <strong>de</strong>screve suas experiências. Constrói o relato com frasesinfantis, permeadas em abundância por diminutivos: bichinhos, casinha,brinquedinho, conchinhas, quando eu era pequenininho, num tom claramenteregressivo. Trás como lembrança da infância a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se a<strong>de</strong>quar àsregras sociais e à censura reprimindo seus impulsos: via esses bichinhos, davavonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> colecionar. Mas vinha sempre a idéia <strong>de</strong> que eles tinham o habitat<strong>de</strong>les, né? Então eu não po<strong>de</strong>ria tirar e levar para casa. Projeta no animal umpossível sentimento <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>sproteção e incapacida<strong>de</strong> pois eles são umtanto frágeis e limitados na locomoção. A exemplo <strong>de</strong> Dionísio, suas lembrançasassociadas ao animal remontam a imagens <strong>de</strong> contaminação e doença.Cori projeta-se nos animais o tempo todo muito embora só os tenhapegado pela concha. Em seu discurso inclui experiências com outros animaisque foram significativos durante sua vida. O contato com os escargots fez comque ela evocasse importantes conflitos <strong>de</strong> sua vida, relacionados à família <strong>de</strong>origem com a qual não tem assim aquele laço. I<strong>de</strong>ntifica-se projetivamente com


os animais em sua fragilida<strong>de</strong> e teve medo <strong>de</strong> machucar algum <strong>de</strong>les ao tocálos.Em suas lembranças fica evi<strong>de</strong>nte que tem conflitos significativosrelacionados ao amor próprio em virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ter sido rejeitada pela mãe:[...]quando ela engravidou <strong>de</strong> mim ela ia fazer outro aborto [...] ela não queria agravi<strong>de</strong>z. Mesmo tendo sido criada pela avó materna e negando que nutramágoa para com a mãe afirma: eu não dou o que eu não recebi. Refere que emsua família a situação <strong>de</strong> abuso sexual já ocorreu e <strong>de</strong>monstra indignação paracom ela. Sente-se <strong>de</strong>sprotegida e o fato <strong>de</strong> ter sido abandonada pela mãe po<strong>de</strong>ter contribuído para que se sinta como um cachorro sem dono.Vulcano surpreen<strong>de</strong>u-se com o animal da pesquisa, e manifestaclaramente sua <strong>de</strong>cepção quando afirma que achava que ia ser um rato ou outrobicho. No entanto não hesita e <strong>de</strong> modo quase automático coloca um em suamão, fato do qual se arrepen<strong>de</strong> em seguida manifestando nojo por expressõesverbais e não verbais. Ao longo do contato trás histórias <strong>de</strong> sua infância e <strong>de</strong>seus contatos com familiares e com outros tipos <strong>de</strong> animais admitindo quequando per<strong>de</strong>u seu cão eu não senti muita coisa, mas hoje lembrando eu ficotriste, ou seja, ao relembrar sua vida durante experimento, re-significou umaemoção do passado. Suas memórias <strong>de</strong> contato com animais estão permeadas<strong>de</strong> imagens relacionadas a morte, violências e perdas e admite que até bichotem lado afetivo. Sugere que tem alguma dificulda<strong>de</strong> em suas relações evínculos uma vez que vê o animal, no caso o cão, como extensão <strong>de</strong> si mesmo[...] se um dia eu for morar sozinho ou com alguém [...] é impossível ficar semcachorro, não dá! O cachorro [...]Assim, é condição sine qua non pra felicida<strong>de</strong>.Vulcano coloca claramente que o animal é uma parte indispensável da relaçãocom outro humano. Sugere fortes condicionantes <strong>de</strong> gênero em uma famílianor<strong>de</strong>stina on<strong>de</strong> homem não po<strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar sua sensibilida<strong>de</strong> e a sua nocaso mostra-se represadaÁrtemis <strong>de</strong>monstra uma excitação inicial combinada ao nojo que vai sedissipando à medida que ela interage com os animais. A beleza dos animaispercebida por Ártemis vai seduzindo-a num movimento fluído <strong>de</strong> aceitação.Suas falas partem <strong>de</strong> um ponto on<strong>de</strong> infantiliza os animais tratando-os por


