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A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaLECLERQ (1985, p. 167) acha que estas associações são importantes,especialmente no que concerne aos jovens. A ideia deste autor é pertinente,uma vez que essa geração é a que melhor pode fazer a «integração»,mas por outro lado é a que pode também sofrer sérios riscos de«desenraizamento». O ensino é uma área onde essa questão é particularmentevisível: do ponto de vista geral, a integração dos alunos filhos deimigrantes é feita com sucesso, na medida em que a sociabilização comos colegas da comunidade de acolhimento é relativamente rápida e bemsucedida. No entanto, quanto mais novo é o aluno, mais fácil se torna aaprendizagem da língua (escrita e falada), barreira essa que é abolidamuito mais depressa. Isto significa que o rendimento escolar vai sermelhor, que a própria relação com os colegas vai ser mais próxima, namedida em que há um entendimento verbal. Esse fenómeno aproximao imigrante da comunidade, inserindo-o no seu seio de forma maisprofunda e sólida. Daí que seja importante dar meios para que os jovens,filhos de imigrantes, tenham oportunidade de se associar, no sentido depromover a troca de experiências e de fomentar os momentos de contactocom outros que já estejam mais «à frente» no processo de integração.É certo que não devemos descurar o facto do papel e a acção destas associaçõesalterar conforme o espaço/tempo em que estão inseridas. Exemplodisso é o testemunho que BASTENIER e DASSETO (1985, p. 19) nosdão ao estudar o caso belga, onde referem que esse tipo de organizações,ligadas à comunidade islâmica/muçulmana, ocuparam (pelo menos nosanos 80) um lugar muito importante na integração e estabilização dapopulação imigrada, visto que funcionavam como uma «rede» (no bomsentido!), que colocava em contacto não só a comunidade autóctone,como também a comunidade alóctone. Mais tarde DASSETO (1990, p. 119)assume que estas organizações, pelo menos por parte da comunidadeislâmica, estavam a ter um peso «excessivo» nos próprios imigrantes,uma vez que as ideias e normas que defendiam para o seu grupo, nãofavoreciam em nada a integração, pelo contrário, promoviam o isolamentorelativamente à sociedade de acolhimento, vindo por isso impulsionaro debate sobre a laicização no país.Há quem defenda ainda que a política, como espaço associativo (se é queassim se pode considerar, de uma forma lata), se pode revestir de umaforma de integração peculiar e eficaz. RATH (1988, p. 33) afirma que naHolanda, a associação política e o posterior direito de voto nas eleiçõesmunicipais, permitiu que um elevado número de imigrantes se interessassemais não só pela vida política em si, mas também pelo seu papel nasociedade. É uma forma de promover a integração que se pode revelar«explosiva», segundo BODY-GENDROT (1988, p. 19), no entanto reconheceFátima Velez de Castro81

