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Revista Formação 5 - BVS Ministério da Saúde

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05FormaçãoFormação Técnica em Saúdeno contexto do SUSMaio de 2002Ministério <strong>da</strong> SaúdeSecretaria de Gestão de Investimentos em Saúde - SISProjeto de Profissionalização dos Trabalhadores <strong>da</strong> Área de Enfermagem - PROFAE


© 2002 Ministério <strong>da</strong> SaúdePermiti<strong>da</strong> a reprodução parcial desta obra, desde que cita<strong>da</strong> a fonteTiragem de 30.000 exemplaresPeridoci<strong>da</strong>de quadrimestralDistribuição gratuitaMINISTRO DE ESTADO DA SAÚDEBarjas NegriSECRETÁRIO-EXECUTIVOOtávio Merca<strong>da</strong>nteSECRETÁRIO DE GESTÃO DE INVESTIMENTOS EM SAÚDEGabriel Ferrato dos SantosGERENTE-GERAL DO PROFAERita Elisabeth <strong>da</strong> Rocha SórioFormaçãoPublicação periódica de artigos técnicos e informativos do Projeto de Profissionalização dosTrabalhadores <strong>da</strong> Área de Enfermagem - PROFAE, do Ministério <strong>da</strong> Saúde, e de artigosanalíticos relacionados à área de educação profissional e formação de recursos humanos para asaúde. Quando nominados, os textos são de responsabili<strong>da</strong>de dos seus autores.CONSELHO EDITORIAL:Cláudia MarquesFrancisco Aparecido CordãoGabriel Ferrado dos SantosLeila Bernar<strong>da</strong> Donato GöttemsTânia Celeste Matos NunesValcler Rangel FernandesVolnei Gonçalves PedrosoEDITORES RESPONSÁVEIS:Cláudia Dias CoutoMaria Rebeca Otero GomesRita Elisabeth <strong>da</strong> Rocha SórioREVISOR DE TEXTO:Rogério <strong>da</strong> Silva PachecoPROJETO EDITORIAL E GRÁFICO:André FalcãoEDIÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E INFORMAÇÕESMinistério <strong>da</strong> SaúdeSecretaria de Gestão de Investimentos em Saúde - SISProjeto de Profissionalização dos Trabalhadores naÁrea de Enfermagem - PROFAEEsplana<strong>da</strong> dos Ministérios,Bloco G, 8º an<strong>da</strong>r, sala 82870.058-900, Brasília-DFFone (61) 3152814 / Fax (61) 2258137samets@saude.gov.brPROFAE na Internet: http://www.profae.gov.brDisque-Saúde – 0800-611997Ficha CatalográficaFormação / Ministério <strong>da</strong> Saúde. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores <strong>da</strong> Área deEnfermagem. – V. 2, n. 5, 2002. – Brasília : Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2002.QuadrimestralISSN – 1519-07811. Enfermagem 2. Educação profissional. I. Brasil. Ministério <strong>da</strong> Saúde. II. Brasil. Secretariade Gestão de Investimentos em Saúde. III. Brasil. Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores<strong>da</strong> Área de Enfermagem. IV. Título.NLM WY 108 DB8


SumárioEditorial3Recursos Humanos para o SUS: diferentes abor<strong>da</strong>gens para qualificar o debateArtigos5Política de Recursos Humanos em Saúde e a inserção dos trabalhadores de nível técnico:uma abor<strong>da</strong>gem <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>desRoberto Passos Nogueira17As necessi<strong>da</strong>des do Sistema Único de Saúde e a formação profissional basea<strong>da</strong>no modelo de competênciasCláudia Maria Silva Marques29Dilemas <strong>da</strong> regulamentação profissional na área <strong>da</strong> Saúde: questões para um governodemocrático e inclusionistaSábado Nicolau Girardi e Paulo Henrique Seixas45Educação profissional em saúde no Brasil: a proposta <strong>da</strong>s Escolas Técnicas de Saúde do SUSRita Elisabeth <strong>da</strong> Rocha Sório59Formação profissional e humanização dos serviços de saúdeFrancisca Val<strong>da</strong> <strong>da</strong> Silva e Maria Dalva Gomes Alencar de Souza Menezes75Recursos humanos e qualificação profissional: impasses e possibili<strong>da</strong>desGeraldo Biasoto JúniorEntrevista85Escolas Técnicas de Saúde do Sistema Único de Saúde (ETSUS)Izabel dos Santos91Centro Formador de Recursos Humanos “Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” – Secretaria de Estado<strong>da</strong> Saúde do ParanáMarli Apareci<strong>da</strong> Jacober Pasqualin


○ ○ ○ ○EditorialRecursos Humanos para o SistemaÚnico de Saúde (SUS): diferentesabor<strong>da</strong>gens para qualificar odebateOs avanços alcançados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), na últimadéca<strong>da</strong>, dirigidos para garantir a efetivação dos princípios constitucionais epara a necessi<strong>da</strong>de de organizar o sistema de saúde, deparam-se com obstáculosimportantes relacionados à gestão e formação de recursos humanospara o setor Saúde.Verifica-se que o processo de descentralização, realizado com a participação<strong>da</strong> população, tem sido o pilar fun<strong>da</strong>mental para favorecer auniversalização <strong>da</strong> atenção à saúde de indivíduos e populações. No entanto,a busca pela prestação <strong>da</strong> assistência integral e de quali<strong>da</strong>de, adequa<strong>da</strong> aosdiferentes perfis epidemiológicos, de maneira equânime, confere crescentecomplexi<strong>da</strong>de para os gestores do sistema. Para além <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des relaciona<strong>da</strong>saos contextos econômicos e sociais, é preciso reconhecer os problemase potenciali<strong>da</strong>des gerados a partir de novas abor<strong>da</strong>gens para velhasquestões, como a insuficiência quantitativa e qualitativa dos sujeitos envolvidosna execução do processo de trabalho em saúde.A complexi<strong>da</strong>de inseri<strong>da</strong> nessa discussão decorre principalmente de seucaráter intersetorial e multidisciplinar com limites gerados inclusive pelaprópria constituição social e histórica <strong>da</strong>s profissões de saúde no Brasil.Reconhece-se portanto que ações e intervenções de impacto no campo dosRecursos Humanos em Saúde deman<strong>da</strong>m do setor Saúde proposições pactua<strong>da</strong>sentre diversos atores, com envergadura e amplitude inclusive sobre alegislação existente. Assim, além <strong>da</strong> formação de milhares de trabalhadoresque vêm se cumprindo por meio do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores<strong>da</strong> Área de Enfermagem (PROFAE), identifica-se a importância dese investir nos aspectos que futuramente possam garantir a sustentabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong> educação profissional para o setor Saúde.Esta edição <strong>da</strong> <strong>Revista</strong> Formação tem como objetivo contribuir para odebate sobre a formação profissional em saúde, considerando diversosaspectos que conformam o atual cenário para realizar proposições na área.Todos os textos aqui publicados, relacionados à educação profissional, àregulação ou à gestão de profissionais, buscaram enfrentar a discussão àluz <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des que aparentemente estão imersas no SUS, tanto paraa manutenção dos aspectos positivos alcançados, quanto para a construçãode alternativas que nos permitam avançar na consoli<strong>da</strong>ção de um perfilprofissional crítico, participativo, responsável e com competências técnicasassegura<strong>da</strong>s.Otávio Merca<strong>da</strong>nteSecretário Executivo do Ministério <strong>da</strong> Saúde3


○ ○ ○ ○AnálisePolítica de Recursos Humanos emSaúde e a inserção dos trabalhadoresde nível técnico: uma abor<strong>da</strong>gem<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>desHuman Resources Policy in Health andthe insertion of technical staff: anapproach on the needsRoberto Passos NogueiraDoutor em Saúde Coletiva – Universi<strong>da</strong>de do Estado do Rio de JaneiroResumo: Os anos 90 estabeleceram um novo padrão de intervenção do Estado naconfiguração do setor de Saúde no Brasil. Essas mu<strong>da</strong>nças trouxeram consigoexigências claras no que se refere às necessi<strong>da</strong>des de oferta e de qualificação derecursos humanos. A execução do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores<strong>da</strong> Área de Enfermagem (PROFAE) em todo o território nacional, sob coordenaçãodo Ministério <strong>da</strong> Saúde, vem apontando para os pontos nevrálgicos <strong>da</strong> intervençãodo Estado nesse campo. Trata-se <strong>da</strong>s novas necessi<strong>da</strong>des que dizem respeito mais àquali<strong>da</strong>de do trabalho e menos à quanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oferta de trabalhadores. Pode-seafirmar que o desafio está em criar condições infra-estruturais e permanentes, enão apenas acumular meios para executar esse ou aquele processo de capacitação.É requisito dessa política fortalecer a capaci<strong>da</strong>de de formação própria ao SistemaÚnico de Saúde (SUS) mas sem deixar de incentivar um ajuste <strong>da</strong>s escolas públicase priva<strong>da</strong>s ao perfil de necessi<strong>da</strong>des de pessoal do Sistema de Saúde como umtodo. Nesse caso, a Política Educacional atende ao imperativo <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, emtermos de formação técnica e aumento do nível de escolari<strong>da</strong>de, porém afetando oconjunto do mercado de trabalho em saúde, nos setores público e privado.Palavras-chave: Sistema Único de Saúde; Política de Recursos Humanos;Recursos Humanos.Abstract: In the 1990’s a new stan<strong>da</strong>rd of State intervention in the configurationof the health sector in Brazil has been established. These changes have broughtclear requirements for supply and qualification of human resources. The executionof PROFAE, under the coordination of the Health Ministry has disclosed someof the most sensitive points for the State intervention in this field. That is aboutthe new necessities related to work quality, rather than to the amount of workers.It can be said that the challenge lays in creating infrastructural and permanentconditions, and not only in accumulating resources for executing this or thatqualification process. The new policy is intended to strengthen the capacity ofproper training in SUS (Unified Health System), but stimulating an adjustmentof public and private schools to the profile of staff need in the Health System asa whole. In that event, Education Policy is responsive to the requirement ofquality, in terms of technical training and raising schooling level, thereforeaffecting the health labor market as a whole, in both public and private sectors.Key words: Unified Health System; Human Resources Policy; Human Resources.5


○ ○ ○ ○Introdução: a configuração política dosetor Saúde no Brasil nos anos recentese de seus recursos humanosOs anos 90 estabeleceram umnovo padrão de intervenção do Estadona configuração do setor de Saúde noBrasil. A implantação e a consoli<strong>da</strong>çãodo Sistema Único de Saúde(SUS), em sua gestão descentraliza<strong>da</strong>,é por certo o elemento mais salientedesse padrão, mas pode-se dizer queto<strong>da</strong>s as mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s epúblicas de prestação de serviços desaúde acabaram por ser redefini<strong>da</strong>snesse decênio, devido ao envolvimentodo Estado no seu financiamentoe na sua regulação.O Quadro I busca sumariar algunsdos múltiplos componentes doSistema de Saúde conforme as principaisformas de participação doEstado no seu funcionamento. Oextensivo leque destas intervençõesvai desde os programas assistenciaismantidos pelo Terceiro Setor, organizadosem base comunitária e voluntária,até às enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s quemantêm planos e seguros de saúde.Variados são os agentes institucionaisenvolvidos e as formas de participaçãodo Estado para ca<strong>da</strong> um deles.Nota-se nesse quadro a presençade certos componentes bem tradicionais,tais como o setor de profissionaisliberais e o de clínicas ehospitais que atendem em regime delivre deman<strong>da</strong>. Mas a déca<strong>da</strong> de 90registrou um conjunto de avanços nainstitucionalização de novos componentesdo Sistema de Saúde, que nãopodem deixar de ser tomados em consideraçãonesta análise, quais sejam:· emergência de um terceiro setor,que promove e organiza ações desaúde, como parceiro do Estado e deacordo com uma política que lheconfere destaque devido a seu carátercomunitário, nem estatal nem ligadoao interesse mercantil;· crescimento e diversificação dostipos de planos e seguros de saúdecomo opção individual ouinstitucional que dá garantia deacesso a serviços de saúde, e que,como componente de base contratualmercantil, insere-se dentro <strong>da</strong>problemática dos direitos doconsumidor;· ampla municipalização dosserviços e <strong>da</strong> gestão do segmentoambulatorial e hospitalar do SUS;Quadro IComponentes do Sistema de Saúde e principais formas de participação do EstadoComponente Agentes Participação do EstadoAssistência comunitária à saúde Enti<strong>da</strong>des do Terceiro Setor SubvençõesAssistência profissional à saúde Profissionais liberais Regulação pelos conselhosprofissionais (paraestatais);incentivo fiscalAssistência priva<strong>da</strong> à saúde em Clínicas e hospitais privados Incentivo fiscalregime de livre deman<strong>da</strong>Assistência à saúde em caráter Clínicas e hospitais privados Convênios e contratos paracomplementar ao SUS não lucrativos, especialmente assistência aos usuários doos filantrópicosSUS; incentivo fiscalSistema suplementar de Enti<strong>da</strong>des mantenedoras de Regulação; ressarcimentoassistência à saúde planos e seguros de saúde ao SUS; incentivo fiscalProgramas Saúde <strong>da</strong> Família e de Secretarias de Saúde Planejamento, financiamentoAgentes Comunitários de Saúdee gestãoAssistência ambulatorial e Secretarias de Saúde Planejamento, financiamentohospitalar do SUSe gestãoFonte: Elaboração do autor.Formação7


○ ○ ○ ○· difusão, com relativa autonomia,<strong>da</strong> estrutura e <strong>da</strong> lógica assistencialdo Programa Saúde <strong>da</strong> Família (PSF),incluindo a estratégia de utilização deagentes comunitários de saúde.Esses avanços nas formas degestão, de prestação de serviços desaúde e de regulação pública nãoseriam possíveis sem uma mu<strong>da</strong>nçaessencial ocorri<strong>da</strong> na lógica de operaçãodo Estado e <strong>da</strong> federação brasileiranos anos 90. Parte dessa mu<strong>da</strong>nçainspira-se em diretrizes conti<strong>da</strong>s naconcepção original do SUS, quesempre reservou um lugar de destaqueaos municípios como base do sistema;outra parte resulta <strong>da</strong> Reforma Administrativado Estado, como é o caso<strong>da</strong> criação <strong>da</strong> Agência Nacional deSaúde Suplementar, com sua funçãoreguladora típica. Mas há ain<strong>da</strong> outraparte devi<strong>da</strong> a um "ajuste institucional"que ocorreu pela adoção, maisou menos espontânea, de formasflexíveis de gestão que misturamrecursos do setor privado aos recursose à gestão do setor público.O sistema público de saúderepresentado pelo SUS é hoje bemmais complexo nos arranjos institucionaisque promove do que previaa noção constitucional de umsegmento "complementar", constituídopor enti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s semcaráter lucrativo, ao qual se delegariaações de atendimento ambulatorial ehospitalar. Com efeito, o SUS operaagora com base numa mistura entrepúblico e privado que abrangemo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des "associa<strong>da</strong>s", de caráterprivado, tais como cooperativas,organizações sociais, fun<strong>da</strong>ções eenti<strong>da</strong>des filantrópicas "de apoio",organizações não-governamentais(ONGs) etc. Esse conjunto de enti<strong>da</strong>destem sua configuração dita<strong>da</strong> poruma coesão que é de tipo político eexige uma negociação permanentecom variados agentes institucionais ecom corporações profissionais.A novi<strong>da</strong>de nesse cenário é quecertas divisões tradicionais, em quese movia a função de desenvolvimentode recursos humanos no SUS, nãopodem mais ser aplica<strong>da</strong>s sem quehaja uma grande per<strong>da</strong> de eficácia. Aidéia de que essa função tem a verapenas com pessoal pertencente àsSecretarias de Saúde deve serabandona<strong>da</strong>. À função de desenvolvimentode recursos humanos, comoresultante de uma ação de Estado, estáreservado um escopo bem maior, queenvolve os "quadros externos depessoal" e, em alguns casos, precisaconsiderar as necessi<strong>da</strong>des do setorSaúde como um todo. De fato, certasiniciativas de capacitação assumi<strong>da</strong>spelo Estado precisam ser difundi<strong>da</strong>sno conjunto do Sistema de Saúde,abrangendo mediações institucionaisno âmbito do setor Educacional,público e privado, como estáexemplificado pela política e pelaexperiência do Projeto de Profissionalizaçãodos Trabalhadores <strong>da</strong>Área de Enfermagem (PROFAE).Pontos de intervenção sobre a questãoConsidera<strong>da</strong> na amplitude menciona<strong>da</strong>,a Política de Desenvolvimentode Recursos Humanos deSaúde para o nível técnico não podeestar restrita a certos objetivos eabor<strong>da</strong>gens com os quais as SecretariasEstaduais e Municipais deSaúde costumam realizar seustreinamentos introdutórios ouemergenciais, com o objetivo defirmar certas noções e habili<strong>da</strong>desnecessárias ao SUS e afina<strong>da</strong>s comuma ótica sobre saúde pública e suaspriori<strong>da</strong>des. A maior parte dosesforços realizados nesse campoconsiste em desenvolver textos ecursos de "a<strong>da</strong>ptação", havendotambém, paralelamente, algumasiniciativas de profissionalizaçãocompleta desse pessoal, sobretudo nasescolas técnicas vincula<strong>da</strong>s ao SUS,com maior ou menor grau de inovaçãometodológica e integração ensinoserviço,mas ain<strong>da</strong> em grande parteadscritos às categorias auxiliares dogrupo de enfermagem. Mais recentemente,com as necessi<strong>da</strong>des decapacitação de pessoal para aimplantação do PSF, essas tendênciasadquiriram uma dimensão maior,contudo não se pode dizer quetenham sido fun<strong>da</strong>mentalmente8Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○altera<strong>da</strong>s, a não ser pela necessi<strong>da</strong>derecentemente introduzi<strong>da</strong> de contemplara formação do pessoalauxiliar na área de Saúde Bucal.A execução do PROFAE em todoo território nacional, sob coordenaçãodo Ministério <strong>da</strong> Saúde, vemapontando para os pontos nevrálgicos<strong>da</strong> intervenção do Estado no campode desenvolvimento de recursoshumanos como um todo. Vem-secolhendo, nesse sentido, idéias maisprecisas acerca de qual deve ser aestratégia para ultrapassar essaslimitações históricas. Pode-se afirmarque o desafio está em criar condiçõesinfra-estruturais e permanentes, e nãoapenas acumular meios para executaresse ou aquele processo de capacitação.É requisito dessa políticafortalecer a capaci<strong>da</strong>de de formaçãoprópria ao SUS, mas sem deixar deincentivar um ajuste <strong>da</strong>s escolaspriva<strong>da</strong>s ao perfil de necessi<strong>da</strong>des depessoal desse sistema. Igualmente degrande relevância é a contribuiçãoque os gestores do Sistema de Saúdepossam <strong>da</strong>r para a conformação dosistema de avaliação de competências<strong>da</strong>s diversas categorias técnicas.Estes são alguns dos objetivosestratégicos que a Política de RecursosHumanos de nível técnico deveriaestabelecer no médio e longo prazos:· mensurar as necessi<strong>da</strong>des eestabelecer metas de formação erequalificação para as diversascategorias de nível técnico;· influir em nível nacional sobreas definições do sistema de avaliaçãode competências <strong>da</strong>s diversascategorias;· modernizar as escolas técnicaspertencentes ao SUS;· incentivar a adoção de conteúdoscurriculares específicos e de maiorvalia para o SUS nas escolas técnicaspriva<strong>da</strong>s;· estimular o desenvolvimento demétodos de integração ensino-serviçona execução curricular;· estimular o desenvolvimento demétodos de ensino a distância para aformação de pessoal (docente esupervisores).Essa estratégia de conjunto tem deser alicerça<strong>da</strong> num eixo federativofun<strong>da</strong>mental que teve grande proeminêncianos anos 80, mas perdeumuito de sua densi<strong>da</strong>de política ecapaci<strong>da</strong>de operacional ao longo doprocesso de descentralização dos anos90: trata-se <strong>da</strong> articulação entre oMinistério <strong>da</strong> Saúde e as Secretariasde Saúde dos Estados. A nova óticarequer mais do que uma simplesrestauração desse eixo; requer que sepense de forma diferencia<strong>da</strong> osprocessos de capacitação e deformação que agora não mais selimitam aos "quadros internos" dessassecretarias. Há uma reali<strong>da</strong>de nova,de natureza político-institucional,que impõe a essas secretarias cui<strong>da</strong>rde ações de desenvolvimento derecursos humanos em três níveisusualmente tidos como "externos":a) <strong>da</strong>s próprias Secretarias de Saúde;b) <strong>da</strong>s enti<strong>da</strong>des públicas e priva<strong>da</strong>sassocia<strong>da</strong>s; c) dos componentesprivados do setor Saúde.Com base em experiências anteriores,aconteci<strong>da</strong>s na déca<strong>da</strong> de 80,tais como o Projeto Larga Escala, estáclaro atualmente que a autosuficiênciado setor Saúde em matériade desenvolvimento de recursoshumanos é algo muito limitado -abrange mais que na<strong>da</strong> o campo dostreinamentos emergenciais eintrodutórios. Para qualquer outroprocesso com maior ambição nosobjetivos de aprendizagem, seja naformação ou na educação continua<strong>da</strong>,o setor vê-se obrigado a estabeleceruma base "multiinstitucional" deentendimento e de ações conjuntascom o setor formal de ensino. Agoratêm-se plena consciência de que asPolíticas de Recursos Humanos,quando levam em conta a dimensão<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de, só podem ser conduzi<strong>da</strong>sa contento com base numaarticulação com os setores deEducação e Trabalho.Três iniciativas recentes merecemser cita<strong>da</strong>s, pois tiveram destaque noprocesso de articulação "multisetorial"Formação9


○ ○ ○ ○para fortalecimento <strong>da</strong>s Políticas deRecursos Humanos em Saúde: a) aexpansão e reforma pelas SecretariasEstaduais de Saúde <strong>da</strong>s EscolasTécnicas do SUS, bem como doscursos que oferecem; b) a implantação,em parceria com universi<strong>da</strong>des,dos Pólos Formação em Saúde <strong>da</strong>Família; c) a realização de programasde capacitação técnica com apoio doPlano Nacional de EducaçãoProfissional (PLANFOR). Iniciativascomo essas introduzem novos atorese novas clientelas com suas particulari<strong>da</strong>des,e fazem aumentar acomplexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s tarefas de quemcoordena as ações de desenvolvimentode recursos humanos em saúde.Lacunas observa<strong>da</strong>s no mercado detrabalho em saúde e necessi<strong>da</strong>des deformaçãoAs mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> configuraçãopolítica do setor Saúde trazemexigências claras no que se refere àsnecessi<strong>da</strong>des de oferta e de qualificaçãode recursos humanos. Háaquelas cria<strong>da</strong>s por novos programas(como o PSF), assim como hánecessi<strong>da</strong>des que se identificam noconjunto do mercado de trabalho(como as questões de quali<strong>da</strong>deassocia<strong>da</strong>s ao nível de escolari<strong>da</strong>de oude qualificação profissional). Nessesentido, existem quatro tipos derecursos humanos que merecem seraqui distinguidos, ca<strong>da</strong> um delesimpondo estratégias novas de capacitaçãoe de administração de pessoal:1. Categorias que são decorrentese dependentes <strong>da</strong> própria ação doEstado e que dificilmente podemsubsistir com autonomia no mercadode trabalho: por exemplo, os guar<strong>da</strong>sde endemias e os agentes comunitáriosde saúde.2. Categorias que são ou deveriamser induzi<strong>da</strong>s e estimula<strong>da</strong>s pela açãodo Estado, mas que podem serabsorvi<strong>da</strong>s por diversos setores domercado de trabalho, por exemplo:técnicos de higiene dental.3. Categorias que correspondem aum contexto técnico e socialultrapassado e que estão em processode ajuste devido a exigências dequali<strong>da</strong>de, tanto no setor públicocomo no privado, por exemplo: osantigos "atendentes" para os quais apolítica atual impõe sua qualificaçãocomo auxiliares de enfermagem.4. Categorias que compõem um rolmúltiplo de funções usuais, tanto nosetor público como no privado.Nota-se que três desses gruposenvolvem "necessi<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s" pelopadrão de intervenção do Estado nocampo específico dos recursoshumanos e não apenas necessi<strong>da</strong>des"detecta<strong>da</strong>s" por ele no âmbito domercado de trabalho. Sendo assim,esses e outros aspectos <strong>da</strong> configuraçãodos recursos humanos desaúde estão correlacionados àsPolíticas de Saúde e às açõesespecíficas, programáticas ou gerais,que são variáveis ao longo do tempo.Por outro lado, surgem novasnecessi<strong>da</strong>des que dizem respeito maisà quali<strong>da</strong>de do trabalho e menos àquanti<strong>da</strong>de <strong>da</strong> oferta de trabalhadores.Nesse caso, as Políticas Educacionaisque atendem ao imperativo <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de, em termos de formaçãotécnica e aumento do nível deescolari<strong>da</strong>de, afetam a composição doconjunto do mercado de trabalho etendem a ser aplica<strong>da</strong>s ao setor Saúde.Como tentativa, essas categoriasestão identifica<strong>da</strong>s no Quadro IIconforme os quatro tipos anteriormentemencionados, que representamcasos diferentes e, portanto,exigem tratamento diferenciado naPolítica de Recursos Humanos emSaúde. Naturalmente, essa classificaçãoserve aqui como uma merailustração e não como uma definiçãopolítica em si mesma.Como se pode ver, os recursoshumanos de nível técnico e auxiliarno campo <strong>da</strong> Saúde caracterizam-sepor uma notável diversi<strong>da</strong>de ouheterogenei<strong>da</strong>de funcional e educacional.Existem diferenças cria<strong>da</strong>spela divisão técnica do trabalho eque têm a ver com as áreas e objetosde ca<strong>da</strong> categoria (saneamento,saúde bucal, laboratórios etc.), mas10Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○existem também diferenças devi<strong>da</strong>sao nível de qualificação e deescolari<strong>da</strong>de em um mesmo grupo(por exemplo, entre técnicos eauxiliares de enfermagem). Entretanto,chama a atenção o fato de queo número de postos de trabalho <strong>da</strong>socupações técnicas e auxiliaresestarem fortemente concentra<strong>da</strong>s emtorno do grupo de Enfermagem: nasoma dos "atendentes e assemelhados"(provavelmente subestimadosnessa fonte) com os auxiliares deenfermagem, e com os técnicos deenfermagem obtém-se na<strong>da</strong> menosque 66% de todos esses postos detrabalho. De outra parte existemcategorias "minoritárias" cujaimportância é crucial para o funcionamentode certos serviços de apoioao serviços de apoio à diagnose eterapia: pode-se citar o pessoal <strong>da</strong>sáreas de Citologia e Histologia, deReabilitação e de Hemoterapia.Quadro IIPostos de trabalho de ocupações técnicas e auxiliares em saúde: Brasil, 1999Ocupação Tipo Número %Agente de saneamento 1 4.116 0,6Auxiliar de consultório dentário 4 18.785 2,6Auxiliar de enfermagem 4 339.766 47,9Fiscal sanitário 1 2.602 0,4Técnico de enfermagem 4 49.604 7,0Técnico e auxiliar de farmácia 2 10.021 1,4Técnico e auxiliar em hematologia/hemoterapia 2 5.449 0,8Técnico e auxiliar em histologia 4 987 0,1Técnico e auxiliar em nutrição e dietética 4 7.331 1,0Técnico e auxiliar em patologia clínica 4 14.738 2,1Técnico e auxiliar em reabilitação 4 4.306 0,6Técnico e auxiliar em vig. sanitária e ambiental 1 1.365 0,2Técnico em citologia e citotécnica 2 1.594 0,2Técnico em equipamentos médico-hospitalares 2 2.072 0,3Técnico em higiene dental 2 2.834 0,4Técnico e auxiliar em prótese dentária 4 761 0,1Técnico em radiologia médica 4 20.231 2,9Outros - nível técnico e auxiliar ? 35.173 5,0Agente comunitário de saúde 1 67.503 9,5Agente de saúde pública 3 11.753 1,7Atendente de enfermagem e auxiliar operadorserviços diversos e assemelhados 3 82.040 11,6Guar<strong>da</strong> endemias, agente de controle dezoonoses e agente de controle de vetores 1 9.986 1,4Parteira 3 3.470 0,5Outros - nível elementar - 13.239 1,9Total 709.726 100,0Fonte: IBGE – Pesquisa Assistência Médico-Sanitária (AMS/1999).Formação11


○ ○ ○ ○A reforma educacional que está emcurso no País põe em questão essagrande diversi<strong>da</strong>de e lança a idéia deque muitas dessas divisões nãoatendem aos esquemas dinâmicos eflexíveis de atribuição de tarefas nomercado de trabalho. As diferençasentre esses trabalhadores estãopassando a ser entendi<strong>da</strong>s comoresultado de um campo de competênciasacumuláveis, individualmentee em grupo, entretanto não maiscomo resultado de um perfil deatribuições fixas. Ca<strong>da</strong> vez mais aPolítica de Recursos Humanos emSaúde deverá estar sintoniza<strong>da</strong> comessa tendência a colocar o foco nascompetências <strong>da</strong> força de trabalhoemprega<strong>da</strong> e não na categoria em si.Anteriormente, a atenção dessapolítica estava volta<strong>da</strong> para ascategorias prioritárias, as quais, emgrande parte, correspondiam àquelasque aju<strong>da</strong>vam a implementar osprogramas prioritários de governo.Essa ótica tem de ser amplia<strong>da</strong> agoraporque o SUS é um ator importantena definição e na avaliação <strong>da</strong>scompetências em ca<strong>da</strong> área <strong>da</strong>s açõesde saúde, no seu âmbito e de ummodo geral.Diante dos tipos e categoriasdiscriminados no Quadro II, apareceuma reflexão fun<strong>da</strong>mental: comotrabalhar essa diversi<strong>da</strong>de e que priori<strong>da</strong>desescolher? Fica evidente, que aPolítica de Recursos Humanos não temuma autonomia completa pararesponder a essa pergunta, porquedepende <strong>da</strong>s priori<strong>da</strong>des gerais defini<strong>da</strong>snas Políticas de Saúde. Mas oespaço novo que tem ganhado asPolíticas de Recursos Humanos surgejustamente <strong>da</strong> inflexão <strong>da</strong>s políticaspúblicas nos anos 90 que buscaramassociar a empregabili<strong>da</strong>de dos trabalhadorescom os aspectos de quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> força de trabalho. A qualificaçãopode ser toma<strong>da</strong> como um objetivo emsi, pois faz parte <strong>da</strong>quelas condiçõesgerais que fazem melhorar odesempenho <strong>da</strong> economia.Na saúde, to<strong>da</strong> questão dequali<strong>da</strong>de cruza-se necessariamentecom a de quanti<strong>da</strong>de, devido a doismotivos: primeiro, porque, como ditoanteriormente, há uma enormediversi<strong>da</strong>de de categorias de trabalhadores,ca<strong>da</strong> uma delas requerendouma estratégia apropria<strong>da</strong> dequali<strong>da</strong>de pelo lado educacional;segundo, porque o grupo que é maisnumeroso, o de enfermagem, étambém considerado o maisproblemático do ponto de vista <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de. Para ilustrar uma avaliaçãode "necessi<strong>da</strong>des" apresentamos aseguir uma análise geral dedica<strong>da</strong> aogrupo de enfermagem.Fatores <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por pessoal técnicode enfermagemUm dos fatores que vêm impulsionandoa deman<strong>da</strong> por trabalhadorestécnicos de enfermagem é o envelhecimento<strong>da</strong> população brasileira,na medi<strong>da</strong> em que contribui para oaumento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de internaçãoe cui<strong>da</strong>dos de reabilitação <strong>da</strong>spessoas idosas. Nos hospitais, oenvelhecimento <strong>da</strong> população influenciaa deman<strong>da</strong> por trabalho deenfermagem sobretudo mediante oaumento <strong>da</strong> média de dias deinternação. Outros fatores que afetamo crescimento <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> portrabalhadores de enfermagem estãoassociados às mu<strong>da</strong>nças organizacionaise tecnológicas dos serviçosde saúde, à estrutura de morbi<strong>da</strong>de<strong>da</strong> população e à expansão <strong>da</strong> atençãobásica, e do atendimento domiciliarem substituição ao atendimentohospitalar.A deman<strong>da</strong> por pessoal de enfermagemé, de um modo geral, muitoafeta<strong>da</strong> pelo processo de envelhecimento<strong>da</strong> população, tendo emvista que tal processo contribui parao aumento <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de cui<strong>da</strong>dosespeciais e de reabilitação <strong>da</strong>spessoas idosas. Há vários contextostécnico-assistenciais em que osserviços requeridos por uma populaçãoidosa podem ser prestados:a) em instituições hospitalares, emdecorrência de diversas patologias querequerem internação hospitalar;b) em instituições públicas epriva<strong>da</strong>s, onde os idosos são hospe-12Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○<strong>da</strong>dos e recebem cui<strong>da</strong>dos apropriadospor tempo indefinido;c) na internação domiciliarprofissionaliza<strong>da</strong>, que se dá em função<strong>da</strong> ocorrência de episódios deenfermi<strong>da</strong>des agu<strong>da</strong>s e crônicas;d) no domicílio, com atençãocontínua ou "autocui<strong>da</strong>do" a cargo dogrupo familiar.O Brasil encontra-se atualmente nogrupo de países <strong>da</strong> América Latina quea Comissão Econômica para AméricaLatina e o Caribe (CEPAL) 1 denominade "transição demográfica plena",caracterizado por uma natali<strong>da</strong>de emdeclínio, uma baixa mortali<strong>da</strong>de e umcrescimento natural em torno de 2%.A população brasileira com i<strong>da</strong>deigual ou superior a 60 anos representade 7,9% do total, uma proporçãobem menor que a encontra<strong>da</strong> empaíses de transição avança<strong>da</strong> tais comoa Argentina e o Uruguai, que exibempercentuais de 13,3 e 17, respectivamente.No entanto, considerandoque se aplica a um total de 169milhões de habitantes, a maiorpopulação <strong>da</strong> América Latina, essaproporção dá como resultado umagrande massa de pessoas que seencontra na terceira i<strong>da</strong>de.O hospital parece ser o contextotécnico-assistencial mais importantena determinação <strong>da</strong> deman<strong>da</strong> portrabalhadores de enfermagem noBrasil. Há motivos culturais quefazem com que os idosos, em suaabsoluta maioria, independentemente<strong>da</strong> condição econômica, sejamcui<strong>da</strong>dos pelos parentes mais próximose não alojados em instituiçõesespecíficas, como ocorre em países<strong>da</strong> Europa e nos Estados Unidos.Ademais, o cui<strong>da</strong>do domiciliarprofissional é ain<strong>da</strong> pouco expressivoem comparação com o "autocui<strong>da</strong>do"prestado por membros do núcleofamiliar.Gráfico IMédia de Permanência em Estabelecimentos do SUS, por Faixa Etária, 2000Fonte: DATASUS/MS.1 CEPAL, Panorama Social de América Latina,Santiago, agosto de 2000.Formação13