diminutivos e atingem um ponto mais erotizado quando fala que o toque nele éafrodisíaco, palavra que usa mais <strong>de</strong> uma vez para se referir aos escargots. Suaoralida<strong>de</strong> fica evi<strong>de</strong>nte quando, mesmo negando que os comeria assim comosão, lembra daqueles chocolates que ven<strong>de</strong> no freeshop. Sabe aqueles <strong>de</strong>conchinha? Lindo! Aquele chocolate muito lindo. Quando eu ver no freeshop euvou lembrar que eu peguei esse negócio na mão. Quando se interessa pelo valordo animal e até mesmo quando fala <strong>de</strong> sua exuberância, projetivamente vêneles valores ou aspectos <strong>de</strong> si mesma, uma vez que se trata <strong>de</strong> pessoa quecultiva boas coisas, é bonita e atraente. As antenas do animal permitemassociações com o órgão sexual masculino que nem você falou que quando aanteninha está pra fora é porque ele já não está mais com medo, né? Com asanteninhas em pé... esse corpo mole. Hahaha. Não sei não. Por isso que... queparece afrodisíaco.Vênus <strong>de</strong>monstra muito surpresa e <strong>de</strong>sapontamento quando vê osanimais. Inicialmente tampa o nariz com as mãos evitando sentir o cheiro e emuma sucessão <strong>de</strong> expressões faciais e corporais transparece seu nojo intenso.Esta situação é bastante <strong>de</strong>sconcertante e faz com que se sinta pouco à vonta<strong>de</strong>em meio àquelas coisas melecadas, espalhadas e que lhe dão um frio. Suasfalas são rápidas, quase monossilábicas numa clara tentativa <strong>de</strong> evasão. Váriasvezes afirma às pesquisadoras: só isso! Refere que tem vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> vomitar,certamente uma resposta ao seu nojo. No entanto, <strong>de</strong> modo paradoxal, osanimais fazem-na se reportar ao tema da família: Ele é muito família, né? E aíadmite algum nível <strong>de</strong> aproximação e associação: Só isso que mexe muitocomigo. Embora tenha admitido isso ainda enquanto estava sendo filmada,somente <strong>de</strong>pois que a câmera é <strong>de</strong>sligada Vênus aborda sentimentos maisprofundos. Fica clara sua manipulação e necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> proteger-se <strong>de</strong>situação <strong>de</strong> maior exposição <strong>de</strong> sua vida, mas também fica evi<strong>de</strong>nte que asituação foi capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ar nela a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> exteriorizar seusconflitos.Diana <strong>de</strong>ntre os participantes foi a que <strong>de</strong>monstrou a emoção nojo <strong>de</strong>forma mais intensa. A expressão do nojo foi evi<strong>de</strong>nciada através <strong>de</strong> sua face,


