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A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaA capacidade de tolerância dos portugueses é uma construção do passado,resultante do imaginário do Outro «diferente». O racismo e a xenofobiasão fenómenos proteiformes, polissémicos e fragmentados, cujamatriz sócio-antropológica se situa na conjunção de uma segurança«arcaica» que visa mudar/anular o Outro, resultando num sentimento deinsegurança com estereotipização negativa. (Ob. Cit., p. 137) Como portugueses,com uma história plena de contacto com novos povos, apresentaseincongruente este sentimento, porém é de ter em conta que a recepçãodo alóctone parece que até agora tem sido feita de forma pacífica(salvo as excepções acima referidas) e comparando com outros casos naEuropa (Alemanha; Magrebinos em França e na Espanha…), não podemosafirmar que somos um país com graves casos de racismo e xenofobia,pelo menos «flagrante». Este autor reivindica ainda o desenvolvimento deuma política voluntarista contra a exclusão social, bem como a implantaçãode um verdadeiro «civismo» na consciência colectiva, de modo a quese exorcize a cultura do medo e se controle o imaginário da insegurança.(Ob. Cit., p. 138)É certo que existem alguns grupos de imigrantes ligados a acções violentas.Normalmente tratam-se de indivíduos em situação de desvantagemeconómica e social, o que nos leva a pensar que é o contexto, ou melhor omeio envolvente, que os leva a tomar atitudes de «compensação», se éque assim se pode dizer, materializadas em delitos (roubos, tráfico dedroga…) que possam prover de certa forma o seu «sustento». TONRY(1997, pp. 1 e 2) acrescenta que nem sempre tal pode ser estabelecido deforma directa, ou seja, a posição sócio-económica do indivíduo nem sempre«justifica» eventuais actos criminosos que este possa praticar. Referepois o exemplo da Grã-Bretanha: embora se encontrem no mesmo patamarde desvantagem sócio-económica, os imigrantes Afro-Caribensesestão muito mais ligados ao crime do que o grupo do Bangladesh! Nestecaso o autor acredita que a tal se sobrepõe o jogo das disparidadesraciais, étnicas e nacionais, relativamente aos autóctones, o que por sipoderá induzir a certo tipo de atitudes de ambas as partes.Problemático é quando há a tendência para estender a culpa dos problemaseconómicos e sociais aos imigrantes, alongando tal sentimento deculpa até às segundas gerações. (Ob. Cit., p. 19) Por outro lado há errosinterpretativos que se cometem e que podem estereotipar os imigrantesde forma negativa… é diferente um delito ligado à permanência indevidano território (que implique expulsão), do que uma burla ou um acto de violência(TOURNIER e ROBERT, 1989, p. 6). No primeiro caso, a própriacomunidade local até por vezes mostra atitudes de solidariedade e deprotecção a favor do imigrante.Fátima Velez de Castro77

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaA prostituição é um flagelo que atinge a Europa e que muitas vezes éassociado ao fenómeno da imigração. 41 A pobreza, o baixo nível de instruçãoe o elevado desemprego na classe feminina, leva a que muitas mulheresvindas de África e América Latina/Sul (especialmente nas classes etáriasaté aos 25 anos) e da própria Europa central e oriental (mais velhas emais instruídas, às vezes casadas e com filhos), enveredem por estemodo de vida. O problema reside no facto de muitas vezes o fenómeno sergeneralizado à população imigrante feminina, sendo esta conotada comtal epíteto, o que leva a situações de desconfiança e não-aceitação porparte da comunidade autóctone.Apostar na prevenção, assistência e reabilitação deste grupo em risconão basta, ou seja, é necessário que se desenvolva uma acção mais profundae profícua ao nível da inserção social, para que se evitem situaçõesde «choque». Por outro lado, há a necessidade de estudar o fenómeno deforma concreta, de maneira a que a população possa estar correctamenteinformada do que realmente de passa, a fim de se promover uma educaçãopara a tolerância e abertura, mitigando-se as situações de injustaexclusão.Em Portugal, segundo BAGANHA, MARQUES e FONSECA (2000, pp. 52à 55) as causas dos comportamentos desviantes dos imigrantes estãoessencialmente ligadas a situações de pobreza e desemprego, relacionadascom o tráfico de droga. No entanto se compararmos com outros paísesda Europa, verificamos que não se regista o caso de termos um grupode imigrantes dados como potenciais delinquentes ou grandes traficantes.De qualquer forma o número de imigrantes detidos é significativo, setivermos em conta o total da população prisional em causa (em 1998,representavam 11% dessa população, sendo que desse total, 60% eramoriundos dos PALOP).41. Informações recolhidas na Comunicação da Comissão ao Conselho e ao ParlamentoEuropeu sobre o tráfico de mulheres para fins de exploração sexual, da Comissão dasComunidades Europeias, 1996, Bruxelas.Fátima Velez de Castro78

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaA capacidade de tolerância dos portugueses é uma construção do passado,resultante do imaginário do Outro «diferente». O racismo e a xenofobiasão fenómenos proteiformes, polissémicos e fragmentados, cujamatriz sócio-antropológica se situa na conjunção de uma segurança«arcaica» que visa mudar/anular o Outro, resultando num sentimento deinsegurança com estereotipização negativa. (Ob. Cit., p. 137) Como portugueses,com uma história plena de contacto com novos povos, apresentaseincongruente este sentimento, porém é de ter em conta que a recepçãodo alóctone parece que até agora tem sido feita de forma pacífica(salvo as excepções acima referidas) e comparando com outros casos naEuropa (Alemanha; Magrebinos em França e na Espanha…), não podemosafirmar que somos um país com graves casos de racismo e xenofobia,pelo menos «flagrante». Este autor reivindica ainda o desenvolvimento deuma política voluntarista contra a exclusão social, bem como a implantaçãode um verdadeiro «civismo» na consciência colectiva, de modo a quese exorcize a cultura do medo e se controle o imaginário da insegurança.(Ob. Cit., p. 138)É certo que existem alguns grupos de imigrantes ligados a acções violentas.Normalmente tratam-se de indivíduos em situação de desvantagemeconómica e social, o que nos leva a pensar que é o contexto, ou melhor omeio envolvente, que os leva a tomar atitudes de «compensação», se éque assim se pode dizer, materializadas em delitos (roubos, tráfico dedroga…) que possam prover de certa forma o seu «sustento». TONRY(1997, pp. 1 e 2) acrescenta que nem sempre tal pode ser estabelecido deforma directa, ou seja, a posição sócio-económica do indivíduo nem sempre«justifica» eventuais actos criminosos que este possa praticar. Referepois o exemplo da Grã-Bretanha: embora se encontrem no mesmo patamarde desvantagem sócio-económica, os imigrantes Afro-Caribensesestão muito mais ligados ao crime do que o grupo do Bangladesh! Nestecaso o autor acredita que a tal se sobrepõe o jogo das disparidadesraciais, étnicas e nacionais, relativamente aos autóctones, o que por sipoderá induzir a certo tipo de atitudes de ambas as partes.Problemático é quando há a tendência para estender a culpa dos problemaseconómicos e sociais aos imigrantes, alongando tal sentimento deculpa até às segundas gerações. (Ob. Cit., p. 19) Por outro lado há errosinterpretativos que se cometem e que podem estereotipar os imigrantesde forma negativa… é diferente um delito ligado à permanência indevidano território (que implique expulsão), do que uma burla ou um acto de violência(TOURNIER e ROBERT, 1989, p. 6). No primeiro caso, a própriacomunidade local até por vezes mostra atitudes de solidariedade e deprotecção a favor do imigrante.Fátima Velez de Castro77

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