Otto Henrique Martins da Silva - Programa de Pós-Graduação em ...

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OTTO HENRIQUE MARTINS DA SILVAA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO: DACIÊNCIA FÍSICA À FÍSICA ESCOLARDissertação apresentada como requisitoparcial à obtenção do grau de Mestre emEducação, Curso de Pós-Graduação emEducação, Setor de Educação,Universidade Federal do Paraná.Orientador: Prof. Dr. Nilson MarcosDias GarciaCURITIBASETEMBRO 2006

OTTO HENRIQUE MARTINS DA SILVAA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO: DACIÊNCIA FÍSICA À FÍSICA ESCOLARDissertação apresenta<strong>da</strong> como requisitoparcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong>Educação, Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong>Educação, Setor <strong>de</strong> Educação,Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.Orientador: Prof. Dr. Nilson MarcosDias GarciaCURITIBASETEMBRO 2006


OTTO HENRIQUE MARTINS DA SILVAA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO: DACIÊNCIA FÍSICA À FÍSICA ESCOLARDissertação apresenta<strong>da</strong> como requisitoparcial à obtenção do grau <strong>de</strong> Mestre <strong>em</strong>Educação, Curso <strong>de</strong> Pós-Graduação <strong>em</strong>Educação, Setor <strong>de</strong> Educação,Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.Orientador: Prof. Dr. Nilson MarcosDias GarciaCURITIBASETEMBRO 2006ii


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SUMÁRIOLISTA DE ILUSTRAÇÕES...............................................................................................................................VIINTRODUÇÃO ..................................................................................................................................................... 1CAPÍTULO 1 CULTURAS E TRANSMISSÃO DE SABERES....................................................................... 91.1 CULTURA ....................................................................................................................................................... 91.2 AS CULTURAS ESCOLARES ........................................................................................................................... 121.2.1 Cultura escolar: uma breve perspectiva <strong>de</strong> análise no campo <strong>da</strong> história <strong>da</strong> educação no Brasil......... 131.3 CULTURA ESCOLAR SEGUNDO FORQUIN....................................................................................................... 171.3.1 O caráter s<strong>em</strong>ântico do conceito <strong>de</strong> cultura............................................................................................ 171.3.2 A seleção cultural dos conteúdos............................................................................................................. 201.4 TRANSPOSIÇÃO DO SABER ........................................................................................................................... 231.4.1 As esferas do saber .................................................................................................................................. 261.4.2 Os sist<strong>em</strong>as e a noosfera.......................................................................................................................... 301.4.3 A Transposição Didática ......................................................................................................................... 321.5 A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA EM ALGUNS TRABALHOS EM ENSINO DE CIÊNCIAS............................................ 35CAPÍTULO 2 ESTUDO DA CONCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DO CONCEITODE CAMPO ELÉTRICO .......................................................................................................... 442.1 ORIGENS E CONCEPÇÕES PRIMÁRIAS DOS FENÔMENOS ELÉTRICOS E MAGNÉTICOS ...................................... 442.2 A PROBLEMÁTICA DA AÇÃO À DISTÂNCIA.................................................................................................... 472.3 A QUEBRA DE SIMETRIA E O CONCEITO DE CAMPO....................................................................................... 502.4 A ‘LINGUAGEM DE FARADAY’ ..................................................................................................................... 572.5 O CONCEITO ATUAL DE CAMPO ELÉTRICO.................................................................................................... 592.6 ASPECTOS CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO............................................... 622.6.1 Os fenômenos físicos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura.................................................................................... 622.6.2 Os saberes como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura escolar....................................................................................... 64CAPÍTULO 3 ORGANIZANDO A INVESTIGAÇÃO: ELEMENTOS E INSTRUMENTOS................... 693.1 ELEMENTOS DE PESQUISA................................................................................................................... 693.2 COLETAS DE DADOS.............................................................................................................................. 743.3 ELEMENTOS DE ANÁLISE..................................................................................................................... 76CAPÍTULO 4 ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA E DA CULTURAASSOCIADOS AO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO.................................................. 794.1 O CAMPO ELÉTRICO, SEGUNDO O CONCEITO FÍSICO E A LINGUAGEM MATEMÁTICA...................................... 794.1.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou Geral....................................................................................... 804.1.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar .................................................................................................... 874.1.3 Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física............................................................................................................................ 944.2 ELEMENTOS DA CULTURA ASSOCIADOS AO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO................................................ 984.2.1 Os fenômenos físicos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura.................................................................................... 984.2.2 O saber campo elétrico como el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> cultura escolar................................................................... 1014.3 DISTÂNCIA ENTRE O OBJETO DO SABER E O OBJETO DE ENSINO .................................................................. 1044.3.1 Objeto do saber...................................................................................................................................... 1044.3.2 Objeto <strong>de</strong> ensino .................................................................................................................................... 1054.4 DESPERSONALIZAÇÃO E DESCONTEXTUALIZAÇÃO DO SABER A ENSINAR ................................................... 1074.4.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou Geral..................................................................................... 1084.4.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar .................................................................................................. 1094.5 PRÁTICAS SOCIAIS DE REFERÊNCIA NO SABER A ENSINAR .......................................................................... 1104.5.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou Geral..................................................................................... 1114.5.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar .................................................................................................. 112CAPÍTULO 5 O CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO NO ÂMBITO DA CIÊNCIA FÍSICA E DAFÍSICA ESCOLAR.................................................................................................................. 113iv


5.1 O SABER A ENSINAR................................................................................................................................... 1135.2 O SABER ENSINADO ................................................................................................................................... 122CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................................................ 124REFERÊNCIAS ................................................................................................................................................ 127ANEXOS ................................................................................................................................................... 132v


LISTA DE ILUSTRAÇÕESFIGURA 1.1 DISPOSITIVO DE FARADAY PARA ILUSTRAR A ROTAÇÃOELETROMAGNÉTICA......................................................................................................... 55FIGURA 1.2 REPRESENTAÇÃO DOS FENÔMENOS ELÉTRICO E MAGNÉTICO PORLINHAS DE CAMPO ............................................................................................................ 56QUADRO1.1 PERSONAGENS DAS VÁRIAS ESFERAS E SUAS FUNÇÕES BÁSICAS NOPROCESSO DA TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA.................................................................. 30TABELA 3.1 RELAÇÃO DOS PROFESSORES PRÉ-SELECIONADOS ................................................. 72TABELA 5.1 FENÔMENOS FÍSICOS ASSOCIADOS AO CONCEITO CAMPO ELÉTRICO ............... 114TABELA 5.2 FORMAS DE INTRODUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO ......................... 116TABELA 5.3 PRÁTICAS SOCIAS DE REFERÊNCIA .............................................................................. 118TABELA 5.4 CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO................................................................................... 119TABELA 5.5 CONCEPÇÕES DAS INTERAÇÕES ELÉTRICAS ENTRE OS CORPOS ......................... 121vi


RESUMOEste trabalho <strong>de</strong>senvolve um estudo sobre a constituição do conceito <strong>de</strong> campo elétricono âmbito <strong>da</strong> Ciência Física e <strong>da</strong> Física Escolar, tendo como objetivo a realização <strong>de</strong>uma análise <strong>de</strong> como foi constituído e como está posto o conceito <strong>de</strong> campo elétriconas esferas do saber a ensinar e do saber ensinado. Para tal, se apóia na concepção <strong>de</strong>cultura escolar, segundo Jean Clau<strong>de</strong> Forquin e <strong>de</strong> transposição didática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>por Yves Chevallard. Apoiado num breve resgate histórico <strong>da</strong> construção do conceito<strong>de</strong> campo elétrico, i<strong>de</strong>ntificou-se e analisou-se os livros pelos quais os professoresapren<strong>de</strong>ram e ensinam tal conceito, como também verificou-se como os alunos, <strong>em</strong>seus ca<strong>de</strong>rnos, registram o que apren<strong>de</strong>ram. As análises que foram realiza<strong>da</strong>s <strong>em</strong>alguns manuais didáticos, tanto <strong>da</strong> Educação Superior como <strong>da</strong> Educação Básica,assim como, <strong>em</strong> alguns ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> anotações <strong>da</strong>s aulas <strong>de</strong> Física, mostraram a formacomo o conceito <strong>de</strong> campo elétrico se apresenta nos textos analisados, levando <strong>em</strong>consi<strong>de</strong>ração aspectos <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong> transposição didática associados a este conceito.Também, como resultados <strong>da</strong>s análises, são apresentados aspectos associados ao saberque revelam a <strong>de</strong>scontextualização e <strong>de</strong>spersonalização observados durante o<strong>de</strong>senvolvimento do trabalho, como também, suas limitações e perspectivas <strong>de</strong> novasinvestigações.PALAVRAS CHAVECampo elétrico, cultura escolar, saber escolar, transposição didática.vii


ABSTRACTThis work presents a study about the composition of the electric field concept inPhysics as science and in Physics at school. Its aim is to analyze how the concept ofelectric field was constituted and how this concept is present in teaching and learning.To achieve its aim, this study is based on Jean Clau<strong>de</strong> Forquin’s concept of schoolculture and on Yves Chevallard’s view of di<strong>da</strong>ctic transposition. After a short historicreview of how the electric field concept was ma<strong>de</strong> up, some books used by teachers tolearn and to teach this concept were analyzed and as well as notes taken by stu<strong>de</strong>nts.The material for this analysis was taken from graduation and compulsory educationtextbooks and notebooks of Physics classrooms and it was able to point out how theelectric field concept was composed in relationship to school culture and di<strong>da</strong>ctictransposition. Furthermore, the results of this analysis present non-contextualized andnon-personalized aspects of knowledge observed during the study, study limitationsand new lines of investigation.KEY-WORDSElectric field, school culture, scholarly knowledge, di<strong>da</strong>ctic transposition.viii


1INTRODUÇÃOPor um longo período trabalhei com o Ensino Fun<strong>da</strong>mental e Médio naEscola pública e priva<strong>da</strong>, tive a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> vivenciar estes dois ambientespe<strong>da</strong>gógicos <strong>da</strong> Educação Básica. Neles, atuei no Ensino Fun<strong>da</strong>mental como professor<strong>de</strong> Mat<strong>em</strong>ática e no Médio como professor <strong>de</strong> Física e Mat<strong>em</strong>ática. Nesse período, osprobl<strong>em</strong>as presenciados e vividos foram inúmeros, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> os estruturais, como aorganização do espaço físico e o funcionamento administrativo-pe<strong>da</strong>gógico na Escolapública ou a relação ‘escola-cliente’ na Escola priva<strong>da</strong>, até os relacionados ao ensinoaprendizag<strong>em</strong>comuns a to<strong>da</strong>s as Escolas.Como ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s questões relaciona<strong>da</strong>s ao ensino e a aprendizag<strong>em</strong>, pu<strong>de</strong>vivenciar a situação: o que fazer para que os alunos enten<strong>da</strong>m os conceitos trabalhados<strong>em</strong> aula ou como fazer para tornar os conteúdos <strong>de</strong> ensino mais ‘fáceis’ <strong>de</strong> ser<strong>em</strong>entendidos; como proporcionar um ensino que tornasse a linguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong> simplese objetiva, mas que não per<strong>de</strong>sse a essência do conceito físico; como <strong>de</strong>scomplexificara difícil linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática e/ou científica. Uma coisa eu tinha consciência, osprobl<strong>em</strong>as associados a estas questões tornavam as aulas <strong>de</strong>sestimulantes e monótonas,resultados, também, <strong>de</strong> uma metodologia que se esgota <strong>em</strong> si mesma, ou seja, compouca aprendizag<strong>em</strong> dos conceitos físicos.Probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong> – como os citados acima – presentes nosdois níveis escolares e relacionados às duas disciplinas cita<strong>da</strong>s foram causas <strong>de</strong> muitasreflexões e pon<strong>de</strong>rações acerca do papel do educador e <strong>da</strong> sua formação, enquanto umprofissional do ensino <strong>da</strong> Educação Básica. Quanto à minha atuação, até o present<strong>em</strong>omento, pouco tinha a fazer senão refletir e analisar, procurando enten<strong>de</strong>r o seupercurso. Mas, <strong>em</strong> relação ao meu papel <strong>de</strong> educador frente aos probl<strong>em</strong>as reais naárea <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>, não foi possível ignorá-los e fingir que eles nãoestivess<strong>em</strong> lá e dissess<strong>em</strong> respeito ao fazer e pensar do educador.


2A complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e a dimensão <strong>de</strong>stes probl<strong>em</strong>as fizeram-me aprofun<strong>da</strong>r essasquestões e transformá-las <strong>em</strong> objetos <strong>de</strong> pesquisa. Nesse sentido optei por investigarum tipo <strong>de</strong> Escola e uma natureza específica do probl<strong>em</strong>a, ou seja, questõesrelaciona<strong>da</strong>s ao ensino e, especificamente, na disciplina <strong>de</strong> Física. Quanto ao tipo <strong>de</strong>Escola, escolhi a pública, pois além do nobre papel <strong>de</strong> produção e transmissão doconhecimento – inerente às Escolas, enten<strong>de</strong>ndo que este espaço segundo GIROUX eSIMON (2000, p. 95), é um território <strong>de</strong> lutas que possibilita o fortalecimento dopo<strong>de</strong>r social e <strong>da</strong>s práticas <strong>de</strong>mocráticas. No entanto, procurei restringir as reflexõesaos probl<strong>em</strong>as <strong>de</strong> natureza didático-pe<strong>da</strong>gógicas que diziam respeito à constituição e atransmissão do conhecimento.A pesquisa realizou-se tendo como referência a cultura escolar e atransposição didática. Tal escolha se <strong>de</strong>veu ao fato <strong>de</strong> que ao ser elaborado no âmbito<strong>da</strong> Ciência Física, o conhecimento que é transmitido para o âmbito escolar, e, <strong>em</strong> todosos momentos <strong>em</strong> que o conhecimento escolar é constituído ou ensinado, há, a priori,uma ação pe<strong>da</strong>gógica sobre o conhecimento que proporcionou a sua constituição outransmissão. Ou seja, este conhecimento antes <strong>da</strong> sua transmissão já foi alvo <strong>de</strong> umaescolha não arbitrária por meio <strong>de</strong> uma cultura pré-estabeleci<strong>da</strong>, mesmo quando nãofora ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente produzido (FORQUIN, 1992). A esta cultura – transmiti<strong>da</strong> ouconstituí<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong> Escola – <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> cultura escolar, FORQUIN (1993,p.167) <strong>de</strong>finiu como “um conjunto <strong>de</strong> conceitos cognitivos e simbólicos selecionados,organizados, ‘normalizados’ e ‘rotinizados’, sob o efeito dos imperativos <strong>da</strong>di<strong>da</strong>tização, e que constitu<strong>em</strong> habitualmente o objeto <strong>de</strong> uma transmissão <strong>de</strong>libera<strong>da</strong>no contexto <strong>da</strong>s escolas.” É com esta perspectiva que ir<strong>em</strong>os abor<strong>da</strong>r a cultura, ou seja,o saber científico uma vez <strong>de</strong>signado como objeto <strong>de</strong> ensino, foi di<strong>da</strong>tizado, <strong>de</strong>poisapropriado e reestruturado pelo professor e posteriormente ensinado aos alunos, frentea uma cultura escolar que privilegia os saberes, os alunos, o professor e os processos<strong>de</strong> di<strong>da</strong>tização.


3No processo <strong>da</strong> transmissão cultural, observa-se que os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura– contidos nos saberes – ‘<strong>de</strong>screv<strong>em</strong>’ um curso on<strong>de</strong> se inicia e se <strong>de</strong>sloca, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> omomento <strong>de</strong> sua criação até o momento <strong>em</strong> que é ensinado. Nesse processo é possívelperceber as esferas que cont<strong>em</strong>plam os saberes científico e escolar. Ao saber científicopo<strong>de</strong>mos associar, por ex<strong>em</strong>plo, o processo laborioso <strong>da</strong> sua criação e transmissão aolongo dos t<strong>em</strong>pos, on<strong>de</strong> os cientistas, o contexto sociocultural e o próprioconhecimento criado são participantes fun<strong>da</strong>mentais na constituição <strong>da</strong> sua história.Ao saber escolar, por sua vez, além <strong>da</strong> sua construção histórica, <strong>de</strong>stacamos a presença<strong>de</strong> três el<strong>em</strong>entos: o professor, o aluno e o saber, que constitu<strong>em</strong> uma trama <strong>de</strong>relações <strong>da</strong>s quais se <strong>de</strong>stacam pelo menos três momentos <strong>de</strong>terminantes e carregados<strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>: um que envolve o saber e o professor quando <strong>em</strong> suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s queantece<strong>de</strong>m o momento didático ou a sua prática pe<strong>da</strong>gógica; outro, rico <strong>em</strong> açõespe<strong>da</strong>gógicas, que é formado pelo professor, saber e aluno, naquilo que constitu<strong>em</strong> asua prática pe<strong>da</strong>gógica, ou seja, um momento pleno <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>; efinalmente, o momento ‘solitário’ entre o saber e o aluno, on<strong>de</strong> este exercita a suaaprendizag<strong>em</strong> através <strong>da</strong> reflexão sobre o saber e suas situações probl<strong>em</strong>as.A forma como o saber se apresenta nos manuais didáticos difer<strong>em</strong> <strong>da</strong>quelaapresenta<strong>da</strong> à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica na ocasião <strong>da</strong> sua criação e é mais distinta ain<strong>da</strong>,quando nos referimos aos saberes dos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar. Este saber quechega às mãos do professor, principalmente <strong>em</strong> livros didáticos, não correspon<strong>de</strong>,necessariamente, à mesma forma que ele dispõe no momento <strong>em</strong> que expõedi<strong>da</strong>ticamente o conteúdo <strong>de</strong> ensino diante dos alunos. Pressupomos que o saber sofreuvárias modificações <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a esfera acadêmica até a escolar, sendo ao longo do seucurso re-elaborado e di<strong>da</strong>tizado, a<strong>de</strong>quando o conteúdo <strong>de</strong> ensino à reali<strong>da</strong><strong>de</strong> doeducando. Este processo <strong>de</strong> transformação e transmissão do saber constitui o foco <strong>da</strong>investigação <strong>de</strong>ste trabalho <strong>de</strong> pesquisa.Elegendo a Escola, local <strong>de</strong> fortes interações socioculturais e on<strong>de</strong> ocorr<strong>em</strong>complexos fenômenos pe<strong>da</strong>gógicos, como parte do espaço investigativo <strong>da</strong> nossa


5cientistas; o saber a ser ensinado – selecionado e produzido pelos especialistas noâmbito <strong>da</strong> noosfera e o saber ensinado – produzido pelo professor nosestabelecimentos escolares.Para Chevallard, no curso do saber, que se inicia na esfera acadêmica echega até a sala <strong>de</strong> aula, ocorr<strong>em</strong> dois momentos para a transposição didática: umexterno e outro interno. A transposição didática <strong>em</strong> sua fase externa é realiza<strong>da</strong> pelosespecialistas <strong>da</strong> área, on<strong>de</strong> o saber sábio sofre transformações até ser a<strong>da</strong>ptado comosaber a ensinar. A interna ocorre no domínio escolar, on<strong>de</strong> o professor <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha umpapel <strong>de</strong>terminante no processo <strong>da</strong> transposição didática. Este momento apresenta umagran<strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong> e riquezas pe<strong>da</strong>gógicas, que envolve o professor, o saber e oaluno e se constitui numa base para que se possa pensar o objeto <strong>de</strong> estudo. É tambémneste espaço que são fun<strong>da</strong><strong>da</strong>s as relações didáticas, e o bom funcionamento dosist<strong>em</strong>a – professor-saber-aluno – <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s ‘tensões’ estabeleci<strong>da</strong>s pela relaçãoprofessor-aluno, impostas, explícita ou implicitamente, por meio do contrato didático 2 .Os conteúdos <strong>de</strong> ensino, por sua vez, são abor<strong>da</strong>dos, no ambiente escolar,com as <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>s modificações e transformações didáticas que o processo <strong>de</strong> ensinoaprendizag<strong>em</strong>lhes impõe. Este processo modifica a natureza do conhecimentocientífico, on<strong>de</strong> muitas informações associa<strong>da</strong>s a ele são perdi<strong>da</strong>s e outras lhes sãovincula<strong>da</strong>s, além <strong>de</strong> simplificar a linguag<strong>em</strong> e a concepção conceitual <strong>de</strong>steconhecimento.Entretanto, apesar <strong>da</strong> intenção <strong>de</strong> facilitar o entendimento do conhecimentocientífico, os processos <strong>de</strong> di<strong>da</strong>tização, para alguns casos, não têm conseguido alcançaresse objetivo. No caso particular do conceito <strong>de</strong> campo e, especialmente, o <strong>de</strong> campoelétrico, verifica-se que o mesmo é apresentado nos livros didáticos <strong>de</strong> forma abstrata2 “A noção <strong>de</strong> contrato didático, a qual, <strong>de</strong>scrita por Brousseau (1986), refere-se ao estudo <strong>da</strong>s regras e<strong>da</strong>s condições que condicionam o funcionamento <strong>da</strong> educação escolar, quer seja no contexto <strong>de</strong> umasala <strong>de</strong> aula, no espaço intermediário <strong>da</strong> instituição escolar quer seja na dimensão mais ampla dosist<strong>em</strong>a educativo.” (PAIS, 2002, p. 77).


6e <strong>de</strong>scontextualiza<strong>da</strong>, causando uma perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> aos alunos (e porque não aosprofessores?) quando é abor<strong>da</strong>do.Nessa perspectiva, <strong>em</strong> que o saber transita e é constituído e tomando comoreferência a concepção <strong>de</strong> cultura escolar e transposição didática, segundo asabor<strong>da</strong>gens <strong>da</strong><strong>da</strong>s, respectivamente, por FORQUIN (1993) e CHEVALLARD (1991),<strong>de</strong>limitamos o objetivo <strong>de</strong>sta investigação, qual seja o <strong>de</strong> analisar como foi constituídoe como está posto o conceito <strong>de</strong> campo elétrico nas esferas do saber a ensinar e dosaber ensinado.As questões <strong>de</strong> investigação que foram surgindo nesse processo diziamrespeito aos seguintes aspectos:a) Como foi criado e <strong>de</strong>senvolvido o conceito físico <strong>de</strong> campo elétrico?b) Quais as implicações <strong>de</strong>ste conceito, no âmbito <strong>da</strong> cultura, na CiênciaFísica e na Física Escolar?c) Após a sua transposição didática que características ou proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sforam manti<strong>da</strong>s ou suprimi<strong>da</strong>s ou até cria<strong>da</strong>s?d) Como o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, após ter sido histórica eculturalmente aceito, t<strong>em</strong> sido apresentado nos manuais didáticos e nasanotações dos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física nas salas <strong>de</strong> aula?Procurando respon<strong>de</strong>r a essas questões e atingir ao objetivo proposto, noprimeiro capítulo <strong>de</strong>ssa dissertação – Culturas e transmissão <strong>de</strong> saberes – buscamos,no trabalho <strong>de</strong> Williams, informações para uma compreensão <strong>da</strong> dimensão histórica dosignificado <strong>da</strong> palavra ‘cultura’ e o seu aspecto polissêmico. Já <strong>em</strong> relação à ‘culturaescolar’ fiz<strong>em</strong>os, inicialmente, uma breve retrospectiva, no momento <strong>em</strong> que ela éconsi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como um campo <strong>de</strong> investigação ou como um instrumento <strong>de</strong> análise noâmbito <strong>da</strong> História <strong>da</strong>s Disciplinas Escolares. Também analisamos a relação ‘educaçãoe cultura’, tendo como pontos importantes a idéia <strong>de</strong> ‘transmissão cultural’ e as<strong>de</strong>finições <strong>de</strong> ‘cultura e saberes escolares’ <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s por Forquin. Ain<strong>da</strong> nestecapítulo, procuramos fun<strong>da</strong>r a pesquisa nos conceitos referentes à teoria <strong>da</strong>


7transposição didática <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Chevallard, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>stacamos os saberes nasesferas acadêmica e escolar e as transformações e implicações através do processotranspositivo. Finalmente, são <strong>de</strong>scritos alguns trabalhos <strong>de</strong> pesquisadores que têm noconceito <strong>de</strong> transposição didática um <strong>em</strong>basamento teórico, principalmente, no âmbito<strong>da</strong> Educação <strong>em</strong> Ciências.O segundo capítulo – Estudo <strong>da</strong> concepção e construção do conceito <strong>de</strong>campo elétrico – por sua vez, apresenta um texto que abordou a construção históricado conceito <strong>de</strong> campo elétrico, consi<strong>de</strong>rando as primeiras concepções associa<strong>da</strong>s aosfenômenos <strong>de</strong> atração eletrostática, assim como as questões que probl<strong>em</strong>atizaram acriação <strong>de</strong>ste conceito. Em segui<strong>da</strong>, realçamos os aspectos culturais no âmbito <strong>da</strong>criação <strong>de</strong>ste conceito como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura.Os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> pesquisa <strong>de</strong> campo são apresentados no terceiro capítulo –Organizando a investigação: el<strong>em</strong>entos e instrumentos – no qual são <strong>de</strong>scritosaspectos metodológicos <strong>da</strong> pesquisa. A partir dos <strong>da</strong>dos coletados sobre 25 escolasinvestiga<strong>da</strong>s por VILLATORRE (2004), selecionamos duas turmas <strong>de</strong> dois professores<strong>de</strong> escolas distintas para ser<strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> nossa investigação. No contato com estesprofessores foram i<strong>de</strong>ntificados os livros <strong>de</strong> Física nos quais eles estu<strong>da</strong>ram <strong>em</strong> seuscursos superiores e aqueles que usam para suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s didáticas, como livro textoou como livro <strong>de</strong> apoio, sobre os quais foi feita uma análise <strong>de</strong> como o conceito <strong>de</strong>campo elétrico era apresentado e construído. Essa mesma análise foi também feita comos ca<strong>de</strong>rnos dos alunos <strong>da</strong>s turmas dos professores participantes. Ain<strong>da</strong>, neste capítulo<strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os os el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> análise que foram utilizados na investigação.Os resultados do trabalho <strong>de</strong> análise com esse material, livros <strong>de</strong> formação,livros <strong>de</strong> texto <strong>de</strong> sala <strong>de</strong> aula e ca<strong>de</strong>rnos, são apresentados no quarto capítulo -Análise <strong>de</strong> alguns aspectos <strong>da</strong> transposição didática e <strong>da</strong> cultura associados aoconceito <strong>de</strong> campo elétrico - on<strong>de</strong> <strong>de</strong>screv<strong>em</strong>os alguns aspectos <strong>da</strong> cultura e <strong>da</strong>transposição didática associa<strong>da</strong>s ao conceito <strong>de</strong> campo elétrico, como: a forma comoeste conceito se apresenta nos textos analisados, o conhecimento e os saberes a ele


9CAPÍTULO 1 CULTURAS E TRANSMISSÃO DE SABERESA Escola mantém, ain<strong>da</strong> hoje, na sua concepção mo<strong>de</strong>rna, tradições queperduram <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua orig<strong>em</strong>, quando foi institucionaliza<strong>da</strong>. Do universo <strong>de</strong> tradiçõesque a Escola conserva, dois <strong>de</strong>les são importantes <strong>de</strong>stacar para esta investigação: atransformação e a transmissão do conhecimento. O conhecimento no âmbito escolarfoi e é submetido a vários processos educacionais, tais como as práticas escolares e osprocessos <strong>de</strong> di<strong>da</strong>tização. A principal finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>stas ações educacionais épossibilitar a transformação e a transmissão <strong>de</strong> alguns conhecimentos na forma <strong>de</strong>saber escolar. Porém, este conhecimento – saber escolar – antes <strong>de</strong> ser escolarizado,foi previamente ‘eleito’ como um conhecimento que as gerações futuras <strong>de</strong>verão, nãosó conhecer, mas também, praticar e garantir a sua existência.Estes conhecimentos, que são submetidos aos processos didáticos, po<strong>de</strong>m serentendidos como resultados <strong>da</strong>s inúmeras experiências do hom<strong>em</strong> com o seu meio e <strong>da</strong>sua relação com os saberes e que permit<strong>em</strong> que sejam construídos significados nasrelações socioculturais e nas criações do hom<strong>em</strong>, constituindo-se assim a Cultura <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong> na qual está inserido.1.1 CULTURAA palavra ‘cultura’ é um termo freqüent<strong>em</strong>ente usado <strong>em</strong> diversos espaçossociais <strong>em</strong> que estão presentes ações <strong>de</strong> natureza sociais, políticas, econômicas e,principalmente, educacionais. Assim encontramos, nos diversos meios e discursos,<strong>de</strong>nominações associando à palavra ‘cultura’ algo como: ‘cultura geral’, ‘culturapopular’, ‘cultura <strong>de</strong> massa’, ‘cultura escolar’, ‘cultura erudita’, ‘cultura acadêmica’etc. Também, <strong>da</strong> mesma forma, é usa<strong>da</strong> para <strong>de</strong>signar as tradições <strong>de</strong> um povo, como:a ‘cultura indígena’, a ‘cultura européia’, a ‘cultura africana’, a ‘cultura brasileira’, as‘culturas regionais’ etc. Ain<strong>da</strong>, po<strong>de</strong>mos ver o <strong>em</strong>prego <strong>de</strong>ste vocábulo associado aoindivíduo, procurando <strong>de</strong> alguma forma lhe atribuir um ‘status social’ quanto ao


121.2 AS CULTURAS ESCOLARESHOBSBAWM 5 , citado por VALDEMARIN (2000, p. 74), coloca ainstituição escolar mo<strong>de</strong>rna entre as ‘tradições inventa<strong>da</strong>s’ no século XIX que t<strong>em</strong>como objetivo “inculcar valores e normas <strong>de</strong> comportamento então nascentes, pormeio <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> práticas, cujos princípios e conteúdos serviram à coesão sociale à legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> hierárquica”. Corroborando com esse pensamento, PESSANHA et alii(2004, p. 62), pon<strong>de</strong>ram que é a Escola, <strong>de</strong> fato, um espaço <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> saberes,símbolos e valores, como também um lugar <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> formação e <strong>de</strong> reproduçãodos valores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong>.Numa abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> sociocultural <strong>da</strong> Escola, MAFRA (2003), i<strong>de</strong>ntifica trêsdimensões culturais presentes nos estabelecimentos escolares: a Cultura na Escola, aCultura <strong>da</strong> Escola e a Cultura Escolar. A autora mostra que os estudos que abor<strong>da</strong>m aCultura na Escola têm sido produzidos nos EUA, <strong>em</strong> países europeus e anglo-saxões ea questão central <strong>de</strong>stes estudos está na <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>s manifestações <strong>de</strong> uma ou maisculturas no interior <strong>da</strong> Escola e na análise <strong>de</strong> suas relações com o instituído <strong>da</strong> culturaheg<strong>em</strong>ônica. A Cultura <strong>da</strong> Escola, por sua vez, busca <strong>da</strong>r visibili<strong>da</strong><strong>de</strong> ao que se<strong>de</strong>nomina ethos cultural <strong>de</strong> um estabelecimento escolar, sua marca ou i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>cultural. Assim, o olhar do pesquisador está voltado para os processos maisparticulares e contingentes <strong>da</strong> Escola. Para a autora, a terceira dimensão cultural, aCultura Escolar, busca privilegiar as transformações e impregnações que constitu<strong>em</strong> avi<strong>da</strong> escolar, como também a trajetória histórica e social <strong>de</strong> instituições escolares.5 HOBSBAWM, E. e RANGER, T. (Orgs.). A invenção <strong>da</strong>s tradições. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Paz e Terra,1997.


131.2.1 Cultura escolar: uma breve perspectiva <strong>de</strong> análise no campo <strong>da</strong> história <strong>da</strong>educação no BrasilOs estabelecimentos escolares parec<strong>em</strong> ser um espaço privilegiado para atransmissão do conhecimento e valores para um <strong>de</strong>terminado t<strong>em</strong>po, contribuindoassim para a constituição <strong>da</strong> cultura escolar, conceito que, a ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> outros jámencionados, não é <strong>de</strong> fácil formulação. Uma análise sobre como esse conceito é maiscomumente utilizado pelos pesquisadores e uma síntese <strong>da</strong>s investigações que toma acultura escolar como perspectiva <strong>de</strong> análise ou como campo <strong>de</strong> investigação foirealizado <strong>em</strong> artigo elaborado por FARIA FILHO et alii (2004, p. 139-159).Neste artigo, que vamos tomar como uma referência importante, os autorestraz<strong>em</strong> uma significativa síntese dos trabalhos investigativos que vêm sendo realizadospelos pesquisadores <strong>da</strong> educação brasileira e apresenta um resgate <strong>de</strong> como o conceito<strong>de</strong> cultura escolar foi sendo construído como categoria <strong>de</strong> análise e como campo <strong>de</strong>investigação 6 .JULIA 7 , citado por FARIA FILHO et alii (2004, p. 143), afirma que “po<strong>de</strong>rse-ia<strong>de</strong>screver a cultura escolar como um conjunto <strong>de</strong> normas que <strong>de</strong>fin<strong>em</strong>conhecimentos a ensinar e condutas a inculcar, e um conjunto <strong>de</strong> práticas quepermit<strong>em</strong> a transmissão <strong>de</strong>sses conhecimentos e a incorporação <strong>de</strong>ssescomportamentos.”Também segundo FARIA FILHO et alii (2004, p. 144), CHERVEL“advogava a capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> escola <strong>em</strong> produzir uma cultura específica, singular eoriginal” e também que “a instituição escolar era capaz <strong>de</strong> produzir um saberespecífico cujos efeitos estendiam-se sobre a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e a cultura, e que <strong>em</strong>ergia <strong>da</strong>s6 ‘A cultura escolar como categoria <strong>de</strong> análise e como campo <strong>de</strong> investigação na história <strong>da</strong> educaçãobrasileira’, publicado na revista Educação e Pesquisa <strong>da</strong> USP <strong>em</strong> 2004. Neste artigo observamoscomo o conceito <strong>de</strong> cultura escolar aparece nos trabalhos <strong>de</strong> D. Julia, A. Chervel, J. C. Forquin e A.V. Frago.7 JULIA, D. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira <strong>de</strong> História <strong>da</strong> Educação,Campinas, n. 1, p. 9-44, 2001.


14<strong>de</strong>terminantes do próprio funcionamento institucional.” (FARIA FILHO et alii, 2004,p. 145).Já FORQUIN, apud FARIA FILHO et alii (2004, p. 146), “caracterizava acultura escolar como seletiva, no que concerne à cultura social, e <strong>de</strong>riva<strong>da</strong>, no quetange à sua relação com a cultura <strong>de</strong> criação ou invenção <strong>da</strong>s ciências fonte”, enquantoque para FRAGO, apud FARIA FILHO et alii (2004, p. 147) a “cultura escolarrecobre as diferentes manifestações <strong>da</strong>s práticas instaura<strong>da</strong>s no interior <strong>da</strong> escola,transitando <strong>de</strong> alunos a professores, <strong>de</strong> normas a teorias. Na sua interpretação,englobava tudo o que acontecia no interior <strong>da</strong> escola.”.Outro trabalho analisado pelos autores é o artigo <strong>de</strong> J. M. AZANHA,‘Cultura escolar brasileira: um programa <strong>de</strong> pesquisa’, editado na Revista <strong>da</strong> USP <strong>em</strong>1991. Segundo os autores, AZANHA “partia <strong>de</strong> uma interrogação sobre a crise <strong>em</strong>educação e propunha um inventário <strong>da</strong>s práticas escolares, <strong>de</strong> maneira a realizar ummapeamento cultural <strong>da</strong> escola, atento à sua constituição histórico-social.” (i<strong>de</strong>m,2004, p.141), assim como in<strong>da</strong>gava acerca <strong>da</strong> eficiência <strong>da</strong>s reformas educacionais enas probl<strong>em</strong>atizações e <strong>da</strong>va “<strong>de</strong>staque à função cultural <strong>da</strong> escola <strong>em</strong> face <strong>da</strong>diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> clientela, às relações entre saber teórico e saber escolar e as conexõesentre vi<strong>da</strong> escolar e reformas educativas.” (ibi<strong>de</strong>m).Com as traduções dos artigos <strong>de</strong> André Chervel, ‘História <strong>da</strong>s disciplinasescolares: reflexões sobre um campo <strong>de</strong> pesquisa’, <strong>em</strong> 1990 e <strong>de</strong> Jean Clau<strong>de</strong>FORQUIN, ‘Saberes escolares, imperativos didáticos e dinâmicas sociais’, <strong>em</strong> 1992,pela revista Teoria e Educação, <strong>da</strong>va-se início, segundo FARIA FILHO et alii (2004,p. 142), “a uma reflexão que atingiria uma gama varia<strong>da</strong> <strong>de</strong> pesquisas educacionais.”Além disso, tendo como referência a noção <strong>de</strong> cultura escolar como categoria<strong>de</strong> análise ou como campo <strong>de</strong> investigação, os pesquisadores brasileiros têm<strong>de</strong>senvolvido estudos <strong>de</strong> reconheci<strong>da</strong> importância <strong>em</strong> história <strong>da</strong> educação brasileira,levando não somente à aplicação <strong>da</strong>s teorias ou <strong>de</strong>finições cria<strong>da</strong>s por pesquisadoresestrangeiros, mas também, a uma gran<strong>de</strong> riqueza <strong>de</strong> elaboração e criativi<strong>da</strong><strong>de</strong>


15acentua<strong>da</strong> nos processos <strong>de</strong> apropriação, ocorrendo, até mesmo, tentativas <strong>de</strong> se proporoutras <strong>de</strong>finições alternativas àquelas propostas nos textos anteriormente citados(i<strong>de</strong>m, 2004, p. 150).Ain<strong>da</strong> segundo FARIA FILHO et alii (2004, p. 150 e 151), a área <strong>de</strong>pesquisa que mais imediata e intensamente t<strong>em</strong> se utilizado dos diversos pressupostosteóricos subjacentes às diversas interpretações <strong>de</strong> cultura escolar na história <strong>da</strong>educação é a <strong>da</strong> investigação acerca dos saberes e conhecimentos escolares. Estaspesquisas estão volta<strong>da</strong>s ao menos sobre três gran<strong>de</strong>s focos in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes: “<strong>de</strong> umlado, há aqueles que se <strong>de</strong>dicam a investigar os impressos pe<strong>da</strong>gógicos e suaimportância como estratégia <strong>de</strong> difusão <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>los e idéias pe<strong>da</strong>gógicos, analisandotambém as práticas <strong>de</strong> apropriação a que tais objetos culturais estão sujeitos (Carvalho,1991, 1998; Biccas, 2001; Souza, 2001; Catani; Bastos, 1997)” e para a análise <strong>da</strong>spráticas <strong>da</strong> leitura e <strong>da</strong> escrita, sejam estas escolares ou não, interrogando <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o seuensino e diss<strong>em</strong>inação social, até a presença <strong>de</strong>sses saberes e competências naconstituição <strong>de</strong> subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, nos modos <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> e nas diversas maneiras <strong>de</strong>estruturação dos saberes e po<strong>de</strong>res <strong>em</strong> nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong> (Vi<strong>da</strong>l, 2002; Esteves, 2002).”O segundo foco <strong>de</strong> estudos, segundo os autores, diz respeito à história docurrículo e <strong>da</strong>s disciplinas escolares, on<strong>de</strong> se po<strong>de</strong>m observar os trabalhos <strong>de</strong> SOUZA(2000) e BITTENCOURT (2003). E, finalmente, a outra vertente são as práticasescolares, a materiali<strong>da</strong><strong>de</strong> e formali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> cultura escolar. “Nessa direção, ganharelevo um número significativo <strong>de</strong> trabalhos que têm renovado <strong>de</strong> formas marcantes osestudos sobre os métodos escolares ou pe<strong>da</strong>gógicos no Brasil (Camargo, 1997; Bastose Faria Filho, 1999; Val<strong>de</strong>marin, 1998; Barra, 2001; Inácio, 2003; Schelbauer, 2003;Gonçalves, 2004).”De acordo com FARIA FILHO et alii (2004, p. 153), a noção <strong>de</strong> culturaescolar t<strong>em</strong> proporcionado um requintado aprimoramento metodológico e analítico nasnossas pesquisas e isso <strong>de</strong>man<strong>da</strong> estudos ca<strong>da</strong> vez mais fun<strong>da</strong>mentais; isto implica <strong>em</strong>pesquisas <strong>de</strong> base no âmbito <strong>da</strong> história <strong>da</strong> educação, on<strong>de</strong> há uma ausência <strong>de</strong>


16pesquisas <strong>de</strong>sta natureza. As práticas escolares constitu<strong>em</strong> o principal foco nos estudossobre as culturas escolares, tornando-se, portanto, o objeto <strong>de</strong> dimensão fun<strong>da</strong>mental.É sobre este objeto que o nosso olhar e in<strong>da</strong>gações <strong>de</strong>v<strong>em</strong> nos levar a perceber aspráticas <strong>de</strong> que o objeto é portador ou que formaliza. No entanto, muitas vezes,estamos li<strong>da</strong>ndo mais com exercícios <strong>de</strong> prescrição <strong>de</strong> práticas do que com práticas nointerior <strong>da</strong> Escola, ou seja, <strong>em</strong> boa parte estamos li<strong>da</strong>ndo mais com culturas prescritasdo que com culturas escolares no interior <strong>da</strong> Escola.O estudo <strong>da</strong> cultura escolar, <strong>de</strong> acordo com PESSANHA et alii (2004, p. 63),é o estudo dos processos e produtos <strong>da</strong>s práticas escolares que admit<strong>em</strong> a transmissão<strong>de</strong> conhecimentos e a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> condutas circunscritas à Escola. Isso implicaanalisar a acepção imposta aos processos <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> saberes e inculcação <strong>de</strong>valores <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong>sse espaço, como também, <strong>de</strong>finir a transmissão como el<strong>em</strong>entoprincipal <strong>de</strong>sse processo.JULIA 8 , citado por PESSANHA et alii (2004, p. 63), diz que“a constituição <strong>de</strong> uma cultura escolar exigiu três el<strong>em</strong>entos essenciais: um espaçoespecífico, cursos graduados <strong>em</strong> níveis e corpo profissional próprio. Esses el<strong>em</strong>entosconstitu<strong>em</strong> a base para a análise <strong>da</strong>s práticas que permitiram a transmissão <strong>de</strong>conhecimentos e a inculcação <strong>de</strong> condutas e valores.A análise <strong>da</strong> história <strong>da</strong> cultura escolar fun<strong>da</strong>menta-se, como qualquer história cultural, nahistória <strong>de</strong> três el<strong>em</strong>entos indissociáveis: os objetos <strong>em</strong> sua materiali<strong>da</strong><strong>de</strong>, as práticas e asconfigurações dos dispositivos e <strong>da</strong>s suas variações. El<strong>em</strong>entos que po<strong>de</strong>m ser recuperadosapenas quando se vai às fontes primárias.Para analisar a cultura escolar, é preciso analisar o conjunto <strong>da</strong>s normas e práticas<strong>de</strong>finidoras dos conhecimentos que aquela socie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sejava que foss<strong>em</strong> ensinados, e osvalores e comportamentos a ser<strong>em</strong> impostos. Esses el<strong>em</strong>entos n<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre são visíveis nosregistros oficiais (relatórios, atas, boletins). Muitas vezes, é preciso ler esses registros <strong>de</strong>forma diferente, além <strong>de</strong> procurar outros menos formais, como: ca<strong>de</strong>rnos, planos <strong>de</strong> ensino,livros, provas e material didático <strong>em</strong> geral.”Segundo CHERVEL 9 , citado por VALDEMARIN (2000, p. 75) “a análise <strong>da</strong>cultura que a escola transmite aos seus alunos comporta, além <strong>da</strong> clivag<strong>em</strong> históricosocial,a análise propriamente pe<strong>da</strong>gógica ou interna, que engloba o programa escolar,8 JULIA, D. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira <strong>de</strong> História <strong>da</strong> Educação,Campinas, n. 1, p. 9-44, 2001.9 CHERVEL, A. La Culture Scolaire. Une Aproche Histórique. Paris : Berlin, 1998.


