○ ○ ○ ○IntroduçãoPensar a questão de recursoshumanos para o setor Saúde impõe,por um lado, caminhar rumo aopreceito constitucional 1 que asseguraa saúde como direito do ci<strong>da</strong>dão e,por outro, refletir sobre o princípionormativo que identifica o setor comoresponsável pelo “ordenamento <strong>da</strong>formação de recursos humanos” 2 .Esse ordenamento tem várias dimensõesque vão desde a regulação até aformação e a gestão do pessoal queatua na área <strong>da</strong> Saúde.Ao longo do tempo, milhares detrabalhadores brasileiros não tiveramacesso à educação, tanto do ponto devista geral quanto do profissional.Sem possibili<strong>da</strong>des de concluir seusestudos, ingressaram no mercado detrabalho em saúde como forma desobrevivência. Dessa forma, ostrabalhadores que atuaram e vêmatuando no processo produtivo emsaúde, sem formação profissional equalificação específicas para asfunções que exercem, não vislumbramuma inserção digna nos planosde cargos e salários de suas instituições,não alimentam expectativasde crescimento funcional e muitomenos obtêm registro profissionalfornecido pelos órgãos de classe.Como resultado disso, esses trabalhadorestêm sido marginalizados etido baixo reconhecimento profissionale social.Paralelo a isso, a luta pela ampliaçãodo acesso aos serviços públicos desaúde, legitima<strong>da</strong> pelos movimentossociais na déca<strong>da</strong> de 70, confluiu parao estabelecimento de estratégias nosetor que garantissem extensão <strong>da</strong>cobertura com maior quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sações. No entanto, o diagnóstico sobreos problemas qualitativos e quantitativosde recursos humanos paraatuar na saúde, já era conhecido edebatido desde os anos 60.Ou seja, em última instância, tratasede um problema antigo, cujassoluções ain<strong>da</strong> se impõem comodesafios nos dias atuais. A exclusãodo processo educativo, a deficiência<strong>da</strong>s escolas profissionais para atenderàs necessi<strong>da</strong>des de preparação depessoal para o setor, na quanti<strong>da</strong>de equali<strong>da</strong>de deseja<strong>da</strong>s, a falta de umapolítica e de mecanismos que possibilitassema formação em saúde, o perfilsocial heterogêneo dos trabalhadoresjá empregados, as qualificações incipientesfeitas por meio de treinamentospontuais realizados emserviço e a dispersão geográfica emque se encontravam motivaram odesenvolvimento de um projeto socialcom o objetivo de <strong>da</strong>r identi<strong>da</strong>deprofissional aos trabalhadores excluídos,de assegurar-lhes a oportuni<strong>da</strong>dede competição no mercado detrabalho e de reorganizar os serviçospara assegurar o acesso <strong>da</strong> populaçãoà assistência de quali<strong>da</strong>de.E por que a necessi<strong>da</strong>de de se criaruma escola profissional específicapara a saúde? A resposta a essaquestão implica considerar duasvariáveis: em primeiro lugar, o ensinotécnico na área <strong>da</strong> Saúde sempre foivisto como a oferta de cursos, semespecifici<strong>da</strong>des, podendo qualquerescola oferecê-lo, independente dequalquer condição a priori. Emsegundo lugar, o setor Saúde possuiuma cultura instituí<strong>da</strong> e grandeacumulação na área de capacitaçãoemergencial, um peso tecnológicorelevante e principalmente uma forçade trabalho expressiva, em 1999estima<strong>da</strong> em 2,5 milhões de pessoas 3emprega<strong>da</strong>s em ativi<strong>da</strong>des nessa área,<strong>da</strong>s quais aproxima<strong>da</strong>mente 700 milsão profissionais que trabalham nonível técnico e auxiliar, no cui<strong>da</strong>dodireto às pessoas.Essas condições justificaram acriação de espaços educativos quepermitissem sistematizar as experiênciasacumula<strong>da</strong>s ao longo dosanos e avançar na conformação dealternativas pe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s àscaracterísticas do setor e às deman<strong>da</strong>sorigina<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s políticas de saúde.1 Constituição Federal, artigo 196.2 Constituição Federal, artigo 200 e inciso III.3 Relação Anual de Informações Sociais – RAIS eCa<strong>da</strong>stro Geral de Empregados e Desempregados– CAGED (1999).Formação47
