○ ○ ○ ○vincula<strong>da</strong> e pauta<strong>da</strong> nessa ética jamaisse furtará a encontros na vi<strong>da</strong> e assimsendo, sua atuação profissional seráradicalmente diferencia<strong>da</strong> do modelovigente.O modelo vigente na assistência àsaúde está vinculado, de acordo comas reflexões expostas, a aspectos <strong>da</strong>macropolítica. A crise não é só <strong>da</strong>saúde, mas dos paradigmas para sepensar as questões <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de.Júlio César Silveira Gomes Pinto(1998, p. 121), relatando suaexperiência com alunos <strong>da</strong> área deSaúde, observa que há umadiscrepância entre os conhecimentosque se referem a técnicas para oestabelecimento de diagnóstico dedoenças e os conhecimentos relativosà vi<strong>da</strong> emocional dos pacientes. O quese ensina nos cursos <strong>da</strong> área de Saúde,sobretudo nos de Medicina, é ocontrole dos pacientes. As perguntasobjetivas <strong>da</strong>s anamneses e as decisõesrápi<strong>da</strong>s explicitam o domínio domédico sobre o paciente. Em suaanálise conclui: “A hipótese é a de queo atual mercado de trabalho, onde seexige atendimento em massa, rápido,corrido, sem tempo para ouvir aspessoas, está determinando de modoquase completo a formação nasfacul<strong>da</strong>des.”Nesse estudo, fica claro que aformação profissional tem valorizadoos conhecimentos a respeito doorganismo em detrimento aos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>psíquica e social <strong>da</strong> população. Eain<strong>da</strong>: “O método e o conteúdo doensino tradicional na área de Saúdedificulta ou impede a emergência <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de dos assistidos e que,para tal efeito, é necessário, ao longodos anos de formação solapar asubjetivi<strong>da</strong>de do futuro profissional desaúde” (id., p. 123).Caminhou-se muito. Há ummaravilhoso desenvolvimento tecnológicoe, no entanto, questões antigasain<strong>da</strong> são suscita<strong>da</strong>s com estatuto denovi<strong>da</strong>de. O velho invade o novo semao menos se <strong>da</strong>r ao trabalho de vircom nova roupagem. Muitas vezes nãohá sequer o trabalho de disfarçar-secomo nova questão. A crise atual ésobretudo nas relações. O“desenvolvimento” tem se eximido deresponder a duas premissas cruciaispresentes a qualquer rumo que sequeira tomar: para que e para quem?Dessa maneira, é possível que sechegue a uma outra questão: como?Assim, há a promessa de instaurar-seuma marca histórica nas ações comoum todo em nosso País.Jurandir Freire Costa (1989),discutindo sobre as dificul<strong>da</strong>des queos profissionais de saúde encontramno seu dia-a-dia e sobre a capaci<strong>da</strong>dede criar que se impõe na superaçãodessas dificul<strong>da</strong>des, analisa que asteorias não devem ser usa<strong>da</strong>s comocamisas-de-força que impeçam osmovimentos criativos. Para ele, olugar <strong>da</strong>s teorias é o <strong>da</strong> reflexão sobreo fazer e um lugar privilegiado desuperação aos impasses de ca<strong>da</strong> dia.Diz ain<strong>da</strong>, que só se cria algo novoquando se corre o risco de por à provaos paradigmas científicos existentes.É necessário correr o risco dediscutir sem medo a prática que setem construído entre os profissionaisde saúde. O máximo que poderáacontecer será a construção de novasreferências e, mesmo que isso possaatordoar os que se apegam às certezas,parece ser menos <strong>da</strong>noso que aobediência cega.“Se o corpo humano é despe<strong>da</strong>çado,o homem está morto. Se aalma é despe<strong>da</strong>ça<strong>da</strong>, ele simplesmentese tornará mais obedientee na<strong>da</strong> mais” (SCHWARTZ apudCOSTA, 1989, p. 6).BibliografiaBARBOSA, Joaquim Gonçalves.Multirreferenciali<strong>da</strong>de na ciência e naeducação. São Carlos: EdUFSCar,1998.BETTELHEIM, Bruno. O coraçãoinformado: autonomia na era <strong>da</strong>massificação. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1985.Formação73
○ ○ ○ ○CASTIEL, Luís David. O buraco e oavestruz: a singulari<strong>da</strong>de do adoecerhumano. Campinas: Papirus, 1994.COSTA, Jurandir Freire. Psicanálisee contexto cultural: imagináriopsicanalítico, grupos e psicoterapias.Rio de Janeiro: Campus, 1989.DEMO, Pedro. Combate à pobreza:desenvolvimento como oportuni<strong>da</strong>de.Campinas: Autores Associados, 1996.ENGEL, Magali Gouveia. Os delírios<strong>da</strong> razão: médicos, loucos e hospícios(Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio deJaneiro: FIOCRUZ, 2001.PINTO, Júlio César Silveira Gomes.Temas de saúde mental. Niterói:Muiraquitã, 1998.PROJETO UNI-NATAL. Relatórioanalítico <strong>da</strong> fase II- 1999 a 2002. Natal:UFRN/Projeto UNI, 2002. 74 p.SAFRA, Gilberto. Corpo e imagem:em busca <strong>da</strong> presença. In:COMPARATO, Maria CecíliaMazilli; MONTEIRO, Denise deSouza Feliciano. A criança nacontemporanei<strong>da</strong>de e a psicanálise:mentes & mídia: diálogos interdisciplinares.São Paulo: Casa doPsicólogo, 2001. p. 17-23.74Nº 05 MAIO DE 2002