○ ○ ○ ○Nos hospitais, o envelhecimento<strong>da</strong> população influencia a deman<strong>da</strong>por trabalho de enfermagem,sobretudo pelo aumento <strong>da</strong> média dedias de internação. As maioresmédias de internação estão associa<strong>da</strong>saos pacientes nas faixas de i<strong>da</strong>de demais de 40 anos, devido a maiorincidência de enfermi<strong>da</strong>des crônicodegenerativas(Gráfico I). A média dedias de permanência de pacientesinternados nos hospitais do SUS ébem mais eleva<strong>da</strong> para os pacientes<strong>da</strong>quela faixa etária do que para asde menor i<strong>da</strong>de, embora a tendênciade aumento dessa média tenha umaque<strong>da</strong> para as faixas superiores a 60anos. Em princípio, quanto maior amédia de permanência, maior é oconsumo de força de trabalho deenfermagem, e o atendimento podeter a necessi<strong>da</strong>de de aumentar onúmero de leitos ou melhorar a formade utilização dos leitos disponíveis.A estrutura de morbi<strong>da</strong>de tambémafeta claramente a deman<strong>da</strong> por forçade trabalho de auxiliares de enfermagem,especialmente no ambientehospitalar. Há enfermi<strong>da</strong>des queexigem uma atenção mais intensiva oumais contínua <strong>da</strong> enfermagem, sejapara monitorar adequa<strong>da</strong>mente seussinais e sintomas, seja em termos deindispensáveis intervenções terapêuticasou de reabilitação, ou, ain<strong>da</strong>,para <strong>da</strong>r maior conforto ao paciente.Esse é o caso, por exemplo, <strong>da</strong>maioria <strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>des do aparelhocirculatório e respiratório. Taisaspectos <strong>da</strong> morbi<strong>da</strong>de determinam,em última instância, a "intensi<strong>da</strong>de"do trabalho de enfermagem. Por outrolado, certas doenças são maisexigentes em termos <strong>da</strong> duração totaldo cui<strong>da</strong>do de enfermagem, poisexigem um maior tempo de permanênciasob regime de internação,como é típico <strong>da</strong>s enfermi<strong>da</strong>desmentais e comportamentais.As mu<strong>da</strong>nças organizacionais etecnológicas afetam tanto os aspectosde quali<strong>da</strong>de quanto os de quanti<strong>da</strong>de<strong>da</strong> força de trabalho de enfermagememprega<strong>da</strong>. A introdução de tecnologiascomplexas e a especializaçãoem determina<strong>da</strong>s tarefas assistenciaisrequerem um maior nível de educaçãogeral por parte do pessoal admitido.Como acontece em outros setores <strong>da</strong>economia, o aumento <strong>da</strong> produtivi<strong>da</strong>deestá associado à elevação <strong>da</strong>escolari<strong>da</strong>de do pessoal empregadoem serviços de enfermagem. Asmelhorias tecnológicas e organizacionaispodem redun<strong>da</strong>r numa melhorutilização <strong>da</strong> força de trabalhodisponível, quando a deman<strong>da</strong> cresce,mas isto depende do nível educacionale <strong>da</strong> formação técnica que tem de serajustar a variações de função e ao usode recursos mais complexos para aassistência ao paciente.Com a introdução de novasmetodologias gerenciais, que usamseletivamente a força de trabalho maisqualifica<strong>da</strong>, e também por efeito <strong>da</strong>aplicação de novas tecnologias deassistência e diagnóstico que deman<strong>da</strong>mpessoal mais qualificado, é de seesperar que, na próxima déca<strong>da</strong>, osegmento com internação (em maiorparte de natureza hospitalar) mantenhauma alta deman<strong>da</strong> porauxiliares de enfermagem e, maisain<strong>da</strong>, que proce<strong>da</strong> a uma triagemmais rigorosa dos pretendentes aospostos de trabalhos, considerando osaspectos de competência técnica,experiência e nível de educação geral.As Políticas de Atenção Básicaatuam no sentido de fazer crescer ademan<strong>da</strong> por auxiliares de enfermagemno segmento ambulatorial dosestabelecimentos de saúde. A tendênciaé elevar o nível de qualificaçãoe <strong>da</strong> escolari<strong>da</strong>de do pessoal deenfermagem em serviços ambulatoriaispúblicos é antiga e constituiu,na déca<strong>da</strong> de 80, um dos focos <strong>da</strong>Política de Recursos Humanos deSaúde, <strong>da</strong>ndo origem a diversas iniciativas,entre as quais merece destaqueespecial o Programa Larga Escala.Na déca<strong>da</strong> de 90, com a implantaçãodo Programa Saúde <strong>da</strong> Família,o chamado nível de atenção básicapassou a ser um grande deman<strong>da</strong>ntepelo trabalho do auxiliar de enfermagem,cuja presença é obrigatóriapara a constituição <strong>da</strong>s equipes do PSF.14Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Algumas <strong>da</strong>s ações prioritáriasdesse programa e que constituemindicadores de sua eficácia requeremuma participação destaca<strong>da</strong> dosauxiliares de enfermagem, atuando emuníssono com to<strong>da</strong> a equipe. Trata-se,entre outras, <strong>da</strong>s ações que contribuampara reduzir a mortali<strong>da</strong>de infantil pordiarréia, diminuir as taxas deprevalência <strong>da</strong> desnutrição e atuarprecocemente em casos de pneumoniae desidratação, a fim de reduzir eevitar a necessi<strong>da</strong>de de internação,especialmente entre crianças.Com a extensão desse programa atodos os grandes centros urbanos, oque certamente irá ocorrer ao longo<strong>da</strong> déca<strong>da</strong>, será ain<strong>da</strong> maior ademan<strong>da</strong> por auxiliares de enfermagemnesse nível de atuação. Esseritmo de progressão <strong>da</strong> atenção básicafaz prever que a ocupação deauxiliares de enfermagem no segmentoambulatorial será substancialmenteexpandi<strong>da</strong>. Uma variávelpolítica, importante para determinaras dimensões efetivas desse crescimentodo emprego de auxiliares deenfermagem associado ao PSF, está nadependência de saber se haverá, nessecontexto urbano de maior desenvolvimentoeconômico-social, um usoampliado dessa categoria em substituiçãoou em reforço às funções doagente comunitário de saúde.ConclusõesComo evidencia a experiência doPROFAE, as Políticas de Desenvolvimentode Recursos Humanos quetenham uma preocupação salientecom a dimensão <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de devemser conduzi<strong>da</strong>s doravante com base eminiciativas que considerem aspriori<strong>da</strong>des comuns tanto do setorprivado como do setor público e tantoos aspectos de educação continua<strong>da</strong>quanto os aspectos de formação. Issorompe com uma tendência antiga <strong>da</strong>área institucional do SUS que é a deconcentrar esforços apenas no pessoaldo setor público e apenas emprocessos de treinamento e requalificação.Essas políticas, para serembem-sucedi<strong>da</strong>s, têm que estar emsintonia com priori<strong>da</strong>des e programasde envergadura nacional, que estão se<strong>da</strong>ndo nos setores de Educação eTrabalho, ou seja, têm que sebeneficiar de uma articulaçãonacional com esses dois setores, osquais, inevitavelmente, têm decooperar atualmente na busca desoluções para os problemas criadospelas deman<strong>da</strong>s de constante(re)qualificação do pessoal técnico epelas dificul<strong>da</strong>des de inserção nomercado de trabalho. Tanto aexperiência de aplicação <strong>da</strong> nova Leide Diretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional como a de programas doMinistério do Trabalho, tais como oPLANFOR, têm sido marcos referenciaisimportantes para criar umnovo contexto político e de financiamentono qual as ações de desenvolvimentode recursos humanos emsaúde superam finalmente certascondições históricas de isolamento ede fragili<strong>da</strong>de de apoio institucional.A idéia central que se difundiu nosanos 80 e 90 e foi amplamentereconheci<strong>da</strong> (hoje, inclusive, revestesede fun<strong>da</strong>mentos legais pela Lei deDiretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional), é que o setor Saúde nãopode mais se limitar a treinamentose cursos propedêuticos ou deatualização, mas deve sempre realizarseus processos de capacitação acompanhadosde uma titulação para finsde engajamento plenamente legitimadono mercado de trabalho. Essapremissa deve ser observa<strong>da</strong> tendo emconta as necessi<strong>da</strong>des cria<strong>da</strong>s pornovos programas específicos do setorpúblico, como também as necessi<strong>da</strong>desde quali<strong>da</strong>de que se identificamno conjunto do mercado de trabalho,dos setores público e privado.A esse respeito, um campo novo eain<strong>da</strong> permeado por dúvi<strong>da</strong>s, mas doqual não se pode escapar, é o <strong>da</strong>avaliação e o reconhecimento decompetências.Em todos esses aspectos, o grupode enfermagem merece especialdestaque não só por ser o maisnumeroso entre as categorias técnicas,mas também porque é considerado omais problemático do ponto de vistaFormação15


○ ○ ○ ○<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de técnica de sua força detrabalho e no que se refere aosrequisitos de humanização no atendimentode saúde à população.BibliografiaNEGRI, B.; GIOVANNI, G. Brasil:radiografia <strong>da</strong> saúde. Campinas:UNICAMP, 2001.MENDES, E. V. Uma Agen<strong>da</strong> para aSaúde. São Paulo: HUCITEC, 1996.SAMAJA, J. A reprodução social e asaúde. Salvador: ISC/UFBA, Casa <strong>da</strong>Quali<strong>da</strong>de, 2000.SANTOS, I.; CHRISTÓFARO, M. A.C. A Formação do Trabalhador <strong>da</strong>Área de Saúde. In: Questões Contemporâneasde Recursos Humanos noSUS. Divulgação em Saúde paraDebate, CEBES, ago. 1996.16Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○AnáliseAs necessi<strong>da</strong>des do Sistema Único deSaúde e a formação profissionalbasea<strong>da</strong> no modelo de competências 1Unified Health System needs andprofessional qualification based on thecompetencies modelCláudia Maria Silva MarquesCoordenadora do Sistema de Certificação de Competências/PROFAEResumo: Este artigo trata de um assunto que vem sendo bastante discutido pelasinstituições formadoras e pelos vários atores envolvidos com a questão <strong>da</strong>necessi<strong>da</strong>de de mu<strong>da</strong>nças no modelo de atenção à saúde no Brasil, com vistas àconsoli<strong>da</strong>ção do Sistema Único de Saúde (SUS): a formação profissional detrabalhadores comprometidos com estas mu<strong>da</strong>nças. As reflexões aqui realiza<strong>da</strong>sapontam para a relevância de considerar o paradigma político-assistencial doSUS como orientador <strong>da</strong>s propostas de formação dos trabalhadores para o setor,discutindo o significado <strong>da</strong> Política de Educação Profissional, defini<strong>da</strong> peloMinistério <strong>da</strong> Educação (MEC) para a área <strong>da</strong> Saúde.Palavras-chave: Competência Profissional; Educação Profissional; Promoção <strong>da</strong>Saúde; Processo de Trabalho; Currículo.Abstract: This article deals with an issue that has been very discussed by qualifyinginstitutions and by the several actors involved in the issue of the need for changingthe Brazilian model of health care, aiming at consoli<strong>da</strong>ting the Unified HealthSystem [Sistema Único de Saúde SUS]: the professional qualification for workerscommitted to such changes. The reflections herein point out the relevance ofconsidering the political-assistential paradigm of SUS as the guide for proposalsto qualifying the sector’s workers, discussing the meaning brought by the Policyon Professional Education – as defined by the Ministry of Education – to theHealth field.Keywords: Professional Competence; Professional Education; Health Promotion;Working Process; Curriculum.1 Os textos apresentados nos itens 1, 3 e 4 desteartigo representam uma síntese <strong>da</strong>s exposições <strong>da</strong>sdoutoras Marise Ramos, Milta Torrez e NeiseDeluiz, durante a realização do Seminário:Certificação de Competências para a Área <strong>da</strong> Saúde:os desafios do PROFAE, cujos anais forampublicados pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde, Brasília,2001.17


○ ○ ○ ○O paradigma político-assistencialorientando as propostas de educaçãoprofissionalNo contexto atual de mu<strong>da</strong>nças noprocesso de trabalho em saúde, coma introdução de inovações tecnológicase de novas formas de organizaçãodo trabalho, torna-se fun<strong>da</strong>mentalpara o desenvolvimento <strong>da</strong>spráticas profissionais considerar ocontexto e a concepção de saúde, quetêm como referências doutrinárias aReforma Sanitária e como estratégiasde reordenação setorial e institucionalo Sistema Único de Saúde (SUS)(Brasil, Ministério <strong>da</strong> Saúde, 1999).Essas referências estão inspira<strong>da</strong>sno paradigma <strong>da</strong> Promoção <strong>da</strong> Saúde,que aponta para a formulação de umconceito ampliado de saúde, transcendendoa dimensão setorial deserviços e, ain<strong>da</strong>, considerando ocaráter multiprofissional e interdisciplinardesta produção. No âmbitodo Governo e <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de em geral,aumenta a consciência <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>dede reordenação do Sistema de Saúde,no sentido de conquistar essa novadimensão do trabalho. Isso requer,dentre outras questões, a compreensãoglobal do processo de trabalho, umamaior articulação entre os diversossetores e a recomposição dos trabalhosantes parcelados.Assim, a atenção à saúde – e nãoapenas a assistência médica –incorpora novos espaços de atuaçãoprofissional e novos processos detrabalho, requerendo efetivo compromissodos trabalhadores com aconcepção amplia<strong>da</strong> de saúde,estabelecendo-se a transcendência dosetorial e uma diversificação doscampos de prática.Por outro lado, a integrali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>atenção, reconheci<strong>da</strong> como umprincípio que contempla as dimensõesbiológicas, psicológicas e sociais doprocesso saúde-doença, deve serdifundi<strong>da</strong> como uma nova cultura <strong>da</strong>saúde na educação profissional. Podeseafirmar, então, que o paradigmapolítico-assistencial torna-se tambémpolítico-pe<strong>da</strong>gógico, orientando aspropostas de educação profissionalpara o setor.A análise do processo de trabalhoem saúde permite evidenciar osconhecimentos e as relações de trabalhoque estruturam a ativi<strong>da</strong>deprofissional. Essa análise, no entanto,deve se <strong>da</strong>r numa perspectiva totalizante,em que sejam consideradosnão apenas os determinantes técnicos,operacionais e organizacionais doprocesso de trabalho, mas também osdeterminantes de caráter econômicose produtivos, físicos e ambientais,históricos e sociais, culturais e políticos.Deve considerar também que ostrabalhadores compõem essa reali<strong>da</strong>deobjetiva, construindo relações detrabalho intersubjetivas. Disso sedepreende que a formulação de propostasde educação profissional paraos trabalhadores <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde nãopode se restringir à dimensão técnicoinstrumental,tornando-se umasimples estratégia de a<strong>da</strong>ptação àsnecessi<strong>da</strong>des do processo produtivo.A investigação do processo detrabalho deve permitir identificar nãoapenas as ativi<strong>da</strong>des que lhe são pertinentesmas, fun<strong>da</strong>mentalmente, devepermitir evidenciar os conhecimentosde caráter técnico-científico e socioculturalque nele estão expressos.A adoção do modelo de competênciaspara a formação profissionalde nível técnico em saúde deve levarem conta que as competênciasprofissionais são construí<strong>da</strong>s pelospróprios trabalhadores, como sujeitosdeste processo e que tanto os espaçosformativos quanto as organizações detrabalho deverão se constituir em“instâncias qualificadoras”, propiciandoaos alunos condições departicipação, de diálogo, de negociaçãoe de intervenção. Isso implicaem mu<strong>da</strong>nças nas estratégias pe<strong>da</strong>gógicas,com redefinição do papel dosdocentes e discentes nas escolas, e naorganização dos processos de trabalhonas instituições empregadoras. Partindodessa compreensão, essemodelo deverá possibilitar a construçãode competências amplia<strong>da</strong>s,abrangendo várias dimensões ain<strong>da</strong>Formação19


○ ○ ○ ○pouco reconheci<strong>da</strong>s ou valoriza<strong>da</strong>s naorganização do trabalho, tais como ainiciativa, a autonomia e o trabalhoem equipe.Reorientando a prática pe<strong>da</strong>gógica nasescolas : questões referentes à Políticade Educação Profissional Brasileira 2A noção de competências napolítica educacional brasileira semanifesta nos planos estrutural(estruturar processos educativos) econceitual (organizar o processope<strong>da</strong>gógico). As reformas curricularesvisam reorientar a prática pe<strong>da</strong>gógicaorganiza<strong>da</strong> em disciplinas para umaprática volta<strong>da</strong> para a construção decompetências.A estrutura <strong>da</strong> educação profissionalcom base em competênciasé constituí<strong>da</strong> pelas seguintes etapas:a) análise do processo de trabalho,para a definição do perfil decompetências. Essa etapa foi realiza<strong>da</strong>pela Secretaria de Educação Média eTecnológica (SEMTEC/MEC), pormeio de comissões técnicas compostaspor professores e profissionaisdo setor ou área de produção. A partir<strong>da</strong> investigação dos processos detrabalho (análise funcional), foramdefini<strong>da</strong>s 20 áreas profissionais,dentre as quais, a área <strong>da</strong> Saúde;b) normalização <strong>da</strong>s competências,quando se estabelece umacordo social em torno do perfil,gerando as normas de competênciaque servem de referência para osdesenhos curriculares e para a avaliação.As normas de competênciarelaciona<strong>da</strong>s às áreas profissionaisassumiram o formato de documentosdesenvolvidos em três níveis:· no primeiro nível estão asDiretrizes Curriculares Nacionais <strong>da</strong>Educação Profissional de NívelTécnico (DCN), que conferem caráterman<strong>da</strong>tário aos perfis de competências,acompanhados <strong>da</strong>s respectivascargas horárias mínimas a seremobedeci<strong>da</strong>s pelas instituições quando<strong>da</strong> implementação de cursos;· no segundo nível estão osReferenciais Curriculares Nacionais(RCN) descrevendo as funções, assubfunções, as competências, ashabili<strong>da</strong>des e as bases tecnológicaspara ca<strong>da</strong> área profissional. Essesdocumentos não têm caráter man<strong>da</strong>tário,mas apenas o propósito desubsidiar as escolas na elaboração dosperfis profissionais de conclusão e naorganização e planejamento doscursos (Brasil. CNE/CEB. Resoluçãonº 4/99, art. 7º, § 1º);· no terceiro nível estão as instituiçõesformadoras, incumbi<strong>da</strong>s <strong>da</strong>elaboração dos planos de curso, dosquais devem constar: justificativa eobjetivos; requisitos de acesso; perfilprofissional de conclusão; organizaçãocurricular; critérios de aproveitamentode competências; critérios deavaliação; recursos físicos e humanos;certificados e diplomas (id., art. 10).c) formação por competência,realiza<strong>da</strong> por meio de um currículodesenhado com base no perfil decompetência; ed) avaliação por competência,com base nas normas defini<strong>da</strong>s.Por se referirem à área profissional,as competências defini<strong>da</strong>s nas DiretrizesCurriculares Nacionais sãoabrangentes e defini<strong>da</strong>s, portanto,como competências profissionaisgerais. Técnicos com habilitaçõesdiversas, mas relativas a uma mesmaárea, devem deter as mesmas competênciasprofissionais gerais, às quaisdevem ser acresci<strong>da</strong>s as competênciasprofissionais específicas <strong>da</strong>habilitação.Um perfil profissional, então, seriadefinido por três classes decompetências:· competências básicas – desenvolvi<strong>da</strong>sna educação básica;· competências profissionaisgerais – volta<strong>da</strong>s para o exercício dediversas ativi<strong>da</strong>des dentro de uma área2 O texto apresentado neste item foi a<strong>da</strong>ptado deRamos, Marise. A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong>s Competências:Autonomia ou A<strong>da</strong>ptação? Capítulo III. SãoPaulo, Cortez, 2001.20Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○profissional, independentemente <strong>da</strong>habilitação específica. Essas competências,como já mencionado,foram defini<strong>da</strong>s pelas DCN;· competências profissionaisespecíficas, próprias de uma habilitação– defini<strong>da</strong>s, sem caráterman<strong>da</strong>tário, nos RCN. (id., art. 6º,parágrafo único).A partir dessas definições, as instituiçõeseducativas são desafia<strong>da</strong>s aconstruírem seus planos de curso,propondo uma organização curricularcom base em competências.A escola enfrentando desafiosO desafio de incorporar a noçãode competência nos processos deformação implica em compreenderquais elementos estão subjacentes aela (evidenciar quais são os conhecimentosou os conteúdos efetivos <strong>da</strong>competência, considerando oconjunto de conhecimentos de carátersociocultural, técnico-científico,dentre outros). Isso implica emconhecer quais elementos ou aspectosvalorativos se manifestam na competência,assumindo que a construçãodo conhecimento não pode estarlimita<strong>da</strong> a uma perspectiva operacional,instrumental ou <strong>da</strong> execuçãode tarefas.A reflexão sobre o conceito decompetência remete as suas trêsdimensões: às capaci<strong>da</strong>des, àsativi<strong>da</strong>des de trabalho e ao contextoem que essas ativi<strong>da</strong>des são realiza<strong>da</strong>s.Essas três dimensões constituemos elementos implícitos àcompetência. As capaci<strong>da</strong>des sãofun<strong>da</strong>mentalmente os recursos cognitivosque são desenvolvidos e aosquais se recorre para realização dealguma ativi<strong>da</strong>de. As competências,no entanto, são exerci<strong>da</strong>s emcontextos específicos, com suascaracterísticas e peculiari<strong>da</strong>des.Construir um processo de formação,que associe essas três dimensões,implica investigar as capaci<strong>da</strong>desfun<strong>da</strong>mentais a que se recorre pararealizar as ativi<strong>da</strong>des com êxito epertinência em contextos desafiadores.Implica, portanto, estu<strong>da</strong>r eidentificar quais são os elementos quepodem levar a um desempenhocompetente. Assim, é importanteconsiderar que nenhum fazer em si,isola<strong>da</strong>mente, expressa efetivamenteas competências de uma pessoa; seassim fosse, poderia-se pensar emformação unicamente pela perspectivado treinamento, pois se uma pessoarepete tarefas suficientemente bem,quantas vezes seja necessário, sededuziria que ela adquiriu as respectivascompetências. Essa visão estálonge de remeter a uma idéia decompetência como um constructomais complexo.Nesse sentido, como pensar umaformação basea<strong>da</strong> em competênciaque não limite a construção doconhecimento à repetição ou àseleção de conteúdos valorizados porserem úteis ou pragmáticos? Comorealizar uma formação que valorizetodo o conjunto de conhecimentoscientíficos e socioculturais, com afinali<strong>da</strong>de de ir além do que pode serobservado mais diretamente comoexpressão de uma competência? E,ain<strong>da</strong>, como avaliar as competênciasa partir de um desempenho observado,uma vez que elas são maisamplas e complexas do que odiretamente observável?O que se apresenta como desafiopara a educação e para a escola éjustamente saber até que ponto oscurrículos, <strong>da</strong> forma como estãoestruturados, são capazes de desenvolvercompetências efetivas. Até queponto os currículos, tal como hoje sãoconstruídos, levam o estu<strong>da</strong>nte aenfrentar situações de aprendizagemsignificativas, fazendo-o se sentirdesafiado frente a situações reais devi<strong>da</strong> e de trabalho? Há, portanto, umquestionamento essencial sobrecurrículo disciplinar, mas a questãofun<strong>da</strong>mental vai além de umadiscussão <strong>da</strong> vali<strong>da</strong>de (ou não) dosaber disciplinar. O desafio de buscarnovas estratégias de ensino, do pontode vista formativo, é algo posto nãopela emergência <strong>da</strong> noção decompetência, mas pela reflexão sobreo papel <strong>da</strong> escola. A noção deFormação21


○ ○ ○ ○competência traz uma oportuni<strong>da</strong>deimportante para o enfrentamentodesse debate, até se conseguir ultrapassaro risco de limitar as práticaspe<strong>da</strong>gógicas ao tecnicismo. É necessáriopensar quais referências teóricometodológicasorientarão o debate,considerando a reali<strong>da</strong>de do mundoprofissional, político e social. Aconstrução de saber realmentesignificativo implica uma reflexãosobre a competência numa dimensãohumana e social, isto é, para além deuma característica própria do sujeitoindividual ou abstrato.Construindo o processo de formação combase em competênciasComo sujeito social, a escola temum papel fun<strong>da</strong>mental que ultrapassaà formação específica para o exercícioprofissional, uma vez que essainstituição é capaz de estabelecerrelações com o conhecimento socialmenteconstruído, trazendo-o para areali<strong>da</strong>de mais específica do exercício<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de. Assim, a escola deve seabrir para o mundo do trabalho, paraa reali<strong>da</strong>de, incorporando o fato deque os saberes são sempre contextualizados.A pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong>s competênciasé uma provocação para essaabertura, uma vez que possibilita resgatara importância do conhecimentosignificativo, de construir o conhecimentoe os processos de ensinoaprendizagem,tendo como motivaçõesfun<strong>da</strong>mentais as experiênciase a reali<strong>da</strong>de do mundo em geral.Entretanto, se o currículo forestruturado com base na transferêncialinear <strong>da</strong>s análises do processo detrabalho para a escola, corre-se ogrande risco de torná-lo tecnicista.No caso <strong>da</strong> saúde, uma formaçãomais ampla, a partir de uma leitura<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de que transcen<strong>da</strong> aperspectiva biológica, é algo que deveestar presente no esforço de mu<strong>da</strong>nçados currículos para a educaçãoprofissional. Quando se afirma que aquestão saúde é intersetorial, interdisciplinar,estabelecem-se relaçõespolítico-pe<strong>da</strong>gógicas no currículo, asquais orientarão a formaçãoprofissional.Considerando a competênciamuito mais como um ato social doque como a expressão de conhecimentosacumulados, é possívelcompreender que compromisso ésubjetivamente mobilizado e construídoem prol de uma atitudecompetente. Essa forma de concebercompetência vem ao encontro doconceito de saúde como quali<strong>da</strong>de devi<strong>da</strong>, preconizado pelo SUS. Essecompromisso implica, sem dúvi<strong>da</strong>, nabusca de conhecimentos e expressauma visão política e pe<strong>da</strong>gógica <strong>da</strong>competência, já que transcende atécnica. Da mesma forma, a compreensãodo cui<strong>da</strong>r em saúde, para além<strong>da</strong> atenção à doença instala<strong>da</strong>, levaao compromisso de entender acompetência também como expressão<strong>da</strong> responsabili<strong>da</strong>de. Considerandoque, ética e filosoficamente, compromissoe responsabili<strong>da</strong>de são parceiros<strong>da</strong> autonomia, é indispensávelque o processo formativo e a organizaçãodo trabalho admitam que asações profissionais competentestranscen<strong>da</strong>m às prescrições, nãosendo, contudo, sinônimo de independência,e sim de interdependência,entendi<strong>da</strong> como responsabili<strong>da</strong>de(compromisso entre as partes) ereciproci<strong>da</strong>de (interação). Nesta perspectiva,a instituição formadora, aotraduzir as competências necessáriaspara o cui<strong>da</strong>r em saúde, precisa tercompetência política para superaruma compreensão do conceito decompetência limitado apenas a suadimensão técnica, geralmente apreendi<strong>da</strong>de forma fragmenta<strong>da</strong>.A política de currículo para aeducação profissional basea<strong>da</strong> nasDiretrizes e nos Referenciais CurricularesNacionais desafia todos aterem competência política, pe<strong>da</strong>gógica,técnica e ética para compreenderqual o significado dessa mu<strong>da</strong>nça parao setor Saúde.A elaboração do perfil de competênciasprofissionais do auxiliar de enfermagem:uma experiência em construçãoA ordenação <strong>da</strong> formação derecursos de humanos se constituinuma responsabili<strong>da</strong>de político-22Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○institucional do Ministério <strong>da</strong> Saúdee, neste sentido, dentre outrasiniciativas 3 , o Projeto de Profissionalizaçãodos Trabalhadores <strong>da</strong> Área deEnfermagem (PROFAE), está sendoimplementado com o objetivo dequalificar trabalhadores desta áreaque exercem sua profissão de formairregular em termos educacionais,ético-profissionais e trabalhistas. Aomesmo tempo, o PROFAE atuaviabilizando condições de continui<strong>da</strong>dee sustentabili<strong>da</strong>de para osprogramas de formação de níveltécnico, buscando garantir a quali<strong>da</strong>de<strong>da</strong> assistência em enfermagem eimpedir que um novo contingente detrabalhadores em situação irregularpossa surgir. Para concretizar essesobjetivos, o Projeto desenvolve duaslinhas de ação: redução do déficit depessoal qualificado em auxiliar deenfermagem para atuar no setor ereforço do quadro normativo e deregulação na área <strong>da</strong> Saúde, com acriação de condições técnicofinanceiraspara a continui<strong>da</strong>de dosprocessos de formação técnica emsaúde, em especial do pessoal deenfermagem. O Sistema de Certificaçãode Competências (SCC) seinsere no Projeto e está voltadoexclusivamente para os egressos doscursos de qualificação profissional emauxiliar de enfermagem por eleimplementados.Para a implantação do SCC estãoestruturados três grandes processosou etapas, interligados e interdependentes:a padronização ou anormalização; a construção de currículobaseado em competências, aavaliação e a certificação. Essa metodologiasegue o padrão internacionalde processos de certificação; entretanto,o SCC/PROFAE ajustou as metodologiaspertinentes ao desenvolvimentode ca<strong>da</strong> uma dessas etapas àsespecifici<strong>da</strong>des do setor Saúde,particularmente à Enfermagem.A primeira etapa para a construçãodo sistema – padronização ou anormalização, consistiu na elaboração<strong>da</strong> “norma de certificação”, cujoconteúdo indica as competênciasprofissionais do auxiliar de enfermagem,pactua<strong>da</strong>s entre os diversosatores envolvidos com o trabalhodeste profissional (trabalhadores <strong>da</strong>área de Enfermagem em geral,gestores e empregadores, órgãos declasse etc.). Um aspecto fun<strong>da</strong>mental<strong>da</strong> norma é sua consistência com oque rege a prática profissional, ouseja, sua coerência com a maneira pelaqual a prática é defini<strong>da</strong> pelos atoresque dela participam.A norma orienta a definição <strong>da</strong>sestratégias de avaliação (incluindo aelaboração e aplicação de provas) epode servir de base para a construçãode currículos baseados emcompetências.O processo de construção <strong>da</strong> norma:breve relato <strong>da</strong> metodologia utiliza<strong>da</strong>Embora as atribuições do auxiliarde enfermagem estejam regulamenta<strong>da</strong>sem lei, a metodologia deimplementação do SCC exigiu adefinição e vali<strong>da</strong>ção do perfil deações desse profissional como prérequisitopara a elaboração <strong>da</strong> norma.Ao mesmo tempo, o processo deelaboração e vali<strong>da</strong>ção do perfil deações do auxiliar de enfermagemabriu, para a área <strong>da</strong> Saúde, uma oportuni<strong>da</strong>dede identificar as necessi<strong>da</strong>desde adequação desse perfil ao modelode atenção à saúde definido pelo SUS,bem como aos Referenciais CurricularesNacionais <strong>da</strong> Educação Profissionalde Nível Técnico para a área<strong>da</strong> Saúde, do Ministério <strong>da</strong> Educação.A elaboração do perfil de ações doauxiliar de enfermagem envolveu duasfases: na primeira, foi sistematiza<strong>da</strong>uma proposta preliminar do perfil,mobilizando profissionais <strong>da</strong>s diferentesáreas de atuação <strong>da</strong> enfermagem,<strong>da</strong>s várias regiões do País; nasegun<strong>da</strong>, a versão preliminar do perfil3 Programa de Incentivo a Mu<strong>da</strong>nças Curricularesnos Cursos de Medicina – Uma nova Escola Médicapara um novo Sistema de Saúde; Capacitação emDesenvolvimento de Recursos Humanos de Saúde– CADRHU; Desenvolvimento Gerencial deUni<strong>da</strong>des Básicas do Sistema Único de Saúde(GERUS/SUS).Formação23


