A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO ... - Acidi

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO ... - Acidi A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO ... - Acidi

oi.acidi.gov.pt
from oi.acidi.gov.pt More from this publisher
12.07.2015 Views

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosaoutro permite-lhes que tenham uma maior abertura e amplitude paracompreender o «funcionamento» da comunidade de chegada.Contudo, é o imigrante que muitas vezes promove o gueto, quando renunciaa determinada localização da habitação, em prol de outra que não lheseleve as despesas (se preferir investir numa boa residência no local de origem).Neste caso, estarão incluídos praticamente todos os imigrantes quepretendem permanecer temporariamente no local de chegada. Mas, independentementedas intenções de permanência, é extremamente importantea consolidação do indivíduo no espaço, já que este é definidor daprópria imagem que inerentemente se associará ao indivíduo. As políticasde alojamento poderão gerar as soluções mais convenientes para esteprocesso, mas a verdade é que mais são as vezes que originam choquescom a população autóctone. (LOPES, 1999, p. 125; GASPAR, 2002, p. 72)Esta situação poderá advir do facto destas políticas actuarem tardedemais, ou seja, normalmente é só a partir do estabelecimento dos grupose da sua interacção com o meio que os problemas são detectados etentados solucionar. Claro que se compreende que tentar resolver muitoantes, seria mais difícil, porém na impossibilidade de prever este tipo deproblemática, seria importante pelo menos o desenvolvimento de umaestratégia de acção a curto prazo, no sentido de envidar esforços e dispositivosde actuação imediatos. O facto de Portugal ser também um país deimigração, certamente contribuirá para que ainda não haja uma visãomais abrangente desta questão. Por exemplo, na Suécia, o processo deimigração e de regularização, inclui a própria integração espacial, materializadana aquisição residencial. No nosso país tal parece estar aindaum pouco longe ser real, no entanto se a tendência de entrada de populaçãoestrangeira se mantiver, será necessário e urgente a reflexão sobrea questão da habitação e da sua localização no espaço.4.4.2. As áreas residenciais e a segregaçãoA localização da residência pode ser considerada como uma das marcasdo grau de integração do imigrante na sociedade. Por exemplo, a ilegalidade/clandestinidadeda migração certamente será traduzida pela escolhada residência. Este grupo, muitas vezes explorado, acaba por ocuparlugares desfavoráveis, nomeadamente espaços de guetos. Na região deLisboa, este fenómeno é bem visível, já que cada vez mais se acentuam asiniquidades entre grupos sociais, ligados a problemas de exclusão social(droga, desemprego, envelhecimento…). Como consequência, os padrõeseconómicos e residenciais, nesta área, tendem a ser cada vez maisFátima Velez de Castro111

A EUROPA DO OUTRO – A IMIGRAÇÃO EM PORTUGAL NO INÍCIO DO SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosafragmentados e caracterizados por rígidas divisões espaciais. (FONSECA,MALHEIROS, ESTEVES e CALDEIRA, 2002, pp. 34 e 40)Essa escolha nem sempre é forçada por motivos económicos, como à primeiravista se pode pensar. O imigrante poder preferir processar a suaintegração através de membros do mesmo grupo que já estejam a viverno país de acolhimento há mais tempo e para isso será importante que semantenha perto da sua própria comunidade, inclusive em termos espaciais.No entanto esse é um caminho quiçá traiçoeiro para a integração,uma vez que o indivíduo pode acabar por se acomodar às circunstâncias,ou seja, à comunidade do país de origem que está à sua volta, esquecendoa necessidade e pertinência de tentar estabelecer contactos com a comunidadeautóctone. É por isso comum que estes indivíduos/grupos sefechem sobre si mesmos já que, internamente, conseguem suprir as suasnecessidades. Problemático é quando há a tentativa de rompimento e desaída desse limite e se verifica que, se este se tornou numa barreiraquase que intransponível, fruto da resposta da comunidade de acolhimentoa essa atitude de isolamento.MALHEIROS (1996, p. 191) invoca Mcevoy, afirmando que existem áreasespaciais predominantemente étnicas, tornando-se evidentes os processosde segregação espacial destas mesmas comunidades, já que verificaum «limite» marcado entre estas e a comunidade autóctone. Diz o autorque, se em termos directos estes processos de segregação resultam dasopções residenciais dos membros da comunidade imigrante, em termosindirectos eles são condicionados por factores exógenos, como a capacidadediferencial de acesso ao solo, ou até pelo domínio exercido pelosnaturais sobre o mercado residencial.Contudo, um estudo realizado, por este autor, na comunidade Indiana emLisboa, veio mostrar que os membros mais abastados do grupo desvalorizavama aquisição da residência em áreas predominantemente étnicas,onde a maioria dos indivíduos tinha um estatuto social mais desfavorável.Em contrapartida, privilegiavam a qualidade habitacional, deslocando-separa zonas residenciais dominadas pela comunidade autóctone. Nestecaso, já outros factores se sobrepõem ao meramente cultural, ou seja, ocaso do factor económico. AMERSFOORT (1987, p. 113), ao referir o casoholandês, afirma que o valor da cultura como motivação para a escolha deresidência é passada para segundo plano, sendo ultrapassada por factorescomo a educação dos filhos, ou até a própria religião.Claro que o caso holandês se reveste de imensas particularidades, noentanto há que ter em conta que o grau de segregação sócio-espacialFátima Velez de Castro112

