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A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaAtendendo ao caso francês 86 , e agora na perspectiva da educação, há umatendência ambivalente. Isto quer dizer que os resultados neste campo sãodiferentes, conforme os grupos migratórios de que estejamos a falar. Nocaso da segunda geração de Portugueses em França, no que concerneaos resultados no ensino, verifica-se um aproveitamento muito positivo,fruto de uma densa rede de apoio extra-escolar promovida pela comunidadelusa, bem como pelo apoio dos pais no processo de ensino-aprendizagem.Os marroquinos que convivem igualmente neste espaço, apresentammuito mais dificuldades, não só pela questão da língua, costumes…mas também porque muitas vezes os pais são analfabetos, o que dificultao próprio acompanhamento escolar. (Ob. Cit., p. 89)Este autor argumenta ainda que a língua não é o entrave principal à integraçãoem si, mas antes os problemas socio-psicológicos de que essageração apresenta, revelados por atitudes de insegurança, ansiedade,problemas de identidade e sentimento de culpa pela forma intensiva comque normalmente os pais trabalham. Esses serão pois os entraves quecondicionarão verdadeiramente muitos aspectos da forma de vida destegrupo. (Ob. Cit., p. 92)CATANI e PALIDDA (1989, pp. 89, 95 e 96), num estudo feito a filhos depais italianos, espanhóis e portugueses, a residir em França, concluíramque a muitos deles foi dada a oportunidade de obterem a nacionalidadefrancesa, que recusaram. Pode-se dizer que muitas das respostas dadaspelos indivíduos, acerca das motivações dessa sua decisão, coincidiramcom a dinâmica sócio-psicológica ambivalente já referida, manifestada narealidade francófona e que de certa forma instabilizava o firme desenrolardo quotidiano. A dificuldade de integração e a forte presença da imagemda cultura original (língua, práticas culturais…) também são aspectos quecondicionaram a recusa da nacionalidade francesa, bem como a intençãode voltar ao país de origem dos pais, que muitos manifestavam. A «fuga»ao serviço militar, também se constitui como uma motivação paraa recusa.De quem estamos a falar então? De nacionais desenraizados? De imigrantes?De estrangeiros? Podemos considerar este grupo, do ponto devista sociológico, como população estrangeira/imigrada. No entanto, ocampo jurídico reflecte a necessidade de distinção. Consideraremos asegunda geração como população imigrada, quando o indivíduo nasce nopaís de acolhimento dos pais e ganha a nacionalidade desse mesmo país.86. Foi o caso específico estudado por estes autores.Fátima Velez de Castro121

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaCaso contrário, ou seja, se nascer no país de origem dos pais ou até no deacolhimento, mas se tiver a nacionalidade do país de origem dos progenitores,inclui-se também na categoria de população estrangeira. (COSTA--LASCOUX, 1985, p. 26)Será ainda, quanto a esta questão, importante referir o facto de que muitosconsideram este grupo como o Outro, ou seja, mesmo que consideremque partilham da mesma realidade que os autóctones, são consideradoscomo a «nova população», pelo menos. São apresentados semprecomo uma geração intermédia, um grupo híbrido que não se identificanem se completa com nenhum dos territórios a que pertence: o de partidae o de chegada dos pais.BOLZMAN, FIBBI e GARCIA (1987, pp. 55 e 67) procuram averiguar qual anatureza da segunda geração, quer dizer, se estes se tratam de umamera categoria social (grupo de indivíduos que partilha de um mesmoconjunto de características comuns, porém passivos e inactivos face aomeio que os rodeia), de um grupo social (grupo que já têm noção dos seusatributos e potencialidades), ou se vão mais além, constituindo-se comoum actor social (não só conhecem, como também usam os seus atributose potencialidades, tendo um forte papel interventivo). No caso da França eda Suíça, a segunda geração é entendida como uma categoria, nem tantopela inactividade a que se propõem, mas mais por parte das próprias instituições,que não permitem a participação dos «não-nacionais» (o queinclui a maior parte dos elementos deste grupo) 87 . Trata-se pois de umconjunto com características muito específicas, cuja dinâmica nos colocaperante problemas complexos e aos quais urge dar solução. NETO (1985,pp. 157 à 159) afirma que a segunda geração não só nos coloca perante aimportância do fenómeno das migrações, como também de todas as«perdas» que isso implica. Os indivíduos pertencentes a este grupo específicosão portadores da chamada dialéctica do desenraizamento, o quesignifica que tanto beneficiam do seu poder criador (capacidade de construçãoda identidade), como do seu poder nefasto (destruturação da identidade).Tanto podem agir com revolta como com submissão e tambémautonomia: neste caso, a integração estará concentrada na interacção/criaçãoa partir da gama de comportamentos oferecidos por ambasas culturas, postas em contacto pela migração. A cada um dos países, acada uma das suas estruturas e instituições, cabe a responsabilidade deintegração deste grupo, sendo desejável a atribuição de meios que permitama cada um definir-se perante si mesmo e perante os outros.87. Claro que tal também dependerá da imagem e do peso de cada nacionalidade.Fátima Velez de Castro122

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila ViçosaCaso contrário, ou seja, se nascer no país de origem dos pais ou até no deacolhimento, mas se tiver a nacionalidade do país de origem dos progenitores,inclui-se também na categoria de população estrangeira. (COSTA--LASCOUX, 1985, p. 26)Será ainda, quanto a esta questão, importante referir o facto de que muitosconsideram este grupo como o Outro, ou seja, mesmo que consideremque partilham da mesma realidade que os autóctones, são consideradoscomo a «nova população», pelo menos. São apresentados semprecomo uma geração intermédia, um grupo híbrido que não se identificanem se completa com nenhum dos territórios a que pertence: o de partidae o de chegada dos pais.BOLZMAN, FIBBI e GARCIA (1987, pp. 55 e 67) procuram averiguar qual anatureza da segunda geração, quer dizer, se estes se tratam de umamera categoria social (grupo de indivíduos que partilha de um mesmoconjunto de características comuns, porém passivos e inactivos face aomeio que os rodeia), de um grupo social (grupo que já têm noção dos seusatributos e potencialidades), ou se vão mais além, constituindo-se comoum actor social (não só conhecem, como também usam os seus atributose potencialidades, tendo um forte papel interventivo). No caso da França eda Suíça, a segunda geração é entendida como uma categoria, nem tantopela inactividade a que se propõem, mas mais por parte das próprias instituições,que não permitem a participação dos «não-nacionais» (o queinclui a maior parte dos elementos deste grupo) 87 . Trata-se pois de umconjunto com características muito específicas, cuja dinâmica nos colocaperante problemas complexos e aos quais urge dar solução. NETO (1985,pp. 157 à 159) afirma que a segunda geração não só nos coloca perante aimportância do fenómeno das migrações, como também de todas as«perdas» que isso implica. Os indivíduos pertencentes a este grupo específicosão portadores da chamada dialéctica do desenraizamento, o quesignifica que tanto beneficiam do seu poder criador (capacidade de construçãoda identidade), como do seu poder nefasto (destruturação da identidade).Tanto podem agir com revolta como com submissão e tambémautonomia: neste caso, a integração estará concentrada na interacção/criaçãoa partir da gama de comportamentos oferecidos por ambasas culturas, postas em contacto pela migração. A cada um dos países, acada uma das suas estruturas e instituições, cabe a responsabilidade deintegração deste grupo, sendo desejável a atribuição de meios que permitama cada um definir-se perante si mesmo e perante os outros.87. Claro que tal também dependerá da imagem e do peso de cada nacionalidade.Fátima Velez de Castro122

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