○ ○ ○ ○foi submeti<strong>da</strong> a um processo devali<strong>da</strong>ção, sendo utilizado um modelode pesquisa qualitativa (gruposfocais), que permitiu não apenasvali<strong>da</strong>r o perfil apresentado, mastambém identificar as reações,percepções e a compreensão dosentrevistados em relação à proposta.Para a quantificação e definiçãodos grupos, algumas variáveis passíveisde gerar e explicar as variaçõesno perfil do auxiliar de enfermagemforam considera<strong>da</strong>s, tais como: adiversi<strong>da</strong>de regional do País; asdiferenças entre capital e interior; asvisões dos vários segmentos profissionaismais diretamente envolvidoscom o trabalho do auxiliar deenfermagem; o tipo, o tamanho e acomplexi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s instituições em queo auxiliar de enfermagem desenvolveseu trabalho. Considerando essaspremissas, a pesquisa foi desenha<strong>da</strong><strong>da</strong> seguinte forma:• locais de realização: Belém(PA); Recife (PE); Belo Horizonte(MG); Curitiba (PR); e Campo Grande(MS), garantindo a representativi<strong>da</strong>dede to<strong>da</strong>s as regiões do País;• participantes dos grupos: 150profissionais, reunindo auxiliares deenfermagem, enfermeiros dos serviçosde saúde, docentes envolvidos com aformação do auxiliar de enfermagem,empregadores e gestores, todosrecrutados em diferentes tipos deinstituições (públicas, priva<strong>da</strong>s, depequeno, médio e grande porte, debaixa, média e alta complexi<strong>da</strong>de, <strong>da</strong>capital e do interior do estado);• tipos de grupos:a) formado apenas por auxiliaresde enfermagem <strong>da</strong> rede básica (centrose postos de saúde) e de hospitais ouclínicas, <strong>da</strong> rede pública e priva<strong>da</strong>;b) reunindo empregadores deauxiliares de enfermagem (administradoresde hospitais ou declínicas, gerentes de postos de saúde)e gestores <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde (secretáriosmunicipais ou seus executores);c) integrado por enfermeirosatuantes nas instituições de saúde edocentes responsáveis pela formaçãode auxiliares de enfermagem.A técnica utiliza<strong>da</strong> na pesquisa foia de discussão em grupo, conduzi<strong>da</strong>por uma moderadora, com o apoio deum roteiro e do instrumento definidopara a pesquisa (a versão preliminardo perfil de ações do auxiliar deenfermagem). As reuniões foram grava<strong>da</strong>sem fitas de áudio e posteriormentetranscritas para a análise deseus conteúdos. Uma só profissionalmoderou todos os grupos e fez aanálise de seus conteúdos.O roteiro de discussão, para todosos grupos, continha dois blocos: indicaçãoespontânea, pelos participantes,<strong>da</strong>s ações realiza<strong>da</strong>s pelos auxiliaresde enfermagem, a partir de suas diferentesvisões e reali<strong>da</strong>des profissionais;e apresentação, pela moderadora,<strong>da</strong> versão preliminar do perfilde ações do auxiliar de enfermagempara discussão <strong>da</strong> pertinência e adequação<strong>da</strong>s ações, bem como manifestação<strong>da</strong>s percepções e compreensãodessas ações pelos participantes.Como o perfil de ações do auxiliar deenfermagem foi transformado na normade certificação de competênciasA elaboração <strong>da</strong> norma pautou-seem três pressupostos consideradosessenciais:· a coerência interna em relaçãoao conceito de competência (amplamentediscutido no documento“Referências Conceituais para aOrganização do Sistema de Certificaçãode Competências/PROFAE”)assumido pelo Projeto;· a necessi<strong>da</strong>de de contemplartodos os aspectos relacionados àprática do auxiliar de enfermagem,considerando suas especifici<strong>da</strong>des emrelação a locais de produção dosserviços; formas de inserção, organizaçãoe regulação do trabalho; eatendimento <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>s dosindivíduos, grupos e coletivi<strong>da</strong>des;· a observância a leis, decretos,resoluções e pareceres que regulam aformação e o exercício profissionaldo auxiliar de enfermagem.24Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Diante do exposto, o perfil deações do auxiliar de enfermagemvali<strong>da</strong>do foi analisado e reinterpretadono sentido de identificar oseixos integradores que estruturam aprática deste profissional. Foramidentificados seis eixos: a promoção<strong>da</strong> saúde e prevenção de agravos; aobservação, coleta e registro deinformações; a assistência na recuperação<strong>da</strong> saúde; a assistência emsituações de urgência e emergência;a organização do próprio trabalho; eo planejamento e avaliação, em equipe,do trabalho <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des de saúde.A partir desses eixos, foramdescritas as competências profissionaisdo auxiliar de enfermagem,buscando expressá-las de formaamplia<strong>da</strong> e abrangente às váriasdimensões do trabalho desteprofissional.A equipe que elaborou a normadedicou especial atenção para que areali<strong>da</strong>de de trabalho (bastanteexplicita<strong>da</strong> na pesquisa de vali<strong>da</strong>çãodo perfil de ações do auxiliar deenfermagem), por vezes pressiona<strong>da</strong>por déficits de profissionais ou pordificul<strong>da</strong>des econômicas, não ditasseum perfil profissional distorcido. Anorma buscou atender aos objetivosdo PROFAE e particularmentepermitir a verificação de lacunas efragili<strong>da</strong>des na formação dostrabalhadores, estimular uma atitudeavaliativa <strong>da</strong>s instituições formadorase fornecer subsídios para a construçãode currículos estruturados em competências.Essas características imprimiramum modelo de norma com umare<strong>da</strong>ção mais generalizável, abrangentee amplia<strong>da</strong>, de forma a caracterizaro trabalho em equipe. Alémdisso, a norma buscou traduzir anecessi<strong>da</strong>de de implementação de umanova organização do processo detrabalho em saúde que rompa com oantigo padrão de fragmentação erotinização de tarefas, caracterizandoum perfil de desempenho ampliadopara o auxiliar de enfermagem, talcomo é exigido pelas bases legais,políticas e estratégicas desenvolvi<strong>da</strong>spelo Ministério <strong>da</strong> Saúde. A normaprocurou traduzir essas novas perspectivas,entendendo que to<strong>da</strong>s ascompetências nela especifica<strong>da</strong>s sãocumpri<strong>da</strong>s segundo o planejamento eas normas dos serviços de saúde, ondejá estão embuti<strong>da</strong>s as capaci<strong>da</strong>des deca<strong>da</strong> categoria profissional, conformesua especifici<strong>da</strong>de e normas legaisvigentes.Considerando a relevância ecomplexi<strong>da</strong>de do assunto, a construção<strong>da</strong> norma envolveu váriasetapas de trabalho e contou com aparticipação de profissionais <strong>da</strong> áreade Enfermagem <strong>da</strong>s várias especiali<strong>da</strong>dese regiões do País. Dessaforma, foi elabora<strong>da</strong> uma minuta,submeti<strong>da</strong> a consulta pública por umperíodo de 40 dias e posteriormentehomologa<strong>da</strong> pelo Conselho ConsultivoNacional do Sistema de Certificaçãode Competências/PROFAE 4 .Assim, a norma de certificação decompetências do auxiliar de enfermagemé resultado de um consensoentre os atores sociais envolvidos como trabalho deste profissional.Essa norma, entretanto, deverá seranalisa<strong>da</strong>, revisa<strong>da</strong> e integra<strong>da</strong> aoperfil de ações do técnico deenfermagem tão logo seja elaboradoe vali<strong>da</strong>do.4 Conselho Consultivo Nacional foi instituído comoparte <strong>da</strong> estrutura organizativa do SCC/PROFAE.Tem atribuições de articulação e negociaçãopolítico-institucional, além <strong>da</strong> apreciação ehomologação de propostas e produtos em etapascríticas do processo de implementação do sistema.É integrado por representantes dos Ministérios<strong>da</strong> Saúde, Educação e Trabalho e Emprego, doConselho Nacional de Saúde, do ConselhoNacional dos Secretários Estaduais de Saúde, doConselho Nacional dos Secretários Municipaisde Saúde, <strong>da</strong> Associação Brasileira de Enfermagem,do Conselho Federal de Enfermagem, <strong>da</strong> CentralÚnica dos Trabalhadores, <strong>da</strong> Federação Brasileirade Hospitais e <strong>da</strong> Confederação Nacional dosTrabalhadores <strong>da</strong> Saúde.Formação25


○ ○ ○ ○Reflexões FinaisAs idéias apresenta<strong>da</strong>s neste artigobuscaram levantar questões relevantespara o debate sobre o complexo tema<strong>da</strong> formação profissional na área <strong>da</strong>Saúde, tendo como premissa principala importância dessa formaçãoestar referencia<strong>da</strong> na Política de Saúdeassumi<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong> Saúde,que propõe a inversão do modelo deatenção (priorizando a promoção <strong>da</strong>saúde e a prevenção de agravos), aênfase na atenção básica e a regionalizaçãoe hierarquização <strong>da</strong>s ações.Por outro lado, a Política de EducaçãoProfissional, implementa<strong>da</strong> peloMinistério <strong>da</strong> Educação, determinaque as instituições formadoras reorganizemseus currículos de formaçãocom base no modelo de competência.A reflexão sobre esses dois aspectosremete a pelo menos duas questões:que os espaços formadores deveminvestir esforços nas mu<strong>da</strong>nças dosmétodos de ensino e em novaspropostas de formação docente e queos espaços de trabalho devem permitiraos trabalhadores a expressão de suascompetências, em termos de autonomia,iniciativa, participação, diálogo,negociação e intervenção sobreas situações próprias ao seu trabalho.Do ponto de vista <strong>da</strong> escola, se aformação do trabalhador de saúdeestiver reduzi<strong>da</strong> à esfera puramenteprofissional, em detrimento de umaformação integral que abranja adimensão <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, isto significariauma abor<strong>da</strong>gem reducionistado conceito de competência. Damesma forma, a apropriação acríticadesse conceito conduziria a umaabor<strong>da</strong>gem individualizante eindividualiza<strong>da</strong> <strong>da</strong> formação.É necessário, portanto, não perderde vista a perspectiva histórica doprocesso de trabalho e de formação,uma vez que as competências variamhistoricamente, de acordo com oscontextos sociais, econômicos eculturais, e dependem dos embatesentre as visões de mundo dos diversosatores sociais. Na área <strong>da</strong> Saúde, éfun<strong>da</strong>mental que a nova visão dequali<strong>da</strong>de seja incorpora<strong>da</strong> aosprocessos de formação, garantindo aperspectiva <strong>da</strong> humanização docui<strong>da</strong>do, o que envolve os aspectoséticos, a organização do trabalho, atecnologia (no sentido amplo), oprocesso de trabalho, a equipe desaúde e o usuário dos serviços.A competência deve sercompreendi<strong>da</strong> como um conceitopolítico-educacional amplo, comoum processo de articulação e mobilizaçãode conhecimentos gerais eespecíficos, de habili<strong>da</strong>des teóricas epráticas, de exercício eficiente dotrabalho, que possibilite ao trabalhadorparticipação ativa, conscientee crítica no mundo do trabalhoe na esfera social.Nota: Os documentos: Referências Conceituais paraa Organização do Sistema de Certificação deCompetências/PROFAE, Relatório Final <strong>da</strong>Pesquisa de Vali<strong>da</strong>ção do Perfil de Ações doAuxiliar de Enfermagem, Norma para aCertificação de Competências do Auxiliar deEnfermagem/ PROFAE encontram-se disponíveisno site: www.profae.gov.br.26Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○BibliografiaBRASIL. Ministério <strong>da</strong> Educação.Decreto nº 2.208, de 17 de abril de1997. Regulamenta o § 2º do art. 36e os arts. 39 a 42 <strong>da</strong> Lei nº 9.394, de20 de dezembro de 1996, queestabelece as Diretrizes e Bases <strong>da</strong>Educação Nacional. EducaçãoProfissional: Legislação Básica. 2. ed.Brasília: Programa de Expansão <strong>da</strong>Educação Profissional, 1998.BRASIL. Conselho Nacional deEducação e Câmara de Educação Básica.Parecer nº 16, de 5 de outubro de 1999.Diretrizes Curriculares Nacionais paraa Educação Profis-sional de NívelTécnico. Disponível em: .Acesso em: 22 jul. 2002.______. Resolução nº 4, de 8 dedezembro de 1999. Institui as DiretrizesCurriculares Nacionais para aEducação Profissional de NívelTécnico. Disponível em: .Acesso em: 22 jul. 2002.______. Referenciais CurricularesNacionais <strong>da</strong> Educação Profissionalde Nível Técnico. Brasília: Programade Expansão <strong>da</strong> Educação Profissional,2000.BRASIL. Ministério <strong>da</strong> Saúde.Referencias Conceituais para aOrganização do Sistema de Certificaçãode Competências/PROFAE.Brasília, 2000.______. Oferta de qualificação énecessária para melhorar a atenção àsaúde. Formação. Ministério <strong>da</strong>Saúde, Brasília, n. 1, p. 7-12, 2001.DELUIZ, Neise. Qualificação,competências e certificação: visão domundo do trabalho. In: SEMINÁRIO“CERTIFICAÇÃO DE COMPE-TÊNCIAS PARA A ÁREA DASAÚDE: OS DESAFIOS DOPROFAE”, 2000, Brasília. Anais...Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2001.p. 27-36.RAMOS, Marise N. A Pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong>sCompetências: Autonomia ouA<strong>da</strong>ptação? São Paulo: Cortez, 2001.______. Qualificação, competênciase certificação: visão educacional. In:SEMINÁRIO “CERTIFICAÇÃO DECOMPETÊNCIAS PARA A ÁREA DASAÚDE: OS DESAFIOS DOPROFAE”, 2000, Brasília. Anais...Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2001.p. 37-45.TORREZ, Milta. Sistema deCertificação de Competências/PROFAE: Concepção. In: SEMI-NÁRIO “CERTIFICAÇÃO DECOMPETÊNCIAS PARA A ÁREA DASAÚDE: OS DESAFIOS DOPROFAE”, 2000, Brasília. Anais...Brasília: Ministério <strong>da</strong> Saúde, 2001.p. 47-65.Formação27


○ ○ ○ ○AnáliseDilemas <strong>da</strong> regulamentaçãoprofissional na área <strong>da</strong> Saúde:questões para um governodemocrático e inclusionistaDilemmas on professional regulationin Health field: issues for ademocratic and inclusiveGovernmentSábado Nicolau GirardiDoutorando em Saúde Pública – Escola Nacional de Saúde Pública (ESPN/FIOCRUZ)Paulo Henrique SeixasDiretor <strong>da</strong> Coordenação Geral de Políticas de Recursos Humanos do Ministério <strong>da</strong> SaúdeResumo: O artigo parte <strong>da</strong> identificação de uma lógica dual nas deman<strong>da</strong>s porregulamentação profissional na área <strong>da</strong> Saúde no Brasil: ampliação deprerrogativas monopólicas no exercício <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des profissionais versusdeman<strong>da</strong>s por reconhecimento. Conceituando a regulação profissional comopolítica pública, discute razões, vantagens e problemas atribuídos à regulamentação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des profissionais, com foco na área <strong>da</strong> Saúde. À luz dessasconsiderações, o artigo apresenta alguns exemplos representativos do que definecomo novo paradigma <strong>da</strong> regulamentação profissional, desenvolvidos emexperiências internacionais, para finalmente situar a questão nacional dentro deum contexto mais amplo de possibili<strong>da</strong>des de entendimento e ação política.Palavras-chave: Reforma Regulatória; Regulamentação Profissional; RecursosHumanos em Saúde; Profissões de Saúde; Políticas Públicas.Abstract: The article is based on the identification of a dual logic in the demandfor professional regulation in Health field in Brazil: the expansion of monopolistprerogatives in the exercise of professional activities versus the demand forrecognition. Understanding the professional regulation as public policy, itdiscusses reasons, advantages and problems related to the regulation of professionalactivities, focusing on the Health field. In the light of such considerations, thearticle brings some representative samples on what it defines as the new paradigmfor professional regulation, developed in international experiences and, finally,it places the national issue in a broader context of possibilities of understandingand political action.Keywords: Regulatory Reform; Professional Regulation; Human Resources inHealth; Health Professions; Public Policies.29


○ ○ ○ ○IntroduçãoO período recente tem sidomarcado por uma relativa turbulênciana arena <strong>da</strong> regulamentação profissionalna área <strong>da</strong> Saúde. Mais que aum crescimento simplesmente quantitativo,assiste-se a uma importantediferenciação destas deman<strong>da</strong>s e istoem duas direções. Em primeiro lugar,assiste-se a uma ampliação <strong>da</strong>saudiências <strong>da</strong> regulamentação profissional.Muitas <strong>da</strong>s disputas entre asprofissões do setor que eram trava<strong>da</strong>sprincipalmente nos locais de trabalhoatingem hoje, com renovado vigor, aesfera pública. E mais que isso, se osesforços realizados pelas profissõespara alcançar seus pleitos se dirigiam,até muito recentemente, sobretudo,aos apoios do poder legislativo e ao“convencimento” do executivo, hojeeles avançam em direção à opiniãopública e ao judiciário. Este último,que era acionado principalmente pararesolver disputas individuais,envolvendo especialmente processosde erro profissional e questões relaciona<strong>da</strong>sà prática ilegal <strong>da</strong>s profissões,passa a ser crescentementechamado para resolver disputascoletivas entre as profissões. Asprofissões de saúde têm se valido ca<strong>da</strong>vez mais de decisões judiciais paralegitimar, em contextos mais amplos,as resoluções expedi<strong>da</strong>s pelos respectivosconselhos profissionais. Asdisputas em torno do exercício pleno<strong>da</strong> acupuntura pelos diversos profissionaisde saúde, constituem apenasum, dentre muitos exemplos. Essatransformação é decisiva, uma vez queo judiciário passa a ser um ator depeso no processo de legitimação <strong>da</strong>sdeman<strong>da</strong>s de regulamentaçãoprofissional. É preciso notar que essemovimento se inscreve dentro de umprocesso mais amplo que correspondeao que Habermas (1987), entre outrosautores, define como processo dejudicialização <strong>da</strong>s políticas sociais,característico <strong>da</strong>s democraciascontemporâneas 1 .Em segundo lugar, é possívelidentificar uma nova quali<strong>da</strong>de nasdeman<strong>da</strong>s de regulamentação profissionalna área <strong>da</strong> Saúde. Na ver<strong>da</strong>de,observa-se uma duali<strong>da</strong>de nas deman<strong>da</strong>s.Por um lado, as profissõesregulamenta<strong>da</strong>s do setor, comprerrogativas de autogovernar-se,disputam em torno dos atos privativosou exclusivos. Numa palavra, oaumento <strong>da</strong> concorrência interprofissionaltem levado a uma disputa porampliação de prerrogativas monopólicasno exercício de ativi<strong>da</strong>des eserviços profissionais na área <strong>da</strong>Saúde. Os recentes Projetos de Lei do“Ato Médico” e do “Ato de Enfermagem”constituem os exemplos maisclaros. Ao lado dessas deman<strong>da</strong>s,existem aquelas que expressam, maisque tudo, lutas por reconhecimento.A maior parte dos projetos relativosàs práticas complementares e alternativase à regularização de profissõesexerci<strong>da</strong>s de forma ilegal (os práticos),que constituem a maioria dosprojetos tramitando no Congresso, selocaliza nesta segun<strong>da</strong> categoria. Oreconhecimento dessa duali<strong>da</strong>de nasdeman<strong>da</strong>s de regulamentação profissionaltem implicações práticas eteóricas. No plano teórico, a questãoexige uma abor<strong>da</strong>gem que ultrapasseexplicações relativas aos processos deprofissionalização baseados exclusivamentena realização do “autointeresse”e <strong>da</strong> concorrência por jurisdiçõesde trabalho. É preciso incorporaràs análises, a categoria do reconhecimentosocial, trata<strong>da</strong> noâmbito <strong>da</strong>s chama<strong>da</strong>s políticas <strong>da</strong>diferença e <strong>da</strong>s políticas do reconhecimento.No plano prático, a questãoexige um tratamento diferenciadodessas deman<strong>da</strong>s, se quisermos, paradizer o mínimo, <strong>da</strong>r a elas um tratamentojusto e digno de uma socie<strong>da</strong>dedemocrática “inclusionista”.O presente artigo tem comoobjetivo trazer à tona alguns elementosque, acreditamos, contribuemcomo subsídio para este debate.Apresentamos, de início aspectosgerais <strong>da</strong> regulação entendi<strong>da</strong> comoempreendimento simultaneamenteético e econômico. Em segui<strong>da</strong> dis-1 Para uma discussão do processo, ver especialmenteVianna et al.(1999).Formação31


○ ○ ○ ○cutimos razões, vantagens e problemasatribuídos à regulamentação<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des profissionais, com focona área <strong>da</strong> Saúde. À luz dessas considerações,trazemos alguns exemplosrepresentativos do que chamamos denovo paradigma <strong>da</strong> regulamentaçãoprofissional, desenvolvidos em experiênciasinternacionais para finalmentesituarmos a questão nacional dentrode um contexto mais amplo de possibili<strong>da</strong>desde entendimento e ação.Considerações gerais sobre a regulaçãoNa tradição <strong>da</strong> economia política,o termo regulação engloba um amploespectro de políticas disciplinadoras<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des econômicas e sociais,visando não apenas seu controle comoà prevenção ou atenuação de suasconseqüências para a comuni<strong>da</strong>de. Noprimeiro caso, fala-se em regulaçãoeconômica e no segundo, em regulaçãosocial (Samuelson, 1992). Esquematicamentefalando, as políticas dessaregulação compreendem regras deentra<strong>da</strong> e saí<strong>da</strong> em determinadosmercados, controle dos preços e lucros,varie<strong>da</strong>de e padrões de quali<strong>da</strong>de dosbens e serviços, regras de concorrênciaetc. A regulação econômica se justificapela existência de falhas de mercado,por motivos que envolvem economiasde escala (por exemplo, na produçãode bens públicos), concentração depoder de mercado (monopólios) e graveslacunas de informação entre produtorese consumidores ou clientes. Por seuturno, a regulação social visa conter avarie<strong>da</strong>de de efeitos negativos ouexternali<strong>da</strong>des que resultam domovimento normal <strong>da</strong> economia,incluindo as regulações ambientais edemais medi<strong>da</strong>s para promover a saúdee a segurança dos trabalhadores econsumidores. Juntamente com aspolíticas redistributivas e as políticasmacroeconômicas de estabilização, aregulação dos mercados constitui otriunvirato <strong>da</strong>s intervenções legítimasdo Estado na economia.De um modo bastante simplificado,o que existe de comum emto<strong>da</strong> e qualquer regulação é que elarepresenta uma “restrição intencional<strong>da</strong> livre escolha de um sujeito provenientede uma fonte externa que nãoas partes diretamente envolvi<strong>da</strong>s”(Mitnick, 1989). Em outros termos,a regulação corresponde a umaintervenção pública (ou <strong>da</strong> política)sobre a soberania dos mercados (oudo jogo <strong>da</strong>s trocas entre os agentesdescentralizados na economia).Um dos resultados <strong>da</strong> regulação –muitas vezes mesmo um dos seusobjetivos – é que ela opera umaredistribuição de riscos e privilégios,vantagens e prejuízos entre pessoas,grupos e setores <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de por elaafetados, num sentido distinto <strong>da</strong>queleque seria o resultado <strong>da</strong>s interações seestas fossem deixa<strong>da</strong>s ao livre sabor <strong>da</strong>sforças do mercado – entendido aqui naacepção braudeliana de um “jogo detrocas” entre agentes descentralizados.Por isso, precisamente, umsignificado socialmente compartilhadonas socie<strong>da</strong>des que valorizama “liber<strong>da</strong>de” dos mercados e aautonomia decisória dos indivíduos,é que to<strong>da</strong> regulação, para ser vistacomo legítima ou não tirânica, deveser constantemente justifica<strong>da</strong> e nãoapenas em termos de eficiênciaalocativa, mas também de justiçadistributiva 2 . Nesse sentido, a regulaçãotem que propiciar alocações edistribuições não apenas diferentes,mas melhores que a dos mercados.Pode-se dizer, com efeito, que to<strong>da</strong> acrítica <strong>da</strong> regulação <strong>da</strong>s teorias que avinculam a políticas de grupos deinteresse até as teorias que concebema regulação como apenas mais umadentre as mercadorias troca<strong>da</strong>s nomercado <strong>da</strong> política e <strong>da</strong>s burocraciaspúblicas, que carregam, em comum,este traço 3 . Varia, no entanto, o pesoque atribuem ca<strong>da</strong> uma delas aostrade offs entre eficiência e justiça.2 Utilizo o termo tirania na acepção de Fishkin (1979).3 Na ver<strong>da</strong>de, a discussão sobre os benefíciosdiferenciais <strong>da</strong> regulamentação <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>deseconômicas e sociais – e mais restritamente, <strong>da</strong>intervenção governamental – tem ocupado to<strong>da</strong> ahistória <strong>da</strong> economia moderna, com o pêndulo<strong>da</strong>s avaliações, ora tendendo para o lado dosconsumidores de bens e serviços, ora para o lado<strong>da</strong>s indústrias e negócios regulados – o fiel semprerepresentado pela noção <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de pública. Aracionali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> regulação, esgrimi<strong>da</strong> tanto porseus defensores como detratores, é apresenta<strong>da</strong>: autili<strong>da</strong>de ou o interesse público.32Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Considerando a regulamentaçãoprofissionalA regulamentação <strong>da</strong>s profissões éum capítulo muito especial <strong>da</strong>regulação econômica e social. Emcerto sentido, poder-se-ia dizer queas profissões são regula<strong>da</strong>s porque, sedeixa<strong>da</strong>s por conta dos mecanismosde mercado, as ativi<strong>da</strong>des e serviçosque elas brin<strong>da</strong>m à socie<strong>da</strong>de seriamalocados em níveis sub ótimos. Emoutras palavras, no balanço entrebenefícios e desvantagens, o exercíciolivre dessas ativi<strong>da</strong>des traria maisprejuízos para a socie<strong>da</strong>de que osporventura ocasionados pela suaregulamentação. Mas essa é apenasuma maneira de enfocar o problema.Conforme bem situa o economistacanadense Robert Evans (1980), aquestão profissional evoca outrasdistinções. Diferentemente de outrasativi<strong>da</strong>des econômicas e ocupações, osnegócios e ativi<strong>da</strong>des profissionaisfuncionam dentro de uma estruturamuito especial de regulação pública,constituí<strong>da</strong> por leis, instituições defiscalização e controle do exercício,que definem e implementam tanto asregras para entra<strong>da</strong> nessas ativi<strong>da</strong>descomo as normas de conduta técnica eética de seus membros. Mais que isso,essa estrutura especial de regulaçãopública é constituí<strong>da</strong> por instituições,em larga parte, representa<strong>da</strong> pororganizações dos próprios paresprofissionais que exercem, pordelegação, autori<strong>da</strong>de de Estado (osconselhos profissionais). De fato, aautori<strong>da</strong>de delega<strong>da</strong> pelo Estado paraautogoverno (ou autonomia corporativa)parece ser, então a característicaque mais diferencia as profissões,não somente dos demais negócios eativi<strong>da</strong>des econômicas, como <strong>da</strong>socupações comuns. O poder deautogoverno concedido a uma profissãoguar<strong>da</strong> dois aspectos essenciais:o poder para licenciar ou autorizar ea habili<strong>da</strong>de para disciplinar osindivíduos licenciados para oexercício profissional. Essencialmente,o significado desse poder é aautori<strong>da</strong>de para decidir sobre questõesrelativas ao direito de prática, ou seja,a quem será permitido ganhar a vi<strong>da</strong>naquela ativi<strong>da</strong>de e a quem não(Casey, 2001, p. 1).Mas por que isso? Por que razãoo Estado e a socie<strong>da</strong>de brin<strong>da</strong>riam aosistema <strong>da</strong>s profissões com estruturasespeciais de regulação pública e,ain<strong>da</strong> por cima, com capaci<strong>da</strong>de deautogoverno? Em geral, apresentamsetrês argumentos básicos:(i) a idéia de que o exercício <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des exerci<strong>da</strong>s pelas profissõesimplica em riscos que podem afetarprofun<strong>da</strong>mente a saúde pública, asegurança, o patrimônio e o bem-estardo público;(ii) a idéia de que tais ativi<strong>da</strong>desenvolvem habili<strong>da</strong>des complexas, comelevado teor científico e técnico, emgeral não acessíveis sem o concursode sistemas de formação profissionalcomplexos como as universi<strong>da</strong>des;(iii) a idéia de que a quali<strong>da</strong>de eos resultados do trabalho dos profissionaisnão são passíveis de julgamentoespontâneo do público leigo.Os dois últimos argumentos,tecnicamente falando, o problema <strong>da</strong>assimetria informacional e <strong>da</strong>sdecisões errôneas, justificariam asprerrogativas de auto-regulação ouautogoverno concedi<strong>da</strong>s pelo Estadoa muitas profissões.As barreiras legais para entra<strong>da</strong>nos mercados de trabalho – sob aforma do credenciamento educacionale <strong>da</strong> exigência de licenças e diplomas– emana<strong>da</strong>s em grande parte <strong>da</strong>spróprias corporações profissionais,estabelecem padrões mínimos deprática técnica e conduta ética esocial, que efetivamente mantêm osusuários de serviços relativamente asalvo de praticantes inescrupulosos eprofissionais incompetentes.Por outro lado, a existência de umsistema institucional de credenciamentoocupacional, que regula aquestão do direito de prática e do usode títulos profissionais, representauma importante economia para redesde provedores e consumidores individuaiscom a obtenção de infor-Formação33


○ ○ ○ ○mação sobre a quali<strong>da</strong>de dosprofissionais existentes no mercado(Freidson, 1988; Williamson, 1996).Em tese, desde essa perspectiva, podesedizer que o problema dos custosde informação nos mercadosprofissionais cresce na proporçãodireta do tamanho do mercado e emprogressão geométrica, com acomplexi<strong>da</strong>de dos conhecimentosteórico-científicos e habili<strong>da</strong>destécnicas necessárias para o exercício<strong>da</strong> profissão. Sendo essas premissasver<strong>da</strong>deiras, pode-se dizer que estesistema de “sinais de mercado”,propiciado pelos sistemas institucionaisde regulação profissional, tãoserá mais confiável quanto maisrigorosamente for administrado apartir regras de excelência técnica eética que governam internamenteaquele campo de trabalho 4 . Este é ooutro argumento que reforça adelegação de auto-regulação a determina<strong>da</strong>sprofissões, muito particularmenteno campo <strong>da</strong> saúde.Entretanto, ao lado desses benefícios,as leis de exercício tambémcriam ex ante reservas de mercado,que podem implicar em monopóliosprofissionais mais ou menos extensossobre campos de ativi<strong>da</strong>des,dependendo, entre outras coisas, <strong>da</strong>extensão do escopo de práticasconferi<strong>da</strong>s à profissão, do grau deprivativi<strong>da</strong>de ou exclusivi<strong>da</strong>deconferido aos atos específicos <strong>da</strong>profissão, e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de de controleex post <strong>da</strong>s reservas legais pelasinstituições de fiscalização doexercício. Ou seja, a regulaçãoprofissional cria direitos de proprie<strong>da</strong>deao restringir o acesso àprática dos atos regulados comoprivativos e à ostentação de títulosprofissionais no mercado (Girardi,2000). Quanto maior a extensão doescopo de práticas e mais extensa alista de atos exclusivos ou privativosa ela legalmente atribuídos, maiorserá o tamanho de sua proprie<strong>da</strong>de(ou do domínio patrimonial <strong>da</strong>profissão) 5 . Como qualquer políticaque redistribui ganhos e per<strong>da</strong>s nosmercados – e neste caso trata-se deganhos em termos de proprie<strong>da</strong>de oupatrimônio – sua existência deveforçosamente representar um benefíciopúblico, além de considerar nasua concessão reclames de grupos decompetidores que se considerempossivelmente lesados em seu direito.Malgrado seus benefícios públicos,três tipos de crítica têm sido maiscomumente aponta<strong>da</strong>s à questão dosmonopólios profissionais, mais especificamentena área <strong>da</strong> Saúde 6 . Emprimeiro lugar, a crítica maiselementar (à la Milton Friedman)objeta que as restrições de entra<strong>da</strong>inflacionam os custos em duas vias:primeiro, por criarem lucros monopólicospara a profissão ao reduzirartificialmente a oferta de bens eserviços; depois pelo estabelecimentode preços cartelizados. Na ver<strong>da</strong>de,esse argumento encontraria suaprincipal fraqueza numa verificaçãoempírica muito comum pelo menosna Saúde: os profissionais, particularmenteos que têm uma relação diretacom os pacientes e guar<strong>da</strong>m, narelação de serviços, maiores graus deautonomia técnica, costumam gerarsua própria deman<strong>da</strong>, aumentando enão diminuindo os níveis de oferta.Por outro lado, esse tipo de críticanão considera, seriamente, os benefíciosgerados para os usuários emtermos de segurança e bem-estar, emenos ain<strong>da</strong> na questão informacional,tal qual apresentado. Numa4 Saltman & Busse (2002, p. 22) sumarizam asvantagens <strong>da</strong> auto-regulação delega<strong>da</strong> adetermina<strong>da</strong>s profissões relativamente a formasde “heterorregulação”: alto compromisso com aspróprias regras; processo mais informado nodesenho de normas técnicas; baixo custo gerencialcomparativo; maior ajustamento dos protocolos enormas de prática adotados com aqueles vistoscomo razoáveis pelos profissionais que estão naprática; maior abrangência <strong>da</strong>s regras; maiorpotenciali<strong>da</strong>de e aceitação de ajustes; maisfacili<strong>da</strong>de de implementação efetiva <strong>da</strong>s regras epossibili<strong>da</strong>de de combinação com supervisãoexterna (grifo meu). Entre as desvantagens, a autoregulaçãocria regras auto-interessa<strong>da</strong>s e, no limite,pode tender a afrouxar a aplicação <strong>da</strong>s própriasregras que cria, numa espécie de instinto deautodefesa corporativa. Daí outra importantelimitação: a baixa confiança do público.5 Agradeço a Antônio Anastasia, a analogia entre aconcessão de campos de atos privativos e a idéiade patrimônio de uma profissão.6 No seguinte, apoio-me fartamente em Evans(1980).34Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○palavra, os signatários deste tipo decrítica não reconhecem as especifici<strong>da</strong>desque cercam o sistema <strong>da</strong>sprofissões. Dois outros tipos decrítica, no entanto, revestem-se demaior pragmatismo e merecem sermais seriamente considera<strong>da</strong>s, inclusivepelas possibili<strong>da</strong>des que abremde se criar salvaguar<strong>da</strong>s contra osefeitos maléficos dos monopóliosprofissionais. Alguns autores argumentamque organizações tipicamenteprofissionais, como as de saúde,quando dirigi<strong>da</strong>s pelos própriosprofissionais tendem a desperdiçarrecursos por meio de uma contrataçãoexcessiva de trabalho de paresprofissionais (talvez por mecanismosconscientes e inconscientes de defesacorporativa). A ambigüi<strong>da</strong>de entre opapel de gerente e o de ofertante dosserviços profissionais levaria àcontratação, por essas organizações,de um mix não eficiente de força detrabalho caracterizado pelo aumento<strong>da</strong> utilização de serviços de profissionaisde maior qualificação e preços(os pares) em detrimento de umautilização mais intensa de pessoal dequalificação auxiliar. Essa tendênciapara a ineficiência na combinação douso de força de trabalho se verianaturalmente aumenta<strong>da</strong> nos casosem que as ativi<strong>da</strong>des gerenciaistambém são regulamenta<strong>da</strong>s comoprivativas ou exclusivas 7 . Um comportamentoeficiente <strong>da</strong> organizaçãorecomen<strong>da</strong>ria exatamente o contrário:que a gerência dos serviços sejacompartilha<strong>da</strong> por profissionais deáreas distintas. Por fim, uma outravisão sustenta que o problema decertas profissões regulamenta<strong>da</strong>s nãoreside na escassez de oferta, mas noexcesso de oferta de serviços. Esse,conforme vem sendo apontado emvários estudos, é o caso <strong>da</strong>s profissõesde saúde que, em ambientes laboraisde eleva<strong>da</strong> autonomia profissional ebaixa capaci<strong>da</strong>de de governançagerencial, costumam produzir serviçosmuito além do necessário,levando não apenas a problemas dedesperdício como a excessos iatrogênicos.Uma <strong>da</strong>s soluções ensaia<strong>da</strong>spara contornar essa situação foi odesenvolvimento, nos Estados Unidos,ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 70, dos modelosde atenção baseados na chama<strong>da</strong>competição (Health MaintenanceOrganizations – HMO’s). Os modelos<strong>da</strong> atenção gerencia<strong>da</strong> operam numambiente em que várias organizaçõesde provedores de serviços vendem nãoexatamente serviços, mas contratos demanutenção de saúde dos pacientessegurados. A troca <strong>da</strong> lógica <strong>da</strong> ven<strong>da</strong>de serviços pela de contratos demanutenção de saúde teria comoefeito introduzir outro tipo deracionali<strong>da</strong>de, a de corte maiseconômico-gerencial, funcionandocomo poder compensatório à lógica<strong>da</strong> dominância profissional, comtendência à minimização do problema<strong>da</strong> superprodução de procedimentose atos profissionais de baixa relaçãocusto-efetivi<strong>da</strong>de 8 .Ademais <strong>da</strong> cristalização de reservasde mercado e <strong>da</strong> relativa invulnerabili<strong>da</strong>deaos legítimos objetivosgerenciais de ampliação <strong>da</strong> coberturae acesso aos cui<strong>da</strong>dos, os modelos deautogoverno profissional vêm sendocriticados por outras razões, <strong>da</strong>s quaiscitaríamos três de maior visibili<strong>da</strong>de:a pequena “responsivi<strong>da</strong>de” aopúblico; o crescimento do sentimentode injustiça entre as ocupações,ocasionado pela exclusão e subordinaçãohierárquica <strong>da</strong>s ocupações eprofissões de menor status e oestabelecimento de entraves a políticasestatais para coordenação <strong>da</strong>sprofissões, tendo em vista, porexemplo, a implementação de Políticasde Saúde de corte universalista ede reconhecimento de competênciaslaborais. Esses três problemasdecorrem de uma dificul<strong>da</strong>deenfrenta<strong>da</strong> pelas instituições de7 Este é o caso do recente Projeto de Lei do AtoMédico, tramitando no Congresso Nacional, assimcomo <strong>da</strong> Lei de Exercício <strong>da</strong> Enfermagem vigenteno Brasil, que definem como privativas <strong>da</strong>srespectivas categorias, as ativi<strong>da</strong>des de gestão dotrabalho destas profissões.8 Para o conceito de dominância profissional verFreidson (1988); para uma avaliação maisdetalha<strong>da</strong> ver “Institutional Change and HealthcareOrganizations : From Professional Dominance toManaged Care” Richard W. Scott (Editor), para ocaso do Brasil (Merhy, 2002) .Formação35


