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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

Que arranjos sócio-técnicos e que condições podem favorecer experiências<br />

expandi<strong>da</strong>s e intensifica<strong>da</strong>s de reforço <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia num mundo de redes<br />

digitais? Que tipos de práticas e instituições na rede tendem a desencorajar ou<br />

restringir possibili<strong>da</strong>des desse tipo?<br />

Nas discussões sobre a política e o mundo digital, muita atenção é <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

às características do software e <strong>da</strong>s redes. Em comparação, relativamente<br />

poucos estudos são dedicados à importância desses recursos para a<br />

experiência <strong>da</strong>s pessoas que vão encontrá-los. Nas questões que envolvem<br />

escolhas tecnológicas, talvez o ponto mais amplamente ignorado<br />

seja: Quem seremos? Isso é o mesmo que dizer: Quem nos tornaremos quando esses<br />

dispositivos e sistemas estiverem instalados para nosso uso comum? Conforme novas<br />

características emergem dos dispositivos digitais e dos sistemas, é importante antecipar<br />

que as formas de experiência social e política serão provavelmente promovi<strong>da</strong>s<br />

por determinados padrões técnicos e institucionais. Vou analisar brevemente dois<br />

exemplos contemporâneos nos quais um software de computador e a Internet foram<br />

configurados de uma maneira que traz consequências significativas à percepção que<br />

as pessoas têm de si mesmas e à sua capaci<strong>da</strong>de de entrar na vi<strong>da</strong> pública.<br />

Algumas <strong>da</strong>s restrições mais eficazes <strong>da</strong> psicologia <strong>da</strong> liber<strong>da</strong>de surgem na rede<br />

quando pessoas comuns estão cui<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong> sua própria vi<strong>da</strong> e acabam descobrindo<br />

que forças poderosas, em grande medi<strong>da</strong>, passaram a defini-las como suspeitas —<br />

como se fossem pessoas de quem se espera que quebrem as regras e até que cometam<br />

atos criminosos. Um remédio comumente proposto para isso é a implantação de<br />

sistemas de vigilância para induzir a obediência. Desde a invenção do Panóptico, em<br />

1785, por Jeremy Bentham e seu irmão Samuel, a força <strong>da</strong>s estruturas de vigilância<br />

nas prisões, nas escolas, nos hospitais e em locais de aglomeração pública tem sido<br />

tema central nas ciências sociais e na arquitetura. A hipótese básica é a de que, se o<br />

projeto de um edifício ou de uma instituição impõe uma sensação contínua de se<br />

estar sendo observado, o comportamento <strong>da</strong>s pessoas é afetado de forma favorável<br />

imediatamente e a longo prazo. Os irmãos Bentham esperavam que essa experiência<br />

contribuísse para uma reforma social positiva, incutindo memórias de vigilância<br />

panóptica em sujeitos que precisavam cumprir um papel mais positivo na socie<strong>da</strong>de.<br />

Revisitando a questão no final de século XX, no entanto, Michel Foucault denunciou<br />

a dinâmica mais ampla <strong>da</strong> opressão incorpora<strong>da</strong> em projetos e estruturas sociais<br />

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