gestos corporais, atos reflexos <strong>de</strong> engolir constantemente presentes pelasialorréia intensa, referida inclusive pela participante: [...] eu já tinharepugnância. A emoção forte assim foi <strong>de</strong> nojo, tanto que a minha salivação já táassim em abundância. Meu batimento cardíaco alterou. É surpreen<strong>de</strong>nte como,apesar da dor no meu peito em virtu<strong>de</strong> do nojo ela admite eu faço sabia? Façoisso com tudo assim. Ela pega no animal pela concha com muito esforço e<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> várias tentativas. Relata que em sua vida certas coisas que outraspessoas tem nojo <strong>de</strong> fazer ela, mesmo com nojo se sente na obrigação <strong>de</strong> fazer,se vê como a salvadora só eu tenho que fazer. Essa atitu<strong>de</strong> que assume a colocaem <strong>de</strong>staque e com responsabilida<strong>de</strong> diante dos outros, mas também revela amaneira que po<strong>de</strong> usar para ter po<strong>de</strong>r, ou seja, fazer aquilo que outros nãofazem. Suas colocações permitem pensar que por vezes po<strong>de</strong> se colocar emsituações que lhe causem muito <strong>de</strong>sgaste e aversão e nas quais usa todos osrecursos para obter sucesso, mas para não <strong>de</strong>monstrar fragilida<strong>de</strong> diante dooutro, enfrenta alguns limites e quando alcança seu objetivo consi<strong>de</strong>ra [...]Achoque eu já superei. No entanto ainda percebe em si mesma alguns bloqueios,situações que talvez sejam insuperáveis como tocar nas partes moles. Estariaela nos dando alguma sugestão sobre suas dificulda<strong>de</strong>s em lidar com o maissensível? Acho que isso eu não consigo fazer. Mas o contato permitiu a ela quere-significasse experiências anteriores: Não tenho mais repugnância pelo nojentoe nem é mais tão feio.Atena pré-estabelece uma recusa a entrar em contato com os animais.Foi nítido seu <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> escapar àquela situação tão incomoda e <strong>de</strong>sconfortável.Só gente!. Usa essa expressão várias vezes na tentativa <strong>de</strong> por fim aoexperimento. Seu contato é claramente com as pesquisadoras e nem um poucodirecionado ao animal. Faz algumas perguntas e comentários bastantesuperficiais Vocês levam e trazem essa caixa todo dia? Não tem cheiro, né?Essas são as fezes <strong>de</strong>les? Que bonitinho, tão namorando, muito provavelmentepara quebrar o incômodo silêncio. Admite que sente nojo e provavelmente essaemoção impediu-a <strong>de</strong> ir adiante. O nojo para Atena foi paralizante.


Minerva utiliza-se <strong>de</strong> racionalizações para dar conta da angústia que ocontato com o animal lhe causou. A necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> manter o controle foi talque não chega a admitir verbalmente que está com nojo, limita-se a emitir osom: Begh! No entanto, o contato evoca nela o tema da sexualida<strong>de</strong> quandoquestiona: Aqui tem machos e fêmeas? A resposta <strong>de</strong> que os animais sãohermafroditas, mobiliza uma certa curiosida<strong>de</strong>, porém sem que a emoçãoapareça claramente: On<strong>de</strong> tem um grupo mais masculino eles se estabelecem emalguns femininos, para um equilíbrio ou não? Recusa-se a falar <strong>de</strong> seussentimentos sugerindo certa fuga e evitação Quanto aos meus sentimentosassim, é um animal que eu... Que é curioso. Até eu acho interessante, né?Minerva faz questão <strong>de</strong> não ter contato com os animais, ela diz:[...]...<strong>de</strong>ixa eleslá e, eu aqui. Os sentimentos que por ventura sentiu e não foram manifestadospo<strong>de</strong>m ter sido bloqueados conscientemente porque não queria se expor, ouentão ainda estão sobre a ação <strong>de</strong> forte repressão, causando apenas anecessida<strong>de</strong> clara <strong>de</strong> fugir e evitar. Por fim, apesar <strong>de</strong> sua dificulda<strong>de</strong> em sepermitir ao contato direto com os animais foi gentil – para com aspesquisadoras quando racionaliza: Acho que tudo o que é benéfico pra pesquisacientífica, eu acho que a gente tem que ajudar, compartilhar, incentivar aparticipar, né? Por isso eu estou aqui.