○ ○ ○ ○autogoverno com autori<strong>da</strong>de governamentaldelega<strong>da</strong> (os nossos conselhosprofissionais) no que respeitaà interpretação de sua missão. Instituí<strong>da</strong>se socialmente legitima<strong>da</strong>scomo agentes do Estado para monitorara quali<strong>da</strong>de técnica e o processodisciplinar do exercício profissionalpara a proteção do público, essas instituições,muitas vezes, na vigência deconflitos de interesses, costumam agirde forma “auto-interessa<strong>da</strong>”, protegendoseus pares. Daí a pequena confiançaque elas inspiram ao público.Pode-se dizer que essa ambigüi<strong>da</strong>dena interpretação de seu papel levamuitas vezes a que dirigentes bemintencionados dessas instituiçõespleiteiem estratégias como a fusãocom as organizações sindicais e associaçõesprofissionais, com o intuitode fortalecer a profissão. Essa mesmaambigüi<strong>da</strong>de de papéis dificulta queinstituições adotem, de forma espontânea,estratégias de ação coletivavisando à cooperação interprofissional,o trabalho multidisciplinar e omútuo reconhecimento de competências.Daí, também, a necessi<strong>da</strong>de deinstâncias “supraprofissionais”, comautori<strong>da</strong>de de governo para coordenaras políticas de Estado para as profissões.Mas, ironicamente, na raiz <strong>da</strong>sresistências à implementação dessaspolíticas, encontra-se essa dificul<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s instituições de autogoverno profissionaisse interpretarem comoagentes do Estado.Novas experiências de regulamentação<strong>da</strong>s profissões na área <strong>da</strong> Saúde:buscando um novo paradigma para aregulamentação profissionalEm resposta a problemas comoestes, países como o Canadá e os EstadosUnidos e blocos regionais comoa Comuni<strong>da</strong>de Econômica, Européiavêm desenvolvendo, ao longo <strong>da</strong>súltimas déca<strong>da</strong>s, esforços parareformar seus sistemas de regulamentaçãopública <strong>da</strong>s profissões,perguntando-se essencialmente sobreduas questões:(i) Os modelos de autogoverno sãoos que servem melhor para a proteçãoe o bem-estar públicos?(ii)Qual a extensão e níveis deexclusivi<strong>da</strong>de devem ser conferidos àsreservas de mercado e monopóliosprofissionais?Resultados de diversas investigaçõesconduzi<strong>da</strong>s no Canadá – país quetomou a dianteira nestas reformas –entre o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 e início<strong>da</strong> 70, reconheceram as vantagens (emesmo uma certa inevitabili<strong>da</strong>de) <strong>da</strong>auto-regulação profissional, porémrecomen<strong>da</strong>ram que, ao mesmotempo, se emprestasse maior ênfaseno desenho de mecanismos institucionaisde prestação de contas aopúblico e de proteção dos direitos deindivíduos e grupos, especialmenteaqueles em maior desvantagem nosmercados (Casey, 2001) 9 .Não se pretende, aqui, realizar uminventário desses esforços e menosain<strong>da</strong> avaliar seus resultados. O objetivo,nesta última sessão, é o de discutiralgumas questões coloca<strong>da</strong>smais recentemente na arena <strong>da</strong> regulamentaçãoprofissional no Brasil, aexemplo dos Projetos de Lei do “AtoMédico” e do “Ato de Enfermagem”,à luz de elementos comuns retirados<strong>da</strong>s experiências mais significativas einfluentes ocorri<strong>da</strong>s nas Américas,que vêm se constituindo numa espéciede novo paradigma de regulamentaçãoprofissional, forjado especialmentea partir <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde 10 .9 Um dos relatórios pioneiros sobre o tema, reportaresultados de diversas investigações conduzi<strong>da</strong>s noCanadá entre o final <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 60 e início <strong>da</strong>70, foi o Relatório Mc Ruer, Toronto, 1968-1971.10 O argumento fun<strong>da</strong>menta-se especialmente nosresultados de um estudo sobre regulamentaçãoprofissional em países <strong>da</strong> América Latina, EUA eCanadá, realizado entre 1997 e 1999, peloPrograma de Recursos Humanos – OrganizaciónPanamericana de la Salud – OPS/OMS,Washington, DC sob a coordenação de DanielPurcallas e Sábado Girardi. O estudo contoucom a participação de pesquisadores do México,Colômbia e Chile, além do Brasil. As informaçõessobre o Canadá e os Estados Unidos foram obti<strong>da</strong>spor meio de entrevistas diretas e análise depublicações. Foram analisa<strong>da</strong>s as experiênciaspioneiras de Ontário e Québec, e a experiência<strong>da</strong> Pew Health Professions Commission, cujostrabalhos, iniciados em 1989, tratamessencialmente de assuntos concernentes àregulamentação de profissões de saúde nos EstadosUnidos. Diferentemente do caso canadense, emque as iniciativas são governamentais, no casoamericano, a comissão é constituí<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong>socie<strong>da</strong>de civil.36Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○De modo geral, esses movimentosde reforma <strong>da</strong> regulamentação <strong>da</strong>sprofissões de saúde não forampuxados nem de forma isola<strong>da</strong>, nempor iniciativas <strong>da</strong>s próprias profissões.Pelo contrário, encontrando inicialmenteoposição <strong>da</strong>s profissões estabeleci<strong>da</strong>s(que ao longo do processo seacomo<strong>da</strong>ram), eles se inscreveramdentro de contextos de reformas maisamplos, a exemplo, no Canadá, dosmovimentos de reformas administrativase dos sistemas de seguri<strong>da</strong>desocial nos anos 70 e 80, e maisrecentemente, a partir dos anos 90,<strong>da</strong>s reformas setoriais <strong>da</strong> saúde; e nocaso dos Estados Unidos, alimentadospela dinâmica de crise permanente epelas tentativas de reforma do sistemade atenção à saúde 11 .No caso canadense, as iniciativaspartiram do governo <strong>da</strong>s províncias eresultaram efetivamente em profun<strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças na legislação e estruturasde regulação profissional em Ontário,Alberta, British Colúmbia e, maisrecentemente, em Québec. NosEstados Unidos, a questão <strong>da</strong> reformaprofissional foi coloca<strong>da</strong> na agen<strong>da</strong>pública, em escala nacional, a partirdos trabalhos de uma comissãoconstituí<strong>da</strong> no âmbito <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>decivil (a Comissão de Profissões deSaúde <strong>da</strong> Fun<strong>da</strong>ção Pew), sendo asrecomen<strong>da</strong>ções de caráter exclusivamentepersuasivo. Posteriormente,o estado <strong>da</strong> Virgínia, a partir de iniciativaoficial <strong>da</strong> assembléia legislativa,constituiu uma comissão paratratar <strong>da</strong> questão.Apesar <strong>da</strong>s especifici<strong>da</strong>des de ca<strong>da</strong>caso, essas experiências trazem decomum o fato de avançarem nadireção de um novo paradigma paraa regulamentação <strong>da</strong>s profissões,especialmente na área <strong>da</strong> Saúde. Oque se busca, sobretudo, com essasexperiências de reforma, é construirum modelo baseado na idéia de que aproteção do público contra efeitosprejudiciais <strong>da</strong> prática <strong>da</strong>s profissõesé o princípio inarredável <strong>da</strong> regulamentaçãoprofissional. Sob esseprisma, os sistemas devem exibir amaior flexibili<strong>da</strong>de possível, tendoem vista atingir objetivos mais geraisdos sistemas de saúde, tais como: auniversali<strong>da</strong>de e eqüi<strong>da</strong>de de acesso,maior eficiência econômica, usopleno <strong>da</strong>s potenciali<strong>da</strong>des e competênciasdos recursos humanos, maiorcooperação entre as profissões,capaci<strong>da</strong>de para promover e ajustarseàs inovações tecnológicas, desenvolvernovas mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong>des de tratamentoe ampliar o escopo de escolhasde alternativas terapêuticas seguraspara os usuários. Isso num ambienteem que a proteção e o bem-estar dopúblico devem ser constantementeaferidos e assegurados. Duas dinâmicasaparentemente contraditórias,na antiga regulação, passam a severificar de forma concomitante coma introdução desses processos: ummovimento de redução até aeliminação de monopólios profissionaisdesnecessários sobre determinadostipos de ativi<strong>da</strong>des e aregulamentação de ativi<strong>da</strong>des potencialmente<strong>da</strong>nosas à população, atéentão desregula<strong>da</strong>s, inclusive peloveto <strong>da</strong>s profissões dominantes.Esses processos de reformaprofissional se iniciaram pelaabertura de três grandes capítulostemáticos:· a revisão do marco legal deregulamentação profissional;· a revisão <strong>da</strong>s estruturas institucionais<strong>da</strong> regulação profissional;· a revisão dos escopos de prática(ou campos de prática) legalmenteatribuídos às profissões.Tendo em vista o objetivo doartigo, merece consideração oterceiro ponto, em que se comentaapenas os dois primeiros temas. Osprocessos de revisão <strong>da</strong> legislaçãoprofissional incluem não apenas aanálise <strong>da</strong> legislação concernente aca<strong>da</strong> uma <strong>da</strong>s profissões regulamenta<strong>da</strong>sdo setor, como a análise <strong>da</strong>sdeman<strong>da</strong>s de regulamentação deprofissões ou grupos ocupacionaisemergentes. O objetivo desse procedimentoé o de propiciar igual<strong>da</strong>de11Cf. Girardi (1999).Formação37


○ ○ ○ ○de tratamento aos pleitos, reconhecendoas diferentes competências,dentro do princípio mais global <strong>da</strong>proteção do público contra <strong>da</strong>nosprovenientes do exercício <strong>da</strong>sativi<strong>da</strong>des profissionais. Como resultado,algumas ocupações e práticasterapêuticas complementares ealternativas ganharam regulamentação,enquanto que regulamentaçõesanacrônicas se viramflexibiliza<strong>da</strong>s.No que concerne às estruturasinstitucionais de regulação pública,um resultado comum tem sido ofortalecimento dos conselhos profissionaisno exercício de seusman<strong>da</strong>tos de proteção ao público.Buscou-se aumentar a capaci<strong>da</strong>de dosconselhos profissionais no queconcerne à fiscalização e controle <strong>da</strong>conduta técnica e ética dos seusmembros, à formação continua<strong>da</strong> decompetências, à agilização <strong>da</strong>condução de processos de erroprofissional etc., inclusive por meiodo aumento de dotações orçamentáriase processos formativos específicosde seus quadros para tal fim.Ao lado desse objetivo, foraminstituídos outros tipos de agentes quecompartilham com os conselhos, pormeio de man<strong>da</strong>tos específicos –representação do público e assessoriaao governo, gestão governamental,representação judicial etc. – a tarefade promover uma regulamentação <strong>da</strong>sprofissões de interesse público. Aidéia subjacente ao processo é a deconciliar a existência <strong>da</strong>s instituiçõesde autogoverno <strong>da</strong>s profissões nointerior de um mix regulatório queopera constantemente balanços entreinteresses conflitantes dos diversosatores que atuam nesse campo:profissões regulamenta<strong>da</strong>s, grupos quedeman<strong>da</strong>m regulação, usuários egestores de serviços. O princípio dointeresse público figura como umaespécie “fiel” <strong>da</strong> balança.Com relação ao tema <strong>da</strong> revisãodos campos de prática, os processosde reforma, pela maneira como vêmsendo conduzidos, acabaram porintroduzir alguns conceitos novos quemerecem uma discussão um poucomais detalha<strong>da</strong> noção de atoscontrolados, autorizados ou reservados– usados mais ou menos indistintamente12 ; a noção de proteção oureserva de uso de título; e a noção deatos delegados e atos supervisionados.A noção de escopo de práticaestabelece os parâmetros <strong>da</strong> profissão.O campo de prática define, em termosamplos, o que a profissão faz e comoela faz. O novo paradigma <strong>da</strong>regulação profissional começa porreconhecer que na regulação antigaca<strong>da</strong> profissão regulamenta<strong>da</strong> possuíaum campo exclusivo de prática, queproíbe outras profissões de praticaremno seu interior, a não ser que sobpermissão legal. No interior de seucampo de prática, ca<strong>da</strong> profissão tematos que lhe são reservados, por lei,de forma exclusiva (ou privativa) –que é de sua proprie<strong>da</strong>de – e atoscompartilhados.Conforme bem define Miran<strong>da</strong> SáJr. (2001):“Os atos profissionais podemser atribuídos de maneira privativaaos agentes de uma profissão, casoem que só podem ser executadospor um agente profissionallegalmente habilitado <strong>da</strong>quelacategoria profissional. Ou podemser típicos de uma profissão oumesmo específicos dela, massendo compartilhados com agentesde outra categoria profissional (oudiversas delas)...”O novo paradigma <strong>da</strong> regulamentaçãoprofissional parte <strong>da</strong> definiçãode escopos de prática não-exclusivose atos reservados (ou mais genericamenteain<strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>des reserva<strong>da</strong>s).Em nenhum dos casos esses atos são,a priori, entendidos como privativosou exclusivos a uma determina<strong>da</strong>profissão, mesmo que por lei, seuexercício seja a ela autorizado e a mais12 Na reforma de Québec, a mais recente, a leique modifica o Código <strong>da</strong>s Profissões, sanciona<strong>da</strong>em junho de 2002, substitui o conceito de ato –utilizado em leis precedentes <strong>da</strong>s outras províncias,pelo conceito de ativi<strong>da</strong>de, por considerar esteúltimo um conceito mais amplo.38Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○nenhuma outra. Escopos de práticasobrepostos (overlapping scopes ofpractice) não são apenas reconhecidos,mas também encorajados.A definição dos atos reservados(controlados ou autorizados) remetea tarefas, serviços e procedimentosque envolvem grau significativo derisco de <strong>da</strong>no aos pacientes. Estesestão restritos apenas aos membros<strong>da</strong>s profissões autoriza<strong>da</strong>s, mas nãoconstituem base de exclusivi<strong>da</strong>de oumonopólio de uma profissão isola<strong>da</strong>.De qualquer forma, nenhuma pessoanão pertencente às profissõesautoriza<strong>da</strong>s por lei pode exercer atosautorizados sem incorrer em práticailegal 13 .Na definição de um ato reservado,três grupos de fatores são avaliadosna consideração do risco efetivo de<strong>da</strong>no:· a probabili<strong>da</strong>de de suaocorrência;· o significado de suas conseqüênciaspara as vítimas individuais;· o número de pessoas potencialmenteameaça<strong>da</strong>s.Na legislação de Ontário (quevigora desde 1994), estabeleceram-se13 atos controlados (por exemplo:comunicação de diagnósticos, execuçãode procedimento invasivo soba derme, redução de fraturas,administração de substâncias porinjeção e de fármacos sob prescriçãoregulamenta<strong>da</strong>; realização de testesalergênicos, aplicação de prótesesdentais e artefatos visuais e auditivoscorrecionais, administração de formasde energia, administração de trabalhode parto, dentre outras). Ca<strong>da</strong>profissão na saúde, autoriza<strong>da</strong> sob leiespecífica, elabora<strong>da</strong> pelo seuconselho, terá autorização para exercerum ou mais dos 13 atos controlados,mas nenhum desses atosconstitui, a priori, domínio exclusivoou privativo de uma profissão 14 .A noção de “proteção de título”ou mais especificamente o estabelecimentode títulos de uso reservado,que apenas membros <strong>da</strong> profissão sãopermitidos ostentar, tem o objetivo deassegurar ao público que o portadordo título profissional tem os mínimosníveis de qualificação exigidos pelaprofissão em questão e que é fiscalizadopelo conselho <strong>da</strong> sua profissão.Ao lado dessas medi<strong>da</strong>s deproteção do público, as noções de atosdelegados e atos supervisionadoscomplementam o quadro dessasinovações e têm o sentido explícitode promover o reconhecimento <strong>da</strong>scompetências laborais efetivamentedemonstra<strong>da</strong>s e certifica<strong>da</strong>s, bemcomo de propiciar o pleno uso dosrecursos humanos. Situações especiaiscomo a escassez de recursos humanosem determinas áreas geográficas eterritoriais, situações emergenciais,especifici<strong>da</strong>des de hábitos culturais oumesmo necessi<strong>da</strong>des de ordemgerencial coloca<strong>da</strong>s por projetosinovadores em determina<strong>da</strong>s áreasassistenciais (a exemplo <strong>da</strong> área deSaúde Mental), justificam a delegaçãode atos profissionais autorizados parauma profissão a membros de outrasprofissões e pessoal auxiliar. Em tese,a delegação supõe que as tarefasdelega<strong>da</strong>s possam ser realiza<strong>da</strong>s sema presença do profissional que asdelegou. O ato supervisionado, porseu turno, implica num controle maisintenso, podendo exigir a presençafísica do supervisor. Os atos delegadossob supervisão são acompanhadosde instruções escritas sobreo modo de prática do ato seja sobprotocolo geral seja por meio deinstruções específicas sobre casos.Em geral, os processos de delegaçãoenvolvem de forma proativa aparticipação dos conselhos profissionaisque regulam a profissão quedelega o ato, sob circunstâncias13 Alguns críticos do novo sistema consideram queo resultado prático é uma realocação domonopólio desde uma profissão específica parauma espécie de monopólio setorial de umcondomínio profissional. Essa crítica pode serdeduzi<strong>da</strong> <strong>da</strong> entrevista com representantes doConselho de Medicina de Ontário (Girardi,1999).14 Os médicos são autorizados para exercerem 12dos atos controlados e cinco profissões regula<strong>da</strong>snão têm autorização para executar nenhum dos13 atos.Formação39


○ ○ ○ ○especiais, inclusive na elaboração dosprotocolos de prática. Nesse sentido,a Lei de Profissões de Saúde, recentementesanciona<strong>da</strong> na província deQuébec, estabelece de forma explícitaas disposições que permitem a nãoprofissionais exercerem certasativi<strong>da</strong>des, sob circunstâncias etarefas bem delimita<strong>da</strong>s, no sentidode responder às necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>população. Da mesma forma, a leiestabelece um quadro que autoriza aprofissionais não-médicos, nota<strong>da</strong>menteenfermeiros, a exerceremcertas ativi<strong>da</strong>des médicas, desde quepassíveis de verificação, no seuexercício, pelo conselho de medicina.Uma exigência crescentementeaponta<strong>da</strong> para o exercício de ativi<strong>da</strong>desdelega<strong>da</strong>s tem sido a de queo profissional em questão tenha suacompetência certifica<strong>da</strong> por órgãosoficialmente reconhecidos dossistemas de certificação de competênciaslaborais.No Brasil, dois projetos deregulamentação profissional na área<strong>da</strong> Saúde, trazem para a esferapública, com renovado vigor, adiscussão acerca de campos de práticae atos privativos ou exclusivos.Representam novi<strong>da</strong>de, no cenário <strong>da</strong>regulamentação profissional <strong>da</strong> área,na medi<strong>da</strong> em que buscam definiçõessobre o que constitui ato profissionalespecífico e ato privativo, num contextomarcado pelo recrudescimento<strong>da</strong>s disputas por jurisdição profissionaismonopólicas no mercado detrabalho. Trata-se do Projeto de Leido “Ato Médico” que deu entra<strong>da</strong> noSenado Federal em fevereiro de 2002,e do Projeto de Lei que define o “Atode Enfermagem”, que deu entra<strong>da</strong> naCâmara dos Deputados em julho de2002. Ambos os projetos encontramsetramitando no legislativo.O primeiro projeto estabelece oconceito de ato médico privativo ouexclusivo ao lado do ato médicocompartilhado com outras profissões.Amparando-se nos conceitos deprevenção primária, secundária eterciária <strong>da</strong> Medicina Preventiva 15 ,estabelece-se basicamente que os atosde prevenção secundária e os demaisimplicam em procedimentos diagnósticosde enfermi<strong>da</strong>des, e os deindicação terapêutica constituem atosprivativos dos médicos. Fica abertapara as outras profissões <strong>da</strong> área <strong>da</strong>Saúde a porta <strong>da</strong> prevenção primáriae secundária sem diagnóstico outerapêutica. Exceção é feita, de formaexplícita, para os casos <strong>da</strong> odontologiae de práticas de psicoterapiaque apesar de praticarem atostipicamente médicos (cirurgiasbucomaxilares e psicoterapia), osfazem de forma compartilha<strong>da</strong>. Alémdisso, expande-se o campo dos atosprivativos <strong>da</strong> profissão médica àsativi<strong>da</strong>des de gestão, avaliação eensino <strong>da</strong>queles procedimentosprivativos dos médicos.Por seu turno, o projeto que defineo Ato de Enfermagem confere aoConselho Federal de Enfermagem aatribuição para definir a natureza e aextensão dos atos dessa profissão,assim como determinar as ações ecompetências exclusivas destaprofissão. É preciso notar que já naLei de Exercício <strong>da</strong> Enfermagem, de1986 (em vigor), definia-se comoativi<strong>da</strong>des privativas <strong>da</strong> profissão,dentre outros: a direção dos órgãosde enfermagem <strong>da</strong>s instituições desaúde, a chefia <strong>da</strong>s uni<strong>da</strong>des deenfermagem, o planejamento e aavaliação dos serviços de assistênciaà enfermagem, entre outros atosprivativos; ao lado de atos compartilhadoscom outras profissões desaúde, a exemplo <strong>da</strong> execução detrabalho de parto sem distocia, bemcomo identificação de distociasobstétricas e toma<strong>da</strong> de providênciasnecessárias até a chega<strong>da</strong> doprofissional de medicina.15 A prevenção primária inclui ativi<strong>da</strong>des toma<strong>da</strong>spara reduzir o risco de ocorrência de enfermi<strong>da</strong>des,a exemplo <strong>da</strong> imunização, desenvolvimento deativi<strong>da</strong>des físicas e antiobesi<strong>da</strong>de preventivas dedoença cardiovasculares, campanhas antifumo,preventivas de DST/aids etc. A prevenção secundáriaabarca diagnóstico inicial e tratamento imediatode doenças para reduzir ou alterar seu curso eprevenir complicações, inclusive para terceiros; aprevenção terciária visa à limitação dos <strong>da</strong>nosproduzidos por uma doença ou deficiência instala<strong>da</strong>e à promoção de reabilitação de doenças crônicas.40Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Não é o propósito desse artigoadentrar os méritos intrínsecos deca<strong>da</strong> um desses projetos. É certo queambos representam formas legítimasde enfrentamento de dificul<strong>da</strong>desdessas profissões nos mercados detrabalho. A própria tradição corporativa<strong>da</strong> regulamentação profissionalem nosso País os legitima. A recentelei de regulamentação <strong>da</strong> advocacia,de 1994, confere à profissão atosprivativos, de exercício exclusivo.Assim também acontece com muitasoutras profissões. Por outro lado,entre as intenções do projeto –especificamente no caso <strong>da</strong> medicina– figura a legítima preocupação como crescimento, talvez inusitado entrenós, <strong>da</strong>s práticas clínicas desregula<strong>da</strong>s,realiza<strong>da</strong>s por médicos eespecialmente por não-médicos, comresultados extremamente lesivos àsaúde <strong>da</strong> população, conforme se sabe.No sentido de contribuir para odebate, duas críticas poderiam serfeitas. Em primeiro lugar, taisprojetos situam-se na contramão dodesenvolvimento do setor <strong>da</strong> Saúdeem nosso País. Eles chegam, pode-sedizer, num momento de expansãopotencial de escopo de prática deprofissões não-médicas. Uma série defatores, que não cabe aqui especificar,empurra para uma expansão doescopo de prática de profissionaisnão-médicos em direções clínicas,envolvendo em várias dimensões,aspectos diagnósticos e terapêuticosantes reservados (por tradição ouconvenção e não por lei ou normajurídica escrita) aos médicos. É o caso<strong>da</strong>s terapias e práticas clínicasalternativas, é também o <strong>da</strong>s novaspráticas de saúde mental e <strong>da</strong>prevenção de epidemias como a <strong>da</strong>aids, entre outros. Por outro lado, ébastante razoável supor que emlocali<strong>da</strong>des desprovi<strong>da</strong>s de médicosou em áreas de atuação que apresentamlacunas assistenciais, até pelastendências de especialização eabstração crescente <strong>da</strong>s práticas profissionais,as autori<strong>da</strong>des sanitárias doPaís preten<strong>da</strong>m expandir o escopo deprática de outros profissionais, e umamaneira segura de fazer tal coisa é pormeio do ato supervisionado oudelegado sob ordem e prescriçãodireta do médico (em casos individuais)ou sob a vigência de protocolosclínicos, a exemplo do que se observaem outros países, conforme visto.Com efeito, um conjunto de açõesgovernamentais está interferindo noescopo <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des profissionaispor meio do reordenamento doprocesso de trabalho, como aquelesdesenvolvidos pelas equipes de saúde<strong>da</strong> família, ao induzir o desenvolvimentode novas competências,volta<strong>da</strong>s ao planejamento, aodesenvolvimento de ações intersetoriais,à atenção humaniza<strong>da</strong> e aocompartilhamento destas ativi<strong>da</strong>desno trabalho em equipe, gerandotambém áreas cinzentas de atuação enovas possibili<strong>da</strong>des de recombinaçãodestes trabalhos. Esse mesmo processose reproduz em ativi<strong>da</strong>des deatendimento à aids, em Saúde Mentaletc. O desenvolvimento de protocolosde prática também interfere nosescopos e nos limites de atuação,assim como as portarias que regulamentamo funcionamento dosserviços de saúde e definem osprofissionais habilitados para nelestrabalharem. Por outro lado, aincorporação <strong>da</strong>s metodologias deidentificação e construção decompetências dirigi<strong>da</strong>s a processoseducativos, aplica<strong>da</strong> em profundi<strong>da</strong>depelo PROFAE, permite criar umimportante instrumento de mediaçãodos conflitos profissionais.Em segundo lugar, os projetos deatribuição de atos exclusivos aprofissões situam-se na contramão <strong>da</strong>sreformas <strong>da</strong> regulação profissionalque têm servido de paradigmas pelainovação e respeito à ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia ereconhecimento <strong>da</strong>s diferençasinterprofissionais.Por outro lado, do ponto de vistaprocedimental, também estamos nacontramão. A maior parte dosprocessos de reforma profissional,fun<strong>da</strong>mentados na proteção e bemestardo público, não tem secaracterizado por reformas pontuaisbasea<strong>da</strong>s nessa ou naquela profissãoFormação41


○ ○ ○ ○– geralmente quando é assim,ganham os segmentos <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de,com maior poder e capaci<strong>da</strong>delobística – e isso em detrimento <strong>da</strong>população e mesmo <strong>da</strong>s profissões.Na ver<strong>da</strong>de, um processo de reformadesse tipo em nosso País, apropriadoà reali<strong>da</strong>de do século que se inicia,além de envolver uma profun<strong>da</strong>revisão <strong>da</strong> legislação e <strong>da</strong>s deman<strong>da</strong>sde regulamentação profissional, dosescopos de prática de ca<strong>da</strong> categoriae <strong>da</strong>s estruturas e instituições deregulação pública <strong>da</strong>s profissões,deve se pautar pela publici<strong>da</strong>de dosdebates e pela participação do conjuntodos atores sociais e econômicosinteressados. E esse é um processoque, nos países de democraciainclusiva, envolve, necessariamente,coordenação de governo. A questão<strong>da</strong> regulamentação profissional éuma questão de política pública ecomo tal deve ser enfrenta<strong>da</strong>.Considerações finaisA reforma <strong>da</strong> regulação profissionaldeve se pautar por diretrizes quevisem reforçar os aspectos positivos dosistema de auto-regulação vigente, emespecial seu potencial para garantir aquali<strong>da</strong>de dos padrões técnicos e éticosdo exercício profissional e deproteção do público, contudo deveesforçar-se por criar mecanismos paracompensar suas falhas.Para tanto, um formato de regulaçãoprofissional e ocupacional a serestimulado, baseado no princípiogeral <strong>da</strong> utili<strong>da</strong>de pública <strong>da</strong> regulação,deve contemplar, na prática, obalanço criterioso entre objetivospragmáticos <strong>da</strong> política do governopara o setor e do fortalecimento <strong>da</strong>sinstituições básicas de uma socie<strong>da</strong>dejusta, dentre os quais, vale citar:· proteção do público contra aação de profissionais incompetentes,provedores desqualificados einescrupulosos;· promoção <strong>da</strong> eficiência naprovisão dos serviços de saúde;· garantia <strong>da</strong> acessibili<strong>da</strong>de aosserviços de saúde;· garantia <strong>da</strong> eqüi<strong>da</strong>de na distribuiçãodos serviços de saúde;· eqüi<strong>da</strong>de no tratamento <strong>da</strong>sprofissões e ocupações;· reconhecimento <strong>da</strong>s competênciaslaborais;· promoção de capaci<strong>da</strong>de deEstado para a coordenação <strong>da</strong> políticapara as profissões.BibliografiaCASEY, J. T. The Regulation ofProfessions in Canadá. Toronto:Carswel, 2001.EVANS, R. G. Professions and theproduction function: can competitivepolice improve efficiency in the licensedprofessions. In: ROTTENBERG, S.(Ed.). Occupational Licensure andRegulation. American Enterprise Institutefor Public Policy Research, 1980.FISHKIN, J. Tyranny and Legitimacy:A Critique of Political Theories.Baltimore: Johns Hopkins UniversityPress, 1979.FREIDSON, E. Professional powers:a study of the institutionalization offormal knowledge. Chicago: TheUniversity of Chicago Press, 1988.GIRARDI, S. N. et al. Sinais deMercado e Regulação Institucional doTrabalho em Saúde no Brasil dos anos90. Brasília: CGDRH; Ministério <strong>da</strong>Saúde, 1995.GIRARDI, S. N. A regulaçãoinstitucional <strong>da</strong> força de trabalho emsaúde nos Estados Unidos e Canadá:políticas de transição. Relatório dePesquisa. Washington, DC: PanamericanHealth Organization/WHO, 1999.______. “Los dilemas de la Reformade la Regulación del Trabajo y de lasProfesiones de Salud en la Reformadel Estado”, Cuadernos MédicoSociales, n. 77, abr. 2000, p. 45-58.42Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○HABERMAS, J. The Theory ofCommunicative Action: Lifeworl<strong>da</strong>nd System: a critique of functionalistreason, Boston: Beacon Press, 1987.HESS, D. Medicina integra<strong>da</strong> equestões de universalismo. In: GOES,L. G. et al. (Orgs.). O Brasil não épara principiantes; carnavais,malandros e heróis, 20 anos depois.Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2000.MERHY, E. E. Saúde: a cartografia dotrabalho vivo. São Paulo: Hucitec,2002.MIRANDA SÁ JR, L. S. Exposiçãode Motivos, Anexo à Resolução CFMN.º 1.627/2001, 2001.MITNICK, Barry M. (1989). LaEconomía Política de la Regulación.México: Fondo de CulturaEconómica. 505 p.ONTARIO. Ministry of Health (s.d.).Striking a New Balance: a blueprintfor the Regulation of Ontario’s HealthProfessions: Recomen<strong>da</strong>tion of theHealth Professions LegislationReview. Ontario, p. 11.PEW HEALTH PROFESSIONSCOMMISSION. Critical Challenges:Revitalizing the Health Professionsfor the Twenty-First Century. TheThird Report of The Pew HealthProfession Commission, ,1995.SALTMAN, R. B.; BUSSE, R. Balancingregulation and entrepreneuralism inEurope´s health secto: theory andpractice in Regulating EntrepeneurialBehaviour. In: SALTMAN, R. B.;MOSSIALOS, E. E.; BUSSE, R. (Eds.).European Health Care Systems. [s. l.]:Open University Press, 2002.SAMUELSON, P.; NORDHAUS, W.Economics. New York: McGraw-Hill,1992.VIANNA, L. W. et al. A judicialização<strong>da</strong> política e <strong>da</strong>s relaçõessociais no Brasil. Rio de Janeiro:Revan, 1999.WILLIAMSON, Oliver. TheMechanisms of Governance. NewYork: Oxford University Press, 1996.Formação43


