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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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<strong>Outros</strong> <strong>Retratos</strong> – <strong>Ensaian<strong>do</strong></strong> <strong>um</strong> <strong>panorama</strong> <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entárioindependente no BrasilCláudia MesquitaProfessora da Universidade Federal de Santa Catarina. Jornalista formada pela UFMG, mestreem cinema pela ECA/USP e <strong>do</strong>utoranda na mesma instituição, onde desenvolve pesquisasobre representações da experiência religiosa pelo <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário brasileiro. Atuou comopesquisa<strong>do</strong>ra nos <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários Peões (Eduar<strong>do</strong> Coutinho, 2004) e Em Trânsito (HenriGervaiseau, 2005), e como assistente de direção em Saudade <strong>do</strong> Futuro (Cesar e Marie-ClemencePaes, 2000). Realizou Terra da Lua (1992, com Anna Karina e Tania Caliari), A Folia de Adão (2001)e 5 Mulheres de Paraisópolis (2004).Proponho com este artigo <strong>um</strong> <strong>panorama</strong> breve e sintético da produção <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entalbrasileira a partir <strong>do</strong>s anos 1960, quan<strong>do</strong> ganha força e relevância estética o<strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário independente no país. A idéia é relacionar condições de produçãoe opções estéticas e temáticas ten<strong>do</strong> como recorte a questão da alteridade, ou asrepresentações <strong>do</strong> “outro de classe” 1 . O texto está estrutura<strong>do</strong> segun<strong>do</strong> <strong>um</strong>a periodizaçãoda produção, dividida em três “momentos”: <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário moderno (1960-1984), temposde vídeo (1984-1999) e <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário da “retomada” (1999 em diante). A demarcação dessesperío<strong>do</strong>s não é rigorosa ou exata, mas aproximada, guian<strong>do</strong>-se por marcos simbólicos 2 ; eua utilizo para apresentar características <strong>do</strong>minantes em cada “momento”, bem como parasugerir transformações no decorrer desse percurso histórico.Doc<strong>um</strong>entário moderno (1960-1984): a emergência <strong>do</strong> “outro”Sabemos que, no Brasil, o enfrentamento da alteridade ganhou especial interesse, expressãoe atenção a partir da entrada <strong>do</strong>s anos 1960 3 . Com a emergência <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entárioindependente, entram em pauta, sob olhares críticos, as histórias, os problemas e asexperiências das classes populares. Nesse perío<strong>do</strong>, <strong>do</strong>minaram os curtas e os médiasmetragens,produzi<strong>do</strong>s com baixos orçamentos e com o apoio de instituições que detinhame emprestavam os equipamentos básicos. Quan<strong>do</strong> se fala em <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário modernobrasileiro, portanto, deve-se pensar n<strong>um</strong> contexto não profissionaliza<strong>do</strong> e na circulaçãoextremamente restrita das obras – rejeitadas pelo circuito comercial, elas circulavam emfestivais, cineclubes ou organizações políticas e culturais (Bernardet, 1987: 169).Em Cineastas e Imagens <strong>do</strong> Povo (1985), livro sobre o <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário moderno brasileiro quese tornou referência indispensável, Jean-Claude Bernardet estabeleceu como eixo para oentendimento de sua trajetória <strong>um</strong>a questão posta justamente pela relação de alteridade:1Como aponta Bernardet (1987: 168),<strong>do</strong>is filmes curtos realiza<strong>do</strong>s em 1959 esboçamtendências iniciais para o moderno<strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário brasileiro: de <strong>um</strong> la<strong>do</strong>,O Poeta <strong>do</strong> Castelo (Joaquim Pedro deAndrade) propõe <strong>um</strong> retrato intimista de<strong>um</strong> indivíduo “especial”, o poeta ManuelBandeira; de outro, Arraial <strong>do</strong> Cabo (PauloCésar Saraceni) se volta à abordagemcrítica da problemática vivida por <strong>um</strong>acomunidade pobre de pesca<strong>do</strong>res. Éesse veio aberto pelo segun<strong>do</strong> filme queestará em pauta neste artigo.2Estou ciente das ilusões da “periodização”,tão bem expostas por Bernardet emHistoriografia Clássica <strong>do</strong> Cinema Brasileiro(2004). Será possível seccionar a história<strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário brasileiro em “fatiastemporais que tenham <strong>um</strong>a significação<strong>do</strong>minante intrínseca, bem como <strong>um</strong>asignificação para os diversos elementosque a compõem?” (2004: 59). Apesar <strong>do</strong>slimites <strong>do</strong> méto<strong>do</strong>, que certamente nãodá conta da diversidade da produção emcada “momento”, opto pela periodizaçãopor sua eficácia didática. Aqui, o perío<strong>do</strong><strong>do</strong> “<strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário moderno” inicia-secom Aruanda (Linduarte Noronha, 1960)e se encerra com Cabra Marca<strong>do</strong> paraMorrer (Eduar<strong>do</strong> Coutinho, 1984). O <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entárioda “retomada” inicia-se comSanto Forte (Eduar<strong>do</strong> Coutinho, 1999),situan<strong>do</strong>-se o perío<strong>do</strong> <strong>do</strong>s “tempos devídeo” entre os <strong>do</strong>is marcos (1984-1999).3Antes da emergência <strong>do</strong> cinemanovo, a maioria <strong>do</strong>s <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entáriosproduzi<strong>do</strong>s – mesmo aqueles sobmuitos aspectos notáveis – estavavinculada ao Instituto Nacional deCinema Educativo (Ince) e, portanto,orientada ideologicamente no senti<strong>do</strong>de promover <strong>um</strong>a imagem favorávele harmoniosa <strong>do</strong> país. Sem falar noscurtas e matérias de cinejornais, estimula<strong>do</strong>snos anos 1930 e 1940 pelaexibição compulsória de complementosnacionais nos cinemas (legislaçãode 1932), mas resultan<strong>do</strong>, de mo<strong>do</strong>geral, em propaganda paga por empresase instituições.

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