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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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120 Flavia Celidônio Relatório de viagem 121PORTO ALEGRE26 de abril de 2006“Doc<strong>um</strong>entário e Subjetividade: o Olhar <strong>do</strong> Autor”, esse foi o tema <strong>do</strong> encontro de R<strong>um</strong>osItaú <strong>Cultural</strong> Cinema e Vídeo em Porto Alegre.O diretor Cao Guimarães começou a conversa dizen<strong>do</strong> que não existe <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entáriosem subjetividade. Usou <strong>um</strong>a metáfora para ilustrar que tipos de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários eleproduz. Existem pelo menos três maneiras de estar na frente de <strong>um</strong> lago de água parada.Uma delas é contemplan<strong>do</strong> de <strong>um</strong> barranco, onde não se tem interação com esse lago,apenas a visão – são filmes de contemplação, como Da Janela <strong>do</strong> Meu Quarto, em que elegravou imagens de duas crianças brincan<strong>do</strong> n<strong>um</strong>a rua alagada no Pará, como se fosse<strong>um</strong>a coreografia e sem a interferência <strong>do</strong> autor. A outra forma é lançan<strong>do</strong> <strong>um</strong>a pedranesse lago, provocan<strong>do</strong> ondas e mexen<strong>do</strong> com a água. Para ele <strong>um</strong> exemplo é Rua deMão Dupla, em que há <strong>um</strong>a interferência <strong>do</strong> autor para que a realidade fique “bagunçada”.Nesse filme, Cao pediu a pessoas que não se conheciam que trocassem de casa por 24horas com <strong>um</strong>a câmera de vídeo nas mãos e tentassem imaginar os mora<strong>do</strong>res da casaestranha em que estavam. Uma realidade filtrada pelos olhos de quem está na casa epode apenas fazer elucubrações. A terceira maneira é atirar-se no lago, mergulhan<strong>do</strong> emsuas águas. O exemplo é A Alma <strong>do</strong> Osso, filme que Cao fez sobre a vida de <strong>um</strong> ermitãode Minas Gerais. Com as imagens <strong>do</strong> ermitão e de seu cotidiano, Cao procura imaginaro que o personagem está pensan<strong>do</strong>, o que se passa pela mente de alguém que vivesozinho n<strong>um</strong> local distante. Para fazer esse <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário, o diretor passou dias e diasfazen<strong>do</strong> imagens e conviven<strong>do</strong> com o ermitão, colocan<strong>do</strong> sua subjetividade no mergulhona personalidade da figura de seu filme.O diretor, roteirista e antropólogo Luiz Eduar<strong>do</strong> Jorge, membro da comissão seleciona<strong>do</strong>rade R<strong>um</strong>os, também estava presente no encontro. Subjetividade para ele é algo inerenteao ser h<strong>um</strong>ano. “A partir <strong>do</strong> momento em que o homem transforma a natureza em culturaele está crian<strong>do</strong> <strong>um</strong>a subjetividade.” Para Luiz Eduar<strong>do</strong>, Cao Guimarães faz da subjetividade<strong>do</strong> outro a matéria-prima de seu trabalho, realizan<strong>do</strong> assim <strong>um</strong>a leitura antropológica darelação que o homem tem com o mun<strong>do</strong>.BRASÍLIA3 de maio de 2006O último encontro de R<strong>um</strong>os Itaú <strong>Cultural</strong> Cinema e Vídeo 2006-2007 aconteceu com<strong>um</strong>a platéia formada quase inteiramente por estudantes de audiovisual de Brasília.A dupla responsável pela palestra “Panorama da Produção de Doc<strong>um</strong>entários no Brasil”foi a mesma que esteve no primeiro encontro, em Manaus. Cláudia Mesquita, jornalistae pesquisa<strong>do</strong>ra de cinema, e Liliana Sulzbach, produtora e realiza<strong>do</strong>ra, integrante dacomissão de seleção desta edição de R<strong>um</strong>os.A palestra reuniu <strong>um</strong> pouco de to<strong>do</strong>s os outros encontros. Cláudia fez <strong>um</strong> histórico <strong>do</strong>cinema <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental no Brasil desde os anos 1960, algo já aborda<strong>do</strong> por ela mesma emManaus. Viramun<strong>do</strong>, de Geral<strong>do</strong> Sarno, marca a era <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário moderno, com atemática urbana, as agruras <strong>do</strong> povo e a tentativa de estabelecer <strong>um</strong> diagnóstico <strong>do</strong>sproblemas sociais no Brasil.Cabra Marca<strong>do</strong> para Morrer é <strong>um</strong> divisor de águas. O <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário de Eduar<strong>do</strong> Coutinho,finaliza<strong>do</strong> nos anos 1980, depois de ficar na gaveta durante a ditadura militar, inauguraa época contemporânea. Cláudia Mesquita classifica essa época, que vai <strong>do</strong>s anos 1980ao início <strong>do</strong>s 1990, como sen<strong>do</strong> “tempos de vídeo”, o cinema com forte relação com osmovimentos sociais, n<strong>um</strong>a clara demonstração da necessidade de criar <strong>um</strong>a identidade<strong>do</strong> brasileiro. Uma busca por interiorizar o cinema, como Coutinho também fez em SantaMarta. Para Cláudia, os “tempos de vídeo” duraram até a retomada mais forte <strong>do</strong> cinemabrasileiro em 1995, e daí para hoje há <strong>um</strong>a espécie de boom, com produção mais intensade <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários que conseguem chegar a grandes telas, abrin<strong>do</strong> cada vez mais janelaspara a produção <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental no merca<strong>do</strong>.Liliana também reiterou em parte o que havia dito em Manaus, Salva<strong>do</strong>r e Vitória, ondeesteve com os encontros de R<strong>um</strong>os. Independentemente de tendências, ela acha queé o momento de mudar o foco <strong>do</strong>s <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários feitos no Brasil. Cita, por exemplo,os acontecimentos em Brasília, com escândalos de corrupção, e pergunta se há alguémregistran<strong>do</strong> tu<strong>do</strong> para transformar em <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário. Liliana acredita que é precisoproduzir mais com temas exclusivamente políticos. E voltar a câmera para outras camadasda população, no lugar de apenas mostrar miséria ou violência em favelas, afinal, deveexistir <strong>um</strong>a elite que colabora para perpetuar as desigualdades no país.Apesar das carências, o que a realiza<strong>do</strong>ra de O Cárcere e a Rua realmente acredita éque existem bons e maus <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários, e as boas idéias são sempre bem-vindas ebem recebidas.

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