17com as finali<strong>da</strong><strong>de</strong>s educativas que lhe são confia<strong>da</strong>s, o conteúdo aprendido e tambémobjetivos não explicitados, <strong>de</strong>correntes dos mecanismos didáticos postos <strong>em</strong> ação parao ensino, isto é, o modo como os conceitos são aprendidos.” Ain<strong>da</strong> nos fala a autoraVALDEMARIN (2000, p. 77), citando CHEVALLARD 10 que “a análise interna <strong>da</strong>cultura ensina<strong>da</strong> na escola, portanto, po<strong>de</strong> incidir também sobre a formalização <strong>de</strong>concepções sobre o conhecimento num rol <strong>de</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s e <strong>de</strong> situações <strong>de</strong>aprendizag<strong>em</strong>, tarefa à qual se propõ<strong>em</strong> os manuais <strong>de</strong> ensino e que constitui núcleo<strong>da</strong> transposição didática.”1.3 CULTURA ESCOLAR SEGUNDO FORQUINDes<strong>de</strong> o início dos anos 1960, os probl<strong>em</strong>as inerentes à educação e aquelesque se refer<strong>em</strong> à transmissão cultural na Escola, são, segundo FORQUIN (1993), osmais árduos e obscuros. Tal fato se dá porque este conteúdo correspon<strong>de</strong> ao próprioobjeto do processo pe<strong>da</strong>gógico e porque o conteúdo <strong>da</strong> transmissão cultural per<strong>de</strong>u asua centralização e harmonia, e a cultura geral sua forma e substância.Segundo o autor, questões fun<strong>da</strong>mentais que justificam a transmissãocultural escolar são sufoca<strong>da</strong>s ou esqueci<strong>da</strong>s, tornando esta função <strong>de</strong> difícili<strong>de</strong>ntificação. Porém, a sua eluci<strong>da</strong>ção é uma tarefa difícil que vale a pena serpersegui<strong>da</strong> para que se possa conhecer os fun<strong>da</strong>mentos e as implicações culturais <strong>da</strong>educação. (FORQUIN, 1993, p. 9 e 10).1.3.1 O caráter s<strong>em</strong>ântico do conceito <strong>de</strong> culturaA educação e a cultura possu<strong>em</strong> relações íntimas e orgânicas que seesten<strong>de</strong>m <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o universo do indivíduo, passando pelo âmbito social, alargando-sealém <strong>da</strong>s fronteiras políticas, geográficas e culturais. Em qualquer esfera <strong>em</strong> que se10 CHEVALLARD, Y. La Transposition Di<strong>da</strong>ctique, du savoir savant au savoir enseigné. Grenoble:La Pensée Sauvage, 1985.


18queira analisar estas relações, o vocábulo ‘educação’, como diz FORQUIN (1993, p.10), quer seja entendido no sentido amplo <strong>da</strong> formação e socialização do indivíduo ouno sentido restrito do domínio escolar, significa, necessariamente, educar alguém poralguém, supondo ain<strong>da</strong> condição necessária a comunicação, a transmissão e aaquisição <strong>de</strong> conhecimentos, competências, crenças, hábitos, valores que constitu<strong>em</strong> o‘conteúdo’ <strong>da</strong> educação.Para este autor, o“fato <strong>de</strong> que este conteúdo parece irredutível ao que há <strong>de</strong> particular e <strong>de</strong> contingente naexperiência subjetiva ou intersubjetiva imediata, constituindo, antes, a moldura, o suporte ea forma <strong>de</strong> to<strong>da</strong> experiência individual possível, <strong>de</strong>vido, então, a que este conteúdo que setransmite na educação é s<strong>em</strong>pre alguma coisa que nos prece<strong>de</strong>, nos ultrapassa e nos instituienquanto sujeitos humanos, po<strong>de</strong>-se perfeitamente <strong>da</strong>r-lhe o nome <strong>de</strong> cultura [grifonosso].” (i<strong>de</strong>m, 1993, p. 10).De acordo com FORQUIN (1993, p. 11), o termo cultura <strong>em</strong> seu espectros<strong>em</strong>ântico estabelece uma “tensão entre uma faceta individual e uma faceta coletiva,um pólo normativo e um pólo <strong>de</strong>scritivo, uma ênfase universalista e uma ênfasediferencialista”. Por outro lado, para FORQUIN, na outra “extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong> do campos<strong>em</strong>ântico <strong>de</strong>sta palavra, encontramos, ao contrário, a acepção puramente <strong>de</strong>scritiva eobjetiva <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> pelas ciências sociais cont<strong>em</strong>porâneas: a cultura consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>como o conjunto dos traços característicos do modo <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>de</strong> umacomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> ou <strong>de</strong> um grupo, aí compreendidos os aspectos que se po<strong>de</strong>m consi<strong>de</strong>rarcomo os mais cotidianos, os mais triviais ou os mais ‘inconfessáveis’.” (1993, p. 11).Segundo o autor, alguns aspectos <strong>da</strong> cultura dão lugar a uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>transmissão mais ou menos institucionaliza<strong>da</strong>, enquanto que outros se constitu<strong>em</strong> <strong>em</strong>objetos <strong>de</strong> aprendizagens informais e outros são esquecidos pelas gerações. Portanto,falar <strong>de</strong> transmissão cultural supõe-se uma idéia <strong>de</strong> permanência (ao menos relativa) e<strong>de</strong> valor ou excelência.fun<strong>da</strong>mentalmente,Para ele, a palavra ‘cultura’ no âmbito <strong>da</strong> transmissão cultural significa,


19“um patrimônio <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> competências, <strong>de</strong> instituições, <strong>de</strong> valores esímbolos, constituído ao longo <strong>de</strong> gerações e característicos <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> humanaparticular, <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> <strong>de</strong> modo mais ou menos amplo e mais ou menos exclusivo. Sendo obracoletiva e b<strong>em</strong> coletivo objetivável, este patrimônio distingue-se <strong>da</strong> cultura no sentidosubjetivo e ‘perfectivo’, ele não é monopólio do ‘hom<strong>em</strong> cultivado’”. (i<strong>de</strong>m, 1993, p. 12).Entendi<strong>da</strong> como herança coletiva, patrimônio intelectual e espiritual, acultura “transcen<strong>de</strong> necessariamente as fronteiras entre grupos humanos e osparticularismos mentais e advém <strong>de</strong> uma m<strong>em</strong>ória comum e <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stino comum ato<strong>da</strong> humani<strong>da</strong><strong>de</strong>”, po<strong>de</strong>ndo mesmo ser entendi<strong>da</strong> como um “estado especificamentehumano, o próprio fato <strong>de</strong> ser humano, isto é, aquilo pelo qual o hom<strong>em</strong> distancia-se<strong>da</strong> natureza e distingue-se especificamente <strong>da</strong> animali<strong>da</strong><strong>de</strong>” (ibi<strong>de</strong>m).Dessa forma, para ele,“to<strong>da</strong> reflexão sobre a educação e a cultura po<strong>de</strong> assim partir <strong>da</strong> idéia segundo a qual o quejustifica fun<strong>da</strong>mentalmente, e s<strong>em</strong>pre, o <strong>em</strong>preendimento educativo é a responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> ter <strong>de</strong> transmitir e perpetuar a experiência humana consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como cultura, isto é, nãocomo soma bruta (e aliás inimputável) <strong>de</strong> tudo o que po<strong>de</strong> ser realmente vivido, pensado,produzido pelos homens <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo dos t<strong>em</strong>pos, mas como aquilo que, ao longo dost<strong>em</strong>pos, pô<strong>de</strong> acen<strong>de</strong>r a uma existência ‘pública’, virtualmente comunicável e m<strong>em</strong>orável,cristalizando-se nos saberes cumulativos e controláveis, nos sist<strong>em</strong>as <strong>de</strong> símbolosinteligíveis, os instrumentos aperfeiçoáveis, nas obras admiráveis. Neste sentido po<strong>de</strong>-sedizer perfeitamente que a cultura é o conteúdo substancial <strong>da</strong> educação.”(i<strong>de</strong>m, 1993, p. 13e 14).Tendo a cultura como conteúdo substancial <strong>da</strong> educação e a ênfase <strong>da</strong> função<strong>de</strong> conservação e <strong>de</strong> transmissão culturais <strong>da</strong> educação, como diz FORQUIN (1993, p.14,15), há s<strong>em</strong>pre uma seleção no interior <strong>da</strong> cultura e uma re-elaboração dosconteúdos <strong>de</strong>signados para ser<strong>em</strong> transmitidos às gerações. Isto implica dizer que aeducação não transmite a cultura, ou uma cultura; a educação transmite, no máximo,algo <strong>da</strong> cultura, el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura que po<strong>de</strong>m ser oriundos <strong>de</strong> distintas fontes eépocas diferentes, obe<strong>de</strong>cendo a regras próprias e mecanismos <strong>de</strong> legitimaçãoespecíficos.Certamente é importante perguntar, como fala FORQUIN, “quais são os<strong>de</strong>terminantes, os mecanismos, os fatores <strong>de</strong>sta seleção cognitiva e cultural que fazcom que uma parte <strong>da</strong> herança humana é assim manti<strong>da</strong> ‘a salvo do esquecimento’, <strong>de</strong>


20geração a geração, enquanto que o resto parece consagrado ao sepultamento<strong>de</strong>finitivo.” (i<strong>de</strong>m, 1993, p. 15).Outro fator relevante para ele é o fato <strong>de</strong> que no interior <strong>da</strong> cultura osconteúdos culturais consi<strong>de</strong>rados como patrimônio intelectual e espiritual, ‘eleitos’para ser<strong>em</strong> preservados e transmitidos não são totalmente incorporados na educaçãoescolar e compõ<strong>em</strong> “senão um espectro estreito dos saberes, <strong>de</strong> competências, <strong>de</strong>formas <strong>de</strong> expressão, <strong>de</strong> mitos e <strong>de</strong> símbolos sociais mobilizadores.” (i<strong>de</strong>m, 1993, p.16). Ain<strong>da</strong> diz o autor, “a educação escolar não se limita a fazer uma seleção entre ossaberes e os materiais culturais disponíveis num <strong>da</strong>do momento, ela <strong>de</strong>ve também,para torná-los efetivamente transmissíveis, efetivamente assimiláveis às jovensgerações, entregar-se a um imenso trabalho <strong>de</strong> reorganização, <strong>de</strong> reestruturação, ou <strong>de</strong>‘transposição didática’.” (i<strong>de</strong>m, 1993, p. 16).1.3.2 A seleção cultural dos conteúdosWILLIAMS 11 , citado por FORQUIN (1993, p. 37), ao abor<strong>da</strong>r a questão <strong>da</strong>transformação do sist<strong>em</strong>a educativo britânico ao longo dos anos 1960, pon<strong>de</strong>ra que<strong>de</strong>ntre os fatores que interfer<strong>em</strong> na organização e seleção dos conteúdos escolares, umque merece especial atenção se refere àqueles relacionados à cultura, fazendo com queo conceito <strong>de</strong> seleção cultural ocupe uma posição central nessa sua ‘tese’. Discutindoessa argumentação, FORQUIN (1993, p. 37) diz parecer nela existir uma ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>em</strong> relação ao entendimento <strong>de</strong> cultura. Para este autor,“Williams nos diz que os conteúdos do ensino são o produto <strong>de</strong> uma seleção efetua<strong>da</strong> noseio <strong>da</strong> cultura. Isto significa que não se ensina tudo o que compõe uma cultura, e que to<strong>da</strong>educação realiza uma combinação particular <strong>de</strong> ênfases sobre alguma coisa <strong>de</strong> omissões <strong>de</strong>algumas outras coisas. Nesta perspectiva, a cultura é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> como um repertório, umfundo, um tesouro no interior do qual a educação efetua, <strong>de</strong> certo modo, extratos para finsdidáticos. A cultura é, neste sentido, o objeto <strong>de</strong> seleção, o material <strong>de</strong> e para a seleção.”(i<strong>de</strong>m, 1993, p. 37).11 WILLIAMS, R. (1961): The Long Revolution, Londres, Chatto and Windus (reed. Hardmondsworth,Peguin Books, 1963).


21Continuando, ain<strong>da</strong>, FORQUIN (1993, p. 38) escreve:“mas Williams nos diz também que esta seleção opera<strong>da</strong> no interior <strong>da</strong> cultura, para e peloo ensino, correspon<strong>de</strong> a princípios e a escolhas culturais fun<strong>da</strong>mentais, liga<strong>da</strong>s, aliás, àsescolhas sociais que governam a organização política do sist<strong>em</strong>a educativo. Assim acultura não é mais somente o repertório, o material simbólico, no interior do qual se efetuaa escolha <strong>da</strong>s coisas ensina<strong>da</strong>s, ela é também o princípio dinâmico, o impulso, o esqu<strong>em</strong>agerador <strong>da</strong> escolha do ensino. É exatamente esta, parece, a ambivalência <strong>da</strong> noção <strong>de</strong>‘seleção cultural escolar’, que significa, ao mesmo t<strong>em</strong>po, seleção na cultura e seleção <strong>em</strong>função <strong>da</strong> cultura.”Relacionado a essa probl<strong>em</strong>ática, uma questão levanta<strong>da</strong> por JOHNEGGLESTON 12 , citado por FORQUIN (1992, p. 31), diz respeito à forma como sepo<strong>de</strong> efetuar a seleção <strong>de</strong> um currículo, haja vista o número quase ilimitado <strong>de</strong>combinações possíveis gera<strong>da</strong>s pelos diversos matizes culturais. Respon<strong>de</strong>ndo a essaquestão, DENIS LAWTON 13 , apud FORQUIN (ibi<strong>de</strong>m), pon<strong>de</strong>ra que“certos tipos <strong>de</strong> conhecimento, certas atitu<strong>de</strong>s e certos valores são consi<strong>de</strong>rados, naver<strong>da</strong><strong>de</strong>, como tendo suficiente importância para que sua transmissão à geração seguintenão seja <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> ao acaso <strong>em</strong> nossa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas seja confia<strong>da</strong> a profissionaisespecialmente formados (os docentes) no contexto <strong>de</strong> instituições complexas e custosas (asescolas).Mas n<strong>em</strong> tudo aquilo que constitui uma cultura é consi<strong>de</strong>rado como tendo uma talimportância, e, <strong>de</strong> todo modo, dispomos <strong>de</strong> um t<strong>em</strong>po limitado; por isso uma seleção énecessária. Diferentes escolas po<strong>de</strong>m fazer diferentes tipos <strong>de</strong> seleção no interior <strong>da</strong>cultura. Os docentes po<strong>de</strong>m ter hierarquias <strong>de</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong>s divergentes, mas todos osdocentes e to<strong>da</strong>s as escolas faz<strong>em</strong> seleções <strong>de</strong> um tipo ou <strong>de</strong> outro no interior <strong>da</strong>s culturas.Proponho utilizar o termo currículo para <strong>de</strong>signar essas seleções.”Neste sentido, FORQUIN evi<strong>de</strong>ncia“a questão <strong>de</strong> saber quais são estes aspectos <strong>da</strong> cultura, quais são estes conhecimentos,estas atitu<strong>de</strong>s, estes valores que justificam as <strong>de</strong>spesas <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a natureza que supõe umensino sist<strong>em</strong>ático e sustentado por um aparelho institucional complexo. Uma sociologiacompara<strong>da</strong> dos programas escolares revela certamente o caráter instável, aleatório e numacerta medi<strong>da</strong> arbitrária <strong>da</strong> <strong>de</strong>marcação entre o que po<strong>de</strong> ou <strong>de</strong>ve ser transmitido num certocontexto altamente institucionalizado do tipo escolar, e o que po<strong>de</strong> ser aprendido ouadquirido <strong>em</strong> outros contextos, <strong>de</strong> acordo com as ocasiões e os acasos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.” (ibi<strong>de</strong>m).Para ele, além disso,12 EGGLESTON, J. The sociology of the school curriculum. Londres: Routledge and Kegan Paul,1977, p. 22.13 LAWTON, D. Class, culture and the curriculum. Londres: Routledge and Kegan Paul, 1975, p.6.


22“a escola é também um mundo ‘social’, que t<strong>em</strong> suas características <strong>de</strong> vi<strong>da</strong> próprias, seusritmos e seus ritos, sua linguag<strong>em</strong>, seu imaginário, seus modos próprios <strong>de</strong> regulação e <strong>de</strong>transmissão, seu regime próprio <strong>de</strong> produção e <strong>de</strong> gestão <strong>de</strong> símbolos. E esta ‘cultura <strong>da</strong>escola’ (no sentido <strong>em</strong> que se po<strong>de</strong> também falar <strong>da</strong> ‘cultura <strong>da</strong> oficina’ ou <strong>da</strong> ‘cultura <strong>da</strong>prisão’) não <strong>de</strong>ve ser confundi<strong>da</strong> tampouco com o que se enten<strong>de</strong> por ‘cultura escolar’, quese po<strong>de</strong> <strong>de</strong>finir o conjunto dos conteúdos cognitivos e simbólicos que, selecionados,organizados, ‘normalizados’, ‘rotinizados’, sob o efeito dos imperativos <strong>de</strong> di<strong>da</strong>tização,constitu<strong>em</strong> habitualmente o objeto <strong>de</strong> uma transmissão <strong>de</strong>libera<strong>da</strong> no contexto <strong>da</strong>sescolas.” (i<strong>de</strong>m, 1993, p. 167).Segundo FORQUIN, “uma <strong>da</strong>s características morfológicas essenciais dosaber escolar é sua organização sob a forma <strong>de</strong> matérias (disciplinas) <strong>de</strong> ensinodota<strong>da</strong>s <strong>de</strong> uma forte i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> institucional e entre as quais exist<strong>em</strong> fronteiras b<strong>em</strong>níti<strong>da</strong>s” (1992, p. 37). Os saberes escolares são“produtos <strong>de</strong> um processo contínuo <strong>de</strong> seleção e <strong>de</strong> elaboração didática, os saberesescolares apresentam-se como um universo no interior do qual exist<strong>em</strong> não apenasdiferenciações funcionais (segundo os tipos e os níveis <strong>de</strong> ensino, os ramos, as matérias),mas também fenômenos <strong>de</strong> hierarquização ou ‘estratificação’, que constitu<strong>em</strong> hoje ummotivo <strong>de</strong> reflexão privilegia<strong>da</strong> para os sociólogos do currículo.” (i<strong>de</strong>m, 1992, p. 41).Há <strong>de</strong> se perguntar, como fez FORQUIN (1992, p. 37), se estacompartimentação correspon<strong>de</strong> a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s epist<strong>em</strong>ológicas e didáticas ou se elaresulta <strong>de</strong> motivações sociais.Segundo o autor, os saberes são intensamente marcados pelo modoexclusivamente escolar <strong>de</strong> distribuição do t<strong>em</strong>po, ou seja, “a organização dos estudospor anos e a repetição <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s no interior do ano, a duração <strong>da</strong><strong>da</strong> a seqüência docurso, o ritmo <strong>de</strong> exercícios e <strong>de</strong> controle etc.” (i<strong>de</strong>m, 1992, p. 33).Para ele, a cultura escolar é consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>“como uma ‘cultura segun<strong>da</strong>’ com relação à cultura <strong>de</strong> criação ou <strong>de</strong> invenção, uma cultura<strong>de</strong>riva<strong>da</strong> e transposta, subordina<strong>da</strong> inteiramente a uma função <strong>de</strong> mediação didática e<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> pelos imperativos que <strong>de</strong>corr<strong>em</strong> <strong>de</strong>sta função, como se vê através <strong>de</strong>stesprodutos e <strong>de</strong>stes instrumentos característicos constituídos pelos programas e instruçõesoficiais, manuais e materiais didáticos, t<strong>em</strong>as <strong>de</strong> <strong>de</strong>veres e <strong>de</strong> exercícios, controles, notas,classificações e outras formas propriamente escolares <strong>de</strong> recompensas e <strong>de</strong> sanções.”(ibi<strong>de</strong>m).Para FORQUIN “a educação escolar não se limita a fazer uma seleção entresaberes e os materiais culturais disponíveis num momento <strong>da</strong>do numa socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ela


23<strong>de</strong>ve também, a fim <strong>de</strong> torná-los efetivamente transmissíveis, efetivamenteassimiláveis para as jovens gerações, se entregar a um imenso trabalho <strong>de</strong>reorganização, <strong>de</strong> reestruturação, <strong>de</strong> ‘transposição didática’.” (i<strong>de</strong>m, 1992, p. 32).Segundo as implicações dos imperativos didáticos, por ex<strong>em</strong>plo, as questões<strong>de</strong> transposição didática, segundo FORQUIN, “não permit<strong>em</strong> <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> certosaspectos mais específicos dos saberes escolares enquanto objetos <strong>de</strong> ensino.” (i<strong>de</strong>m,1992, p. 34). Assim, o mesmo autor in<strong>da</strong>ga “se <strong>de</strong> fato todos os saberes ensinados nasescolas não são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente senão o resultado <strong>de</strong> uma seleção e <strong>de</strong> umatransposição efetua<strong>da</strong>s a partir <strong>de</strong> um corpo cultural pré-existente, e se não se po<strong>de</strong>consi<strong>de</strong>rar a escola como sendo também ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iramente produtora ou criadora <strong>de</strong>configurações cognitivas e <strong>de</strong> habitus originais que constitu<strong>em</strong> <strong>de</strong> qualquer forma oel<strong>em</strong>ento nuclear <strong>de</strong> uma cultura escolar sui generis.” (i<strong>de</strong>m, 1992, p. 34,35).1.4 TRANSPOSIÇÃO DO SABEREnten<strong>de</strong>ndo a Escola como espaço <strong>da</strong>s manifestações culturais (MAFRA,2003, p. 125-129) e, também, como local <strong>de</strong> gestão e transmissão <strong>de</strong> saberes esímbolos (FORQUIN, 1993, p. 167), po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar a cultura e os seus el<strong>em</strong>entos– os saberes – como um dos principais ‘protagonistas’ neste contexto. Assim,consi<strong>de</strong>rando a transmissão do conhecimento produzido pela humani<strong>da</strong><strong>de</strong> uma <strong>da</strong>sprincipais funções sociais <strong>da</strong> Escola, observa-se que, para que esta transmissão sejapossível é necessário que este conhecimento seja apresentado <strong>de</strong> maneira que possa seraprendido pelos alunos. No entanto, para o mesmo conhecimento há distinção entre oque é produzido e o que é apresentado aos alunos, o que implica na aceitação <strong>da</strong>existência <strong>de</strong> processos transformadores que o modifica. (ALVES FILHO et alii, 2001,p. 78). Neste âmbito, a Escola <strong>de</strong>s<strong>em</strong>penha o seu papel <strong>de</strong> reorganizar e reestruturar os


24saberes selecionados para torná-los efetivamente ensináveis (FORQUIN, 1992), oucomo afirma CHEVALLARD 14 (1991), <strong>de</strong> ser<strong>em</strong> transformados <strong>em</strong> ‘saber ensinado’.De fato,“uma transferência direta do saber científico para a sala <strong>de</strong> aula, tendo a física comoreferência, traz uma impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> associa<strong>da</strong> ao seu grau <strong>de</strong> complexi<strong>da</strong><strong>de</strong>. O saberescolar não abarca a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> notas que caracterizam cientificamente um <strong>da</strong>doconceito, n<strong>em</strong> o conjunto dos nexos relacionais <strong>da</strong>s estruturas teóricas. O que vai ocorrerentão é uma forma <strong>de</strong> seleção e transformação <strong>de</strong>sse saber, conforme (principalmente) asfinali<strong>da</strong><strong>de</strong>s oriun<strong>da</strong>s <strong>de</strong> fatores sociais e culturais, <strong>em</strong> geral, e também <strong>da</strong>s limitações doprocesso <strong>de</strong> aprendizag<strong>em</strong>.” (WOU, 2000, p. 26).Quando o professor prepara as suas aulas, geralmente t<strong>em</strong> como referênciaos livros didáticos dirigidos ao respectivo grau <strong>de</strong> ensino que leciona. No entanto, hána maioria <strong>da</strong>s vezes uma diferença entre o tratamento <strong>da</strong>do <strong>em</strong> seus apontamentospara as aulas e o tratamento feito pelos livros didáticos mais utilizados. (ALVESFILHO et alii, 2001, p. 77). Estes conteúdos <strong>de</strong> ensino “não são apenas simplificaçõesdos conteúdos <strong>da</strong>s ciências <strong>de</strong> referência. Ao ser transposto para o contexto escolar,<strong>de</strong>terminados el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong>ste conhecimento <strong>de</strong>saparec<strong>em</strong> e outros são criados. Esteprocesso <strong>de</strong> transformação resulta num conhecimento <strong>de</strong>scaracterizado e<strong>de</strong>scontextualizado.” (PIETROCOLA et alii, 2000, p. 102).Entretanto, PIETROCOLA et alii salientam que há uma interpretaçãoingênua <strong>de</strong> que os conteúdos escolares <strong>de</strong> ciências são simplificações do conhecimentoproduzido pelos cientistas. Segundos estes autores, CHEVALLARD 15 (1985) mostrouque “os objetos <strong>de</strong>signados a ensinar não po<strong>de</strong>riam ser analisados como uma14 “Yves Chevallard é um di<strong>da</strong>ta francês do campo do ensino <strong>da</strong>s mat<strong>em</strong>áticas (...). Sua publicaçãomais difundi<strong>da</strong> no Brasil é a tradução para o espanhol e o original <strong>em</strong> francês do livro LaTransposition Di<strong>da</strong>ctique, uma versão amplia<strong>da</strong> <strong>da</strong> primeira edição francesa <strong>de</strong> 1985. (...) Nasegun<strong>da</strong> edição <strong>de</strong> 1991, Chevallard atualiza esse texto e acrescenta um estudo <strong>de</strong> caso,<strong>de</strong>senvolvido <strong>em</strong> parceria com Marie-Alberte Joshua, intitulado Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> análise <strong>de</strong>transposição didática, on<strong>de</strong> a trajetória <strong>da</strong> noção mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> distância é investiga<strong>da</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a suaproposição pelo mat<strong>em</strong>ático francês Maurice Fréchet, <strong>em</strong> 1906, até a sua incorporação, <strong>em</strong> 1971, aosist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino fun<strong>da</strong>mental francês.” (LEITE, p. 45, 46, 2004).15 DUPIN, J. J., JOHSUA, S. (1993). Introduction à la di<strong>da</strong>ctiques <strong>de</strong>s sciences et <strong>de</strong>s math<strong>em</strong>atiques.Paris : PUF.


25simplificação <strong>de</strong> objetos mais complexos, originados na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos cientistas.Eles são o resultado <strong>de</strong> uma construção qualitativamente diferente”. (ibi<strong>de</strong>m).A noção <strong>de</strong> transformar um objeto <strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> ensino, quando se t<strong>em</strong> aintenção <strong>de</strong> ensiná-lo, é um t<strong>em</strong>a presente na tese do sociólogo francês Michel Verret.Citado por FORQUIN (1992, p. 33), VERRET 16 diz que “to<strong>da</strong> prática <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> umobjeto pressupõe a transformação prévia <strong>de</strong>ste objeto <strong>em</strong> objeto <strong>de</strong> ensino”.CHEVALLARD, por sua vez, coloca que “to<strong>da</strong> ciência <strong>de</strong>ve assumir, como primeiracondição, preten<strong>de</strong>r ser ciência <strong>de</strong> um objeto, <strong>de</strong> um objeto real, cuja existênciain<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> como o transformará <strong>em</strong> objeto do conhecimento.” (CHEVALLARD,1991, p.12). É segundo esta concepção <strong>da</strong> transformação do saber para torná-lo apto aser ensinado que é constituído o conceito <strong>de</strong> transposição didática.Oriundo do campo <strong>da</strong> didática <strong>da</strong>s mat<strong>em</strong>áticas, o conceito <strong>de</strong> transposiçãodidática foi formalizado por Yves Chevallard e Marrie-Alberte Johsua 17 num artigosobre a noção mat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong> distância. Os autores analisaram as transformações que oconceito <strong>de</strong> distância na mat<strong>em</strong>ática sofreu, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a ocasião <strong>de</strong> sua inserção porFréchet <strong>em</strong> 1906, até o momento <strong>de</strong> sua introdução nos programas <strong>de</strong> geometria <strong>da</strong>Educação Básica na França, <strong>em</strong> 1971.“Em outras palavras, este ex<strong>em</strong>plo mostra que a <strong>de</strong>signação <strong>de</strong> um el<strong>em</strong>ento do saber sábiocomo objeto <strong>de</strong> ensino modifica-lhe muito fort<strong>em</strong>ente a natureza, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que seencontram <strong>de</strong>sloca<strong>da</strong>s as questões que ele permite resolver, b<strong>em</strong> como a re<strong>de</strong> relacionalque mantém com os outros conceitos. Existe assim, uma ‘epist<strong>em</strong>ologia escolar’ que po<strong>de</strong>ser distingui<strong>da</strong> <strong>da</strong> epist<strong>em</strong>ologia <strong>em</strong> vigor nos saberes <strong>de</strong> referência.” (ASTOLFI eDEVELAY, 1995, p. 48).Para Astolfi e Develay,“três pontos <strong>de</strong> vistas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser consi<strong>de</strong>rados para <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> tais mu<strong>da</strong>nças <strong>de</strong> estatutoepist<strong>em</strong>ológico do saber sábio:a) explicam-se inicialmente pelo afastamento entre a lógica <strong>de</strong> exposição dos resultados eas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta, do qual participam os cientistas já na ocasião <strong>da</strong>s16 VERRET, M. Le t<strong>em</strong>ps <strong>de</strong>s étu<strong>de</strong>s, Lille, Atelier <strong>de</strong> reproduction <strong>de</strong>s théses, v. 2, 1975.17 CHEVALLARD, Y. ; JOHSUA, M. A. Um ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> análise <strong>da</strong> transposição didática: a noção <strong>de</strong>distância. Recherches <strong>em</strong> di<strong>da</strong>ctique <strong>de</strong>s mathématiques, vol. 3.1, Grenobel, La Pensée Sauvage,1982.


26comunicações a seus colegas. É o que se po<strong>de</strong> chamar <strong>de</strong> ‘efeito <strong>de</strong> reformulação’;b) correspon<strong>de</strong>m também as posições epist<strong>em</strong>ológicas dominantes, liga<strong>da</strong>s aoimperialismo fatual <strong>da</strong> observação e ao po<strong>de</strong>r do <strong>em</strong>pirismo como ‘filosofia espontâneados sábios’. É sobre esse ponto que uma vigilância particular é conveniente para evitaros reescritos abusivos e incitar a volta freqüente às publicações originais. É esta facetanegativa <strong>da</strong> transposição que po<strong>de</strong> ser mais precisamente chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> ‘processo <strong>de</strong>dogmatização’;c) <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser compreendidos igualmente como a inevitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transposição didática.Os historiadores <strong>da</strong> educação nos ensinaram, <strong>de</strong> fato, que o valor intrínseco <strong>de</strong> umconteúdo nunca é suficiente para fun<strong>da</strong>r sua inserção didática, mas esta <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>também <strong>de</strong> um projeto educativo que conduz a uma seleção <strong>de</strong>ntre as váriaspossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s.Pois a escola nunca ensinou saberes (‘<strong>em</strong> estado puro’, é o que se <strong>de</strong>seja dizer), mas simconteúdos <strong>de</strong> ensino que resultam <strong>de</strong> cruzamentos complexos entre uma lógica conceitual,um projeto <strong>de</strong> formação e existências didáticas”. (i<strong>de</strong>m, 1995, p. 51).1.4.1 As esferas do saberNa teoria <strong>da</strong> transposição didática, Chevallard consi<strong>de</strong>ra três importantesinstâncias <strong>em</strong> que os saberes são constituídos e/ou transformados, por ele <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong>s<strong>de</strong> esferas do saber sábio, do saber a ensinar e do saber ensinado.A esfera do saber sábioNesta esfera “o grupo é constituído <strong>de</strong> intelectuais e cientistas, sejam jovensou antigos, com ou s<strong>em</strong> conflitos teóricos, vinculados a esta ou àquela escola <strong>de</strong>pensamento, mas todos pertenc<strong>em</strong> ao mesmo nicho epist<strong>em</strong>ológico <strong>em</strong> que ocorre aprodução do saber.” (ALVES FILHO et alii, 2001, p. 81).O saber sábio é gerado no âmbito <strong>da</strong> aca<strong>de</strong>mia. É o saber produzido pelaspesquisas realiza<strong>da</strong>s pelos cientistas, publicados <strong>em</strong> periódicos e que circulam nosmeios e socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s acadêmicas.


27A esfera do saber a ensinarNesta esfera os componentes predominant<strong>em</strong>ente são: autores dos livros oumanuais didáticos ou aqueles que <strong>em</strong>prestam o nome como responsável por umapublicação dirigi<strong>da</strong> a estu<strong>da</strong>ntes; especialistas <strong>da</strong> disciplina ou matéria; professores(não cientistas) e opinião pública <strong>em</strong> geral, que influencia <strong>de</strong> algum modo o processo<strong>de</strong> transformação do saber. Das esferas é a mais eclética e diversifica<strong>da</strong> na composição<strong>de</strong> suas personagens, não por ser <strong>de</strong> caráter <strong>de</strong>mocrático, mas pela <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> interessespróprios. (ibi<strong>de</strong>m).Quanto a este saber, é criado no ambiente não escolar e n<strong>em</strong> acadêmico,on<strong>de</strong> sofreu transformações a<strong>da</strong>ptativas por um grupo <strong>de</strong> especialistas para que possaser ensinado. São os saberes dos livros textos ou manuais didáticos e os programascurriculares.Segundo ALVES FILHO, “o saber a ensinar é produto organizado ehierarquizado <strong>em</strong> graus <strong>de</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>, resultante <strong>de</strong> um processo <strong>de</strong> total<strong>de</strong>scontextualização e <strong>de</strong>gra<strong>da</strong>ção do saber sábio. Enquanto o saber sábio apresenta-seao público través <strong>da</strong>s publicações científicas, o saber a ensinar faz-se por meio doslivros-textos e manuais <strong>de</strong> ensino.” (ALVES FILHO, 2000, p. 179).Para PIETROCOLA et alii, muitos aspectos concorr<strong>em</strong> para a <strong>de</strong>finição dosaber a ensinar, mas po<strong>de</strong>-se i<strong>de</strong>ntificar que ele é <strong>de</strong>finido pela possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> umcontrole social e legal <strong>da</strong> aprendizag<strong>em</strong> (PIETROCOLA et alii, 2000, p. 103).Segundo estes autores,“o conteúdo nele presente <strong>de</strong>ve aten<strong>de</strong>r aos seguintes requisitos:– ser potencialmente ensinável, ou seja, pelo menos teoricamente, po<strong>de</strong>r ser aprendido peloaluno a que se <strong>de</strong>stina. Para o atendimento <strong>de</strong>ste requisito são leva<strong>da</strong>s <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração afaixa etária dos alunos, a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> do curso e <strong>da</strong> disciplina escolar dos quais faráparte;– possibilitar a elaboração <strong>de</strong> objetivos <strong>de</strong> ensino, <strong>de</strong> exercícios, avaliações ou trabalhospráticos (Pinheiro, 1996).” (ibi<strong>de</strong>m).


28A esfera do saber ensinadoÉ nesta instância que se <strong>de</strong>staca a participação do professor como el<strong>em</strong>entomediador entre o conhecimento e o aluno. Aqui é importante <strong>de</strong>stacar que nessa esferaocorre o processo <strong>de</strong> seleção dos saberes que irão ser ministrados aos alunos. Oprofessor e a Escola têm autonomia suficiente para <strong>de</strong>cidir quais conteúdos <strong>de</strong>verão serabor<strong>da</strong>dos <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> série, como também, <strong>de</strong>cidir quais as obras didáticas que servirão<strong>de</strong> referência no <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong>s aulas. (ROSA e ROSA, 2005, p. 8).Segundo Pietrocola et alii, para esta esfera concorr<strong>em</strong>, principalmente, osgrupos vinculados à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar, como os diretores, os proprietários <strong>de</strong>estabelecimentos <strong>de</strong> ensino, os supervisores e orientadores educacionais, acomuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos pais e os professores. (PIETROCOLA et alii, 2000, p. 103).Portanto, o saber ensinado é criado no âmbito escolar. É o saber produzidopelo professor quando na preparação <strong>de</strong> seus textos ou ‘notas’ <strong>de</strong> aula. Porém, AlvesFilho et alii chama a atenção para a transposição didática do saber sábio para o saber aensinar, on<strong>de</strong> argumenta a <strong>de</strong>stinação <strong>de</strong>ste saber para dois grupos <strong>de</strong> docentesdistintos: os professores universitários e os professores <strong>da</strong> Educação Básica. Segundoos autores“a Transposição Didática do saber sábio para o saber a ensinar apresenta, como resultadoconcreto, os livros didáticos e manuais <strong>de</strong> ensino, dirigidos particularmente aos estu<strong>da</strong>ntesuniversitários, futuros profissionais, que <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser familiarizados com o contexto do sabersábio e suas aplicações, <strong>de</strong>ntro do t<strong>em</strong>po didático estipulado pela estrutura escolar. (...) Poroutro lado, encontramos no ensino secundário outro espaço escolar que, além dosinteresses próprios e diferenciados <strong>da</strong>queles do ensino universitário, t<strong>em</strong> outras regras efontes <strong>de</strong> influência. Em primeiro lugar, vamos encontrar, para essa população, livros <strong>em</strong>anuais didáticos que não foram alvo <strong>de</strong> uma Transposição Didática ‘<strong>de</strong> fato’, mas que sãoapenas produto <strong>de</strong> uma ‘simplificação’ do conteúdo pertencente ao saber a ensinar. Emsegundo lugar, a simplificação ocorre na linguag<strong>em</strong> utiliza<strong>da</strong> e se esten<strong>de</strong> aos recursosmat<strong>em</strong>áticos utilizados, tanto na conceituação, como nas eventuais <strong>de</strong>monstraçõesmat<strong>em</strong>áticas.” (ALVES FILHO et alii, 2001, p. 84,85).


29Os autores citam, ain<strong>da</strong>, um comentário <strong>de</strong> CARVALHO 18 :“... ex<strong>em</strong>plo que po<strong>de</strong> ilustrar a reformulação, a dogmatização e a transposição <strong>de</strong> umel<strong>em</strong>ento do saber sábio para o conteúdo físico escolar po<strong>de</strong> ser encontrado na maioria doslivros didáticos <strong>de</strong>stinados à 1ª série do ensino médio, quando trataram <strong>da</strong>s leis <strong>de</strong> Newton.A 2ª Lei foi formula<strong>da</strong> originalmente por Newton, <strong>de</strong>finindo força como a <strong>de</strong>riva<strong>da</strong>t<strong>em</strong>poral <strong>da</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimento [F = dp/dt (negrito é vetor)], ou numa linguag<strong>em</strong>mais apropria<strong>da</strong> ao ensino do 2º grau, como a variação do vetor quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentocom relação à variação do t<strong>em</strong>po (F = p/t). Entretanto, na maioria dos livros, ela éapresenta<strong>da</strong> como sendo F = ma, que é a estrutura elabora<strong>da</strong> por Euler quase um século<strong>de</strong>pois <strong>de</strong> Newton.” (i<strong>de</strong>m, 2001, p. 85).Para CHEVALLARD, “o saber que produz a transposição será, portanto, umsaber exilado <strong>de</strong> suas origens e separado <strong>de</strong> sua própria produção histórica na esfera dosaber sábio, legitimando-se, enquanto saber ensinado, como algo que não é <strong>de</strong> nenhumt<strong>em</strong>po e lugar, ao invés <strong>de</strong> legitimar-se mediante o recurso à autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> umproduto...” (CHEVALLARD, 1991, p. 18). Assim, para o mesmo autor, ao “saberensinado supõe um processo <strong>de</strong> naturalização que lhe confere a evidênciaincontestável <strong>da</strong>s coisas naturais; sobre esta natureza ‘<strong>da</strong><strong>da</strong>’, a escola espera agora suajurisdição, fun<strong>da</strong>dora <strong>de</strong> valores que, <strong>de</strong> agora <strong>em</strong> diante, administra a or<strong>de</strong>mdidática.” (ibi<strong>de</strong>m).Para um melhor entendimento do papel dos diversos atores no processo <strong>da</strong>transposição didática, PERRET-CLERMONT 19 et alii, citados por ALVES FILHO etalii (2001, p. 90), elaboraram um quadro “que apresenta os três saberes e os atoresprincipais responsáveis pela sua elaboração; as personagens <strong>da</strong>s várias esferas e suasfunções básicas no processo <strong>da</strong> Transposição Didática; as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas <strong>de</strong>ca<strong>da</strong> grupo e as fontes <strong>de</strong> pressão a que estão sujeitos” e que reproduzimos a seguir, talqual se encontra no texto:18 PINHEIRO, T. <strong>de</strong> F. Aproximação entre a ciência do aluno na sala <strong>de</strong> aula <strong>da</strong> 1ª série do 2º grau e aciência dos cientistas: uma discussão. Florianópolis, 1996. Dissertação (mestrado <strong>em</strong> Educação) –CED, UFSC.19 PERRET-CLERMONT et al. (apud Astolfi, et al. p. 180, 1997).


30QUADRO 1.1 PERSONAGENS DAS VÁRIAS ESFERAS E SUAS FUNÇÕES BÁSICAS NO PROCESSO DATRANSPOSIÇÃO DIDÁTICASaber sábio Saber a ensinar Saber ensinadoAtoresprincipaisPesquisadores Autores <strong>de</strong> livros ProfessoresGrupos sociais<strong>de</strong> referênciaFocos <strong>de</strong> suasativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s (aque se<strong>de</strong>dicam)Colegas atuais e antigos,com suas:• ‘escolas’;• correntes <strong>de</strong>pensamentos;• publicações.• Manter o <strong>de</strong>batecientífico <strong>em</strong> um <strong>da</strong>doramo do saber;• Avanços <strong>de</strong>conhecimento <strong>da</strong> áreado saber (disciplina).• Autores;• Especialistas <strong>da</strong> disciplina;• Professores;• Opinião pública.• Colocar à disposiçãoel<strong>em</strong>entos recentes dosaber, <strong>de</strong> documentosoriginais etc;• Transformação do saber<strong>em</strong> proposições <strong>de</strong>ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> aula,exercícios, probl<strong>em</strong>as.• Alunos;• Estabelecimentos escolares eseu meio social;• Pais dos alunos;• Supervisores escolares.• Transmitir os conceitos básicos;• Reconhecer as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s do‘trabalho <strong>de</strong> ensinar’;• Manter a comunicação didática;• Escolher e organizar aseqüência do saber.Ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>cognitiva dosatores(produçãocientífica)Fonte <strong>de</strong>‘pressão’ <strong>em</strong>suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s• Trabalhar noaprofun<strong>da</strong>mento <strong>de</strong>conhecimentos;• Resolver probl<strong>em</strong>as eprovar (<strong>de</strong>monstrar) assoluções a seus pares.• Competição científicae carreira;• Necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>publicar e fazercomunicações <strong>em</strong>congressos;• Justificar o horário(período) <strong>de</strong>dicado àpesquisa.• Integrar o conhecimentonovo ao saber existente;• Simplificar o saber eprocurar a melhor maneira<strong>de</strong> expô-lo.• Competição e obrigaçõeseditoriais;• Currículos, conteúdosprogramáticos, programasescolares;• Controle mútuo entre osautores.• Selecionar para ca<strong>da</strong> conteúdoos exercícios para fazer;• Decidir sobre a melhor forma <strong>de</strong>avaliar (não muito fácil, nãomuito difícil, interessante, masséria).• Avaliações posteriores: <strong>de</strong> nívelpara nível escolar, vestibularetc;• Obrigações com o t<strong>em</strong>podidático;• A<strong>de</strong>quação às normas escolaresestabeleci<strong>da</strong>s (julgamento <strong>da</strong>direção, dos pais dos alunos, <strong>da</strong>supervisão.).Fonte: A. N. Perret-Clermont et al., 1982, modifica<strong>da</strong>.1.4.2 Os sist<strong>em</strong>as e a noosferaNo processo <strong>da</strong> transposição didática o saber passa por transformações ea<strong>da</strong>ptações <strong>em</strong> <strong>de</strong>terminados momentos e isto ocorre <strong>em</strong> esferas distintas, comoacabamos <strong>de</strong> ver. No entanto, Chevallard <strong>de</strong>finiu regiões ou sist<strong>em</strong>as on<strong>de</strong> operam osatores partícipes do processo transpositivo, a saber: o sist<strong>em</strong>a didático, o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ensino e a noosfera.


31Sist<strong>em</strong>a didáticoO sist<strong>em</strong>a didático é constituindo por três el<strong>em</strong>entos: professor–saber–alunoe suas inter-relações. “São formações que ocorr<strong>em</strong> anualmente <strong>em</strong> torno do saber,formando-se um contrato didático que toma esse saber como objeto <strong>de</strong> um projetocompartilhado <strong>de</strong> ensino e aprendizag<strong>em</strong> e que un<strong>em</strong> <strong>em</strong> um mesmo lugar professorese alunos”. (CHEVALLARD, 1991, p. 27).Sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino“O entorno imediato <strong>de</strong> um sist<strong>em</strong>a didático está constituído inicialmentepelo sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino que reúne o conjunto <strong>de</strong> sist<strong>em</strong>a didático e t<strong>em</strong> ao seu lado umconjunto diversificado <strong>de</strong> dispositivos estruturais que permite o funcionamentodidático e que intervém nele <strong>em</strong> diversos níveis.” (ibi<strong>de</strong>m).NoosferaPara Chevallard, a noosfera é o espaço on<strong>de</strong> os representantes dos sist<strong>em</strong>as<strong>de</strong> ensino encontram-se, diretamente ou indiretamente, com os representantes <strong>da</strong>socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. É on<strong>de</strong> se opera a interação entre o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino stricto sensu e oentorno. “A noosfera é o centro operacional do processo <strong>de</strong> transposição didática quetraduzirá <strong>em</strong> fatos a resposta ao <strong>de</strong>sequilíbrio criado e comprovado...” (i<strong>de</strong>m, 1991, p.34).É, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordo com Chevallard, “uma instância essencial para ofuncionamento didático”. É on<strong>de</strong> “se encontram todos aqueles que, no entanto,ocupam os postos principais do funcionamento didático, enfrentam-se com osprobl<strong>em</strong>as que surg<strong>em</strong> do encontro com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e suas exigências; ali se<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> os conflitos, ali se levam a cabo as negociações, ali maduram assoluções.” (i<strong>de</strong>m, 1991, p. 28 a 34).


