Revista Formação 5 - BVS Ministério da Saúde

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○ ○ ○ ○com situações de grande sofrimentono âmbito profissional. Situações que,ao menos pelos que preferem ospercalços das incertezas ao sossegodas falsas certezas, sabe-se que sãoproduzidas historicamente. A produçãocientífica, sob esse ângulo, estávinculada a interesses de grupos e deparadigmas. Nesse sentido, a metáforado “buraco” citada anteriormente,pode constituir-se comoum momento de encontro com outraspossibilidades para além daquelaspré-determinadas pelo que se procura.É o que se pode chamar de elementosurpresa da pesquisa, quando se estáaberto a outras descobertas para alémdo que se espera encontrar. Issopressupõe um modelo de formaçãopermanente, comprometido com aqualidade do conhecimento para aintervenção a que se propõe evinculado ao exercício da cidadania.Pedro Demo (1996, p. 32),discutindo sobre Educação eConhecimento, escreve:“Os traços principais dacompetência moderna ultrapassammarcantemente a posição passivae repetitiva de gente apenastreinada. Pesquisa, por ser métodode questionamento crítico ecriativo, também é princípioeducativo, porque é parte integrantedo processo emancipatório.Não copiar propostas alheias, masconstruir e reconstruir as próprias,com habilidade individual ecoletiva, é marca central dacapacidade de participar ativamenteda inovação e da humanizaçãoda história. A reconstruçãoda própria experiência, alémde fomentar a pertinência cultural,transforma o fazer em saber fazer.Inovar supõe estar à frente dahistória, pela via da atualizaçãopermanente.”Formação profissional seria, assim,um caminho trilhado continuamentee não apenas um momento inseridono tempo acadêmico. O profissionalnunca estará num momento decompletude. Supondo-se que oconhecimento é sempre acrescido denovos saberes, a formação será ummovimento permanente, não podendoconstituir-se como algo acabado ecompleto. Dentro desse princípio, aformação profissional será então umcaminho a ser trilhado por toda avida.Parece haver sentido em concebera formação profissional como umpercurso a ser sempre construído ecomo algo inacabado. A sociedadepassa por constantes mudanças,mudanças essas que interferem emarranjos e rearranjos de sobrevivênciafísica e psíquica dos sujeitos nelainseridos. O lugar ocupado por umapessoa será quase sempre demarcadoem função de relações de alteridade,mediante hábitos e costumes locais,regras jurídicas, valores culturais,tradições familiares, além de outrasquestões. Portanto, não há fim. Hásempre começo e recomeço.Nesse sentido, Pedro Demo (id.,p. 53), escrevendo sobre a felicidadee a lógica da flor, parece vir emauxílio esclarecedor à idéia exposta:“A felicidade tem a lógica da flor:não há como separar sua beleza dafragilidade e do fenecimento.Entretanto o fenecimento não éapenas a destruição de sua beleza,mas condição de recomeço. Assim,deve-se aceitar que a flor é bonitaporque fenece. Flor que fica sempreé de papel, artificial. É cópia. A florviva vive a contrariedade da vida:desgasta-se, passa. A seguir, brota denovo. A felicidade possui o frenesido desejo eterno na sua estrutura,mas realiza-se na passagem intensade um momento na sua história. Serfeliz é multiplicar momentosfelizes. Ou: saber deglutir a infelicidade,que é diária, para saborearmelhor a felicidade, sempre que forpossível. Felicidade, não se passa porela. É ela na passagem. A maiorinfelicidade é querer felicidadetotal, toda hora. Todo amor acabatraído. Dói. Mas recomeça.”Uma formação profissional concebidacomo acabada pressupõe umconhecimento completo. A dor éFormação71

○ ○ ○ ○saber que todo saber é incompleto. Ador é saber que a incompletude é omotor do começo, ou do eternorecomeço. Alguns preferem a ilusãoda completude, outros suportam adimensão da falta, a dimensão dohumano.Parece então, ter-se avançado nasquestões suscitadas no início doartigo. Será que se tem privilegiadouma formação profissional permanente?Viu-se que, se assim for, aincompletude coloca-se como existentee, dessa forma, parece ser maisfácil estabelecer critérios mais humanosna assistência à saúde. Por quê?Se não há saber completo, se hásempre algo a ser reaprendido, épossível que dessa forma se possapensar em quem, ou a quem se estáprestando serviços em saúde. Épossível se pensar para que e comoestão se dando esses encontros. Sim,encontros, pois é na necessidade decuidados que surge a presença docuidador.O enfoque técnico da saúde,resultante da concepção mecanicistados organismos vivos, não considerao potencial curativo do paciente. Acura vincula-se sempre a algumaintervenção externa. O corpo secoloca sem vinculação, é umaentidade à parte, sem história, semdono e sem desejos. Não seconsideram os aspectos sociais epsíquicos da doença sofrida pelosujeito que busca cuidados.Nesse aspecto, pode-se retomar aquestão da formação profissional,eixo temático dessa escrita. Naformação ocorre o mesmo processoque na assistência à saúde. A baseparece ser então a questão daeducação. Joaquim Gonçalves Barbosa(1998, p. 7) escreve sobre a“pedagogia da desautorização”, cujo“[...] eixo central tem sido anegação desde as primeiras sériesescolares, daquilo que é produzidopelo aluno no que se refere aopensar, ao sentir, ao imaginar, aodecidir, ao agir...em síntese,negação do processo de produçãodo aluno e, conseqüentemente,negação de seu processo deautoprodução.”Percebe-se assim, que há umadesvinculação, um esfacelamento noprocesso educacional. Barbosa (id.)ainda analisa que esse processo nãose dá apenas no âmbito escolar, esseprocesso é social:“A pessoa é a grande vítimadeste século. Consideramos emnossas análises o trabalhador, oconsumidor, o professor, o gerente,o funcionário...mas não a pessoapor trás desses papéis. Comoconseqüência imediata, não édifícil concluir o porque dafalência da ética nas relações entreas pessoas, uma vez que a pessoainexiste enquanto categoria emnosso modo de pensar.”Nesse sentido, Joaquim GonçalvesBarbosa (id.) propõe uma“[...] educação para formaçãode autores cidadãos. Autor nosentido de quem exerce suacidadania. A idéia de cidadania érica, pois possibilita pensar osujeito contemporâneo numaperspectiva histórica (não hácidadania fora da história); numaperspectiva geográfica (a mesma seinstitui numa geografia); numaperspectiva sociológica, poiscidadania se constrói peranteoutrem; numa perspectivapsicanalítica, pois se trata deinstituir espaço para o inconsciente;e numa perspectivaecológica, no sentido da qualidadede vida em sintonia e interaçãocom o meio ambiente em que vive,dentre outros.”Assim, o “autor-cidadão” seriasujeito, autor e ator em sua obra quese revelaria de forma integrada, sejano público ou no privado. Parececolocar-se um momento ímpar parase pensar a formação profissional. Emconsonância com esses princípios, oque se espera então é que haja um“profissional-cidadão”, formado parao exercício da cidadania e implicadocom suas ações. Uma formação72Nº 05 MAIO DE 2002

