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Outros Retratos – Ensaiando um panorama do ... - Itaú Cultural

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114 Flavia Celidônio Relatório de viagem 115RECIFE22 de março de 2006O encontro de R<strong>um</strong>os Itaú <strong>Cultural</strong> Cinema e Vídeo 2006-2007 na Fundação JoaquimNabuco, no Recife, se transformou n<strong>um</strong>a interessante conversa entre o público e oscomponentes da mesa: Érika Bauer, professora da Universidade de Brasília e realiza<strong>do</strong>ra,autora de Dom Helder Câmara, o Santo Rebelde, Luis Eduar<strong>do</strong> Jorge, realiza<strong>do</strong>r, antropólogoe membro da comissão julga<strong>do</strong>ra desta edição de R<strong>um</strong>os, e Roberto Cruz, gerente deAudiovisual <strong>do</strong> Itaú <strong>Cultural</strong>.Érika Bauer falou sobre sua experiência como realiza<strong>do</strong>ra e o que a atrai no trabalho comodiretora. Para ela, lidar com <strong>um</strong> tema pouco conheci<strong>do</strong> é o mais interessante para <strong>um</strong><strong>do</strong>c<strong>um</strong>entarista. Procura sempre tratar assuntos ou personagens que lhe são “estranhos”,em vez de fazer <strong>um</strong> filme sobre algo familiar. Como professora, tenta sugerir aos alunos quebusquem o desafio de pesquisar e mergulhar em <strong>um</strong> tema mais distante de sua realidade.Usan<strong>do</strong> o exemplo da produção de seu filme sobre Dom Helder, falou sobre a ética quedeve estar sempre presente no tratamento <strong>do</strong>s personagens <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário. Ética paranão distorcer ou manipular a “fala” <strong>do</strong> entrevista<strong>do</strong>. Para ela, na montagem, por vezes émelhor abrir mão de certos trechos se não for possível incluir o contexto em que algo foidito. O <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entarista deve tratar com máximo respeito o objeto de seu filme. Comoexemplo citou Eduar<strong>do</strong> Coutinho, em constante busca por essa ética.Como sugestão para o público, que queria saber se existem temas mais interessantes aser trata<strong>do</strong>s em <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários, disse que qualquer tema pode ser <strong>um</strong> grande tema, tu<strong>do</strong>depende da maneira como o realiza<strong>do</strong>r trata o assunto. E avisou: sempre há mais por trás<strong>do</strong> que se imagina ou se enxerga, há que estar atento às descobertas que ocorrem nomeio da produção de <strong>um</strong> filme. Um <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entarista deve ter os olhos abertos ao quepode surgir durante a realização <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário.Provocar a reflexão no especta<strong>do</strong>r, na sociedade. Esse deve ser o papel <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entaristana opinião de Luis Eduar<strong>do</strong> Jorge. Mas, para isso, é preciso consciência crítica, algo queele acredita estar em falta na formação <strong>do</strong> brasileiro. Ele lamenta que as universidadesnão sejam mais centros de formação volta<strong>do</strong>s para a construção de cidadãos críticos ecomprometi<strong>do</strong>s com a sociedade. “Da mesma forma que o brasileiro não lê, tambémnão tem cultura audiovisual.” Eduar<strong>do</strong> Jorge defende que o cinema deveria fazer parte dagrade curricular das escolas desde as primeiras séries <strong>do</strong> ensino fundamental.SALVADOR27 de março de 2006A professora Sheila Schvarzman e a jornalista Liliana Sulzbach participaram, no dia 27 demarço, da sétima palestra de divulgação <strong>do</strong> programa R<strong>um</strong>os Itaú <strong>Cultural</strong> Cinema e Vídeo2006-2007, realizada em Salva<strong>do</strong>r.Sheila abor<strong>do</strong>u as tendências <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário no Brasil desde os primeiros filmes<strong>do</strong> gênero, produzi<strong>do</strong>s pelo Instituto Nacional <strong>do</strong> Cinema Educativo (Ince). Aprofessora projetou cenas de O Despertar da Redentora para mostrar que os temas <strong>do</strong>s<strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários nos anos 1940 não tratavam <strong>do</strong> homem simples, mas, sim, de í<strong>do</strong>los emodelos a ser segui<strong>do</strong>s.Nos anos 1950, com as Brasilianas e a Caravana Farkas, o <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário começou a seaproximar <strong>do</strong> modelo que conhecemos hoje. Ainda que de forma generalizada, semindividualidades, o “homem” brasileiro aparece.Após o intervalo da produção no perío<strong>do</strong> da ditadura militar, a retomada <strong>do</strong> cinemano Brasil foi marcada por <strong>um</strong> negativismo na esteira da queda <strong>do</strong> Muro de Berlim, nosanos 1980. Esse negativismo marca a retratação <strong>do</strong> homem de forma radical. Começama aparecer as favelas, a desigualdade social, a miséria. O tema urbano substitui o rural,retratan<strong>do</strong> as mudanças que ocorreram no Brasil com a saída <strong>do</strong> homem <strong>do</strong> campo embusca das grandes cidades. Nas palavras da professora, “passamos <strong>do</strong> romantismo paraa crueza”. Para Sheila, está na hora de os <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entaristas voltarem os olhos para osseus iguais, ou seja, a classe média, mostran<strong>do</strong> que existe algo além dessa desigualdadesocial brasileira.Liliana, membro da comissão julga<strong>do</strong>ra de R<strong>um</strong>os, concor<strong>do</strong>u com a professora e sugeriuoutros formatos que gostaria de ver produzi<strong>do</strong>s no Brasil, como os <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entários debusca, a exemplo de 33, de Kiko Goifman – contempla<strong>do</strong> em edição anterior de R<strong>um</strong>os–, ou Passaporte Húngaro, de Sandra Kogut. Ela também sente falta de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entáriosinvestigativos, de acompanhamento, e diz que a produção <strong>do</strong>c<strong>um</strong>ental brasileirapoderia se aproximar mais da ficção, dan<strong>do</strong> dramaticidade ao filme e fazen<strong>do</strong> com que oespecta<strong>do</strong>r se pergunte sobre o que vai acontecer.Roberto Cruz falou sobre o perío<strong>do</strong> atual <strong>do</strong> <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário no Brasil, que é promissor, no seuentender. “Está surgin<strong>do</strong> <strong>um</strong>a geração nova de <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entaristas que não necessariamenteé ligada ao cinema e isso é saudável.” Para ele, há mais interesse em se retratar a realidadebrasileira, o que só vem enriquecer a cultura <strong>do</strong> audiovisual. Como dica aos que são céticosem relação ao merca<strong>do</strong> dedica<strong>do</strong> ao <strong>do</strong>c<strong>um</strong>entário no país, diz que não se pode pensar emdistribuição, é preciso pensar no antes, no “fazer” <strong>do</strong> filme, o resto vem depois. Mãos à massa.

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