○ ○ ○ ○Relato de ExperiênciaEducação profissional em Saúde noBrasil: a proposta <strong>da</strong>s EscolasTécnicas de Saúde do SistemaÚnico de SaúdeProfessional education and health inBrazil: the proposal of technical heathschools of Unified Health SystemRita Elisabeth <strong>da</strong> Rocha SórioGerente Geral do PROFAE – Ministério <strong>da</strong> SaúdeResumo: Este artigo trata <strong>da</strong> história dos Centros Formadores de Recursos Humanospara a Saúde ou <strong>da</strong>s Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde (ETSUS), criados emantidos pela rede pública de saúde na déca<strong>da</strong> de 80. Sua concepção foi desenha<strong>da</strong> apartir do reconhecimento <strong>da</strong>s dificul<strong>da</strong>des enfrenta<strong>da</strong>s pelos profissionais dos serviçosde saúde que, embora atuassem na assistência à população e “sofressem” inúmerostreinamentos para o desempenho de ativi<strong>da</strong>des no trabalho, não dispunham decondições materiais para participar de um processo educativo que lhes propiciassedigni<strong>da</strong>de e identi<strong>da</strong>de profissional, conseqüentemente respeito e valorização. Assimdesde seu início, as ETSUS têm como princípio a inclusão social de milhares detrabalhadores <strong>da</strong> saúde.Hoje, mantendo sua concepção e estrutura direciona<strong>da</strong>s para organizar e oferecerserviços educativos voltados para as necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área de Saúde, essa rede de escolasé considera<strong>da</strong> a alternativa para a oferta de educação profissional para o SistemaÚnico de Saúde (SUS). Essa é a razão principal para que o Ministério <strong>da</strong> Saúde (MS),por meio do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores <strong>da</strong> área de Enfermagem(PROFAE), esteja investindo amplamente na consoli<strong>da</strong>ção e expansão de seu modelo.Sua abrangência não delimita espaços; sua metodologia não discrimina pessoas; suapotenciali<strong>da</strong>de supera as barreiras de uma escola tradicional. Assim são as ETSUS.Palavras-chave: Educação Profissional; Escola Técnica do SUS; Inclusão Social.Abstract: This paper is about the history of the Centers for Human Resources Trainingin Health, or the Escolas Técnicas do Sistema Único de Saúde – ETSUS (Brazilian UnifiedHealth System’s Technical Schools), which were established and maintained by thepublic health network in the 1980’s. They were devised based on the recognition ofthe difficulties faced by health care professionals who – despite providing care topopulation and “suffering” countless training sessions for performing their work duties– did not have enough material conditions for participating in an educational processthat should provide them with dignity and professional identity and, therefore, respectand valuation. Hence, since their very beginning, the ETSUS’ main principle is thesocial inclusion for thousands of health workers.Currently, holding its concept and structure addressed to organizing and providingeducational services aimed at the Health field needs, that network of schools isconsidered as the alternative for providing professional education to the Sistema Únicode Saúde – SUS (Unified Health System). That is the main reason why the Ministry ofHealth, through the Project Profissionalização dos Trabalhadores <strong>da</strong> Área deEnfermagem – PROFAE (Professional Training for the Workers in the Field of Nursing),is largely investing on the consoli<strong>da</strong>tion and expansion of its model. Its scope is notrestricted to spaces; its methodology holds no discrimination against people; itspotentiality overcomes the barriers of a traditional school. That is how ETSUS are.Key Words: Professional Education, Brazilian Unified Health System’s Technical Schools,Social Inclusion.45


○ ○ ○ ○IntroduçãoPensar a questão de recursoshumanos para o setor Saúde impõe,por um lado, caminhar rumo aopreceito constitucional 1 que asseguraa saúde como direito do ci<strong>da</strong>dão e,por outro, refletir sobre o princípionormativo que identifica o setor comoresponsável pelo “ordenamento <strong>da</strong>formação de recursos humanos” 2 .Esse ordenamento tem várias dimensõesque vão desde a regulação até aformação e a gestão do pessoal queatua na área <strong>da</strong> Saúde.Ao longo do tempo, milhares detrabalhadores brasileiros não tiveramacesso à educação, tanto do ponto devista geral quanto do profissional.Sem possibili<strong>da</strong>des de concluir seusestudos, ingressaram no mercado detrabalho em saúde como forma desobrevivência. Dessa forma, ostrabalhadores que atuaram e vêmatuando no processo produtivo emsaúde, sem formação profissional equalificação específicas para asfunções que exercem, não vislumbramuma inserção digna nos planosde cargos e salários de suas instituições,não alimentam expectativasde crescimento funcional e muitomenos obtêm registro profissionalfornecido pelos órgãos de classe.Como resultado disso, esses trabalhadorestêm sido marginalizados etido baixo reconhecimento profissionale social.Paralelo a isso, a luta pela ampliaçãodo acesso aos serviços públicos desaúde, legitima<strong>da</strong> pelos movimentossociais na déca<strong>da</strong> de 70, confluiu parao estabelecimento de estratégias nosetor que garantissem extensão <strong>da</strong>cobertura com maior quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong>sações. No entanto, o diagnóstico sobreos problemas qualitativos e quantitativosde recursos humanos paraatuar na saúde, já era conhecido edebatido desde os anos 60.Ou seja, em última instância, tratasede um problema antigo, cujassoluções ain<strong>da</strong> se impõem comodesafios nos dias atuais. A exclusãodo processo educativo, a deficiência<strong>da</strong>s escolas profissionais para atenderàs necessi<strong>da</strong>des de preparação depessoal para o setor, na quanti<strong>da</strong>de equali<strong>da</strong>de deseja<strong>da</strong>s, a falta de umapolítica e de mecanismos que possibilitassema formação em saúde, o perfilsocial heterogêneo dos trabalhadoresjá empregados, as qualificações incipientesfeitas por meio de treinamentospontuais realizados emserviço e a dispersão geográfica emque se encontravam motivaram odesenvolvimento de um projeto socialcom o objetivo de <strong>da</strong>r identi<strong>da</strong>deprofissional aos trabalhadores excluídos,de assegurar-lhes a oportuni<strong>da</strong>dede competição no mercado detrabalho e de reorganizar os serviçospara assegurar o acesso <strong>da</strong> populaçãoà assistência de quali<strong>da</strong>de.E por que a necessi<strong>da</strong>de de se criaruma escola profissional específicapara a saúde? A resposta a essaquestão implica considerar duasvariáveis: em primeiro lugar, o ensinotécnico na área <strong>da</strong> Saúde sempre foivisto como a oferta de cursos, semespecifici<strong>da</strong>des, podendo qualquerescola oferecê-lo, independente dequalquer condição a priori. Emsegundo lugar, o setor Saúde possuiuma cultura instituí<strong>da</strong> e grandeacumulação na área de capacitaçãoemergencial, um peso tecnológicorelevante e principalmente uma forçade trabalho expressiva, em 1999estima<strong>da</strong> em 2,5 milhões de pessoas 3emprega<strong>da</strong>s em ativi<strong>da</strong>des nessa área,<strong>da</strong>s quais aproxima<strong>da</strong>mente 700 milsão profissionais que trabalham nonível técnico e auxiliar, no cui<strong>da</strong>dodireto às pessoas.Essas condições justificaram acriação de espaços educativos quepermitissem sistematizar as experiênciasacumula<strong>da</strong>s ao longo dosanos e avançar na conformação dealternativas pe<strong>da</strong>gógicas adequa<strong>da</strong>s àscaracterísticas do setor e às deman<strong>da</strong>sorigina<strong>da</strong>s <strong>da</strong>s políticas de saúde.1 Constituição Federal, artigo 196.2 Constituição Federal, artigo 200 e inciso III.3 Relação Anual de Informações Sociais – RAIS eCa<strong>da</strong>stro Geral de Empregados e Desempregados– CAGED (1999).Formação47


○ ○ ○ ○As Escolas Técnicas do SUS e a Políticade Saúde no PaísNas últimas déca<strong>da</strong>s, o setor Saúdecresce em complexi<strong>da</strong>de face aoscompromissos assumidos pelasesferas governamentais, com vistas aatender as deman<strong>da</strong>s crescentes nocampo <strong>da</strong> atenção à saúde, deman<strong>da</strong>sque mais tarde se tornariam princípioscaros à Constituição, promulga<strong>da</strong>em 1988, e fun<strong>da</strong>mentaispara consoli<strong>da</strong>r as Políticas de Saúdehoje vigentes.Por um lado, a reordenação <strong>da</strong>spráticas de saúde e a regionalização<strong>da</strong> assistência apontam para anecessi<strong>da</strong>de de qualificação e formaçãode pessoal de nível básico etécnico para atuar tanto na atençãobásica quanto na média e altacomplexi<strong>da</strong>de, no apoio diagnóstico,vigilância em saúde, informação,desenvolvimento e gerência deprocessos e funções intermediárias.Por outro lado, os gestores, impelidospela necessi<strong>da</strong>de de responder pelamelhoria <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> assistênciapresta<strong>da</strong> e <strong>da</strong>r respostas efetivas àpopulação, buscam diferentes estratégiaspara compor seu quadro depessoal, com predomínio <strong>da</strong> contrataçãode pessoal com baixa qualificaçãoe sem experiência prévia. Porfim, a inserção desse grande contingentesem a qualificação específica sedá, em parte, pela limitação <strong>da</strong> ofertade pessoal qualificado, visto que osetor Educacional não conseguiaformar profissionais nesses níveis deensino, na quanti<strong>da</strong>de e quali<strong>da</strong>deexigi<strong>da</strong>s pelo setor Saúde.Mais de 30 anos se passaram e ocenário do ensino profissionalizante,principalmente para o setor Saúde,parece não ter se modificado de formasubstancial. Indicativos dessa afirmaçãose encontram nos resultados doCenso de Educação Profissionalrealizado pelo Ministério <strong>da</strong> Educação(MEC), por meio do InstitutoNacional de Estudos Pe<strong>da</strong>gógicos(INEP), no ano de 1999 4 .As informações decorrentes dos<strong>da</strong>dos ca<strong>da</strong>strais <strong>da</strong>s instituiçõespossibilitam a caracterização doperfil dos cursos ofertados por níveise áreas profissionais e sua dependênciaadministrativa, os professorese instrutores por grau de formação enível de atuação, e as matrículas econcluintes por sexo, faixa etária,nível e área profissional.Aqui, são relacionados os resultadosdo censo referentes ao objetodeste trabalho: instituições, cursos ematrículas na educação profissional:- <strong>da</strong>s 3.948 instituições de ensinoque oferecem educação profissionalem diferentes níveis e áreas, apenas5,2% (204 estabelecimentos) ofertamcursos na área <strong>da</strong> Saúde;- na área <strong>da</strong> Saúde, a maioria,61%, é instituição priva<strong>da</strong>;- a oferta de educação profissionalnos diferentes níveis e áreasconcentra-se na Região Sudeste, coma presença de 48% <strong>da</strong>s instituições;- as instituições que contribuempara a área <strong>da</strong> Saúde, nessa região,correspondem a 62%, ou seja, 126estabelecimentos.Essas informações nos parecembastante indicativas <strong>da</strong> baixa oferta deeducação profissional em saúde.Ain<strong>da</strong> sobre isso, vale a pena registrar,a partir <strong>da</strong> mesma fonte deinformações:- nos cursos de educação profissional,nas diferentes áreas e níveis,estão matriculados 2,8 milhões deestu<strong>da</strong>ntes, dos quais apenas 121 milalunos estão na área <strong>da</strong> Saúde;- a maioria <strong>da</strong>s matrículas,71,5%(37 mil), está concentra<strong>da</strong> nos 590cursos de nível básico, principalmenteos de primeiros socorros e instrumentaçãocirúrgica, abertos a qualquerpessoa interessa<strong>da</strong>, independentede escolari<strong>da</strong>de prévia;4 O censo abrangeu escolas federais, estaduais,municipais e os estabelecimentos privados,incluindo os cursos ministrados pelo “SistemaS”, por instituições empresariais, sindicais,comunitárias e filantrópicas, que oferecemeducação profissional de acordo com a Lei nº 9394/96, Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional (LDB).48Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○- a matrícula nos 703 cursos denível técnico corresponde a 82 mil;- os principais cursos técnicos,oferecidos simultaneamente ou apósa conclusão do ensino médio, comorganização curricular própria ecarga horária mínima nunca inferiora 1.200 horas, são os de técnico eauxiliar de enfermagem, patologiaclínica e nutrição e dietética.As informações <strong>da</strong> Pesquisa deAssistência Médico-Sanitária doInstituto Brasileiro de Geografia eEstatística (AMS/IBGE), sobreRecursos Humanos de 1999, realizadoem todos os estabelecimentos públicose privados de saúde no País, evidenciama deman<strong>da</strong> de formação dostrabalhadores de saúde para o setorEducacional, ou seja, um contingenteque necessita de formação técnica,básica e educação continua<strong>da</strong> tendoem vista a oferta de serviços de saúdede quali<strong>da</strong>de.Os <strong>da</strong>dos <strong>da</strong> AMS/1999 em termosde escolari<strong>da</strong>de, revelam que:- 185.586 trabalhadores possuematé oito séries do ensino fun<strong>da</strong>mental,e 333.149 são de nível médio, comaté três anos de escolari<strong>da</strong>de, além doensino fun<strong>da</strong>mental;- em termos de habilitações técnicaspresentes enquanto áreas profissionais<strong>da</strong> saúde, observa-se as deodontologia, enfermagem, farmácia,hemoterapia, histologia, nutrição edietética, patologia clínica, reabilitação,vigilância sanitária e saúde ambiental,citologia, equipamentos médicohospitalarese radiologia médica.Ao se considerar além dessasprofissões, to<strong>da</strong>s as ocupaçõespresentes no setor, representa<strong>da</strong>s poragentes comunitários, agentes desaneamento, de vigilância, dezoonoses, parteiras, dentre outras, econsiderados os trabalhadores denível fun<strong>da</strong>mental, médio e umquantitativo que persiste com adefinição “não se aplica”, totaliza-se709.726 pessoas potencialmentedeman<strong>da</strong>ntes de processos de qualificaçãoprofissional, emprega<strong>da</strong>s nosetor Saúde.O cotejamento entre a oferta deeducação profissional e o quantitativode trabalhadores explicitado evidenciaa dimensão do desafiocolocado para o setor Saúde. E nocampo <strong>da</strong>s respostas engendra<strong>da</strong>s peloEstado, sobressai o Projeto deFormação em Larga Escala, implantadoa partir de meados dos anos80 e que tem na Escola Técnica deSaúde ou Centro Formador, aalternativa para a resolução doproblema de baixa qualificação <strong>da</strong>força de trabalho emprega<strong>da</strong> nosserviços de saúde.Também é importante destacarque, na déca<strong>da</strong> de 90, o papel <strong>da</strong>sEscolas Técnicas de Saúde se inscreveno cerne de três grandes processos emcurso na socie<strong>da</strong>de brasileira: areforma do aparelho do Estado, areforma educacional e a reformasanitária brasileira.A Portaria Ministerial nº 1.298 de28 de novembro de 2000, veioformalizar a constituição de uma redenacional de ETSUS. O movimentonessa direção é fun<strong>da</strong>mental para oavanço dessas instituições, ao mesmotempo em que se relaciona cominiciativas anteriores de ampliar ainterlocução interinstitucional, fortaleceresses espaços e ampliar acapaci<strong>da</strong>de de normativa e reguladoradessas ETSUS no campo dos RecursosHumanos em Saúde. Nesse ponto éfun<strong>da</strong>mental resgatar, por exemplo, oProjeto Escola.Essa discussão, contudo, não podeser pensa<strong>da</strong> de maneira dissocia<strong>da</strong> aocontexto <strong>da</strong> Educação Profissional noBrasil. Assim, é importante considerarque, ain<strong>da</strong> na déca<strong>da</strong> de 70, osetor Saúde, à semelhança do queocorreu com a indústria e outrossetores, se viu obrigado a preparartecnicamente seus quadros, uma vezque estavam em expansão osprogramas de extensão de coberturae o sistema educacional não respondiaqualitativa e quantitativamente àsnecessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde.Simultaneamente é oportunorecuperar que a origem <strong>da</strong>s EscolasTécnicas de Saúde remonta àFormação49


○ ○ ○ ○implantação de programas sociais deextensão de cobertura por serviços desaúde recomen<strong>da</strong>dos por organismosinternacionais e assumidos comoPolíticas Públicas no Brasil, nos anos70, particularmente, o Programa deInteriorização <strong>da</strong>s Ações de Saúde eSaneamento (PIASS), criado porDecreto Presidencial em agosto de1976, inicialmente para a RegiãoNordeste do País. (Brasil, 1979). Aquié forçoso rever que são diretrizesbásicas do Programa: ampla utilizaçãode pessoal auxiliar, recrutadonas próprias comuni<strong>da</strong>des a serembeneficia<strong>da</strong>s, a prevenção de doençastransmissíveis, o atendimento adoenças mais freqüentes e detecçãoprecoce dos casos mais complexos, odesenvolvimento de ações de saúde debaixo custo e alta eficácia, adisseminação de uni<strong>da</strong>des de saúdetipo miniposto, integra<strong>da</strong>s ao sistemade saúde <strong>da</strong> região e apoia<strong>da</strong>s poruni<strong>da</strong>des de maior porte e complexi<strong>da</strong>de,a integração dos diversosorganismos públicos, a ampla participaçãocomunitária e a desativaçãogradual de uni<strong>da</strong>des itinerantes desaúde (Brasil, 1976).As diretrizes básicas coloca<strong>da</strong>sservem de base para a implantação deoutros programas, igualmente importantespara o setor. Nesse contexto, éconstituído um grupo de trabalho,com profissionais oriundos doMinistério <strong>da</strong> Saúde, <strong>da</strong> Educação, <strong>da</strong>Previdência Social e <strong>da</strong> OrganizaçãoPan-Americana <strong>da</strong> Saúde. Essesorganismos firmaram um acordo coma finali<strong>da</strong>de de estu<strong>da</strong>r a questão derecursos humanos <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde ede propor soluções, tendo em vista asproposições de Políticas Públicasadvin<strong>da</strong>s do II Plano Nacional deDesenvolvimento – 1975-1979. Aspropostas apresenta<strong>da</strong>s por esse grupoderam origem ao Programa dePreparação Estratégica de Pessoal deSaúde (PPREPS), em 1976 (Macedoet alii,1980). Desse grupo de trabalhoparticipava a Enfermeira Izabel dosSantos, como uma <strong>da</strong>s representantesdo Ministério <strong>da</strong> Saúde.Inicia-se, assim, o PPREPS,abrangendo 16 projetos, dos quais 11de treinamento e desenvolvimento derecursos humanos, sob a responsabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s secretarias estaduais desaúde (Macedo et alii, 1980). Seuobjetivo era “promover a adequação(quantitativa e qualitativa) deformação de pessoal de saúde àsnecessi<strong>da</strong>des e possibili<strong>da</strong>des dosserviços por intermédio <strong>da</strong> progressivaintegração <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des decapacitação na reali<strong>da</strong>de do sistemade saúde”.A formulação e operacionalizaçãodo PPREPS já trazem implícita a idéiade introdução de processos educativosnos serviços de saúde, compreendidospara além de um programa, umprofessor, alunos, carteiras e materialdidático.Os programas de preparação depessoal em larga escala (<strong>da</strong>í surge onome do Projeto conhecido no Brasilcomo Larga Escala), concebidos noprocesso de viabilização do PPREPS,optaram por alternativas em que ostreinamentos não constituíam umfim em si mesmo, mas possibilitavamaos participantes,analisar criticamente as propostasdos serviços de saúde e dedesenvolvimento de recursoshumanos face às reais necessi<strong>da</strong>des<strong>da</strong> população a que serviam, acriação de novas tecnologias e aparticipação dos treinandos naconstrução de modelos alternativosde assistência.Da<strong>da</strong> a dimensão nacional doPrograma, surge a necessi<strong>da</strong>de deorganização de um espaço estávele permanente de vali<strong>da</strong>ção dos processosde capacitação. Assimnascem os Centros Formadores deRecursos Humanos de nível técnicopara a saúde, com o objetivo deprofissionalizar todos os trabalhadoresde nível médio e elementarnecessários ao processo de trabalhoem saúde. A seguir listamos, porregião, o conjunto de instituiçõesformaliza<strong>da</strong>s nesse período.50Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Tabela 1UF/RegiãoInstituiçõesRegião NordesteA LBACEPBPERNCentro Formador em Recursos Humanos para a Saúde “Dr. Waldir Arcoverde”Escola de Formação Técnica em Saúde “Professor Jorge Novis”Escola de Saúde PúblicaCentro Formador de Recursos Humanos para a SaúdeEscola de Saúde PúblicaCentro de Formação de Pessoal para os Serviços de Saúde “Dr. ManoelRegião Sudeste<strong>da</strong> Costa Souza”ESMGCentro de Formação em Saúde ColetivaCentro Formador de Recursos Humanos para a Saúde/Escola de SaúdeMinas Gerais/ Fun<strong>da</strong>ção Ezequiel Dias – ESMIG/FUNEDMGEscola de Qualificação Profissional/Fun<strong>da</strong>ção Hospitalar de MinasGerais – FHEMIGMG Escola Técnica de Saúde <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Estadual de Montes Claros –UNIMONTESRJRJSPSPSPSPSPSPSPEscola de Formação Técnica em Saúde “Enfermeira Izabel dos Santos”Escola Politécnica de Saúde Joaquim VenâncioCentro Formador – CEFOR de OsascoCentro Formador – CEFOR de AraraquaraCentro Formador – CEFOR de Franco <strong>da</strong> RochaCentro Formador – CEFOR de AssisCentro Formador – CEFOR de Vila MarianaCentro Formador – CEFOR de Pariquera-açuCentro Formador – CEFOR de Saúde <strong>da</strong> Secretaria Municipal de SaúdeRegião SulPRCentro Formador de Recursos Humanos para a Saúde “Caetano Munhoz<strong>da</strong> Rocha”SCSCEscola de Formação em SaúdeEscola Técnica de Saúde de BlumenauRegião Centro-OesteGOMTMSCentro Formador de Pessoal de Nível Médio para a Área <strong>da</strong> SaúdeEscola Técnica de Saúde (hoje transforma<strong>da</strong> em Núcleo de Formação Técnica)Centro Formador de Recursos Humanos para a SaúdeFormação51


○ ○ ○ ○No conjunto, essas escolas são deresponsabili<strong>da</strong>de e vincula<strong>da</strong>s às secretariasestaduais de saúde dos seusrespectivos Estados. Apenas duas sãomanti<strong>da</strong>s por secretarias municipaisde saúde (CEFOR <strong>da</strong> SecretariaMunicipal de Saúde de São Paulo e aEscola Técnica de Saúde de Blumenau),três vinculam-se a fun<strong>da</strong>ções<strong>da</strong>s secretarias de estado (duas deMinas e uma de Alagoas), uma pertenceà Universi<strong>da</strong>de Estadual de MontesClaros (UNIMONTES). A Escola Politécnicade Saúde Joaquim Venâncio,pertence à Fun<strong>da</strong>ção Oswaldo Cruz(FIOCRUZ), uni<strong>da</strong>de técnicocientíficado Ministério <strong>da</strong> Saúde.Na sua história recente, essasescolas, além de oferecer cursos deeducação profissional básica e técnica,assessoram órgãos governamentais emassuntos referentes à área de recursoshumanos de nível técnico em saúde,pesquisam, articulam-se com prefeiturase secretarias municipais desaúde, identificam fontes de recursosde projetos externos, em muitos casosparticipando de concorrência pública,desenvolvem métodos, técnicas ecurrículos inovadores no campo <strong>da</strong>educação profissional em saúde.Recentemente, diversas áreas dosetor Saúde vêm deman<strong>da</strong>ndo <strong>da</strong>sEscolas do SUS a execução de cursosde especialização <strong>da</strong> formaçãotécnica, de modo, a atender setoresestratégicos e mais especializados,representados por serviços de médiae alta complexi<strong>da</strong>de, tais comocentros cirúrgicos, serviços dehemodiálise, laboratórios de referência,urgência e emergência, uni<strong>da</strong>desde neonatologia, dentre outras.A despeito <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de instala<strong>da</strong>nas regiões cita<strong>da</strong>s anteriormente,merece destaque a inexistência deEscolas Técnicas de Saúde, vincula<strong>da</strong>sao SUS, na Região Norte, oque traz enormes prejuízos aocombate de endemias e ao estabelecimentode uma rede assistencial dequali<strong>da</strong>de em nível locorregional.Para inverter essa situação e sebuscar romper com o circulo <strong>da</strong>iniqüi<strong>da</strong>de no País, <strong>da</strong> falta de acessoaos bens públicos na região, oPROFAE do Ministério <strong>da</strong> Saúde,estará investindo e apoiando aimplementação de sete escolas naRegião Norte. A criação dessas escolastambém faz parte do Acordo deCooperação Técnica estabelecidoentre o Ministério <strong>da</strong> Saúde, por meiodo PROFAE e o Ministério <strong>da</strong>Educação por meio do Programa deExpansão <strong>da</strong> Educação Profissional(PROEP).A articulação política entre os doisministérios, viabiliza<strong>da</strong> pelo diálogoefetivo entre os dois programas, comvistas no plano geral, à sinergia deresultados e, no plano específico àcriação e implementação de 11 novasETSUS, sendo sete na Região Norte,três no Nordeste, e uma na RegiãoSul, assim distribuí<strong>da</strong>s:Tabela 2UF/RegiãoInstituiçõesRegião NorteAC Escola Técnica de Saúde do AcreAP Escola Técnica de Saúde do AmapáAM Escola Técnica de Saúde do AmazonasPA Escola Técnica de Saúde do ParáRO Escola Técnica de Saúde de RondôniaRR Escola Técnica de Saúde de RoraimaTO Escola Técnica de Saúde do TocantinsRegião NordesteMA Escola Técnica de Saúde do MaranhãoPI Escola Técnica de Saúde do PiauíSE Escola Técnica de Saúde de SergipeRegião SulRS Escola Técnica de Saúde do Rio Grande do Sul52Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○O que faz a diferença na ETSUS?As ETSUS são, hoje, o mecanismoque a saúde possui para responder àsnecessi<strong>da</strong>des de formação dos quadrospara o setor, na oferta <strong>da</strong> educaçãoprofissional para os níveis técnico ebásico, num primeiro momento,podendo avançar, posteriomente, atéa oferta de educação tecnológica.Em que pese essa concepção deescola tenha sido gera<strong>da</strong> há quaseduas déca<strong>da</strong>s, sua pertinência àsnecessi<strong>da</strong>des de preparação de pessoalpara o setor Saúde e aos princípios<strong>da</strong> educação profissional preconizadospela Lei de Diretrizes e Bases<strong>da</strong> Educação Nacional (LDB) de1996, fazem dela uma escola aberta,moderna e flexível, atendendo àsnecessi<strong>da</strong>des impostas pelo mundo dotrabalho, respeitando os princípios deuma educação ética e competente.A inclusão é o princípio norteadorque orienta as demais características.O trabalhador empregado, independentedo seu grau de escolari<strong>da</strong>de,tem acesso imediato, independente dequalquer seleção. Se ele prestaserviços, há que fazê-lo sem riscospara si e para os outros. Isso é o quelhe assegura o ingresso na escola. Paramantê-lo no processo, as ativi<strong>da</strong>descurriculares são organiza<strong>da</strong>s de formaintegra<strong>da</strong>, constituindo-se o que sedenomina currículo integrado,considerando a prática real dossujeitos <strong>da</strong> aprendizagem de modoque possam refletir sobre ela, teorizare acrescentar conhecimentos, sistematizaro que já se sabe, de modo quepossam voltar aos serviços com umaprática profissional totalmentereformula<strong>da</strong>. Essa é uma de suascaracterísticas.Currículo integrado é um planope<strong>da</strong>gógico que articula dinamicamentetrabalho e ensino, prática eteoria, serviço e comuni<strong>da</strong>de. Oconhecimento não é estático, acabado,definitivo. Sua renovação precisa estarconstantemente se inserindo naprática, e vice-versa, num movimentodialético, incessante de realimentaçãode idéias pelos fatos e dos fatos pelasidéias (Kramer, 1989). Nesse planope<strong>da</strong>gógico, os problemas e suashipóteses de solução devem tersempre, como pano de fundo, ascaracterísticas socioculturais do meioem que esse processo se desenvolve.Tal processo de formação se caracterizapela concepção pe<strong>da</strong>gógica deintegração ensino-serviço, em que areali<strong>da</strong>de se torna a referência problematizadorae as ações educativas consistentescom a proposta <strong>da</strong> reformasanitária, no sentido de reorientar equalificar a prática profissional.Moreira (1992), um estudioso <strong>da</strong>sprincipais tendências do pensamentocurricular no Brasil, defende “a idéiade se planejarem currículos que dêemaos estu<strong>da</strong>ntes voz ativa e crítica e quelhes forneçam o conhecimento e ashabili<strong>da</strong>des necessárias para asobrevivência e o crescimento domundo moderno. Essa concepção estáassocia<strong>da</strong> à ênfase na necessi<strong>da</strong>de dese trabalhar no sentido de levar oaluno a desenvolver força de vontade,disciplina, respeito ao trabalho,constância nos esforços e propósitos.Mas também se pretende formarci<strong>da</strong>dãos críticos, autônomos, participantes,ativos e possuidores deconhecimentos e habili<strong>da</strong>des que olevem a contribuir para a promoçãode melhores e mais justas condiçõesde vi<strong>da</strong> para todos” (Moreira, 1992apud Sá, 2000).Essa é a razão pela qual a ETSUSfaz a opção pelo currículo integrado?Isso não está <strong>da</strong>do. Inclusive poucashoje adotam o currículo integrado.Nessa concepção foram elaborados osguias curriculares para a formação doauxiliar de enfermagem para atuar narede básica do SUS (Brasil, 1994),para a formação do auxiliar deenfermagem para atuar na redehospitalar do SUS (Brasil, 1994), paraa formação do técnico em higienedental para atuar na rede básica doSUS (Brasil, 1994), para a formaçãodo atendente de consultório dentáriopara atuar na rede básica do SUS(Brasil, 1998). Foram ain<strong>da</strong> construídosos currículos integrados paraa formação do técnico em patologiaclínica e técnico em farmácia, ain<strong>da</strong>não publicados.Formação53


○ ○ ○ ○A elaboração desse materialdidático sob a forma de currículosintegrados levou em conta aimportância de estimular a aquisiçãode conhecimentos, habili<strong>da</strong>des eatitudes, pois eles são o elementochavepara o alcance <strong>da</strong>scompetências.O currículo integrado é umaproposta que permite:- efetiva integração entre ensinoe prática profissional;- avanço na construção de teoriasa partir <strong>da</strong> anterior;- a busca de soluções específicase originais para as diferentessituações;- a integração ensino-trabalhocomuni<strong>da</strong>de;e- a a<strong>da</strong>ptação a ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>delocal e aos padrões culturais própriosde uma determina<strong>da</strong> estrutura social.Outra opção pe<strong>da</strong>gógica é ocurrículo correlacionado, que temcomo características principais aidentificação e definição dos problemasde reali<strong>da</strong>de, organizando-seos assuntos em torno de um temacentral.A ETSUS que adota o currículointegrado para o ensino profissionalizantetambém estimula seusalunos a buscarem a complementação<strong>da</strong> educação geral como parte doresgate <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, na busca dodireito constitucional de escolari<strong>da</strong>demínima de oito anos para todos osbrasileiros. Com a inserção detrabalhadores em to<strong>da</strong>s as áreas, outracaracterística que se destaca é a oferta<strong>da</strong> educação multiprofissional dentrodo setor Saúde.O Conselho Nacional de Educaçãoaprovou habilitações profissionais nasseguintes subáreas: biodiagnóstico,enfermagem, estética, farmácia,hemoterapia, nutrição e dietética,radiologia e diagnóstico por imagemem saúde, reabilitação, saúde bucal,saúde visual, saúde e segurança notrabalho e vigilância sanitária. PeloCenso de Educação Profissionalrealizado em 1999, pelo MEC/INEP,a rede convencional de ensino ofereceprincipalmente cursos na área deEnfermagem, patologia clínica enutrição e dietética. A habilitação ea qualificação nas demais áreasnecessárias à operacionalização doSUS é oferta<strong>da</strong> quase que exclusivamentena rede <strong>da</strong>s escolas técnicasde saúde, com exceção <strong>da</strong> estética quefoi recentemente incorpora<strong>da</strong> ao setorSaúde.Estando os trabalhadores dispersose distribuídos nos serviços de saúdede diferentes complexi<strong>da</strong>des, aETSUS possui outra característicabásica: a descentralização. Paraatingir o fim para o qual foi cria<strong>da</strong>,buscou-se implantar a escola-função,que vai até o aluno, levando a ele aoportuni<strong>da</strong>de educacional, mesmoque ele resi<strong>da</strong> num município distante<strong>da</strong> sede <strong>da</strong> escola. Se to<strong>da</strong> a execuçãocurricular é descentraliza<strong>da</strong>, os processosadministrativos dos registrosescolares são centralizados na escolapara assegurar ao serviço de inspeçãoescolar o controle do processoburocrático.Para que a escola possa atuar deforma descentraliza<strong>da</strong> nos municípiosque deman<strong>da</strong>m a formação dostrabalhadores, a ETSUS apresentaoutra característica impar naeducação profissional em saúde:preparar o profissional de nívelsuperior, dos serviços, para assumirtambém a função docente.Ain<strong>da</strong> volta<strong>da</strong> para garantir aquali<strong>da</strong>de do processo educativo efacilitar a aprendizagem, desenvolveusenova característica volta<strong>da</strong> para oprocesso metodológico, privilegiandoos conhecimentos, experiências eexpectativas do aluno como ponto departi<strong>da</strong> do processo ensino-aprendizagem.A seleção dos conteúdosprogramáticos deve guar<strong>da</strong>r umarelação direta com os problemasvivenciados pelo aluno, sendo aprática em situação real tambémconsidera<strong>da</strong> como experiência deensino e o ambiente de trabalho comolocal preferencial <strong>da</strong> formaçãoprofissional. Essa forma metodológica54Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○de conduzir o currículo dispensaestágios convencionais. A práticasupervisiona<strong>da</strong> e o estágio sãorealizados durante todo o desenvolvimento<strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des curriculares,não se limitando aotradicional estágio supervisionadooferecido ao final do curso. Asativi<strong>da</strong>des práticas devem proporcionarao estu<strong>da</strong>nte freqüentesoportuni<strong>da</strong>des para:- observar outras pessoasdesempenhando determina<strong>da</strong>s oportuni<strong>da</strong>dese tarefas a serem executa<strong>da</strong>s.No desempenho de tais tarefas oinstrutor ou supervisor deve tornarexplícito todo o “processo mental”utilizado para a sua execução;- praticar as diversas habili<strong>da</strong>desa serem adquiri<strong>da</strong>s e acompanha<strong>da</strong>scom imediato retorno <strong>da</strong>do peloinstrutor ou supervisor.Em ambas as oportuni<strong>da</strong>des asativi<strong>da</strong>des devem ser trabalha<strong>da</strong>s emcontextos em que se desenvolve oprocesso de trabalho ou naquele omais próximo possível <strong>da</strong> reali<strong>da</strong>dena qual elas se desenvolvem.O Ministério <strong>da</strong> Saúde e o fortalecimento<strong>da</strong>s ETSUSO Ministério <strong>da</strong> Saúde vemacompanhando ao longo desses anoso desenvolvimento <strong>da</strong>s ETSUS pormeio <strong>da</strong> atual Coordenação dePolíticas de Desenvolvimento deRecursos Humanos e <strong>da</strong> EscolaPolitécnica de Saúde Joaquim Venâncio/FIOCRUZ,aportando, inclusive,recursos financeiros específicospara o fortalecimento e modernização<strong>da</strong> rede de escolas do SUS.O Acordo de Cooperação TécnicaBrasil do Programa <strong>da</strong>s NaçõesUni<strong>da</strong>s para o Desenvolvimento(PNUD), o Projeto BRA/90-032,Desenvolvimento Institucional doMinistério <strong>da</strong> Saúde – ProjetoNordeste assegurou recursos para aformação de pessoal de nível médio,possibilitando ain<strong>da</strong>, o financiamentode estudos e pesquisas, o acompanhamentoe assessoria aos projetosestaduais, revisão, publicação edistribuição dos guias curricularesintegrados tanto para alunos comopara os instrutores e supervisores. OProjeto Escola, financiado pelaFIOCRUZ, sob a coordenação <strong>da</strong>Escola Politécnica de Saúde JoaquimVenâncio, financiou, 10 escolaspreviamente seleciona<strong>da</strong>s, a estruturaçãoe informatização dos registrosescolares e a capacitação dossecretários escolares e gestores dessasuni<strong>da</strong>des de ensino.Em 1999, importante decisãopolítica do Ministério <strong>da</strong> Saúdereescreveria a história <strong>da</strong>s ETSUS. OGoverno Brasileiro firmou com oBanco Interamericano de Desenvolvimentoo Contrato de Empréstimonº 1215/OC-BR para odesenvolvimento do Projeto deProfissionalização dos Trabalhadores<strong>da</strong> Área <strong>da</strong> Enfermagem, cujoobjetivo é “melhorar a quali<strong>da</strong>de doatendimento ambulatorial e hospitalar,principalmente em estabelecimentosque integram ou venhamintegrar o Sistema Único de Saúde,por intermédio <strong>da</strong> capacitação dostrabalhadores <strong>da</strong> área <strong>da</strong> Enfermageme do fortalecimento <strong>da</strong>s instânciasreguladoras e formadoras de recursoshumanos para o SUS” (Brasil, 2000).O PROFAE iniciou sua atuação defortalecimento e modernização <strong>da</strong>sETSUS, realizando um diagnósticopara verificar a viabili<strong>da</strong>de técnica,política e administrativo-financeira<strong>da</strong>quelas uni<strong>da</strong>des. O resultado dessediagnóstico trouxe à luz aspectosimportantes que têm sido objeto deinvestimentos no sentido de superarou minimizar a situação encontra<strong>da</strong>.Na viabili<strong>da</strong>de técnica o PROFAEtem investido na reconstrução doProjeto Político Pe<strong>da</strong>gógico <strong>da</strong>sescolas, tendo em vista novos cenáriosno campo <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong> educaçãoprofissional e a necessi<strong>da</strong>de deexpansão não só <strong>da</strong>s habilitaçõestécnicas, mas <strong>da</strong>s qualificaçõesbásicas para além <strong>da</strong> área <strong>da</strong>Enfermagem. A coordenação dealgumas áreas de fortalecimentotécnico foi assumi<strong>da</strong> diretamente peloPROFAE, com investimentos quelevam à modernização e queFormação55


