○ ○ ○ ○IntroduçãoCertamente o título deste artigosugere infinitas questões que estãoimplica<strong>da</strong>s entre si, pois não há comosuscitar idéias sem estabelecerrelações entre seus termos. Existemperguntas como: qual a formaçãoprofissional que se tem construído, setem oferecido e se tem exercido? Háalguma relação entre essa formaçãoprofissional, a humanização e aprestação de serviços na área deSaúde? A humanização dos serviçosde saúde vincula-se de alguma formaà formação profissional? Para essasquestões não é fácil encontrarrespostas. No entanto, o exercício desuscitar questionamentos e procurarvias acessíveis à discussão dessestermos coloca-se como responsabili<strong>da</strong>deaos profissionais de saúde,pois derivam <strong>da</strong>í duas questõesfun<strong>da</strong>mentais: o que se tem privilegiadona formação profissional naárea de Saúde e qual a relação queessa formação mantém com aprestação de serviços humaniza<strong>da</strong>?Historicamente, a prestação deserviços na área de Saúde vemprivilegiando e supervalorizando osavanços tecnológicos em detrimento<strong>da</strong> relação cui<strong>da</strong>dor e usuário. Osentido humanitário do direito àassistência nem sempre está presentena condição de princípio <strong>da</strong>s políticasde proteção à saúde dos ci<strong>da</strong>dãos.Nos séculos XVIII e XIX, as açõesna área caracterizavam-se como“higienistas”, cuja idéia norteadoraera higienização dos locais demoradia com a intenção de evitar<strong>da</strong>nos à saúde, e “sanitaristas”, marca<strong>da</strong>mentecomo responsabili<strong>da</strong>de doEstado em inaugurar e controlarhospitais e locais onde havia uso deequipamentos permanentes de saúde.Nos estudos sobre a organização deserviços de saúde a presença do Estadosempre foi marcante. Ele tenta de umaou outra forma <strong>da</strong>r respostas à população,às suas necessi<strong>da</strong>des deassistência. No entanto, realizandouma reflexão crítica nesse percursohistórico, pois desde o início <strong>da</strong>civilização se tem buscado a preservação<strong>da</strong> boa saúde e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, na medi<strong>da</strong>em que o Estado tomou para si aresponsabili<strong>da</strong>de de representar eprovidenciar a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>desdo ci<strong>da</strong>dão nessa área, assimsuas políticas têm representado osinteresses de grupos que estão no podere de apenas parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Mashá sempre um movimento dialético,esses grupos mu<strong>da</strong>m e também asdecisões do governo. As necessi<strong>da</strong>desem saúde também sofrem variações,uma vez que estão associa<strong>da</strong>s amu<strong>da</strong>nças sociais determina<strong>da</strong>s pelosfatores econômicos e políticos. Asmu<strong>da</strong>nças de ações no setor <strong>da</strong> Saúdesão pressiona<strong>da</strong>s desta forma por to<strong>da</strong>essa conjuntura. Há ain<strong>da</strong> a pressão degrupos sociais que não estão no poder,porém que criam movimentos demu<strong>da</strong>nça com suas deman<strong>da</strong>s por umamelhor assistência na prestação deserviços. Diversos atores sociais epolíticos determinam então as políticasneste setor.Foi então nessa luta de forças que,em 1979, no I Simpósio Nacional dePolítica de Saúde, realizado pelaComissão de Saúde <strong>da</strong> Câmara dosDeputados, o movimento representadopelo Centro Brasileiro deEstudos <strong>da</strong> Saúde (CEBES) declarouem público as bases propostas para areorientação do Sistema de Saúde, queà época já se denominava SistemaÚnico de Saúde (SUS). Seus princípiosaliavam-se à democratização ampla<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, à universalização dodireito à saúde de natureza públicacom resolutivi<strong>da</strong>de, além de descentralizadoe com ações curativas epreventivas de forma integral.Essas conquistas ain<strong>da</strong> têm umlongo caminho a ser trilhado e semprehaverá movimentos de resistências àsmu<strong>da</strong>nças. Contudo, o princípio <strong>da</strong>integrali<strong>da</strong>de proposto pelo SistemaÚnico de Saúde, dentre os outroscitados, aponta para questões cruciaisna prestação de serviços, pois apessoa não é um amontoado de partes,é um ser histórico, vivendo emsocie<strong>da</strong>de. E ain<strong>da</strong>, não há comodesvincular saúde e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Portanto, as ações devem privilegiarFormação61
