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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

não precisam de relação de proprie<strong>da</strong>de 4 .<br />

Os bens comuns podem ser abertos a todo mundo, como é o caso do ar que<br />

respiramos ou <strong>da</strong> água dos oceanos. Também podem ser de acesso limitado a uma<br />

comuni<strong>da</strong>de, como os pastos comunais para o gado ou os campos de cultivo comuns.<br />

Em outro ponto de vista, podem ser submetidos ou não à regulação. Inclusive, um<br />

mesmo bem pode ter uma dupla consideração. Benkler destaca o exemplo do ar: para<br />

respirar é livre e gratuito, mas a contaminação do mesmo está submeti<strong>da</strong> à regulação<br />

e ao pagamento de taxas em alguns casos. Os procomuns abertos mais importantes<br />

e significativos são a ciência e a cultura até o século XIX. No século XX, uma parte<br />

significativa <strong>da</strong> cultura deixou de ser procomun, assim como algumas áreas de investigação<br />

científica. No século XXI, segundo Benkler, tanto a ciência quanto a cultura<br />

correm o risco de uma progressiva e ilimita<strong>da</strong> privatização 5 . As intenções de patentear<br />

algoritmos matemáticos fun<strong>da</strong>mentais para a produção de software e a de John Crai<br />

Venter patentear desenhos de seres vivos são exemplos de até que ponto a ciência e a<br />

tecnologia estão submeti<strong>da</strong>s a uma profun<strong>da</strong> pressão mercantilista. Essa progressiva<br />

apropriação pode supor um notável freio à inovação e à difusão cultural. Pelo contrário,<br />

o procomun supõe um ambiente de democratização <strong>da</strong> cultura e desenvolvimento<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Por ele, as redes devem se manter como bens comuns que garantam,<br />

segundo L. Lessig 6 , a liber<strong>da</strong>de dos usuários. Essa ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia potencializa<strong>da</strong> se manifesta<br />

através de redes sociais virtuais, blogs, videoblogs, comuni<strong>da</strong>des de intercâmbio,<br />

movimentos Open Source e Conhecimento Livre (Free Knowledge) etc. Mas também<br />

se manifesta a partir do poderoso movimento de deslocamento do poder do centro<br />

do sistema para a periferia, como fazem as chama<strong>da</strong>s comuni<strong>da</strong>des de interesse.<br />

circunstâncias. É como dizer que em certos casos vale a pena colaborar, ser ético e restringir a busca de<br />

benefício pessoal. Os princípios éticos não seriam uma restrição aos princípios <strong>da</strong> racionali<strong>da</strong>de prática.<br />

Muito pelo contrário, seriam um requisito <strong>da</strong> própria racionali<strong>da</strong>de prática. Em outras palavras, ser<br />

racional implica ser ético. Ain<strong>da</strong> que não se tenha demonstrado a universali<strong>da</strong>de desse princípio, há<br />

possibili<strong>da</strong>de de uma convergência entre dever e interesse em algo mais que uma simples conjectura.<br />

Esse é o paradigma ético em que se baseiam os movimentos do Software Livre e Conhecimento Livre.<br />

Sem essa convergência, ética e economia poderiam se reunir de novo como varie<strong>da</strong>de de uma teoria<br />

geral dos valores.<br />

4. Esta é a base do trabalho pelo qual Elinor Ostrom (1990) ganhou o Prêmio Nobel de Economia em<br />

2009. Ostron demonstra que a gestão dos bens comuns, contra a opinião de Hardin, não é somente<br />

possível, mas necessária.<br />

5. Cf. Benkler (2003).<br />

6. Cf. Lessig (2004).<br />

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