Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
Uma política pública de inclusão social só pode ser entendi<strong>da</strong> a partir de<br />
uma análise do processo cumulativo de exclusão que se agrava com o<br />
desenvolvimento <strong>da</strong>s novas tecnologias de informação e comunicação.<br />
Em primeiro lugar, porque aumenta a exclusão no campo dos direitos<br />
básicos, o <strong>da</strong> informação. A compreensão de que o processo de<br />
inclusão digital faz parte de uma construção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia nos coloca no campo do<br />
direito à informação, ao conhecimento e à comunicação. O acesso à informação é<br />
um direito fun<strong>da</strong>mental de qualquer socie<strong>da</strong>de democrática basea<strong>da</strong> no pluralismo,<br />
na tolerância, na justiça e no respeito mútuo. Sem informação não temos conhecimento<br />
dos nossos direitos e não temos como assegurá-los. Ao falarmos de inclusão<br />
digital estamos nos referindo a uma nova cultura de direito, não apenas o direito<br />
genérico à internet, mas ao acesso à informação enquanto um bem público.<br />
Em segundo lugar, porque aumenta a relação entre exclusão social e territorial.<br />
Um dos aspectos que marcam a Reforma Urbana é o entendimento de que a garantia<br />
por direitos passa pelo acesso a equipamentos coletivos. A garantia do direito à<br />
habitação, à educação e à saúde, incorpora<strong>da</strong> ao direito à ci<strong>da</strong>de, na Reforma Urbana,<br />
está liga<strong>da</strong> à democratização do acesso aos equipamentos urbanos e comunitários<br />
e exige uma infraestrutura para ser efetiva. Da mesma forma, o acesso às novas<br />
tecnologias de informação coloca exigências sobre novas formas de equipamentos<br />
coletivos e bens públicos capazes de garantir o acesso a redes de informação.<br />
O caminho trilhado inicialmente pelas ONGs, e depois acompanhado pelos<br />
governos, no sentido de superar a imensa distância entre o conjunto <strong>da</strong> população<br />
brasileira e as oportuni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> era digital foi o de instalação de equipamentos comunitários<br />
— centros de informática — que trabalhavam basicamente o campo de<br />
alfabetização digital. Os clubes e escolas de informática, implantados em sua grande<br />
de maioria sem acesso à internet, foram questionados pela própria veloci<strong>da</strong>de de<br />
inovação e pelas necessi<strong>da</strong>des sociais e deman<strong>da</strong>s <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de.<br />
Já nos final dos anos de 1990, esboçam-se políticas públicas de inclusão digital<br />
desenvolvi<strong>da</strong>s no Brasil. De algum modo, reproduzimos no campo <strong>da</strong> inclusão<br />
digital um caminho percorrido por políticas de trabalho e de ren<strong>da</strong>. Assim como<br />
podemos localizar um primeiro momento de ações locais de trabalho e de ren<strong>da</strong> que<br />
não criavam mobilização e ação articula<strong>da</strong> em termos de desenvolvimento local, <strong>da</strong><br />
mesma forma o caminho dos telecentros, pensados de forma isola<strong>da</strong>, numa perspectiva<br />
de inclusão digital ponto a ponto, não incorporava uma visão mais abrangente<br />
e integra<strong>da</strong> de desenvolvimento local.<br />
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