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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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92 93Judith Cortezão, <strong>um</strong>a sábia amiga, certo dia me disse: “O que o fotógrafo enfoca nãodeve ser propriamente a realidade, mas, sim, o impacto na sensibilidade e na mentedessa realidade, isso traz sempre <strong>um</strong>a imagem de sonho”.Judith me disse isso em meio a <strong>um</strong>a espessa neblina, em que, mesmo la<strong>do</strong> a la<strong>do</strong>, malpodíamos nos enxergar. Estávamos próximos ao Chuí, na fronteira entre o Brasil e o Uruguai,para a filmagem de <strong>um</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário, que, depois dessa frase dita n<strong>um</strong> tom “primordial”,ganhou o título de Paisagens Invisíveis.A angústia que senti, gerada pela impossibilidade de registrar a amplidão <strong>do</strong> vale quehavia visita<strong>do</strong> <strong>do</strong>is meses antes, na pesquisa <strong>do</strong> filme, me colocava em busca de outrodispositivo, pois o imponderável redirecionava o filme a voltar-se para a única paisagemvisível, <strong>um</strong>a paisagem interna, impressa na alma.<strong>Outros</strong> novos r<strong>um</strong>osPaschoal SamoraDoc<strong>um</strong>entarista, realizou os filmes Confidências <strong>do</strong> Rio das Mortes (1999), a série de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entáriosAo Sul da Paisagem (2000-2001), Rio de Fevereiro (2003) e Diário de Naná (2006).Pode parecer contraditório, mas, na “arte de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entar”, aquilo que nos desestabilizaé, muitas vezes, o fator que nos alimenta e aguça a criatividade, pois não há respostamais sincera e “real” <strong>do</strong> que nossa postura e nossas atitudes diante <strong>do</strong>s fatos; enfim,a única certeza que podemos alimentar é a de nos prepararmos para algo quedesconhecemos. O “real” no <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário, de fato, nada mais é <strong>do</strong> que a arte de lidarcom esse imponderável.Estamos constantemente em busca desse desconheci<strong>do</strong>, algo em geral não verbaliza<strong>do</strong>ou ainda impossível de o ser, pois, ao longo de mais de <strong>um</strong> século, foram as reflexões acerca<strong>do</strong>s conflitos <strong>do</strong>s <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entaristas que levaram o gênero a ser <strong>um</strong> meio de expressão emsi. O <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário “auto-reflexivo” não é necessariamente algo objetivo ou decifrável aolho nu, pois o processo de sua linguagem criativa já é, em si, a própria linguagem.A jornada <strong>do</strong> programa R<strong>um</strong>os pôde me proporcionar <strong>um</strong>a espécie de “desvelamento” <strong>do</strong>smotivos pelos quais faço <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários, pois, ao compartilhar esse “pensar o filme” de muitos,na reflexão acerca das idéias em debate, nos encontros e reencontros com as pessoas e nos

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