○ ○ ○ ○saber que todo saber é incompleto. Ador é saber que a incompletude é omotor do começo, ou do eternorecomeço. Alguns preferem a ilusão<strong>da</strong> completude, outros suportam adimensão <strong>da</strong> falta, a dimensão dohumano.Parece então, ter-se avançado nasquestões suscita<strong>da</strong>s no início doartigo. Será que se tem privilegiadouma formação profissional permanente?Viu-se que, se assim for, aincompletude coloca-se como existentee, dessa forma, parece ser maisfácil estabelecer critérios mais humanosna assistência à saúde. Por quê?Se não há saber completo, se hásempre algo a ser reaprendido, épossível que dessa forma se possapensar em quem, ou a quem se estáprestando serviços em saúde. Épossível se pensar para que e comoestão se <strong>da</strong>ndo esses encontros. Sim,encontros, pois é na necessi<strong>da</strong>de decui<strong>da</strong>dos que surge a presença docui<strong>da</strong>dor.O enfoque técnico <strong>da</strong> saúde,resultante <strong>da</strong> concepção mecanicistados organismos vivos, não considerao potencial curativo do paciente. Acura vincula-se sempre a algumaintervenção externa. O corpo secoloca sem vinculação, é umaenti<strong>da</strong>de à parte, sem história, semdono e sem desejos. Não seconsideram os aspectos sociais epsíquicos <strong>da</strong> doença sofri<strong>da</strong> pelosujeito que busca cui<strong>da</strong>dos.Nesse aspecto, pode-se retomar aquestão <strong>da</strong> formação profissional,eixo temático dessa escrita. Naformação ocorre o mesmo processoque na assistência à saúde. A baseparece ser então a questão <strong>da</strong>educação. Joaquim Gonçalves Barbosa(1998, p. 7) escreve sobre a“pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> desautorização”, cujo“[...] eixo central tem sido anegação desde as primeiras sériesescolares, <strong>da</strong>quilo que é produzidopelo aluno no que se refere aopensar, ao sentir, ao imaginar, aodecidir, ao agir...em síntese,negação do processo de produçãodo aluno e, conseqüentemente,negação de seu processo deautoprodução.”Percebe-se assim, que há umadesvinculação, um esfacelamento noprocesso educacional. Barbosa (id.)ain<strong>da</strong> analisa que esse processo nãose dá apenas no âmbito escolar, esseprocesso é social:“A pessoa é a grande vítimadeste século. Consideramos emnossas análises o trabalhador, oconsumidor, o professor, o gerente,o funcionário...mas não a pessoapor trás desses papéis. Comoconseqüência imediata, não édifícil concluir o porque <strong>da</strong>falência <strong>da</strong> ética nas relações entreas pessoas, uma vez que a pessoainexiste enquanto categoria emnosso modo de pensar.”Nesse sentido, Joaquim GonçalvesBarbosa (id.) propõe uma“[...] educação para formaçãode autores ci<strong>da</strong>dãos. Autor nosentido de quem exerce suaci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. A idéia de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia érica, pois possibilita pensar osujeito contemporâneo numaperspectiva histórica (não háci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia fora <strong>da</strong> história); numaperspectiva geográfica (a mesma seinstitui numa geografia); numaperspectiva sociológica, poisci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia se constrói peranteoutrem; numa perspectivapsicanalítica, pois se trata deinstituir espaço para o inconsciente;e numa perspectivaecológica, no sentido <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> em sintonia e interaçãocom o meio ambiente em que vive,dentre outros.”Assim, o “autor-ci<strong>da</strong>dão” seriasujeito, autor e ator em sua obra quese revelaria de forma integra<strong>da</strong>, sejano público ou no privado. Parececolocar-se um momento ímpar parase pensar a formação profissional. Emconsonância com esses princípios, oque se espera então é que haja um“profissional-ci<strong>da</strong>dão”, formado parao exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e implicadocom suas ações. Uma formação72Nº 05 MAIO DE 2002

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