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A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosavivenciadas por si próprio. No entanto, as relações que estabelece como grupo e com a própria sociedade, faz com que crie uma identidadepsicossocial, fruto dessas mesmas interconexões e do contributo dadopela sua própria identidade. (Ob.Cit., p.19) No fundo, no primeiro casoteremos a estruturação do EU, construindo-se, interagindo e «edificando»a própria noção do NÓS.O facto de ocorrer a migração, poderá implicar que haja a construção deuma nova identidade, empreendida não só pelo próprio migrante comotambém pelos estímulos do quotidiano individual e pelas interacçõessociais. (Ob. Cit., 26) Assim sendo, constata-se que se verificam alteraçõessignificativas no Outro, as quais parecem ser realizadas de formanatural e quase espontânea, fruto do contacto com o grupo dominante.Este grupo dominante, neste contexto, alvitra-se como sendo aquele queestá no território, ou seja, aquele que por ter nascido e vivido semprenesse espaço, desenvolveu laços e sentimentos de pertença em relaçãoao mesmo. Talvez seja por isso que imponha as suas normas, regras,valores… tenta por isso «controlar», se é que assim se pode dizer, aqueleque vem do «exterior», no sentido de manter e salvaguardar essa mesmarelação que estabeleceu com o espaço e que de certa forma integragrande parte da construção da própria identidade pessoal/colectiva.O modelo analítico tenta sintetizar e dar resposta à problemática da identidade(Ob. Cit., p. 33). As migrações pressupõem transferências de fluxoshumanos com determinadas características e motivações (que por vezesextravasa a questão puramente económica). Compõem-se assim numespaço, diferentes grupos com diferentes características, nomeadamenteculturais, o que faz com que a cultura de origem do próprio território se váadaptando e reformulando. Ora se o espaço é alvo de mudança, também opróprio migrante o será, uma vez que ao entrar num novo espaço, ao contactarcom o(s) seus(s) grupo(s) e ao desenvolver as suas actividades(sociais, profissionais…), irá acumular múltiplos estatutos, o que obviamenteirá interferir na sua identidade. Será pois essa mesma identidadeconstruída/em construção que irá incluir o indivíduo num destino colectivo,englobando-o numa determinada etnicidade. (ORIOL, 1985, p.178)MACHADO (2002, p. 29) define etnicidade como sendo a relevância que emcertas condições assume em vários planos (social, cultural, político…)a pertença de populações diferentes (cultura, raça…). Essa pertençaé traduzida e veiculada por traços como a língua, a religião, a origemnacional, a composição social, os padrões de sociabilidade, as especificidadeseconómicas e outras características que se sobrepõem a cadagrupo particular.Fátima Velez de Castro67

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaDesta forma e a cada grupo com uma relativa homogeneidade de característicasdeste tipo, chamaremos grupo étnico: será das relações estabelecidasentre os vários grupos que resultará uma pluralidade de culturasjustapostas. (Ob. Cit., p. 28) No fundo, trata-se do encontro do NÓS e doOUTRO, que pouco a pouco tende a materializar o NÓS, não o inicial masum diferente, resultante do conhecimento de ambas as partes. Masquando há um conjunto de indivíduos «diferentes» nas bases já referidas,mas que respeitam as nossas leis e regras, que se encontram legalmenteno país, integrados profissional e socialmente, até que ponto deverão serchamados assim em toda a sua plenitude? Não será demasiado redutorchamar de «grupo étnico» a quem já partilha não só do mesmo espaço,mas que também aceita e integra essa mesma sociedade? Neste sentido,HOROWITZ (1989, p. 47) propõe que apenas se chame grupo de imigrantes.A designação em si marca a diferença (de origem, pelo menos),no entanto não afasta tão cabalmente a possibilidade do processo deintegração.De qualquer forma, quer se queira quer não, a interacção será sempreatingida, mais ou menos intensamente, o que afectará de certa forma ocapital simbólico de que nos fala SAD SOUD (1985, p. 126). Este conjuntode símbolos interiorizados por cada família, por vezes resultante de váriasgerações e que tende a manter a identidade e as características étnicas,esbate-se na medida em que se operam novos contactos que vão alterara própria interpretação desse mesmo capital.Normalmente, o conceito de grupo étnico aparece muitas vezes associadoao de minoria: etimologicamente, designa um grupo que está emmenor número ou que culturalmente está inadaptado à cultura existente(ciganos…), que por sua vez também se encontra em menor número emrelação ao grupo dominante. Tal não deve ser tomado como uma situaçãocontínua e permanente… por exemplo, na sociedade norte-americana,muitas vezes se fala dos negros e dos hispânicos como sendo uma minoria,apesar destes formarem 25% da população! Este conceito por si só énormalmente mal utilizado, o que lhe acentua o carácter negativo quetende a evidenciar (MACHADO, 2002, p. 30). Um grupo étnico pode realmenteser uma minoria e muitas vezes é porque se apresenta em menornúmero e com dificuldades de adaptação. LOPES (1999, p. 113) afirma quecada vez mais as minorias se tendem a evidenciar na própria Europa,resultado da mobilidade populacional.E quanto à integração? Haverá capacidade para reconhecer o Outro, aceitando-oe integrando-o? Portugal, hoje visto como um país de imigração,está assim a tornar-se pluri-étnico, onde o Outro cada vez mais coabitaFátima Velez de Castro68