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosacomo sendo uma oportunidade de inserção, sinónimo de dinamizaçãoe de criação de um verdadeiro espaço plural.Em Portugal o ACIDI tem desenvolvido alguns trabalhos em prol dos imigrantes,desenvolvendo parcerias com associações de imigrantes, com ointuito de defender os direitos e deveres dos mesmos. Em 1996 participanum processo de sensibilização para a questão da regularização dos imigrantesilegais, bem como em discussões para a «produção e actualização»de legislação para este grupo. A exposição «Anne Frank-Uma históriapara hoje», organizada em 1997, viajou pelo país com sentido desensibilizar a população para os perigos do racismo e para a necessidadede integrar os imigrantes. Entre esse ano e 1999 tem desenvolvido váriosprotocolos com alguns Estados (nomeadamente Portugal, Guiné-Bissaue S. Tomé e Príncipe), bem como com a OIM (Organização Internacionalpara as Migrações) no sentido de intensificar e ampliar a cooperaçãoentre as diferentes partes do Território Migratório, em conformidade comos objectivos e prioridades da política migratória de cada país envolvido.Além disso, é criado em 1999 o COCAI (Conselho Consultivo para Assuntosda Imigração), com o objectivo de estudar e tratar a questão da imigraçãomais de perto 44 .As associações em Portugal ainda têm um papel muito ténue e apagado,fruto da inexistência tanto de um movimento associativo intenso, como dofacto de só há poucas décadas sermos considerados como «país de imigração».De qualquer forma, o facto de tal fenómeno se processar destaforma, poderá também indicar que o processo de integração dos imigrantesse está a realizar de forma profícua e positiva… ou que estes apresentamuma incapacidade (relacionado com o baixo nível de instrução, porexemplo) de por si só se associarem? Uma visão ambivalente, mas ondeambos os casos parecem coexistir, porém com prevalência do primeiro.3.5. Falar no plural: a questão da LínguaNeste ponto, acresce realizar algumas breves reflexões sobre a questãoda Língua, como elemento marcante de um grupo. Entrar num novo país,falando um idioma diferente daquele que é falado pela população autóctone,pode constituir-se como uma barreira. Assim o diz DUJARDIN(2001, p. 308), ao invocar que a escolha do país de destino também sepode pautar por este item.44. Estas informações partiram da publicação A integração dos imigrantes e das minoriasétnicas. Linhas de actuação do ACIME 1996/1999, do ACIME, 1999, Lisboa.Fátima Velez de Castro82

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaLECLERQ (1985, p. 167) acha que estas associações são importantes,especialmente no que concerne aos jovens. A ideia deste autor é pertinente,uma vez que essa geração é a que melhor pode fazer a «integração»,mas por outro lado é a que pode também sofrer sérios riscos de«desenraizamento». O ensino é uma área onde essa questão é particularmentevisível: do ponto de vista geral, a integração dos alunos filhos deimigrantes é feita com sucesso, na medida em que a sociabilização comos colegas da comunidade de acolhimento é relativamente rápida e bemsucedida. No entanto, quanto mais novo é o aluno, mais fácil se torna aaprendizagem da língua (escrita e falada), barreira essa que é abolidamuito mais depressa. Isto significa que o rendimento escolar vai sermelhor, que a própria relação com os colegas vai ser mais próxima, namedida em que há um entendimento verbal. Esse fenómeno aproximao imigrante da comunidade, inserindo-o no seu seio de forma maisprofunda e sólida. Daí que seja importante dar meios para que os jovens,filhos de imigrantes, tenham oportunidade de se associar, no sentido depromover a troca de experiências e de fomentar os momentos de contactocom outros que já estejam mais «à frente» no processo de integração.É certo que não devemos descurar o facto do papel e a acção destas associaçõesalterar conforme o espaço/tempo em que estão inseridas. Exemplodisso é o testemunho que BASTENIER e DASSETO (1985, p. 19) nosdão ao estudar o caso belga, onde referem que esse tipo de organizações,ligadas à comunidade islâmica/muçulmana, ocuparam (pelo menos nosanos 80) um lugar muito importante na integração e estabilização dapopulação imigrada, visto que funcionavam como uma «rede» (no bomsentido!), que colocava em contacto não só a comunidade autóctone,como também a comunidade alóctone. Mais tarde DASSETO (1990, p. 119)assume que estas organizações, pelo menos por parte da comunidadeislâmica, estavam a ter um peso «excessivo» nos próprios imigrantes,uma vez que as ideias e normas que defendiam para o seu grupo, nãofavoreciam em nada a integração, pelo contrário, promoviam o isolamentorelativamente à sociedade de acolhimento, vindo por isso impulsionaro debate sobre a laicização no país.Há quem defenda ainda que a política, como espaço associativo (se é queassim se pode considerar, de uma forma lata), se pode revestir de umaforma de integração peculiar e eficaz. RATH (1988, p. 33) afirma que naHolanda, a associação política e o posterior direito de voto nas eleiçõesmunicipais, permitiu que um elevado número de imigrantes se interessassemais não só pela vida política em si, mas também pelo seu papel nasociedade. É uma forma de promover a integração que se pode revelar«explosiva», segundo BODY-GENDROT (1988, p. 19), no entanto reconheceFátima Velez de Castro81

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