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Piercings na língua: Hilda Hilst e Kiki Smith - Grupo de Estudos em ...

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<strong>Piercings</strong> <strong>na</strong> <strong>língua</strong>189s<strong>em</strong> ter percebido <strong>em</strong> nós a possibilida<strong>de</strong> do sofrimento, assim como a daabjeção” 24 . Tanto <strong>Hilda</strong> – confira-se, <strong>em</strong> Fluxo-flo<strong>em</strong>a, o conto “Lazarus”– quanto <strong>Kiki</strong> voltam-se para as patologias corporais como forças exercidassobre a matéria, forças reveladoras do t<strong>em</strong>po-espaço, usam-<strong>na</strong>s como umaforma <strong>de</strong> meditação sobre a experiência <strong>de</strong> se estar vivo. O corpo humanoe seus pa<strong>de</strong>cimentos exerceram sobre <strong>Kiki</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> quando ela era criança,uma fasci<strong>na</strong>ção retomada <strong>em</strong> sua produção adulta:Cresci numa família cheia <strong>de</strong> doenças. Era a preocupação com o corpo. Tambémsendo católicos – fazendo coisas fisicamente – ficavam obcecados com o corpo. Istopareceu cair realmente b<strong>em</strong> para mim: falar através do corpo <strong>de</strong> como estamos aquie <strong>de</strong> como viv<strong>em</strong>os 25 .<strong>Kiki</strong> <strong>Smith</strong> po<strong>de</strong>ria ser uma estudiosa <strong>de</strong> a<strong>na</strong>tomia, uma artista <strong>de</strong> um<strong>na</strong>turalismo cientificista tal sua aplicação nos estudos <strong>de</strong> biologia. No entanto,assim como <strong>Hilda</strong> ultrapassa a mímese reprodutiva <strong>na</strong> Literatura, <strong>Kiki</strong><strong>de</strong>scobre como po<strong>de</strong> ir além do corpo-organismo. Sua arte <strong>de</strong>sencorpa oscorpos tal como ela mesma nos po<strong>de</strong> explicar:Eu estava me <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo com os fatos ou quase fatos – usando a linguag<strong>em</strong> comoum fosso. Era como se eu pu<strong>de</strong>sse me proteger, dizendo: isso é um fato: exist<strong>em</strong>duzentos e seis ossos e ei-los aqui. Coisas que não se discut<strong>em</strong>. Mas <strong>em</strong> Vie<strong>na</strong>, eucomecei a sair disso. Nas mostras, os corpos eram <strong>de</strong>sencorpados, virados do avesso,manobrados, mal-usados 26 .Ao superar<strong>em</strong>, portanto, a estética realista <strong>em</strong> suas formas mais recentes,elas po<strong>de</strong>m ser chamadas <strong>de</strong> artistas <strong>de</strong> um realismo pós-utópico, pós-metafísico,ao se contrapor<strong>em</strong> às formas b<strong>em</strong> acabadas da arte. Ao abrir<strong>em</strong> mão dovisual <strong>em</strong> favor do plástico, do táctil, mas ainda assim <strong>de</strong>sviante, <strong>de</strong>slizante,24 Borges, “Georges Bataille: imagens do êxtase”.25 <strong>Smith</strong>, A gathering, 1980-2005, p. 59: “I grew up in a family with a lot of illness. There was a preoccupationwith the body. Also being Catholic – making things physical – they are obsessed with thebody. It se<strong>em</strong>ed to me a form that suited me really well – to talk through the body about the waywe´re here and how we´re living”.26 <strong>Smith</strong>, op. cit., p. 65: “I was <strong>de</strong>fending myself with facts or quasi facts – used language like a moat. Itwas as if I could protect myself by saying, this is a fact: there are two hundred and six bones in thebody, and here they are. Things you can ´t dispute. But in Vie<strong>na</strong> I started coming out of the bag alittle. In the show bodies were dis<strong>em</strong>bodied, turned away, shunned, misbehaving”.

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