12.07.2015 Views

art01 - omena júnior.indd - Sociedade Brasileira de Ornitologia

art01 - omena júnior.indd - Sociedade Brasileira de Ornitologia

art01 - omena júnior.indd - Sociedade Brasileira de Ornitologia

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

100 Estrutura populacional e repertório comportamental <strong>de</strong> Sula leucogaster (Sulidae) em um sítio <strong>de</strong> repouso no su<strong>de</strong>ste do BrasilLeonardo Motta Schuler e Hudson Tercio Pinheiroalgum individuo foi observado no costão leste. Apesar dadisponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> habitat ser muito maior nos costõesda zona exposta (leste), a população <strong>de</strong> atobás registradapreferiu se aglomerar em um pequeno trecho (aproximadamente15 m) do costão oeste. Este fato aponta umaforte influência do papel social, <strong>de</strong> um referencial, na distribuiçãoe crescimento <strong>de</strong> uma população em uma <strong>de</strong>terminadaárea.O crescimento da população entre os anos estudadospo<strong>de</strong> ter se dado, possivelmente, <strong>de</strong>vido ao recrutamento<strong>de</strong> novos juvenis e ao amadurecimento e permanência dosadultos, que possivelmente eram os juvenis do ano anterior.Segundo Coelho et al. (2004), os jovens apresentamcomportamento mais nôma<strong>de</strong> que os adultos, po<strong>de</strong>ndo se<strong>de</strong>slocar por consi<strong>de</strong>ráveis distâncias. Com isso, po<strong>de</strong> seespecular uma colonização a partir <strong>de</strong> jovens que usavamo local como área <strong>de</strong> repouso, e que amadureceram <strong>de</strong>2005 para 2006, assim como a entrada <strong>de</strong> novos jovens etroca <strong>de</strong> adultos.O aumento da população local também po<strong>de</strong> estarligado à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> alimento nos arredores dailha. Existe na região gran<strong>de</strong> abundância <strong>de</strong> cardumes <strong>de</strong>cianí<strong>de</strong>os, clupeí<strong>de</strong>os e engraulí<strong>de</strong>os (Pinheiro et al.2009)que estão <strong>de</strong>ntro da preferência alimentar dos atobás(Harrison et al. 1983; Coelho et al. 2004; Branco et al.2005). Segundo Pinheiro et al. (2009) houve um pico<strong>de</strong>stes peixes nos arredores da área estudada no verão <strong>de</strong>2006, o que po<strong>de</strong> ter influenciado a ocorrência <strong>de</strong>stas avesna ilha. A presença <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> frota <strong>de</strong> pesca <strong>de</strong> arrasto naregião po<strong>de</strong> facilitar uma fonte abundante e constante <strong>de</strong>alimento para a população <strong>de</strong> atobás, uma vez que emmuitas localida<strong>de</strong>s o <strong>de</strong>scarte representa uma importanteparcela na alimentação <strong>de</strong> S. leucogaster (Branco 2001,Krul 2004).A variação do número <strong>de</strong> indivíduos no costão, aolongo do dia, sugere que há um pico <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forrageamentono início da manhã (07:30 h) e outro maisdiscreto no final da manhã (11:30 h) (Figura 3). A preferênciados atobás por esses horários po<strong>de</strong> estar associadaà facilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> avistamento <strong>de</strong> cardumes nos horáriosda manhã (mar menos ondulado) e também à presença<strong>de</strong> barcos <strong>de</strong> arrasto <strong>de</strong> camarão, que saem no início damanhã e retornam antes do período da tar<strong>de</strong> (Pinheiro eMartins in press). No período da tar<strong>de</strong>, a ocorrência dosatobás no costão apresenta um crescimento abrupto, principalmentea partir das 15:30 h. Este crescimento permaneceaté o anoitecer (L.M.S. e H.T.P. obs. pess.). Não foipossível encontrar diferença significativa entre o número<strong>de</strong> adultos