32Ain<strong>da</strong> sobre o papel <strong>da</strong> noosfera nas transformações sofri<strong>da</strong>s pelo sabersábio, assim se expressam ALVES FILHO et alii:“as transformações a que o saber sábio é submetido – ao se <strong>de</strong>spir <strong>de</strong> seu contextoepist<strong>em</strong>ológico e histórico particular, <strong>de</strong> sua linguag<strong>em</strong> original e sua vali<strong>da</strong><strong>de</strong>compartilha<strong>da</strong> pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> específica, para ressurgir <strong>em</strong> nova roupag<strong>em</strong>, organizaçãoa-histórica, novo nicho epist<strong>em</strong>ológico e <strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> dogmatiza<strong>da</strong> universalmente – são<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> dos componentes <strong>de</strong> parte <strong>da</strong> noosfera. Aliás, oscomponentes <strong>da</strong> noosfera não só <strong>de</strong>terminam as transformações mas também <strong>de</strong>terminam oque do saber sábio <strong>de</strong>ve ser alvo <strong>de</strong> transformações [grifo do autor].” (ALVES FILHOet alii, 2001, p. 82, 83).1.4.3 A Transposição Didática“Um conteúdo do saber que tenha sido <strong>de</strong>signado como saber a ensinar sofre,a partir <strong>de</strong> então, um conjunto <strong>de</strong> transformações que vão torná-lo apto para ocupar umlugar entre os objetos <strong>de</strong> ensino. O ‘trabalho’ que transforma um objeto do saber aensinar <strong>em</strong> um objeto <strong>de</strong> ensino, é <strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> transposição didática.”(CHEVALLARD, 1991, p. 45).Para GABRIEL (2001), o conceito <strong>de</strong> transposição didática surge paraexplicar o processo obrigatório <strong>da</strong> transformação do saber. Se <strong>de</strong> um lado, o termo‘transposição’ não traduz b<strong>em</strong> a idéia <strong>de</strong> transformação, <strong>de</strong> outro, t<strong>em</strong> o mérito <strong>de</strong>pressupor, logo <strong>de</strong> saí<strong>da</strong>, o reconhecimento <strong>de</strong> um distanciamento obrigatório entre osdiferentes saberes, o que não <strong>de</strong>ve, <strong>de</strong> forma alguma, ser minimizado.Para LEITE (2004, p. 52), o resultado <strong>de</strong>sse distanciamento não é a<strong>de</strong>preciação do saber escolar, mas o reconhecimento <strong>de</strong> sua especifici<strong>da</strong><strong>de</strong>epist<strong>em</strong>ológica, ou seja, “o conjunto <strong>de</strong> questões às quais um <strong>de</strong>terminado saber buscarespon<strong>de</strong>r, isto é, sua probl<strong>em</strong>ática, é necessariamente diferenciado <strong>em</strong> contextos com<strong>de</strong>man<strong>da</strong>s igualmente diferencia<strong>da</strong>s, como o são os contextos <strong>de</strong> produção dos saberese os contextos <strong>da</strong>s relações didáticas.”O objetivo <strong>da</strong> transposição didática é transformar <strong>em</strong> objetos <strong>de</strong> ensino osaber científico <strong>de</strong>signado para ser ensinado. Segundo CHEVALLARD (1991, p. 25),


33“a transposição didática se faz necessária porque o funcionamento didático do saber édistinto do funcionamento acadêmico, porque há dois regimes do saber interrelacionados,porém não superpostos.”Para CHEVALLARD (1991, p. 29-31), o sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong> ensino é possível sehouver uma compatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> com o seu entorno. Em relação ao saber existe uma duplacondição, ou seja, o saber ensinado não <strong>de</strong>ve estar distante do saber sábio e n<strong>em</strong>próximo do saber dos ‘pais’ – um saber banalizado na socie<strong>da</strong><strong>de</strong>. Neste sentido éimportante registrar que uma distância ina<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> po<strong>de</strong>rá levar ao questionamento <strong>da</strong>legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong> do ensino, e que uma distância a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> do saber ensinado aos saberessábio e banalizado, com o passar do t<strong>em</strong>po, vai aos poucos se <strong>de</strong>teriorando. O saberensinado se gasta e envelhece, tendo como resultado a incompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> do sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>ensino com o seu entorno. Para que a compatibilização seja restabeleci<strong>da</strong>, instaura-seuma corrente <strong>de</strong> saber que se origina no saber sábio, sendo esta a orig<strong>em</strong> do processo<strong>da</strong> transposição didática.A transposição didática, <strong>de</strong> acordo com CHEVALLARD (1991, p. 36),ocorre <strong>em</strong> dois níveis: externo e interno. A transposição didática interna ocorre quandoo professor se ‘apropria’ do saber a ensinar e o transforma <strong>em</strong> saber ensinado, epossibilita que o aluno <strong>de</strong>le se ‘aproprie’. Este domínio <strong>da</strong> transposição didática éfort<strong>em</strong>ente <strong>de</strong>terminado pelo professor. O saber a ser ensinado, através <strong>da</strong> ação <strong>da</strong>Escola e do professor po<strong>de</strong> ser selecionado segundo critérios <strong>de</strong>terminado por essesatores.Quando, por ex<strong>em</strong>plo, o professor prepara o seu texto ou <strong>de</strong>senvolve umalição, ele está trabalhando no domínio <strong>da</strong> transposição didática, mas não estárealizando <strong>de</strong> fato a transposição didática, pois a mesma há t<strong>em</strong>pos já foi inicia<strong>da</strong>.“Quando os programas são preparados, conformados e adquir<strong>em</strong> força <strong>de</strong> lei, começaoutro trabalho: o <strong>da</strong> transposição didática interna. Alguns dos mais belos achados <strong>da</strong>noosfera não resist<strong>em</strong> a essa prova.” (i<strong>de</strong>m, 1991, p. 44).


34A transposição didática externa, por sua vez, ocorre fora do contexto escolar,na noosfera. Ela está relaciona<strong>da</strong> ao saber sábio e ao saber a ensinar, quandotransforma <strong>em</strong> objetos <strong>de</strong> ensino el<strong>em</strong>entos do saber <strong>de</strong>signado a ensinar.Se questionarmos acerca do saber científico, ou seja, qu<strong>em</strong> o produz e on<strong>de</strong>se produz, ter<strong>em</strong>os como resposta os cientistas ou pesquisadores, sendo o local <strong>de</strong>produção os institutos <strong>de</strong> pesquisa, as universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s etc. Assim, o saber escolar e osaber dos cientistas possu<strong>em</strong> entre si diferenças <strong>de</strong> natureza epist<strong>em</strong>ológica. Sãosaberes produzidos <strong>em</strong> contextos diferentes, por atores e com objetivos distintos. Istoimplica numa distância entre os dois saberes e mais ain<strong>da</strong>, diz<strong>em</strong> respeito à sua gênese,filiação e legitimi<strong>da</strong><strong>de</strong>.Portanto, para uma análise <strong>de</strong>sses saberes, <strong>de</strong> acordo com CHEVALLARD(1991, p. 16), “a transposição didática é uma ferramenta que permite re-capacitar,tomar distância, interrogar as evidências, colocar <strong>em</strong> questão as idéias simples,<strong>de</strong>spren<strong>de</strong>r-se <strong>da</strong> familiari<strong>da</strong><strong>de</strong> enganosa <strong>de</strong> seu objeto <strong>de</strong> estudo. Em uma palavra, oque lhe permite exercer uma vigilância epist<strong>em</strong>ológica.”. A transposição didáticasurge, assim, como um instrumento que permite analisar o processo <strong>da</strong> transformaçãodo saber, quando o mesmo é criado pelos cientistas ou pesquisadores e <strong>de</strong>pois, chegaàs salas <strong>de</strong> aulas por meio <strong>da</strong> prática pe<strong>da</strong>gógica do professor.É interessante registrar, entretanto, que o conceito <strong>de</strong> transposição didática,na opinião <strong>de</strong> MARTINAND 20 citado por ASTOLFI e DEVELAY (1995, p. 52), não ésuficiente para explicar o processo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> conhecimento. Na opinião <strong>de</strong>stepensador, po<strong>de</strong>-se tecer uma crítica à transposição didática, consi<strong>de</strong>rando que esta selimita ao ‘texto do saber’, s<strong>em</strong> consi<strong>de</strong>rar o contexto mais amplo on<strong>de</strong> essas se<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong>, ou seja, nas suas palavras, as ‘práticas sociais <strong>de</strong> referência’ na qual essesaber se insere.20 Jean-Louis Martinand, connaître et transformer la matiére, Berna, Peter Lang, 1986.


35Nesse mesmo sentido, CAILLOT 21 , citado por MARANDINO (2004, p.102), consi<strong>de</strong>ra que a teoria <strong>da</strong> transposição didática apresenta probl<strong>em</strong>as, pois“Chevallard parte do pressuposto que existe um saber que é único, não consi<strong>de</strong>randoque a produção <strong>de</strong> um programa novo é uma produção social <strong>de</strong> diferentes atores <strong>em</strong>jogo, que por sua vez vão compor a noosfera”. Ain<strong>da</strong> afirma CAILLOT 21 que “a teoria<strong>da</strong> transposição didática, como foi formula<strong>da</strong> por Chevallard, teria então um domínio<strong>de</strong> vali<strong>da</strong><strong>de</strong> limitado, que seria aquele <strong>da</strong>s mat<strong>em</strong>áticas. Outras referências além dosaber sábio <strong>de</strong>verão ser leva<strong>da</strong>s <strong>em</strong> conta na <strong>de</strong>finição <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> ensino”.CAILLOT 21 apud MARANDINO (2004, p. 102), <strong>de</strong>fen<strong>de</strong> ain<strong>da</strong> que o saber sábio nãoseria a única referência do saber ensinado, consi<strong>de</strong>rando assim a existência <strong>de</strong> saberesligado à prática social <strong>de</strong> referência que não pertenc<strong>em</strong> forçosamente ao saberacadêmico.De acordo com MARANDINO (2004, p. 102), no posfácio do seu livro,CHEVALLARD (1991), respon<strong>de</strong> a críticas feitas à transposição didática, s<strong>em</strong>, noentanto, mencionar seus autores. Uma <strong>da</strong>s críticas que Chevallard rebate é exatamentea perspectiva aponta<strong>da</strong> por Caillot, referente à participação <strong>da</strong>s práticas sociais naconstituição do saber escolar, ressaltando que, para ele, saberes e práticas sociais nãopo<strong>de</strong>m ser confundidos, e para que as práticas se torn<strong>em</strong> saberes <strong>de</strong>v<strong>em</strong> serlegitima<strong>da</strong>s epist<strong>em</strong>ologicamente, e não só culturalmente.1.5 A TRANSPOSIÇÃO DIDÁTICA EM ALGUNS TRABALHOS EM ENSINO DECIÊNCIASPesquisas que tenham como referencial teórico a transposição didática, sejacomo concepção <strong>de</strong>ste conceito ou como um estudo <strong>da</strong> transformação do saber, nãotêm tido um aumento significativo como t<strong>em</strong>a <strong>de</strong> investigação <strong>em</strong> dissertações e teses21 CAILLOT, M., (1996). La théorie <strong>de</strong> la transposition di<strong>da</strong>ctique est-elle transposable? In: RAISKY,C., CAILLOT, M. Au-<strong>de</strong>lá <strong>de</strong>s di<strong>da</strong>ctiques, le di<strong>da</strong>ctique. Débats autour <strong>de</strong> concepts fédérateurs.Paris/Bruxelles : De Boeck e Larcier, p. 19-35.


36nos meios acadêmicos brasileiros. No entanto, há pelo menos uma déca<strong>da</strong>, algunspesquisadores <strong>de</strong>sta área <strong>de</strong> investigação vêm produzindo resultados que contribu<strong>em</strong>para uma melhor compreensão dos fenômenos <strong>da</strong> di<strong>da</strong>tização e transposição do saberescolar, como po<strong>de</strong>mos verificar nas dissertações <strong>de</strong> DIAS (2004), ALVETTI (1999),BOLIGIAN (2003), LEITE (2004) e na tese <strong>de</strong> ANHORN (2003).Dias, que pesquisou a metodologia <strong>da</strong>s práticas experimentais realiza<strong>da</strong>s noslaboratórios <strong>de</strong> Física do ensino superior, utilizando o conceito <strong>de</strong> transposiçãodidática, pô<strong>de</strong> observar algumas transformações dos saberes, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> sua construção noâmbito <strong>da</strong> pesquisa científica até a sua aplicação nos laboratórios didáticos <strong>de</strong> Física etambém observou a “<strong>de</strong>scaracterização <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> experimental <strong>de</strong> uma relação queincorpora o espírito cientifico para uma prática reprodutivista e comprobatória.”(DIAS, 2004, p. 5).ALVETTI (1999), por sua vez, realizou uma investigação sobre conteúdos<strong>de</strong> Física Mo<strong>de</strong>rna e Cont<strong>em</strong>porânea e a sua possível utilização no âmbito escolar. Nasua opinião, a tentativa <strong>de</strong> aproximação do conhecimento <strong>da</strong> esfera acadêmica para aescolar, é realiza<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong> transposição didática, ain<strong>da</strong> que ele não <strong>de</strong>monstreespecificamente como fazê-la.Num outro campo <strong>de</strong> conhecimento, BOLIGIAN (2003) abordou, <strong>em</strong> suadissertação, relaciona<strong>da</strong> ao ensino <strong>de</strong> geografia, como o conceito <strong>de</strong> território étransformado, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a esfera do saber sábio até a do saber a ensinar e como essasidéias são apresenta<strong>da</strong>s nas propostas conti<strong>da</strong>s nos PCN 22 e nos livros didáticos doEnsino Médio.Já ANHORN (2003) analisa a especifici<strong>da</strong><strong>de</strong> do processo <strong>de</strong> di<strong>da</strong>tização quepossibilita à História, <strong>de</strong> objeto <strong>de</strong> investigação acadêmica, ser transforma<strong>da</strong> <strong>em</strong> objeto<strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> uma disciplina escolar, enquanto LEITE (2004), tendo como baseChevallard e Bernstein e uma pesquisa bibliográfica dos trabalhos que se22 Parâmetros Curriculares Nacionais


37fun<strong>da</strong>mentam nestes autores, <strong>de</strong>senvolve uma reflexão sobre a constituição doconhecimento escolar.Outros pesquisadores como LOPES (1997 e 1999), LIMA-TAVARES e EL-HANI (2001), MARANDINO (2004 e 2005), SOBARZO e MARIN (2004) e ROSA eROSA (2005), também têm se preocupado com essas questões e publicado a respeito.Lima-Tavares e El-Hani fizeram uma probl<strong>em</strong>atização <strong>da</strong> cientifici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> teoria <strong>de</strong>Gaia, analisando a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> transposição <strong>de</strong>ste saber para o saber escolar.Sobarzo e Marin investigaram a importância <strong>da</strong> transposição didática do t<strong>em</strong>a resíduossólidos no 2º ciclo do Ensino Fun<strong>da</strong>mental.Marandino, por sua vez, t<strong>em</strong> investigado o processo <strong>da</strong> transposição erecontextualização do conhecimento nos espaços <strong>de</strong> museus <strong>de</strong> ciências. No artigo‘Transposição ou recontextualização? Sobre a produção <strong>de</strong> saberes na educação <strong>em</strong>museus <strong>de</strong> ciências’ (2004), a autora apresenta, <strong>de</strong> forma clara, as idéias <strong>de</strong> Chevallardno processo transpositivo, trazendo as principais críticas a esta teoria e, também, oconceito <strong>de</strong> recontextualização <strong>de</strong> Bernstein com base na análise do discursope<strong>da</strong>gógico. Já no segundo artigo ‘A pesquisa educacional e a produção <strong>de</strong> saberes nosmuseus <strong>de</strong> ciência’ (2005), faz uma reflexão do processo <strong>de</strong> socialização doconhecimento científico, tomando como referência o conceito <strong>de</strong> transposiçãodidática/museográfica e recontextualização.O trabalho realizado por ROSA e ROSA (2005) proporciona “umareflexãosobre os critérios adotados pelos professores no momento <strong>da</strong> seleção dos conteúdosque serão <strong>de</strong>senvolvidos no <strong>de</strong>correr do ano letivo, na disciplina <strong>de</strong> Física, na escola <strong>de</strong>Ensino Médio.” Na análise <strong>de</strong>sta ação pe<strong>da</strong>gógica, os autores tomam comoinstrumento <strong>de</strong> análise a transposição didática realiza<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong> Escola e tendocomo principais atores do processo os docentes <strong>de</strong> Física.No campo <strong>da</strong> educação mat<strong>em</strong>ática a teoria <strong>da</strong> transposição didática, toma<strong>da</strong>como um importante referencial teórico foi <strong>em</strong>prega<strong>da</strong> na transposição do saber sábioao saber escolar dos números cardinais e ordinais por MENEGHETTI (1995) e <strong>da</strong>


38<strong>de</strong>riva<strong>da</strong> por FUSCO e ALMOULOUD (1996). PAIS (2002), por sua vez, utiliza-se,<strong>de</strong>ntre outros, do conceito <strong>de</strong> transposição didática <strong>de</strong>senvolvido por Chevallard pararealizar uma análise <strong>da</strong> influência <strong>da</strong> ‘Didática Francesa’ no campo <strong>da</strong> educaçãomat<strong>em</strong>ática.No Ensino <strong>de</strong> Física, o gran<strong>de</strong> fluxo <strong>da</strong>s investigações não está dirigido paraa ação <strong>da</strong>s práticas escolares. Porém, inúmeros trabalhos foram realizados e abriramespaços para que outros pesquisadores pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong>, a partir <strong>de</strong>stes resultados, provocarquestionamentos acerca <strong>da</strong> transposição do saber. Dentre estes, a obra ‘Ensino <strong>de</strong>Física’ conteúdo, metodologia e epist<strong>em</strong>ologia numa concepção integradora’, traz umimportante trabalho realizado por Alves Filho et alii (2001), sobre ‘A eletrostáticacomo ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> transposição didática’.Corroborando essa idéia, diversos trabalhos apresentados nos eventos ligadosao ensino <strong>de</strong> Ciências e Física, tais como o Encontro Nacional <strong>de</strong> Pesquisa <strong>em</strong>Educação <strong>em</strong> Ciências (ENPEC) e o Encontro <strong>de</strong> Pesquisadores <strong>de</strong> Ensino <strong>de</strong> Física(EPEF), realizados entre 1998 a 2005 no Brasil, tiveram também como referencialteórico a transposição didática. Destes, alguns <strong>de</strong>les são citados nos próximosparágrafos.No trabalho <strong>de</strong> ALVES FILHO et alii (2001), os autores mostram anecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> escolar <strong>da</strong> transposição didática, <strong>de</strong>screvendo <strong>de</strong> forma articula<strong>da</strong> osel<strong>em</strong>entos presentes na teoria <strong>da</strong> transposição didática e apresentando importantescontribuições <strong>de</strong> outros autores ao t<strong>em</strong>a, como: práticas sociais <strong>de</strong> referência, regras <strong>da</strong>transposição didática e um quadro “que apresenta os três saberes e os atores principaisresponsáveis pela sua elaboração; as personagens <strong>da</strong>s várias esferas e suas funçõesbásicas no processo <strong>da</strong> Transposição Didática; as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cognitivas <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> grupo eas fontes <strong>de</strong> pressão a que estão sujeitos.” Neste trabalho, no qual o t<strong>em</strong>os como umareferência importante, <strong>de</strong>stacamos uma interessante abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> histórica <strong>da</strong>eletrostática e a análise <strong>de</strong>ste conteúdo <strong>de</strong> ensino nas esferas do saber sábio, do saber aensinar e do saber ensinado. Observamos, também, nesta análise, algumas


39conseqüências do processo transpositivo, como a <strong>de</strong>scontextualização, a<strong>de</strong>spersonalização e <strong>de</strong>ssincretização do saber a ensinar. Outros aspectos conseqüentes<strong>de</strong>ste processo, presentes são: a <strong>de</strong>formação e a distância entre o objeto do saber e oobjeto <strong>de</strong> ensino.Noutro trabalho, ALVES FILHO et alii (2000), <strong>de</strong>nominado ‘Novatransposição didática gera novas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s experimentais’ percebe-se, <strong>de</strong>ntre asdiferentes proposições para o laboratório didático <strong>de</strong> Física <strong>de</strong> diferentes autores, “oentendimento <strong>de</strong> que o ‘método experimental’, ferramenta <strong>de</strong> trabalho do cientista, setransforma após o processo <strong>de</strong> transposição didática, <strong>em</strong> ‘objeto a ensinar’.” Segundoos autores esta transformação ocorre na esfera do saber a ensinar e <strong>de</strong> formaequivoca<strong>da</strong>, pois “é fruto <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong> ciência adota<strong>da</strong> pelos personagenspertencentes à esfera do saber a ensinar” (ibi<strong>de</strong>m) que numa visão <strong>em</strong>pirista indutivista<strong>de</strong> ciência, afirmam que “qualquer proposta relativa ao laboratório, ocorre no sentidometodológico e na<strong>da</strong> mais do que isto, pois é necessário preservar a logici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>transposição didática e <strong>de</strong> suas práticas <strong>de</strong> referências.” (i<strong>de</strong>m, 2000, p. 2).Segundo os autores, na tentativa <strong>de</strong> redirecionar a concepção <strong>de</strong> ensino parauma concepção construtivista, resta a alternativa <strong>de</strong> atuar no ponto do processotranspositivo que transforma o saber a ensinar <strong>em</strong> saber ensinado, proporcionando aolaboratório didático assumir como el<strong>em</strong>ento mediador do processo ensinoaprendizag<strong>em</strong>.As autoras LIMA e SALLES (2003) <strong>em</strong> ‘Categoria <strong>de</strong> análise para o estudodo processo <strong>de</strong> transposição didática do conceito <strong>de</strong> teia alimentar <strong>em</strong> livros <strong>de</strong>ciências’, mostraram a transposição didática do conceito <strong>de</strong> teia alimentar <strong>em</strong> algunslivros didáticos selecionados pelo PNLD (<strong>Programa</strong> Nacional do Livro Didático) e<strong>de</strong>stacam três categorias <strong>de</strong> análise, a saber: dimensão ontológica do conceito <strong>de</strong> teiaalimentar; atualização e correção <strong>em</strong> relação aos saberes específicos; perspectivahistórica e controvérsias científicas. Nesta investigação foi observado,especificamente, a transformação do saber científico <strong>em</strong> saber acadêmico e <strong>de</strong>ste <strong>em</strong>


40saber escolar. Para as pesquisadoras houve uma contribuição “para uma melhorpercepção <strong>da</strong>s etapas cumpri<strong>da</strong>s pelo saber, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a produção na esfera científica até atransformação <strong>em</strong> saberes escolares (expresso <strong>em</strong> conteúdos <strong>de</strong> livros didáticos).”(LIMA e SELLES, 2003, p. 3).No trabalho ‘Análise <strong>de</strong> artigos sobre o ensino <strong>de</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita pelatransposição didática’ <strong>de</strong> RODRIGUES e PIETROCOLA (2000), a transposiçãodidática é toma<strong>da</strong> como um instrumento <strong>de</strong> análise na compreensão do processo <strong>de</strong>fabricação do objeto <strong>de</strong> ensino. Para isto, os autores investigaram como se <strong>da</strong>va oprocesso <strong>da</strong> inclusão e/ou exclusão e seleção <strong>de</strong> conteúdos <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong>restrita no âmbito <strong>da</strong> noosfera para o curso universitário básico. Ain<strong>da</strong>, observaramque os atores que constitu<strong>em</strong> os el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> noosfera são, “<strong>de</strong>s<strong>de</strong> pesquisadores(voltados para o ensino ou não) até autores <strong>de</strong> livros didáticos, passando por cargospúblicos ligados à educação.” (RODRIGUES e PIETROCOLA, 2000, p. 6).Já <strong>em</strong> ‘A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita <strong>em</strong> livros didáticos do EnsinoMédio e a transposição didática’, RODRIGUES e PIETROCOLA (1999), analisam aforma com que alguns livros abor<strong>da</strong>m a teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita no Ensino Médioe, para isto, tomam a transposição didática como um instrumento <strong>de</strong> análise. Segundoos autores, o resultado <strong>da</strong> transposição didática <strong>da</strong> teoria <strong>da</strong> relativi<strong>da</strong><strong>de</strong> restrita <strong>em</strong>livros <strong>de</strong> Física do Ensino Médio foi acompanha<strong>da</strong> <strong>de</strong> um estudo <strong>da</strong> forma <strong>de</strong>apresentação <strong>de</strong> tal conteúdo <strong>em</strong> alguns livros universitários básicos e <strong>em</strong> artigos <strong>de</strong>divulgação científica publicados na revista Super Interessante. Os autores tomaram,também, três categorias básicas que foram observa<strong>da</strong>s nas fontes consulta<strong>da</strong>s: a<strong>de</strong>scontextualização, a <strong>de</strong>spersonalização e a <strong>de</strong>ssincretização.Para estes autores “o conteúdo presente nos livros passou por um processo <strong>de</strong>transformação que não se restringe a uma mera redução ou simplificação do sabersábio; existe a produção <strong>de</strong> um contexto legitimado didática e pe<strong>da</strong>gogicamente paraque o saber a ensinar possa ser inserido no contexto educacional.” (i<strong>de</strong>m, 1999, p. 3).


41Em relação aos artigos <strong>de</strong> divulgação científica <strong>da</strong> Revista Super Interessanteos autores constataram a transposição didática, mas não a escolar. Observaram umarecontextualização num artigo ‘A última carta <strong>de</strong> Einstein’ (SUPER, n. 12, ano 09) queabor<strong>da</strong> “a postura <strong>da</strong> rejeição <strong>de</strong> Einstein diante do rumo que a Física Quântica estavatomando, fazendo com que ele abandonasse este estudo e voltasse suas atençõesexclusivamente para a formulação <strong>da</strong> Teoria <strong>da</strong> Relativi<strong>da</strong><strong>de</strong>”. (i<strong>de</strong>m, 1999, p. 7).Outros aspectos inerentes ao processo <strong>da</strong> transposição didática foram observados pelosautores, como uma não lineari<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> estrutura na apresentação dos conteúdos ou a<strong>de</strong>spersonalização do saber.FERRARI et alii (2003) <strong>em</strong> ‘Uma transposição didática interna ambígua: atentativa <strong>de</strong> uma reorganização do curso <strong>de</strong> mecânica no Ensino Médio’, analisam aação pe<strong>da</strong>gógica <strong>de</strong> um professor que modificou a seqüência dos conteúdos do curso<strong>de</strong> Física <strong>da</strong> primeira série do Ensino Médio, <strong>de</strong> acordo com a teoria <strong>da</strong> transposiçãodidática.Na investigação, os autores observaram conflitos <strong>de</strong>flagrados na noosfera,tanto no âmbito escolar como acadêmico. Estes conflitos, para os autores, erammotivados pela modificação <strong>da</strong> seqüência dos conteúdos <strong>de</strong> Física, realiza<strong>da</strong> peloprofessor <strong>em</strong> questão, que procurava cont<strong>em</strong>plar ao mesmo t<strong>em</strong>po os interesses dovestibular e <strong>de</strong> uma proposta inovadora, assim como, <strong>da</strong> mesma forma “que a Direçãoincentivava a discussão <strong>de</strong> novas metodologias, promovendo a vin<strong>da</strong> <strong>de</strong> palestrantes, aCoor<strong>de</strong>nação manifestava receio no que tangia a alterações <strong>de</strong> conteúdos, preferindomanter o vínculo com um material didático consagrado.” (FERRARI et alii, 2003, p.3). Ain<strong>da</strong>, para os autores, os pais <strong>de</strong> alunos cobravam <strong>da</strong> coor<strong>de</strong>nação a utilização dolivro didático adotado, acentuando o conflito na noosfera.Quanto aos aspectos pertinentes às modificações do saber, os autoresobservaram que esta atitu<strong>de</strong> do professor agravou mais ain<strong>da</strong> a <strong>de</strong>spersonalização edissincretização do saber. Porém, para a <strong>de</strong>scontextualização houve uma tentativa <strong>de</strong>


42um novo contexto, tendo como ex<strong>em</strong>plos para isto a lista <strong>de</strong> ‘coisas’ do GREF (1990).(FERRARI et alii, 2003, p. 2).‘Regras <strong>da</strong> transposição didática aplica<strong>da</strong> ao laboratório didático’ foi umtrabalho realizado por ALVES FILHO (1999), on<strong>de</strong> o autor apresenta uma análise dolaboratório didático <strong>de</strong> Física, tendo na transposição didática um instrumento <strong>de</strong>análise no processo ensino-aprendizag<strong>em</strong>.Na sua análise ele <strong>de</strong>staca o papel atribuído ao laboratório didático, por meio<strong>da</strong> transposição didática do saber sábio no contexto ensino-aprendizag<strong>em</strong> dolaboratório didático <strong>de</strong> Física. Segundo o autor, “o predomínio do <strong>em</strong>pirismo émarcante no processo <strong>de</strong> transposição didática e se revela na forma como o saber sábioé reescrito e se manifesta explicitamente nos livros textos.” (ALVES FILHO, 1999, p.8). Para isto, cita <strong>em</strong> Astolfi 23 o ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong> exposição do efeito fotoelétrico nos livrosfranceses, on<strong>de</strong> “apresentam as leis experimentais antes <strong>da</strong> teoria, criando um cenáriocompletamente falso e ten<strong>de</strong>ncioso acerca <strong>da</strong> produção do conhecimento. Sabe-se queEinstein propôs <strong>em</strong> 1905 a teoria do fóton e somente <strong>em</strong> 1916 Millikan propõe as leisexperimentais”. (ibi<strong>de</strong>m).Para Alves Filho o trabalho <strong>da</strong> transposição didática promove o métodoexperimental, pois é um procedimento necessário para a produção do saber sábio e porextensão, transforma-se <strong>em</strong> objeto do saber a ensinar. Para reforçar sua conclusão, oautor mostra que o método experimental po<strong>de</strong> ser analisado segundo as regras <strong>da</strong>transposição didática, elabora<strong>da</strong>s por CHEVALLARD e JOHSUA 24 e cita<strong>da</strong>s porALVES FILHO (1999, p. 8), e que norteiam as transformações do saber sábio para osaber a ensinar, a saber:Regra 1 – Mo<strong>de</strong>rnizar o saber escolar;Regra 2 – atualizar o saber a ensinar;23 ASTOLFI, J.P. e Develay, M. A Didática <strong>da</strong>s Ciências. Tradução <strong>de</strong> Mag<strong>da</strong> S. Fonseca. 5. ed. SãoPaulo: Papirus, 1995, p.47-48.24 CHEVALLARD, Y. e JOHSUA, M-A. Un ex<strong>em</strong>ple d’analyse <strong>de</strong> la transposition di<strong>da</strong>ctique – Lanotion <strong>de</strong> distance. Recherches en Di<strong>da</strong>ctique <strong>de</strong>s math<strong>em</strong>atiques. 3.2, 1982, 157-239.


43Regra 3 – Articular saber ‘velho’ com ‘saber’[sic] novo;Regra 4 – Transformar um saber <strong>em</strong> exercícios e probl<strong>em</strong>as;Regra 5 – Tornar um conceito mais compreensível.Para Alves Filho, para que o laboratório didático <strong>de</strong> Física possa ser umel<strong>em</strong>ento do processo ensino-aprendizag<strong>em</strong>, este “<strong>de</strong>ve ser alvo <strong>de</strong> uma transposiçãodidática diferente <strong>da</strong>quela que introduziu no processo <strong>de</strong> ensino com o objetivo <strong>de</strong>ensinar o método experimental;” e continuando, “se estabeleçam novas regras para anova transposição didática que <strong>de</strong>lineará ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s experimentais associa<strong>da</strong>sdiretamente com o processo <strong>de</strong> ensino-aprendizag<strong>em</strong>.” (i<strong>de</strong>m, 1999, p. 11).Por maior atenção que se tenha <strong>da</strong>do ao levantamento <strong>de</strong> trabalhos a respeito<strong>da</strong> transposição didática e <strong>de</strong> suas aplicações e conseqüências para as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>sdidáticas, ele não consegue esgotar to<strong>da</strong> a produção acadêmica, mas procuramosmostrar a importância que a t<strong>em</strong>ática t<strong>em</strong> assumido nos estudos que se refer<strong>em</strong> aosprocessos <strong>de</strong> ensino e aprendizag<strong>em</strong>.


44CAPÍTULO 2 ESTUDO DA CONCEPÇÃO E CONSTRUÇÃO DO CONCEITODE CAMPO ELÉTRICOAspectos históricos e culturais <strong>da</strong> construção do conceito <strong>de</strong> campo elétricosão el<strong>em</strong>entos fun<strong>da</strong>mentais na compreensão <strong>da</strong> sua gênese e do seu processo <strong>de</strong>transmissão. Apresentamos, neste capítulo, uma reconstrução histórica <strong>de</strong>ste conceito,no âmbito <strong>da</strong> Ciência Física, on<strong>de</strong> ele foi historicamente construído <strong>de</strong>s<strong>de</strong> t<strong>em</strong>posr<strong>em</strong>otos, a partir <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta dos fenômenos <strong>de</strong> atração elétrica, registra<strong>da</strong> no séculoVI a.C. pelos gregos e, também, por meio <strong>da</strong> concepção <strong>da</strong><strong>da</strong> à interação elétrica.2.1 ORIGENS E CONCEPÇÕES PRIMÁRIAS DOS FENÔMENOS ELÉTRICOS EMAGNÉTICOSOs fenômenos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao magnetismo foram observados,ain<strong>da</strong> s<strong>em</strong> distinção, na Grécia Antiga, quando os filósofos pré-socráticospreocupavam-se com questões acerca <strong>da</strong> orig<strong>em</strong> do mundo e <strong>da</strong>s transformações naNatureza, no período que vai do final do século VII ao final do século V a.C. Ofilósofo, mat<strong>em</strong>ático e astrônomo grego, Tales <strong>de</strong> Mileto, no século VI a.C., parece tersido o primeiro a observar fenômenos <strong>de</strong>sta natureza, ao atritar uma ‘pedra’<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> elektron com um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> lã, e, ao fazê-lo, observou que esta ‘pedra’,também conheci<strong>da</strong> por âmbar, atraía pequenos corpos. Reza ain<strong>da</strong> uma len<strong>da</strong> que naci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Tessália, uma província grega, um pastor <strong>de</strong> ovelhas chamado Magnes, aopastorear suas ovelhas, observou que a ponta <strong>de</strong> seu cajado era atraí<strong>da</strong> por uma pedraque encontrara ao longo do caminho quando conduzia as ovelhas. Esta região passou aser chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> Magnésia e a pedra <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Magnetita. Seja uma len<strong>da</strong> ou não, ofato <strong>da</strong> magnetita atrair pe<strong>da</strong>ços <strong>de</strong> ferro foi mencionado pelos filósofos Tales <strong>de</strong>Mileto, Platão, Sócrates e Tito <strong>de</strong> Lucrécio. (BASSALO, 1992, p. 269). No entantoestes fenômenos, por um longo período na História, não foram objetos <strong>de</strong> estudos,


45senão “uma sucessão <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobertas experimentais, não se integrando <strong>em</strong> umaconstrução teórica <strong>de</strong>talha<strong>da</strong>.” (BEN-DOV, 1995, p. 97).O uso prático <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> magnetita parece ter sido realizado peloschineses, utilizando-a como bússola nas viagens terrestres ou marítimas. SegundoSEDGWICK 25 et alii, apud BASSALO (1992, p. 269), “a primeira referência clarasobre o uso <strong>da</strong> bússola <strong>da</strong>ta <strong>de</strong> 215 a.C., e Humboldt teria afirmado que os chineses, noséculo II <strong>de</strong> nossa era, teriam atravessado o oceano Índico com navios possuindoagulhas magnéticas.” Porém, foi um erudito francês chamado Petrus Peregrinus <strong>de</strong>Maricourt que, <strong>em</strong> 1269, realizou um importante estudou sobre o magnetismo. Na suaEpístola, De Magnete, Petrus“mapeou as direções assumi<strong>da</strong>s por pequenos pe<strong>da</strong>ços retangulares <strong>de</strong> ferro colocadossobre um ímã natural esférico. Observou, então, que essas direções se cruzavam <strong>em</strong> pontosopostos, análogos aos pontos <strong>de</strong> cruzamento dos meridianos terrestres. Por esta razão,<strong>de</strong>nominou esses pontos <strong>de</strong> pólos do magneto. Segundo nos informa John Losee(Introdução Histórica à Filosofia <strong>da</strong> Ciência, Itatiaia e EDUSP, 1979), PETRUS<strong>de</strong>monstrou, ain<strong>da</strong>, que seccionado uma agulha magnética ao meio, produz<strong>em</strong>-se doisnovos ímãs, ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les com os seus respectivos pólos norte e sul.” (ibi<strong>de</strong>m).Segundo BASSALO (ib<strong>de</strong>m), Roger Bacon qualificou Petrus como o maiorcientista experimental <strong>de</strong> sua época e Joseph Needham, como o maior conhecedormedieval <strong>da</strong> bússola.No início do século XVII William Gilbert, um médico e profundo estudiosodos fenômenos elétricos e, principalmente, magnéticos, reuniu <strong>em</strong> sua majestosa obraDe Magnete Magneticisque Corporibus et <strong>de</strong> Magno Magnete Tellure (Sobre o Ímã,os Corpos Magnéticos e o Gran<strong>de</strong> Ímã, a Terra), publicado <strong>em</strong>1600, “todos os fatosconhecidos sobre o magnetismo, b<strong>em</strong> como acrescentou (...) outras observaçõesoriginais, ...” (i<strong>de</strong>m, p. 270). Nesta obra, Gilbert, expôs as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos ímãs eapresentou uma teoria <strong>em</strong> que diz que a Terra se comporta como um gran<strong>de</strong> ímã assimcomo <strong>de</strong>screve experimentos <strong>de</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> estática.25 SEDGWICK, TYLER e BIGELOW . História <strong>da</strong> Ciência, Ed. Globo, 1950.


46Antes <strong>da</strong>s discussões sobre atração magnética, Gilbert procurou diferenciaros fenômenos associados à atração <strong>de</strong>vido ao efeito do âmbar <strong>da</strong>quele causado pelosímãs. Para Gilbert, tanto o ímã quanto os corpos eletrizados <strong>em</strong>itiam um effluvium –substância etérea e material – que influenciava e agia sobre os corpos vizinhos e osatraíam, porém, <strong>de</strong>veria haver um contato real com os eflúvios, pois segundoGILBERT 26 , apud GARDELLI (2004, p.14), “como nenhuma ação po<strong>de</strong> ocorrer sobrea matéria, a não ser por contato, e estes corpos elétricos parec<strong>em</strong> não se tocar<strong>em</strong>, fazsenecessário que alguma coisa seja envia<strong>da</strong> <strong>de</strong> um corpo para outro, algo que possatocar precisamente e provocar o início do estímulo.”As primeiras observações sobre a repulsão elétrica, parec<strong>em</strong> ter sidorealiza<strong>da</strong>s por um italiano, o erudito jesuíta Nicolo Cabeo. Nos seus trabalhos,pesquisou possíveis falhas e <strong>de</strong>scuidos nos trabalhos <strong>de</strong> Gilbert, ao qual adicionounovos materiais à lista dos ‘elétricos’ e conclui que as hipóteses <strong>de</strong> Gilbert acerca <strong>da</strong>orig<strong>em</strong> do comportamento dos ‘elétricos’ estava erra<strong>da</strong>. No entanto, uma importantecontribuição foi a verificação <strong>de</strong> que após certos objetos tocar<strong>em</strong> <strong>em</strong> outroseletrizados, eles normalmente se afastavam como se foss<strong>em</strong> repelidos, o quecontrariava a noção <strong>de</strong> effluvium proposta por Gilbert (ROCHA et alii, 2002, p. 191).Em relação à atração magnética provoca<strong>da</strong> pelos materiais como o ferro,GILBERT 26 , <strong>de</strong> acordo com GARDELLI (2004, p.15) propunha que este eflúviomagnético não po<strong>de</strong>ria ser material como imaginava que fosse na transmissão <strong>da</strong>atração elétrica. Assim, “aquilo que <strong>em</strong>ana do ímã, ou entra no ferro, ou que sainovamente do ferro <strong>de</strong>spertado, não é corpóreo...”.No artigo Por que razão dois ímãs se aproximam um do outro e qual aesfera <strong>de</strong> sua atuação, Descartes tenta explicar a atração magnética, cuja questão seconstitui num dos maiores dil<strong>em</strong>as <strong>da</strong> filosofia natural, a <strong>de</strong> enten<strong>de</strong>r como as ações26Gilbert, William. On the Loadstone and Magnetic Bodies and on the Great Magnet the Earth. In:HUTCHINS, Robert Maynard (ed.). Great Books of the Western World 28. Chicago:Encyclopaedia Britannica, 1995. p. 1-121. Título original: De Magnete Magneticisque Corporibuset <strong>de</strong> Magno Magnete Tellure. Physiologia Nova. Tradução <strong>de</strong> P. Fleury Mottelary.


47físicas entre corpos que não se encontram <strong>em</strong> contato mútuo são transmiti<strong>da</strong>s. Assim,neste artigo 27 , DESCARTES 28 apud GARDELLI (2004, p. 21), explica:“Dois ímãs próximos um do outro voltam-se até o pólo austral <strong>de</strong> um estar voltado para opólo boreal do outro, aproximando-se e voltando-se; ou então, se na<strong>da</strong> impedir o seumovimento, voltam-se até se tocar<strong>em</strong>. Há que observar que as partículas canela<strong>da</strong>s passammuito mais <strong>de</strong>pressa pelos canais do ímã do que pelo ar, no qual o seu curso fica travadopelo segundo e terceiro el<strong>em</strong>entos, ao passo que nestes canais só se misturam com amatéria mais sutil do primeiro el<strong>em</strong>ento, que aumenta <strong>de</strong> veloci<strong>da</strong><strong>de</strong>. É por isso que umavez saí<strong>da</strong>s do ímã, continuam um pouco mais <strong>em</strong> linha reta antes <strong>de</strong> a resistência do ar aspo<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sviar. E se no espaço por on<strong>de</strong> segu<strong>em</strong> <strong>em</strong> linha reta, os canais <strong>de</strong> outro ímã estãodispostos a recebê-los, entram neste ímã <strong>em</strong> vez <strong>de</strong> se <strong>de</strong>sviar<strong>em</strong> e expulsam o ar existenteentre estes dois ímãs, fazendo então com que aproxim<strong>em</strong> um do outro.”Em segui<strong>da</strong> DESCARTES 29 explica, conforme GARDELLI (ibi<strong>de</strong>m), comoesta força se comunica ao ferro pelo ímã:“E se um fragmento <strong>de</strong> ferro ou <strong>de</strong> aço for aproximado <strong>de</strong> uma pedra <strong>de</strong> ímã, não há queestranhar que adquira imediatamente a sua força. Com efeito, e <strong>de</strong> acordo com o que sedisse, possui já poros a<strong>de</strong>quados para a recepção <strong>da</strong>s partículas canela<strong>da</strong>s, tal como o ímã,e até <strong>em</strong> maior número. É por isso que não lhe falta na<strong>da</strong> para ter<strong>em</strong> a mesma força, a nãoser que as pequenas extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s que segu<strong>em</strong> pelas dobras dos seus poros se volt<strong>em</strong><strong>de</strong>sor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>mente <strong>de</strong> maneiras diferentes, quando aquelas dos poros vin<strong>da</strong>s do Norte<strong>de</strong>veriam encontrar-se do mesmo lado e as outras do lado oposto. Mas quando um ímã seaproxima <strong>de</strong>le, as partículas canela<strong>da</strong>s que sa<strong>em</strong> <strong>de</strong>ste ímã entram com tal impetuosi<strong>da</strong><strong>de</strong>nos seus poros que têm força suficiente para dispor estas pequenas extr<strong>em</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> formamais conveniente. É assim que proporcionam ao ferro o que lhe faltava para ter a força doímã.”2.2 A PROBLEMÁTICA DA AÇÃO À DISTÂNCIAPara WHITTAKER 30 , citado por GARDELLI (2004, p. 23), Descartes é umdos fun<strong>da</strong>dores <strong>da</strong> Filosofia Mecânica para qu<strong>em</strong>, consi<strong>de</strong>rando propósitos científicos,o mundo externo inanimado po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado como um mecanismo automático,27 Para uma melhor compreensão <strong>da</strong>s concepções <strong>de</strong> Descartes sobre sua explicação sobre osfenômenos magnéticos, consultar o trabalho <strong>de</strong> Gar<strong>de</strong>lli (2004).28 Descartes, Princípios <strong>da</strong> Filosofia, 4ª parte, § 153.29 Descartes, Princípios <strong>da</strong> Filosofia, 4ª parte, § 158.30 WHITTAKER, Edmund T. A History of the Theories of Aether and Electricity. Vol. 1: TheClassical Theories. Vol. 2: The Mo<strong>de</strong>rn Theories. New York: Tomash Publishers, AmericanInstitute of Physics, 1951.


