12.07.2015 Views

Publicação - Culturgest

Publicação - Culturgest

Publicação - Culturgest

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

6da arte, às múltiplas valências da experiênciaperceptiva e, principalmente, à urgentenecessidade de desenvolver modelos alternativospara a função social da arte e para asua secular inscrição no domínio do real.Como instrumento de sobrevivência,esta fuga ao real ou à pintura como sistemaeminentemente referencial implicou, jádurante as primeiras décadas do século XX,o desenvolvimento de um processo dialécticoque equilibrava nos seus pólos umaideia de progresso no sentido da obtençãode um purismo na pintura e o desenvolvimentode uma noção de transcendênciarepresentacional. As propostas de artistascomo Piet Mondrian, Wassili Kandisnky ouKasimir Malevich revelaram-se fulcrais paraa consolidação do projecto abstracto comomovimento em direcção à autonomia dasuperfície pictórica e dos seus elementosconstituintes enquanto gramática artísticaauto-suficiente 4 . Diverso e polivalente, oimpulso abstracto de então sinaliza a complexidadedessa operação de cancelamentodo real na pintura – a necessidade de a libertarde qualquer função ilustrativa ou descritivaem relação aos objectos do mundo, preservando,contudo, a possibilidade de umatroca intersubjectiva: uma via aberta para oencontro sensível entre artista, obra de artee observador.A questão situava-se, portanto, no domínioda representação – isto é, da construçãode imagens – e das expectativas do públicoquanto à função alegórica do objecto artístico.O modo como a prática de SóniaAlmeida aflora esta problemática parecedesenvolver-se segundo dois eixos distintos.Numa primeira instância, podemosnotar como obras como Escape (2008) ouPink Space (2008) apostam na tensãogerada entre figura e fundo para testarquestões de hierarquia formal e desestabilizara ordem perspéctica da composição.Este último efeito é particularmente visívelem Pink Space, onde a sensação de profundidade– conseguida através de uma sucessãode figuras verticais conjugadas comuma linha diagonal que atravessa toda a pintura– é ameaçada pela presença de formasrectangulares que insistentemente nosrecordam o carácter plano e opaco dasuperfície pictórica. Por seu lado, em Escapea tónica parece centrar-se de modo maisevidente na questão do valor representacionalda figura. Dominada pela presença deuma forma triangular que se destaca de umfundo sólido, esta pintura reencena omomento paradigmático em que a abstracçãomoderna (ou, pelo menos, uma partedela) se depara com um léxico que lhe pareciaendémico: o universo das figuras geométricas.Ainda que irregular, a formacentral desta obra é imediata e inequivo -camente identificada como um triângulo, eos triângulos – como os quadrados, rectângulosou círculos – são entidades que escapamao domínio da representação. Não épossível representar um triângulo; podemosapenas produzi-lo, materializar a sua existênciae assinalar a sua natureza autotélica 5 .Ainda neste domínio, e numa segundainstância, importa notar que a obra destaartista é marcada pela presença, ora assumida,ora dissimulada, de grelhas. São dissoexemplo obras como Red and Other Forms(2008), Black Rectangle (2008) ou Grids(2009). Num famoso texto dedicado à grelhaenquanto dispositivo pictórico 6 , RosalindKrauss descreve este elemento comoemblemático da vontade moderna de suspendertodo e qualquer vestígio de discursoou de narratividade na pintura, remetendo-apara um universo exclusivamente visual.Mais que isso, a grelha, enquanto matrizordenadora, assumia-se como estruturaantinatural, antimimética e anti-real – oreverso do quadro entendido como janela

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!