e juvenis pousados no costão, mostrando queeles apresentam comportamentos similares.Apesar <strong>de</strong> não terem sido avistados ninhos ou filhotes<strong>de</strong> atobás na Ilha dos Franceses, a mesma apresentacaracterísticas similares com a <strong>de</strong> alguns sítios <strong>de</strong> reprodução– riqueza e abundância <strong>de</strong> peixes durante o anointeiro (Pinheiro et al. 2009); porção terrestre preservada(Ferreira et al. 2007); distância do continente (cerca <strong>de</strong>4 km). Mas o turismo local, com gran<strong>de</strong> fluxo <strong>de</strong> barcose pessoas na ilha, compromete a tranquilida<strong>de</strong> <strong>de</strong>ssasaves, po<strong>de</strong>ndo ser um obstáculo para uma possívelcolonização.Os comportamentos registrados para Sula leucogasterna Ilha dos Franceses corroboram com os dados <strong>de</strong>Chaves-Campos e Torres (2002), Martins e Dias (2003),Branco (2004) e Alves et al. (2004), que <strong>de</strong>finem Sulaleucogaster como uma ave arisca e territorialista. Com isso,foi possível observar que este comportamento territorialista,além <strong>de</strong> ser ligado à proteção <strong>de</strong> ninhos ou competiçãosexual em sítios reprodutivos, ocorre também emsítios <strong>de</strong> repouso, na competição por espaço.Este trabalho chama a atenção para a importância<strong>de</strong> todas as ilhas costeiras para as aves marinhas, tanto dasilhas atualmente ocupadas, como das ainda não ocupadas,uma vez que as aves po<strong>de</strong>m colonizar estes habitatsinesperadamente. Diversos estudos sobre aves marinhasse restringem às colônias <strong>de</strong> reprodução e pouco se conhecesobre seus aspectos em sítios <strong>de</strong> alimentação e <strong>de</strong>scanso.Apesar <strong>de</strong>ste trabalho contribuir com uma importante<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> um referencial <strong>de</strong> pouso em um sítio<strong>de</strong> repouso, nada se sabe sobre o tempo <strong>de</strong> permanênciadas aves nestes locais e sobre a conectivida<strong>de</strong> das aves entreáreas <strong>de</strong> repouso e reprodução. As informações <strong>de</strong>stapesquisa po<strong>de</strong>m ser importantes para o manejo e or<strong>de</strong>namentodas ativida<strong>de</strong>s pesqueiras e turísticas das ilhas,especialmente em relação à Ilha dos Franceses e seu entorno,por se tratar <strong>de</strong> uma área prioritária para criação<strong>de</strong> uma Unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> Conservação Marinha no estado doEspírito Santo.Agra<strong>de</strong>cIMEntosAgra<strong>de</strong>cemos o apoio <strong>de</strong> Cazimiro, Carimbó, Vito, Jozias paracom o translado à ilha e Rodrigo Molina, Arthur Ferreira, FelipeMotta Schuler e Pedro Assis pela colaboração nas expedições. Somosgratos também a Rodrigo Lemes Martins e José Eduardo Simon peloapoio acadêmico e contribuições nas versões iniciais <strong>de</strong>ste artigo.ReferêncIASAltmann, J. (1974). Observational study of behavior: samplingmethods. Behaviour, 49:227‐267.Alves, V.A.; Soares, A.B.A. e Couto, G.S. (2004). Aves Marinhas eAquáticas das Ilhas do Litoral do Rio <strong>de</strong> Janeiro. P. 83‐100. InBranco, J.O. Aves marinhas e insulares brasileiras: bioecologia econservação. UNIVALI, Itajaí, SC, 266 p.Both, R. e Freitas, T. (2004). Aves Marinhas no Arquipélago <strong>de</strong> SãoPedro e São Paulo. p. 193‐212. In Branco, J.O. Aves marinhas einsulares brasileiras: bioecologia e conservação. UNIVALI, Itajaí,SC, 266 p.Branco, O.B. (2001). Descartes da Pesca do Camarão Sete-Barbascomo Fonte <strong>de</strong> Alimento para Aves Marinhas. Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong>Zoologia, 18(1):293‐300.Revista <strong>Brasileira</strong> <strong>de</strong> <strong>Ornitologia</strong>, 17(2), 2009

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!