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Piercings na língua: Hilda Hilst e Kiki Smith - Grupo de Estudos em ...

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182 A<strong>na</strong> Chiaraa arte do <strong>de</strong>vir. Não se trata <strong>de</strong> arte mo<strong>de</strong>rnista, arte do t<strong>em</strong>po futuro, masdaquilo que, estando a caminho, não se estabiliza numa dimensão t<strong>em</strong>poral anão ser no presente s<strong>em</strong>pre eterno da arte. São signos artísticos, no entanto,convert<strong>em</strong> a i<strong>de</strong>alida<strong>de</strong> do signo artístico como, por ex<strong>em</strong>plo, <strong>de</strong> Proust,numa dimensão material com o veneno mortal das voltas escorpiônicas sobrea consciência da perecibilida<strong>de</strong>.Como aproximar essas duas artistas que usam materiais tão diversos? Anão ser pelo modo com que a matéria fulgura nos trabalhos <strong>de</strong> ambas? Sãoartistas da experiência, não se <strong>de</strong>scolam do sentir, experimentar, vivenciaros materiais e imprimir ao material a experiência, não <strong>de</strong> uma vida, não <strong>de</strong>suas vidas, mas a experiência da experiência, seja experiência do vivido ouexperiência estética, experiência vivida do estético, vivência estética da experiência,das sensações, dos sentidos corporais, da sensibilida<strong>de</strong>, dos afetos.A matéria corporal, biológica, corruptível constitui a entrega excruciante<strong>de</strong>sse tipo <strong>de</strong> arte. O corpo humano <strong>em</strong> seus <strong>de</strong>vires, <strong>em</strong> suas metamorfosesanimais, bestiais, corpos <strong>em</strong> <strong>de</strong>composição como o <strong>de</strong> Lázaro 7 , <strong>em</strong> <strong>Hilda</strong>,corpos calci<strong>na</strong>dos como os corvos 8 <strong>de</strong> <strong>Kiki</strong> (pequenos corpos espalhados sobreo solo ama<strong>de</strong>irado da sala <strong>de</strong> exposição) compõ<strong>em</strong> um quadro repulsivo efasci<strong>na</strong>nte ao mesmo t<strong>em</strong>po, um quadro lúgubre <strong>de</strong> <strong>de</strong>solação, estão mortos,são um ‘m<strong>em</strong>ento mori’, mi<strong>na</strong>ndo a ilusão da percepção realista.Perante os olhares <strong>de</strong>sviantes <strong>de</strong> escândalo ou aturdimento dos leitoresou do público, as duas <strong>de</strong>monstram como é impossível dissolver a dúvidaprimordial sobre a criação até o momento <strong>em</strong> que <strong>de</strong>põ<strong>em</strong> as mãos, enxugamo suor e se curvam diante do fracasso. <strong>Hilda</strong> tor<strong>na</strong>-se uma pergunta: qu<strong>em</strong>fala por mim agora? <strong>Kiki</strong> pergunta: por qu<strong>em</strong> este tipo <strong>de</strong> arte fala? Ambasforçam os limites da busca, anseiam pela transcendência da própria condição,parec<strong>em</strong> <strong>de</strong>sejar a dispersão no Todo. Lugar oco, no caso <strong>de</strong> <strong>Hilda</strong>, <strong>de</strong> um<strong>de</strong>us s<strong>em</strong> função; transcendência da própria condição <strong>em</strong> formas arcaicas,larvares, folclóricas, científicas, no caso <strong>de</strong> <strong>Kiki</strong>. Matéria dolorosa, matéria <strong>de</strong>dor e <strong>de</strong> superação da dor, fragilida<strong>de</strong> e força, <strong>de</strong>rrelição (como nos gran<strong>de</strong>sespectros ensangüentados <strong>de</strong> gampi paper e methyl celulose, compostos por<strong>Kiki</strong> <strong>na</strong> década <strong>de</strong> 1980, quando muitos <strong>de</strong> seus amigos, inclusive o irmão,foram atingidos pela epi<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> AIDS 9 ), mas também <strong>de</strong> riso libertador:7 Trata-se da perso<strong>na</strong>g<strong>em</strong> do conto <strong>de</strong> mesmo nome no livro citado.8 <strong>Smith</strong>, Crows (Six Crows) 1995. Silicon Bronze.9 <strong>Smith</strong>, Tale, 1992.beewawax, microcrystaline wax, pigment, and papier-mâché, p. 154.

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