PrincÃpios da natureza na FÃsica A, de Aristóteles: pré ... - IFCS
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ANAIS DE FILOSOFIA CLÁSSICA, vol. V nº 9, 2011ISSN 1982-5323SANTOS, José Trin<strong>da</strong><strong>de</strong>Princípios <strong>da</strong> <strong><strong>na</strong>tureza</strong> <strong>na</strong> Física A, <strong>de</strong> Aristóteles: pré-socráticos, PlatãoPrimeiro, recorrendo às formas <strong>de</strong> quatro dos cinco sólidos regulares, esquematiza oselementos, regulando o ciclo <strong>da</strong>s sucessivas mu<strong>da</strong>nças pelas quais passam 11 (Ti. 53b). Or<strong>de</strong><strong>na</strong><strong>de</strong>pois (<strong>na</strong> or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> criação, mas não <strong>na</strong> <strong>da</strong> <strong>na</strong>rrativa) aos <strong>de</strong>uses por ele criados queproce<strong>da</strong>m à construção dos corpos <strong>na</strong>turais dos três tipos <strong>de</strong> viventes afins a ca<strong>da</strong> um doselementos restantes: <strong>de</strong> um lado, acham-se os <strong>de</strong>uses imortais, <strong>de</strong> fogo; do outro, os seresmortais que vivem no ar, <strong>na</strong> terra e <strong>na</strong> água (Ti. 41a-d).A <strong>de</strong>fesa <strong>de</strong> uma teologia criacionista do cosmo é confirma<strong>da</strong> <strong>na</strong>s Leis X 889a ss., nocontexto <strong>de</strong> uma abor<strong>da</strong>gem origi<strong>na</strong>l <strong>da</strong> oposição <strong>da</strong> physis à technê 12 . Não só o cosmos <strong>de</strong>veser entendido como uma obra <strong>de</strong> arte produzi<strong>da</strong> por <strong>de</strong>uses existentes por <strong><strong>na</strong>tureza</strong> (890d),como a própria alma – enquanto responsável pela geração dos princípios – <strong>de</strong>ve ela tambémexistir por <strong><strong>na</strong>tureza</strong> (892c).FÍSICA, PSICOLOGIA E TEOLOGIAVale a pe<strong>na</strong> olhar <strong>de</strong> perto esta proposta cosmológica, pois alguns dos seuspressupostos parecerão obscuros 13 . Acima <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>ve notar-se que a criação <strong>de</strong>miúrgicanão inclui a matéria – <strong>de</strong> todo irrelevante para a proposta platônica –, nem sequer,inicialmente, os corpos (34b). Referido pela expressão “movimentos <strong>de</strong>sor<strong>de</strong><strong>na</strong>dos”, osubstrato que Aristóteles i<strong>de</strong>ntificará com a componente material do cosmos é invocado comomotivação <strong>da</strong> <strong>de</strong>cisão criadora do cosmos vivo (30a, 53a).O que o <strong>de</strong>miurgo cria é a alma e com ela a or<strong>de</strong>m e a fi<strong>na</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Ao estendêlaem to<strong>da</strong>s as direções a partir do centro, é criado o cosmos “animado” (empsychon, ou seja,“vivo” 14 ) e corpóreo (34b). A partir <strong>da</strong>quilo que Platão consi<strong>de</strong>ra a essência do corpóreo – aque se chamará “espaço” 15 (49a-51b) –, imitando as imagens <strong>da</strong>s Formas, po<strong>de</strong>m então ser11 A respeito dos elementos, a posição platônica é complexa. Platão começa por criticar <strong>de</strong> um ponto <strong>de</strong> vistaontoepistemológico a noção <strong>de</strong> ‘elemento’, bem como a teoria dos quatro elementos, alegando que o fluxo emque se acham envolvidos não permite conferir-lhes o carácter <strong>de</strong> princípios (Ti. 39b-e; ver adiante). Aprofun<strong>da</strong>ain<strong>da</strong> esta crítica, ao mostrar que as Formas dos elementos só po<strong>de</strong>m ser entendi<strong>da</strong>s como cópias <strong>da</strong>s Formasinteligíveis que constituíram o mo<strong>de</strong>lo a partir do qual o cosmo vivo foi gerado (Ti. 52a-d).12 Na sequência é manifesta a intenção <strong>de</strong> castigar a tradição pré-socrática pela “impie<strong>da</strong><strong>de</strong>” <strong>de</strong> ignorar ouintegrar a gênese <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>na</strong> geração do cosmos, explicando-a pela combi<strong>na</strong>ção <strong>da</strong> <strong><strong>na</strong>tureza</strong> com o acaso (889b-890c; vi<strong>de</strong> a síntese <strong>de</strong>stas i<strong>de</strong>ias em Arquelau: DK60A4; Hipól. Ref. I,9,15).13 Já o eram a Aristóteles, como se verá. De resto, Platão toma distância perante o valor <strong>da</strong> sua “<strong>na</strong>rrativaplausível” (30b, 52a-c passim), notando oportu<strong>na</strong>mente que a or<strong>de</strong>m <strong>da</strong> composição escrita não é coerente com a<strong>da</strong>s tarefas do <strong>de</strong>miurgo (34c).14 De resto, só po<strong>de</strong> ser essa a intenção do <strong>de</strong>miurgo. Os adjetivos “bom”, “melhor”, “reles” (phlauron) e ossubstantivos <strong>da</strong> família <strong>de</strong> “or<strong>de</strong>m” (30a) colocam o animado num plano superior ao i<strong>na</strong>nimado. Veja-se a notapassageira: “Deus estava ausente” (53b) do estado pré-cósmico.15 Com os sentidos <strong>de</strong> “lugar” e “meio/contentor”, como se po<strong>de</strong> inferir <strong>da</strong>s sucessivas metáforas a que recorrepara o referir e caracterizar: “região” (chôra), “assento”, “receptáculo”, “ama do <strong>de</strong>vir”, etc.21