○ ○ ○ ○conformam e respal<strong>da</strong>m a construção<strong>da</strong> identi<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ETSUS.Uma delas é a biblioteca, cujoacervo físico terá um tratamentoespecial baseado em metodologiainformatiza<strong>da</strong> do Centro Latino-Americano e do Caribe de Informaçãoem Ciências <strong>da</strong> Saúde (Bireme),chegando até à implantação <strong>da</strong>Biblioteca Virtual em Saúde (<strong>BVS</strong>),com destaque para a área <strong>da</strong> educaçãoprofissional no setor.Na área <strong>da</strong> informação e informatização,a aquisição de softwarese equipamentos trará um avanço paraos processos técnicos, administrativose gerenciais e finalmente, apreparação de quadros técnicos eadministrativos prevista pela escolaem seu Projeto de Investimentosfinanciado pelo PROFAE, se estendeaté a oferta de mestrado profissionalpara os quadros dirigentes de recursoshumanos <strong>da</strong>s secretarias de saúde e<strong>da</strong>s Escolas Técnicas de Saúde.No campo <strong>da</strong> viabili<strong>da</strong>de política,no seu recorte de gestão, vem sendonegociado, com os dirigentes <strong>da</strong>enti<strong>da</strong>de mantenedora <strong>da</strong> ETSUS, aoferta de cooperação técnicofinanceiradireta e indireta para aelaboração de estudos de alternativasde gestão e flexibilização.Na viabili<strong>da</strong>de administrativofinanceira,ca<strong>da</strong> escola elaborou seuprojeto de investimento no valor deR$ 500.000,00 financiados peloPROFAE, buscando fortalecer aquelespontos identificados como frágeisdurante a realização do seu planejamentoestratégico. O fortalecimento<strong>da</strong> ETSUS impõe a composição deuma agen<strong>da</strong> política compartilha<strong>da</strong>entre os gestores estaduais e acoordenação do PROFAE noMinistério <strong>da</strong> Saúde. São questõespertinentes à área de RecursosHumanos em Saúde, bastante complexase importantes para o sistemaque precisam ser defini<strong>da</strong>s pelo nívelestratégico do setor.Em 2001, inicia-se um processo denegociação entre os gestores doPROFAE, no Ministério <strong>da</strong> Saúde, edo PROEP, no Ministério <strong>da</strong>Educação, para articulação entre asagen<strong>da</strong>s complementares dos doisprogramas nacionais destinados àmelhoria <strong>da</strong> educação profissional noPaís. Iniciativa inédita até então, esseprocesso culmina com o estabelecimentode recursos e priorizaçãode ações que possam possibilitar oaporte de recursos para o setor Saúde,com vistas à construção de novasescolas do SUS, nos estados que nãodispõem de estruturas do SUSvolta<strong>da</strong>s para formação profissional denível técnico em saúde. Com esseAcordo Interministerial, os recursosdo Programa de Expansão <strong>da</strong>Educação Profissional, além depossibilitar maior oferta <strong>da</strong> educaçãoprofissional em saúde, possibilitarãotambém promover maior quali<strong>da</strong>de doensino <strong>da</strong>s existentes, por meio dofinanciamento de reformas e equipamentospe<strong>da</strong>gógicos para as escolaspertencentes à Rede de EscolasTécnicas do SUS (RET-SUS). Tambémjá estão assegurados recursos para esteano, para a construção e aquisição deequipamentos para as novas ETSUSdo Acre e Amapá, cujos projetos estãoem fase de finalização.Considerações finaisAs ETSUS possuem potenciali<strong>da</strong>dese competências adquiri<strong>da</strong>s aolongo desses anos que fortalecem suaposição de escola profissional aserviço <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des de quali<strong>da</strong>dedo Sistema Único de Saúde e,portanto, não poderiam deixar de seralvo do esforço que vem sidoconduzido pelo PROFAE no que serefere à execução de uma políticaintegra<strong>da</strong> de recursos humanos paraa área de Saúde.A participação em processos edecisões que envolvem a área deRecursos Humanos, a interlocuçãocom as secretarias de estado <strong>da</strong> saúde,a busca de financiamento por meiode acordos de cooperação técnica, ogrande potencial de expansão, acapaci<strong>da</strong>de de <strong>da</strong>r respostas imediatasàs deman<strong>da</strong>s dos serviços de saúdeestabeleci<strong>da</strong>s pelas secretariasestaduais de saúde – SES e secretarias56Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○municipais de saúde – SMS, acapaci<strong>da</strong>de de articulação interinstitucional,o estabelecimento deparcerias com as prefeituras e outrasinstituições afins e o reconhecimento<strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de dos egressos evidenciadosem resultados de concursos eseleções tornam as ETSUS um tipo deescola diferencia<strong>da</strong>.Some-se a isso, no campope<strong>da</strong>gógico, a possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ofertade cursos de formação e especializaçãopara nível técnico, decursos de qualificação básica etécnica, a assessoria a órgãoscompetentes de recursos humanos naárea de educação profissional, acapaci<strong>da</strong>de de planejar os cursos juntoaos serviços de saúde, coordenar esupervisionar a execução e avaliar astransformações ocorri<strong>da</strong>s, a capaci<strong>da</strong>dede oferecer aos municípios oscursos deman<strong>da</strong>dos, e o atendimentoa grande deman<strong>da</strong> para cursos abertosà comuni<strong>da</strong>de são aspectos relevantespara a consoli<strong>da</strong>ção do espaçope<strong>da</strong>gógico de educação profissionalem saúde.BibliografiaAPPLE, Michael W. Reprodução,Contestação e Currículo. In: Educaçãoe Poder. PA, Artes Médicas, 1989.cap. 1, p. 19-54.BRASIL. Decreto nº 78.307, de 24 deagosto de 1976. Aprova o Programade Interiorização <strong>da</strong>s Ações de Saúdee Saneamento no Nordeste e dá outrasprovidências. Diário Oficial <strong>da</strong>União, Brasília, 1976._________ Programa de Interiorização<strong>da</strong>s Ações de Saúde eSaneamento – PIASS. Anteprojeto paraa Expansão Nacional do PIASS.Brasília, 1979._________ Constituição Federal.Ministério <strong>da</strong> Educação. Brasília,1989._________ Ministério <strong>da</strong> Saúde.Coordenação Geral de Desenvolvimentode Recursos Humanospara o SUS. Capacitação Pe<strong>da</strong>gógica/Supervisor – Área <strong>da</strong> Saúde - s. ed.,reimpressão. Brasília: Ministério <strong>da</strong>Saúde, 1994. 60 p.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde. GuiaCurricular para a Formação doAuxiliar de Enfermagem para a RedeBásica. Brasília, 1994.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde. GuiaCurricular para a Formação doAuxiliar de Enfermagem para a RedeHospitalar. Brasília, 1994.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde. GuiaCurricular para a Formação doTécnico em Higiene Dental para aRede Básica. Brasília, 1994.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde.Recursos Humanos para ServiçosBásicos de Saúde. 1. ed., reimpressão.Brasília, 1995.________ Ministério <strong>da</strong> Educação eDesporto. Decreto nº 2.208, de 17 deabril de 1997. Regulamenta oparágrafo 2º do art. 36 e os arts. 39 e42 <strong>da</strong> Lei nº 9.394, de 20 dedezembro de 1996. Que estabelece asdiretrizes e bases <strong>da</strong> educaçãonacional. Diário Oficial <strong>da</strong> União,Brasília, 18 abr., 1997a.________ Ministério <strong>da</strong> Educação eDesporto. Lei nº 9.394, de 20 dedezembro de 1996. Estabelece Asdiretrizes e bases <strong>da</strong> educaçãonacional. Diário Oficial <strong>da</strong> União,Brasília, 24 maio, 1997.________ Ministério <strong>da</strong> Educação edo Desporto. Conselho Nacional deEducação. Resolução CNE nº 02, de26 de junho de 1997c.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde.Contrato de Empréstimo nº 1.215/OC-BR. Brasília, 1999.________ Ministério <strong>da</strong> Saúde.Secretaria de Gestão de Investimentosem Saúde. As Escolas Técnicas doSUS: modernizando e flexibilizando.Brasília, 1998.________ Ministério <strong>da</strong> Educação edo Desporto. Conselho Nacional deEducação. Diretrizes CurricularesNacionais para Educação Profissionalde Nível Técnico. Brasília, 1999a.Formação57


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○ ○ ○ ○AnáliseFormação profissional e humanizaçãodos serviços de saúdeProfessional preparation andhumanization of health servicesFrancisca Val<strong>da</strong> <strong>da</strong> SilvaPresidente <strong>da</strong> Associação Brasileira de Enfermagem - ABEnMaria Dalva Gomes Alencar de Souza MenezesMestre em Educação – Universi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grande do NorteResumo: O artigo discute os impasses revelados na formação dos profissionaisde saúde, articulando os impactos possíveis dessa formação na prestação deserviços na área. Aprofun<strong>da</strong> o conceito de humanização, situando-o historicamentequanto ao seu surgimento e ao seu significado enquanto prática nos serviços desaúde. A questão fun<strong>da</strong>mental circula em torno de temas como subjetivi<strong>da</strong>de,ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e ain<strong>da</strong>, como a saúde e a doença vinculam-se aesses temas. A partir <strong>da</strong> discussão, revela-se que a formação profissional deveráser permanente, sendo dessa maneira possível formar um profissional ci<strong>da</strong>dão,comprometido com uma prestação de serviços de boa quali<strong>da</strong>de e assimcaracteriza<strong>da</strong> como humaniza<strong>da</strong>.Palavras-chave: Formação Profissional; Humanização; Subjetivi<strong>da</strong>de; Quali<strong>da</strong>dede Vi<strong>da</strong>; Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Abstract: Discusses the impasses revealed along the training of healthprofessionals, articulating the likely impacts of such training on health services.It also examines thoroughly the concept of “Humanization”, by historicallyplacing it concerning its emergence and meaning as practice in health services.The core issue is about subjects like subjectivity, citizenship quality of life, aswell as on how health and illness are bound to them. The discussion reveals thatthe professional training must be a permanent process, therefore allowing forbringing up a citizen professional, committed to rendering good quality services,characterized as humanized ones.Keywords: Professional Training; Humanization; Subjectivity; Quality of Life;Citizenship.59


○ ○ ○ ○IntroduçãoCertamente o título deste artigosugere infinitas questões que estãoimplica<strong>da</strong>s entre si, pois não há comosuscitar idéias sem estabelecerrelações entre seus termos. Existemperguntas como: qual a formaçãoprofissional que se tem construído, setem oferecido e se tem exercido? Háalguma relação entre essa formaçãoprofissional, a humanização e aprestação de serviços na área deSaúde? A humanização dos serviçosde saúde vincula-se de alguma formaà formação profissional? Para essasquestões não é fácil encontrarrespostas. No entanto, o exercício desuscitar questionamentos e procurarvias acessíveis à discussão dessestermos coloca-se como responsabili<strong>da</strong>deaos profissionais de saúde,pois derivam <strong>da</strong>í duas questõesfun<strong>da</strong>mentais: o que se tem privilegiadona formação profissional naárea de Saúde e qual a relação queessa formação mantém com aprestação de serviços humaniza<strong>da</strong>?Historicamente, a prestação deserviços na área de Saúde vemprivilegiando e supervalorizando osavanços tecnológicos em detrimento<strong>da</strong> relação cui<strong>da</strong>dor e usuário. Osentido humanitário do direito àassistência nem sempre está presentena condição de princípio <strong>da</strong>s políticasde proteção à saúde dos ci<strong>da</strong>dãos.Nos séculos XVIII e XIX, as açõesna área caracterizavam-se como“higienistas”, cuja idéia norteadoraera higienização dos locais demoradia com a intenção de evitar<strong>da</strong>nos à saúde, e “sanitaristas”, marca<strong>da</strong>mentecomo responsabili<strong>da</strong>de doEstado em inaugurar e controlarhospitais e locais onde havia uso deequipamentos permanentes de saúde.Nos estudos sobre a organização deserviços de saúde a presença do Estadosempre foi marcante. Ele tenta de umaou outra forma <strong>da</strong>r respostas à população,às suas necessi<strong>da</strong>des deassistência. No entanto, realizandouma reflexão crítica nesse percursohistórico, pois desde o início <strong>da</strong>civilização se tem buscado a preservação<strong>da</strong> boa saúde e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, na medi<strong>da</strong>em que o Estado tomou para si aresponsabili<strong>da</strong>de de representar eprovidenciar a satisfação <strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>desdo ci<strong>da</strong>dão nessa área, assimsuas políticas têm representado osinteresses de grupos que estão no podere de apenas parte <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Mashá sempre um movimento dialético,esses grupos mu<strong>da</strong>m e também asdecisões do governo. As necessi<strong>da</strong>desem saúde também sofrem variações,uma vez que estão associa<strong>da</strong>s amu<strong>da</strong>nças sociais determina<strong>da</strong>s pelosfatores econômicos e políticos. Asmu<strong>da</strong>nças de ações no setor <strong>da</strong> Saúdesão pressiona<strong>da</strong>s desta forma por to<strong>da</strong>essa conjuntura. Há ain<strong>da</strong> a pressão degrupos sociais que não estão no poder,porém que criam movimentos demu<strong>da</strong>nça com suas deman<strong>da</strong>s por umamelhor assistência na prestação deserviços. Diversos atores sociais epolíticos determinam então as políticasneste setor.Foi então nessa luta de forças que,em 1979, no I Simpósio Nacional dePolítica de Saúde, realizado pelaComissão de Saúde <strong>da</strong> Câmara dosDeputados, o movimento representadopelo Centro Brasileiro deEstudos <strong>da</strong> Saúde (CEBES) declarouem público as bases propostas para areorientação do Sistema de Saúde, queà época já se denominava SistemaÚnico de Saúde (SUS). Seus princípiosaliavam-se à democratização ampla<strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de, à universalização dodireito à saúde de natureza públicacom resolutivi<strong>da</strong>de, além de descentralizadoe com ações curativas epreventivas de forma integral.Essas conquistas ain<strong>da</strong> têm umlongo caminho a ser trilhado e semprehaverá movimentos de resistências àsmu<strong>da</strong>nças. Contudo, o princípio <strong>da</strong>integrali<strong>da</strong>de proposto pelo SistemaÚnico de Saúde, dentre os outroscitados, aponta para questões cruciaisna prestação de serviços, pois apessoa não é um amontoado de partes,é um ser histórico, vivendo emsocie<strong>da</strong>de. E ain<strong>da</strong>, não há comodesvincular saúde e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Portanto, as ações devem privilegiarFormação61


○ ○ ○ ○o sujeito e a comuni<strong>da</strong>de, a prevençãoe o tratamento, respeitando adigni<strong>da</strong>de humana.Humanização: princípio ético parareorganização do atual modelo deatençãoA socie<strong>da</strong>de encontra-se, nos diasatuais, submeti<strong>da</strong> a uma linguagem eestética que refletem um estilo de vi<strong>da</strong>completamente subjugado por perspectivastecnológicas, influenciandosobremaneira na subjetivi<strong>da</strong>de humana.Estética aqui não é referi<strong>da</strong> comouma teoria sobre a estética em si ousobre a beleza, mas como um fenômenorelacionado aos sentidos <strong>da</strong>corporei<strong>da</strong>de humana, ou seja, comoo ser humano decodifica a presençade outro, e o que significa essa presençaem formas sensoriais para ele.E o que seria então o acontecimentohumano? Gilberto Safra(2001, p. 17), referindo-se ao tema,focaliza na corporei<strong>da</strong>de e acrescenta:“Ao falar em corporei<strong>da</strong>de nãoestou me referindo ao corpo, comoé estu<strong>da</strong>do pela biologia, mas merefiro ao organismo humano, quenão se reduz ao corpo – soma,compreendido como o lugar doacontecimento e do aparecimento<strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de, a partir do qualse inicia o processo desingularização e de aparecimentohumano.”Dessa forma então, a noção dehumano se distancia <strong>da</strong> idéia defuncionali<strong>da</strong>de, influência her<strong>da</strong><strong>da</strong> doIluminismo e tão freqüentementeestiliza<strong>da</strong> pela Psicologia. O homemfuncional seria então aquele quenecessita interagir com a reali<strong>da</strong>de ea vista disto to<strong>da</strong> noção de subjetivi<strong>da</strong>dese vinculará à de funcionali<strong>da</strong>de.A idéia a ser enfatiza<strong>da</strong> é ade que o ser humano não é umfuncionamento e que a melhor formade compreendê-lo é numa perspectivafenomenológica e, assim, acompanharo surgimento e o contexto de umasingulari<strong>da</strong>de. O acontecimentohumano se constitui a partir de umlugar na subjetivi<strong>da</strong>de do outro e nãonum lugar físico. Não basta nascercom corpo biológico para que se possaemergir como humano. Para que hajaacontecimento humano, é necessárioque haja o encontro entre assubjetivi<strong>da</strong>des. Ain<strong>da</strong> na obra deGilberto Safra (id., p. 18-19),encontram-se importantes contribuiçõesa esse tema:“Não é possível falar-se dealguém sem falar de um outro. Oser humano não pode ser abstraído<strong>da</strong> relação com um outro. Esseacontecimento originário inicia acriança em um processo etemporalização, pois no momentoem que a criança nasce nasubjetivi<strong>da</strong>de de alguém passa a teruma história pessoal. Evidentemente,a história pessoal vemprecedi<strong>da</strong> de concepções assenta<strong>da</strong>sem tradições, mitos, mas essemomento originário significa quea criança nasceu em um mundohumano com um sentido detemporali<strong>da</strong>de.”O termo temporali<strong>da</strong>de é importante,pois estará no alicerce dosurgimento <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de.Inicialmente, a idéia de a temporali<strong>da</strong>deé vivi<strong>da</strong> entre as pessoas nomeio ambiente e a criança. Acorporei<strong>da</strong>de humana <strong>da</strong>rá ritmo aesse tempo e a <strong>da</strong> presença humanado outro será significa<strong>da</strong> pelosmovimentos do corpo em tempo esubjetivi<strong>da</strong>de.Talvez a idéia do nascimento doser humano a partir <strong>da</strong> criação <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de do outro fique maisclara ao se pensar sobre a sobrevivênciade uma criança recémnasci<strong>da</strong>.Entre os seres vivos, esteparece ser o que nasce em maiorcondição de desamparo. Se nãohouver uma outra pessoa, alguém decui<strong>da</strong>dos, que enten<strong>da</strong> os gestos dessepequeno ser desamparado, certamentesua vi<strong>da</strong> não vingará. Se esse alguémnão traduzir os apelos, o choro, ainquietação, não lhe der estatuto demensagens a serem traduzi<strong>da</strong>s eatendi<strong>da</strong>s, a criança não terá a quemapelar, não virá ninguém ao seuencontro e ela poderá sucumbir porcausa de suas necessi<strong>da</strong>des.62Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Necessi<strong>da</strong>des que muito precocementese misturarão entre autoconservaçãoe amor.Assim, pode-se pensar que, nessecaminho percorrido até então, asubjetivi<strong>da</strong>de será constituí<strong>da</strong> a partirdo encontro de um humano comoutro, <strong>da</strong>s traduções que serão <strong>da</strong><strong>da</strong>sàs mensagens envia<strong>da</strong>s nesseencontro, <strong>da</strong>s marcas que essesencontros propiciam e ain<strong>da</strong>, <strong>da</strong>smarcas deixa<strong>da</strong>s no encontro com omundo, ou seja, como o mundorecebe ca<strong>da</strong> um que nele chega parahabitar. Vemos dessa forma como,desde cedo, o ser humano é ativo,pulsante e é desejoso de ser significadoem sua existência.Esse sujeito humano pode serdefinido pela relação que mantémcom sua própria intimi<strong>da</strong>de e com omeio em que está inserido: meiocultural marcado de valores, leis, ritose riquezas. O mundo simbólico jáexiste antes dele nascer e, aoencontrá-lo, ele irá transformá-lo, aomesmo tempo em que será transformadopor ele. Nos dias atuais,parece que um dos mais gravesproblemas que se tem observado naconstrução <strong>da</strong>s relações é que elas têmse constituído em princípios objetivantes,tem-se suprimido o mitoindividual, a história de ca<strong>da</strong> ser, omodo como ca<strong>da</strong> sujeito tem seuencontro com a cultura. Dessa forma,a subjetivi<strong>da</strong>de fica suprimi<strong>da</strong> juntocom tudo mais que foge aos padrõesde controle.Algumas questões precisam serenumera<strong>da</strong>s, a saber: o que de fatocaracteriza uma prática humaniza<strong>da</strong>?O que seria “humanização no âmbito<strong>da</strong> saúde”? Pode-se falar emhumanização sem inseri-la em outrasquestões <strong>da</strong> área? Respondê-las talveznão seja possível, porém articulá-lasna discussão se revela comopossibili<strong>da</strong>de de aprofun<strong>da</strong>mento.A questão <strong>da</strong> “humanização”ganha repercussão nos trabalhos emsaúde a partir <strong>da</strong> ReformaPsiquiátrica. To<strong>da</strong> a discussão dessemovimento gira em torno <strong>da</strong>construção de práticas queinfluenciem as Políticas de SaúdeMental já que seu eixo fun<strong>da</strong>mentalé a não-segregação dos pacientespsiquiátricos. Inicialmente, o quelemos na história desse movimentosão fatos que mostram que de um ladoestava um grupo resistente às políticassegregatórias e excludentes e quelutavam por mu<strong>da</strong>nças, e de outro, umgrupo que se opunha às transformações,mas que tentava, a todocusto, maquiar a desgraça em que seencontravam os internos confinadosem “hospitais-prisões”. Propunhamdessa forma algumas práticas que, aosolhos dos espectadores menos atentosparecessem mu<strong>da</strong>nças, quando naver<strong>da</strong>de não aprofun<strong>da</strong>vam asquestões sobre a assistência às pessoasnecessita<strong>da</strong>s de cui<strong>da</strong>dos e comsofrimento psíquico.Magali Gouveia Engel (2001, p.203-204), complementando econsoli<strong>da</strong>ndo os estudos realizados noBrasil sobre o nascimento e aconstituição <strong>da</strong>s práticas e saberespsiquiátricos, a partir dos relatos <strong>da</strong>svivências <strong>da</strong> loucura nas ruas do Riode Janeiro, no período entre 1830 e1930, cita uma passagem interessantee reveladora <strong>da</strong>s práticas que seprestavam a maquiar os ver<strong>da</strong>deirosproblemas dos hospitais psiquiátricos:“Situado num dos locais maisbonitos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, o Hospício dePedro II acabaria se transformandonuma opção para os passeiosdominicais: ‘Já passou o tempo emque ninguém se atrevia a entrar emum hospital de doidos...onde eramencarcerados os míseros, como sefossem feras. Acorrentados presosao tronco...’(AZEVEDO, 1877apud ENGEL, 2001). Reclusa nohospício, a loucura era ‘humaniza<strong>da</strong>’e exibi<strong>da</strong> como ver<strong>da</strong>deirotroféu dos médicos. Nessasexibições, os loucos desempenhavampapel secundário, poisa grande estrela do espetáculo eraa obra filantrópica e científica <strong>da</strong>medicina. Espetáculo, enfim,bastante distinto <strong>da</strong>s exibiçõespúblicas <strong>da</strong> loucura nas ruas <strong>da</strong>ci<strong>da</strong>de e no Hospital <strong>da</strong> Misericórdia.Mas havia um outro ladoFormação63


○ ○ ○ ○desse espetáculo <strong>da</strong> loucurareclusa que, contrariando osidealizadores do hospício, aproximavade forma íntima oHospício de Pedro II do Hospital<strong>da</strong> Misericórdia.”A mesma autora (POMPÉIA, 1982apud ENGEL, 2001, p. 204) destacaque “Raul Pompéia apreende de modobastante perspicaz esse outrosignificado do espetáculo:”“No domingo, abriram-se àvisitação do público as portas doHospício de Pedro II. A afluência foiconsiderável como em to<strong>da</strong>s asvisitas de hospitais, espetáculos dosofrimento a que o povo transportaa sua curiosi<strong>da</strong>de, com uma pontinhade ânimo perverso, que vem do circoromano, no caráter latino.”Essa citação mostra claramente aquestão <strong>da</strong> “humanização-maquiagem”e que se contrapõe à “humanização-princípio”.A humanizaçãocomo princípio ético, sob o aspecto<strong>da</strong> atitude pertinente às práticas emsaúde, carece do aprofun<strong>da</strong>mento <strong>da</strong>squestões quanto à saúde e àenfermi<strong>da</strong>de, articulando-as em seusdeterminantes históricos. Já a“humanização-maquiagem” propõeapenas soluções superficiais àsmazelas que o setor Saúde vempassando devido aos péssimospolíticos na área, o que implica emmá formação profissional e em máquali<strong>da</strong>de dos serviços.Pode-se então afirmar que oconceito de humanização é articuladoàs políticas de saúde, ao modo peloqual se concebe quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>,saúde e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. É a partir dessaarticulação que se pode pensar aconstrução de uma prática humaniza<strong>da</strong>.É bem ver<strong>da</strong>de que acrescente deterioração do setorpúblico de saúde produz oindividualismo entre os membros <strong>da</strong>sequipes; nos serviços, o eternoadiamento <strong>da</strong>s resoluções dosproblemas e um profundo desânimonos profissionais. Não se nega que hámovimentos de mu<strong>da</strong>nças, mas há dese ter sempre em pauta as questõesem seu aspecto macro.O individualismo suscita questõese atitudes que dificultam a produçãode um fazer comprometido commu<strong>da</strong>nças. O individualismo,tentativa de ca<strong>da</strong> um buscar soluçõesindividuais aos problemas que afetama equipe de cui<strong>da</strong>dos, produzdificul<strong>da</strong>des para que o trabalho serealize em grupo. Produz, ain<strong>da</strong>, afalta de soli<strong>da</strong>rie<strong>da</strong>de com o usuáriodo serviço, angústia e competiçãoexacerba<strong>da</strong>, dificultando to<strong>da</strong> equalquer possibili<strong>da</strong>de de seestabelecer atitudes e vínculossolidários. Qualquer prática deresistência a essas dificul<strong>da</strong>des deveráser pauta<strong>da</strong> em princípios quepriorizem o trabalho em equipe e aprodução de subjetivi<strong>da</strong>de.Trabalho em equipe nessespreceitos, define-se como o encontroentre vários atores que serão tambémautores de um projeto que tenhaobjetivos claros e em que o conceitode saúde e doença seja articulado aosseus determinantes. A conceitualizaçãode instituição deverácontemplar com clareza as diretrizese um planejamento vinculado aocoletivo e com proposições derealização de ações integra<strong>da</strong>s.Uma prestação de serviços emsaúde comprometi<strong>da</strong> com ahumanização transcende questõesrelaciona<strong>da</strong>s apenas à expressão desorrisos, alegria e “aceitaçãoincondicional do paciente”. Otrabalho comprometido com ahumanização só terá razão e sentidose, em sua existência, trouxer a marca<strong>da</strong> resistência a to<strong>da</strong> política de saúdeque anula os direitos do ci<strong>da</strong>dão, sejaele o cui<strong>da</strong>dor ou o que necessita decui<strong>da</strong>dos. A possibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>circulação de afetos entre os membros<strong>da</strong> equipe proporcionará a resistênciaao isolamento, promoverá aexpressão <strong>da</strong> subjetivi<strong>da</strong>de e conseqüentemente,a busca constante denovas formas de produzir ação ereflexão dessa ação, motor <strong>da</strong>smu<strong>da</strong>nças.Uma assistência humaniza<strong>da</strong> temsua razão e sentido nas mu<strong>da</strong>nças derelação de poder, seja na instituição,64Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○seja no encontro entre cui<strong>da</strong>dores equem é cui<strong>da</strong>do. Tem sua razão esentido se estiver pauta<strong>da</strong> natransdisciplinari<strong>da</strong>de, em que todosserão responsáveis pelo projeto detrabalho e pela construção <strong>da</strong>s ações.Dessa forma, a singulari<strong>da</strong>de de ca<strong>da</strong>sujeito será reconheci<strong>da</strong> por meio doseu lugar ativo, onde ca<strong>da</strong> voz, comonum coral, possui sua ver<strong>da</strong>de.A razão e o sentido de umaintervenção humaniza<strong>da</strong> trarão emseu cerne uma nova visão deinstituição de cui<strong>da</strong>dos. Sua definiçãoserá a de um espaço de convivênciaque acolhe, cui<strong>da</strong> e possibilita autilização de diversos recursos,enfatizando um projeto de invençãosocial e não se focalizando na doença.O ser humano não nasce quandoadoece. Para o profissional de saúde,certamente saber o caminhopercorrido pela doença tem seu valor.No entanto, o valor do trabalho dequem cui<strong>da</strong> está na possibili<strong>da</strong>de deestabelecer um encontro com quem oprocura. Encontro esse marcado nãoapenas pelo sofrimento <strong>da</strong> irrupção <strong>da</strong>doença, mas pelas vicissitudes dosujeito no seu percurso em busca <strong>da</strong>saúde, do respeito e <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. Ocorpo biológico só poderá sersignificado como corpo psíquico eisso difere o ser humano radicalmentedos outros animais.Projeto UNI-Natal: uma experiênciaintegra<strong>da</strong> de humanizaçãoMuitas experiências têm sidorealiza<strong>da</strong>s tendo a humanização comoprincípio norteador na atenção aousuário em serviços de saúde. Dentreelas pode se destacar algumasrealiza<strong>da</strong>s pelo Projeto UNI-Natal (UmaNova Iniciativa dos Profissionais deSaúde: em união com a comuni<strong>da</strong>de).(Projeto UNI-Natal, 2002).O Projeto UNI-Natal é umainiciativa no campo <strong>da</strong> formação deprofissionais de saúde, pensa<strong>da</strong> econstruí<strong>da</strong> em união com acomuni<strong>da</strong>de. Teve início em 1995,desenvolvendo suas ações nos bairrosde Ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Esperança, Ci<strong>da</strong>deNova, Felipe Camarão, Guarapes eBom Pastor, localizados na regiãooeste de Natal, uma <strong>da</strong>s quatro regiõesadministrativas <strong>da</strong> capital do RioGrande do Norte, alcançando umapopulação estima<strong>da</strong> em 200.000habitantes. Sua missão se resume emtrês aspectos: construir mu<strong>da</strong>nças nomodelo de assistência e na práticaprofissional na Secretaria de SaúdePública do Estado do Rio Grande doNorte (SESAP/RN) e na SecretariaMunicipal de Saúde de Natal, efetivarmu<strong>da</strong>nças no ensino <strong>da</strong> saúde naUniversi<strong>da</strong>de Federal do Rio Grandedo Norte (UFRN) e promover odesenvolvimento comunitário para o“autocui<strong>da</strong>do” e o controle socialsobre os serviços e Políticas Públicasde Saúde.O UNI-Natal desenvolve umaprogramação em torno de alguns dosproblemas que comprometem aschances <strong>da</strong>s pessoas de viver, sedesenvolver e de alcançar quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong>, priorizando, assim, otrabalho com crianças e adolescentes.Essas iniciativas envolvem osseguintes parceiros: Universi<strong>da</strong>deFederal do Rio Grande do Norte,Secretaria de Saúde Pública do Estadodo Rio Grande do Norte, SecretariaMunicipal de Saúde de Natal (SMS-Natal), além de organizaçõescomunitárias e parceiros formais:Associação Comen<strong>da</strong>dor Luís <strong>da</strong>Câmara Cascudo, Conselho Comunitáriodo Bairro de Ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong>Esperança, Fun<strong>da</strong>ção Fé e Alegria, eMovimento Nacional dos Meninos eMeninas de Rua.Os problemas foram selecionadospor bairro, buscando contribuir noenfrentamento dos mais gravesindicadores de saúde identificados emca<strong>da</strong> área: mortali<strong>da</strong>de infantil noBairro de Felipe Camarão; gravidez naadolescência em Ci<strong>da</strong>de Nova; altoíndice de cárie e doenças periodontaise o crônico problema de falta demedicamentos e <strong>da</strong> automedicaçãoem Ci<strong>da</strong>de <strong>da</strong> Esperança; adesumanização <strong>da</strong> assistência nauni<strong>da</strong>de de pediatria do hospitalestadual de referência em doençasinfecto-contagiosas, Hospital Gisel<strong>da</strong>Trigueiro (Quintas).Formação65