A <strong>EUROPA</strong> <strong>DO</strong> <strong>OUTRO</strong> – A IMIGRAÇÃO <strong>EM</strong> <strong>PORTUGAL</strong> <strong>NO</strong> INÍCIO <strong>DO</strong> SÉCULO XXI – Estudo do caso dos imigrantesda Europa de Leste no concelho de Vila Viçosafragmentados e caracterizados por rígidas divisões espaciais. (FONSECA,MALHEIROS, ESTEVES e CALDEIRA, 2002, pp. 34 e 40)Essa escolha nem sempre é forçada por motivos económicos, como à primeiravista se pode pensar. O imigrante poder preferir processar a suaintegração através de membros do mesmo grupo que já estejam a viverno país de acolhimento há mais tempo e para isso será importante que semantenha perto da sua própria comunidade, inclusive em termos espaciais.No entanto esse é um caminho quiçá traiçoeiro para a integração,uma vez que o indivíduo pode acabar por se acomodar às circunstâncias,ou seja, à comunidade do país de origem que está à sua volta, esquecendoa necessidade e pertinência de tentar estabelecer contactos com a comunidadeautóctone. É por isso comum que estes indivíduos/grupos sefechem sobre si mesmos já que, internamente, conseguem suprir as suasnecessidades. Problemático é quando há a tentativa de rompimento e desaída desse limite e se verifica que, se este se tornou numa barreiraquase que intransponível, fruto da resposta da comunidade de acolhimentoa essa atitude de isolamento.MALHEIROS (1996, p. 191) invoca Mcevoy, afirmando que existem áreasespaciais predominantemente étnicas, tornando-se evidentes os processosde segregação espacial destas mesmas comunidades, já que verificaum «limite» marcado entre estas e a comunidade autóctone. Diz o autorque, se em termos directos estes processos de segregação resultam dasopções residenciais dos membros da comunidade imigrante, em termosindirectos eles são condicionados por factores exógenos, como a capacidadediferencial de acesso ao solo, ou até pelo domínio exercido pelosnaturais sobre o mercado residencial.Contudo, um estudo realizado, por este autor, na comunidade Indiana emLisboa, veio mostrar que os membros mais abastados do grupo desvalorizavama aquisição da residência em áreas predominantemente étnicas,onde a maioria dos indivíduos tinha um estatuto social mais desfavorável.Em contrapartida, privilegiavam a qualidade habitacional, deslocando-separa zonas residenciais dominadas pela comunidade autóctone. Nestecaso, já outros factores se sobrepõem ao meramente cultural, ou seja, ocaso do factor económico. AMERSFOORT (1987, p. 113), ao referir o casoholandês, afirma que o valor da cultura como motivação para a escolha deresidência é passada para segundo plano, sendo ultrapassada por factorescomo a educação dos filhos, ou até a própria religião.Claro que o caso holandês se reveste de imensas particularidades, noentanto há que ter em conta que o grau de segregação sócio-espacialFátima Velez de Castro112

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!