48cujo mo<strong>de</strong>lo mecânico <strong>de</strong> todo fenômeno físico é possível e <strong>de</strong>sejável imaginar.Também a obra máxima <strong>de</strong> Newton, Philosophiae Naturalis Principia Math<strong>em</strong>atica(Princípios Mat<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong> Filosofia Natural) <strong>de</strong> 1687 lança os fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> umaFísica que predominou durante mais <strong>de</strong> duzentos anos e que, ain<strong>da</strong> hoje, exerce umaforte influência nos programas <strong>de</strong> ensino <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong> Física. No livro III doPrincipia, Newton apresenta a sua lei <strong>de</strong> gravitação agindo à distância entre os corposmateriais, unificando a Física terrestre com a Física celeste. Embora pareça queNewton consi<strong>de</strong>rasse a ação à distância – concepção que pressupõe a interação entredois corpos materiais <strong>de</strong> forma direta e instantânea – como a forma pela qual os corposinterag<strong>em</strong> entre si pela lei do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância, esta não era <strong>de</strong> fato asua posição formal. Newton ensaiou algumas tentativas para explicar a mecânica <strong>da</strong>gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mas não tendo êxito, procurou <strong>de</strong>ixar claro que a sua obra não <strong>da</strong>va conta<strong>de</strong>sta questão ‘angular’ no cenário cientifico <strong>da</strong> atuali<strong>da</strong><strong>de</strong>. E isto, po<strong>de</strong>mos ver nolivro II do Óptica, on<strong>de</strong> NEWTON 31 , apud GARDELLI (i<strong>de</strong>m, p. 29), afirma:“Pois sabe-se que os corpos ag<strong>em</strong> uns sobre os outros pelas ações <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, domagnetismo e <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>; e esses ex<strong>em</strong>plos mostram o teor e o curso <strong>da</strong> natureza, enão tornam improvável que possa haver mais po<strong>de</strong>res atrativos além <strong>de</strong>sses. Porque anatureza é muito consonante e conforme a si mesma. Não examino aqui o modo comoessas atrações po<strong>de</strong>m ser efetua<strong>da</strong>s. O que chamo <strong>de</strong> atração po<strong>de</strong>-se se <strong>da</strong>r por impulso oupor algum outro meio que <strong>de</strong>sconheço. Uso esta palavra aqui apenas para expressarqualquer força pela qual os corpos ten<strong>de</strong>m um para o outro, seja qual for a causa.”Nas cartas envia<strong>da</strong>s a Richard Bentley <strong>em</strong> 17 <strong>de</strong> janeiro e 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong>1693, NEWTON 32 apud GARDELLI (i<strong>de</strong>m, p. 29), mostra a sua convicção <strong>da</strong>impossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> ação à distância:“... O Sr. algumas vezes fala <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> como sendo essencial e inerente à matéria.Peço-lhe não atribuir esta noção a mim, pois a causa <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> é o que eu não pretendosaber, e portanto levaria mais t<strong>em</strong>po para consi<strong>de</strong>rá-la. (Newton, carta a Bentley, 17 <strong>de</strong>31 NEWTON, Isaac. Math<strong>em</strong>atical Principles of Natural Philosophy. In: HUTCHINS, Robert Maynard(ed). Great Books of the Western World 34. Chicago: Encyclopaedia Britannica, 1952, p. 1-372.Título original: Philosophiae Naturalis Principia Math<strong>em</strong>atica. Tradução <strong>de</strong> Andrews Motte.Revisão <strong>de</strong> Florian Cajori.32 THAYER, H. S. (ed.). Newton’s Philosophy of Nature – selections from his Writings. New York:Hafner, 1953.


49janeiro <strong>de</strong> 1963: in Thayer, 1953, p. 53).”“... é inconcebível que a matéria bruta, inanima<strong>da</strong>, opere s<strong>em</strong> a mediação <strong>de</strong> alguma outracoisa, não-material, sobre outra matéria e a afete s<strong>em</strong> contato mútuo, como <strong>de</strong>ve ocorrer sea gravitação, no sentido <strong>de</strong> Epicuro, for essencial e inerente a ela. E é por essa razão que<strong>de</strong>sejei que você não atribuísse a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> inata a mim. Que a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser inata,inerente e essencial à matéria, <strong>de</strong> modo que um corpo pu<strong>de</strong>sse atuar sobre outro a distância,através <strong>de</strong> um vácuo, s<strong>em</strong> a mediação <strong>de</strong> qualquer outra coisa, por cujo intermédio suaação e força pu<strong>de</strong>sse ser transmiti<strong>da</strong> <strong>de</strong> um corpo a outro, é para mim um absurdo tãogran<strong>de</strong> que eu acredito que nenhum hom<strong>em</strong> dotado <strong>de</strong> uma facul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> pensamentocompetente <strong>em</strong> questões filosóficas jamais possa cair nele. A gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>ve ser causa<strong>da</strong>por um agente que atua constant<strong>em</strong>ente <strong>de</strong> acordo com certas leis; mas se esse agente ématerial ou imaterial é uma consi<strong>de</strong>ração que <strong>de</strong>ixo para os meus leitores. (Newton, carta aBentley, 25 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1963: in Thayer, 1953, p. 54).”Ain<strong>da</strong> do Escólio Geral <strong>da</strong> segun<strong>da</strong> edição do Principia <strong>de</strong> 1713,encontramos a seguinte passag<strong>em</strong>, citado por GARDELLI (i<strong>de</strong>m, p. 30), on<strong>de</strong>NEWTON 33 esclarece:“Até aqui explicamos os fenômenos dos céus e do nosso mar pelo po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, masain<strong>da</strong> não <strong>de</strong>signamos a causa <strong>de</strong>sse po<strong>de</strong>r. É certo que ele <strong>de</strong>ve provir <strong>de</strong> uma causa quepenetra nos centros exatos do Sol e planetas, s<strong>em</strong> sofrer a menor diminuição <strong>de</strong> sua forçaque opera não <strong>de</strong> acordo com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s superfícies <strong>da</strong>s partículas sobre as quais elaage (como as causas mecânicas costumam fazer), mas <strong>de</strong> acordo com a quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>matéria sóli<strong>da</strong> que elas contêm, e propaga sua virtu<strong>de</strong> <strong>em</strong> todos os lados a imensa distância.(...) Mas até aqui não fui capaz <strong>de</strong> <strong>de</strong>scobrir a causa <strong>de</strong>ssas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> apartir dos fenômenos, e não invento nenhuma hipótese; pois tudo que não é <strong>de</strong>duzido dosfenômenos <strong>de</strong>ve ser chamado uma hipótese; e as hipóteses, quer metafísicas ou físicas,quer <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia experimental. Nessafilosofia, as proposições particulares são inferi<strong>da</strong>s dos fenômenos, e <strong>de</strong>pois torna<strong>da</strong>s geraispela indução. (...) E para nós é suficiente que a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> realmente exista e atue <strong>de</strong> acordocom as leis que explicamos e que são suficiente para <strong>da</strong>r conta <strong>de</strong> todos os movimentos doscorpos celestes e <strong>de</strong> nosso mar.”Portanto, apesar <strong>da</strong> obra newtoniana mostrar que corpos materiais interag<strong>em</strong>à distância e ela mesma não <strong>da</strong>r explicações <strong>de</strong> como isso ocorre e os seguidores <strong>de</strong>stafilosofia admitir<strong>em</strong> a ação à distância nas interações dos corpos, o próprio Newtonachava isso um absurdo. Assim, quase todos os ‘newtonianos’ no século XVIIIafirmavam que a força gravitacional era uma ação direta à distância e, a partir <strong>da</strong>formulação <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> Coulomb, que tinha como um dos principais pressupostos a ação33 Newton, Math<strong>em</strong>atical Principles of Natural Philosophy, General Scholium, pp. 371-2.


50à distância, as leis Físicas que pu<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> representar outros fenômenos ain<strong>da</strong> nãoconhecidos, esperava-se ter uma simetria análoga às leis já então formula<strong>da</strong>s. Alémdisso, Coulomb estabeleceu ao final do século XVIII que as forças eletrostáticas <strong>em</strong>agnéticas (entre os pólos dos ímãs) obe<strong>de</strong>ciam à lei do inverso do quadrado <strong>da</strong>distância (MARTINS, 2005, p. 12).2.3 A QUEBRA DE SIMETRIA E O CONCEITO DE CAMPONo final do século XIX, um novo fenômeno físico associado a uma correnteelétrica que gerava um campo magnético ao redor do fio foi <strong>de</strong>scoberto por HansChristian Orsted 34 , <strong>da</strong>ndo-se início ao eletromagnetismo. O dinamarquês Orste<strong>da</strong>creditava na existência <strong>de</strong> uma relação entre a eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e o magnetismo, aocontrário <strong>de</strong> outros cientistas como Coulomb. Orsted <strong>de</strong>scobriu o eletromagnetismo noinício <strong>de</strong> 1820 na Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Copenhague, on<strong>de</strong> era docente. No entanto, aversão <strong>da</strong><strong>da</strong> a esta <strong>de</strong>scoberta é, ain<strong>da</strong> hoje, duvidosa. Segundo DIAS (2004, p. 17),Hansteen, aluno <strong>de</strong> Orsted, en<strong>de</strong>reçara uma carta para Fara<strong>da</strong>y <strong>em</strong> 30 <strong>de</strong> <strong>de</strong>z<strong>em</strong>bro <strong>de</strong>1857 e relata que estava presente à aula ministra<strong>da</strong> por Orsted <strong>em</strong> meados <strong>de</strong> abril <strong>de</strong>1820, quando ocorreu a <strong>de</strong>scoberta, <strong>de</strong>clarando nesta carta, acreditar que a <strong>de</strong>scobertatenha ocorrido por acaso.As evidências contrárias, entretanto, são muitas, inclusive um artigopublicado <strong>em</strong> 1827 na Enciclopédia <strong>de</strong> Edinburgh. Neste artigo Orsted, citado porMARTINS (1986, p. 95), <strong>de</strong>screve a concepção que o orientou: “O eletromagnetismofoi <strong>de</strong>scoberto no ano <strong>de</strong> 1820 pelo professor Hans Christian Orsted, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> Copenhagen. Durante to<strong>da</strong> a sua carreira acadêmica, ele [Orsted] a<strong>de</strong>riu à opiniãoque os efeitos magnéticos são produzidos pelos mesmos efeitos que os elétricos”.34 Em dinamarquês, o nome <strong>de</strong> Orsted é Hans Christian Orsted. No entanto, <strong>em</strong> latim, o seu nome foiapresentado como Johannis Christianus Örsted (ou OErsted, ou Oersted). Usar<strong>em</strong>os, neste trabalho,o seu nome na forma original (MARTINS, 1986, p. 115).


51MARTINS (i<strong>de</strong>m, p. 99) faz um relato <strong>da</strong> <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong> aula on<strong>de</strong> o efeitoeletromagnético foi observado:“No inverno <strong>de</strong> 1819-1820, ele [Orsted] apresentou um curso <strong>de</strong> conferências sobreeletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, galvanismo e magnetismo, diante <strong>de</strong> uma audiência previamente familiariza<strong>da</strong>com os princípios <strong>da</strong> filosofia natural. Ao preparar a conferência na qual versaria sobre aanalogia entre magnetismo e eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, conjecturou que, se fosse possível produziralgum efeito magnético pela eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, isso não po<strong>de</strong>ria ocorrer na direção <strong>da</strong> corrente,pois tal havia sido freqüent<strong>em</strong>ente tentado <strong>em</strong> vão; mas que <strong>de</strong>veria ser produzido por umaação lateral ...Assim como os efeitos luminosos e caloríficos <strong>da</strong> corrente elétrica sa<strong>em</strong> <strong>de</strong> um condutor<strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as direções, quando este transmite uma gran<strong>de</strong> quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>; assim,imaginou ser possível que o efeito magnético se irradiasse <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante. Asobservações registra<strong>da</strong>s acima, dos efeitos magnéticos produzidos por raios <strong>em</strong> agulhasque não foram diretamente atingi<strong>da</strong>s, confirmaram-no <strong>em</strong> sua opinião. Ele estava longe <strong>de</strong>esperar um gran<strong>de</strong> efeito magnético <strong>da</strong> pilha galvânica; supôs que po<strong>de</strong>ria ser exigido umpo<strong>de</strong>r suficiente para tornar incan<strong>de</strong>scente o fio condutor.O plano <strong>da</strong> primeira experiência consistia <strong>em</strong> fazer a corrente <strong>de</strong> um pequeno aparelhogalvânico <strong>de</strong> frascos, comumente usado <strong>em</strong> suas conferências, passar através <strong>de</strong> um fio <strong>de</strong>platina muito fino, colocado sobre a bússola coberta com vidro. A experiência foiprepara<strong>da</strong>, mas como aci<strong>de</strong>ntalmente ele foi impedido <strong>de</strong> ensiná-la antes <strong>da</strong> aula, planejouadiá-la para outra oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>; no entanto, durante a conferência, pareceu-lhe mais forte aprobabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> seu sucesso, e assim realizou a primeira experiência na presença <strong>da</strong>audiência. A agulha magnética, <strong>em</strong>bora fecha<strong>da</strong> <strong>em</strong> uma caixa, foi perturba<strong>da</strong>; mas, comoo efeito era muito fraco, e <strong>de</strong>veria parecer muito irregular, antes <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> sua lei, aexperiência não impressionou fort<strong>em</strong>ente o público ...No mês <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1820, ele novamente retornou à experiência, utilizando um aparelhogalvânico muito mais po<strong>de</strong>roso. O sucesso foi agora evi<strong>de</strong>nte, <strong>em</strong>bora os efeitos foss<strong>em</strong>ain<strong>da</strong> fracos nas primeiras repetições do experimento, pois <strong>em</strong>pregou apenas fios muitosfinos, supondo que o efeito magnético não ocorreria quando a corrente galvânica nãoproduzisse calor e luz; mas logo <strong>de</strong>scobriu, por experiências continua<strong>da</strong>s durante algunsdias, a lei fun<strong>da</strong>mental do eletromagnetismo, a saber, que o efeito magnético <strong>da</strong> correnteelétrica t<strong>em</strong> um movimento circular <strong>em</strong> torno <strong>de</strong>la.”Após sentir-se suficient<strong>em</strong>ente seguro <strong>de</strong> seus resultados, Orsted escreveuum artigo <strong>em</strong> latim <strong>em</strong> 21 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1820 e o envia para o maior jornal científico <strong>da</strong>Europa, cujo título era: O experimenta circa effectum conflictus electrici in acummagnetican (Experiências sobre o efeito do conflito elétrico sobre a agulhamagnética). Houve gran<strong>de</strong> resistência <strong>em</strong> compreen<strong>de</strong>r o efeito magnético provocado


52pela corrente elétrica, sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> simetria do fenômeno. Orsted 35 citadoMARTINS (i<strong>de</strong>m, p. 105), refere-se a essa oposição <strong>da</strong> seguinte forma:suas experiências:“A idéia <strong>de</strong> rotações magnéticas <strong>em</strong> torno do fio <strong>de</strong> conexão gerou muita oposição ao serpublica<strong>da</strong> pela primeira vez. O professor Schweigger objetou a ela que, se tais rotaçõesexistiss<strong>em</strong>, seria possível fazer um ímã girar <strong>em</strong> torno do fio <strong>de</strong> conexão. O Dr. Wollastontirou a mesma conclusão, mas com atitu<strong>de</strong> oposta: consi<strong>de</strong>rando provável esse resultado,ele inventou um instrumento para <strong>de</strong>monstrá-lo. A experiência foi interrompi<strong>da</strong> poraci<strong>de</strong>nte, e o Sr. Fara<strong>da</strong>y a retomou, realizando uma extensa série <strong>de</strong> experiências sobre oassunto.”Citado por MARTINS (i<strong>de</strong>m, p. 121,122), Orsted 36 fala dos resultados <strong>de</strong>“O conflito elétrico 37 apenas atua sobre as partículas magnéticas <strong>da</strong> matéria. Todos oscorpos não-magnéticos parec<strong>em</strong> ser permeáveis ao conflito elétrico; mas os [corpos]magnéticos, ou suas partículas magnéticas, resist<strong>em</strong> à passag<strong>em</strong> <strong>de</strong>sse conflito magnético[?], o que faz com que possam ser movi<strong>da</strong>s pelo ímpeto <strong>da</strong>s forças <strong>em</strong> luta.As observações expostas mostram que o conflito elétrico não está confinado ao fiocondutor, mas está amplamente disperso no espaço circunjacente a ele.Também se po<strong>de</strong> concluir <strong>da</strong>s observações que esse conflito age por rotações [gyros], poisparece que essa é a condição s<strong>em</strong> a qual não se po<strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r que a mesma parte dofio <strong>de</strong> conexão, colocado abaixo do pólo magnético o leve para leste, e colocado acima<strong>de</strong>le o mova para oeste; pois tal é a natureza <strong>da</strong> rotação, que movimentos <strong>em</strong> partes opostaspossuam direções opostas.... Todos os efeitos aqui expostos, relativamente ao pólo norte, são facilmentecompreendidos, supondo-se que a força ou matéria elétrica negativa percorre uma linhaespiral dobra<strong>da</strong> para a direita, e <strong>em</strong>purra o pólo norte, mas não age sobre o [pólo] sul.Po<strong>de</strong>-se explicar <strong>de</strong> forma s<strong>em</strong>elhante os efeitos sobre o pólo sul, se atribuirmos à força oumatéria elétrica positiva um movimento contrário, e o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> agir sobre o pólo sul, masnão sobre o pólo norte.”Este resultado mostrava outro, também muito importante, ou seja, a direção<strong>da</strong> força entre a agulha imanta<strong>da</strong> e um fragmento <strong>de</strong> corrente, não mantinha a simetria35 ORSTED, H. C. Enciclopédia <strong>de</strong> Edinburg, 1827.36 ORSTED, H. C. Experiências sobre o efeito do conflito elétrico sobre a agulha magnética. Trad. R.A. <strong>Martins</strong>. Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> História e Filosofia <strong>da</strong> Ciência (10): 115-122, 1986.37 Concepção <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por Orsted que consi<strong>de</strong>rava que no interior dos condutores portadores dosfluidos elétricos ocorria o encontro <strong>da</strong>s duas eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s – a eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> positiva e a negativa.Estas se aniquilavam e <strong>de</strong>pois se separavam; logo a diante, novamente, aniquilavam-se eseparavam-se e assim, sucessivamente. Portanto, a corrente seria dois fluxos contrários, lutando-seentre si e movendo-se por impulsos sucessivos (MARTINS, p. 116, 1986).


53<strong>da</strong>s leis do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância já verificados para a gravi<strong>da</strong><strong>de</strong>, ainteração eletrostática e a força magnética entre os pólos <strong>de</strong> ímãs.“Ao contrário do que o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> força newtoniano sugeria, a agulha se orientava nãoparalelamente, mas perpendicularmente ao fio condutor. Além disso, quando era coloca<strong>da</strong>acima do fio, a agulha tomava uma direção inversa àquela observa<strong>da</strong> quando estava sob ofio. Como essa experiência sugeria que a linha <strong>de</strong> ação <strong>da</strong> força magnética é um círculo <strong>em</strong>torno do fio, havia necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma nova teoria para explicar essa força evi<strong>de</strong>nt<strong>em</strong>enteestranha ao esqu<strong>em</strong>a newtoniano <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> ação retilíneas.” (BEN-DOV, 1996, p. 99).e isso constituiu num ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para as investigações para André Marie Ampère(<strong>em</strong> eletrodinâmica ) e para Michael Fara<strong>da</strong>y (no conceito <strong>de</strong> campo e induçãoeletromagnética), pois a partir <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> Orsted, a idéia <strong>de</strong> forças diretas àdistância tornou-se mais probl<strong>em</strong>ática. Para Ampère, o efeito magnético produzido poruma corrente elétrica <strong>de</strong>via ser substituído por uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> eletrodinâmica <strong>de</strong>forças à distância entre correntes elétricas. No entanto, Fara<strong>da</strong>y propôs uma visão paraos fenômenos eletromagnéticos que supunha a existência real <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> forçamesmo num espaço vazio <strong>da</strong> matéria. Esta concepção reforçou a idéia <strong>de</strong> um étereletromagnético durante o século XIX, <strong>da</strong>ndo orig<strong>em</strong> ao conceito <strong>de</strong> campo comoestrutura física <strong>de</strong>sse éter. (SILVA, 2002, p. 4).Assim, durante as suas investigações, Ampère encontrou dois resultadosimportantes associados ao eletromagnetismo. Descobriu que dois fios retilíneos eparalelos atraíam-se quando por eles passava uma corrente elétrica <strong>de</strong> mesmo sentido erepeliam-se, caso as correntes nos fios foss<strong>em</strong> <strong>de</strong> sentidos contrários. Este resultadorestabeleceu, <strong>em</strong> parte, a or<strong>de</strong>m newtoniana para todos os fenômenos eletromagnéticos<strong>de</strong> que as forças agiam <strong>de</strong> acordo com a lei do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância, cujaidéia central era a ação à distância entre os corpos. Citado por GARDELLI (2004, p.64), Ampère 38 diz: que “guiado pela filosofia newtoniana, eu reduzi o fenômenoobservado pelo Sr. Orsted, <strong>da</strong> forma como t<strong>em</strong> sido feito para todos os fenômenos38AMPÈRE, André-Marie. On the math<strong>em</strong>atical theory of electrodynamics phenomena,experimentally <strong>de</strong>duced. IN: Tricker, R. A. Early electrodynamics – The First Law of Circulation.Oxford: Pergamon Press, 1965. pp. 155-200.


54naturais s<strong>em</strong>elhantes às forças agindo ao longo <strong>da</strong> linha reta que une as duas partículasentre as quais a ação é exerci<strong>da</strong>” e isto resultou numa aceitação <strong>de</strong> suas idéias, queforam posteriormente <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s por Wilhelm Eduard Weber no <strong>de</strong>senvolvimento<strong>de</strong> sua teoria eletromagnética. Uma outra contribuição <strong>de</strong> Ampère foi o experimentoque consistia num fio enrolado num tubo <strong>de</strong> vidro, <strong>de</strong>nominado por ele <strong>de</strong> solenói<strong>de</strong>que, ao ser percorrido por uma corrente, produzia o mesmo efeito que um ímãpermanente.Nesse período <strong>em</strong> que a questão <strong>da</strong> ação à distância ain<strong>da</strong> ecoava firm<strong>em</strong>entenas aca<strong>de</strong>mias <strong>de</strong> Ciências por todo o mundo científico, começa a tomar corpo acontribuição <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y, que já tinha uma boa formação experimental no RoyalInstitution <strong>em</strong> Londres.Fara<strong>da</strong>y, após tomar ciência do eletromagnetismo ao presenciar <strong>em</strong> 1820experimentos feitos por Humphry Davy e William Hy<strong>de</strong> Wollaston, fez um estudo, noano seguinte, <strong>de</strong> tudo que se conhecia até aquele momento sobre a conexão existenteentre eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e magnetismo. Não se contentando com a explicação <strong>da</strong><strong>da</strong> porOrsteddo motor elétrico.“sobre uma espécie <strong>de</strong> ‘conflito elétrico’ existente ao redor do fio e imaginara que esteconflito estabelecia-se <strong>em</strong> círculos, mas a <strong>de</strong>scrição imprecisa não foi suficiente paraconvencer Fara<strong>da</strong>y. Usando uma pequena agulha magnética para mapear a forçamagnética, ele inicialmente interpretou o fenômeno como <strong>de</strong>vido a atrações e repulsões.Depois, confirmou o efeito circular ao redor do fio e logo imaginou que um único pólomagnético <strong>de</strong> um ímã <strong>de</strong>veria girar <strong>em</strong> torno enquanto a corrente fluísse e, inversamente,que um fio livre para movimentar-se, <strong>de</strong>veria girar <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um dos pólos <strong>de</strong> um ímã.”GARDELLI (i<strong>de</strong>m, p. 65).Este instrumento, representado pela figura, parece ser o primeiro protótipo


55FIGURA 1.1 DISPOSITIVO DE FARADAY PARA ILUSTRAR A ROTAÇÃO ELETROMAGNÉTICAFonte: Daniel Gar<strong>de</strong>lli, 2004.O método científico <strong>da</strong> época consistia na aplicação <strong>da</strong>s idéias <strong>da</strong> mat<strong>em</strong>áticae <strong>da</strong> astronomia. Fara<strong>da</strong>y, portanto, não teve oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> adquirir conhecimento<strong>de</strong>ssa natureza, ficando impossibilitado <strong>de</strong> seguir a linha <strong>de</strong> pensamento que tinhalevado às <strong>de</strong>scobertas dos filósofos franceses, levando a seguir um outro caminho – ouso <strong>de</strong> simbolismo para explicar o que podia enten<strong>de</strong>r. (TORT et alii, 2004, p. 279).Fara<strong>da</strong>y propôs, então, uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> totalmente diferente <strong>da</strong> concepção <strong>de</strong>ação à distância, que se fun<strong>da</strong> no conceito <strong>de</strong> campo. Ele imaginou uma imag<strong>em</strong>,inspirado no fenômeno <strong>da</strong> limalha <strong>de</strong> ferro quando espalha<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um ímã eobservou as curvas <strong>de</strong>scritas pelos fragmentos <strong>da</strong> limalha que ligavam os dois pólos doímã. De forma análoga, Fara<strong>da</strong>y propôs então um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> forças que seestendia <strong>em</strong> torno do ímã, <strong>em</strong>ergindo <strong>de</strong> seu pólo norte para convergir para o pólo sul.(BEN-DOV, 1996, p. 101).


56FIGURA 1.2 REPRESENTAÇÃO DOS FENÔMENOS ELÉTRICO E MAGNÉTICO POR LINHAS DE CAMPOFonte: Cibelle Celestino <strong>Silva</strong>, 2002.Contrário ao conceito <strong>de</strong> ação à distância, Fara<strong>da</strong>y propôs no seu mo<strong>de</strong>lo queesta ação se <strong>da</strong>va através <strong>de</strong> certo meio que era preenchido pelas linhas <strong>de</strong> força. Aeste espaço, Fara<strong>da</strong>y <strong>de</strong>nominou <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> forças (ROCHA et alii, 2002, p. 259).Segundo as suas próprias palavras, FARADAY 39 , citado por TORT et alii(2004, p. 279), relatou:“Seria um abandono <strong>de</strong>snecessário e caprichoso <strong>da</strong> aju<strong>da</strong> mais valiosa se umexperimentalista, que escolhe representar a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> magnética por meio <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong>força, negasse a si mesmo o uso <strong>de</strong> limalha <strong>de</strong> ferro. Por meio <strong>de</strong> sua utilização ele po<strong>de</strong>tomar muitas condições <strong>de</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mesmo <strong>em</strong> casos complicados, imediatamentevisíveis aos olhos, po<strong>de</strong> acompanhar <strong>em</strong> que direção esta intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> está crescendo oudiminuindo, e <strong>em</strong> sist<strong>em</strong>as complexos po<strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar os pontos neutros, lugares nosquais não há n<strong>em</strong> polari<strong>da</strong><strong>de</strong> n<strong>em</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, mesmo que eles estejam localizados nomeio <strong>de</strong> ímãs muito po<strong>de</strong>rosos. Por meio <strong>de</strong> seu <strong>em</strong>prego, resultados prováveis po<strong>de</strong>m servistos imediatamente, e muitas sugestões valiosas para conduzir futuros experimentospo<strong>de</strong>m ser obti<strong>da</strong>s.”De acordo com BEN-DOV (1996, p.101)“a atração e a repulsão entre pólos <strong>de</strong> ímãs diferentes se explicavam por uma afini<strong>da</strong><strong>de</strong>entre a convergência ou a divergência <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> força e um antagonismo <strong>da</strong>sconvergências ou <strong>da</strong>s divergências. Fara<strong>da</strong>y batizou <strong>de</strong> ‘campo magnético’ [grifo nosso]esse conjunto <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> forças e interpretou também a atração e a repulsão entre cargas39 FARADAY, Michael. Experimental Researches in Electricity (Encyclopaedia Britannica, GreatBooks of the Western, Chicago, 1952), v. 45, p. 257-866.


57elétricas pela ação <strong>de</strong> um ‘campo elétrico’ [grifo nosso] composto <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> forças quelevavam <strong>de</strong> uma carga elétrica positiva a uma carga elétrica negativa.”Ain<strong>da</strong>, <strong>de</strong> acordo com o autor,“a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y se distinguia <strong>da</strong>s leis do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância pelofato <strong>de</strong> evitar o probl<strong>em</strong>a <strong>da</strong> ação à distância. De fato, consi<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os dois pólos magnéticosopostos, pertencentes a dois ímãs diferentes. Afirmando-se que ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>sses pólos gera<strong>em</strong> sua vizinhança um campo magnético que, mediando as ações magnéticas, exerce umaforça sobre o outro pólo, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser necessário postular uma ação à distância entre ospólos.” BEN-DOV (ibi<strong>de</strong>m).2.4 A ‘LINGUAGEM DE FARADAY’Sobre as idéias concebi<strong>da</strong>s por Fara<strong>da</strong>y, Maxwell 40 , conforme ROCHA et alii(2002, p. 260), escreveu:“... Ele [Fara<strong>da</strong>y] concebe todo o espaço como um campo <strong>de</strong> força, as linhas <strong>de</strong> forçasendo, <strong>em</strong> geral, curvas, e aquelas <strong>de</strong>vido a qualquer corpo esten<strong>de</strong>ndo-se <strong>de</strong>le para todosos lados, suas direções sendo modifica<strong>da</strong>s pela presença <strong>de</strong> outros corpos. Ele mesmo fala<strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> forças pertencentes a um corpo como partindo <strong>de</strong>le, tal que <strong>em</strong> sua ação sobrecorpos distantes ele não po<strong>de</strong> ter pensado atuando on<strong>de</strong> ele não está. Isto, entretanto, não éuma idéia dominante <strong>em</strong> Fara<strong>da</strong>y. Eu penso que ele teria dito que o campo do espaço estácheio <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força, cujo arranjo <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>queles corpos no campo, e que as açõesmecânica e elétrica sobre ca<strong>da</strong> corpo são <strong>de</strong>termina<strong>da</strong>s pelas linhas que o atravessam.”Num texto escrito <strong>em</strong> 1873 sobre ação à distância, Maxwell comenta queFara<strong>da</strong>y “<strong>de</strong>u à sua concepção <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força uma clareza e uma precisão b<strong>em</strong>maior do que aquela que os mat<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong> então po<strong>de</strong>riam extrair <strong>de</strong> suas própriasfórmulas” (TORT et alii, 2004, p. 280). Continuando, Maxwell prossegue na suapalestra na Royal Institution <strong>em</strong> Londres, local on<strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y trabalhou e dirigiu pormuitos anos:“Aqui, neste lugar [i.e.: nesta instituição], elas não <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser esqueci<strong>da</strong>s nunca. Por meio<strong>de</strong>ste novo simbolismo, Fara<strong>da</strong>y <strong>de</strong>finiu com precisão mat<strong>em</strong>ática to<strong>da</strong> a teoria doeletromagnetismo <strong>em</strong> uma linguag<strong>em</strong> livre <strong>de</strong> tecnicismos mat<strong>em</strong>áticos e aplicável aoscasos mais complicados b<strong>em</strong> como aos mais simples. Mas Fara<strong>da</strong>y não parou aqui. Eleprosseguiu <strong>da</strong> concepção geométrica <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força para a concepção física. Eleobservou que o movimento que a força elétrica ou a magnética ten<strong>de</strong>m a gerar é40 Maxwell, J. C. A Treatise on Electricity and Magnetism.


58invariavelmente tal como para encurtar as linhas <strong>de</strong> força ao mesmo t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que permiteque se afast<strong>em</strong> lateralmente uma <strong>da</strong>s outras. Assim, ele percebeu no meio um estado <strong>de</strong>tensão que consiste <strong>em</strong> uma tração como a que existe <strong>em</strong> uma cor<strong>da</strong> estica<strong>da</strong>, na direção<strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> força, combina<strong>da</strong> com uma pressão <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as direções mas formando umângulo reto com essas linhas.” (ibi<strong>de</strong>m).Comparando o método <strong>de</strong> trabalho <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y com o <strong>de</strong> Ampère, Maxwell 41apud ROCHA et alii (2002, p. 257-258), escreveu:“O método que Fara<strong>da</strong>y <strong>em</strong>pregou <strong>em</strong> suas pesquisas consistiu <strong>em</strong> um apelo constante aoexperimento como um meio a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> suas idéias, e um constante cultivo <strong>da</strong>s idéias soba influência direta do experimento. Em suas pesquisas publica<strong>da</strong>s, nós achamos essasidéias expressas <strong>em</strong> linguag<strong>em</strong> que é a mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para uma ciência nascente, porque é<strong>de</strong> alguma forma alheia ao estilo dos físicos que estão acostumados a estabelecer formasmat<strong>em</strong>áticas <strong>de</strong> pensamento.A investigação experimental pela qual Ampère estabeleceu as leis <strong>da</strong> ação mecânica entrecorrentes elétricas é uma <strong>da</strong>s mais brilhantes conquistas <strong>em</strong> ciência.O todo, teoria e experimento, parece como se tivesse surgido <strong>de</strong> repente, já plenamenteformado, do cérebro do ‘Newton <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>’ [Ampère]. É perfeito na forma einatacável <strong>em</strong> precisão e é expresso numa fórmula <strong>da</strong> qual todos os fenômenos po<strong>de</strong>m serreduzidos e que <strong>de</strong>ve s<strong>em</strong>pre permanecer como a fórmula cardinal <strong>da</strong> eletrodinâmica.O método <strong>de</strong> Ampère, no entanto, pensado <strong>em</strong> uma forma indutiva, não nos permite traçara formação <strong>da</strong>s idéias que o guiaram. Dificilmente po<strong>de</strong>mos acreditar que Ampèrerealmente <strong>de</strong>scobriu a lei <strong>da</strong> ação à distância por meio dos experimentos que <strong>de</strong>screve.Somos levados a suspeitar que, na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, ele nos diz que <strong>de</strong>scobriu a lei por algumprocesso que ele não nos mostrou, e que, quando construiu uma <strong>de</strong>monstração perfeita, eler<strong>em</strong>oveu todos os traços do processo pelo qual obteve a lei.Fara<strong>da</strong>y, <strong>de</strong> outra forma, mostra-nos seus insucessos assim como seus experimentos b<strong>em</strong>sucedidos, e suas idéias cruas, assim como aquelas <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong>s, e o leitor, inferior a ele<strong>em</strong> po<strong>de</strong>r indutivo, sente simpatia mais do que admiração, e é tentado a acreditar que, setivesse tido mesma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, teria também feito a <strong>de</strong>scoberta. Todo estu<strong>da</strong>nte,portanto, <strong>de</strong>ve ler a pesquisa <strong>de</strong> Ampère como um esplêndido ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> estilo científicona afirmação <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>scoberta, mas também <strong>de</strong>veria estu<strong>da</strong>r Fara<strong>da</strong>y para cultivar oespírito científico, por meio <strong>da</strong> ação e reação que ocorre entre os novos fatos <strong>de</strong>scobertoscomo introduzidos a ele por Fara<strong>da</strong>y, e as idéias nascentes <strong>em</strong> sua própria mente.Foi talvez vantajoso para a ciência que Fara<strong>da</strong>y, <strong>em</strong>bora plenamente consciente <strong>da</strong>s formasfun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> espaço, t<strong>em</strong>po e força, não tenha sido um mat<strong>em</strong>ático profissional. Elenão tentou entrar <strong>em</strong> muitas pesquisas interessantes <strong>de</strong> mat<strong>em</strong>ática pura que suas<strong>de</strong>scobertas teriam sugerido se ele tivesse colocado sob a forma mat<strong>em</strong>ática, e ele não sepreocupou <strong>em</strong> colocar seus resultados <strong>em</strong> uma forma aceitável à mat<strong>em</strong>ática ou paraexpressá-los <strong>em</strong> uma forma passível <strong>de</strong> abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática. Ele foi conduzido peloprazer <strong>de</strong> seu próprio trabalho, coor<strong>de</strong>nando suas idéias com os fatos e expressando-as <strong>em</strong>linguag<strong>em</strong> natural, não técnica.”41 Maxwell, J. C. A Treatise on Electricity and Magnetism.


59Da mesma forma, apud ROCHA et alii (i<strong>de</strong>m, p. 262-263), Maxwellescreveu sobre a diferença entre o modo <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y e o modo dos mat<strong>em</strong>áticoscompreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong> os fenômenos eletromagnéticos:“... antes <strong>de</strong> iniciar o estudo <strong>de</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, eu resolvi não ler a mat<strong>em</strong>ática sobre o t<strong>em</strong>as<strong>em</strong> primeiro ler as ‘Pesquisas Experimentais <strong>em</strong> Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>’, <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y. Eu estavaatento para a suposta existência <strong>de</strong> uma diferença entre a maneira <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y conceber osfenômenos e a maneira dos mat<strong>em</strong>áticos, tal que n<strong>em</strong> ele e n<strong>em</strong> eles ficaram satisfeitoscom a linguag<strong>em</strong> um do outro. Eu também tinha a convicção que essa discrepância nãotinha orig<strong>em</strong> <strong>em</strong> nenhum erro. Fui primeiro convencido disso por Sir William Thompson,cuja orientação e assistência, b<strong>em</strong> como suas publicações, propiciaram o que eu tenhoaprendido sobre o assunto.Quando eu prossegui com os estudos <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y, percebi que seu método <strong>de</strong> conceber osfenômenos foi também mat<strong>em</strong>ático, apesar <strong>de</strong> não exibido na forma convencional <strong>de</strong>símbolos mat<strong>em</strong>áticos. Eu também achei que seus métodos foram capazes <strong>de</strong> ser expressosnas formas mat<strong>em</strong>áticas ordinárias, e então comparados com aqueles dos mat<strong>em</strong>áticos.Por ex<strong>em</strong>plo, Fara<strong>da</strong>y visualizava linhas <strong>de</strong> forças atravessando todo o espaço on<strong>de</strong> osmat<strong>em</strong>áticos viam centros <strong>de</strong> forças atraindo-se à distância. Fara<strong>da</strong>y visualizava um meioon<strong>de</strong> eles na<strong>da</strong> viam, [ou seja,] somente distância. Fara<strong>da</strong>y procurava a base dosfenômenos <strong>em</strong> ações que se processavam num meio, eles se satisfaziam ao tê-las achadonum po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> ação à distância exercido sobre os fluidos elétricos.Quando eu traduzi <strong>de</strong> uma forma mat<strong>em</strong>ática o que consi<strong>de</strong>rei ser<strong>em</strong> as idéias <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y,achei que <strong>em</strong> geral os resultados dos dois métodos coinci<strong>de</strong>m, tal que os mesmosfenômenos foram explicados, e as mesmas leis <strong>de</strong> ação <strong>de</strong>duzi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ambos os métodos,porém, que os métodos <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y ass<strong>em</strong>elhavam-se àqueles nos quais começamos com otodo e chegamos às partes por análises, enquanto os métodos mat<strong>em</strong>áticos ordináriosbaseavam-se sobre o princípio <strong>de</strong> iniciar com as partes e construir o todo por síntese.”2.5 O CONCEITO ATUAL DE CAMPO ELÉTRICOO conceito atual <strong>de</strong> campo elétrico passa, obrigatoriamente, por estudos maisaprofun<strong>da</strong>dos <strong>em</strong> diversos campos <strong>de</strong> investigação <strong>da</strong> Física. Há entretanto, umconjunto <strong>de</strong> conceitos aceitos e di<strong>da</strong>ticamente apresentados <strong>em</strong> livros <strong>de</strong> ensinosuperior, que serão brev<strong>em</strong>ente apresentados.Em relação ao conceito <strong>de</strong> campo, SILVA (2002, p. 13) diz que “no contextodo século XIX, um campo <strong>de</strong> força era pensado como um espaço no qual a força é<strong>de</strong>fini<strong>da</strong> <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto, e uma teoria <strong>de</strong> campo é qualquer teoria que permite calcularos valores <strong>de</strong>ssas forças.” Porém, segundo a autora, a ação entre dois objetos émedia<strong>da</strong> por um campo existente no espaço entre eles e “o termo ‘campo’ é usado <strong>em</strong>


60um sentido amplo, significando a introdução <strong>de</strong> enti<strong>da</strong><strong>de</strong>s físicas ou mat<strong>em</strong>áticas noespaço existente entre fontes elétricas e magnéticas. Ain<strong>da</strong> <strong>de</strong> acordo com a autora, aslinhas <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y representam o primeiro conceito preciso <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong>campo.” SILVA (ibi<strong>de</strong>m).Atribui-se a Maxwell, que trabalhou nesse sentido durante o período <strong>de</strong> 1864a 1873, a organização do que havia sido pensado e expresso mat<strong>em</strong>aticamente arespeito do conceito <strong>de</strong> campo. Este trabalho resultou numa teoria eletromagnéticasinteticamente representa<strong>da</strong> por quatro equações diferenciais 42 envolvendo os camposelétricos e magnéticos, com suas respectivas fontes, <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cargas e correnteelétricas.Em notação vetorial as quatro equações são assim expressas: ∂B ∂D∇ . B = 0, ∇ . D = ρ, ∇× E + = 0, ∇× H − = J (2.1)∂t∂tDe acordo com BASSALO (1992, p. 288) as intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos camposeletromagnéticos foram interpreta<strong>da</strong>s por Maxwell, analogamente ao campogravitacional newtoniano. Ou seja:“<strong>em</strong> analogia com a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong><strong>de</strong> g que me<strong>de</strong> a força gravitacional sobre umamassa unitária coloca<strong>da</strong> no local on<strong>de</strong> se quer medir aquela intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, Maxwell <strong>de</strong>finiuas intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s elétrica e magnética, para medir, respectivamente, a força elétrica e a forçamagnética, sobre cargas elétricas e ‘cargas’ magnéticas unitárias e positivas, coloca<strong>da</strong>s nolocal on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja aquelas intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que, tais cargas não mexess<strong>em</strong> com adistribuição <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e do magnetismo”.Nessa interpretação, o campo elétrico é um vetor obtido através <strong>da</strong> solução <strong>da</strong>sequações <strong>de</strong> Maxwell ou <strong>da</strong>s soluções diretas. Para uma partícula carrega<strong>da</strong>, estecampo correspon<strong>de</strong> ao vetor <strong>da</strong>do por: q qE = k r (2.2) <strong>de</strong> módulo k3 2rr42 Para escrever as quatro equações do eletromagnetismo, Maxwell utilizou a teoria dos quaternios<strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> por William Rowan Hamilton. A notação vetorial, cujas equações <strong>de</strong> Maxwell sãocomumente apresenta<strong>da</strong>s, se <strong>de</strong>ve a Análise Vetorial <strong>de</strong> Oliver Heavisi<strong>de</strong>.