○ ○ ○ ○Na fase I (1995/1998), foramelaborados e implantados os subprojetosem quatro bairros <strong>da</strong> regiãooeste, com objetivo de experimentara mu<strong>da</strong>nça na lógica de organizarserviços de saúde – <strong>da</strong> deman<strong>da</strong>espontânea para a vigilância à saúde,definição de território, trabalho comproblemas, criação e redefinição deprotocolos de atenção e reorganizaçãode serviços. As experiências tambémbuscam a mu<strong>da</strong>nça no perfil <strong>da</strong>sprofissões de saúde e no modelo <strong>da</strong>prática multiprofissional no setor,como também o fortalecimento <strong>da</strong>ação comunitária para o autocui<strong>da</strong>doe controle social sobre serviços epolíticas do setor.Na fase II (1999/2002), ocorreu aelaboração coletiva <strong>da</strong> proposta deinovação no projeto políticope<strong>da</strong>gógicodo ensino <strong>da</strong> saúde naUFRN, com a parceria dos serviçosde saúde e <strong>da</strong> comuni<strong>da</strong>de. Osprocessos de mu<strong>da</strong>nça no ensino sematerializaram por meio de trêsgrandes iniciativas: o ProgramaEstruturante de Extensão UniversitáriaEducação, Saúde e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia(PESC), a Disciplina Saúde e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia(SACI), e o Projeto de Implantaçãodo Laboratório Multiprofissionalde Habili<strong>da</strong>des para oEnsino de Graduação <strong>da</strong> Saúde.Pela ação articula<strong>da</strong> dessasiniciativas, o Projeto UNI-Natalreuniu um corpo docente de formadoresde opinião e geradores de massacrítica que vem influenciando nosprocessos internos de mu<strong>da</strong>nças doscursos envolvidos. Ain<strong>da</strong> dentro <strong>da</strong>svelhas estruturas dos currículosantigos, o UNI-Natal promoveu eincentivou a abertura de novoscampos de prática, fora dos muros <strong>da</strong>universi<strong>da</strong>de, articulando a açãoensino-pesquisa e extensão universitáriade forma mais sintoniza<strong>da</strong> comas necessi<strong>da</strong>des <strong>da</strong>s populaçõessubmeti<strong>da</strong>s ao processo de exclusão,particularmente <strong>da</strong> região oeste doNatal.O Projeto UNI-Natal, hoje, ocupaum lugar importante no cenário localcomo articulador e mobilizador derecursos de diversas naturezas, tendoassumido um papel de catalisar eescutar os distintos atores envolvidonos três seguimentos que o compõem:universi<strong>da</strong>de, serviços de saúde ecomuni<strong>da</strong>de. Essa ação vemproporcionando condições e criandoespaços comuns de discussão dedeman<strong>da</strong>s e interesses. Esse reconhecimentoé particularmente importante,já que as condições concretasque o Projeto enfrentou para odesenvolvimento de sua missão, cujocenário é o interior de instituições deforte tradição em organizaçõesverticais e “tecnoburocráticas”, alémde uma comuni<strong>da</strong>de com baixacapaci<strong>da</strong>de de reflexão sobre suacondição e, conseqüentemente, deintervenção sobre seus própriosproblemas.Nos dois primeiros anos <strong>da</strong> Fase Ido Projeto, houve necessi<strong>da</strong>de deinvestimentos na adequação deespaços físicos e aquisição deequipamentos e insumos para odesenvolvimento <strong>da</strong> proposta doPrograma UNI-Natal. Embora nãoestivesse aí o “novo” a que sepropunha, essa ação teve papelimportante, haja vista a inexistênciade espaços em condições físicas eestruturais adequa<strong>da</strong>s para o desenvolvimento<strong>da</strong>s ações e inovaçõespropostas, por exemplo: a garantia <strong>da</strong>scondições para o estágio de alunos <strong>da</strong>graduação nas uni<strong>da</strong>des de saúde(atenção básica). Ao mesmo tempo,era desencadeado um processo deidentificação e mobilização de atorese lideranças com perfil e vontade deconstruir os princípios desenhadospelo movimento <strong>da</strong> reforma sanitária,que passa pela construção efortalecimento do Sistema Único deSaúde (SUS). Nesse processo defortalecimento, o Programa UNI temcontribuído, dentre outras coisas, nadiscussão para a proposição dePolíticas de Recursos Humanos parao SUS (Brasil) e de formação em saúde(América Latina).O Projeto UNI-Natal promoveuum esforço e realizou investimentossignificativos na formação de quadrose lideranças, buscando uma66Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○qualificação não só técnica, mastambém social, política e humana,contextualiza<strong>da</strong> e sintoniza<strong>da</strong> com areali<strong>da</strong>de local e global. Essesinvestimentos contribuíram para odesenvolvimento de conhecimentos ehabili<strong>da</strong>de nos campos gerencial,técnico, pe<strong>da</strong>gógico e social,ampliando a autonomia no “saberfazer”, aumentando a autoconfiançae segurança <strong>da</strong>s pessoas em colocarse,credenciando-as a participar dosprocessos de mu<strong>da</strong>nças e, conseqüentemente,influenciando sobrepolíticas e processos locais, assimcomo, em redes de âmbito nacional einternacional. Esse trabalho teminfluenciado na reconstrução de umaintersubjetivi<strong>da</strong>de dos gruposenvolvidos com essas experiências,com grande potencial para aconstrução de novas identi<strong>da</strong>des comotambém no processo de mu<strong>da</strong>nça nomodelo de atenção, de recontextualizaçãodos papéis e <strong>da</strong> diversificaçãodo rol de competênciasprofissionais, deman<strong>da</strong><strong>da</strong>s pelastransformações e regulações noprocesso de trabalho <strong>da</strong> saúde.A mobilização de pessoas para umaação coletiva e a busca permanentede acordos foram uma opção decondução para o trabalho, tendo comopremissa o reconhecimento dosespaços de “micropoderes” existentesnas instituições, buscou-se a superação<strong>da</strong> fragmentação, do conformismo,<strong>da</strong> dependência, <strong>da</strong>passivi<strong>da</strong>de e <strong>da</strong> submissão nas açõese relações existentes. Essa ação temcomo conseqüência a otimização dopotencial de ca<strong>da</strong> pessoa empromover mu<strong>da</strong>nças nos modos deconceber, conhecer, saber, pensar efazer ação de saúde, com vistas àconquista de maior cobertura,quali<strong>da</strong>de e resolutivi<strong>da</strong>de.As ações e subprojetos desenvolvidospelo UNI-Natal e parceirosestão organizados a partir de trêsgrandes linhas de atuação, que,embora centra<strong>da</strong>s em um doscomponentes – universi<strong>da</strong>de, serviçosde saúde ou comuni<strong>da</strong>de –, têm sedesenvolvido de forma integra<strong>da</strong>articulando no planejamento e naação, pessoas dos demais componentes.São elas: desenvolvimentode novos modelos de atenção integralà saúde na SMS e SESAP; desenvolvimentode experiências inovadorasde ensino e apoio aos processosde implantação de projetos políticope<strong>da</strong>gógicosnos cursos de saúde naUFRN; organização e ação comunitáriapara a quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong> e ocontrole social sobre serviços ePolíticas de Saúde.Os projetos <strong>da</strong> academia têm comoespaço de realização os serviços desaúde e a comuni<strong>da</strong>de. As experiênciasorigina<strong>da</strong>s nos serviços, além<strong>da</strong> reorganização e humanização docui<strong>da</strong>do são campos de prática paraalunos de graduação e de pesquisa depós-graduação. As experiências <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de têm contado com apoiotécnico-operacional dos demaiscomponentes, ao mesmo tempo emque esta participa e apóia a disciplinaSaúde e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia, bem comoativi<strong>da</strong>des e eventos promovidoscoletivamente. Ao mesmo tempo, oUNI-Natal também estabeleceu comoestratégia a participação nos espaçosde discussão de decisão de políticasde saúde e educação, nos níveiscentrais <strong>da</strong> administração dosparceiros institucionais, com vistas aapresentar e disponibilizar experiênciase tecnologias para osrespectivos gestores como alternativaspara solução de alguns dos problemaspor eles enfrentados.Junto à Secretaria Municipal deSaúde, o UNI-Natal tem participado<strong>da</strong>s discussões e encontros preparatóriospara a definição <strong>da</strong>s basespara uma política de atenção integralna ci<strong>da</strong>de de Natal, no que se refereaos processos e políticas em áreasespecíficas, tais como: Saúde Bucal,Saúde <strong>da</strong> Criança, do Adolescente e<strong>da</strong> Mulher, Fitoterapia, humanizaçãodo processo de trabalho na atenção eno cui<strong>da</strong>do à saúde, e na articulaçãosaúde e ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Na UFRN, cuja estratégia deinstitucionalização tem ganho vultopela extensão universitária, o UNI-Natal, por meio do ProgramaFormação67


○ ○ ○ ○Estruturante de Extensão Educação,Saúde e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>da</strong> DisciplinaSaúde e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia , tem participado<strong>da</strong>s discussões e contribuído para <strong>da</strong>rcorpo ao projeto <strong>da</strong> UFRN deimplementação de um Programa deAção Curricular em Comuni<strong>da</strong>de, queintegra a extensão universitária,ensino e pesquisa, constituindo-se emum dos “espaços-laboratório” deconstrução <strong>da</strong> proposta.Um outro movimento importantena academia foi a participação noprojeto de implantação do LaboratórioMultiprofissional de Habili<strong>da</strong>despara o Ensino de Alunos deGraduação <strong>da</strong> Saúde, aprovado peloMinistério <strong>da</strong> Educação. Esse processofortaleceu os movimentos deconstrução de projetos políticope<strong>da</strong>gógicosorientados para oprocesso de implantação <strong>da</strong>s novasDiretrizes Curriculares Nacionaispara os de graduação, em particularpara os cursos de Enfermagem eMedicina, cujos projetos já foramaprovados e implantados. Observa-setambém um impacto positivo sobre asdiscussões dos projetos dos Cursos deNutrição, Fisioterapia e Farmácia,que se encontram em fase deelaboração.Junto à comuni<strong>da</strong>de, o ProjetoUNI-Natal tem participado e apoiado,técnica e estruturalmente, aimplantação do Fórum Comunitáriode Promoção de Saúde pelaQuali<strong>da</strong>de de Vi<strong>da</strong> em FelipeCamarão, como também a articulaçãode uma rede local de comuni<strong>da</strong>des,envolvendo todos os bairros, com aintenção de uma maior troca deexperiências e busca de identi<strong>da</strong>desque fortaleçam a organização e a açãocomunitária, o que vem se <strong>da</strong>ndo apartir do Projeto Comuni<strong>da</strong>deInteragindo em Rede.Essas duas iniciativas ganhamrelevo por serem iniciativascomunitárias aglutinadoras de muitaspessoas, e que estão <strong>da</strong>ndo aocomponente comuni<strong>da</strong>de uma maiordirecionali<strong>da</strong>de para o aumento <strong>da</strong>autonomia e <strong>da</strong> capaci<strong>da</strong>de deintervenção, ao promover nacomuni<strong>da</strong>de um importante debatesobre a constituição de redes sociaispara a conquista <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.Trata-se, portanto, de dois projetosestruturantes para o componente quejuntamente com as experiências doProjeto Saúde no Ar e o Projeto deReciclagem de Papel e Ci<strong>da</strong><strong>da</strong>niacompõem o leque de espaços deconstituição de sujeitos na comuni<strong>da</strong>de,fomentando a produção deconhecimentos e o desenvolvimentode habili<strong>da</strong>des e competências nasáreas de gestão social, comunicaçãoalternativa e alterativa, participaçãoe protagonismo para a conquista <strong>da</strong>ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>de de vi<strong>da</strong>.O Projeto UNI-Natal vive hoje ummomento em que a maioria <strong>da</strong>sexperiências e projetos desenvolvidosencontra-se em processo de institucionalização.Enten<strong>da</strong>-se porprocesso de institucionalização, noUNI-Natal, o desenvolvimento ecapitalização do ideário do ProgramaUNI e dos conhecimentos gerados apartir <strong>da</strong>s experiências locais, nasdiversas dimensões e espaços individuaise coletivos, humanos, políticos,sociais e organizativos. Emboraconsistente, esse processo não élinear, pois acontece com ritmosdiferentes, tempos diferentes e deformas distintas em ca<strong>da</strong> componente.Institucionalizar compreende não sóportarias e decretos, mas umamu<strong>da</strong>nça de postura e atitude <strong>da</strong>sinstituições, grupos e pessoas.O Projeto Redução <strong>da</strong> Mortali<strong>da</strong>dee Desenvolvimento em FelipeCamarão apresentou como produtose resultados alcançados: redução <strong>da</strong>mortali<strong>da</strong>de infantil na área deatuação do subprojeto, de 34 por milnascidos vivos, em 1996, para 16 pormil nascidos vivos em 1999, sendomantido este índice nos anos de 2000e 2001; desenvolvimento e implantaçãode protocolo paraaplicação <strong>da</strong> Terapia de ReidrataçãoOral (TRO), como atenção à criançacom sintoma de diarréia ou desidratação,que, inclusive, já está sendoaplicado em mais de 30% <strong>da</strong>sUni<strong>da</strong>des de Saúde do Distrito68Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Sanitário Oeste; implantação dePrograma de Formação de Multiplicadores– permanente; construçãocoletiva, implantação e desenvolvimentode Protocolo de Acolhimento;institucionalização no campode estágio, na atenção básica, paraalunos de Medicina, Enfermagem,Fisioterapia e Odontologia no atendimentoambulatorial e domiciliar(PSF); implantação do Evento Sentinelapara to<strong>da</strong>s as mortes de menoresde 1 ano (realizado por alunos docurso de Medicina); consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>garantia do atendimento para to<strong>da</strong>s ascrianças que procurarem a uni<strong>da</strong>decom sintoma de infecção respiratóriaagu<strong>da</strong>, diarréia e desnutrição infantil;consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> parceria com osprojetos Pró-Natal e Midwifery queatuam na uni<strong>da</strong>de materno-infantil <strong>da</strong>Uni<strong>da</strong>de Mista de Saúde; participaçãona conquista do Prêmio HospitalAmigo <strong>da</strong> Criança conferido peloFundo <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para aInfância (UNICEF) para a Uni<strong>da</strong>deMaterno-Infantil do bairro de FelipeCamarão.É importante citar ain<strong>da</strong> osprodutos do Projeto Afetivi<strong>da</strong>de,Sexuali<strong>da</strong>de e Regulação <strong>da</strong> Gravidezna Adolescência: redução <strong>da</strong> gravidezentre adolescente de 25,8%, em1998, para 22,5%, em 2001, do totalde partos entre mulheres do bairro;implantação e institucionalização doprograma de Natali<strong>da</strong>de Planeja<strong>da</strong>,com base na concepção de afetivi<strong>da</strong>de,sexuali<strong>da</strong>de e regulação <strong>da</strong> gravidezna adolescência; convite aosadolescentes para participarem naorganização e planejamento do IIEncontro Potiguar de Adolescentes,ocorrido em 2000; campo de pesquisae estágio para alunos do curso deespecialização em Educação Sexualpromovido pelo FUNUAP/SSAP/UFRN; formação e institucionalizaçãode grupos de auto-aju<strong>da</strong> e demultiplicadores juvenis para astemáticas <strong>da</strong> afetivi<strong>da</strong>de e sexuali<strong>da</strong>dena Uni<strong>da</strong>de de Saúde de Ci<strong>da</strong>de Nova;construção coletiva de protocolos deacolhimento e humanização dosserviços; sensibilização e reconhecimento,por parte do nível Central<strong>da</strong> SMS para a institucionalização dotrabalho com grupos de adolescentes;garantia do atendimento (clínico eodontológico) para os adolescentesinseridos no Programa; tendência demu<strong>da</strong>nça na porta de entra<strong>da</strong> dosistema de saúde e na forma decaptação <strong>da</strong> clientela; desenvolvimentodo protagonismo juvenil e <strong>da</strong>snovas lideranças jovens.Por fim, na tentativa de construirexperiências humaniza<strong>da</strong>s na atençãoà saúde, vale a pena referir-se aoProjeto Sorriso de Criança, umareferência em humanização paraoutros serviços de pediatria domunicípio e ponto de parti<strong>da</strong> para alei estadual que regulamenta o direitoao acompanhante para crianças eadolescentes hospitalizados. Esseprojeto tem como objetivos prestaruma assistência humaniza<strong>da</strong> à criançae ao adolescente hospitalizado,percebendo o paciente e a família demodo integrado; acolher o sofrimentohumano no momento <strong>da</strong> hospitalização;garantir a aplicação doEstatuto <strong>da</strong> Criança e do Adolescente(artigo 12, capítulo. 1, Dos DireitosFun<strong>da</strong>mentais – quanto ao acompanhamentofamiliar durante ahospitalização); construir umprotocolo de humanização para acriança hospitaliza<strong>da</strong> considerando asnecessi<strong>da</strong>des particulares <strong>da</strong> infânciae <strong>da</strong> adolescência, assim como asexpressões emocionais do acompanhantedurante a hospitalização;instituir espaços de socialização deinformações sobre as doenças, asterapêuticas utiliza<strong>da</strong>s e o seuprognóstico, bem como os direitos edeveres dos pacientes e acompanhantes– Grupo Informativo eLugar <strong>da</strong> Palavra – com vistas apromover uma participação ativa doacompanhante no processo derecuperação <strong>da</strong> saúde <strong>da</strong> criançahospitaliza<strong>da</strong>; utilizar o “brincar”como terapêutica auxiliar, possibilitandoao paciente a elaboração desua condição no hospital e conseqüentemente,uma atitude mais ativano processo de hospitalização;contribuir para a elaboração deprotocolos de intervenção e atri-Formação69


○ ○ ○ ○buições, dos membros <strong>da</strong> equipe,quanto ao acolhimento, orientação,informação e resolução de conflitos,frente à rotina de estresse aos quaisestão submetidos os membros <strong>da</strong>equipe, pacientes e acompanhantes.Dentre os resultados obtidos,destacam-se a atuação como campo deestágio para alunos de diversos cursos<strong>da</strong> área de Saúde como Enfermagem,Medicina e Odontologia, e tambémpara brinquedistas de outras instituiçõeshospitalares; as mu<strong>da</strong>nças noperfil <strong>da</strong>s profissões de saúde e naorganização do trabalho hospitalar emdireção à uma assistência maishumaniza<strong>da</strong>, com maior respeito emrelação aos direitos dos usuários dosserviços de saúde; a construçãocoletiva de protocolos que promovamcui<strong>da</strong>dos integrais à criança, fazendocom que o paciente seja visto erespeitado como um sujeito integradoem seus aspectos físicos, psíquicos eculturais, e não mais como umapatologia; o desenvolvimento de protocolosde humanização do “brincar”e sua função terapeutizante para ascrianças no momento <strong>da</strong> hospitalização,com impacto positivo sobre adepressão durante o período hospitalare diminuindo o tempo derecuperação; e, por fim, a construçãode novos aportes teórico-conceituaise produção de conhecimentos na área<strong>da</strong> Atenção Hospitalar Humaniza<strong>da</strong>,considerando uma prática interdisciplinare multiprofissional.A formação profissional: movimentopermanente de mu<strong>da</strong>nças no contexto dehumanização <strong>da</strong> atenção à saúdeO pensamento racional na atualcultura está alicerçado em Descartes,em que a máxima “Penso, logo existo”explica, na cultura ocidental, adivisão entre espírito e matéria e aconcepção do universo como umsistema mecânico,no qual, em geral,os organismos vivos são consideradosmáquinas forma<strong>da</strong>s por peçassepara<strong>da</strong>s. Essa concepção cartesianaestá na base <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s ciências,<strong>da</strong> fragmentação <strong>da</strong>s disciplinasacadêmicas e enti<strong>da</strong>des governamentaise no tratamento prestado aomeio ambiente natural.A concepção de que os organismosvivos são considerados máquinasforma<strong>da</strong>s por peças separa<strong>da</strong>s temefeitos muito <strong>da</strong>nosos ao sujeitohumano. Como ele poderá fazer seusencontros na vi<strong>da</strong>, se não houverpossibili<strong>da</strong>des de ver-se e ser vistocomo um todo? Como enfrentar osmales <strong>da</strong> civilização atual e criarmodos de sobrevivência física epsíquica? Bruno Bettelheim (1985,p. 10), a esse respeito, comenta:“Para realizar tal proeza, não sepode mais manter separados o coraçãoe a razão. O trabalho e a arte, comoa família e a socie<strong>da</strong>de, não podemmais desenvolver-se à distância um dooutro. O coração destemido precisainvadir a razão com seu calor vital,ain<strong>da</strong> que a simetria <strong>da</strong> razão devaceder lugar para admitir o amor e apulsação <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>. Não mais podemoscontentar-nos com uma vi<strong>da</strong> onde ocoração tem suas razões, que a razãodesconhece. Nossos coraçõesprecisam conhecer o mundo <strong>da</strong> razão,e a razão tem de ser orienta<strong>da</strong> por umcoração informado”.É possível que razão e coraçãojuntos possam produzir um novoolhar e pensar sobre as questões quesão coloca<strong>da</strong>s com muita insistênciae diariamente a respeito <strong>da</strong> prestaçãodos serviços na área <strong>da</strong> Saúde.Luís David Castiel (1994, p. 12)tece comentários sobre o título do seulivro “O buraco e o avestruz – Asingulari<strong>da</strong>de do adoecer humano”, notocante à metáfora do buraco como:“[...] referente a um comportamentoatribuído às avesestrutioniformes de ‘escapar’ deameaças/dificul<strong>da</strong>des/problemas,lançando mão de (ou, melhor, acabeça) de mecanismos psicológicosdenegatórios. Ou seja, aodepararem com situações incômo<strong>da</strong>s,enfiariam a cabeça em umburaco (feito na areia), como seassim a fonte problemáticadeixasse de produzir seus efeitos.”Desse modo, ele fornece subsídiospara se pensar nessa metáfora com afunção de explicitar formas usuais deevitar a confrontação e o encontro70Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○com situações de grande sofrimentono âmbito profissional. Situações que,ao menos pelos que preferem ospercalços <strong>da</strong>s incertezas ao sossego<strong>da</strong>s falsas certezas, sabe-se que sãoproduzi<strong>da</strong>s historicamente. A produçãocientífica, sob esse ângulo, estávincula<strong>da</strong> a interesses de grupos e deparadigmas. Nesse sentido, a metáforado “buraco” cita<strong>da</strong> anteriormente,pode constituir-se comoum momento de encontro com outraspossibili<strong>da</strong>des para além <strong>da</strong>quelaspré-determina<strong>da</strong>s pelo que se procura.É o que se pode chamar de elementosurpresa <strong>da</strong> pesquisa, quando se estáaberto a outras descobertas para alémdo que se espera encontrar. Issopressupõe um modelo de formaçãopermanente, comprometido com aquali<strong>da</strong>de do conhecimento para aintervenção a que se propõe evinculado ao exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia.Pedro Demo (1996, p. 32),discutindo sobre Educação eConhecimento, escreve:“Os traços principais <strong>da</strong>competência moderna ultrapassammarcantemente a posição passivae repetitiva de gente apenastreina<strong>da</strong>. Pesquisa, por ser métodode questionamento crítico ecriativo, também é princípioeducativo, porque é parte integrantedo processo emancipatório.Não copiar propostas alheias, masconstruir e reconstruir as próprias,com habili<strong>da</strong>de individual ecoletiva, é marca central <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de de participar ativamente<strong>da</strong> inovação e <strong>da</strong> humanização<strong>da</strong> história. A reconstrução<strong>da</strong> própria experiência, alémde fomentar a pertinência cultural,transforma o fazer em saber fazer.Inovar supõe estar à frente <strong>da</strong>história, pela via <strong>da</strong> atualizaçãopermanente.”Formação profissional seria, assim,um caminho trilhado continuamentee não apenas um momento inseridono tempo acadêmico. O profissionalnunca estará num momento decompletude. Supondo-se que oconhecimento é sempre acrescido denovos saberes, a formação será ummovimento permanente, não podendoconstituir-se como algo acabado ecompleto. Dentro desse princípio, aformação profissional será então umcaminho a ser trilhado por to<strong>da</strong> avi<strong>da</strong>.Parece haver sentido em concebera formação profissional como umpercurso a ser sempre construído ecomo algo inacabado. A socie<strong>da</strong>depassa por constantes mu<strong>da</strong>nças,mu<strong>da</strong>nças essas que interferem emarranjos e rearranjos de sobrevivênciafísica e psíquica dos sujeitos nelainseridos. O lugar ocupado por umapessoa será quase sempre demarcadoem função de relações de alteri<strong>da</strong>de,mediante hábitos e costumes locais,regras jurídicas, valores culturais,tradições familiares, além de outrasquestões. Portanto, não há fim. Hásempre começo e recomeço.Nesse sentido, Pedro Demo (id.,p. 53), escrevendo sobre a felici<strong>da</strong>dee a lógica <strong>da</strong> flor, parece vir emauxílio esclarecedor à idéia exposta:“A felici<strong>da</strong>de tem a lógica <strong>da</strong> flor:não há como separar sua beleza <strong>da</strong>fragili<strong>da</strong>de e do fenecimento.Entretanto o fenecimento não éapenas a destruição de sua beleza,mas condição de recomeço. Assim,deve-se aceitar que a flor é bonitaporque fenece. Flor que fica sempreé de papel, artificial. É cópia. A florviva vive a contrarie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>:desgasta-se, passa. A seguir, brota denovo. A felici<strong>da</strong>de possui o frenesido desejo eterno na sua estrutura,mas realiza-se na passagem intensade um momento na sua história. Serfeliz é multiplicar momentosfelizes. Ou: saber deglutir a infelici<strong>da</strong>de,que é diária, para saborearmelhor a felici<strong>da</strong>de, sempre que forpossível. Felici<strong>da</strong>de, não se passa porela. É ela na passagem. A maiorinfelici<strong>da</strong>de é querer felici<strong>da</strong>detotal, to<strong>da</strong> hora. Todo amor acabatraído. Dói. Mas recomeça.”Uma formação profissional concebi<strong>da</strong>como acaba<strong>da</strong> pressupõe umconhecimento completo. A dor éFormação71


○ ○ ○ ○saber que todo saber é incompleto. Ador é saber que a incompletude é omotor do começo, ou do eternorecomeço. Alguns preferem a ilusão<strong>da</strong> completude, outros suportam adimensão <strong>da</strong> falta, a dimensão dohumano.Parece então, ter-se avançado nasquestões suscita<strong>da</strong>s no início doartigo. Será que se tem privilegiadouma formação profissional permanente?Viu-se que, se assim for, aincompletude coloca-se como existentee, dessa forma, parece ser maisfácil estabelecer critérios mais humanosna assistência à saúde. Por quê?Se não há saber completo, se hásempre algo a ser reaprendido, épossível que dessa forma se possapensar em quem, ou a quem se estáprestando serviços em saúde. Épossível se pensar para que e comoestão se <strong>da</strong>ndo esses encontros. Sim,encontros, pois é na necessi<strong>da</strong>de decui<strong>da</strong>dos que surge a presença docui<strong>da</strong>dor.O enfoque técnico <strong>da</strong> saúde,resultante <strong>da</strong> concepção mecanicistados organismos vivos, não considerao potencial curativo do paciente. Acura vincula-se sempre a algumaintervenção externa. O corpo secoloca sem vinculação, é umaenti<strong>da</strong>de à parte, sem história, semdono e sem desejos. Não seconsideram os aspectos sociais epsíquicos <strong>da</strong> doença sofri<strong>da</strong> pelosujeito que busca cui<strong>da</strong>dos.Nesse aspecto, pode-se retomar aquestão <strong>da</strong> formação profissional,eixo temático dessa escrita. Naformação ocorre o mesmo processoque na assistência à saúde. A baseparece ser então a questão <strong>da</strong>educação. Joaquim Gonçalves Barbosa(1998, p. 7) escreve sobre a“pe<strong>da</strong>gogia <strong>da</strong> desautorização”, cujo“[...] eixo central tem sido anegação desde as primeiras sériesescolares, <strong>da</strong>quilo que é produzidopelo aluno no que se refere aopensar, ao sentir, ao imaginar, aodecidir, ao agir...em síntese,negação do processo de produçãodo aluno e, conseqüentemente,negação de seu processo deautoprodução.”Percebe-se assim, que há umadesvinculação, um esfacelamento noprocesso educacional. Barbosa (id.)ain<strong>da</strong> analisa que esse processo nãose dá apenas no âmbito escolar, esseprocesso é social:“A pessoa é a grande vítimadeste século. Consideramos emnossas análises o trabalhador, oconsumidor, o professor, o gerente,o funcionário...mas não a pessoapor trás desses papéis. Comoconseqüência imediata, não édifícil concluir o porque <strong>da</strong>falência <strong>da</strong> ética nas relações entreas pessoas, uma vez que a pessoainexiste enquanto categoria emnosso modo de pensar.”Nesse sentido, Joaquim GonçalvesBarbosa (id.) propõe uma“[...] educação para formaçãode autores ci<strong>da</strong>dãos. Autor nosentido de quem exerce suaci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia. A idéia de ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia érica, pois possibilita pensar osujeito contemporâneo numaperspectiva histórica (não háci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia fora <strong>da</strong> história); numaperspectiva geográfica (a mesma seinstitui numa geografia); numaperspectiva sociológica, poisci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia se constrói peranteoutrem; numa perspectivapsicanalítica, pois se trata deinstituir espaço para o inconsciente;e numa perspectivaecológica, no sentido <strong>da</strong> quali<strong>da</strong>dede vi<strong>da</strong> em sintonia e interaçãocom o meio ambiente em que vive,dentre outros.”Assim, o “autor-ci<strong>da</strong>dão” seriasujeito, autor e ator em sua obra quese revelaria de forma integra<strong>da</strong>, sejano público ou no privado. Parececolocar-se um momento ímpar parase pensar a formação profissional. Emconsonância com esses princípios, oque se espera então é que haja um“profissional-ci<strong>da</strong>dão”, formado parao exercício <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>da</strong>nia e implicadocom suas ações. Uma formação72Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○vincula<strong>da</strong> e pauta<strong>da</strong> nessa ética jamaisse furtará a encontros na vi<strong>da</strong> e assimsendo, sua atuação profissional seráradicalmente diferencia<strong>da</strong> do modelovigente.O modelo vigente na assistência àsaúde está vinculado, de acordo comas reflexões expostas, a aspectos <strong>da</strong>macropolítica. A crise não é só <strong>da</strong>saúde, mas dos paradigmas para sepensar as questões <strong>da</strong> contemporanei<strong>da</strong>de.Júlio César Silveira Gomes Pinto(1998, p. 121), relatando suaexperiência com alunos <strong>da</strong> área deSaúde, observa que há umadiscrepância entre os conhecimentosque se referem a técnicas para oestabelecimento de diagnóstico dedoenças e os conhecimentos relativosà vi<strong>da</strong> emocional dos pacientes. O quese ensina nos cursos <strong>da</strong> área de Saúde,sobretudo nos de Medicina, é ocontrole dos pacientes. As perguntasobjetivas <strong>da</strong>s anamneses e as decisõesrápi<strong>da</strong>s explicitam o domínio domédico sobre o paciente. Em suaanálise conclui: “A hipótese é a de queo atual mercado de trabalho, onde seexige atendimento em massa, rápido,corrido, sem tempo para ouvir aspessoas, está determinando de modoquase completo a formação nasfacul<strong>da</strong>des.”Nesse estudo, fica claro que aformação profissional tem valorizadoos conhecimentos a respeito doorganismo em detrimento aos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>psíquica e social <strong>da</strong> população. Eain<strong>da</strong>: “O método e o conteúdo doensino tradicional na área de Saúdedificulta ou impede a emergência <strong>da</strong>subjetivi<strong>da</strong>de dos assistidos e que,para tal efeito, é necessário, ao longodos anos de formação solapar asubjetivi<strong>da</strong>de do futuro profissional desaúde” (id., p. 123).Caminhou-se muito. Há ummaravilhoso desenvolvimento tecnológicoe, no entanto, questões antigasain<strong>da</strong> são suscita<strong>da</strong>s com estatuto denovi<strong>da</strong>de. O velho invade o novo semao menos se <strong>da</strong>r ao trabalho de vircom nova roupagem. Muitas vezes nãohá sequer o trabalho de disfarçar-secomo nova questão. A crise atual ésobretudo nas relações. O“desenvolvimento” tem se eximido deresponder a duas premissas cruciaispresentes a qualquer rumo que sequeira tomar: para que e para quem?Dessa maneira, é possível que sechegue a uma outra questão: como?Assim, há a promessa de instaurar-seuma marca histórica nas ações comoum todo em nosso País.Jurandir Freire Costa (1989),discutindo sobre as dificul<strong>da</strong>des queos profissionais de saúde encontramno seu dia-a-dia e sobre a capaci<strong>da</strong>dede criar que se impõe na superaçãodessas dificul<strong>da</strong>des, analisa que asteorias não devem ser usa<strong>da</strong>s comocamisas-de-força que impeçam osmovimentos criativos. Para ele, olugar <strong>da</strong>s teorias é o <strong>da</strong> reflexão sobreo fazer e um lugar privilegiado desuperação aos impasses de ca<strong>da</strong> dia.Diz ain<strong>da</strong>, que só se cria algo novoquando se corre o risco de por à provaos paradigmas científicos existentes.É necessário correr o risco dediscutir sem medo a prática que setem construído entre os profissionaisde saúde. O máximo que poderáacontecer será a construção de novasreferências e, mesmo que isso possaatordoar os que se apegam às certezas,parece ser menos <strong>da</strong>noso que aobediência cega.“Se o corpo humano é despe<strong>da</strong>çado,o homem está morto. Se aalma é despe<strong>da</strong>ça<strong>da</strong>, ele simplesmentese tornará mais obedientee na<strong>da</strong> mais” (SCHWARTZ apudCOSTA, 1989, p. 6).BibliografiaBARBOSA, Joaquim Gonçalves.Multirreferenciali<strong>da</strong>de na ciência e naeducação. São Carlos: EdUFSCar,1998.BETTELHEIM, Bruno. O coraçãoinformado: autonomia na era <strong>da</strong>massificação. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1985.Formação73