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosavivenciadas por si próprio. No entanto, as relações que estabelece como grupo e com a própria sociedade, faz com que crie uma identidadepsicossocial, fruto dessas mesmas interconexões e do contributo dadopela sua própria identidade. (Ob.Cit., p.19) No fundo, no primeiro casoteremos a estruturação do EU, construindo-se, interagindo e «edificando»a própria noção do NÓS.O facto de ocorrer a migração, poderá implicar que haja a construção deuma nova identidade, empreendida não só pelo próprio migrante comotambém pelos estímulos do quotidiano individual e pelas interacçõessociais. (Ob. Cit., 26) Assim sendo, constata-se que se verificam alteraçõessignificativas no Outro, as quais parecem ser realizadas de formanatural e quase espontânea, fruto do contacto com o grupo dominante.Este grupo dominante, neste contexto, alvitra-se como sendo aquele queestá no território, ou seja, aquele que por ter nascido e vivido semprenesse espaço, desenvolveu laços e sentimentos de pertença em relaçãoao mesmo. Talvez seja por isso que imponha as suas normas, regras,valores… tenta por isso «controlar», se é que assim se pode dizer, aqueleque vem do «exterior», no sentido de manter e salvaguardar essa mesmarelação que estabeleceu com o espaço e que de certa forma integragrande parte da construção da própria identidade pessoal/colectiva.O modelo analítico tenta sintetizar e dar resposta à problemática da identidade(Ob. Cit., p. 33). As migrações pressupõem transferências de fluxoshumanos com determinadas características e motivações (que por vezesextravasa a questão puramente económica). Compõem-se assim numespaço, diferentes grupos com diferentes características, nomeadamenteculturais, o que faz com que a cultura de origem do próprio território se váadaptando e reformulando. Ora se o espaço é alvo de mudança, também opróprio migrante o será, uma vez que ao entrar num novo espaço, ao contactarcom o(s) seus(s) grupo(s) e ao desenvolver as suas actividades(sociais, profissionais…), irá acumular múltiplos estatutos, o que obviamenteirá interferir na sua identidade. Será pois essa mesma identidadeconstruída/em construção que irá incluir o indivíduo num destino colectivo,englobando-o numa determinada etnicidade. (ORIOL, 1985, p.178)MACHA<strong>DO</strong> (2002, p. 29) define etnicidade como sendo a relevância que emcertas condições assume em vários planos (social, cultural, político…)a pertença de populações diferentes (cultura, raça…). Essa pertençaé traduzida e veiculada por traços como a língua, a religião, a origemnacional, a composição social, os padrões de sociabilidade, as especificidadeseconómicas e outras características que se sobrepõem a cadagrupo particular.Fátima Velez de Castro67

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