○ ○ ○ ○o sujeito e a comuni<strong>da</strong>de, a prevençãoe o tratamento, respeitando adigni<strong>da</strong>de humana.Humanização: princípio ético parareorganização do atual modelo deatençãoA socie<strong>da</strong>de encontra-se, nos diasatuais, submeti<strong>da</strong> a uma linguagem eestética que refletem um estilo de vi<strong>da</strong>completamente subjugado por perspectivastecnológicas, influenciandosobremaneira na subjetivi<strong>da</strong>de humana.Estética aqui não é referi<strong>da</strong> comouma teoria sobre a estética em si ousobre a beleza, mas como um fenômenorelacionado aos sentidos <strong>da</strong>corporei<strong>da</strong>de humana, ou seja, comoo ser humano decodifica a presençade outro, e o que significa essa presençaem formas sensoriais para ele.E o que seria então o acontecimentohumano? Gilberto Safra(2001, p. 17), referindo-se ao tema,focaliza na corporei<strong>da</strong>de e acrescenta:“Ao falar em corporei<strong>da</strong>de nãoestou me referindo ao corpo, comoé estu<strong>da</strong>do pela biologia, mas merefiro ao organismo humano, quenão se reduz ao corpo – soma,compreendido como o lugar doacontecimento e do aparecimento<strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, a partir do qualse inicia o processo desingularização e de aparecimentohumano.”Dessa forma então, a noção dehumano se distancia <strong>da</strong> idéia defuncionali<strong>da</strong>de, influência her<strong>da</strong><strong>da</strong> doIluminismo e tão freqüentementeestiliza<strong>da</strong> pela Psicologia. O homemfuncional seria então aquele quenecessita interagir com a reali<strong>da</strong>de ea vista disto to<strong>da</strong> noção de subjetivi<strong>da</strong>dese vinculará à de funcionali<strong>da</strong>de.A idéia a ser enfatiza<strong>da</strong> é ade que o ser humano não é umfuncionamento e que a melhor formade compreendê-lo é numa perspectivafenomenológica e, assim, acompanharo surgimento e o contexto de umasingulari<strong>da</strong>de. O acontecimentohumano se constitui a partir de umlugar na subjetivi<strong>da</strong>de do outro e nãonum lugar físico. Não basta nascercom corpo biológico para que se possaemergir como humano. Para que hajaacontecimento humano, é necessárioque haja o encontro entre assubjetivi<strong>da</strong>des. Ain<strong>da</strong> na obra deGilberto Safra (id., p. 18-19),encontram-se importantes contribuiçõesa esse tema:“Não é possível falar-se dealguém sem falar de um outro. Oser humano não pode ser abstraído<strong>da</strong> relação com um outro. Esseacontecimento originário inicia acriança em um processo etemporalização, pois no momentoem que a criança nasce nasubjetivi<strong>da</strong>de de alguém passa a teruma história pessoal. Evidentemente,a história pessoal vemprecedi<strong>da</strong> de concepções assenta<strong>da</strong>sem tradições, mitos, mas essemomento originário significa quea criança nasceu em um mundohumano com um sentido detemporali<strong>da</strong>de.”O termo temporali<strong>da</strong>de é importante,pois estará no alicerce dosurgimento <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de.Inicialmente, a idéia de a temporali<strong>da</strong>deé vivi<strong>da</strong> entre as pessoas nomeio ambiente e a criança. Acorporei<strong>da</strong>de humana <strong>da</strong>rá ritmo aesse tempo e a <strong>da</strong> presença humanado outro será significa<strong>da</strong> pelosmovimentos do corpo em tempo esubjetivi<strong>da</strong>de.Talvez a idéia do nascimento doser humano a partir <strong>da</strong> criação <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de do outro fique maisclara ao se pensar sobre a sobrevivênciade uma criança recémnasci<strong>da</strong>.Entre os seres vivos, esteparece ser o que nasce em maiorcondição de desamparo. Se nãohouver uma outra pessoa, alguém decui<strong>da</strong>dos, que enten<strong>da</strong> os gestos dessepequeno ser desamparado, certamentesua vi<strong>da</strong> não vingará. Se esse alguémnão traduzir os apelos, o choro, ainquietação, não lhe der estatuto demensagens a serem traduzi<strong>da</strong>s eatendi<strong>da</strong>s, a criança não terá a quemapelar, não virá ninguém ao seuencontro e ela poderá sucumbir porcausa de suas necessi<strong>da</strong>des.62Nº 05 MAIO DE 2002
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