A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO ... - Acidi

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A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosacom o autóctone. Esta relação, vista como um processo que ainda agorase inicia (se tivermos em conta que o nosso passado nos impele para umalonga tradição emigratória), resulta de um «jogo de dupla face», se é queassim lhe poderemos chamar, fruto de uma situação de contraste ou decontinuidade.Esta ideia é expressa por MACHADO (2002, p. 36) e leva a pensar que aaceitação do Outro depende de todo um conjunto de características apresentadaspor este e por Nós, da sua conjugação, da capacidade que cadaum dos lados tem para «absorver e integrar» a diferença, das relaçõesestabelecidas com o espaço aos mais diversos níveis (afectivo, económico,social, cultural…). No quadro seguinte, são apresentadas as situaçõesem que se estabelece a continuidade, ou seja, a aceitação e integraçãodo imigrante, bem como as situações de contraste, onde este é vistocomo «diferente» no sentido de não «reunir» características para serintegrado, se é que assim se pode dizer.Quadro 2 – Contrastes e Continuidades – dimensões social e culturalDimensõesContrasteContinuidade{Percentagem elevadaPeso maioritárioComposição de operários. Classesde classes médias.de classesmédias reduzidas.Mobilidade social.Pobreza. SubclasseLocalização Concentração espacial.SocialDispersão residencial.residencialBairros étnicos.Percentagem elevada deEstrutura etária idênticaEstrutura etária crianças, jovens e adultosà da populaçãoe sexualjovens. Altas taxasenvolvente.de masculinidade.{Intra-étnica e interétnicaPredominantementeSociabilidade(interacções fortes comintra-étnica (interacçõese padrõesa população envolvente).fracas com a populaçãomatrimoniaisExogamiaCulturalenvolvente). Endogamia.e miscigenação.Língua Língua diferente. Mesma língua.Religião Religião diferente. Mesma religião.Adaptado de MACHADO (1996).As similaritudes culturais, sociais e demográficas parecem decisivas parao desenvolvimento do processo de integração. Refira-se que a sociabilidadee os padrões matrimoniais, que são aqui considerados a montante,também se desenvolvem no sentido indicado no quadro, a jusante doFátima Velez de Castro69

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosaprocesso, dependendo do próprio decurso da situação. O espaço é tambémgerador de continuidades/contrastes: a dispersão espacial dos imigrantesajuda a que a comunidade melhor possa proceder ao processo deintegração.Com uma menor quantidade de indivíduos imigrados, o grupo autóctonedominante não corre o risco de se ver ameaçada pela contraposição deuma identidade que possa abafar a sua. Assim, a própria comunidade«absorve» e integra mais facilmente os seus imigrantes e estes propriamenteditos, não se fecham sobre si num mesmo espaço, permitindoa osmose de informações entre estes e os autóctones.LOPES (1999, pp. 125 a 135) identifica em Portugal alguns grupos étnicosde referência:– O grupo africano inicia a sua vinda para Portugal nos anos 60(1.º grupo – os luso-africanos), preenchendo os lugares da emigraçãointra-europeia;– Mais tarde, nos anos 70, verifica-se um novo fluxo de imigrantesvindos das ex-colónias africanas (2.º grupo) que tendo nacionalidadeportuguesa, fogem ao contexto de instabilidade do 25 deAbril, com estatuto de «imigrante-refugiado»;– Nas décadas de 80 e 90 a imigração verificada é de índoleeconómica (3.º grupo), constituída maioritariamente por indivíduosque trabalham na construção de infraestruturas.Este autor também coloca em destaque o grupo maubere, como sendouma comunidade de expatriação forçada, que vêem Portugal como umlugar de acolhimento sem restrições, embora tenham de sofrer um processode desterritorialização. A comunidade cigana, visto noutro prisma,presente no território desde o séc. XV, apresentam uma estrutura culturale social peculiar, conotada muitas vezes com um carácter negativo.Este autor considera estes grupos como minorias, no sentido pleno dapalavra, onde é visível um contraste. A dimensão social parece imperar, nosentido de promover a inadaptação, visto que se tratam de grupos carentes,pobres, que normalmente tendem a concentrar-se no mesmo espaço e queapesar de falarem a mesma língua, não estão até hoje totalmente integradosna sociedade portuguesa. Já com os brasileiros parece haver umamaior proximidade (pela língua, pela visão social veiculada pelas transmissõestelevisivas de entretenimento), bem como pelos europeus de leste(pela similaritude da estrutura demográfica, pelo nível de instrução…).Fátima Velez de Castro70

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosaprocesso, dependendo do próprio decurso da situação. O espaço é tambémgerador de continuidades/contrastes: a dispersão espacial dos imigrantesajuda a que a comunidade melhor possa proceder ao processo deintegração.Com uma menor quantidade de indivíduos imigrados, o grupo autóctonedominante não corre o risco de se ver ameaçada pela contraposição deuma identidade que possa abafar a sua. Assim, a própria comunidade«absorve» e integra mais facilmente os seus imigrantes e estes propriamenteditos, não se fecham sobre si num mesmo espaço, permitindoa osmose de informações entre estes e os autóctones.LOPES (1999, pp. 125 a 135) identifica em Portugal alguns grupos étnicosde referência:– O grupo africano inicia a sua vinda para Portugal nos anos 60(1.º grupo – os luso-africanos), preenchendo os lugares da emigraçãointra-europeia;– Mais tarde, nos anos 70, verifica-se um novo fluxo de imigrantesvindos das ex-colónias africanas (2.º grupo) que tendo nacionalidadeportuguesa, fogem ao contexto de instabilidade do 25 deAbril, com estatuto de «imigrante-refugiado»;– Nas décadas de 80 e 90 a imigração verificada é de índoleeconómica (3.º grupo), constituída maioritariamente por indivíduosque trabalham na construção de infraestruturas.Este autor também coloca em destaque o grupo maubere, como sendouma comunidade de expatriação forçada, que vêem Portugal como umlugar de acolhimento sem restrições, embora tenham de sofrer um processode desterritorialização. A comunidade cigana, visto noutro prisma,presente no território desde o séc. XV, apresentam uma estrutura culturale social peculiar, conotada muitas vezes com um carácter negativo.Este autor considera estes grupos como minorias, no sentido pleno dapalavra, onde é visível um contraste. A dimensão social parece imperar, nosentido de promover a inadaptação, visto que se tratam de grupos carentes,pobres, que normalmente tendem a concentrar-se no mesmo espaço e queapesar de falarem a mesma língua, não estão até hoje totalmente integradosna sociedade portuguesa. Já com os brasileiros parece haver umamaior proximidade (pela língua, pela visão social veiculada pelas transmissõestelevisivas de entretenimento), bem como pelos europeus de leste(pela similaritude da estrutura demográfica, pelo nível de instrução…).Fátima Velez de Castro70

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