Sergio Amadeu da Silveira - Cidadania e Redes Digitais
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Expansão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e redes digitais<br />
c i d a d a n i a e r e d e s d i g i t a i s<br />
Não é sempre que se tem a oportuni<strong>da</strong>de de debater sobre um problema<br />
clássico <strong>da</strong> filosofia política como o conceito de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia em relação<br />
a um fenômeno tão atual, e aparentemente de natureza puramente<br />
tecnológica, como o <strong>da</strong>s redes digitais. Estamos acostumados a entender<br />
a tecnologia como uma dimensão instrumental <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de<br />
humana. Desse ponto de vista, as tecnologias são elementos de mediação com a<br />
reali<strong>da</strong>de. Ampliam o alcance <strong>da</strong>s nossas possibili<strong>da</strong>des de ação, multiplicam seu<br />
impacto sobre a natureza. Definitivamente, tudo o que se relaciona com o técnico<br />
supõe, em grande medi<strong>da</strong>, implementar formas de controle e garantir um maior<br />
grau de cumprimento de alguns objetivos, sejam individuais ou coletivos, culturais<br />
ou econômicos, militares ou produtivos. Portanto, falamos de uma tecnologia<br />
aparentemente instrumental e neutra, já que os objetivos e o ideário aos quais serve<br />
vêm definidos pelo âmbito <strong>da</strong> ética e <strong>da</strong> política. Definitivamente, a visão instrumental<br />
<strong>da</strong> tecnologia nos leva a pensar que qualquer tipo de constituição política,<br />
qualquer tipo de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia é compatível com qualquer sistema tecnológico; que a<br />
democracia é alheia a certas decisões estratégicas relaciona<strong>da</strong>s ao sistema energético,<br />
comunicacional e produtivo que caracterizam nossa socie<strong>da</strong>de.<br />
Na<strong>da</strong> mais longe <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de. O fenômeno humano não pode ser entendido<br />
fora de seu diálogo com a tecnologia. Na<strong>da</strong> está transformando tanto a reali<strong>da</strong>de<br />
humana como a tecnologia em to<strong>da</strong>s as suas facetas. Os conceitos de natural e<br />
de artificial se sobrepõem e se complementam continuamente. Muitos desejam<br />
ain<strong>da</strong> hoje em dia manter em pé certas mitologias basea<strong>da</strong>s na existência de uma<br />
suposta ordem natural que basearia a ordem social. “Aquilo que compreendemos<br />
por natureza, e aquilo que por natureza fica fora de nossos direitos, fora do que é<br />
lícito reclamar.” Já na Grécia clássica, Platão cunhou em seu diálogo A República<br />
o termo “mentira nobre”, que faz referência às castas sociais. Segundo esse mito,<br />
todos os homens nascem <strong>da</strong> Terra, mãe e ama de leite, porque somos humanos,<br />
mas na natureza de ca<strong>da</strong> um existe uma composição diferente de metais. Se em<br />
sua composição houver ouro,você pertence à casta dos guardiões e governantes <strong>da</strong><br />
pólis. Se for composto de prata, será auxiliar. Se for de bronze ou ferro, será trabalhador<br />
e artesão. Não é impossível, segundo Platão, que um homem de bronze<br />
gere um filho de ouro ou vice-versa, mas a educação deve orientar e conscientizar<br />
ca<strong>da</strong> um <strong>da</strong> posição social a que pertence. Definitivamente, a socie<strong>da</strong>de virtuosa será<br />
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