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Publicação - Culturgest

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9uma estratégia particularmente eficaz narevelação da experiência da cor comovivência específica, para a qual até umaligeira alteração abre um abismo sensitivocapaz de revelar a riqueza e complexidadede uma leitura puramente óptica e livre dequalquer teor semântico ou expressivo.O grau de atenção exigido por este projectoé transversal a toda a produção artísticade Sónia Almeida. Esta demanda pelopormenor e pelo elemento discreto pode serinclusive considerada como uma das premissasfundamentais da sua prática. Comonos é dado perceber através dos seuscadernos ou diários gráficos, uma especialatenção é dedicada ao potencial pictóricodos objectos do seu quotidiano. Mesmo odetalhe aparentemente mais insignificantepode despoletar um conjunto de operaçõesque procuram testar a sua viabilidadeenquanto pintura. Estilizados, reenquadradose conjugados, os elementos registadosnestes cadernos impulsionam uma experimentaçãoem larga medida intuitiva, criandocomposições que, na sua maioria, frustramqualquer tentativa de os organizar em sistemasde signos inteligíveis. Se a generalidadedestas pinturas nunca chega a ser transpostapara outros formatos ou suportes, asque conhecem uma outra vida na tela sãosujeitas a um complexo processo de traduçãoque, frequentemente, elimina qualquervestígio de procedência. Esta constataçãoadquire um duplo significado: se, por umlado, afasta do trabalho da artista o fantasmade um processo de pendor conceptual,por outro afirma a absoluta singularidadede cada uma das suas obras.Abstracção, aqui e agora. Parece ser este orepto da obra de Sónia Almeida. A sua óbviarelação com os diferentes momentos históricosque marcaram o desenvolvimentodesta prática no último século dependemuito mais de uma genuína curiosidade,de uma vontade de aprendizagem empírica,do que das estratégias de apropriação oucomentário tão caras à pós-modernidade.Este não é o resultado de um processo deluto nem o exercício de uma pura ironia. Serácertamente uma reflexão sobre os termosem que a pintura abstracta pode ainda terrelevância na contemporaneidade, masisenta de qualquer nostalgia ou carácterpanfletário. Como recordou Yve-Alain Bois 7 ,o facto de a pintura abstracta moderna e assuas dialécticas internas terem chegado aum fim não implica necessariamente que apintura abstracta, enquanto projecto, tenhaterminado. Significa, sim, e em nosso entender,que a abstracção configura hoje umcampo perfeitamente instituído e livre deatritos externos, com um léxico próprio euma identidade definida, pronta a ser desafiadapor si mesma. Como reafirmam asobras presentes nesta exposição, a vitalidadedo projecto abstracto na actualidadedefende-se pela insubstituível qualidade dedar a ver para lá do que é imediatamentereconhecível, pela possibilidade de envolvero observador num universo livre de códigosprescritivos e modelos protocolares, pelainigualável oportunidade de experimentar apintura como campo de teste para a tensãoentre a experiência sensível e a ambiguidadeperceptiva. Sem culpa e sem remorsos,to be abstract, indeed.

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