CAPÍTULO 7 – CONSIDERAÇÕES FINAISAs emoções humanas se constituem, verda<strong>de</strong>iramente, num amplocampo <strong>de</strong> pesquisa. Quanto mais nos <strong>de</strong>bruçamos sobre elas, mais temos acerteza <strong>de</strong> que muito ainda temos a pesquisar. De tudo o que pu<strong>de</strong>mosconhecer ao longo <strong>de</strong> nossa pesquisa, a mais verda<strong>de</strong>ira é que só tocamos asuperfície da infinida<strong>de</strong> <strong>de</strong> emoções que fazem parte da vida daqueles quegentilmente se dispuseram a nos ajudar.A observação do contato <strong>de</strong>ssas pessoas – humanos animais – com osescargots – algumas vezes humanizados – nos permitiu atingir o objetivo <strong>de</strong>verificar quais emoções esse contato <strong>de</strong>sperta. Sem dúvida, a emoção maismarcante foi o nojo e pu<strong>de</strong>mos conferir o que Darwin, Freud, Fenichel e tantosoutros afirmaram acerca <strong>de</strong>le. Com certeza o nojo é uma experiência que surgeem tempos remotos <strong>de</strong> nossas vidas. As falas associadas ao nojo revelam, porvezes, sua associação direta com conteúdos da sexualida<strong>de</strong> oral e genital,outras vezes refletem a influência do familiar – pai, mãe, tios, etc. Alguém, <strong>de</strong>alguma forma, acaba por nos influenciar e reforçar nossas reações <strong>de</strong> nojo.Mas não foi somente do nojo que nossos participantes falaram e issoacabou por nos surpreen<strong>de</strong>r. Eles falaram <strong>de</strong> suas memórias, muitascarregadas <strong>de</strong> dor e sofrimento, nos levaram <strong>de</strong> volta ao seu passado contandosuas aventuras e viagens por lugares carregados <strong>de</strong> emoção, nos contaram <strong>de</strong>suas experiências da infância algumas <strong>de</strong>las não tão felizes. Ouvimos relatos <strong>de</strong>abandono, <strong>de</strong> medo, <strong>de</strong> solidão. Tudo isso nos leva a acreditar que o contatocom o escargot facilitou suas revelações.No entanto não <strong>de</strong>ve ter sido só isso. Preferimos crer que nossosparticipantes, especialmente aqueles que mais se abriram conosco, falaramporque sentiram confiança e espaço para fazê-lo. Porém não po<strong>de</strong>mos afirmarque qualquer pessoa que não conhecesse previamente as pesquisadoras secomportaria da mesma forma e com a mesma disposição a se expor. Assim oexperimento necessitaria ser repetido inúmeras vezes até que pudéssemos


verificar sua valida<strong>de</strong> para compreen<strong>de</strong>r – e diagnosticar? – as emoçõeshumanas.Com relação ao animal foram várias as associações <strong>de</strong> tipo mais negativoo que nos leva a pensar que a cultura – ao menos a <strong>de</strong>monstrada pelosparticipantes – ainda não valoriza essa espécie e muitos sequer admitem o fato<strong>de</strong>le po<strong>de</strong>r fazer parte do cardápio.As intervenções com o animal escargot, <strong>de</strong>ram aos indivíduosparticipantes da pesquisa, condições propícias a retomada do seu<strong>de</strong>senvolvimento emocional bloqueado, a fim <strong>de</strong> que ele pu<strong>de</strong>sse transpor aslimitações impostas pelo seu eu. Estes dados estão em sintonia com osencontrados por Martins et al 2006.Registram-se outros achados implícitos nesta pesquisa, quais sejam os<strong>de</strong> estabelecimento <strong>de</strong> vínculos e os <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> confiança que contribuírampara a exteriorização dos sentimentos. (Martins, 2006)Desse modo, espera-se que esta pesquisa contribua para a produçãocientífica da área não apenas no sentido <strong>de</strong> reduzir a insuficiência <strong>de</strong> dados arespeito do tema e auxiliar os profissionais que atuam na área <strong>de</strong> zooterapia eárea da saú<strong>de</strong> em geral. (Martins, 2006)Por fim nosso estudo permitiu-nos, efetivamente, admitir que a utilizaçãodos animais para o conhecimento dos humanos é algo possível e que <strong>de</strong>mos umpasso, mesmo que pequeno, na direção <strong>de</strong> ampliar os horizontes da pesquisaem <strong>Psicologia</strong>.


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