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Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais

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c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />

abençoar o capitalismo” 5 . O desenvolvimento seguinte explicita e aprofun<strong>da</strong>: “É<br />

com muita ingenui<strong>da</strong>de ou até malandragem que uma filosofia <strong>da</strong> comunicação pretende<br />

restaurar uma socie<strong>da</strong>de dos amigos ou até dos sábios por meio <strong>da</strong> formação<br />

de uma opinião universal enquanto consenso capaz de moralizar as nações, os Estados<br />

e o mercado” 6 .<br />

A crítica dos Direitos Humanos visa imediatamente à ideia de uma comunicação<br />

que funcionaria como o instrumento neutral de implementação, por meio dessa<br />

nova retórica do poder, do consenso em torno <strong>da</strong> soberania do mercado.<br />

Com efeito, a crítica se dirige contra a mistificação liberal (e neoliberal) do discurso<br />

dos Direitos Humanos e do humanismo eurocêntrico (ocidental) — que nele<br />

está embutido. De maneira afirmativa, isso significa dizer que não é possível pensar<br />

os Direitos Humanos sem uma crítica do capitalismo e dos valores que lhe permitem<br />

impor o mercado como forma universal.<br />

A universalização dos Direitos Humanos como mera abstração individualista<br />

torna universal apenas o mercado e seu direito de proprie<strong>da</strong>de que, na reali<strong>da</strong>de, os<br />

contradiz e suspende.<br />

As consequências políticas são conheci<strong>da</strong>s. Relegados a uma existência meramente<br />

formal, os Direitos Humanos se transformam em elemento retórico de legitimação<br />

<strong>da</strong>s novas formas de poder e exclusão, seja quando eles acompanham os<br />

aviões dos exércitos imperiais que bombardeiam os palestinos em nome <strong>da</strong> paz; ou<br />

os afegãos em nome <strong>da</strong> luta ao terrorismo; os iraquianos em nome <strong>da</strong> democracia;<br />

ou os ex-iugoslavos em nome <strong>da</strong> tolerância, seja quando eles sustentam as operações<br />

de polícia destina<strong>da</strong>s a manter a miséria dentro de seus limites “democráticos”, atrás<br />

dos muros <strong>da</strong>s favelas.<br />

Aqui, a retórica dos Direitos Humanos se articula com aquela do fim <strong>da</strong> história:<br />

não haveria por que, nem como, se opor à sua soberania. Nas novas formas<br />

de soberania imperial, paz e guerra se misturam: o exército vira polícia, como nos<br />

territórios ocupados <strong>da</strong> Palestina ou do Iraque, e a polícia vira exército, como nas<br />

favelas cariocas.<br />

Nessa nova condição, o peso crescente do “discurso” dos Direitos Humanos se<br />

acompanha de um número ca<strong>da</strong> vez maior de homens sem direitos. Não há como<br />

5. Ibid. p. 103.<br />

6. Ibid.<br />

141<br />

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