61De acordo com REITZ et alii (1982, p. 39), o campo elétrico num ponto é<strong>de</strong>finido como o limite <strong>da</strong> razão <strong>da</strong> força sobre uma carga teste, coloca<strong>da</strong> no ponto,pela carga teste, quando esta ten<strong>de</strong> a zero. Assim: FqE = l i m ( 2 . 3 )q → 0 qconsi<strong>de</strong>rando uma distribuição <strong>de</strong> N cargas puntuais q 1 , q 2 ,..., q N , localiza<strong>da</strong>s nos pontos r 1, r 2,..., r N , respectivamente, uma distribuição volumétrica <strong>de</strong> cargas <strong>da</strong><strong>da</strong> porρ ( r′) no volume V e uma distribuição superficial caracteriza<strong>da</strong> por σ ( r′) sobre a superfície S, on<strong>de</strong> ρ ( r′) e σ ( r′) são as <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cargas volumétrica e superficial,respectivamente.Nessa consi<strong>de</strong>ração, o campo elétrico no ponto r é <strong>da</strong>do por: 1 N r −rir −r′ r −r′ E( r) = qiρ( r′ ) dv′ σ( r′ ) <strong>da</strong>′(2.4)3 3 34πε + + 0 i = 1 r −riV r −r′ S r −r′Com esta equação, segundo REITZ et alii (i<strong>de</strong>m, p. 41), o campo elétrico <strong>em</strong>r po<strong>de</strong> ser calculado, consi<strong>de</strong>rando as distribuições <strong>de</strong> cargas supracita<strong>da</strong>s.Outra forma <strong>de</strong> calcular o campo elétrico é através <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> Gauss, cujaforma integral é <strong>da</strong><strong>da</strong> pore a diferencial correspon<strong>de</strong>nte, por:A aplicação <strong>da</strong> equação (2.5) é mais a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> para “situaçõessuficient<strong>em</strong>ente simétricas. Em outras palavras, <strong>em</strong> certas situações altamentesimétricas, <strong>de</strong> consi<strong>de</strong>rável interesse físico, o campo elétrico po<strong>de</strong> ser calculadoatravés do uso <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> Gauss...” (REITZ, et alii 1982, p. 47). No entanto, para aequação (2.6) e consi<strong>de</strong>rando um campo apenas eletrostático, t<strong>em</strong>os E = −∇ϕ(2.7)2que, e assim po<strong>de</strong>mos escrever a equação (2.6) como: ϕ<strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> equação <strong>de</strong> Poisson.S 1E . n <strong>da</strong> = ρ dv (2.5)ε0V 1∇ . E = ρ (2 .6 )ε∇ = − ρ / ε (2.8)00


62Se for consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> certa classe <strong>de</strong> probl<strong>em</strong>as eletrostáticos que envolvamapenas condutores, a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carga volumétrica, , é zero. Assim, a equação (2.8)2será escrita, ∇ ϕ = 0 (2.9) <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> equação <strong>de</strong> Laplace.A solução <strong>da</strong> equação <strong>de</strong> Laplace será possível mediante as condições <strong>de</strong>contorno nos limites <strong>de</strong> V. Soluções analíticas po<strong>de</strong>m ser forma<strong>da</strong>s pela combinaçãolinear <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> funções básicas, escolhi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> função <strong>da</strong> simetria doprobl<strong>em</strong>a, a saber: os polinômios <strong>de</strong> Legendre para soluções conheci<strong>da</strong>s comoharmônicos zonais; e os harmônicos cilíndricos.De uma outra forma, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar um espaço vazio livre <strong>de</strong> qualquerinfluência elétrica. Ao transportarmos uma carga elétrica para uma região <strong>de</strong>steespaço, ca<strong>da</strong> ponto <strong>de</strong>ste adquirirá proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s que não tinha anteriormente. Falamos,portanto, que a carga perturbou o espaço <strong>em</strong> sua volta e a estas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sassocia<strong>da</strong>s a ca<strong>da</strong> ponto do espaço, <strong>de</strong>nominamos <strong>de</strong> campo elétrico. (ROCHA et alii,2002, p. 261).2.6 ASPECTOS CULTURAIS NA CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPOELÉTRICOAlém dos aspectos apresentados anteriormente, outros el<strong>em</strong>entos associadosà constituição do conceito <strong>de</strong> campo e <strong>de</strong> campo elétrico po<strong>de</strong>m ser buscados noâmbito dos fenômenos físicos e dos saberes vinculados às questões presentes nasdiscussões <strong>da</strong> sua construção tendo como el<strong>em</strong>ento principal a concepção <strong>de</strong>transmissão cultural.2.6.1 Os fenômenos físicos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> culturaNo âmbito <strong>da</strong> transmissão cultural, po<strong>de</strong>mos consi<strong>de</strong>rar a cultura como umpatrimônio <strong>de</strong> conhecimentos e <strong>de</strong> competências, herança coletiva constituí<strong>da</strong> ao longo<strong>de</strong> gerações, que transcen<strong>de</strong> as fronteiras étnicas (FORQUIN, 1993, p. 10). Nesse


63sentido, é importante registrar que na construção do conhecimento científico, há fatoshistóricos e culturais que po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados como parte <strong>da</strong> sua gênese, razão pelaqual <strong>de</strong>stacar<strong>em</strong>os as experiências associa<strong>da</strong>s à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> estática e ao magnetismocomo el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura presentes nos fenômenos <strong>de</strong>scobertos.Os fenômenos naturais associados à atração <strong>de</strong> pequenos corpos pelo âmbare <strong>de</strong> pe<strong>da</strong>ços <strong>de</strong> ferro pela magnetita eram fatos já conhecidos pelos filósofos présocráticosna Grécia arcaica (final do século VII ao final do século V a.C.), s<strong>em</strong> que aeles fosse associa<strong>da</strong> uma preocupação <strong>de</strong> distinção dos fenômenos observados. Esteconhecimento também já era praticado pelos chineses, que, ao usar<strong>em</strong> as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s<strong>de</strong> orientação <strong>da</strong> magnetita, criaram a bússola. No entanto, o conhecimento dofenômeno <strong>da</strong> repulsa elétrica, <strong>de</strong> acordo com ROCHA et alii (2002, p. 191), só foipercebido na I<strong>da</strong><strong>de</strong> Mo<strong>de</strong>rna por Nicolo Cabeo.No que diz respeito aos fenômenos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e aomagnetismo, passaram-se mais 25 séculos para que o hom<strong>em</strong>, novamente, se <strong>de</strong>parassecom outro fenômeno absolutamente alheio à ciência <strong>de</strong> sua época e que exigiss<strong>em</strong>novas interpretações. Tal fato aconteceu quando <strong>da</strong> aproximação <strong>de</strong> uma bússola, <strong>em</strong>certas condições, <strong>de</strong> uma corrente elétrica, e <strong>da</strong> observação <strong>de</strong> que sua agulha s<strong>em</strong>ovimentava quando se encontrava orienta<strong>da</strong> na mesma direção <strong>da</strong> corrente elétrica,fenômeno observado sist<strong>em</strong>aticamente por Orsted (1820). Este fenômeno físico causouespanto e estranheza à comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica <strong>da</strong> época, pois não havia nenhumconhecimento científico que o explicasse. Decorrente <strong>de</strong>ste <strong>de</strong>safio, iniciou-se umasérie <strong>de</strong> experimentos que reproduziss<strong>em</strong> o fenômeno observado e a partir <strong>de</strong> então,formulass<strong>em</strong> um conhecimento que o explicasse.Pontualmente indicados e sumarizados, esses fatos registram <strong>de</strong> formailustrativa, como os conhecimentos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao magnetismo e àconstrução <strong>de</strong>sses conceitos constitu<strong>em</strong>-se <strong>em</strong> el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> uma cultura que até osdias <strong>de</strong> hoje preservamos, pois até hoje nos reportamos ao fato <strong>de</strong> que pedras, naAntigui<strong>da</strong><strong>de</strong> possuíam a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> atrair metais; que âmbar atritado conseguia


64atrair pe<strong>da</strong>cinhos <strong>de</strong> lã ou <strong>de</strong> sabugo; que uma bússola era afeta<strong>da</strong> pela passag<strong>em</strong> <strong>de</strong>corrente elétrica <strong>em</strong> um fio, e levamos para nossas conversas e salas <strong>de</strong> aula essasobservações.2.6.2 Os saberes como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura escolarAs <strong>de</strong>scobertas <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e do magnetismo são fatos conhecidos pormais <strong>de</strong> vinte e cinco séculos, cujas experiências foram repeti<strong>da</strong>s inúmeras vezes peloscuriosos ou estudiosos <strong>da</strong> ciência. Em relação ao magnetismo houve uma aplicação<strong>da</strong>s suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s, resultando na criação <strong>da</strong> bússola. Porém, até o século XI, estesconhecimentos não foram sist<strong>em</strong>aticamente estu<strong>da</strong>dos ou pesquisados (BEN-DOV,1995, p. 97) e produzidos por meio “<strong>de</strong> um processo contínuo <strong>de</strong> seleção” (FORQUIN,1992, p. 41), ou seja, não se constituíram como um conhecimento mais elaborado eespecífico e conforme o saber sábio <strong>de</strong>finido por CHEVALLARD (1991),caracterizando-se principalmente como um processo <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> vivências eexperiências elaborados a partir <strong>da</strong>s suas <strong>de</strong>scobertas por meio do processo <strong>de</strong> suaconstituição e transmissão po<strong>de</strong>ndo assim, segundo FORQUIN (1993, p. 10-14) e(1992, p. 41), ser<strong>em</strong> tomados como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura.Somente <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente, 2.000 anos t<strong>em</strong>-se registro doconhecimento como uma forma <strong>de</strong> saber associado aos fenômenos observados pelos,então, pré-socráticos. Como iniciativa <strong>de</strong>sse processo, Petrus Peregrinus sist<strong>em</strong>atizou,<strong>em</strong> sua Epístola De Magnete (1296), o conhecimento associado às proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s doímã natural, <strong>de</strong>nominando os pólos do ímã como pólo norte e pólo sul. Também,<strong>de</strong>monstrou que uma agulha secciona<strong>da</strong> ao meio resultava <strong>em</strong> dois novos ímãs. Noentanto, este conhecimento sist<strong>em</strong>atizado diz respeito somente aos fenômenosmagnéticos, cabendo a William Gilbert, quatro séculos após Petrus Peregrinus,diferenciar os fenômenos elétricos dos magnéticos na sua obra ‘Sobre o Ímã, osCorpos Magnéticos e o Gran<strong>de</strong> Ímã, a Terra’ (1600), on<strong>de</strong> reuniu todos os fatosconhecidos sobre o magnetismo.


65Em relação ao eletromagnetismo, o primeiro resultado que também foisist<strong>em</strong>aticamente elaborado na forma <strong>de</strong> um saber científico ou sábio, conforme o<strong>de</strong>nomina a teoria <strong>da</strong> transposição didática, foi o artigo publicado <strong>em</strong> 21 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong>1820 por Orsted no maior jornal científico <strong>da</strong> Europa. Nele, Orsted explicava omovimento <strong>da</strong> agulha por meio do conflito elétrico que não se limitava ao fiocondutor, mas o permeava no espaço circunjacente. Dessa forma o conflito elétrico,que age por rotações, <strong>em</strong>purrava os pólos do ímã para uma direção que <strong>de</strong>pendia <strong>da</strong>direção <strong>da</strong> corrente.Também consi<strong>de</strong>rando a constituição dos saberes (FORQUIN, 1992 eCHEVALLARD, 1991), após algumas investigações realiza<strong>da</strong>s por Ampère e Fara<strong>da</strong>ysobre o fenômeno eletromagnético, foram propostas duas concepções. A primeira<strong>de</strong>las diz respeito às explicações <strong>de</strong> Orsted sobre o efeito magnético produzido poruma corrente elétrica. Para Ampère, as explicações propostas por Orsted sobre esteefeito <strong>de</strong>veriam ser substituí<strong>da</strong>s por uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> eletrodinâmica <strong>de</strong> forças àdistância entre corrente elétricas. Ele também <strong>de</strong>scobriu que dois fios paralelos podiamatrair-se ou repelir-se <strong>de</strong> acordo com os sentidos <strong>da</strong>s correntes elétricas queconduziss<strong>em</strong> e segundo a lei do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância. Esta proposiçãorestabelecia, <strong>em</strong> parte, a or<strong>de</strong>m newtoniana. Já a segun<strong>da</strong> é sobre o mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong>s linhas<strong>de</strong> força <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y que, observando o fenômeno <strong>da</strong> limalha <strong>de</strong> ferro, propôs ummo<strong>de</strong>lo, cujas linhas se estendiam <strong>em</strong> torno do ímã, <strong>em</strong>ergindo do pólo norte paraconvergir no pólo sul, <strong>de</strong>nominando <strong>de</strong> campo magnético este conjunto <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong>forças. Assim, Fara<strong>da</strong>y explicava a atração e repulsão entre os pólos <strong>de</strong> imãs diferentespor meio <strong>da</strong> afini<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a convergência e a divergência <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> força e umaincompatibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s convergências ou <strong>da</strong>s divergências. Da mesma forma, Fara<strong>da</strong>yinterpretou a atração e repulsão elétrica entre cargas pela ação <strong>de</strong> um campo elétricocomposto <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> forças que saíam <strong>da</strong> carga elétrica positiva e chegavam àsnegativas.


66Observando-se o processo histórico <strong>da</strong> constituição do conceito <strong>de</strong> campoelétrico e/ou magnético, vê-se, na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que os saberes vão sendo constituídos,uma ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> outros saberes interligados que foram gerados ou a eles associados,constituindo-se num fenômeno <strong>de</strong> sua hierarquização ou estratificação. Portanto,<strong>de</strong>stacamos doravante um ponto importante no processo <strong>de</strong> constituição do conceito <strong>de</strong>campo elétrico, um saber associados a outros saberes. Assim, mostramos, ain<strong>da</strong> <strong>de</strong>acordo com FORQUIN (1992, p. 41) alguns momentos <strong>de</strong>ste processo on<strong>de</strong> este pontose evi<strong>de</strong>ncia:a) Na obra ‘Sobre o Ímã, os Corpos Magnéticos e o Gran<strong>de</strong> Ímã, a Terra’(1600), William Gilbert reuniu todos os fatos conhecidos sobre omagnetismo, on<strong>de</strong> associa os fenômenos magnéticos e elétricos a umaespécie <strong>de</strong> substância etérea e imaterial, o effluvium;b) O fato mais intrigante do experimento <strong>de</strong> Orsted foi a quebra <strong>da</strong> simetriafísica, quando a força <strong>de</strong> interação entre a agulha imanta<strong>da</strong> e a correnteelétrica no fio não correspondia ao mo<strong>de</strong>lo <strong>da</strong> lei do inverso do quadrado<strong>da</strong> distância. Ou seja, a agulha <strong>da</strong> bússola tomava uma direçãoperpendicular ao fio que conduzia a corrente elétrica e estava <strong>em</strong><strong>de</strong>sacordo com a concepção dos newtonianos, pois Coulomb haviaestabelecido que as interações físicas <strong>de</strong> natureza gravitacional, elétricaou magnética <strong>da</strong>vam-se por meio <strong>de</strong> força direta <strong>de</strong> ação à distância;c) Fara<strong>da</strong>y, após ter verificado o efeito circular ao redor do fio, imaginouque um único pólo magnético <strong>de</strong> um ímã <strong>de</strong>veria girar <strong>em</strong> torno do fioenquanto a corrente fluísse e vice versa;d) De forma análoga ao campo gravitacional, foram <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s por Maxwellas intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>s dos campos eletromagnéticos. Assim, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> docampo elétrico é <strong>da</strong><strong>da</strong> como a força elétrica que age sobre uma cargacoloca<strong>da</strong> no local on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja medir a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo. Damesma forma se <strong>de</strong>fine o campo magnético, consi<strong>de</strong>rando uma ‘carga’


67magnética unitária e positiva, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que não se altere a distribuição <strong>da</strong>eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e do magnetismo. Esta <strong>de</strong>finição, numa linguag<strong>em</strong>mat<strong>em</strong>ática para os dias atuais, utiliza-se do conceito <strong>de</strong> limite <strong>de</strong> umafunção. Ain<strong>da</strong>, caso haja uma distribuição <strong>de</strong> cargas puntuais ousuperficiais ou volumétricas, é <strong>da</strong><strong>da</strong> uma expressão mat<strong>em</strong>ática vetorial,<strong>em</strong> função <strong>de</strong> outras gran<strong>de</strong>zas vetoriais e escalares, para o cálculo docampo elétrico numa posição arbitrária, como também ferramentas docálculo mat<strong>em</strong>ático avançado para este objetivo e com condiçõesespecíficas, como por ex<strong>em</strong>plo: a lei <strong>de</strong> Gauss, as equações <strong>de</strong> Poisson eLaplace.Outro ponto importante no processo <strong>de</strong> construção do conceito <strong>de</strong> campoelétrico é quando estes sabres associados e/ou interligados constitu<strong>em</strong>-se numaconcepção teórica. Po<strong>de</strong>mos observar, também, esta característica no processo citado,a saber:a) As idéias <strong>de</strong> Gilbert articulavam-se <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> atração elétrica <strong>em</strong>agnética, on<strong>de</strong> as interações se <strong>da</strong>vam por meio do eflúvio elétrico(corpóreo) e magnético (imaterial);b) As ações físicas, como as interações elétrica e magnética, transmiti<strong>da</strong>sentre os corpos que não se encontram <strong>em</strong> contato mútuo se constitu<strong>em</strong>numa questão ‘angular’ no cenário científico, a partir do século XVII.Um dos filósofos naturalistas que procurou explicar este fenômeno foiDESCARTES 43 que, segundo GARDELLI (2004, p. 21), atribuiu às‘partículas canela<strong>da</strong>s’ o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformar o ferro ou o aço <strong>em</strong> ímãs,como também, explicar as atrações entre os mesmos;c) Neste mesmo cenário, a discussão <strong>da</strong>s interações físicas entre os corposse <strong>da</strong>va também no âmbito <strong>da</strong> atração gravitacional, on<strong>de</strong> a ação àdistância era a forma pelas quais os corpos interagiam entre si43 Descartes, Princípios <strong>da</strong> Filosofia, 4ª parte, § 158.


68obe<strong>de</strong>cendo a lei do inverso do quadrado <strong>da</strong> distância. Esta concepçãoestabeleceu um mo<strong>de</strong>lo mat<strong>em</strong>ático e uma simetria física associa<strong>da</strong> aosfenômenos físicos que envolvesse atração ou repulsão entre os corpos,seja o fenômeno <strong>de</strong> natureza elétrica, magnética ou gravitacional. Apartir <strong>de</strong> então, esperava-se que as leis Físicas <strong>de</strong> outros fenômenos,ain<strong>da</strong> não conhecidos, obe<strong>de</strong>cess<strong>em</strong> à mesma simetria física;d) A partir do experimento que <strong>de</strong>u início ao eletromagnetismo, iniciaramsevárias investigações <strong>em</strong> função do resultado apresentado por Orsted.A questão <strong>da</strong>s interações físicas <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> ação à distância tornou-s<strong>em</strong>ais probl<strong>em</strong>ática, pois neste experimento a força não obe<strong>de</strong>cia à lei doinverso do quadrado e não mantinha a simetria física associa<strong>da</strong> às forças<strong>de</strong> atração ou <strong>de</strong> repulsão entre os corpos;e) As leis do eletromagnetismo foram mat<strong>em</strong>atiza<strong>da</strong>s por Maxwell,resultando numa teoria eletromagnética representa<strong>da</strong> pelas quatroequações diferenciais, envolvendo os campos elétricos e magnéticos,com suas respectivas fontes: <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> cargas e corrente elétrica.A partir <strong>da</strong>s primeiras <strong>de</strong>scobertas dos fenômenos físicos associados àeletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, ao magnetismo e ao eletromagnetismo e os respectivos saberes a elesassociados, ficam evi<strong>de</strong>ntes os aspectos culturais que o conhecimento, no âmbito <strong>da</strong>transmissão cultural, adquire ao longo <strong>de</strong> sua construção histórica, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o instante <strong>em</strong>que foi <strong>de</strong>scoberto e posteriormente estu<strong>da</strong>do e pesquisado pelos cientistas, até omomento <strong>em</strong> que se constituí um saber científico ou sábio.


69CAPÍTULO 3INSTRUMENTOSORGANIZANDO A INVESTIGAÇÃO: ELEMENTOS EEsta pesquisa tomou como pressupostos teóricos a cultura escolar e atransposição didática. Apesar <strong>de</strong> não fazermos um estudo <strong>da</strong> cultura escolar e <strong>da</strong>transposição didática, realizamos uma análise <strong>de</strong> alguns aspectos do conceito <strong>de</strong>campo elétrico nas esferas dos saberes a ensinar e ensinado, tendo como el<strong>em</strong>entoprincipal a concepção <strong>de</strong> transmissão cultural, segundo a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> por Forquinà cultura escolar e do conceito <strong>de</strong> transposição didática <strong>de</strong> Yves Chevallard.A pesquisa <strong>de</strong> campo se realizou através <strong>da</strong> análise <strong>de</strong> alguns aspectos <strong>da</strong>cultura e, principalmente, <strong>da</strong> transposição didática do conteúdo <strong>de</strong> ensino presente <strong>em</strong>alguns livros didáticos universitários e <strong>da</strong> Educação Básica, assim como nos ca<strong>de</strong>rnos<strong>de</strong> anotações <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong> Física <strong>de</strong> alunos <strong>de</strong> algumas Escolas públicas <strong>de</strong>Curitiba.3.1 ELEMENTOS DE PESQUISAEm trabalho anterior, VILLATORRE (2004) <strong>de</strong>senvolveu uma investigaçãosobre a situação do Ensino <strong>de</strong> Física nas Escolas Estaduais <strong>de</strong> Curitiba, <strong>de</strong>screvendoum pouco as características <strong>da</strong>s Escolas nas quais se <strong>de</strong>senvolveu a presente pesquisa.Naquele trabalho, Villatorre registrou que “o professor <strong>de</strong> Física po<strong>de</strong> sercaracterizado como aquele que, tradicionalmente, atua entre as quatro pare<strong>de</strong>s <strong>de</strong> umasala, provido <strong>de</strong> seus conhecimentos, giz, apagador e um livro didático” e cujo recursodidático mais utilizado é o quadro negro, seguido pelo livro didático ou apostila(VILLATORRE, 2005, p. 61).Para efeito <strong>de</strong> nossa pesquisa, enten<strong>de</strong>mos, <strong>de</strong>ssa informação, que o livrodidático e o quadro negro, on<strong>de</strong> o professor escreve <strong>de</strong>talhes <strong>de</strong> sua aula e que serãoanotados pelos alunos nos seus ca<strong>de</strong>rnos disciplinares, são os principais espaços on<strong>de</strong>po<strong>de</strong> estar registrados, respectivamente, o saber a ensinar e o saber ensinado.


70Enten<strong>de</strong>mos, ain<strong>da</strong>, que a constituição <strong>de</strong>ste saber, dá-se <strong>de</strong> forma diversifica<strong>da</strong> e queo mesmo po<strong>de</strong> ser consi<strong>de</strong>rado legitimamente representado pelos conteúdos anotadosnos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física. Ain<strong>da</strong>, este saber ensinado, ou seja, os conteúdos dos ca<strong>de</strong>rnos<strong>em</strong> questão são conceitual e teoricamente cont<strong>em</strong>plados pela cultura escolar, segundoForquin e pela teoria <strong>da</strong> transposição didática.O número <strong>de</strong> Escolas, turmas e ca<strong>de</strong>rnos foram dimensionados <strong>de</strong> forma aconjugar a disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po do investigador e <strong>em</strong> função do período <strong>em</strong> que oconteúdo disciplinar, campo elétrico, é usualmente proposto para ser ensinado nocalendário escolar e pelo t<strong>em</strong>po disponível para análise do mesmo.Como o conteúdo campo elétrico é tradicionalmente previsto para serministrado nas Escolas públicas no segundo bimestre do ano letivo, limitamos aanálise do saber ensinado para dois professores <strong>da</strong> disciplina <strong>de</strong> Física <strong>de</strong> duas Escolas,correspon<strong>de</strong>ndo a duas turmas <strong>da</strong> terceira série do Ensino Médio, principalmente pelofato <strong>de</strong> que haveria necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conjugar disponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e interesse dosprofessores e, principalmente, com o fato <strong>de</strong> que o docente <strong>de</strong>veria estar<strong>de</strong>senvolvendo <strong>em</strong> sala <strong>de</strong> aula o conteúdo previsto para ser investigado.Como critério <strong>de</strong> participação estabeleceu-se que os docentes <strong>de</strong>veriam terformação profissional <strong>em</strong> Licenciatura <strong>em</strong> Física e estar lecionando nas respectivasturmas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início do ano letivo <strong>de</strong> 2006. No caso <strong>da</strong> existência <strong>de</strong> maispossibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> escolha, os critérios para se chegar aos dois docentes foram: maiortitulação e t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> atuação no magistério para a disciplina <strong>de</strong> Física (<strong>em</strong> torno <strong>de</strong> 10anos), respectivamente nesta or<strong>de</strong>m, fazendo com que a escolha <strong>da</strong>s duas Escolasficasse <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>da</strong> escolha dos docentes.Consi<strong>de</strong>rando que a investigação previa contato com professores e análise <strong>de</strong>ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> alunos, foram criados mecanismos que possibilitaram a aproximação e ocontato com ambos. Portanto, pensou-se <strong>em</strong> dois momentos: um com o professor <strong>da</strong>disciplina para formalizar a sua colaboração por meio <strong>da</strong> carta <strong>de</strong> apresentação e a


71realização <strong>da</strong> entrevista; outro com a turma para apresentação <strong>da</strong> pesquisa, distribuição<strong>de</strong> um pequeno questionário e xérox do material <strong>de</strong> pesquisa.Para o primeiro momento, os instrumentos utilizados foram: a carta <strong>de</strong>apresentação e o roteiro <strong>da</strong> entrevista. Em relação à carta <strong>de</strong> apresentação, esta trazinformações sobre o pesquisador e a pesquisa, além <strong>de</strong> uma solicitação ao professor,mostrando que a sua colaboração é muito importante para essa pesquisa e, finalmente,agra<strong>de</strong>cendo a sua contribuição. Já o roteiro <strong>da</strong> entrevista compreen<strong>de</strong> itens quei<strong>de</strong>ntificam o professor, sua formação, informações sobre o local <strong>de</strong> trabalho e asquestões propriamente ditas <strong>da</strong> entrevista.A entrevista abordou os seguintes itens:a) Disciplina(s) (teórica e experimental) e livro(s) didático(s) <strong>em</strong> queestudou o conceito <strong>de</strong> campo elétrico;b) Ensino e aprendizag<strong>em</strong> do conceito <strong>de</strong> campo elétrico no seu curso <strong>de</strong>graduação;c) A sua aula <strong>de</strong> Física e as bibliografias <strong>de</strong> apóio;d) O ensino do conceito <strong>de</strong> campo elétrico na aula <strong>de</strong> Física;e) As anotações dos alunos na aula <strong>de</strong> Física.Para o segundo momento foram elaborados dois instrumentos: o primeirotraz algumas orientações para a conversa com a turma e o segundo traz um pequenoquestionário para os alunos preencher<strong>em</strong> enquanto se faziam as cópias dos seusca<strong>de</strong>rnos. Através <strong>de</strong>ste questionário foram obti<strong>da</strong>s informações <strong>da</strong> relação do alunocom o ca<strong>de</strong>rno e com a disciplina.Tomando como universo <strong>da</strong> pesquisa as Escolas públicas <strong>de</strong> Curitiba, eadotando os mesmos critérios <strong>de</strong> seleção utilizados por VILATORRE (2004) foramrelacionados 77 professores <strong>de</strong> Física que atuam nas 25 Escolas e aplicando os nossoscritérios, foram selecionados os professores P3, P20, P24, P35, P47, P49, P52, P58 eP64, <strong>de</strong> nove Escolas <strong>de</strong> Curitiba, cuja caracterização sumária é apresenta<strong>da</strong> na tabelaque segue.


72TABELA 3.1RELAÇÃO DOS PROFESSORES PRÉ-SELECIONADOSProfessor Formação InstituiçãoAnoconclusãoPós-graduaçãoT<strong>em</strong>pomagistérioP3 Física UEL 1986Especialização <strong>em</strong> Física para onovo EM10P20F F C L <strong>de</strong>Especialização <strong>em</strong> Magistério <strong>da</strong>Ciências/Jan<strong>da</strong>ia do 1995Educação Básica/BiologiaSulInterdisciplinari<strong>da</strong><strong>de</strong> na Escola11P24Ciências/ F F C L <strong>de</strong>Especialização <strong>em</strong> Supervisão1989Mat<strong>em</strong>ática PalmasEscolar12P35 Química PUC-PR 1976Especialização <strong>em</strong> Magistério <strong>de</strong> 1ºe 2º graus/ Metodologia <strong>de</strong> Ensino11P47 Mat<strong>em</strong>ática UEPG 1990 Especialização <strong>em</strong> Física 12P49CiênciasEspecialização <strong>em</strong> Magistério1987 eBiológicas e UFPRSuperior e Especialização <strong>em</strong>1997Lic FísicaAnatomia Funcional Humana14P52CiênciasEspecialização <strong>em</strong> Magistério <strong>de</strong> 1ºUFPR 1985Biológicase 2º graus/ Metodologia <strong>de</strong> Ensino14P58Ciências/Mat<strong>em</strong>áticaF E F C l <strong>de</strong>Paranaguá1984P64 Mat<strong>em</strong>ática UEPG 1974Especialização <strong>em</strong> Magistério <strong>de</strong> 1ºe 2º graus/ Metodologia <strong>de</strong> EnsinoEspecialização <strong>em</strong> Ensino <strong>de</strong>Física para o 1º e 2º graus142,4Destes, apenas o professor P3 aten<strong>de</strong>u <strong>de</strong> imediato todos os critérios <strong>de</strong>seleção. Assim, mantiv<strong>em</strong>os contato com ele e marcamos um dia para conversarmos,explicar os procedimentos <strong>da</strong> pesquisa e se possível fazer uma entrevista e tirar cópiasdos ca<strong>de</strong>rnos dos alunos.Em relação à escolha do outro professor optamos por selecionar osprofessores <strong>de</strong> formação <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>ática e especialização <strong>em</strong> Ensino <strong>de</strong> Física queforam os professores P47 e P64. Dos dois docentes, o primeiro atendia o critério <strong>de</strong>t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> magistério <strong>em</strong> Ensino <strong>de</strong> Física e o outro não. Assim, o professor P47 foiselecionado. Porém, ao entrar <strong>em</strong> contato com este professor, como o mesmo não tinhadisponibili<strong>da</strong><strong>de</strong> imediata para nos aten<strong>de</strong>r, contatamos o professor P64 queprontamente nos aten<strong>de</strong>u.Entretanto, ao chegar à Escola e conversar com o professor P64, foiconstatado que o conteúdo que nos interessava investigar seria ministrado apenas <strong>em</strong>meados <strong>de</strong> julho e isto inviabilizou trabalhar com este professor. Apesar disso, ele nosconce<strong>de</strong>u uma entrevista sobre o conteúdo <strong>de</strong> ensino pesquisado.


73Diante <strong>de</strong>ste novo quadro, <strong>de</strong>ntre os professores restantes, fiz<strong>em</strong>os uma novaopção <strong>de</strong> escolha que eram os cursos realizados <strong>em</strong> universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s, cujos professoresP35, P49 e P52 tinham cursado. Destes, o professor P52 pertencia à mesma Escola queo professor P3 e o professor P49 aten<strong>de</strong>u melhor o critério <strong>de</strong> t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> magistério queo P35, então escolh<strong>em</strong>os o professor P49 44 , com qu<strong>em</strong> após mantido o contato inicial,foi acertado o dia para entrevista e para copiar os ca<strong>de</strong>rnos dos alunos <strong>da</strong> turmaseleciona<strong>da</strong>.A i<strong>de</strong>ntificação dos livros didáticos nos quais seriam analisados os conteúdos<strong>de</strong> campo elétrico foi feita a partir <strong>da</strong>s informações presta<strong>da</strong>s pelos professoresparticipantes. De acordo com nossa proposta, analisamos tanto os livros didáticosusados pelos professores <strong>em</strong> sua formação universitária quanto os livros didáticos poreles usados para ensinar <strong>em</strong> suas aulas.Os livros didáticos usados como livros textos na disciplina <strong>de</strong> Física Básica,pelo professor P3 (Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Estadual <strong>de</strong> Londrina) e pelo professor P49(Universi<strong>da</strong><strong>de</strong> Fe<strong>de</strong>ral do Paraná) enquanto alunos <strong>de</strong> graduação foram:a) HALLIDAY, D. e RESNICK, R. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física –Eletromagnetismo. Trad. LUIZ, A. M. et alii; Coord. Trad. LUIZ, A. M.v. 3. Rio <strong>de</strong> janeiro: LTC Editora, 1991;b) SEARS, F.; ZEMANSKY, M. W.; YOUNG, H. D. Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>e Magnetismo. Trad. WEID, J. P. V. <strong>de</strong>r., v. 3. Rio <strong>de</strong> Janeiro: LTCEditora, 1984;c) TIPLER, P. A. Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo, Óptica. Trad.MACEDO, H. e BIASI, R <strong>de</strong>., v. 2. Rio <strong>de</strong> Janeiro: LTC Editora, 2000.44 Com relação a este professor, convém esclarecer que ele não foi escolhido <strong>de</strong> imediato porque asinformações <strong>de</strong>le disponíveis indicavam que seu curso <strong>de</strong> graduação era, apenas, <strong>em</strong> CiênciasBiológicas. Entretanto, no <strong>de</strong>correr do processo, quando entramos <strong>em</strong> contato com ele ficouesclarecido que ele havia obtido a licenciatura <strong>em</strong> Física como compl<strong>em</strong>entação <strong>de</strong> curso superior, oque o teria colocado como um dos primeiros professores a ser<strong>em</strong> contatados.


74Em relação aos livros usados pelos professores <strong>em</strong> suas salas <strong>de</strong> aula <strong>de</strong>Educação Básica, a análise se restringiu ao livro didático usado como apoio napreparação <strong>da</strong>s aulas <strong>de</strong> Física do professor, que para o professor P3 eram estes:a) MÁXIMO, Antonio e ALVARENGA, Beatriz. Curso <strong>de</strong> Física. 4ª ed.v. 3. São Paulo: Scipione, 1999;b) PENTEADO, PAULO C. M. Física Conceitos e Aplicações. São Paulo:Editora Mo<strong>de</strong>rna, 1998.e para o professor P49:a) MÁXIMO, Antonio e ALVARENGA, Beatriz. Curso <strong>de</strong> Física. 4ª ed.v. 3. São Paulo: Scipione, 1999;b) Material próprio 45 .Para analisar como o aluno registrava as informações <strong>da</strong><strong>da</strong>s pelosprofessores, tomou-se como referência os ca<strong>de</strong>rnos dos alunos. Foram então copiadosconteúdos <strong>de</strong> nove ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> alunos dos professores participantes.3.2 COLETAS DE DADOSParte do material a ser investigado correspon<strong>de</strong> ao conteúdo <strong>de</strong> campoelétrico registrado nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física dos alunos <strong>da</strong>s turmas seleciona<strong>da</strong>s. Estesforam recolhidos e copiados com concordância dos professores e dos alunos. Noentanto, antes <strong>de</strong> recolher o material <strong>de</strong> pesquisa foi realizado um ensaio com umprofessor e sua turma para testar e dimensionar os instrumentos. Também, antes,foram contatados os professores que po<strong>de</strong>riam participar e agen<strong>da</strong>do um horário naEscola para lhe esclarecer e solicitar a sua colaboração na pesquisa.Em relação ao professor P3, fiz<strong>em</strong>os o contato por telefone e lhe adiantamosalgumas informações preliminares, on<strong>de</strong> já se prontificou <strong>em</strong> colaborar. Assim, foimarcado um horário para entrevista-lo. Antes <strong>da</strong> entrevista fiz, inicialmente, a minha45 NOTAS DE AULA <strong>de</strong> elaboração própria.


75apresentação e <strong>da</strong> pesquisa, falei como ele foi selecionado e dos objetivos <strong>da</strong>entrevista. Após estas apresentações e <strong>de</strong> forma verbal, formalizei o compromisso <strong>da</strong>não divulgação <strong>da</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> e utilização <strong>da</strong>s informações, somente para finsacadêmicos. Inicia<strong>da</strong> a entrevista, procurei resgatar o nome <strong>da</strong> disciplina, os livrostextos utilizados e a forma como o conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi abor<strong>da</strong>do,<strong>de</strong>stacando as evidências conceituais físicas e mat<strong>em</strong>áticas, relativas aos momentos <strong>de</strong>ensino e aprendizag<strong>em</strong> durante o seu curso na disciplina <strong>de</strong> Física Básica. Em relaçãoao ensino do conceito <strong>de</strong> campo elétrico nas aulas <strong>de</strong> Física, procurei saber a formacomo ministra a sua aula e como os alunos anotam o conteúdo ensinado e, também,quais são as referências bibliográficas utiliza<strong>da</strong>s como apóio na preparação <strong>de</strong> suasaulas. Finalizamos a entrevista e marcamos para o próximo dia <strong>em</strong> que ministravaaulas nas suas turmas <strong>da</strong> terceira série do Ensino Médio para conversar rapi<strong>da</strong>mentecom a turma e xerocar material.No horário e dia <strong>em</strong> que estava marca<strong>da</strong> a aula com a turma <strong>da</strong> terceira série,fui apresentado à turma, on<strong>de</strong> fiz a minha apresentação e a <strong>da</strong> pesquisa, e também,falei como a turma foi seleciona<strong>da</strong>. Em segui<strong>da</strong> formalizei, verbalmente, umcompromisso ético <strong>de</strong> não divulgar o nome dos alunos e <strong>de</strong> usar as anotações dosconteúdos dos ca<strong>de</strong>rnos, somente para fins científicos. E finalmente, <strong>de</strong>ixei <strong>em</strong> abertoa possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma conversa com alguns alunos <strong>em</strong> função <strong>da</strong> análise dosconteúdos dos ca<strong>de</strong>rnos. Da<strong>da</strong> a autorização para copiar o material, <strong>de</strong>ixei umquestionário com os que <strong>em</strong>prestaram o material para que respon<strong>de</strong>ss<strong>em</strong> algumasperguntas e, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, levei os ca<strong>de</strong>rnos para copiá-los na própria Escola.Retornando antes do término <strong>da</strong> aula, <strong>de</strong>volvi os ca<strong>de</strong>rnos e recolhi os questionários,quando, também, agra<strong>de</strong>ci a todos e ao professor pela colaboração.Em relação ao professor P49 fui à Escola on<strong>de</strong> lecionava, pois não conseguiacontatá-lo por telefone. Verifiquei com a coor<strong>de</strong>nação pe<strong>da</strong>gógica os dias <strong>em</strong> queestava na Escola, on<strong>de</strong> na seqüência consegui falar com este professor. Durante esteprimeiro contato expliquei as minhas intenções, com as quais ele concordou <strong>em</strong>


76colaborar prontamente. Marcamos o dia e horário para a entrevista e para a cópia domaterial. Devido às circunstâncias, foi recolhido primeiro o material e <strong>de</strong>pois realiza<strong>da</strong>a entrevista com este professor. Da mesma forma como foi realiza<strong>da</strong> com a turma doprofessor P3, também o foi com a turma do professor P49. Depois foi realiza<strong>da</strong> aentrevista com este professor e <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> agra<strong>de</strong>ci pela sua colaboração.3.3 ELEMENTOS DE ANÁLISETendo <strong>de</strong>limitado o espaço e as condições <strong>da</strong> investigação, realizado umresgate <strong>da</strong> história <strong>da</strong> constituição do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, fiz<strong>em</strong>os, então, aanálise <strong>da</strong>s informações obti<strong>da</strong>s e para isto <strong>de</strong>finimos alguns aspectos que tomamoscomo ‘categorias’ para a referi<strong>da</strong> análise, a saber:a) A construção do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração oconceito físico e a linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática 46 :- Nos livros <strong>de</strong> Física Básica ou Geral dos cursos <strong>de</strong> Licenciatura <strong>em</strong>Física <strong>da</strong>s Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s cursa<strong>da</strong>s pelos professores entrevistados;- Nos livros didáticos <strong>de</strong> apóio para preparação <strong>da</strong>s aulas dos professores<strong>de</strong> Física entrevistados;- Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física dos alunos <strong>da</strong>s turmas seleciona<strong>da</strong>s.b) Aspectos culturais 47 do conteúdo campo elétrico como el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong>cultura no âmbito <strong>da</strong> Ciência Física e <strong>da</strong> Física Escolar:- Os fenômenos físicos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura;- Os saberes como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura escolar.c) A distância 48 entre o objeto do saber e o objeto <strong>de</strong> ensino;46 Este aspecto foi evi<strong>de</strong>nciado no it<strong>em</strong> 2.1 do segundo capítulo, quando abor<strong>da</strong>mos a construção doconceito campo elétrico, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a sua gênese até a sua conceituação atual.47 No âmbito <strong>da</strong> transmissão cultural, ressaltamos alguns aspectos culturais que po<strong>de</strong>rão estarassociados ao conteúdo campo elétrico. Dessa forma, <strong>de</strong>stacamos os conhecimentos associados aofenômeno físico que possu<strong>em</strong> um vinculo, a posteriori, com o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. Portanto,consi<strong>de</strong>ramos este como patrimônio cultural adquirido ao longo <strong>de</strong> sua constituição e, também,como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura. Outro aspecto que ressaltamos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> cultura, são ossaberes elaborados nessa trajetória, segundo as concepções fourquiniana e chevallardiana.


77d) A <strong>de</strong>spersonalização e a <strong>de</strong>scontextualização 49 do saber a ensinar;e) A prática social <strong>de</strong> referência 50 associa<strong>da</strong> ao conceito na esfera do saber aensinar.As análises dos conteúdos <strong>de</strong> ensino contidos nos livros <strong>de</strong> Físicauniversitários, do Ensino Médio e nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> anotações dos alunos <strong>da</strong>s turmasseleciona<strong>da</strong>s foram realiza<strong>da</strong>s tendo como categorias fun<strong>da</strong>mentais <strong>de</strong> análise a culturaescolar e a transposição didática. A análise perpassou os três meios <strong>em</strong> que estáregistrado o conteúdo <strong>de</strong> ensino investigado, ou seja, os livros didáticos <strong>de</strong> Físicaselecionados <strong>da</strong> Educação Básica e superior e os ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física dos alunos doEnsino Médio <strong>da</strong>s turmas seleciona<strong>da</strong>s.Inicialmente foi analisado o conceito <strong>de</strong> campo elétrico nos materiaisdidáticos selecionados e mencionados acima. A primeira análise dos conteúdos <strong>de</strong>ensino acerca do conceito <strong>de</strong> campo elétrico tomou como parâmetro o conceito físico ea linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática utiliza<strong>da</strong> neste conteúdo. Assim se analisou a forma como foiapresentado o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. Em relação ao aspecto físico foi verificado oque diz ser fisicamente este conceito nos meios citados e <strong>em</strong> relação ao aspectomat<strong>em</strong>ático foi verifica<strong>da</strong> a ferramenta mat<strong>em</strong>ática que é utiliza<strong>da</strong> na concepção <strong>de</strong>sseconceito físico.Em relação ao conteúdo <strong>de</strong> ensino campo elétrico como um el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong>cultura foi verificado no material didático investigado quais aspectos culturais estãoassociados a este conteúdo; primeiro, <strong>em</strong> relação ao conhecimento dos fenômenosfísicos associados ao conceito <strong>de</strong> campo, <strong>de</strong>pois, <strong>em</strong> relação à forma que esteconhecimento toma quando se torna um saber.48 Este aspecto está intrinsecamente associado ao conceito <strong>de</strong> transposição didática, pois esta tomacomo pressuposto a distinção entre os saberes. Este aspecto será utilizado para mostrar o quãodistante está (ou não) o saber acadêmico (ou científico) do saber escolar.49 O saber que produz a transposição didática é exilado <strong>de</strong> sua orig<strong>em</strong> e separado <strong>de</strong> sua produçãohistórica na esfera do saber sábio, conforme a transposição didática. Portanto, este saber terá comoconseqüências imediatas a sua <strong>de</strong>scontextualização e <strong>de</strong>spersonalização e, assim também, seráobservado.50 Po<strong>de</strong> ser evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> quando se observa certa proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conteúdos com a cultura e ocotidiano do aluno (Martinand).


78Para a análise dos itens: distância entre o objeto do saber e o objeto <strong>de</strong>ensino, a <strong>de</strong>spersonalização e a <strong>de</strong>scontextualização, foi tomado como referência otexto ‘Abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> Histórica na Construção do Conceito <strong>de</strong> Campo Elétrico’<strong>de</strong>senvolvido no tópico 2.1 do segundo capítulo para a caracterização dos itenssupracitados nos conteúdos <strong>de</strong> ensino investigados.Em relação à distância entre os objetos do saber e <strong>de</strong> ensino, uma <strong>da</strong>s razõesque po<strong>de</strong> justificar este distanciamento são as implicações dos imperativos didáticosimposta ao saber que foi <strong>de</strong>signado para ser ensinado. Outra que po<strong>de</strong>, também,corroborar para isso são as modificações que o próprio conceito ou saber po<strong>de</strong> sofrerao longo do processo transpositivo. Portanto, para a análise dos conteúdos <strong>de</strong> ensino<strong>em</strong> questão, segundo este it<strong>em</strong>, foi verificado o quão distante estão esses saberes, pelaobservação dos el<strong>em</strong>entos citados no saber produzido pela transposição didática. Oresultado <strong>de</strong>sse distanciamento é uma outra natureza para o saber produzido pelatransposição didática, pois os contextos <strong>de</strong> criação e <strong>da</strong>s relações didáticas sãonecessariamente distintos. A questão que apontamos, portanto, para o it<strong>em</strong> <strong>de</strong>formaçãodo saber é: qual é o contexto estabelecido pelas relações didáticas para o conteúdo <strong>de</strong>ensino <strong>em</strong> questão?A <strong>de</strong>spersonalização e a <strong>de</strong>scontextualização do saber talvez sejam ascaracterísticas mais presentes no processo <strong>da</strong> transposição didática. Na análise dosconteúdos <strong>de</strong> ensino <strong>em</strong> questão foram observados estes aspectos, como também, ofiz<strong>em</strong>os para as práticas sócias <strong>de</strong> referência.


