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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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66 Luiz Eduar<strong>do</strong> Jorge A expressão cinematográfica no território <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental 67Assim, essa atitude evidenciada no percurso histórico da produção desse gênerocinematográfico é defini<strong>do</strong>ra de estilos e abordagens segun<strong>do</strong> posturas estéticas,políticas, científicas e ideológicas <strong>do</strong>s seus autores. A reflexão teórica em torno <strong>do</strong>sfenômenos escolhi<strong>do</strong>s, pesquisa<strong>do</strong>s e seleciona<strong>do</strong>s para a realização <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entalconsolida as escolas e as correntes teóricas <strong>do</strong> pensamento <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental e as atuaisformas artísticas de criação.Portanto, posso concluir que o cinema é escola.Essas minhas palavras sobre cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental deixam-me à vontade para nãoestabelecer linhas divisórias muito rígidas entre o exercício <strong>do</strong> pensamento científico eo <strong>do</strong> pensamento estético, até porque a escrita tende a interpretar e a imagem tende arepresentar. Pensan<strong>do</strong> assim, sempre compreendi que ciência e arte na construção <strong>do</strong><strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental se entrelaçam. Dessa forma, não sinto aqui aquela necessidade de formularproblemas para realimentar e sistematizar as idéias guardadas nas gavetas a fim decomprová-las ou refutá-las, porque, assim proceden<strong>do</strong>, posso também correr o risco depensar que o objeto não tem vida, que o objeto é <strong>do</strong> sujeito, isto é, o objeto pertence aosujeito, é pensa<strong>do</strong> pelo sujeito que o observa e dele tira conclusões, formulações teóricas,subjetivações, afirmações e julgamentos manti<strong>do</strong>s sob a mão única da ciência ou daarte. Não pretendi obedecer a <strong>um</strong> modelo, seja científico, seja estético, para apresentara realidade como essência da forma <strong>do</strong> cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental, até porque ela pode sertão variada e diversa quanto o número de filmes realiza<strong>do</strong>s. A realização de <strong>um</strong> filme<strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental obedece, assim, a critérios estéticos, científicos e h<strong>um</strong>anos segun<strong>do</strong> a suanatureza histórica e antropológica. Um filme não é produzi<strong>do</strong>, realiza<strong>do</strong> e “feito” n<strong>um</strong>afôrma, e, sim, n<strong>um</strong>a forma.olhar nos conceitos e teorias advin<strong>do</strong>s de suas próprias reflexões, ora confirman<strong>do</strong>-os pormeio das idéias experimentadas em suas produções propriamente ditas.Vertov e Flaherty desenvolveram idéias genuínas e diferentes sobre o cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental.O primeiro experimentou o cinema-verdade basea<strong>do</strong> no improviso como forma de nãointerferênciano mun<strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>enta<strong>do</strong> para evitar ficcionar e/ou alterar a realidade. Osegun<strong>do</strong> “interfere” na realidade para propor a mise-em-scène <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental visan<strong>do</strong> a <strong>um</strong>tratamento mais fiel da realidade no cinema. Dessa forma, nota-se, finalmente, que essasidéias, após 80 anos, estão em pleno exercício, tanto no campo <strong>do</strong> cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entalquanto no campo <strong>do</strong> cinema ficcional, ora tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental utilizan<strong>do</strong>atores naturais, como é o caso da recente produção brasileira intitulada Cidade de Deus,de Fernan<strong>do</strong> Meirelles, ora tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> cinema verdade à la Vertov, como faz Eduar<strong>do</strong>Coutinho nos <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários Santo Forte e Edifício Master.No cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental ao qual me refiro, o objeto – <strong>do</strong> latim obicere = algo lança<strong>do</strong>,algo posto adiante – não é pensa<strong>do</strong> e constituí<strong>do</strong> pelo olhar impregnante <strong>do</strong> sujeito daobservação, e sim <strong>do</strong> realiza<strong>do</strong>r cinematográfico que, longe de apossar-se <strong>do</strong> objeto, procuraexpressar por meio da forma cinematográfica a relação h<strong>um</strong>ana que se coloca entre ele, omun<strong>do</strong> circundante e os seres h<strong>um</strong>anos <strong>do</strong>c<strong>um</strong>enta<strong>do</strong>s. Vejo e enten<strong>do</strong> o objeto comocorpus <strong>do</strong> universo social, cultural e h<strong>um</strong>ano pensa<strong>do</strong> nos recortes narrativos específicose gerais articula<strong>do</strong>s no pensamento <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental. O objeto, pensa<strong>do</strong> n<strong>um</strong>a perspectivasubjetiva e em permanente movimento, portanto, dinâmico e não molda<strong>do</strong>, não acaba<strong>do</strong>.O cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental confunde-se com a idéia de originalidade, de identidade com adiversidade cultural em permanente construção. Culturas reinventan<strong>do</strong> a cultura com baseem novos códigos recoloca<strong>do</strong>s permanentemente por novas experiências interétnicas,também, temporariamente redefini<strong>do</strong>ras de <strong>um</strong> novo ethos.Este artigo apresenta alg<strong>um</strong>as indagações tecidas na seara das idéias semeadas no território<strong>do</strong> cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental, rondan<strong>do</strong> duas matrizes cinematográficas já consagradas – Vertove Flaherty, que impulsionaram a vasta produção de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários, ora repousan<strong>do</strong> oReferências bibliográficasMITRY, Jean. Histoire du Cinema (1895-1915). Paris: Éditions Universitaires, 1967.SADOUL, Georges. Dziga Vertov. Paris: Éditions Champ Libre, 1971.VERTOV, Dziga. Del cine-ojo al radio-ojo (La importancia del cine sin actores). 1927. In: ROMAGUERA,Joaquim e THEVENET, Homero Alsina. Fuentes y <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entos del cine. Barcelona: Editorial Fontamara, 1980.

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