○ ○ ○ ○As Escolas Técnicas do SUS e a Políticade Saúde no PaísNas últimas déca<strong>da</strong>s, o setor Saúdecresce em complexi<strong>da</strong>de face aoscompromissos assumidos pelasesferas governamentais, com vistas aatender as deman<strong>da</strong>s crescentes nocampo <strong>da</strong> atenção à saúde, deman<strong>da</strong>sque mais tarde se tornariam princípioscaros à Constituição, promulga<strong>da</strong>em 1988, e fun<strong>da</strong>mentaispara consoli<strong>da</strong>r as Políticas de Saúdehoje vigentes.Por um lado, a reordenação <strong>da</strong>spráticas de saúde e a regionalização<strong>da</strong> assistência apontam para anecessi<strong>da</strong>de de qualificação e formaçãode pessoal de nível básico etécnico para atuar tanto na atençãobásica quanto na média e altacomplexi<strong>da</strong>de, no apoio diagnóstico,vigilância em saúde, informação,desenvolvimento e gerência deprocessos e funções intermediárias.Por outro lado, os gestores, impelidospela necessi<strong>da</strong>de de responder pelamelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciapresta<strong>da</strong> e <strong>da</strong>r respostas efetivas àpopulação, buscam diferentes estratégiaspara compor seu quadro depessoal, com predomínio <strong>da</strong> contrataçãode pessoal com baixa qualificaçãoe sem experiência prévia. Porfim, a inserção desse grande contingentesem a qualificação específica sedá, em parte, pela limitação <strong>da</strong> ofertade pessoal qualificado, visto que osetor Educacional não conseguiaformar profissionais nesses níveis deensino, na quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>deexigi<strong>da</strong>s pelo setor Saúde.Mais de 30 anos se passaram e ocenário do ensino profissionalizante,principalmente para o setor Saúde,parece não ter se modificado de formasubstancial. Indicativos dessa afirmaçãose encontram nos resultados doCenso de Educação Profissionalrealizado pelo Ministério <strong>da</strong> Educação(MEC), por meio do InstitutoNacional de Estudos Pe<strong>da</strong>gógicos(INEP), no ano de 1999 4 .As informações decorrentes dos<strong>da</strong>dos ca<strong>da</strong>strais <strong>da</strong>s instituiçõespossibilitam a caracterização doperfil dos cursos ofertados por níveise áreas profissionais e sua dependênciaadministrativa, os professorese instrutores por grau de formação enível de atuação, e as matrículas econcluintes por sexo, faixa etária,nível e área profissional.Aqui, são relacionados os resultadosdo censo referentes ao objetodeste trabalho: instituições, cursos ematrículas na educação profissional:- <strong>da</strong>s 3.948 instituições de ensinoque oferecem educação profissionalem diferentes níveis e áreas, apenas5,2% (204 estabelecimentos) ofertamcursos na área <strong>da</strong> Saúde;- na área <strong>da</strong> Saúde, a maioria,61%, é instituição priva<strong>da</strong>;- a oferta de educação profissionalnos diferentes níveis e áreasconcentra-se na Região Sudeste, coma presença de 48% <strong>da</strong>s instituições;- as instituições que contribuempara a área <strong>da</strong> Saúde, nessa região,correspondem a 62%, ou seja, 126estabelecimentos.Essas informações nos parecembastante indicativas <strong>da</strong> baixa oferta deeducação profissional em saúde.Ain<strong>da</strong> sobre isso, vale a pena registrar,a partir <strong>da</strong> mesma fonte deinformações:- nos cursos de educação profissional,nas diferentes áreas e níveis,estão matriculados 2,8 milhões deestu<strong>da</strong>ntes, dos quais apenas 121 milalunos estão na área <strong>da</strong> Saúde;- a maioria <strong>da</strong>s matrículas,71,5%(37 mil), está concentra<strong>da</strong> nos 590cursos de nível básico, principalmenteos de primeiros socorros e instrumentaçãocirúrgica, abertos a qualquerpessoa interessa<strong>da</strong>, independentede escolari<strong>da</strong>de prévia;4 O censo abrangeu escolas federais, estaduais,municipais e os estabelecimentos privados,incluindo os cursos ministrados pelo “SistemaS”, por instituições empresariais, sindicais,comunitárias e filantrópicas, que oferecemeducação profissional de acordo com a Lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional (LDB).48Nº 05 MAIO DE 2002
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