79CAPÍTULO 4 ANÁLISE DE ALGUNS ASPECTOS DA TRANSPOSIÇÃODIDÁTICA E DA CULTURA ASSOCIADOS AO CONCEITO DE CAMPOELÉTRICOUtilizamos como el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> análise os propostos no capítulo anterior epara tanto, foi verifica<strong>da</strong> a forma como o conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi criado eapresentado nos textos analisados, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração aspectos físicos <strong>em</strong>at<strong>em</strong>áticos. No entanto, <strong>em</strong> relação aos aspectos culturais, verificou-se quaisfenômenos físicos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao magnetismo <strong>de</strong>scobertos pelos gregose, também, no século XVI estavam registrados nestes textos, como também a formacomo o saber campo elétrico estava apresentado.Em relação ao processo transpositivo foi realiza<strong>da</strong> uma análise <strong>de</strong> algunsaspectos relacionados à transposição didática, como a distância entre o objeto do sabere o objeto <strong>de</strong> ensino, a <strong>de</strong>scontextualização e <strong>de</strong>spersonalização do saber e, também,ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> práticas sociais <strong>de</strong> referência associa<strong>da</strong> ao conceito analisado.4.1 O CAMPO ELÉTRICO, SEGUNDO O CONCEITO FÍSICO E A LINGUAGEMMATEMÁTICAO conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi analisado nas duas esferas do saber, ou seja,a esfera do saber a ensinar e do saber ensinado. Nestas esferas, verificou-se a formacomo este conceito foi construído e apresentado, levando <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>ração os aspectosfísicos e mat<strong>em</strong>áticos. Em relação aos aspectos físicos foi verificado se o conceito dizfisicamente o que é o campo elétrico, ou seja, qual a sua natureza e suas proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>sfísicas. Por sua vez, <strong>em</strong> relação ao aspecto mat<strong>em</strong>ático foi verificado se este conceito é<strong>de</strong>finido por meio <strong>de</strong> uma equação ou expressão mat<strong>em</strong>ática ou se está construídoatravés <strong>de</strong> preposições mat<strong>em</strong>áticas. Dessa forma, a análise foi realiza<strong>da</strong> <strong>em</strong> algunslivros <strong>de</strong> Física Básica ou Geral universitários e <strong>de</strong> Física do Ensino Médio, como


80também, nos Ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> Física <strong>da</strong>s turmas seleciona<strong>da</strong>s, tomando esses el<strong>em</strong>entoscomo referência.4.1.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou Geral 51Neste it<strong>em</strong> foram analisados os aspectos citados nos três livros universitáriosindicados pelos professores participantes, a saber:Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo. SEARS, ZEMANSKY e YOUNG 52O conceito <strong>de</strong> campo elétrico é abor<strong>da</strong>do no capítulo 25 <strong>da</strong> edição analisa<strong>da</strong>e possui o título ‘O Campo Elétrico: A Lei <strong>de</strong> Gauss’. Este capítulo t<strong>em</strong> os seguintesitens:25.1 O Campo Elétrico25.2 Cálculo do Campo Elétrico25.3 Linhas <strong>de</strong> Força25.4 A Lei <strong>de</strong> Gauss25.5 Aplicação <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> GaussPara construir o conceito físico <strong>de</strong> campo elétrico, no it<strong>em</strong> 25.1, os autoresfaz<strong>em</strong> uma pequena introdução <strong>da</strong> importância <strong>de</strong>ste conceito. Diz<strong>em</strong> que a interaçãoelétrica entre partículas po<strong>de</strong> ser reformula<strong>da</strong> por meio do campo elétrico e que estenão é apenas um método <strong>de</strong> cálculo, mas um conceito importante com significadoteórico fun<strong>da</strong>mental.A apresentação se dá por meio <strong>de</strong> uma figura que mostra duas cargaspositiva, A e B, próximas uma <strong>da</strong> outra, on<strong>de</strong> é afirmado que a força <strong>de</strong> interação é ‘<strong>de</strong>51 Os livros analisados <strong>de</strong> Física Básica ou Geral serão referidos pelo sobrenome do autor ou doprimeiro autor, mais o título do livro, ou seja: SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo;HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo e TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>,Magnetismo e Óptica.52 SEARS, F.; ZEMANSKY, M. W.; YOUNG, H. D. Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo. Trad.WEID, J. P. V. <strong>de</strong>r., 2 ed., v. 3. Rio <strong>de</strong> Janeiro: LTC Editora, 1984.


81ação à distância’. Depois, é pedido ao leitor que imagine “uma <strong>de</strong>ssas cargas como seestivesse modificando o estado <strong>de</strong> coisas no espaço circun<strong>da</strong>nte, <strong>de</strong> modo que esseestado se torna diferente do que era na ausência <strong>de</strong>sses corpos.” (SEARS et alii, 1984,p. 523). Em segui<strong>da</strong>, os autores pe<strong>de</strong>m que seja r<strong>em</strong>ovido (ou seja, imaginando queserá r<strong>em</strong>ovido) o corpo B e diz<strong>em</strong> que o corpo A, carregado, produz ou cria um campoelétrico no ponto on<strong>de</strong> se encontrava o corpo B – que chamou <strong>de</strong> ponto P – e, caso ocorpo B seja colocado <strong>em</strong> P, a força <strong>de</strong> interação elétrica será exerci<strong>da</strong> <strong>em</strong> B pelocampo e não diretamente pelo corpo A. Ain<strong>da</strong>, o campo elétrico exercido no ponto P éestendido <strong>em</strong> todo o espaço entorno <strong>de</strong> A.Para os autores a verificação experimental <strong>da</strong> existência do campo elétrico sedá através <strong>de</strong> um corpo carregado, chamado <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> prova e que se existir umcampo elétrico num <strong>da</strong>do ponto e se for colocado uma carga <strong>de</strong> prova neste ponto,então sobre essa carga <strong>de</strong> prova atuará uma força <strong>de</strong> natureza elétrica. Assim, “<strong>de</strong>finesecampo elétrico E <strong>em</strong> um ponto como o quociente entre a força F que atua sobreuma carga <strong>de</strong> prova positiva, q’, situa<strong>da</strong> nesse ponto e sua carga.” (i<strong>de</strong>m, p. 525),enquanto a <strong>de</strong>finição mat<strong>em</strong>ática do campo elétrico é feita <strong>em</strong> função <strong>de</strong>ssa carga <strong>de</strong>prova, quando também o <strong>de</strong>fine como uma gran<strong>de</strong>za vetorial <strong>da</strong> seguinte forma 53 : FE = ( 4 . 1 )q ′De acordo com os autores, a orientação do campo elétrico é a mesma <strong>da</strong>força.Ain<strong>da</strong> segundo os autores, a força atuante sobre a carga <strong>de</strong> prova varia <strong>de</strong>ponto a ponto e, conseqüent<strong>em</strong>ente, o campo elétrico também. “Assim, o campo E não é, <strong>em</strong> geral, uma única gran<strong>de</strong>za vetorial, mas um conjunto infinito <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>zasvetoriais, uma associa<strong>da</strong> a ca<strong>da</strong> ponto do espaço.” (SEARS et alii, 1984, p. 524).53 As equações apresenta<strong>da</strong>s neste trabalho serão numera<strong>da</strong>s para que possam ser i<strong>de</strong>ntifica<strong>da</strong>s por umnúmero.


82Para evitar que a carga <strong>de</strong> prova altere a distribuição <strong>de</strong> cargas, os autoreslançam mão <strong>de</strong> conceito mat<strong>em</strong>ático <strong>de</strong> limite, fazendo a carga <strong>de</strong> prova ten<strong>de</strong>r à zero, Fou seja:E = l i m ( 4 . 2 )q ′ → 0 q ′Os autores, no it<strong>em</strong> 25.2, fornec<strong>em</strong> também uma forma mat<strong>em</strong>ática para ocálculo do campo elétrico por meio <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Coulomb, enquanto a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> docampo elétrico num <strong>da</strong>do ponto, po<strong>de</strong>rá ser calcula<strong>da</strong> se for conheci<strong>da</strong> a distância àcarga puntiforme q. A orientação do campo, segundo os autores, é dirigi<strong>da</strong> <strong>de</strong> q parafora, se q for positivo e dirigi<strong>da</strong> para q, se esta for negativa. Em notação vetorial a 1 qrˆexpressão é escrita <strong>da</strong> seguinte forma: E = (4.3)24πε0ron<strong>de</strong> r é a distância <strong>da</strong> carga ao ponto e ˆr é o versor que dá a orientação do vetorcampo elétrico. Assim, aplicam esta equação no cálculo do campo elétrico para: cargaspuntuais, um anel carregado, um fio longo carregado e uma cama<strong>da</strong> plana e infinita <strong>de</strong>cargas, usando como ferramenta mat<strong>em</strong>ática o cálculo diferencial e integral.No it<strong>em</strong> 25.3, os autores introduz<strong>em</strong> o conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força, atribuindoa sua autoria a Michael Fara<strong>da</strong>y, dizendo que este conceito foi introduzido para aju<strong>da</strong>ra visualização dos campos elétricos (e magnéticos). Depois, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> uma linha <strong>de</strong>força (<strong>em</strong> um campo elétrico) como “uma linha imaginária, traça<strong>da</strong> <strong>de</strong> tal maneira quesua direção e sentido <strong>em</strong> qualquer ponto (isto é, direção e o sentido <strong>de</strong> sua tangente)são os mesmos que os do campo nesse ponto.” (i<strong>de</strong>m, p. 534). Também, suger<strong>em</strong>chamar o termo ‘linha <strong>de</strong> força’ por ‘linha <strong>de</strong> campo’. Para os autores, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> docampo elétrico po<strong>de</strong> ser conheci<strong>da</strong> por meio <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong> campo, on<strong>de</strong> “o número <strong>de</strong>linhas, por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> área, que atravessam uma superfície normal à direção do campoé, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto, proporcional à intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico.” (i<strong>de</strong>m, p. 536).Nos itens 25.4 e 25.5 os autores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> uma construção que leva àformulação <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Gauss, que utilizam como uma po<strong>de</strong>rosa ferramenta mat<strong>em</strong>áticapara o cálculo do campo elétrico <strong>em</strong> diversas situações <strong>de</strong> simetria geométrica.


83Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física – Eletromagnetismo. HALLIDAY e RESNICK 54O conceito <strong>de</strong> campo elétrico é abor<strong>da</strong>do no capítulo 24 <strong>da</strong> edição analisa<strong>da</strong>sob o título ‘O Campo Elétrico’, com os seguintes itens:24.1 Cargas e Forças: uma visualização mais aprofun<strong>da</strong><strong>da</strong>24.2 O Campo Elétrico24.3 Linhas <strong>de</strong> Força24.4 Cálculo do Campo: uma carga pontual24.5 Cálculo do Campo: Um Dipolo Elétrico24.6 Campo Produzido por um Anel Carregado24.7 Campo produzido por um Disco24.8 Carga Pontual <strong>em</strong> Campo Elétrico24-9 Um Dipolo <strong>em</strong> Campo ElétricoOs autores iniciam o it<strong>em</strong> 24.1 com uma notícia sobre um vôo <strong>da</strong> son<strong>da</strong>Voyager 2 <strong>em</strong> direção a Urano, lança<strong>da</strong> <strong>em</strong> 1986. Esta notícia informa que a duraçãodo t<strong>em</strong>po <strong>da</strong> comunicação entre a son<strong>da</strong> e a base foi <strong>de</strong> 5,5 horas. S<strong>em</strong> explicar a razão<strong>de</strong>ste fato, lançam uma discussão sobre o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> comunicação e questionam: comouma carga sente a presença <strong>da</strong> outra, quando uma se movimenta e a outra permanecefixa? Voltando ao ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong> son<strong>da</strong> Voyager 2, os autores suger<strong>em</strong> que a carga que s<strong>em</strong>ovimenta encontra-se na antena <strong>da</strong> son<strong>da</strong> e a segun<strong>da</strong> numa antena receptora naTerra e diz<strong>em</strong> que a chave para este tipo <strong>de</strong> comunicação é o conceito <strong>de</strong> campoeletromagnético. Afirmam, portanto, que uma carga ‘saberá’ através <strong>de</strong> umaperturbação do campo eletromagnético quando a outra se <strong>de</strong>slocou.No it<strong>em</strong> 24.2, antes <strong>de</strong> conceituar campo elétrico, os autores iniciam fazendoanalogias com as idéia <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura, <strong>de</strong> pressão (escalares) e,principalmente, gravitacional (vetorial). Para este, expressam uma equação mat<strong>em</strong>áticapara representá-lo, Fg = (4.4) - campo gravitacionalm54 HALLIDAY, D. e RESNICK, R. Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física – Eletromagnetismo. Trad. LUIZ, A. M. etalii; Coord. Trad. LUIZ, A. M. 3 ed., v. 3. Rio <strong>de</strong> Janeiro: LTC Editora, 1991.


84on<strong>de</strong> o vetor g representa a aceleração <strong>de</strong> um corpo <strong>de</strong> prova, on<strong>de</strong> m é a massa e F aforça gravitacional.Para <strong>de</strong>finir mat<strong>em</strong>aticamente o conceito <strong>de</strong> campo elétrico os autorescondicionam-o à existência <strong>de</strong> uma força elétrica, ou seja, “se colocarmos um corpo<strong>de</strong>-prova,possuindo uma carga elétrica positiva q, próximo a uma barra carrega<strong>da</strong>,uma força eletrostática F atuará sobre ele, e, então, diz<strong>em</strong>os que existe um campoelétrico nessa região.” (HALLIDAY e RESNICK, 1991, p. 16). A expressãomat<strong>em</strong>ática, análoga ao campo gravitacional,que <strong>de</strong>fine o campo elétrico é <strong>da</strong><strong>da</strong> por: FE = (4.5) - campo elétricocuja direção <strong>de</strong> E qé a mesma <strong>de</strong> F . Falam também que se as cargas que produz<strong>em</strong> ocampo estiver<strong>em</strong> fixas, po<strong>de</strong>-se utilizar qualquer carga <strong>de</strong> prova, mas se ocorrer ocontrário, a carga-teste <strong>de</strong>verá ser tão pequena quanto possível. Ain<strong>da</strong>, neste it<strong>em</strong>, osautores l<strong>em</strong>bram que inicialmente os físicos pensavam que a interação elétrica entrecorpos carregados se <strong>da</strong>va <strong>de</strong> forma instantânea e direta. Mas, atualmente, interpreta-seo campo elétrico como um agente intermediário entre as cargas.O mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força é apresentado no it<strong>em</strong> 24.3, on<strong>de</strong> os autoresdiz<strong>em</strong> que foi Fara<strong>da</strong>y qu<strong>em</strong> introduziu o conceito <strong>de</strong> campo, imaginando o espaço <strong>em</strong>torno do corpo carregado s<strong>em</strong>pre preenchido por linhas <strong>de</strong> força. Diz<strong>em</strong>, ain<strong>da</strong>, que adireção do campo é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela tangente a uma linha <strong>de</strong> força num <strong>da</strong>do ponto e que onúmero <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força que atravessa a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> área <strong>de</strong> uma seção, cuja direçãoé normal à linha <strong>de</strong> força é proporcional ao módulo <strong>de</strong> E .Nos itens 24.4, 24.5 e 24.6 os autores <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> o cálculo do campoelétrico a partir <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Coulomb para corpos carregados com diferentes geometrias,utilizando como ferramenta mat<strong>em</strong>ática o teor<strong>em</strong>a binomial e o cálculo diferencial eintegral. Assim, <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> as expressões mat<strong>em</strong>áticas do campo elétrico para umacarga pontual, para um dipolo elétrico, para um anel e para um disco carregados.


85Os autores <strong>de</strong>stinam um capítulo específico para a Lei <strong>de</strong> Gauss, on<strong>de</strong>exploram <strong>de</strong> forma minuciosa o conceito e as implicações <strong>de</strong>sta lei e para o cálculo docampo elétrico, como também as suas aplicações <strong>em</strong> diversas simetrias geométricas.Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo, Óptica. Paul A. Tipler 55<strong>de</strong>scrições são:O conteúdo <strong>de</strong> campo elétrico é apresentado nos capítulos 22 e 23, cujas22 O Campo Elétrico I: Distribuições Discretas <strong>de</strong> Cargas- 22.1 Carga Elétrica- 22.2 Condutores e Isolantes- 22.3 Lei <strong>de</strong> Coulomb- 22.4 O Campo Elétrico- 22.5 Linhas <strong>de</strong> Campo Elétrico- 22.6 Movimentos <strong>de</strong> Cargas Puntiformes nos Campos Elétricos- 22.7 Dipolos Elétricos <strong>em</strong> Campos Elétricos23 O Campo Elétrico II: Distribuições Contínuas <strong>de</strong> Cargas- 23.1 Cálculo <strong>de</strong> E pela Lei <strong>de</strong> Coulomb- 23.2 Lei <strong>de</strong> Gauss- 23.3 Cálculo <strong>de</strong> E pela Lei <strong>de</strong> Gauss- 23.4 Descontinui<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> En- 23.5 Cargas e Campos nas Superfícies Condutoras- 23.6 Dedução <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> Gauss a Partir <strong>da</strong> Lei <strong>de</strong> CoulombPor não ter analisado os conteúdos anteriores ao <strong>de</strong> campo elétrico nos outroslivros, neste ir<strong>em</strong>os analisar os conteúdos a partir do it<strong>em</strong> 22.4.No it<strong>em</strong> 22.4, o autor inicia ex<strong>em</strong>plificando a força elétrica como uma força<strong>de</strong> ação à distância, s<strong>em</strong>elhante à força gravitacional. Questiona o fato <strong>da</strong>s interações55 TIPLER, P. A Física – Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo, Óptica. Trad. MACEDO, H. e BIASI, R <strong>de</strong>. 4ed., v. 2. Rio <strong>de</strong> Janeiro: LTC Editora, 2000, p. 2-52.


86entre partículas através do espaço vazio, sugerindo a adoção do conceito <strong>de</strong> campoelétrico para contornar o probl<strong>em</strong>a e diz que uma carga provoca um campo elétrico <strong>em</strong>todo o espaço e a interação sobre a partícula carrega<strong>da</strong> se dá através do campo que sepropaga com a veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> luz. A partir <strong>da</strong> conclusão <strong>de</strong> que a força elétricaexerci<strong>da</strong> pelo campo sobre uma carga <strong>de</strong> prova, q 0 , é proporcional à mesma, o autor<strong>de</strong>fine o campo elétrico E como o quociente entre a força resultante e a carga elétrica Fqo. E = (4.6) [q0pequena] Definição - Campo elétricoq0e também mostra que o campo elétrico <strong>de</strong> uma carga puntiforme po<strong>de</strong> ser obtido pelalei <strong>de</strong> Coulomb, cuja equação é <strong>da</strong><strong>da</strong> por: kqiE = rˆ 2 i,o(4.7) Lei <strong>de</strong> Coulomb e campo E <strong>de</strong> carga puntiformeri , or é um vetor unitário.on<strong>de</strong> ˆi , oNo it<strong>em</strong> 22.5 o autor diz que “po<strong>de</strong>mos figurar o campo elétrico mediantecurvas que indicam a respectiva direção” (TIPLER, 2000, p. 14) e que o vetor campoelétrico E é tangente a uma <strong>da</strong><strong>da</strong> curva. Afirma, ain<strong>da</strong>, que as linhas <strong>de</strong> campo sãotambém chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força, pois dão a direção <strong>da</strong> força <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto sobreuma carga <strong>de</strong> prova positiva e, também que a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas diminui com 1/r²,quando a distância à carga aumenta. Dessa forma, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo seráproporcional à <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong>s linhas.No capítulo 23, o autor <strong>de</strong>dica-se ao cálculo do campo elétrico paradistribuições contínuas <strong>de</strong> cargas. No it<strong>em</strong> 23.1, mostra que o campo elétrico dE <strong>de</strong>um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> carga dq, num ponto P é <strong>da</strong>do pela Lei <strong>de</strong> Coulomb: kdqdE = rˆ (4.8)e calcula o campo elétrico E r²sobre o eixo <strong>de</strong> segmento <strong>de</strong> reta finito carregado, sobrea mediatriz <strong>de</strong> segmento <strong>de</strong> reta carregado, <strong>de</strong> uma reta infinita carrega<strong>da</strong>, sobre o eixo<strong>de</strong> um anel <strong>de</strong> cargas, sobre o eixo <strong>de</strong> um disco uniform<strong>em</strong>ente carregado e <strong>de</strong> umplano infinito carregado.


87Nos itens seguintes o autor enuncia a Lei <strong>de</strong> Gauss e a aplica para o cálculodo campo elétrico <strong>em</strong> diversas situações <strong>de</strong> simetria geométrica, discutindo algumassituações específicas do campo elétrico.4.1.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar 56Da mesma forma como fiz<strong>em</strong>os com os textos <strong>de</strong> Física <strong>de</strong> Ensino Superior,analisamos como o conceito <strong>de</strong> campo elétrico é explanado nos livros didáticos <strong>de</strong>Física propostos para o Ensino Médio e mencionados pelos professores participantes<strong>da</strong> pesquisa e nas NOTAS DE AULA 57 do professor P49. A saber:Curso <strong>de</strong> Física 3. ANTONIO MÁXIMO e BEATRIZ ALVARENGA 58O conceito <strong>de</strong> campo elétrico é abor<strong>da</strong>do no capítulo 19 com o título ‘CampoElétrico’. Antes <strong>de</strong> iniciar o capítulo, os autores faz<strong>em</strong> algumas observações para oprofessor, on<strong>de</strong> consi<strong>de</strong>ram o conceito <strong>de</strong> campo elétrico como uma <strong>da</strong>s idéiasfun<strong>da</strong>mentais <strong>da</strong> Física, sendo usa<strong>da</strong> com freqüência no estudo do eletromagnetismo.Recomen<strong>da</strong>m evitar cálculos <strong>de</strong> campo elétricos <strong>de</strong> cargas puntuais com configuraçõesgeométricas complexas, como também um tratamento <strong>de</strong>morado ao conteúdo campoelétrico. Ain<strong>da</strong> alertam que para o cálculo do campo elétrico neste livro e numa esferametálica eletriza<strong>da</strong>, este nunca será realizado <strong>em</strong> um ponto situado exatamente sobre asuperfície <strong>da</strong> esfera.No it<strong>em</strong> 19.1 os autores introduz<strong>em</strong> o conceito <strong>de</strong> campo elétrico através <strong>de</strong>uma figura. A figura contém duas cargas elétricas próximas, sendo uma fixa e a outra56 Os dois livros <strong>da</strong> Física Escolar analisados serão referidos por BEATRIZ ALVARENGA – Curso <strong>de</strong>Física para o livro Curso <strong>de</strong> Física 3 e <strong>de</strong> PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações para o livroFísica Conceitos e Aplicações.57 O professor P49 t<strong>em</strong> como material <strong>de</strong> apoio para as suas aulas, além do livro didático, as NOTASDE AULA também.58 MÁXIMO, Antonio e ALVARENGA, Beatriz. Curso <strong>de</strong> Física. 4ª edição. v. 3. São Paulo:Scipione, p. 911-984, 1999.


88móvel. Em segui<strong>da</strong>, observa-se a existência <strong>de</strong> uma força elétrica atuando sobre acarga móvel, supondo-se que esta se <strong>de</strong>sloca para outras posições <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> cargafixa, on<strong>de</strong> se observa a existência, também, <strong>da</strong> força elétrica. Para <strong>de</strong>screver o fato, osautores diz<strong>em</strong> existir, <strong>em</strong> qualquer ponto do espaço <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> carga fixa, um campoelétrico criado por esta carga. De um modo geral, afirmam que “s<strong>em</strong>pre que <strong>em</strong> ca<strong>da</strong>ponto <strong>de</strong> uma certa região correspon<strong>de</strong>r o valor <strong>de</strong> uma <strong>da</strong><strong>da</strong> gran<strong>de</strong>za, diz<strong>em</strong>os que,naquela região, existe um campo associado àquela gran<strong>de</strong>za.” (MÁXIMO eALVARENGA, 1999, p. 958).Os autores comentam o fato <strong>de</strong> que a existência do campo elétrico não<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong> presença <strong>da</strong> carga <strong>de</strong> prova e que o campo elétrico é responsável peloaparecimento <strong>da</strong> força elétrica sobre a carga <strong>de</strong> prova, ou seja, “consi<strong>de</strong>ramos que aforça elétrica que atua sobre q é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à ação do campo elétrico e não à ação direta<strong>de</strong> Q sobre q” (i<strong>de</strong>m, p. 957). Ain<strong>da</strong> diz<strong>em</strong> que <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto do espaço o campoelétrico po<strong>de</strong> ser representado por um vetor, E , <strong>de</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> E = F / q (4. 9) , cujadireção e sentido é a mesma <strong>da</strong> força que atua numa carga positiva coloca<strong>da</strong> no ponto(i<strong>de</strong>m, p. 958).No it<strong>em</strong> 19.2 os autores calculam o campo elétrico para uma carga puntualQpor meio <strong>da</strong> equação: E = k0 (4.10) r ²on<strong>de</strong> k0é uma constante <strong>de</strong> proporcionali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Também comentam que a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>do campo é diretamente proporcional à carga que gera o campo e inversamenteproporcional ao quadrado <strong>da</strong> distância e mostram graficamente estas relações. Ain<strong>da</strong>nesta seção, os autores calculam o campo elétrico resultante <strong>de</strong> várias cargas puntuaispor meio <strong>da</strong> soma vetorial dos campos <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> carga e o campo elétrico <strong>de</strong> uma esferacondutora carrega<strong>da</strong>.No it<strong>em</strong> 19.3 traz<strong>em</strong> uma pequena nota sobre Michael Fara<strong>da</strong>y e diz<strong>em</strong> queas linhas <strong>de</strong> força foram introduzi<strong>da</strong>s por Fara<strong>da</strong>y com a finali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representar ocampo elétrico através <strong>de</strong> diagramas. Em segui<strong>da</strong>, constro<strong>em</strong> este conceito a partir <strong>de</strong>uma figura que representa um <strong>da</strong>do campo elétrico <strong>de</strong> carga positiva, on<strong>de</strong>, nesta


figura, estão representados três vetores ascen<strong>de</strong>ntes na direção vertical,muitos outros não nomeados. Em relação aos três vetores, os autores traçam uma linhapassando por eles com a mesma orientação. A esta linha traça<strong>da</strong> os autores <strong>de</strong>nominam<strong>de</strong> linha <strong>de</strong> força do campo elétrico. Comentam, ain<strong>da</strong>, que as linhas <strong>de</strong> força po<strong>de</strong>mser traça<strong>da</strong>s <strong>de</strong> modo a fornecer informações sobre o módulo, a direção e o sentido dovetor campo elétrico, convencionando para isso traçar as linhas <strong>de</strong> força maispróximas umas <strong>da</strong> outras nas regiões on<strong>de</strong> a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico é maior <strong>em</strong>ais afasta<strong>da</strong>s on<strong>de</strong> for menor. Finalizando o it<strong>em</strong>, os autores diz<strong>em</strong> que o campoelétrico é uniforme quando apresentar o mesmo módulo, a mesma direção e o mesmosentido.E 1, E 2e E389eFísica Conceitos e Aplicações. Volume 3. PAULO C. M. PENTEADO 59O conceito <strong>de</strong> campo elétrico é abor<strong>da</strong>do no segundo capítulo a partir doterceiro it<strong>em</strong>. Neste it<strong>em</strong>, inicialmente, o autor <strong>de</strong>staca dois tipos <strong>de</strong> forças que<strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> contato e <strong>de</strong> campo. Segundo o autor, para que as forças <strong>de</strong>contato atu<strong>em</strong> é necessário que haja contato entre os corpos, porém para as forças <strong>de</strong>campo não é necessário que os corpos estejam <strong>em</strong> contanto, a ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s forçasgravitacional e eletrostática, estas atuam à distância.Para ele a idéia <strong>de</strong> força <strong>de</strong> ação à distância trouxe gran<strong>de</strong>s dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s paraos pensadores. Cita Newton, como ex<strong>em</strong>plo, com a lei <strong>da</strong> Gravitação Universal, quenão se sentia confortável com essa concepção. Segundo o autor, essas dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>sforam supera<strong>da</strong>s com a introdução do conceito <strong>de</strong> campo por Michael Fara<strong>da</strong>y paraqu<strong>em</strong> o campo eletrostático se estendia por todo o espaço que envolve uma cargaelétrica.Depois <strong>de</strong>ssa introdução, o autor lança a seguinte questão: “mas, afinal, oque é o campo elétrico?” (PENTEADO, 1998, p. 32). Diante <strong>de</strong>sta in<strong>da</strong>gação ele59 PENTEADO, PAULO C. M. Física Conceitos e Aplicações, São Paulo: Editora Mo<strong>de</strong>rna, p. 2-40, 1998.


90retoma a discussão dizendo “que a principal característica <strong>de</strong> uma carga elétrica é a suacapaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interagir com outras cargas elétricas” (ibi<strong>de</strong>m) e que esta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>está relaciona<strong>da</strong> à presença do campo elétrico que é uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> carga. Para oautor, o campo elétrico é uma parte real, porém não material <strong>de</strong> qualquer cargaelétrica, po<strong>de</strong>ndo ser consi<strong>de</strong>rado como uma ‘aura’ que envolve to<strong>da</strong> e qualquer cargaelétrica, sendo impossível <strong>de</strong>svincular uma carga elétrica <strong>de</strong> seu respectivo campoelétrico.De acordo com autor, “o campo elétrico é uma região do espaço que envolvea carga elétrica” (ibi<strong>de</strong>m) e que qualquer carga elétrica coloca<strong>da</strong> <strong>em</strong> um ponto <strong>de</strong>sseespaço, ficará sujeita a uma força elétrica. Esta também é a forma <strong>de</strong> se <strong>de</strong>tectar aexistência <strong>de</strong> um campo elétrico quando diz que “se <strong>em</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> região doespaço existir um campo elétrico, então, uma carga <strong>de</strong> prova coloca<strong>da</strong> <strong>em</strong> repousonessa região ficará sujeita a uma força elétrica.” (ibi<strong>de</strong>m).Para formular uma <strong>de</strong>finição quantitativa <strong>da</strong> gran<strong>de</strong>za campo elétrico, elepropõe a seguinte construção: suponha um campo elétrico numa <strong>da</strong><strong>da</strong> região do espaçoe um ponto P <strong>de</strong>ssa região. Coloca-se, então, nesse ponto uma carga <strong>de</strong> prova q 1 queficará sujeita a uma força elétrica F 1. Depois, troca-se a carga <strong>de</strong> prova q 2 por q 1 , nomesmo ponto, obtendo-se uma força elétrica F 2e repete, sucessivamente, o processopara outras cargas <strong>de</strong> provas coloca<strong>da</strong>s <strong>em</strong> P, constatando-se que, para ca<strong>da</strong> carga <strong>de</strong>prova q n , surge uma força elétrica F n. Segundo o autor, observa-se que to<strong>da</strong>s as forçaselétricas possu<strong>em</strong> a mesma direção e essas forças que atuam <strong>em</strong> cargas positivas têmum <strong>de</strong>terminado sentido, enquanto as que atuam <strong>em</strong> cargas negativas possu<strong>em</strong> osentido contrário, como também, uma verificação, tanto teórica quanto experimental, mostra que:F1 F2F3Fn= = = ... = [constante] (4.11)q q q q1 2 3nAssim, a constante obti<strong>da</strong> <strong>da</strong> relação é <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> vetor campo elétrico E associado ao ponto P. Concluindo, o autor afirma que “a ca<strong>da</strong> ponto do espaço po<strong>de</strong>-se


91associar um vetor campo elétrico E <strong>da</strong><strong>da</strong> pela relação entre a força elétrica F e arespectiva carga <strong>de</strong> prova q” (i<strong>de</strong>m, p. 33), ou seja: F E = ou F=q.E (4. 12)qEm uma <strong>de</strong> suas observações o autor diz que “apesar <strong>de</strong> termos trabalhadocom a força elétrica antes <strong>de</strong> introduzirmos o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, é importanteressaltar que o campo elétrico é a causa <strong>da</strong> existência <strong>da</strong> força elétrica” (ibi<strong>de</strong>m) e,também, ressalta a similari<strong>da</strong><strong>de</strong> entre a força elétrica ( Felétrica= q. E) (4.13) e a forçagravitacional ( F = m. g) (4.14) , ambas consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s como forças <strong>de</strong> campo.gravitacoinalNo it<strong>em</strong> 4 o autor <strong>de</strong>fine linhas <strong>de</strong> força como “uma linha imaginária queindica a direção e o sentido do vetor campo elétrico E <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto do espaço”(PENTEADO, 1998, p. 34), on<strong>de</strong> afirma que este conceito será um recurso para umamelhor visualização do campo elétrico.No it<strong>em</strong> 5, ele <strong>de</strong>termina o vetor campo elétrico, no vácuo, num ponto Pcriado por uma carga puntiforme Q, tomando o ponto O como orig<strong>em</strong>. Para isso faz acaracterização do mesmo por meio do cálculo do módulo do vetor através <strong>da</strong> equação:| Q |E = k0(4.15) d ²É mostrado o gráfico <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico <strong>em</strong> função <strong>da</strong>distância, ressaltando sua s<strong>em</strong>elhança com o gráfico <strong>da</strong> força elétrica <strong>em</strong> função <strong>da</strong>distância e, <strong>em</strong> relação ao vetor campo elétrico, diz que a direção <strong>de</strong>ste vetor coinci<strong>de</strong>com a direção <strong>da</strong> reta que passa pelos O e P, enquanto o sentido do vetor campoelétrico será <strong>de</strong> afastamento <strong>da</strong> carga, se a mesma for positiva; caso contrário será <strong>de</strong>aproximação. Ain<strong>da</strong>, para os dois casos, o autor mostra a representação gráfica <strong>da</strong>slinhas <strong>de</strong> força. Já no it<strong>em</strong> 6, o autor calcula o campo elétrico criado por um sist<strong>em</strong>a <strong>de</strong>cargas puntiformes, on<strong>de</strong> diz que “o campo elétrico resultante será a soma vetorial doscampos elétricos gerados por ca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s cargas elétricas do sist<strong>em</strong>a” (i<strong>de</strong>m, p. 39). E E E E E nE para isso, fornece a equação: =1+2+3+ ... + (4.16) . Em segui<strong>da</strong>, mostra arepresentação por meio <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força do campo elétrico resultante <strong>de</strong> duas cargas


92iguais, <strong>de</strong> duas cargas <strong>de</strong> mesmo módulo e sinais diferentes e por duas placas planas eparalelas carrega<strong>da</strong>s com cargas <strong>de</strong> mesmo módulo e sinais diferentes.NOTAS DE AULA - Campo Elétrico 60 . Professor 49Convém ressaltar que o professor P49 <strong>de</strong>clarou que não usa livros didáticoscom seus alunos, mas sim suas próprias NOTAS DE AULA. Em nossa pesquisaanalisamos as NOTAS DE AULA – Campo Elétrico que apresentam o conteúdocampo elétrico através <strong>de</strong> cinco aulas numera<strong>da</strong>s por Aula 01, 02, 03, 04 e Aula 05. Noit<strong>em</strong> 01, o autor diz que o conceito <strong>de</strong> campo foi proposto na primeira meta<strong>de</strong> doséculo XIX por Michael Fara<strong>da</strong>y para explicar o fenômeno <strong>da</strong> ação à distância.Também afirma que o “campo é uma gran<strong>de</strong>za que po<strong>de</strong> ser associa<strong>da</strong> à posição” ecita os campos escalares e vetoriais como ex<strong>em</strong>plos.No it<strong>em</strong> 02, conceitua campo como uma mu<strong>da</strong>nça nas características doespaço provoca<strong>da</strong> pela presença <strong>de</strong> partículas, <strong>da</strong>ndo como ex<strong>em</strong>plos os camposgravitacional e elétrico. Depois, no it<strong>em</strong> 03, <strong>de</strong>fine o campo elétrico como “a região doespaço <strong>em</strong> que partículas eletricamente carrega<strong>da</strong>s sofr<strong>em</strong> a ação <strong>de</strong> forças ouadquir<strong>em</strong> energia <strong>de</strong>vido à sua carga elétrica”, sugerindo, porém, uma outra forma <strong>de</strong>conceituar o campo elétrico, ou seja, “como sendo uma proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> física estabeleci<strong>da</strong><strong>em</strong> todos os pontos do espaço que estão sob influência <strong>de</strong> uma carga elétrica (cargafonte), tal que uma outra carga (carga <strong>de</strong> prova ou <strong>de</strong> teste), ao ser coloca<strong>da</strong> num<strong>de</strong>sses pontos, fica sujeita a uma força <strong>de</strong> atração ou repulsão exerci<strong>da</strong> pela cargafonte” e <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, mostra uma figura ilustrando isso.A caracterização do campo elétrico, segundo o professor, é feita por meio dovetor campo elétrico, <strong>de</strong>finido, no it<strong>em</strong> 05, como uma “gran<strong>de</strong>za que permite<strong>de</strong>terminar, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto do espaço, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> força elétrica que atua sobre acarga aí coloca<strong>da</strong>.” Após fornecer a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> campo elétrico no SI (Sist<strong>em</strong>a60 Nas cópias <strong>da</strong>s NOTAS DE AULA – Campo Elétrico, não foi possível distinguir quando o símbolodo campo elétrico estava <strong>em</strong> negrito ou não, ou seja, E ou E.


93Internacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s), ele faz a caracterização, no it<strong>em</strong> 06, do vetor campoelétrico ( E ) , informando que “a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do vetor campo elétrico fornece o valor <strong>da</strong>força elétrica atuante por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> prova q coloca<strong>da</strong> num certo ponto P doespaço”, on<strong>de</strong> fornece a equação a seguir para o cálculo <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>:E = F e/|q| (4.17)Em segui<strong>da</strong> diz que a direção é a mesma <strong>de</strong> F e e que o sentido será o mesmo <strong>da</strong> forçaF e , se q for positiva; contrário ao <strong>de</strong> F e , se q for negativa. Também informa, no it<strong>em</strong>07, a orientação do vetor campo elétrico <strong>em</strong> relação à carga <strong>de</strong> prova ou <strong>de</strong> teste e <strong>em</strong>relação à carga geradora do campo.No it<strong>em</strong> 08, o autor calcula o campo elétrico para uma partícula eletriza<strong>da</strong>por meio <strong>da</strong> equaçãoon<strong>de</strong> o <strong>de</strong>fine como “a região do espaçoque circun<strong>da</strong> a partícula eletriza<strong>da</strong>, porém, no ponto on<strong>de</strong> foi coloca<strong>da</strong>, o vetor campoelétrico, <strong>de</strong>vido à própria, é nulo” e mostra uma representação gráfica <strong>da</strong> equação 4.18.Na seqüência calcula, também, o campo elétrico para várias cargas puntiformes, on<strong>de</strong>diz que “o vetor campo elétrico resultante E R , <strong>em</strong> P, é <strong>da</strong>do pela soma vetorial dosvetores campo elétrico E1, E2e E3,E criados, respectivamente, pelas cargas elétricasnQ1 , Q2 e Q3, Qn.” Apresenta, ain<strong>da</strong>, uma equação para este cálculo:E = E1 + E2 + E3 + ......... + E n(4.19) e no caso <strong>de</strong> duas cargas puntiformes fornece a seguinte2 2expressão: E = E + E + 2E E cos α (4.20) Lei dos cossenos . Mostra, também, uma figuraRE = k | Q | / d ² (4.18),1 2 1 2que representa a regra do paralelogramo.No it<strong>em</strong> 10, o autor diz que o conceito <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> campo foi introduzido porMichael Fara<strong>da</strong>y para obter “uma visualização gráfica <strong>da</strong> variação do campo elétrico<strong>em</strong> sua região <strong>de</strong> existência, ou seja, um mapeamento do campo elétrico”. Define linha<strong>de</strong> campo ou <strong>de</strong> força, como “uma linha imaginária tangente ao vetor campo elétrico<strong>em</strong> ca<strong>da</strong> um dos seus pontos, e que está orienta<strong>da</strong> no mesmo sentido do vetor E.” Emsegui<strong>da</strong>, mostra figuras <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> campo para cargas iguais, para cargas <strong>de</strong> mesmomódulo e sinais diferentes e para cargas diferentes, como também, <strong>de</strong>fine <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>linhas <strong>de</strong> forças e sua relação com o campo elétrico.


