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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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68 691“Não é o escultor que esculpe a escultura, é a escultura que esculpe o escultor!”Existe nessa frase de Merleau-Ponty algo que fica no meio, como <strong>um</strong> canteiro. entre duas avenidas. Chacoalha-se <strong>um</strong>a frase como chacoalha-se <strong>um</strong>a vida.Uma inversão entre sujeito e predica<strong>do</strong>, entre sujeito e objeto que pode nos ajudar aentender <strong>um</strong> pouco a relação entre arte e vida, realidade e percepção, olhar e deixar-seolhar, entregar e receber.Poderíamos, da mesma forma, dizer: não é o cineasta que faz o filme, mas o filme que fazo cineasta. Ao fazer <strong>um</strong> filme, algo está nos fazen<strong>do</strong> e algo está se fazen<strong>do</strong> para além denosso fazer. O filme se faz e com ele me faço.Doc<strong>um</strong>entário e subjetividade – Uma rua de mão duplaCao GuimarãesTrabalha com cinema e artes plásticas. Desde fins <strong>do</strong>s anos 1980 vem mostran<strong>do</strong> seus trabalhos emdiferentes museus e galerias, como o Guggenhein Muse<strong>um</strong> de Nova York (seu filme Sopro faz parte dacoleção <strong>do</strong> museu); Mori Muse<strong>um</strong>, em Tóquio; Galeria La Caja Negra, em Madri; e em bienais como aXXV Bienal Internacional de São Paulo, Insite Biennial 2005 (San Diego/Tijuana), entre outras. No fim dadécada de 1990 começou a fazer filmes, principalmente <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários experimentais, entre eles Ruade Mão Dupla, A Alma <strong>do</strong> Osso, O Fim <strong>do</strong> sem Fim, Da Janela <strong>do</strong> Meu Quarto e Andarilho.Se o meu assunto é a realidade, não estou isento dela e nem ela está isenta de mim. Nesseexercício da reciprocidade, da generosidade da entrega, vários graus de subjetividade estãointeragin<strong>do</strong> entre si. A questão não é objetivar o olhar diante da realidade, mas mesclarsua subjetividade com a subjetividade <strong>do</strong> outro. Às vezes esvazian<strong>do</strong>-se no senti<strong>do</strong> zenbudista<strong>do</strong> termo, às vezes potencializan<strong>do</strong> o seu “eu” até o total transbordamento. Nãoexistem regras definitivas, tu<strong>do</strong> funciona como <strong>um</strong>a espécie de pacto fundamenta<strong>do</strong> nac<strong>um</strong>plicidade recíproca.A percepção <strong>do</strong>s acontecimentos reais sempre estará intimamente relacionada aoimaginário. Nenh<strong>um</strong> olhar é isento de si ao olhar para fora. Vejo e, ao ver, também mevejo. Ven<strong>do</strong>-me inseri<strong>do</strong> nisso ou naquilo, aquilo inseri<strong>do</strong> em mim, a coisa se forma, <strong>um</strong>algo mais, o inespera<strong>do</strong>. Imagino, ajo na direção <strong>do</strong> que imagino, depois salto para o la<strong>do</strong>de lá, para o lugar <strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong>, que é muitas vezes mais forte e intenso <strong>do</strong> que oque antes eu imaginava. O cinema <strong>do</strong> real é a arte desse encontro, <strong>um</strong> encontro com oque você imagina e no entanto revela-se de outra forma. Nessa revelação, nesse susto,somos convoca<strong>do</strong>s diante de <strong>um</strong> espelho que mostra outro rosto. Qualquer realidade é a

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