94No it<strong>em</strong> 11, o autor calcula o campo elétrico para uma esfera condutoracarrega<strong>da</strong> com carga Q para diversas situações, a saber:a) Para pontos externos à esfera (d>R):b) Para pontos muito próximos <strong>da</strong> superfície <strong>da</strong> esferac) Para pontos na superfície <strong>da</strong> esfera (d=R):d) Para pontos no interior <strong>da</strong> esfera (d


95ministra<strong>da</strong>s entre os dias 12/04/2006 a 23/05/2006. A seqüência apresenta<strong>da</strong> éaproxima<strong>da</strong>mente a mesma <strong>em</strong> todos os ca<strong>de</strong>rnos:Campo Elétrico:- Figuras- Equações- Uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> campo elétrico no SI- Ex<strong>em</strong>plo <strong>de</strong> aplicações <strong>da</strong>s equações- Exercícios <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong> equações- Linhas <strong>de</strong> campo elétrico <strong>em</strong> cargas puntiforme- Direção e sentido do vetor campo elétrico- Campo Elétrico Uniforme (CEU)- Exercícios <strong>de</strong> aplicações do CEUAs anotações se iniciam com uma figura ilustrativa. A figura possui duascargas <strong>de</strong> tamanhos diferentes, sendo uma <strong>de</strong>las chama<strong>da</strong> <strong>de</strong> carga <strong>de</strong> prova, on<strong>de</strong> aolado está escrito q 1 , q 2 , q 3 e F 1 , F 2 , F 3 ; a outra representa<strong>da</strong> por Q, com várias linhasradiais (cf. figura <strong>em</strong> anexo). Em segui<strong>da</strong> é apresenta<strong>da</strong> a seqüência <strong>de</strong> equações:F F F F= = = =1 2 3E q1 q3 q3 q(4.25)e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong>duz-se a equaçãok.QE =d ²FE = (4.26)q(4.27) , a partir <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> Coulomb.Na seqüência, as anotações dos ca<strong>de</strong>rnos traz<strong>em</strong> a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> campo elétricono Sist<strong>em</strong>a Internacional <strong>de</strong> Uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s (SI) e, <strong>de</strong>pois, é mostrado um ex<strong>em</strong>plo e váriosexercícios <strong>de</strong> aplicações <strong>de</strong> equações. Após 11 exercícios, apresenta-se o tópico‘Linhas <strong>de</strong> campo elétrico (linhas <strong>de</strong> força) <strong>em</strong> cargas puntiformes’, com quatroilustrações que representam as configurações <strong>de</strong> campo para cargas puntuais (cf. figura<strong>em</strong> anexo).As anotações apresentam na seqüência o tópico ‘Direção e sentido do vetorcampo elétrico’ e comenta que até então foi utiliza<strong>da</strong> a forma algébrica para o cálculodo módulo do campo elétrico, porém, afirmam as anotações, que este é uma gran<strong>de</strong>za


96vetorial e sua direção é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela reta que tangencia a linha <strong>de</strong> campo num <strong>da</strong>do pontoe o seu sentido é estabelecido pelo sentido <strong>da</strong> linha <strong>de</strong> campo.Em segui<strong>da</strong>, as anotações traz<strong>em</strong> o tópico ‘Campo Elétrico Uniforme (CEU)’com uma figura ilustrativa e uma frase <strong>em</strong> <strong>de</strong>staque: “Num CEU o valor <strong>de</strong> E não sealtera E = constante”. Depois, apresenta dois exercícios com aplicação <strong>de</strong> equações.Ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P49Na turma P49 foram copiados nove ca<strong>de</strong>rnos do conteúdo campo elétrico,sendo que três <strong>de</strong>les <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>da</strong> matéria <strong>de</strong>ste ano letivo. Estes ca<strong>de</strong>rnos traz<strong>em</strong>as anotações que mostram a seqüência <strong>da</strong> construção do conceito <strong>de</strong> campo elétrico.Delimitamos o início <strong>de</strong>sta construção a partir do título ‘Campo Elétrico’ até‘Densi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Linhas <strong>de</strong> Força’, que compreen<strong>de</strong> o período <strong>de</strong> aulas ministra<strong>da</strong>s entreos dias 16/05/2006 a 30/05/2006. Assim, a seqüência apresenta<strong>da</strong> é a seguinte:Campo Elétrico:- Conceito- Definição do vetor campo elétrico ( E )- Características do vetor campo elétrico- Campo elétrico <strong>de</strong> uma carga puntiforme- Campo elétrico <strong>de</strong>vido a várias cargas- Linhas <strong>de</strong> campo ou <strong>de</strong> força- Proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força- Campo <strong>de</strong> uma esfera- Densi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força.Nestas anotações, o campo elétrico é <strong>de</strong>finido como “a região <strong>de</strong> perturbaçãoeletrostática cria<strong>da</strong> ao redor <strong>de</strong> uma carga elétrica puntiforme e fixa.”. Em segui<strong>da</strong> éapresenta<strong>da</strong> uma figura com uma carga que origina o campo e três cargas <strong>de</strong> prova ou<strong>de</strong> teste <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> mesma que serv<strong>em</strong>, segundo as anotações, para constatar aexistência do campo elétrico. Depois, é apresentado o vetor campo elétrico ( E ) como


97sendo “uma gran<strong>de</strong>za vetorial <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo quociente <strong>da</strong> força elétrica pela carga <strong>de</strong>prova:”FE = (4.28)| q |tendo como características, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, direção e sentido. Informa, também, auni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> campo elétrico no SI.Em segui<strong>da</strong>, o texto apresenta o cálculo do campo elétrico <strong>de</strong> uma cargapuntiforme, <strong>em</strong> um ponto e <strong>em</strong> relação a uma orig<strong>em</strong>, por meio <strong>da</strong> equação:k | Q |E = (4.29)d ²que representa a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo e cuja direção é <strong>da</strong><strong>da</strong> pela reta que une a cargaao ponto ou a mesma direção <strong>da</strong> força elétrica e sentido <strong>de</strong> afastamento, se a cargageradora do campo for positiva e aproximação, se esta for negativa. Algumasobservações são feitas <strong>em</strong> relação à <strong>de</strong>pendência do campo com as cargas, com adistância e com o meio. Depois, calcula-se o campo elétrico <strong>de</strong>vido a várias cargaspelas expressões: 2 2E = E e1+ E2 + ... + E (4.30)ER= E1 + E2 + 2E1E2cos α (4.31)nSegundo as anotações, o conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> campo ou <strong>de</strong> força foiintroduzido pelo físico inglês Michael Fara<strong>da</strong>y, on<strong>de</strong> obteve “a visualização gráfica <strong>da</strong>variação do campo elétrico <strong>em</strong> sua região <strong>de</strong> existência, ou seja, um mapeamento docampo elétrico”. Diz, também, que essas linhas, quando observa<strong>da</strong>s, permit<strong>em</strong> afirmara intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, a direção e o sentido do vetor campo elétrico <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto <strong>da</strong> região.Ain<strong>da</strong>, por <strong>de</strong>finição, são linhas imaginárias e tangenciam o vetor campo elétrico <strong>em</strong>ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong> seus pontos, sendo orienta<strong>da</strong> no mesmo sentido do vetor.As linhas <strong>de</strong> força, segundo as anotações, têm as seguintes proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s:nunca se cruzam e são s<strong>em</strong>pre linhas abertas. Em segui<strong>da</strong>, as anotações apresentam arepresentação gráfica <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força para cargas puntuais e a observação <strong>de</strong> que aintensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico será tanto mais intenso quanto maior for o número <strong>de</strong>linhas <strong>de</strong> força por uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> área perpendicular à direção do campo.O cálculo do campo elétrico para uma esfera <strong>de</strong> carga Q e raio R aparece nasanotações nas seguintes situações:


98a) <strong>em</strong> pontos a uma distância d do centro <strong>da</strong> esfera (d>R):b) <strong>em</strong> pontos próximos à superfície <strong>da</strong> esfera ( d ≅ R):c) <strong>em</strong> pontos sobre a superfície <strong>da</strong> esfera ( d = R) :d) e no interior <strong>da</strong> esferaFinalizando, as anotações apresentam uma figura que compara o campoelétrico <strong>em</strong> pontos distintos por meio <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força, fazendo uma relação entre ocampo e <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> linhas.( d < R) :E = 0 (4.35) k | Q |E =R² k | Q |E =2 R² k | Q |E =d ²(4.34)(4.33)(4.32)4.2 ELEMENTOS DA CULTURA ASSOCIADOS AO CONCEITO DE CAMPOELÉTRICONa constituição do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, consi<strong>de</strong>rando este umprocesso que ocorre numa <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e num <strong>de</strong>terminado contexto,diversos aspectos culturais po<strong>de</strong>m ser evi<strong>de</strong>nciados. Retomar<strong>em</strong>os, neste it<strong>em</strong> alguns<strong>da</strong>queles associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> estática e ao magnetismo, tomando como el<strong>em</strong>entoprincipal para esta análise a concepção <strong>de</strong> transmissão cultural.4.2.1 Os fenômenos físicos como el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> culturaNossa análise foi centra<strong>da</strong> nos fenômenos físicos associados às <strong>de</strong>scobertasrealiza<strong>da</strong>s pelos gregos no tocante à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> estática e ao magnetismo, assim comoàqueles relacionados ao eletromagnetismo <strong>de</strong>scobertos <strong>de</strong>pois do século XVI,consi<strong>de</strong>rando a sua importância no âmbito escolar.Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou Geral universitáriosNo livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo alguns aspectosculturais vinculados à <strong>de</strong>scoberta dos fenômenos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e aomagnetismo são mencionados. É citado, por ex<strong>em</strong>plo, a <strong>de</strong>scoberta <strong>de</strong> que o âmbar


99atrai pequenos corpos quando atritado com a lã. Os autores também mostram algunsex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> eletrização, como: automóveis eletrizados <strong>em</strong> virtu<strong>de</strong> <strong>de</strong> seu movimento<strong>em</strong> relação ao ar; a carga elétrica adquiri<strong>da</strong> por uma folha <strong>de</strong> papel quando passaatravés <strong>de</strong> uma prensa topográfica e um pente que se eletriza ao pentear o cabelo seco.No livro HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo osautores citam a <strong>de</strong>scoberta dos gregos <strong>em</strong> relação ao âmbar e a magnetita, comotambém, a <strong>de</strong>scoberta do eletromagnetismo por Hans Christian Orsted por meio <strong>da</strong>observação <strong>da</strong> <strong>de</strong>flexão <strong>da</strong> agulha <strong>de</strong> uma bússola, quando a mesma é aproxima<strong>da</strong> <strong>de</strong>uma corrente elétrica fluindo num fio, <strong>em</strong> certas condições.No livro TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica o autor sereporta aos gregos <strong>em</strong> relação ao âmbar e fala dos fenômenos <strong>de</strong> eletrização comobjetos, como: bastões <strong>de</strong> vidro e <strong>de</strong> plástico, pelicas e se<strong>da</strong>, que, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atritadosentre si, repel<strong>em</strong>-se e/ou se atra<strong>em</strong>.Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física Escolar para o Ensino MédioNo livro BEATRIZ ALVARENGA – Curso <strong>de</strong> Física os autores citam osgregos como os primeiros a observar a proprie<strong>da</strong><strong>de</strong> que o âmbar apresenta <strong>em</strong> atrairpequenos corpos e refer<strong>em</strong>-se a Thales <strong>de</strong> Mileto como um dos filósofos gregos queconheciam esse fato. Segundo os autores, somente com os trabalhos <strong>de</strong> W. Gilbert sepô<strong>de</strong> observar que outros corpos, quando atritados comportavam-se como o âmbar, noentanto, o fenômeno <strong>da</strong> repulsão elétrica foi observado pela primeira vez pelo jesuítaitaliano Nicolo Cabeo. Ain<strong>da</strong>, os autores afirmam que fenômenos s<strong>em</strong>elhantes po<strong>de</strong>mser observados quando se atrita uma régua <strong>de</strong> plástico com uma se<strong>da</strong> ou um pente como cabelo ou uma roupa <strong>de</strong> náilon, quando é atrita<strong>da</strong> com o nosso corpo.No livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações o autor fala <strong>da</strong> orig<strong>em</strong><strong>da</strong> palavra eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, quando cita os gregos como conhecedores do fenômenoassociado ao âmbar, ou seja, quando este é atritado com um pe<strong>da</strong>ço <strong>de</strong> tecido, passa aatrair pequenos pe<strong>da</strong>ços <strong>de</strong> folhas ou mesmo partículas <strong>de</strong> poeira. Ain<strong>da</strong>, que no


100século XVI o físico e médico inglês William Gilbert <strong>de</strong>monstrou que outrassubstâncias também apresentavam proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s elétricas, manifestando dois tipos <strong>de</strong>efeito elétrico: a ‘resinosa’, quando a substância era atrita<strong>da</strong> com o âmbar; e a ‘vítrea’,quando a substância era atrita<strong>da</strong> com o vidro. Segundo o autor, “William Gilbertobservou que eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> mesmo tipo se repel<strong>em</strong> e eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> tiposopostos se atra<strong>em</strong> [grifo do autor]” (PENTEADO, 1998, p. 3).Nas cinco NOTAS DE AULA do professor P49 sobre campo elétrico não hánenhuma referência aos primeiros fenômenos físicos associados à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e aomagnetismo observados pelos gregos, n<strong>em</strong> aos fenômenos que foram <strong>de</strong>scobertos apartir do século XVI.Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> FísicaNos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P3 que compreen<strong>de</strong>m as aulas ministra<strong>da</strong>s entre osdias 12/04/2006 à 23/05/2006 não há registros <strong>da</strong>s primeiras observações associa<strong>da</strong>saos fenômenos físicos realiza<strong>da</strong>s pelos gregos, n<strong>em</strong> a partir do século XVI, conforme osegundo capítulo e it<strong>em</strong> 2.1 <strong>de</strong>ssa pesquisa.Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P49 61 que compreen<strong>de</strong>m as aulas ministra<strong>da</strong>s entre osdias 16/05/2006 à 30/05/2006 também não exist<strong>em</strong> os registros citados no parágrafoanterior, porém nas aulas anteriores a este período aparec<strong>em</strong> alguns registros. Asanotações citam que <strong>em</strong> 600 a.C. o grego Thales <strong>de</strong> Mileto <strong>de</strong>scobriu que o âmbaratritado com a pele <strong>de</strong> animal atrai pequenos corpos e <strong>em</strong> 1600 o médico inglêsWilliam Gilbert estudou o magnetismo e as proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> atração do âmbar queapareciam <strong>em</strong> outras substâncias, porém, segundo as anotações, foi Nicolo Cabeo queconstatou a existência <strong>da</strong> repulsão elétrica. Também, estas citam que <strong>em</strong> 1820 o físicodinamarquês Hans Christian Orsted verificou a <strong>de</strong>flexão <strong>de</strong> uma agulha <strong>de</strong> bússola,quando coloca<strong>da</strong> próxima <strong>de</strong> um fio conduzindo eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>. Ain<strong>da</strong>, afirma que61 Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P49, antes do período analisado exist<strong>em</strong> algumas anotações a este respeitoque são cita<strong>da</strong>s na seqüência.


101“através dos teor<strong>em</strong>as <strong>de</strong> Gauss, Laplace e Poisson são introduzidos os conceitos <strong>de</strong>campo elétrico, potencial elétrico e capacitância.”4.2.2 O saber campo elétrico como el<strong>em</strong>ento <strong>da</strong> cultura escolarO saber campo elétrico nos textos dos livros analisados apresenta-se através<strong>de</strong> diversas formas, que po<strong>de</strong>m indicar el<strong>em</strong>entos <strong>de</strong> uma cultura que privilegia, <strong>em</strong>alguns momentos, a expressão mat<strong>em</strong>ática, <strong>em</strong> outros o texto explicativo ou ain<strong>da</strong> osgráficos e <strong>de</strong>senhos. Como uma forma presente <strong>em</strong> todos eles, <strong>de</strong>stacam-se asexpressões mat<strong>em</strong>áticas associa<strong>da</strong>s a ilustrações ou textos, encaminhando, quases<strong>em</strong>pre, para uma <strong>de</strong>finição ou uma probl<strong>em</strong>atização ou um questionamento. Além <strong>da</strong>sexpressões mat<strong>em</strong>áticas, outra forma presente nos textos são as linhas <strong>de</strong> força, quefaz<strong>em</strong> a representação gráfica <strong>de</strong>ste saber e que foram construí<strong>da</strong>s culturalmente comoum saber escolar.Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou GeralNo livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo o saber campo elétricoé apresentado por meio <strong>de</strong> uma ilustração <strong>em</strong> que se supõe uma situação real <strong>de</strong>interação entre dois corpos carregados e, partindo <strong>da</strong> afirmação <strong>de</strong> que a interaçãoentre os corpos é ‘<strong>de</strong> ação á distância’, atribu<strong>em</strong> um ‘estado <strong>de</strong> coisas’ ao espaço <strong>em</strong>torno <strong>da</strong> carga, associam este espaço à presença <strong>da</strong> carga e chamam-no <strong>de</strong> campoelétrico.A comprovação <strong>da</strong> existência do campo elétrico se dá <strong>de</strong> formaexperimental, ou seja, ao se colocar uma carga <strong>de</strong> prova num <strong>da</strong>do ponto on<strong>de</strong> existeum campo elétrico, esta ficará sujeito uma força F, cuja força t<strong>em</strong> uma <strong>de</strong>pendênciadireta com a carga <strong>de</strong> prova. Os autores usam uma equação mat<strong>em</strong>ática para a<strong>de</strong>finição do saber campo elétrico e aplicam a mat<strong>em</strong>ática também como uma


102ferramenta para o cálculo do campo elétrico para várias situações e geometrias, on<strong>de</strong>usam a Lei <strong>de</strong> Gauss para este fim.Outra apresentação do saber campo elétrico é feita por meio <strong>da</strong>s linhas <strong>de</strong>força ou <strong>de</strong> campo, on<strong>de</strong> se visualiza graficamente o campo produzido por partículaseletricamente carrega<strong>da</strong>s. Da mesma forma que o vetor campo elétrico, as linhas <strong>de</strong>força proporcionam informações que diz<strong>em</strong> respeito à intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, à direção e aosentido do vetor campo elétrico.No livro HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo osautores, antes <strong>de</strong> apresentar<strong>em</strong> este saber, probl<strong>em</strong>atizam a questão <strong>da</strong> interação entrecargas elétricas e por meio <strong>de</strong> analogias com os campos <strong>de</strong> t<strong>em</strong>peratura e pressão e,principalmente, o campo gravitacional apresentam mat<strong>em</strong>aticamente este saber através<strong>da</strong> equação 4.5.A mat<strong>em</strong>atização confun<strong>de</strong>-se com a própria <strong>de</strong>finição do saber campoelétrico, mas os autores utilizam outras ferramentas mat<strong>em</strong>áticas do cálculo diferenciale integral e a lei <strong>de</strong> Gauss para o cálculo do campo elétrico. Em relação àrepresentação gráfica <strong>de</strong>sse saber, utilizam as linhas <strong>de</strong> força para representargraficamente o vetor campo elétrico, como também, sua intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, direção e sentido.No livro TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica, para aapresentação do saber campo elétrico, o autor parte do pressuposto <strong>de</strong> que a forçaelétrica é uma força <strong>de</strong> ação à distância como a força gravitacional e, após questionar ainteração entre cargas elétricas, sugere a introdução do saber campo elétrico e o <strong>de</strong>fine,mat<strong>em</strong>aticamente, por meio <strong>da</strong> equação 4.6. Utiliza outras equações mat<strong>em</strong>áticas e alei <strong>de</strong> Gauss para o cálculo do campo elétrico, como também, usam as linhas <strong>de</strong> forçapara a sua representação. Estas, também, informam a sua intensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, direção esentido.


103Nos livros didáticos do Ensino MédioNo livro BEATRIZ ALVARENGA – Curso <strong>de</strong> Física o saber campo elétricoé apresentado a partir <strong>de</strong> uma situação <strong>em</strong> que se constata a existência <strong>da</strong> força elétricaentre duas cargas puntiformes, mesmo quando a carga móvel mu<strong>da</strong> <strong>de</strong> posição <strong>em</strong>relação à carga fixa. A partir <strong>de</strong>ssa constatação, afirma-se a existência <strong>de</strong> campoelétrico <strong>em</strong> torno <strong>da</strong> carga fixa, cujo campo foi criado, e generalizam o conceito <strong>de</strong>campo, associando-o a uma região do espaço. Associando ao saber campo elétrico umvetor, <strong>de</strong>nominado vetor campo elétrico cuja intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> é calcula<strong>da</strong> pela equação 4.9,calculam o campo elétrico para uma carga puntual através <strong>da</strong> equação 4.10.Os autores usam as linhas <strong>de</strong> força para uma visualização gráfica do campoelétrico, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> este conceito a partir <strong>da</strong> representação <strong>de</strong> vários vetores docampo elétrico.No livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações o saber campoelétrico é apresentado a partir <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> força <strong>de</strong> campo. Quando faz uma rápi<strong>da</strong>discussão sobre a questão <strong>da</strong> ação à distância, o autor in<strong>da</strong>ga o que seria <strong>de</strong> fato ocampo elétrico e <strong>de</strong>fine o campo elétrico como uma região do espaço. A formulaçãomat<strong>em</strong>ática <strong>de</strong>sse saber é construí<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> um campo elétrico <strong>da</strong>do, quando numa<strong>da</strong><strong>da</strong> região do espaço é coloca<strong>da</strong> uma carga. Depois <strong>de</strong> alguns procedimentossucessivos, o autor obtém uma relação mat<strong>em</strong>ática que <strong>de</strong>nomina <strong>de</strong> vetor campoelétrico, representado pela equação 4.12. Para a visualização gráfica <strong>de</strong>sse saber oautor utiliza as linhas <strong>de</strong> força.Nas NOTAS DE AULA do professor P49, o saber campo elétrico éapresentado a partir <strong>de</strong> uma idéia que associa este saber a uma mu<strong>da</strong>nça nascaracterísticas do espaço <strong>de</strong> uma região, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fine o campo elétrico como sendo estaregião. A formulação mat<strong>em</strong>ática para o cálculo do campo elétrico é <strong>da</strong><strong>da</strong> por meio <strong>da</strong>equação 4.18 e usa as linhas <strong>de</strong> força para a visualização do campo elétrico.


104Nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> FísicaNos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P3 o saber campo elétrico é apresentado por meio <strong>de</strong>uma figura, seguido <strong>de</strong> equações s<strong>em</strong> enunciar textualmente o conceito <strong>de</strong> campoelétrico. Em segui<strong>da</strong>, são usa<strong>da</strong>s as linhas <strong>de</strong> força para representar o campo elétrico ediz-se que o campo elétrico é uma gran<strong>de</strong>za vetorial.Nas anotações dos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P49, o saber campo elétrico éapresentado por meio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição e uma figura. Apresenta-se, também, a<strong>de</strong>finição <strong>de</strong> vetor campo elétrico e suas características. Usam-se equaçõesmat<strong>em</strong>áticas para o cálculo do campo elétrico <strong>de</strong> cargas puntuais e esferas carrega<strong>da</strong>se, as linhas <strong>de</strong> força, para a visualização do campo elétrico.4.3 DISTÂNCIA ENTRE O OBJETO DO SABER E O OBJETO DE ENSINONo processo transpositivo, o objeto campo elétrico sofre várias modificaçõesna sua natureza quando é transposto <strong>da</strong> esfera do saber sábio para a esfera do saber aensinar. A modificação que ocorr<strong>em</strong> na sua natureza é <strong>de</strong>vido às implicações didáticassofri<strong>da</strong>s pelo saber ou a uma possível mu<strong>da</strong>nça do seu conceito.Assim, <strong>em</strong> relação ao saber sábio será verificado por meio <strong>de</strong>sta análisecomo é apresentado o objeto <strong>de</strong> ensino campo elétrico nos textos <strong>de</strong> Física dos livrosuniversitários e escolares selecionados, como também, nas NOTAS DE AULA doprofessor P49.4.3.1 Objeto do saberFara<strong>da</strong>y, observando as curvas <strong>de</strong>scritas pelos fragmentos <strong>da</strong> limalha <strong>de</strong> ferroquando espalha<strong>da</strong> <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um ímã, <strong>de</strong> forma análoga a este fenômeno, propôs ummo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linha <strong>de</strong> forças que se estendia <strong>em</strong> torno do ímã, <strong>em</strong>ergindo <strong>de</strong> seu pólonorte para convergir para o pólo sul. Fara<strong>da</strong>y propôs por meio <strong>de</strong> seu mo<strong>de</strong>lo que a


105ação entre os corpos se <strong>da</strong>va através do meio apinhado pelas linhas <strong>de</strong> força,chamando este meio <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> forças.Esta concepção foi estendi<strong>da</strong> por Fara<strong>da</strong>y, tanto para os fenômenosmagnéticos, <strong>de</strong>nominando <strong>de</strong> campo magnético, quanto para os elétricos, chamando <strong>de</strong>campo elétrico. No entanto, foi Maxwell qu<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>atizou o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong>força, proporcionando o cálculo <strong>da</strong> intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> por meio <strong>da</strong>s equações que levam seunome. A expressão mat<strong>em</strong>ática para o cálculo do campo elétrico correspon<strong>de</strong> a uma<strong>da</strong>s quatro equações <strong>de</strong> Maxwell, ou seja, a equação, ∇ . D = ρ (4.36) cuja solução<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> contorno, do meio e <strong>da</strong> <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carga. Ain<strong>da</strong>,analogamente ao campo gravitacional, Maxwell <strong>de</strong>finiu a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> elétrica ouintensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico para medir a força elétrica sobre uma carga elétrica,quando coloca<strong>da</strong> no local on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>seja medir o campo, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que esta carga nãoaltere a distribuição <strong>da</strong> eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>.4.3.2 Objeto <strong>de</strong> ensinoNos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou GeralNo livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo o objeto <strong>de</strong> ensinocampo elétrico aparece através <strong>de</strong> uma ilustração que simula situações reais <strong>de</strong>interações entre cargas elétricas, levando o leitor a <strong>de</strong>senvolver um raciocínio, queo leva a imaginar que ao redor <strong>da</strong> carga há um ‘estado <strong>de</strong> coisas’, <strong>de</strong>nominando esseestado ao redor <strong>da</strong> carga <strong>de</strong> campo elétrico. Depois, os autores <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o campoelétrico através <strong>da</strong> equação 4.1.O conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força aparece como uma ferramenta para avisualização do campo elétrico e, principalmente, para <strong>de</strong>terminar a direção e o sentidodo vetor campo elétrico.


106No livro HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo o objeto<strong>de</strong> ensino campo elétrico aparece como uma analogia com outros campos ou mo<strong>de</strong>los,principalmente, o campo gravitacional. Antes <strong>de</strong> <strong>de</strong>fini-lo, os autores condicionam aexistência do campo elétrico e <strong>de</strong>pois, utilizam a expressão mat<strong>em</strong>ática do campogravitacional para <strong>de</strong>finir o campo elétrico.O conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força aparece para a visualização do campo elétrico epara <strong>de</strong>terminar a direção e o sentido do vetor campo elétrico.No livro TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica o objeto <strong>de</strong>ensino campo elétrico aparece, inicialmente, através <strong>de</strong> uma afirmação, quando diz queuma carga provoca um campo elétrico <strong>em</strong> todo o espaço e que a interação entre aspartículas carrega<strong>da</strong>s se dá através do campo. Depois, <strong>de</strong>fine que o campo é quocienteentre a força resultante e a carga elétrica teste.As linhas <strong>de</strong> força são usa<strong>da</strong>s para a visualização e para <strong>de</strong>terminar a direçãoe o sentido do vetor campo elétrico.Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física EscolarNo livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física o objeto <strong>de</strong> ensinocampo elétrico aparece a partir <strong>de</strong> uma figura que mostra as forças elétricas agindosobre as cargas. A partir <strong>de</strong>ssa situação, os autores afirmam existir um campo elétrico<strong>em</strong> torno <strong>da</strong> carga fixa e criado por ela e, ain<strong>da</strong>, <strong>em</strong> ca<strong>da</strong> ponto do espaço o campoelétrico po<strong>de</strong> ser representado por um vetor, cuja intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>da</strong> por E = F / q (4.37) epossui a mesma direção e sentido <strong>da</strong> força que atua numa carga positiva coloca<strong>da</strong> noponto.Constrói-se o conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força a partir <strong>da</strong> representação do campoelétrico <strong>em</strong> alguns pontos <strong>da</strong>dos, on<strong>de</strong> informa que as mesmas po<strong>de</strong>m fornecerinformação sobre o módulo, a direção e sentido do vetor campo elétrico.No livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações o objeto <strong>de</strong> ensinocampo elétrico é apresentado a partir do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> campo que, segundo o


107autor, atua à distância. Depois, o objeto <strong>de</strong> ensino é <strong>de</strong>finido como uma região doespaço que envolve a carga elétrica e constrói uma expressão mat<strong>em</strong>ática a partir <strong>de</strong>um campo elétrico <strong>da</strong>do.As linhas <strong>de</strong> força são <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s e afirma que este conceito será um recursopara uma melhor visualização do campo elétrico.Nas NOTAS DE AULA do P49 o objeto <strong>de</strong> ensino campo elétrico aparececomo uma região do espaço, porém o professor propõe, também, ser este objeto umaproprie<strong>da</strong><strong>de</strong> física estabeleci<strong>da</strong> no espaço sob influência <strong>de</strong> uma carga elétrica. Acaracterização <strong>de</strong>sse objeto é feita por meio do vetor que é caracterizado por umaintensi<strong>da</strong><strong>de</strong>, direção e sentido. Utiliza as linhas <strong>de</strong> força para comparação <strong>da</strong>intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> e visualização do campo elétrico.4.4 DESPERSONALIZAÇÃO E DESCONTEXTUALIZAÇÃO DO SABER AENSINARO conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi concebido por Michael Fara<strong>da</strong>y, quandopropôs um mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força para explicar as interações elétricas e magnéticasque ocorr<strong>em</strong> entre as cargas elétricas e entre os ímãs, como também, para explicar oefeito magnético produzido por uma corrente elétrica numa agulha imanta<strong>da</strong>. Segundoesse mo<strong>de</strong>lo, as interações físicas ocorr<strong>em</strong> através do meio, <strong>de</strong>nominado campo <strong>de</strong>forças, preenchido pelas linhas <strong>de</strong> força.A questão central <strong>da</strong> discussão <strong>da</strong>s interações físicas é b<strong>em</strong> anterior ao séculoXIX. Foi a partir do mo<strong>de</strong>lo newtoniano proposto por meio <strong>da</strong> lei <strong>de</strong> gravitação noPrincipia <strong>de</strong> Newton que se estabeleceu a concepção <strong>da</strong> ação à distância,principalmente, a simetria conti<strong>da</strong> na direção <strong>da</strong> ação <strong>da</strong>s forças e na lei do inverso doquadrado <strong>da</strong> distância que eram estendi<strong>da</strong>s à interação elétrica através <strong>da</strong> lei <strong>de</strong>Coulomb. Este mo<strong>de</strong>lo foi amplamente aceito pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica, apesar dopróprio Newton se posicionar contrariamente a esta concepção.


108No entanto, com a <strong>de</strong>scoberta do eletromagnetismo por Hans ChristianOrsted no inicio <strong>de</strong> 1820, a questão <strong>da</strong> ação à distância se tornou mais probl<strong>em</strong>áticacom a quebra <strong>de</strong> simetria ocorri<strong>da</strong> no efeito magnético provocado pela correnteelétrica numa agulha imanta<strong>da</strong>. As explicações <strong>da</strong><strong>da</strong>s por Orsted no seu artigo <strong>de</strong> 21 <strong>de</strong>julho <strong>de</strong> 1820 não foram b<strong>em</strong> aceitas sob o ponto <strong>de</strong> vista <strong>da</strong> simetria do fenômeno,levando alguns cientistas como Ampère e Fara<strong>da</strong>y a se <strong>de</strong>dicar<strong>em</strong> na busca <strong>de</strong> umateoria que explicasse o fenômeno observado.O francês Ampère encontrou uma explicação eletrodinâmica para o fato,reduzindo o fenômeno, segundo ele, ao mo<strong>de</strong>lo newtoniano <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> ação àdistância. As suas idéias foram b<strong>em</strong> aceitas pela comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> científica. No entanto,Fara<strong>da</strong>y propôs o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> campo <strong>de</strong> forças, que somente com a teoriaeletromagnética <strong>de</strong> Maxwell foi <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>mente reconhecido.Tendo <strong>em</strong> vista este contexto histórico que situa a gênese, a filiação, comotambém, to<strong>da</strong> probl<strong>em</strong>ática que envolve a criação do conceito <strong>de</strong> campo elétrico éverificado nos textos analisados, se estes aspectos estão presentes.4.4.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou GeralNo livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo, os autores <strong>de</strong>stacam aimportância do conceito campo elétrico, apresentam e <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o conceito, fornec<strong>em</strong>equações e calculam o campo elétrico, mas não diz<strong>em</strong> qu<strong>em</strong> criou, quando foi criado,por que foi criado, <strong>em</strong> que probl<strong>em</strong>ática estava inserido e qu<strong>em</strong> estava envolvido,como também qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolveu mat<strong>em</strong>aticamente o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. Noentanto, <strong>em</strong> relação às linhas <strong>de</strong> força afirmam que a sua introdução foi feita porMichael Fara<strong>da</strong>y para auxiliar na visualização do campo elétrico.No livro HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo osautores propõ<strong>em</strong> o ensino <strong>de</strong> campo elétrico por meio <strong>de</strong> uma probl<strong>em</strong>atização eanalogias, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> o campo elétrico. No entanto, diz<strong>em</strong> que foi Michael Fara<strong>da</strong>yqu<strong>em</strong> introduziu o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, quando imaginava o espaço <strong>em</strong> torno


109<strong>da</strong> carga s<strong>em</strong>pre preenchido por linhas <strong>de</strong> força, mas não diz<strong>em</strong> quando e por que foicriado o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, <strong>em</strong> que probl<strong>em</strong>a estava inserido, qu<strong>em</strong> estavaenvolvido na questão e qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolveu mat<strong>em</strong>aticamente este conceito.No livro TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica o autorintroduz o ensino do campo elétrico por meio <strong>de</strong> uma questão que envolve umprobl<strong>em</strong>a físico, <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> e calculam o campo, mas não informa qu<strong>em</strong> formulou e n<strong>em</strong>qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolveu mat<strong>em</strong>aticamente este conceito. Como também, quando e por queo conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi criado, <strong>em</strong> que probl<strong>em</strong>ática estava inserido e qu<strong>em</strong>estava envolvido. Em relação ao conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força, não informa qu<strong>em</strong>introduziu este conceito, mas diz que serve para a visualização do campo elétrico.4.4.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física EscolarNo livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física os autores <strong>de</strong>fin<strong>em</strong> ocampo elétrico, calculam através <strong>de</strong> equações, mas não informam qu<strong>em</strong> introduziu eformulou o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, apesar <strong>de</strong> trazer uma nota sobre MichaelFara<strong>da</strong>y. No entanto diz<strong>em</strong> que foi Fara<strong>da</strong>y qu<strong>em</strong> introduziu as linhas <strong>de</strong> forças com afinali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> representar o campo elétrico.Também, quanto ao contexto <strong>da</strong> criação e <strong>de</strong>senvolvimento mat<strong>em</strong>ático doconceito campo elétrico, não faz nenhuma uma abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> contextual, como também,não citam a gran<strong>de</strong> probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>s interações entre os corpos que é a ação <strong>de</strong> forçasà distância. Assim, o saber campo elétrico está totalmente <strong>de</strong>slocado do seu contextoquanto à sua criação e formulação.No livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações o autor propõe oensino do conceito campo elétrico por meio do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> forças <strong>de</strong> campo. Reconheceque foi Fara<strong>da</strong>y qu<strong>em</strong> introduziu o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, mas não diz quando epor que foi criado, n<strong>em</strong> <strong>em</strong> que probl<strong>em</strong>ática estava inserido e qu<strong>em</strong> estava envolvido.Em relação à formulação mat<strong>em</strong>ática do conceito o autor <strong>de</strong>senvolve um percurso que


110leva a uma equação que resulta numa expressão, cuja constante é <strong>de</strong>nomina<strong>da</strong> <strong>de</strong> vetorcampo elétrico.As linhas <strong>de</strong> força são <strong>de</strong>fini<strong>da</strong>s pelo autor, que não informa a sua filiação.Afirma, apenas, que este conceito será um recurso na visualização do campo elétrico.Nas NOTAS DE AULA do professor P49, ele diz que o conceito <strong>de</strong> campoelétrico foi introduzido na primeira meta<strong>de</strong> do século XIX por Fara<strong>da</strong>y para explicar ofenômeno <strong>da</strong> ação à distância. Em relação à probl<strong>em</strong>ática que envolve este conceito,cita apenas o foco <strong>da</strong> questão, mas não cita outros fatos e pessoas envolvidos nocontexto histórico. Não informa qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>senvolveu mat<strong>em</strong>aticamente o conceito <strong>de</strong>campo elétrico, porém diz que foi Fara<strong>da</strong>y qu<strong>em</strong> introduziu o conceito <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong>força para a visualização do campo elétrico.4.5 PRÁTICAS SOCIAIS DE REFERÊNCIA NO SABER A ENSINARPor práticas sociais <strong>de</strong> referência Martinand, segundo ROSA e ROSA (2005,p. 8), “enten<strong>de</strong> a proximi<strong>da</strong><strong>de</strong> dos conteúdos com a cultura e o cotidiano do aluno, <strong>de</strong>maneira a buscar um significado ao objeto <strong>de</strong> estudo, não correndo o risco <strong>de</strong> ter umensino vazio <strong>de</strong> significado.”As práticas sociais <strong>de</strong> referência, segundo Alves Filho et alii, teriam comopossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> diminuir o processo do dogmatismo e do formalismo imposto pelatransposição didática do saber sábio ao saber a ensinar. Segundo os autores as práticassociais <strong>de</strong> referência estão muito próximas do professor, o que lhe permite realizaruma transposição didática do saber a ensinar para o saber ensinado mais apropria<strong>da</strong>,possibilitando resgatar a contextualização histórica <strong>da</strong> produção do saber sábio, comotambém, diminuindo o excesso do artificialismo e <strong>da</strong> neutrali<strong>da</strong><strong>de</strong> do saber a ensinar.(ALVES FILHO et alii, 2001, p. 88).Nas análises realiza<strong>da</strong>s nos livros didáticos <strong>em</strong> questão, procurou-seevi<strong>de</strong>nciar como essas práticas estão presentes na constituição do conceito <strong>de</strong> campoelétrico, procurando ver como elas po<strong>de</strong>m, também, produzir saber escolar.


1114.5.1 Nos livros didáticos <strong>de</strong> Física Básica ou GeralNo livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo aparece algunsex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> eletrização, como por ex<strong>em</strong>plo: os automóveis quando <strong>em</strong> movimento,<strong>de</strong>vido ao atrito com o ar; a folha <strong>de</strong> papel, quando passa através <strong>de</strong> uma prensatopográfica e um pente que se eletriza ao pentear o cabelo seco. Já no livroHALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo, no it<strong>em</strong> 24.1, com umasituação física que po<strong>de</strong> ser comum ao contexto do curso, professores e alunos, on<strong>de</strong>os autores tratam do t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong> son<strong>da</strong> Voyager 2 com a Terra durante asua viag<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção a Urano, eles iniciam o capítulo aproximando o conteúdo parao cotidiano do aluno. Ain<strong>da</strong> na mesma seção, os autores diz<strong>em</strong> que “entre asconseqüências práticas <strong>da</strong> idéia do campo eletromagnético estão a invenção do rádio, o<strong>de</strong>senvolvimento do ra<strong>da</strong>r e <strong>da</strong> televisão e um conhecimento amplo <strong>de</strong> instrumentoseletromagnéticos, como motores, geradores e transformadores.” (HALLIDAY et alii,1991, p.15) e no it<strong>em</strong> 24.8, os autores mostram duas aplicações do campo elétrico:uma é a experiência <strong>da</strong> gota <strong>de</strong> óleo realiza<strong>da</strong> entre 1910 e 1913 pelo cientista norteamericanoRobert A. Millikan na <strong>de</strong>terminação <strong>da</strong> quantização <strong>da</strong> carga el<strong>em</strong>entar e,quando ganhou, <strong>em</strong> parte <strong>de</strong>vido a este trabalho, o prêmio Nobel <strong>de</strong> Física <strong>em</strong> 1923; aoutra é a impressora com jato <strong>de</strong> tinta, on<strong>de</strong> se mostra, por meio <strong>de</strong> um esqu<strong>em</strong>a, asfases essenciais <strong>da</strong> impressora a jato e a trajetória <strong>da</strong> gota <strong>de</strong> tinta.No livro TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica, no it<strong>em</strong> 22.6,o autor mostra uma aplicação do campo elétrico para o <strong>de</strong>svio e orientação <strong>de</strong> cargaspuntiformes <strong>em</strong> movimento. Esta aplicação é ex<strong>em</strong>plifica<strong>da</strong> com a experiência dosraios catódicos, on<strong>de</strong> diz que foi J. J. Thomson qu<strong>em</strong> <strong>de</strong>monstrou a existência doselétrons e mediu a razão entre a sua carga e massa através <strong>da</strong> experiência dos raioscatódicos e que ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>stes dispositivos aparec<strong>em</strong> nos osciloscópios, nosmonitores <strong>de</strong> computadores e nos tubos <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> aparelhos TV. Também, noit<strong>em</strong> 24.7, o autor mostra uma aplicação para os dipolos elétricos, quando submetidosa um campo elétrico oscilante. A situação prática é o cozimento <strong>de</strong> alimentos por meio


112do forno <strong>de</strong> microon<strong>da</strong>s, que provoca, através <strong>da</strong> oscilação dos dipolos <strong>da</strong>s moléculas<strong>de</strong> água, o cozimento dos alimentos.4.5.2 Nos livros didáticos <strong>da</strong> Física EscolarNo livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física, no it<strong>em</strong> 19.4, osautores associam o conteúdo campo elétrico com a blin<strong>da</strong>g<strong>em</strong> eletrostática. Para istomostram três figuras: uma válvula usa<strong>da</strong> no circuito <strong>de</strong> sintonia <strong>de</strong> um aparelho <strong>de</strong> TV,um carro e um motorista atingidos por uma forte <strong>de</strong>scarga elétrica e um cabo co-axialon<strong>de</strong> mostram o efeito <strong>da</strong> blin<strong>da</strong>g<strong>em</strong> eletrostática. Também no it<strong>em</strong> 19.5, os autoresassociam a rigi<strong>de</strong>z dielétrica – que significa “o maior valor do campo elétrico que sepo<strong>de</strong> aplicar a um isolante s<strong>em</strong> que ele se torne um condutor” (BEATRIZ eMÁXIMO, 1999, p. 976) – com os fenômenos do relâmpago e do trovão e o ‘po<strong>de</strong>r<strong>da</strong>s pontas’ com o funcionamento dos pára-raios. No final do capítulo os autoresrelacionam duas experiências simples, on<strong>de</strong> são <strong>de</strong>monstrados que a distribuição <strong>da</strong>scargas elétricas se faz na superfície dos condutores e o fenômeno <strong>da</strong> blin<strong>da</strong>g<strong>em</strong>eletrostática.No livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações é proposta umaativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que o estu<strong>da</strong>nte po<strong>de</strong> visualizar um campo elétrico tridimensionalfazendo uma experiência com materiais <strong>de</strong> baixo custo.Nas NOTAS DE AULA do professor P49 não há nenhuma situação <strong>em</strong> quese possa proporcionar uma prática social <strong>de</strong> referência.


113CAPÍTULO 5 O CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICO NO ÂMBITO DACIÊNCIA FÍSICA E DA FÍSICA ESCOLARFoi possível perceber, pelas diversas análises, que nas esferas do saber aensinar e do saber ensinado a constituição do saber campo elétrico é apresenta<strong>da</strong> <strong>de</strong>forma distinta. Alguns aspectos presentes na esfera do saber a ensinar estão ausentesna esfera do saber ensinado, como também, outros presentes na esfera do saber sábio,estão ausentes na esfera do saber a ensinar. Estas características diz<strong>em</strong> respeito aalguns aspectos culturais e, outros, inerentes ao processo <strong>da</strong> transposição didática.Apresentamos a seguir, para as respectivas esferas, uma análise sintética <strong>de</strong>ssesaspectos.5.1 O SABER A ENSINARNa análise <strong>de</strong>scritiva do conteúdo <strong>de</strong> campo elétrico realiza<strong>da</strong> nos três livrosuniversitários, ou seja, SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo, HALLIDAY –Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo e TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>,Magnetismo e Óptica observamos que os autores, nos itens anteriores a este conteúdo,abor<strong>da</strong>m alguns fatos associados às <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> alguns fenômenos físicos pelosgregos, principalmente, relacionado à eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e ao magnetismo. Como também,ex<strong>em</strong>plos atuais <strong>de</strong> eletrização s<strong>em</strong>elhante a do âmbar e, <strong>em</strong> um dos livros (Halli<strong>da</strong>y etalii), a <strong>de</strong>scoberta do eletromagnetismo. Já nos textos dos livros BEATRIZALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física e PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações,estes também traz<strong>em</strong> informações sobre os primeiros fenômenos observados pelosgregos e outros relacionados a W. Gilbert e a Nicolo Cabeo. No entanto, nas NOTASDE AULA – Campo Elétrico que compreen<strong>de</strong> as aulas <strong>de</strong> 01 até 05 sobre o conteúdocampo elétrico, não há nenhuma referência a estes fatos.No livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física, os autores citamThales <strong>de</strong> Mileto como um dos filósofos gregos que conheciam o fenômeno observado


114com o âmbar e diz<strong>em</strong> que Gilbert esten<strong>de</strong>u este comportamento a outros tipos <strong>de</strong>matérias e que o fenômeno <strong>da</strong> repulsão elétrica ficou conhecido por Nicolo Cabeo. Emrelação a fenômenos atuais e similares aos citados, os autores ex<strong>em</strong>plificam aeletrização <strong>de</strong> uma régua <strong>de</strong> plástico, quando atrita<strong>da</strong> com uma se<strong>da</strong>; a eletrização <strong>de</strong>um pente, quando atritado com o cabelo e uma roupa <strong>de</strong> náilon quando atrita<strong>da</strong> com onosso corpo. Porém, no livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações, o autormostra a orig<strong>em</strong> grega <strong>da</strong> palavra eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e fala dos efeitos elétricos quando asubstância é atrita<strong>da</strong> com o âmbar ou vidro e que Gilbert observou a repulsão e aatração entre corpos que estivess<strong>em</strong> sido eletrizados com o âmbar e/ou com o vidro.Estes fatos constitu<strong>em</strong> parte <strong>de</strong> um legado cultural <strong>de</strong> uma socie<strong>da</strong><strong>de</strong> e sãotransmitidos às gerações futuras, conforme constatamos nestes manuais (vi<strong>de</strong> tabela5.1). Também, consi<strong>de</strong>ramos importante o relato ou a citação dos mesmos nos textos<strong>de</strong> ensino não só pela valorização e conservação <strong>de</strong>ste legado cultural, mas por suacontribuição histórica na construção do conhecimento científico, principalmente,quando usamos estas informações nas propostas <strong>de</strong> ensino, porque <strong>de</strong>ssa formapo<strong>de</strong>mos, por ex<strong>em</strong>plo, proporcionar um ensino com uma contextualização históricab<strong>em</strong> mais ampla. No entanto, achamos que as citações realiza<strong>da</strong>s pelos autores doslivros <strong>em</strong> questão estão volta<strong>da</strong>s mais para o ‘começo’ <strong>da</strong>s <strong>de</strong>scobertas dos fenômenoscitados, não <strong>da</strong>ndo continui<strong>da</strong><strong>de</strong> à evolução <strong>da</strong>s idéias constituí<strong>da</strong>s acerca dosfenômenos <strong>de</strong>scobertos.TABELA 5.1FENÔMENOS FÍSICOS ASSOCIADOS AO CONCEITO CAMPO ELÉTRICOManuaisSEARS – FÍSICA:ELETRICIDADE EMAGNETISMOHALLIDAY –FUNDAMENTOS DE FÍSICA:ELETROMAGNETISMOTIPLER – FÍSICA:ELETRICIDADE,MAGNETISMO E ÓPTICAFenômenos associados ao saber campo elétricoDescoberta que o âmbar, quando atritado com a lã, atrai pequenos corposDescoberta dos gregos <strong>em</strong> relação ao âmbar e à magnetita; a <strong>de</strong>scoberta doeletromagnetismo por Orsted por meio <strong>da</strong> observação <strong>da</strong> <strong>de</strong>flexão <strong>da</strong> agulha<strong>de</strong> uma bússola.Descoberta pelos gregos <strong>da</strong>s proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s do âmbar, quando atritado;fenômenos <strong>de</strong> eletrização com objetos, como: bastões <strong>de</strong> vidro e <strong>de</strong> plástico,pelicas e se<strong>da</strong>, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> atritados entre si repel<strong>em</strong>-se e/ou atra<strong>em</strong>-se.


115ManuaisBEATRIZ ALVARENGA -CURSO DE FÍSICAPENTEADO – FÍSICACONCEITOS EAPLICAÇÕESNOTAS DE AULA – CAMPOELÉTRICOFenômenos associados ao saber campo elétricoOs fenômenos eletrostáticos associados ao âmbar <strong>de</strong>scobertos pelos gregos.As <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> Gilbert <strong>em</strong> relação a outras substâncias que secomportavam como o âmbar, quando atritados; fenômeno <strong>da</strong> repulsão elétricaobservado por Nicolo Cabeo; fenômenos <strong>de</strong> eletrização quando se atrita umarégua <strong>de</strong> plástico com uma se<strong>da</strong> ou um pente com o cabelo ou uma roupa <strong>de</strong>náilon quando é atrita<strong>da</strong> com o nosso corpo.A orig<strong>em</strong> <strong>da</strong> palavra eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, associa<strong>da</strong> ao âmbar; a <strong>de</strong>scoberta por Gilbert<strong>de</strong> outras substâncias que apresentam proprie<strong>da</strong><strong>de</strong>s elétricas.Não há citações <strong>de</strong>sta natureza.Em relação ao conteúdo campo elétrico, nestes livros e na nota <strong>de</strong> aula,também observamos que a forma como o conteúdo foi introduzido é particular a ca<strong>da</strong>um <strong>de</strong>les. Isso po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>vido à preferência dos autores, mas ressaltamos apossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> que a abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> pe<strong>da</strong>gógica proporciona, <strong>de</strong>stacando ain<strong>da</strong> estapossibili<strong>da</strong><strong>de</strong> como uma conseqüência do próprio processo transpositivo. Naconstrução do conceito <strong>de</strong> campo elétrico os autores propõ<strong>em</strong> situações ‘artificiais’para elaborar este conceito e, assim, partindo <strong>de</strong>stas situações, <strong>em</strong>bora não esclareçama natureza do campo, eles direcionam a formulação do conceito para a mat<strong>em</strong>atização<strong>de</strong>ste, expressando o campo elétrico por meio <strong>de</strong> uma equação mat<strong>em</strong>ática, on<strong>de</strong> ajustificativa <strong>da</strong> <strong>de</strong>finição mat<strong>em</strong>ática se fun<strong>da</strong> na constatação do campo <strong>de</strong> formaexperimental.O livro PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações e as NOTAS DEAULA – Campo Elétrico não <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> estas situações ’artificiais’, porémadmit<strong>em</strong> o campo elétrico como uma região do espaço, fato que ocorre também com olivro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física.No livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo e BEATRIZALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física o conceito <strong>de</strong> campo elétrico é introduzido por meio<strong>de</strong> uma ilustração, on<strong>de</strong> se diz existir um campo elétrico <strong>em</strong> torno <strong>de</strong> um corpocarregado s<strong>em</strong> dizer o que é <strong>de</strong> fato este campo, constatado por meio <strong>de</strong> uma carga <strong>de</strong>prova e <strong>de</strong>pois, <strong>de</strong>finido mat<strong>em</strong>aticamente. Já no livro HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong>Física: Eletromagnetismo, o conceito é introduzido por meio <strong>de</strong> uma probl<strong>em</strong>atização


116e analogias com outros campos, principalmente, o gravitacional on<strong>de</strong> tomam comomo<strong>de</strong>lo mat<strong>em</strong>ático. Por sua vez, nos livros TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>,Magnetismo e Óptica e PENTEADO – Física Conceitos e Aplicações a introdução doconceito <strong>de</strong> campo elétrico se faz por meio <strong>de</strong> um questionamento e uma afirmaçãosobre o campo, quando <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> <strong>de</strong>fine-se mat<strong>em</strong>aticamente o campo elétrico. Noentanto, as NOTAS DE AULA – Campo Elétrico, do professor P49 introduz oconceito <strong>de</strong> campo elétrico por meio <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>finição e uma equação mat<strong>em</strong>ática.Nas quatro formas <strong>de</strong> construção do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, conform<strong>em</strong>ostra a tabela 5.2, observamos os esforços dos autores <strong>em</strong> construir este conceitotomando, <strong>em</strong> alguns casos, como ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong>, uma situação física possível <strong>de</strong> serverifica<strong>da</strong>. Para estas construções os autores propõ<strong>em</strong> algumas situações <strong>em</strong> queaparec<strong>em</strong> figuras <strong>de</strong> cargas elétricas e com argumentos físicos relacionados a estassituações, estabelec<strong>em</strong> o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. No caso dos livros PENTEADO– Física Conceitos e Aplicações e TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo eÓptica, acrescenta-se uma argumentação mat<strong>em</strong>ática, porém, <strong>em</strong> relação aos outrosautores, apenas uma equação mat<strong>em</strong>ática.TABELA 5.2FORMAS DE INTRODUÇÃO DO CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICOManuaisSEARS – FÍSICA: ELETRICIDADE E MAGNETISMOBEATRIZ ALVARENGA – CURSO <strong>de</strong> FÍSICAHALLIDAY – FUNDAMENTOS DE FÍSICA:ELETROMAGNETISMOTIPLER – FÍSICA: ELETRICIDADE, MAGNETISMO EÓPTICAPENTEADO – FÍSICA CONCEITOS E APLICAÇÕESNOTAS DE AULA – CAMPO ELÉTRICOFormas <strong>de</strong> introdução do conceito <strong>de</strong> campoelétricoIlustração + <strong>de</strong>finição e/ou constatação+ expressãomat<strong>em</strong>ática (usa<strong>da</strong>, também, como <strong>de</strong>finição)Probl<strong>em</strong>atização + analogias com outros campos(principalmente, o campo gravitacional) + expressãomat<strong>em</strong>ática (análoga ao do campo gravitacional)Questionamento + <strong>de</strong>finição e constatação +expressão mat<strong>em</strong>ática (construí<strong>da</strong> a partir <strong>de</strong> umasentença)Definição + figuras + expressão mat<strong>em</strong>ática (usa<strong>da</strong>,também, como <strong>de</strong>finição)O que se observa nesta análise é que todos os autores possu<strong>em</strong> a sua proposta<strong>de</strong> ensino para o conceito <strong>de</strong> campo elétrico e que to<strong>da</strong>s procuram chegar ao mesmoobjetivo, ou seja, formular um conceito <strong>de</strong> campo elétrico que traduza <strong>de</strong> forma físicae mat<strong>em</strong>ática esta gran<strong>de</strong>za. No entanto, não se diz fisicamente o que é o campoelétrico, apesar <strong>de</strong> mostrar<strong>em</strong> que o mesmo existe, <strong>em</strong>bora a sua formulação


117mat<strong>em</strong>ática seja apresenta<strong>da</strong>. Em relação à natureza física do campo elétrico écompreensível que ela não tenha aparecido nas construções do conceito <strong>de</strong> campoelétrico nos livros analisados, até porque este não apareceu nos textos que revelaram asua criação e n<strong>em</strong> foi <strong>em</strong> outro momento conta<strong>da</strong> na história <strong>da</strong> Física. As propostas <strong>de</strong>elaboração do conceito <strong>de</strong> campo elétrico analisa<strong>da</strong>s reflet<strong>em</strong> a ausência e necessi<strong>da</strong><strong>de</strong><strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo físico que represente <strong>de</strong> forma a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong> esta gran<strong>de</strong>za. Estanecessi<strong>da</strong><strong>de</strong> é mais explicita no âmbito do ensino <strong>de</strong>ste conceito.As formas como o conceito <strong>de</strong> campo elétrico foi introduzido e elaboradotêm <strong>em</strong> comum o objeto campo elétrico, no entanto, os saberes formulados por ca<strong>da</strong>livro t<strong>em</strong> <strong>em</strong> si suas particulari<strong>da</strong><strong>de</strong>s e, portanto, suas diferenças. No entanto, para oslivros, os autores comungam entre si a forma como <strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> as aplicações docálculo mat<strong>em</strong>ático para a <strong>de</strong>terminação do campo elétrico numa situação específica. Eassim, o faz<strong>em</strong> para cargas puntuais e outros corpos com geometrias específicas, comoanel, disco, barra, planos etc, usando uma ferramenta mat<strong>em</strong>ática como o cálculodiferencial e integral. Usam também a lei <strong>de</strong> Gauss para o cálculo do campo elétrico.Este aparato mat<strong>em</strong>ático, quando <strong>de</strong>senvolvido e aplicado, necessita <strong>de</strong> outrosconhecimentos tão complexos ou mais difíceis do que o próprio conceito <strong>de</strong> campoelétrico. Isso contribui para que este conceito se torne mais abstrato ain<strong>da</strong>. Já os textosdos manuais <strong>da</strong> Educação Básica, calculam o campo elétrico para cargas puntuais e nocaso do livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física e <strong>da</strong>s NOTAS DE AULA –Campo Elétrico, também para uma esfera carrega<strong>da</strong>. No entanto, somente os autoresdo livro BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física faz<strong>em</strong> uma observação <strong>em</strong>relação ao cálculo do campo elétrico na superfície <strong>de</strong> uma esfera carrega<strong>da</strong>, on<strong>de</strong>diz<strong>em</strong> que este não será realizado porque exige cálculos mat<strong>em</strong>áticos <strong>de</strong> nível superiore recomen<strong>da</strong>m para que os professores evit<strong>em</strong> cálculos <strong>de</strong> campos elétricos comgeometrias complica<strong>da</strong>s, pois estes não acrescentam novas idéias físicas importantes.Por outro lado, as aplicações físicas ou situações do cotidiano, chama<strong>da</strong>s <strong>de</strong>práticas sociais <strong>de</strong> referência, associa<strong>da</strong>s ao campo elétrico e relaciona<strong>da</strong>s na tabela 5.3


118po<strong>de</strong>m aproximar este conceito <strong>da</strong> reali<strong>da</strong><strong>de</strong> do aluno, tornando o conceito menosabstrato. Algumas <strong>de</strong>ssas situações são cita<strong>da</strong>s pelos livros BEATRIZ ALVARENGA- Curso <strong>de</strong> Física, HALLIDAY – Fun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> Física: Eletromagnetismo e TIPLER– Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica e uma vez no livro PENTEADO – FísicaConceitos e Aplicações, porém está ausente no livro SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> eMagnetismo e nas NOTAS DE AULA – Campo Elétrico. Estas práticas, conformeapontou Martinand (1986), aproximam o conteúdo com a cultura e o cotidiano doaluno e proporcionam para o ensino uma oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> uma re-contextualizaçãopara o conteúdo <strong>de</strong> ensino.TABELA 5.3A ex<strong>em</strong>plo <strong>da</strong>s anteriores, a tabela a seguir sintetiza essas observações.PRÁTICAS SOCIAS DE REFERÊNCIAManuaisSEARS – FÍSICA: ELETRICIDADEE MAGNETISMOHALLIDAY – FUNDAMENTOS DEFÍSICA: ELETROMAGNETISMOTIPLER – FÍSICA:ELETRICIDADE, MAGNETISMO EÓPTICABEATRIZ ALVARENGA - CURSODE FÍSICAPENTEADO – FÍSICACONCEITOS E APLICAÇÕESNOTAS DE AULA – CAMPOELÉTRICOPráticas sociais <strong>de</strong> referência do saber campo elétricoEletrização do automóvel atritado com o ar; eletrização <strong>da</strong> folha <strong>de</strong> papelatrita<strong>da</strong> na prensa topográfica; eletrização do pente atritado com ocabelo.Uma probl<strong>em</strong>atização que envolve o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> comunicação <strong>da</strong> son<strong>da</strong>Voyager 2 com a Terra durante a sua viag<strong>em</strong> <strong>em</strong> direção a Urano.Aplicações práticas <strong>da</strong> idéia do campo na invenção e <strong>de</strong>senvolvimento dorádio, do ra<strong>da</strong>r, <strong>da</strong> televisão, dos motores, geradores e transformadores.Determinação <strong>da</strong> razão entre a carga e a massa do elétron por J. J.Thomson.Ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong> raios catódicos nos osciloscópios, nos monitores <strong>de</strong>computadores e nos tubos <strong>de</strong> imagens <strong>de</strong> aparelhos TV.Fenômenos associados à blin<strong>da</strong>g<strong>em</strong> eletrostática (válvula <strong>de</strong> TV,<strong>de</strong>scarga elétrica num carro), à rigi<strong>de</strong>z dielétrica (trovão e raio) e aopo<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s pontas (pára-raios) e duas experiências associa<strong>da</strong>s a estesfenômenos.Uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> que o estu<strong>da</strong>nte visualiza um campo elétricotridimensional.Não exist<strong>em</strong> referências <strong>de</strong> ex<strong>em</strong>plos <strong>de</strong>sta natureza.O objeto do saber campo elétrico, quando introduzido por Michael Fara<strong>da</strong>y<strong>em</strong> meados do século XIX, consistia num mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> forças que sedistribu<strong>em</strong> simetricamente ao redor <strong>da</strong>s cargas elétricas, preenchendo todo o espaço noentorno <strong>da</strong> carga. Através <strong>da</strong> teoria eletromagnética, Maxwell formulou este conceitoproporcionando uma equação mat<strong>em</strong>ática para o seu cálculo por meio <strong>da</strong> equação4.36. No entanto, <strong>de</strong> forma análoga ao campo gravitacional, Maxwell <strong>de</strong>finiu a


119intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> elétrica, ou seja, a intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> do campo elétrico para medir a forçaelétrica sobre uma carga.Nos livros <strong>de</strong> Física <strong>em</strong> questão, o objeto <strong>de</strong> ensino aparece nas formas <strong>de</strong>saberes diferentes, principalmente, <strong>em</strong> relação ao objeto do saber conforme a tabela5.4. Nestes livros o objeto <strong>de</strong> ensino campo elétrico está <strong>de</strong>limitado pela própriaconstrução do conceito e aparec<strong>em</strong>, portanto, <strong>da</strong> forma como foi introduzido oconceito <strong>de</strong> campo elétrico. Porém, a natureza evi<strong>de</strong>ncia<strong>da</strong> pela forma como foiconstruí<strong>da</strong> ou apresenta<strong>da</strong> é diferente <strong>da</strong>quela presente no saber campo elétrico,quando foi criado. Esta diferença é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong>, principalmente, às modificações sofri<strong>da</strong>spelo saber para torná-lo ensinável.TABELA 5.4CONCEITO DE CAMPO ELÉTRICOManuaisSEARS – FÍSICA: ELETRICIDADE EMAGNETISMOHALLIDAY – FUNDAMENTOS DEFÍSICA: ELETROMAGNETISMOTIPLER – FÍSICA: ELETRICIDADE,MAGNETISMO E ÓPTICABEATRIZ ALVARENGA - CURSODE FÍSICAPENTEADO – FÍSICA CONCEITOSE APLICAÇÕESNOTAS DE AULA – CAMPOELÉTRICODefinição do saber campo elétricoO quociente entre a força F que atua sobre uma carga <strong>de</strong> provapositiva, q’, situa<strong>da</strong> nesse ponto e essa carga, e E = F q Define por meio <strong>da</strong> expressão: E = F qÉ o quociente entre a força F resultante e a carga elétrica q, e E = F q .Não se <strong>de</strong>fine o campo elétrico, porém afirma-se que ele existe, ouseja, o campo elétrico existe <strong>em</strong> um ponto, quando uma carga sofre aação <strong>de</strong> uma força elétrica coloca<strong>da</strong> neste ponto.É a região do espaço que envolve a carga elétrica, e E = F q .É a região do espaço <strong>em</strong> que partículas eletricamente carrega<strong>da</strong>ssofr<strong>em</strong> a ação <strong>de</strong> força ou adquir<strong>em</strong> energia <strong>de</strong>vido à sua cargaelétrica.Em relação às linhas <strong>de</strong> força, apesar <strong>da</strong>s informações que elas po<strong>de</strong>mfornecer acerca do campo, para os livros <strong>em</strong> questão e as NOTAS DE AULA, oobjetivo principal é proporcionar uma visualização do campo elétrico, passando a teruma utili<strong>da</strong><strong>de</strong> apenas como uma ferramenta. No entanto, no âmbito <strong>da</strong> criação docampo elétrico as linhas <strong>de</strong> força são a essência do mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y e a concepçãoconcreta <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> campo elétrico. Assim, os textos que não tomam as linhas <strong>de</strong> forçacomo um mo<strong>de</strong>lo que fun<strong>da</strong>menta a idéia <strong>de</strong> campo elétrico, per<strong>de</strong>m a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>proporcionar à idéia <strong>de</strong> campo elétrico uma concepção não abstrata. No entanto, as


120linhas <strong>de</strong> força cumpr<strong>em</strong> outro papel nos textos analisados, ou seja, <strong>da</strong> visualização docampo elétrico. Assim, praticamente todos os textos dos manuais analisados diz<strong>em</strong> queas linhas <strong>de</strong> força foram introduzi<strong>da</strong>s por Fara<strong>da</strong>y para a visualização do campoelétrico.As gran<strong>de</strong>s ausências nos textos dos livros e nas NOTAS DE AULA <strong>em</strong>questão estão relaciona<strong>da</strong>s com a contextualização e a personalização do saber. Apesardo fato <strong>da</strong> <strong>de</strong>scontextualização e <strong>da</strong> <strong>de</strong>spersonalização ser uma conseqüência <strong>da</strong>própria transposição didática, este <strong>de</strong>ve ser minimizado, pois um saber que traz na suaelaboração informações acerca <strong>da</strong> sua gênese, filiação, dos probl<strong>em</strong>as e questõesenvolvidos na sua criação, do t<strong>em</strong>po e circunstância <strong>em</strong> que foi criado proporciona umensino com muito mais informação e riqueza <strong>de</strong> <strong>de</strong>talhes, além <strong>de</strong> <strong>de</strong>monstrar a ciênciacomo uma construção humana e social. No entanto, <strong>em</strong> relação à introdução doconceito <strong>de</strong> campo elétrico, apenas o livro PENTEADO – Física Conceitos eAplicações e as NOTAS DE AULA – Campo Elétrico mencionam que foi Fara<strong>da</strong>yqu<strong>em</strong> introduziu este conceito.No caso do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, a principal per<strong>da</strong> está nodistanciamento <strong>da</strong> discussão que proporcionou a Fara<strong>da</strong>y elaborar este conceito e quehoje se constitui num dos conceitos fun<strong>da</strong>mentais para o Ensino <strong>de</strong> Física. Ain<strong>da</strong>, estedistanciamento proporcionou, nos textos <strong>de</strong> ensino analisados, uma confusão nacompreensão <strong>da</strong> idéia <strong>de</strong> força <strong>de</strong> campo e força <strong>de</strong> ação à distância ou a concepção <strong>de</strong>campo e a concepção <strong>de</strong> ação à distância. Esta discussão foi inicia<strong>da</strong> no século XVII,quando se estabeleceu a mecânica newtoniana e, principalmente, com a lei <strong>da</strong>Gravitação Universal e a lei <strong>de</strong> Coulomb, que tomavam como pressuposto que oscorpos interagiam obe<strong>de</strong>cendo a uma simetria física e a lei do inverso do quadrado <strong>da</strong>distância. Porém, o próprio Newton não concor<strong>da</strong>va com a concepção <strong>da</strong> ação àdistância e, com a <strong>de</strong>scoberta do efeito magnético produzido por uma corrente elétrica,a simetria foi quebra<strong>da</strong> e discussão se acirrou mais ain<strong>da</strong>. Assim, observamos que estaprobl<strong>em</strong>ática, conforme mostramos na tabela 5.5, está ausente nos textos <strong>em</strong> questão,


121ou seja, não houve o resgate <strong>de</strong>ste <strong>em</strong>bate histórico que tinha na concepção <strong>de</strong> ação àdistância uma forte i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> com a mecânica newtoniana, apesar do próprio Newtonnão concor<strong>da</strong>r com esta concepção. No entanto, os livros SEARS – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>e Magnetismo, TIPLER – Física: Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong>, Magnetismo e Óptica e PENTEADO –Física Conceitos e Aplicações , os autores afirmam que a força elétrica exerci<strong>da</strong> sobreum corpo é <strong>de</strong> ação à distância e logo <strong>de</strong>pois diz<strong>em</strong> que esta mesma força é exerci<strong>da</strong>pelo campo gerado e não mais pela carga. Não fica claro no texto que <strong>de</strong>ve se adotarapenas uma concepção. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> são duas concepções distintas e o fato <strong>de</strong>pressupormos uma <strong>de</strong>las como ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira, a outra se torna uma negação e,dificilmente, adotando uma, chegar<strong>em</strong>os até a outra. Já nos livros SEARS – Física:Eletrici<strong>da</strong><strong>de</strong> e Magnetismo e BEATRIZ ALVARENGA - Curso <strong>de</strong> Física, os autoresdiz<strong>em</strong> que a força elétrica que atua sobre uma carga é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à ação do campo elétricoe não mais <strong>de</strong> forma instantânea e direta, como pensavam os físicos antigamente.Porém, nas NOTAS DE AULA – Campo Elétrico o autor menciona, apenas, que oconceito <strong>de</strong> campo elétrico foi introduzido para explicar o fenômeno <strong>da</strong> ação àdistância.TABELA 5.5 CONCEPÇÕES DAS INTERAÇÕES ELÉTRICAS ENTRE OS CORPOSSEARS – FÍSICA:ELETRICIDADE EMAGNETISMOHALLIDAY –FUNDAMENTOS DEFÍSICA:ELETROMAGNETISMOTIPLER – FÍSICA:ELETRICIDADE,MAGNETISMO E ÓPTICABEATRIZ ALVARENGA -CURSO DE FÍSICAForças <strong>de</strong> ação àdistânciaForça elétrica é umaforça <strong>de</strong> ação àdistância.No início os físicospensavam que a forçaelétrica fosse umainteração direta einstantânea entre oscorpos.Força elétrica é umaforça <strong>de</strong> ação àdistância.A força elétrica queatua sobre uma carganão é <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à açãodireta <strong>de</strong> uma cargasobre a outra.Forças <strong>de</strong> campoDiz que a força éexerci<strong>da</strong> sobre o corpopelo campo e nãodiretamente peloscorpos à distância.Atualmente, nasinterações elétricas oscampos elétricos sãocomo um agenteintermediário entre ascargas.A força elétrica passa aser então exerci<strong>da</strong> pelocampoA força elétrica que atuasobre uma carga é<strong>de</strong>vi<strong>da</strong> à ação do campoelétrico.A probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>sinteraçõesNão há referência.Faz<strong>em</strong> umaprobl<strong>em</strong>atização com ot<strong>em</strong>po <strong>de</strong> comunicaçãoentre uma son<strong>da</strong> e a TerraUm questionamento <strong>de</strong>como po<strong>de</strong> uma partículaexercer uma força sobre aoutra através do espaçovazio.Não há referência.


122PENTEADO – FÍSICACONCEITOS EAPLICAÇÕESNOTAS DE AULA –CAMPO ELÉTRICOForças <strong>de</strong> ação àdistânciaForça elétrica é umaforça que atua àdistância (e que estaidéia foi supera<strong>da</strong> como conceito <strong>de</strong> campo).Não há referência.Forças <strong>de</strong> campoO campo elétrico é acausa <strong>da</strong> existência <strong>da</strong>força elétrica.Não há referência.A probl<strong>em</strong>ática <strong>da</strong>sinteraçõesNão cita as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s.O conceito <strong>de</strong> campo foicriado para explicar ofenômeno <strong>da</strong> ação àdistância.5.2 O SABER ENSINADOEm relação aos ca<strong>de</strong>rnos <strong>de</strong> anotações no período analisado, não foramencontrados nenhuma referência relaciona<strong>da</strong> aos fenômenos elétricos e magnéticos<strong>de</strong>scobertos pelos gregos, n<strong>em</strong> fatos relacionados ao eletromagnetismo <strong>em</strong> períodosposteriores. No entanto, nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong> turma P49, que correspon<strong>de</strong> às aulasregistra<strong>da</strong>s <strong>em</strong> períodos anteriores, há referências a Thales <strong>de</strong> Mileto como o<strong>de</strong>scobridor do fenômeno relacionado ao âmbar e que Gilbert foi um estudioso domagnetismo e do fenômeno <strong>da</strong> atração eletrostática, por<strong>em</strong> foi Nicolo Cabeo qu<strong>em</strong>constatou a repulsão elétrica entre os corpos carregados eletricamente. Cita, também, a<strong>de</strong>scoberta do eletromagnetismo por Orsted e uma informação que atribui a autoria <strong>da</strong>introdução do conceito <strong>de</strong> campo elétrico a outro autor que não Fara<strong>da</strong>y.Em relação ao conteúdo <strong>de</strong> campo elétrico presente no ca<strong>de</strong>rno <strong>da</strong> turma P3,este é apresentado por meio <strong>de</strong> uma figura e duas equações. Já para a turma P49, este éapresentado por uma <strong>de</strong>finição e uma figura, <strong>em</strong> segui<strong>da</strong>, <strong>de</strong>fine-se o vetor campoelétrico e ele é representado por meio <strong>de</strong> uma equação. Os textos usam as linhas <strong>de</strong>força para a uma visualização do campo elétrico.Para o cálculo do campo elétrico, as anotações mostram duas equaçõesmat<strong>em</strong>áticas que são iguais, porém o texto dos ca<strong>de</strong>rnos a turma P49 apresenta umaequação a mais. Nos textos <strong>da</strong> turma P3, exercita-se a aplicação <strong>da</strong>s equações docampo elétrico, no cálculo <strong>de</strong> alguma variável ou incógnita. Ain<strong>da</strong> <strong>em</strong> relação à


123aplicação <strong>de</strong>ste conceito ou alguma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> relaciona<strong>da</strong> ao mesmo, as anotações nãofaz<strong>em</strong> nenhuma referência.As anotações nos ca<strong>de</strong>rnos <strong>da</strong>s turmas P3 e P49 referentes ao períodoanalisado apresentam o resultado, na forma materializa<strong>da</strong>, <strong>da</strong> transposição didática doconceito <strong>de</strong> campo. O conceito <strong>de</strong> campo elétrico que elas apresentam carrega umaestrutura mínima forma<strong>da</strong> por uma <strong>de</strong>finição, uma figura e uma equação, sendo que a<strong>de</strong>finição está ausente nos textos <strong>da</strong> turma P3. Apesar <strong>de</strong> constatarmos informações <strong>de</strong>algumas <strong>de</strong>scobertas <strong>de</strong> fenômenos relacionados à eletrostática e ao eletromagnetismo,estas se tornam poucos significativas na compreensão do processo <strong>de</strong> criação doconceito <strong>de</strong> campo elétrico. Observa-se, portanto, a ausência <strong>de</strong> outros el<strong>em</strong>entospresentes <strong>em</strong> outras esferas do saber, referentes à gênese e filiação do conceito <strong>de</strong>campo elétrico, como também, a própria contextualização e probl<strong>em</strong>ática envolvendoa criação <strong>de</strong>ste conceito.O conceito <strong>de</strong> campo elétrico apresentado nos textos dos ca<strong>de</strong>rnos analisadosé muito mais abstrato que na esfera do saber a ensinar, pois el<strong>em</strong>entos e informaçõesimportantes sobre a constituição do conceito <strong>de</strong> campo elétrico ficaram <strong>de</strong> fora <strong>de</strong> suaformulação, consi<strong>de</strong>rando que estes aspectos aparec<strong>em</strong> muito pouco ain<strong>da</strong> na esfera dosaber a ensinar.


124CONSIDERAÇÕES FINAISO saber campo elétrico, conforme vimos, apresenta-se <strong>em</strong> formas distintasnas esferas acadêmica e escolar. Na esfera acadêmica, on<strong>de</strong> foi criado, observamosque este saber é um saber histórico que possuía razões fun<strong>da</strong>mentais para serestabelecido como um conhecimento físico. Este conhecimento teve i<strong>de</strong>alizadores egran<strong>de</strong>s motivações por parte <strong>de</strong>stes para se estabelecer a razoabili<strong>da</strong><strong>de</strong> dos fenômenosfísicos <strong>de</strong>scobertos que não eram explicados pela ciência até então. Na criação doconceito <strong>de</strong> campo, cumpria-se um papel, explicar como ocorriam as interaçõeselétricas e magnéticas entre os corpos, principalmente, <strong>em</strong> relação ao fenômenorelacionado ao eletromagnetismo. Para tanto, Fara<strong>da</strong>y propôs um mo<strong>de</strong>lo físico queexplicou como essas interações ocorr<strong>em</strong> e Maxwell mat<strong>em</strong>atizou este mo<strong>de</strong>lo e, pormeio <strong>de</strong> sua teoria eletromagnética, estabeleceu equações mat<strong>em</strong>áticas quepossibilitaram a sua quantificação a partir <strong>da</strong>s fontes elétricas ou magnéticas.O saber campo elétrico quando <strong>de</strong>signado como objeto <strong>de</strong> ensino sofreutransformações que resultou <strong>em</strong> um outro saber. Este saber já não ‘habita’ numaprobl<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> que sua existência proporcionava uma outra concepção, n<strong>em</strong> t<strong>em</strong> oseu nome associado aos seus i<strong>de</strong>alizadores, como também, não t<strong>em</strong> como objetivo seruma proposta que solucione um probl<strong>em</strong>a físico. To<strong>da</strong>via, este saber possui umobjetivo muito mais complexo, ou seja, ser inteligível o suficiente para que possa sercompreendido. E este é o <strong>de</strong>safio na esfera <strong>da</strong> Física Escolar, isto é, elaborar um saberque proporcione uma clara compreensão do que seja o campo elétrico. Isto, talvez, sejauma razão para a diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> proposta <strong>de</strong> ensino <strong>de</strong>ste conceito.Tanto nos textos acadêmicos quanto nos <strong>de</strong> ensino, a natureza do campoelétrico não foi esclareci<strong>da</strong> e isto talvez seja o gran<strong>de</strong> complicador na compreensãofísica <strong>de</strong>sse conceito. Em relação à esfera acadêmica, o campo elétrico é o própriomo<strong>de</strong>lo proposto por Fara<strong>da</strong>y, ou seja, o mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força foi a concepçãoinicial do conceito <strong>de</strong> campo elétrico; já na esfera escolar houve uma separação entre o


125mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> linhas <strong>de</strong> força e o conceito <strong>de</strong> campo elétrico, levando-se <strong>em</strong> consi<strong>de</strong>raçãoque este necessita ser ain<strong>da</strong> elaborado. Ou seja, constrói-se o conceito <strong>de</strong> campoelétrico a partir <strong>de</strong> outra referência, tendo como el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong>cisivo na elaboração <strong>de</strong>steconceito a experiência física que ele proporciona, ou seja, a constatação <strong>da</strong> suaexistência através <strong>de</strong> uma carga <strong>de</strong> prova.Em relação à elaboração do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, não po<strong>de</strong>mos <strong>de</strong>ixar<strong>de</strong> perceber a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> e a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> se construir uma proposta <strong>de</strong> ensino<strong>de</strong>ste conceito a partir <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo físico que o represente a<strong>de</strong>qua<strong>da</strong>mente e que dêconta dos objetivos pe<strong>da</strong>gógicos inerentes a este saber. No entanto, qual seria opossível mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> campo elétrico? O <strong>de</strong> Fara<strong>da</strong>y? Um outro mo<strong>de</strong>lo? Enten<strong>de</strong>mos,porém, que o conceito <strong>de</strong> campo elétrico elaborado a partir <strong>de</strong> um mo<strong>de</strong>lo po<strong>de</strong>riacontornar muitos probl<strong>em</strong>as que apareceram nas propostas <strong>de</strong> ensino analisa<strong>da</strong>s,principalmente relacionados à natureza abstrata <strong>de</strong>sse conceito.Em relação à transposição didática do saber campo elétrico, observa-se queeste saber chegar à sala <strong>de</strong> aula como um saber ensinado constituído basicamente <strong>de</strong>uma <strong>de</strong>finição, uma figura e duas expressões mat<strong>em</strong>áticas que o quantifica. Em relaçãoao contexto e probl<strong>em</strong>ática <strong>em</strong> que foi pensado no século XVII; aos personagensresponsáveis pela sua criação; à concepção que este conceito implica; à suaimportância como um conceito fun<strong>da</strong>mental na elaboração <strong>de</strong> outros conceitos <strong>da</strong>Física; aos avanços tecnológicos que <strong>em</strong> parte este conceito proporcionou, enfim, oque se observa nos textos analisados é que eles estão muito distantes do saber sábio,exigindo <strong>de</strong> todos aqueles que estão envolvidos no processo <strong>de</strong> criação e transmissão<strong>de</strong> conhecimentos, <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> mais pesquisas para propiciar condiçõesepist<strong>em</strong>ológicas e materiais que possam fazer a aproximação ou que pelo menos osaber ensinado cont<strong>em</strong>ple mais el<strong>em</strong>entos presentes no saber sábio.É preciso frisar, no entanto, que tanto o saber a ensinar quanto o saberensinado po<strong>de</strong>m apresentar outros el<strong>em</strong>entos ou informações nos seus textos <strong>de</strong>ensino, que extrapolam os que foram verificados nesta análise, ressaltando, nesse


126particular, o fun<strong>da</strong>mental papel dos professores <strong>em</strong> suas salas <strong>de</strong> aula, que, ao sepreparar<strong>em</strong> para suas aulas, acrescentam novos ingredientes aos textos, po<strong>de</strong>ndosuperar, através <strong>de</strong> sua docência, as eventuais lacunas presentes nos textos e contribuirpara que a necessária e <strong>de</strong>nsa transposição didática <strong>de</strong>ste saber seja alcança<strong>da</strong>.


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ANEXOS132


CARTA DE APRESENTAÇÃOCuritiba, 23 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 2006.Prezado ProfessorVenho por meio <strong>de</strong>sta solicitar a sua preciosa colaboração no meu trabalho<strong>de</strong> pesquisa do Curso <strong>de</strong> Pós-graduação <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Educação <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong>Fe<strong>de</strong>ral do Paraná.A pesquisa trata <strong>de</strong> uma análise relaciona<strong>da</strong> ao conceito <strong>de</strong> campo elétrico,<strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento <strong>em</strong> que foi criado pelos cientistas até o seu ensino na sala <strong>de</strong> aula.A justificativa <strong>de</strong>sta pesquisa se fun<strong>da</strong>menta, principalmente, na difícil compreensãopor partes dos alunos e nos textos escassos <strong>de</strong> informação acerca <strong>da</strong> construção <strong>de</strong>steconceito físico tão importante.Peço a vossa corroboração na concessão, sua e <strong>de</strong> seus alunos, <strong>da</strong>s anotaçõesrealiza<strong>da</strong>s nos ca<strong>de</strong>rnos durante as aulas <strong>de</strong> Física pelos alunos. Para tanto é precisoxerocar, s<strong>em</strong> nenhum ônus, as respectivas anotações.É necessário obter o xérox <strong>da</strong>s anotações <strong>de</strong> todos os ca<strong>de</strong>rnos que contenha asinformações passa<strong>da</strong>s durante as aulas sob a sua regência. Este conteúdo diz respeito,apenas, ao assunto disciplinar <strong>de</strong> campo elétrico, não havendo necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>, via <strong>de</strong>regra, <strong>de</strong> xerocar os conteúdos anterior e posterior ao <strong>de</strong> campo elétrico.Consi<strong>de</strong>rando a importância e o respeito <strong>de</strong> seu trabalho como Educadorperante o seu alunado, comprometo-me a não i<strong>de</strong>ntificar os alunos com os seusrespectivos ca<strong>de</strong>rnos, como também o docente.Certo <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r contar com vossa colaboração, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> já, agra<strong>de</strong>ço-lhe pelasua compreensão e contribuição no meu trabalho <strong>de</strong> pesquisa. Também, disponho-mea esclarecer qualquer dúvi<strong>da</strong> ou informação que queira fazer.Atenciosamente,Professor <strong>Otto</strong> <strong>Henrique</strong> <strong>Martins</strong> <strong>da</strong> <strong>Silva</strong>Tel. 3340-8415 ou 9921-4358E-mail: ottohmartins@seed.pr.gov.br


ROTEIRO PARA ENTREVISTA1. I<strong>de</strong>ntificação do docenteNome: _______________________________________________________________En<strong>de</strong>reço: _____________________________________________________________E-mail: ______________________________ Telefone: ________________________2. Formação profissionalCurso 1: ______________________________________________________________Instituição: _____________________ Ano <strong>de</strong> conclusão: _______________________Curso 2: ______________________________________________________________Instituição: _____________________ Ano <strong>de</strong> conclusão: _______________________3. Formação continua<strong>da</strong>Especialização: ________________________________________________________Instituição: _____________________ Ano <strong>de</strong> conclusão: _______________________Mestrado: _____________________________________________________________Instituição: _____________________ Ano <strong>de</strong> conclusão: _______________________Doutorado: ____________________________________________________________Instituição: _____________________ Ano <strong>de</strong> conclusão: _______________________4. Informações sobre o local <strong>de</strong> trabalhoEscola: _______________________________________________________________En<strong>de</strong>reço: _____________________________________________________________Telefone: _______________________ E-mail: _______________________________Disciplina: ______________________ Turma: _______________________________Disciplina: ______________________ Turma: _______________________________Data <strong>de</strong> ingresso na Escola: __________________ T<strong>em</strong>po <strong>de</strong> magistério: __________5. Roteiro <strong>da</strong> entrevistaApresentação do pesquisador:Nome: <strong>Otto</strong> H. M. <strong>da</strong> <strong>Silva</strong> - Função: Professor <strong>da</strong> SEED – PRLocal <strong>de</strong> trabalho: Portal Dia-a-dia Educação <strong>da</strong> SEED – PRFormação: Bacharel e Licenciado <strong>em</strong> Física pela UFPR e Licenciado <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>áticapela PUC-PR. Também, especialista pela UFPR. Atualmente, <strong>de</strong>senvolve umapesquisa no curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Educação pela UFPR.Apresentação <strong>da</strong> pesquisa:A pesquisa consiste numa análise <strong>de</strong> alguns aspectos <strong>da</strong> transposição didática doconceito <strong>de</strong> campo elétrico. Nesta pesquisa, verifica-se historicamente como esteconceito foi constituído e como ele se apresenta <strong>em</strong> alguns nos livros didáticos, comotambém, na sala <strong>de</strong> aula – momento <strong>em</strong> que foi ensinado.A colaboração para a pesquisa:De um universo <strong>de</strong> 77 professores pertencentes a 25 Escolas e segundo critérios <strong>de</strong>formação profissional e continua<strong>da</strong>, como também, o t<strong>em</strong>po <strong>de</strong> magistério nadisciplina <strong>de</strong> Física, selecionei você para conhece melhor a forma como compreen<strong>de</strong> eensina o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. Gostaria, portanto, <strong>de</strong> entrevistá-lo e analisar assuas NOTAS DE AULA (caso possua) e as referências bibliográficas que toma como


literatura <strong>de</strong> apoio, como também, xerocar o conteúdo <strong>de</strong> ensino anotado pelos alunosdurante as aulas <strong>de</strong> Física.Compromisso ético:Formalizo, aqui, o compromisso <strong>da</strong> não divulgação <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntificação doentrevistado neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa, como também, a utilização <strong>de</strong>stas informaçõespara fins, apenas, científicos. Assim, dirigirei ao docente <strong>em</strong> questão através <strong>de</strong> umcódigo ou um cognome.Por outro lado, tomo como pressuposto que to<strong>da</strong>s as informações, <strong>da</strong><strong>da</strong>s aqui, sãover<strong>da</strong><strong>de</strong>iras e ocorreram apenas com o entrevistado.Perguntas:1. Perguntar sobre a(s) disciplina(s) (teórica e experimental) e livro(s) didático(s) <strong>em</strong>que estudo o conceito <strong>de</strong> campo elétrico:a. Nome <strong>da</strong>(s) disciplina(s);b. Nome do(s) autor(es) do(s) livro(s) didático(s) adotado(s) na(s)disciplina(s);2. Perguntar sobre o ensino e a aprendizag<strong>em</strong> do conceito <strong>de</strong> campo elétrico no seucurso <strong>de</strong> graduação:a. O ensino do conceito <strong>de</strong> campo elétrico associado a aspectos <strong>da</strong> autoria<strong>da</strong> criação, ao contexto <strong>da</strong> criação, aos probl<strong>em</strong>as engendrados <strong>da</strong>criação. Também, aspectos <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática utiliza<strong>da</strong> no ensinoe aplicação do campo elétrico.b. A aprendizag<strong>em</strong> do conceito <strong>de</strong> campo elétrico, frente aos aspectosapontados no it<strong>em</strong> “a”.3. Perguntar sobre a aula <strong>de</strong> Física:a. A preparação do texto ou notas <strong>da</strong> aula ou o uso direto do livro;b. A bibliografia <strong>de</strong> apóio na construção do texto ou <strong>da</strong>s notas (casoocorra);c. A apresentação do conteúdo <strong>de</strong> ensino durante a aula;d. A forma <strong>de</strong> registro do conteúdo <strong>de</strong> ensino pelos alunos;4. Perguntar sobre o ensino do conceito <strong>de</strong> campo elétrico na aula <strong>de</strong> Física:a. Aspectos presentes no ensino do conceito <strong>de</strong> campo, como: filiação,gênese, histórico, contextualização e <strong>de</strong> linguag<strong>em</strong> mat<strong>em</strong>ática(equação);b. Recursos didáticos utilizados neste ensino;c. A forma <strong>de</strong> fixação do conceito por meio <strong>de</strong> fenômenos físicos(ex<strong>em</strong>plos teóricos ou práticos) ou cálculos mat<strong>em</strong>áticos.5. Perguntar sobre as anotações dos alunos na aula <strong>de</strong> Física:a. As anotações que os alunos faz<strong>em</strong> <strong>da</strong> aula <strong>em</strong> ca<strong>de</strong>rnos ou fichários oufolhas avulso;


. As anotações são credita<strong>da</strong>s (pontos ou notas) <strong>de</strong> acordo com critérios,como: organização, aparência, conteúdo, etc e são cobra<strong>da</strong>sregularmente.


CONVERSANDO COM A TURMA.Apresentação do pesquisador:Nome: <strong>Otto</strong> H. M. <strong>da</strong> <strong>Silva</strong>Função: Professor <strong>da</strong> SEED – PRLocal <strong>de</strong> trabalho: Portal Dia-a-dia Educação <strong>da</strong> SEED – PRFormação: Bacharel e Licenciado <strong>em</strong> Física pela UFPR e Licenciado <strong>em</strong> Mat<strong>em</strong>áticapela PUC-PR. Também, especialista pela UFPR. Atualmente, <strong>de</strong>senvolve umapesquisa no curso <strong>de</strong> Mestrado <strong>em</strong> Educação pela UFPR.Apresentação <strong>da</strong> pesquisa:A pesquisa consiste numa análise <strong>de</strong> alguns aspectos <strong>da</strong> transposição didática doconceito <strong>de</strong> campo elétrico. Nesta pesquisa, verifica-se historicamente como esteconceito foi constituído e como ele se apresenta <strong>em</strong> alguns nos livros didáticos, comotambém, na sala <strong>de</strong> aula – momento <strong>em</strong> que foi ensinado.A colaboração para a pesquisa:De um universo <strong>de</strong> 25 Escolas e (tantas) turmas <strong>de</strong> terceira série do Ensino Médio, estaturma foi seleciona<strong>da</strong>, por meio do professor, para participar <strong>de</strong> uma investigaçãosobre o conceito <strong>de</strong> campo elétrico. Parte <strong>de</strong>sta pesquisa investiga a forma como seapresenta o conceito <strong>de</strong> campo elétrico nas anotações realiza<strong>da</strong>s por vocês nas aulas <strong>de</strong>Física. Gostaria, portanto, <strong>de</strong> analisar estas anotações, xerocando o conteúdo <strong>de</strong> ensinoanotado durante as aulas <strong>de</strong> Física.Compromisso ético:Formalizo, aqui, o compromisso <strong>da</strong> não divulgação <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira i<strong>de</strong>ntificação dosautores dos ca<strong>de</strong>rnos neste trabalho <strong>de</strong> pesquisa, como também, a utilização <strong>de</strong>stasinformações para fins, apenas, científicos. Assim, dirigirei ao ca<strong>de</strong>rno <strong>em</strong> questãoatravés <strong>de</strong> um código ou um cognome.Por outro lado, tomo como pressuposto que to<strong>da</strong>s as informações conti<strong>da</strong>s nosca<strong>de</strong>rnos são ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iras e ocorreram apenas durante a aula <strong>de</strong> Física.Conversa com alguns alunos:Caso haja necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> será realiza<strong>da</strong> uma conversa com um ou mais alunos. Aconversa está vincula<strong>da</strong> a um possível esclarecimento acerca <strong>da</strong>s anotações doca<strong>de</strong>rno, on<strong>de</strong> agen<strong>da</strong>r<strong>em</strong>os um outro momento.


QUESTIONÁRIO PARA O ALUNO1. Você copia a matéria <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> Física?( ) sim ( ) não2. Em caso afirmativo vá para a questão 3. Caso sua resposta seja “Não”, respon<strong>da</strong>:Você faz algum tipo <strong>de</strong> anotação <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> Física? Qual?R:___________________________________________________________________Se você não faz nenhuma anotação <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> Física, entregue o questionário para oresponsável.Obrigado pela sua contribuição.3. A on<strong>de</strong> você copia ou faz anotações <strong>da</strong> aula <strong>de</strong> Física?( ) no ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Física; ( ) no ca<strong>de</strong>rno misturado com outras disciplinas;( ) <strong>em</strong> folhas avulso; ( ) outro meio: __________________________.4. O que você anota ou copia?( ) o que o professor passa no quadro, mas só aquilo que eu acho importante;( ) tudo que o professor passa no quadro;( ) tudo que o professor passa no quadro e, também, quando fala alguma coisaimportante que não está no quadro;( ) tudo que o professor passa no quadro e, também, quando fala alguma coisaimportante que não está no quadro, mais as minhas observações.5. Caso você faça algumas observações no seu ca<strong>de</strong>rno <strong>de</strong> Física, que tipo <strong>de</strong>observação costuma fazer?R: ________________________________________________________________________________________________________________________________________6. Há alguma coisa que costuma fazer na aula <strong>de</strong> Física <strong>em</strong> seu ca<strong>de</strong>rno que nãoaparece nesta relação e você gostaria <strong>de</strong> relatar?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________Obrigado pela sua colaboração.Atenciosamente, Professor <strong>Otto</strong> H. M. <strong>da</strong> <strong>Silva</strong>.


CÓPIAS DAS NOTAS DE AULA DO PROFESSOR P49


CÓPIAS DAS ANOTAÇÕES DAS AULAS DE FÍSICA


CÓPIAS DAS ANOTAÇÕES DE UM CADERNO DE FÍSICA DA TURMA P3


CÓPIAS DAS ANOTAÇÕES DE UM CADERNO DE FÍSICA DA TURMA P49

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