○ ○ ○ ○CASTIEL, Luís David. O buraco e oavestruz: a singulari<strong>da</strong>de do adoecerhumano. Campinas: Papirus, 1994.COSTA, Jurandir Freire. Psicanálisee contexto cultural: imagináriopsicanalítico, grupos e psicoterapias.Rio de Janeiro: Campus, 1989.DEMO, Pedro. Combate à pobreza:desenvolvimento como oportuni<strong>da</strong>de.Campinas: Autores Associados, 1996.ENGEL, Magali Gouveia. Os delírios<strong>da</strong> razão: médicos, loucos e hospícios(Rio de Janeiro, 1830-1930). Rio deJaneiro: FIOCRUZ, 2001.PINTO, Júlio César Silveira Gomes.Temas de saúde mental. Niterói:Muiraquitã, 1998.PROJETO UNI-NATAL. Relatórioanalítico <strong>da</strong> fase II- 1999 a 2002. Natal:UFRN/Projeto UNI, 2002. 74 p.SAFRA, Gilberto. Corpo e imagem:em busca <strong>da</strong> presença. In:COMPARATO, Maria CecíliaMazilli; MONTEIRO, Denise deSouza Feliciano. A criança nacontemporanei<strong>da</strong>de e a psicanálise:mentes & mídia: diálogos interdisciplinares.São Paulo: Casa doPsicólogo, 2001. p. 17-23.74Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○AnáliseRecursos humanos e qualificaçãoprofissional: impasses e possibili<strong>da</strong>desHuman resources and professionaltraining: impairments and possibilitiesGeraldo Biasoto JuniorDoutor em Economia – Universi<strong>da</strong>de Estadual de CampinasResumo: Na construção do Sistema Único de Saúde (SUS), a administração derecursos humanos e a qualificação profissional acabaram tendo priori<strong>da</strong>deniti<strong>da</strong>mente marginal. O desenvolvimento tardio <strong>da</strong> maioria <strong>da</strong>s secretarias deestado pode explicar parte desse comportamento. A Emen<strong>da</strong> Constitucional n.º29 e a Lei Complementar, que deverá regulamentá-la, abrem caminho parapolíticas no campo <strong>da</strong> gestão de recursos humanos.Palavras-chave: Financiamento <strong>da</strong> saúde; Recursos Humanos; QualificaçãoProfissional, Orçamento; Sistema Único de Saúde.Abstract: In the building up of the Unified Health System [Sistema Único deSaúde – SUS], human resources management and professional training were,notably, left aside the priorities. The late development of most State Secretariatsmay explain part of such behavior. The Constitutional Amendment n. º 29 andthe Complementary Law – which shall regulate the Amendment – open newpaths for policies in the field of human resources.Keywords: Health financing; Human Resources; Professional Training; Budget;Unified Health System [Sistema Único de Saúde].75


○ ○ ○ ○IntroduçãoO objetivo deste artigo éidentificar alguns dos elementos queafetaram as Políticas de RecursosHumanos e Formação Profissional,nos últimos anos. Mais que isso,apontar os impasses e as possibili<strong>da</strong>desabertas pelas novaspolíticas e formas de ação, além <strong>da</strong>salterações no ordenamento institucional,especialmente as deriva<strong>da</strong>s<strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> Constitucional n.º 29, queversou sobre a questão administrativano setor público.Importa identificar, de pronto, apequena relevância que o temarecursos humanos teve durante todoo período que antecedeu a formaçãodo Sistema Único de Saúde (SUS). Agestão de recursos humanos foi, emgeral, uma questão de menorrepercussão dentro do Sistema deSaúde brasileiro durante todo o seuperíodo de formação. A forma deatuação do Instituto Nacional deAssistência Médica <strong>da</strong> PrevidênciaSocial (INAMPS), basicamente umcomprador de serviços, explicagrande parte dessa posiçãosubalterna.O mesmo se aplicou à questão <strong>da</strong>qualificação profissional. A maiorparte do trabalho de qualificaçãoficou sob responsabili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>spróprias instituições hospitalares,tanto no que diz respeito ao nívelsuperior quanto ao nível técnico ebásico. De forma complementar,quase ocasional, diversos estados emunicípios mantinham aparelhosformadores próprios, sempre limitadosà qualificação de nível médio ebásico.Algumas iniciativas de vulto comoo Programa de Preparação Estratégicapara Pessoal de Saúde (PPREPS) e oProjeto Larga Escala tiveram lugarain<strong>da</strong> antes <strong>da</strong> Constituição de 1988,mas, de nosso ponto de vista,reforçam as teses expostas, querecursos humanos e a qualificaçãoprofissional jamais desfrutaram demaior relevância para os gestores desaúde e de educação.Características gerais do novo sistemade saúde e reflexos sobre a política decapacitaçãoA Constituição de 1988 deveriareverter de forma completa essequadro. Os formuladores <strong>da</strong> reformasanitária apostavam num modelo deacesso universal e gratuito <strong>da</strong>população ao Sistema de Saúde. Alémdo mais, este sistema seria gerido pelopoder público e o serviço seriaofertado por instituições e enti<strong>da</strong>desde caráter estatal ou assemelha<strong>da</strong>s.Em princípio, a criação do SistemaÚnico de Saúde pela Carta Constitucional,veio <strong>da</strong>r contornoscompletamente novos ao velhoINAMPS, na medi<strong>da</strong> em que passoua prever, na forma do artigo 198, queas ações e os serviços públicos desaúde integrassem uma rede regionaliza<strong>da</strong>e hierarquiza<strong>da</strong>, masconstituindo um sistema único,descentralizado, com direção unitáriaem ca<strong>da</strong> esfera de governo. Noentanto, no artigo imediatamenteposterior, a Constituição reabriuto<strong>da</strong>s as condições para que ainiciativa priva<strong>da</strong> continuasse afornecer serviços de assistênciamédica ao setor público, ao disporque as instituições priva<strong>da</strong>s poderiamparticipar de forma complementar dosistema, mediante contrato de direitopúblico ou convênio.Embora to<strong>da</strong> a relação entre asaúde e o ci<strong>da</strong>dão tenha sido repostaa outros marcos pela Constituição de1988, a relação entre os prestadoresprivados de serviços e o contratanteestatal apenas mudou de endereço, donível central para os níveis subnacionais.Evidentemente, a representativi<strong>da</strong>depolítica dos segmentosprivados no Congresso Constituintedeterminou a solução de compromissoque conformou o SUS como umsistema híbrido, em que convivemagentes públicos e privados. Valenotar que um subsegmento do sistemaprivado tem grande importância, asenti<strong>da</strong>des filantrópicas, nota<strong>da</strong>menteas Santas Casas de Misericórdia.A Lei n.º 8.080, em seus artigos15 a 19, deu substância ao formatoFormação77


○ ○ ○ ○descentralizado do Sistema de Saúdeque a Constituição apenas enunciara.Ela definiu as funções comuns e asespecíficas a ca<strong>da</strong> esfera de governoe reforçou a ênfase no caráter deexecução dos municípios e planejamentopor parte dos estados. Nuncaé demais enfatizar que a Lei n.º 8.080significou um marco dentro doprocesso de descentralização doestado brasileiro, especialmente porseu enfoque em estruturas regionaisde gestão, organiza<strong>da</strong>s de formahierarquiza<strong>da</strong>.A prática, como não poderia deixarde ser, demonstrou que a montagemde um sistema nacional de saúde émuito mais intrinca<strong>da</strong> que aformulação e expressão em lei de umaconcepção de gestão. A intensa heterogenei<strong>da</strong>deentre as distintas uni<strong>da</strong>desfedera<strong>da</strong>s e as diferentes correlaçõesde força entre as áreas de Saúde e asinstâncias de poder, em ca<strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de,produziram uma ampla gama desituações e resultados <strong>da</strong>s políticas eprocessos de descentralização.Por uma série de razões, a descentralização<strong>da</strong> execução e <strong>da</strong> gestão<strong>da</strong> saúde foram realiza<strong>da</strong>s por meiode uma ligação direta entre a União,representa<strong>da</strong> pelo Ministério <strong>da</strong>Saúde e os municípios. De um lado,pelo interesse de muitos municípiosem assumir rapi<strong>da</strong>mente as funçõesde saúde em seu espaço. De outro, amaioria dos governos estaduaisdemonstrou grande dificul<strong>da</strong>de emacompanhar a veloci<strong>da</strong>de do processo,ou mesmo se situar frente aosmecanismos institucionais <strong>da</strong>descentralização.As Normas Operacionais Básicas(NOBs) deram os parâmetrosessenciais para esse processo dedescentralização. Em 1991, 1993 e1996, o Ministério <strong>da</strong> Saúde promoveuo direcionamento desseprocesso, por meio desse conjunto deportarias ministeriais que, ao lado <strong>da</strong>extinção do INAMPS, alteraramcompletamente a gestão do conjunto<strong>da</strong>s ações de Saúde Pública. Evidentemente,uma descentralização dovulto <strong>da</strong> brasileira teria que se fazernum curso extenso de tempo. Masapenas a partir <strong>da</strong> NOB de 1996, oprocesso de descentralização chegoude forma efetiva à gestão dos sistemasde saúde municipais.A posição dos gestores dentro doprocesso de descentralizaçãoO ponto que vale destacar em todoesse processo é o papel reservado aoEstado e a efetivi<strong>da</strong>de do mesmo.Nenhum papel efetivamente especialfoi reservado ao Estado na gestão ouna capacitação de recursos humanos.Em seu artigo de número 15, a Lein.º 8.080 é explícita:“A União, os Estados, o DistritoFederal e os Municípios exercerão,em seu âmbito administrativo, asseguintes atribuições... IX -participação na formulação e naexecução <strong>da</strong> política de formaçãoe desenvolvimento de recursoshumanos para a saúde; participaçãona formulação e naexecução <strong>da</strong> política de formaçãoe desenvolvimento de recursoshumanos para a saúde.”Ou seja, a atribuição indefini<strong>da</strong> nocampo dos recursos humanos foi atônica do processo de descentralização.É importante destacar que umelemento pertencente aos esforços decontrole <strong>da</strong>s finanças estaduais emunicipais acabou exercendo papelextremamente perverso nesse contexto.Esse elemento é a Lei Camata,cujos fun<strong>da</strong>mentos foram posteriormenteincorporados à Lei deResponsabili<strong>da</strong>de Fiscal. O problemaé que diversas administrações já seencontravam no limite dos 60% degastos com pessoal ain<strong>da</strong> em meados<strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 90, ain<strong>da</strong> antes deaflorarem mais densamente osproblemas derivados dos desequilíbrioscom os inativos e aposentadosdo serviço público. O resultadofoi que as administrações tiveramposturas extremamente conservadorasquanto aos gastos com pessoal, quese estenderam para todos os campos<strong>da</strong> gestão e capacitação de recursoshumanos. Em ver<strong>da</strong>de, em diversasáreas <strong>da</strong> administração, a ter-78Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○ceirização de serviços intensivos emmão-de-obra foi a saí<strong>da</strong> para situaçõesde absoluta inviabili<strong>da</strong>de frente àlegislação.A presença do setor privado naven<strong>da</strong> de serviços ao SUS resultounuma dinâmica ain<strong>da</strong> mais perversapor parte de diversos estados. Tendoem vista que o setor privado poderiaoferecer os serviços e diversas prefeiturasassumiam o desafio de ampliara capaci<strong>da</strong>de própria de atendimentoem saúde, os estadosreduziram seu papel, abdicando defunções que a estrutura do sistemalhes reservava. As ações de média ealta complexi<strong>da</strong>de tiveram comportamentoimpar. O grande interessepela rentabili<strong>da</strong>de e possibili<strong>da</strong>de dearbitragem de clientelas pelas enti<strong>da</strong>despriva<strong>da</strong>s, entre a prestação deserviços ao SUS, aos planos de saúdee mediante pagamento, acabaramfazendo o Estado abdicar dessas açõesa deixar o caminho livre para asenti<strong>da</strong>des priva<strong>da</strong>s com fins lucrativose as enti<strong>da</strong>des filantrópicas, nas quaiso lucro também foi um objetivo emvários casos, em que grupos privadosexploravam os equipamentos.Ao mesmo tempo em que asadministrações estaduais não tinhamgrande interesse em promover umaboa gestão de recursos humanos parao sistema, as administrações municipaislutavam com problemas deescala de suas ações em saúde. Alémdisso, com a carência de pessoalcapacitado, tanto na área públicaquanto na priva<strong>da</strong>, o nível de rotativi<strong>da</strong>depoderia ser muito alto,problematizando a execução de umaPolítica de Capacitação por ummunicípio. Tanto pela escala de suarede como por sua capaci<strong>da</strong>definanceira, o município de São Paulopoderia ser a exceção a esse processo.No entanto, justamente no caso deSão Paulo, os elementos aventadosanteriormente, propensão a privatizara prestação de serviços e a expectativade redução do comprometimento <strong>da</strong>administração com gastos de pessoal,levaram à desastra<strong>da</strong> experiência doPlano de Assistência Médica (PAS).As possibili<strong>da</strong>des abertas pela Emen<strong>da</strong>Constitucional nº 29A questão do financiamento <strong>da</strong>saúde apresentou-se em to<strong>da</strong> suadramatici<strong>da</strong>de na área de RecursosHumanos. Por um lado, a dificul<strong>da</strong>dede crescimento <strong>da</strong> fatia relativa àsaúde dentre o conjunto dos gastosestaduais, por outro, a expansão doquantitativo de inativos do setorSaúde, introduziram restriçõesadicionais à administração de recursoshumanos. Inclusive, com alimitação de gastos com pessoal paraas administrações públicas, impostapela Lei Camata, segui<strong>da</strong> pela Lei deResponsabili<strong>da</strong>de Fiscal. Em síntese,as condições para a expansão do gastopúblico com pessoal, durante os anos90, foram extremamente adversas.No campo <strong>da</strong>s administraçõesmunicipais, as condições foram bemmelhores em decorrência de duasespecifici<strong>da</strong>des. De um lado, osrecursos disponíveis, já contabiliza<strong>da</strong>sas transferências constitucionais,decorrentes de impostos, tiveram ocomportamento mais favorável deto<strong>da</strong>s as receitas públicas, em razãodo formato <strong>da</strong> reforma do sistematributário, realiza<strong>da</strong> pela Constituiçãode 1988. De outro, porque, nasadministrações municipais, sofrerammuito menos com o incremento <strong>da</strong>folha de inativos do que suas máquinasadministrativas e de prestaçãode serviços, pois eram de perfilmuito mais jovem, especialmente naárea <strong>da</strong> Saúde, em que a atuação <strong>da</strong>sadministrações municipais eraespecialmente limita<strong>da</strong>. Isso deucondições a um comportamentodiferenciado dos municípios, nota<strong>da</strong>menteas capitais e os pólosregionais de saúde.A Emen<strong>da</strong> nº 29 abre enormescondições para que seja redefinido opapel <strong>da</strong> gestão de recursos humanose <strong>da</strong> capacitação profissional noâmbito <strong>da</strong>s administrações estaduaise municipais. A Emen<strong>da</strong> vinculourecursos para a área <strong>da</strong> Saúde, tendocomo base a receita de impostos etransferências deriva<strong>da</strong>s de impostos,num conceito semelhante ao <strong>da</strong>Formação79


○ ○ ○ ○vinculação <strong>da</strong> educação. Para osestados, a vinculação, em 2004, seráde 12% <strong>da</strong> receita; para os municípios,será, no mesmo ano, de 15%.Justamente para não ensejar umproblema mais grave para as finançasdos estados e municípios, fixou-se umpiso de 7%, em 2000, para que, apartir <strong>da</strong>í, por meio de elevaçõesanuais, seja alcança<strong>da</strong> a meta de 12 e15%, em 2004.A Tabela 1 mostra a situação <strong>da</strong>Região Norte com os valores gastosem 2000, e a expectativa de gasto em2004. Para os estados do Amazonas,do Acre e de Roraima, os gastos jásão até superiores aos níveis derelação despesa-receita vinculávelprevistos na Emen<strong>da</strong>, não sendo, porisso, exigível nenhuma correção. Noscasos do Pará, de Tocantins, deRondônia e de Amapá, em que adespesa própria em saúde situou-seentre 7,44% e 8,26% em 2000. Omero cumprimento do man<strong>da</strong>mentoconstitucional implicará na expansãode gasto anual em 2004, situa<strong>da</strong> entreR$ 32 e 96 milhões. No conjunto, ogasto com saúde será cerca de R$ 200milhões maior, sem contar osincrementos de receita, relativos aoavanço <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de econômica.A Tabela 2 mostra os mesmosindicadores para a Região Nordeste. Oúnico estado que, em 2000, já atingiuo piso de gastos com saúde de 12% <strong>da</strong>receita vinculável é o Rio Grande doNorte. Os outros estados se dividemem dois grupos: a) Pernambuco, Cearáe Bahia, com níveis de comprometimentoentre 8,1 e 9,7%; e b)Sergipe, Maranhão, Piauí e Alagoas, emque os níveis de comprometimento nãopassam de 5%. Assim sendo, a meraaplicação <strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> Constitucionalimplicará aumentos nos gastos comsaúde entre R$ 60,5 milhões, caso doCeará, e R$ 171 milhões; caso doMaranhão, que apresenta um nível decomprometimento baixíssimo. Noconjunto, os estados <strong>da</strong> região terão queaplicar mais R$ 910 milhões em saúdeaté 2004.A Tabela 3 mostra a situação <strong>da</strong>sRegiões Sudeste, Sul e Centro-oeste.No Sudeste, as situações são bastantediferencia<strong>da</strong>s, porém a mais precáriaé a de Minas Gerais, no qual o gastocom recursos próprios, em saúde,situou-se em apenas 3,74% <strong>da</strong> receitavinculável. No caso do EspíritoSanto, esse indicador apontou para10,37%. O estado de São Paulo,embora tenha se situado acima dopiso fixado para 2000 (7%), com amarca de 7,8%, deverá, para cumpriros requisitos <strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> até 2004,ampliar seu gasto, no mesmo ano, emR$ 1,1 bilhão. Na soma dos quatroestados <strong>da</strong> Região Sudeste, a evoluçãoanual de gastos culminará, em 2004,com despesas superiores ao ano 2000,em na<strong>da</strong> menos que R$ 2,3 bilhões.Na Região Sul, a situação ébastante heterogênea. O estado deSanta Catarina apresenta o maiorcomprometimento, com mais de 8%.O Rio Grande do Sul não chegou, em2000, ao piso estabelecido pelaEmen<strong>da</strong>, mas não está distante, <strong>da</strong>doque a participação chega a 6,6%. Jáo caso do Paraná é o mais grave, <strong>da</strong>doque ele gastou, em 2000, apenas 2,4%de sua receita vinculável. O plenoatendimento aos requisitos <strong>da</strong>Emen<strong>da</strong> envolverá gastos adicionaisde R$ 800 milhões para os trêsestados, sendo que, apenas o Paranáterá que aumentar em R$ 428 milhõessuas despesas.No caso <strong>da</strong> Região Centro-oeste,a Tabela 3 mostra que o DistritoFederal e o estado de Goiás, jádemonstram alto grau de comprometimentocom as despesas comsaúde. Ao contrário, Mato Grosso eMato Grosso do Sul mostram níveismuito inferiores ao piso estabelecidona Emen<strong>da</strong> para 2000. No conjuntodos três estados, mais o DF, os gastosdeverão subir cerca de R$ 340milhões.No conjunto <strong>da</strong>s administraçõesestaduais, os gastos com saúde, semcontar a expansão de receitas decorrentedo crescimento <strong>da</strong> economia oude alterações na legislação tributária,deverão ter uma expansão paulatinaaté chegar a R$ 4,5 bilhões em 2004.O uso desse recurso não foi80Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○regulamentado pela Emen<strong>da</strong> Constitucional,mas é um espaço em aberto,no qual as administrações poderãoarbitrar to<strong>da</strong>s as ações e serviçospúblicos em saúde. Vale dizer, osgestores estaduais estarão decidindoentre mais contratos com prestadoresprivados, novos hospitais públicos,novas equipes de saúde <strong>da</strong> família,mais distribuição de medicamentos,ampliação dos salários dos servidores,reforço a mecanismos de capacitaçãoprofissional, dentre outros.A Tabela 4 mostra os <strong>da</strong>dos paraas capitais. Podemos dividi-las emtrês grupos. O primeiro deles,formado por Porto Alegre, Cuiabá eCampo Grande, os níveis devinculação previstos para 2004 jáforam ultrapassados em 2000. Osegundo grupo, formado por Palmas,São Luís, João Pessoa, Natal, BeloHorizonte, Vitória, Rio de Janeiro,São Paulo, Curitiba, Florianópolis eGoiânia, superou, em 2000, o piso devinculação, mas se encontra abaixodos 15% previstos como nível devinculação plena. O terceiro grupo éformado pelo restante <strong>da</strong>s capitais,que nem atingiu o piso de vinculaçãoem 2000. Vale notar que o cumprimento<strong>da</strong> Emen<strong>da</strong> resultará emrecursos adicionais de R$ 627milhões em 2004, com expansãopaulatina até aquele ano.municipais, que definirão seu peso ea abrangência.A Lei Complementar, enuncia<strong>da</strong>pela Emen<strong>da</strong> Constitucional n.º 29,desponta como locus, por excelência,dessa discussão porque vai identificara postura <strong>da</strong>s autori<strong>da</strong>des públicasfrente aos compromissos com aformação de pessoal e a gestão derecursos humanos. De todo modo,trata-se de uma grande oportuni<strong>da</strong>depara colocar a discussão de recursoshumanos ao lado dos grandes temas<strong>da</strong> saúde: financiamento, gestão emodelo de atenção.É importante entender que aEmen<strong>da</strong> Constitucional representauma grande chance para que a áreade Recursos Humanos, nota<strong>da</strong>mentenas administrações estaduais, ganheenorme espaço. Seja na gestão <strong>da</strong>Política de Pessoal, seja na construçãodo aparelho formador. A preservaçãode uma parcela dos ganhos envolvidos,para aplicação nesta área,envolve uma oportuni<strong>da</strong>de talvezúnica na história <strong>da</strong> saúde. Éimportante notar que o GovernoFederal foi à frente, implementandoo Projeto de Profissionalização dosTrabalhadores <strong>da</strong> Área de Enfermagem(PROFAE) e as capacitações equalificações em saúde <strong>da</strong> família.Mas será a condução <strong>da</strong>s PolíticasEstaduais, pactua<strong>da</strong>s com os gestoresFormação81


○ ○ ○ ○Tabela 1Despesa Real e Projeções segundo a Emen<strong>da</strong> n o 29 – 2000 a 2004(em R$ correntes)UFPessoal eEncargosSociaisReceitaVincula<strong>da</strong>DespesaPrópriaSimulação com mínimo% DP/RVDespesaPrópria2000Percentual Desp. Própria/Receita2001estim2002estim2003estim2004estimExpansãoRondônia 50.132.003 845.161.582 66.260.668 12,00 101.419.390 7,84 8,67 9,34 9,87 12,00 35.158.722Acre 89.799.361 532.395.712 115.849.307 21,76 115.849.307 21,76 12,00 12,00 12,00 12,00 -Amazonas 113.492.298 1.587.946.982 285.195.278 17,96 285.195.278 17,96 12,00 12,00 12,00 12,00 -Roraima 6.821.835 400.384.786 52.450.407 13,10 52.450.407 13,10 12,00 12,00 12,00 12,00 -Pará 71.239.390 2.117.292.352 157.526.551 12,00 254.075.082 7,44 8,35 9,08 9,67 12,00 96.548.531Amapá 31.587.522 952.948.147 74.044.071 12,00 114.353.778 7,77 8,62 9,29 9,83 12,00 40.309.707Tocantins 48.488.087 853.553.886 70.503.551 12,00 102.426.466 8,26 9,01 9,61 10,09 12,00 31.922.915Fonte: Balanços dos Governos Estaduais de 2000.Tabela 2Despesa Real e Projeções segundo a Emen<strong>da</strong> n o 29 – 2000 a 2004(em R$ correntes)UFPessoal eEncargosSociaisReceitaVincula<strong>da</strong>DespesaPrópriaSimulação com mínimo% DP/RVDespesaPrópria2000Percentual Desp. Própria/Receita2001estim2002estim2003estim2004estimExpansãoMaranhão 14.666.723 1.633.918.816 24.835.566 12,00 196.070.258 1,52 8,00 8,80 9,44 12,00 171.234.692Piauí 39.015.082 984.552.112 49.424.516 12,00 118.146.253 5,02 8,00 8,80 9,44 12,00 68.721.737Ceará 112.069.464 2.620.402.828 253.917.034 12,00 314.448.339 9,69 10,15 10,52 10,82 12,00 60.531.305Rio Gr Norte 107.969.672 1.252.553.764 162.080.457 12,94 162.080.457 12,94 12,00 12,00 12,00 12,00 -Paraíba 50.216.953 1.302.634.354 57.446.175 12,00 156.316.122 4,41 8,00 8,80 9,44 12,00 98.869.947Pernambuco 222.461.841 2.834.355.055 230.433.066 12,00 340.122.607 8,13 8,90 9,52 10,02 12,00 109.689.541Alagoas 56.910.932 1.663.018.594 53.216.595 12,00 199.562.231 3,20 8,00 8,80 9,44 12,00 146.345.636Sergipe 34.371.412 1.019.433.713 34.049.086 12,00 122.332.046 3,34 8,00 8,80 9,44 12,00 88.282.960Bahia 281.032.191 4.499.478.942 374.356.648 12,00 539.937.473 8,32 9,06 9,64 10,12 12,00 165.580.825Fonte: Balanços dos Governos Estaduais de 2000.82Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Tabela 3Despesa Real e Projeções segundo a Emen<strong>da</strong> n o 29 – 2000 a 2004(em R$ correntes)UFPessoal eEncargosSociaisReceitaVincula<strong>da</strong>DespesaPrópriaSimulação com mínimo% DP/RVDespesaPrópria2000Percentual Desp. Própria/Receita2001estim2002estim2003estim2004estimExpansãoMinas Gerais 184.512.326 7.974.859.599 298.259.749 12,00 956.983.152 3,74 8,00 8,80 9,44 12,00 658.723.403Espírito Santo 135.891.894 1.983.132.633 205.650.854 12,00 237.975.916 10,37 10,70 10,96 11,17 12,00 32.325.062Rio de Janeiro 173.048.821 7.367.755.120 398.595.552 12,00 884.130.614 5,41 8,00 8,80 9,44 12,00 485.535.062São Paulo 1.343.921.026 26.601.041.872 2.074.881.266 12,00 3.192.125.025 7,80 8,64 9,31 9,85 12,00 1.117.243.759Paraná 98.718.385 4.460.214.917 107.045.158 12,00 535.225.790 2,40 8,00 8,80 9,44 12,00 428.180.632Santa Catarina 129.662.698 2.643.136.146 231.803.040 12,00 317.176.338 8,77 9,42 9,93 10,35 12,00 85.373.298Rio G. do Sul 90.029.503 5.755.993.394 379.895.564 12,00 690.719.207 6,60 8,00 8,80 9,44 12,00 310.823.643Mato G. do Sul 19.979.011 1.080.111.904 44.824.644 12,00 129.613.428 4,15 8,00 8,80 9,44 12,00 84.788.784Mato Grosso 27.440.284 1.553.039.142 36.185.812 12,00 186.364.697 2,33 8,00 8,80 9,44 12,00 150.178.885Goiás 97.520.066 2.251.163.549 218.813.097 12,00 270.139.626 9,72 10,18 10,54 10,83 12,00 51.326.529Distrito Federal 86.878.397 2.406.918.820 236.600.120 12,00 288.830.258 9,83 10,26 10,61 10,89 12,00 52.230.138Fonte: Balanços dos Governos Estaduais de 2000.Formação83


○ ○ ○ ○Tabela 4Despesa Real e Projeções segundo a Emen<strong>da</strong> n o 29 – 2000 a 2004(em R$ correntes)UFPessoal eEncargosSociaisReceitaVincula<strong>da</strong>DespesaPrópriaSimulação com mínimo% DP/RVDespesaPrópria2000Percentual Desp. Própria/Receita2001estim2002estim2003estim2004estimExpansãoNatal 28.790.676 199.931.210 25.071.374 15,00 29.989.681 12,54 13,03 13,43 13,74 15,00 4.918.308João Pessoa 15.176.049 163.297.300 6.907.476 15,00 24.494.595 4,23 8,00 9,40 10,52 15,00 17.587.119Recife 29.747.634 544.544.268 29.677.663 15,00 81.681.640 5,45 8,00 9,40 10,52 15,00 52.003.978Maceió 44.283.121 180.034.671 8.299.598 15,00 27.005.201 4,61 8,00 9,40 10,52 15,00 18.705.602Aracaju 8.506.683 141.830.233 5.800.857 15,00 21.274.535 4,09 8,00 9,40 10,52 15,00 15.473.678Salvador 14.540.637 603.910.959 33.879.405 15,00 90.586.644 5,61 8,00 9,40 10,52 15,00 56.707.239Belo Horizonte 125.673.976 890.128.562 89.991.998 15,00 133.519.284 10,11 11,09 11,87 12,50 15,00 43.527.287Vitória 22.500.303 266.781.292 29.372.620 15,00 40.017.194 11,01 11,81 12,45 12,96 15,00 10.644.574Rio de Janeiro 216.007.267 2.898.942.125 296.271.885 15,00 434.841.319 10,22 11,18 11,94 12,55 15,00 138.569.434São Paulo 192.248.243 6.036.698.511 804.088.242 15,00 905.504.777 13,32 13,66 13,92 14,14 15,00 101.416.535Curitiba 50.884.129 657.934.415 51.187.298 15,00 98.690.162 7,78 9,22 10,38 11,30 15,00 47.502.865Florianópolis 8.953.018 142.904.467 10.460.607 15,00 21.435.670 7,32 8,86 10,08 11,07 15,00 10.975.063Porto Alegre 87.909.895 592.633.462 96.658.518 16,31 96.658.518 16,31 15,00 15,00 15,00 15,00 -Campo Grande 37.262.008 179.763.798 50.226.005 27,94 50.226.005 27,94 15,00 15,00 15,00 15,00 -Cuiabá 38.382.607 153.350.135 37.678.128 24,57 37.678.128 24,57 15,00 15,00 15,00 15,00 -Goiânia 24.893.875 403.848.324 59.608.013 15,00 60.577.249 14,76 14,81 14,85 14,88 15,00 969.236TOTAL GERAL 1.198.820.441 16.011.483.805 1.830.568.719 15,35 2.457.628.763 11,43 627.060.043Fonte: Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos (SIOPS/SIS/MS) ano-base 2000.84Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○BibliografiaARRETCHE, M. T. S. O processo dedescentralização <strong>da</strong>s políticas sociaisno Brasil. Campinas: UNICAMP;IFCH, 1998 (Tese de Doutorado).CARVALHO, G. I.; Santos, L.Sistema Único de Saúde: comentáriosà Lei Orgânica <strong>da</strong> Saúde. São Paulo:HUCITEC, 1995.COSTA, N. R.; RIBEIRO, J. M.Descentralização e política social: ocaso do setor saúde. Instituto de[s. l.]: Pesquisa Econômica Aplica<strong>da</strong>;Programa <strong>da</strong>s Nações Uni<strong>da</strong>s para oDesenvolvimento (IPEA-PNUD),1997.DAIN, S. et al. Avaliação dosimpactos <strong>da</strong> reforma tributária sobreo financiamento <strong>da</strong> saúde. In: NEGRI,B.; DI GIOVANI, G. Brasil Radiografia<strong>da</strong> Saúde. Campinas: IE-UNICAMP, 2001. p. 233-290.SILVA, P. L. B., COSTA, N. R.;MELO, M. A. Reforma do Estado eSetor Saúde. Pesquisa CAPES-MARE,1999.VILAÇA, E. (Org). A organização <strong>da</strong>saúde no nível local. São Paulo:HUCITEC, 1998.Formação85


○ ○ ○ ○Entrevista Izabel dos SantosEscolas Técnicas de Saúde do SistemaÚnico de Saúde (ETSUS)SUS Technical Schools in Health(ETSUS)Izabel dos SantosConsultora do Projeto de Profissionalização dos Trabalhadores <strong>da</strong> Área de Enfermagem (PROFAE) –Ministério <strong>da</strong> Saúde.A entrevista<strong>da</strong> Izabel dos Santos é consultora do Projeto de Profissionalizaçãodos Trabalhadores de Enfermagem, <strong>da</strong> Secretaria de Gestão de Investimentos emSaúde (SIS), do Ministério <strong>da</strong> Saúde. Enfermeira desde cedo, participouativamente de processos que têm por objetivo promover a melhoria <strong>da</strong>s condiçõesde saúde <strong>da</strong> população, é referência inconteste <strong>da</strong> área de Recursos Humanosem Saúde. Sua contribuição sempre esteve vincula<strong>da</strong> à criação de processos emétodos que pudessem propiciar a emancipação dos trabalhadores do setor Saúde,por meio <strong>da</strong> elevação de sua condição ci<strong>da</strong>dã. Para isso, foi precursora e, podesedizer, “criadora” do Projeto Larga Escala de formação de pessoal para saúde,desenvolvido no Brasil a partir dos anos 80. Seu trabalho se baseia na articulaçãoindissociável entre saúde e educação, como necessi<strong>da</strong>de intrínseca ao processode trabalho em saúde. Docente de Enfermagem em Saúde Pública, na Escola deEnfermagem <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de Federal de Pernambuco, de 1965 a 1974. Foitambém consultora <strong>da</strong> Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) no Brasil.Nesta entrevista, a professora Izabel dos Santos fala <strong>da</strong> importância <strong>da</strong>s EscolasTécnicas de Saúde do SUS no contexto de reorganização <strong>da</strong>s práticas sanitárias.The interviewed, Ms. Izabel dos Santos, is a consultant to the ProjectProfissionalização dos Trabalhadores de Enfermagem, of the Secretaria de Gestãode Investimentos em Saúde – SIS [Secretariat on Management of Investment inHealth], of the Ministry of Health. As a nurse for a long time, she has activelyparticipated in processes addressed to promoting the improvement on population’shealth conditions and, undoubtedly, is a reference in the field of HumanResources in Health. Her contribution has always been bound to the establishmentof processes and methods that could allow for the emancipation of Health Fieldworkers, by raising their status as citizens. For that, she was a precursor and,one might say, the “creator” of the Large-Scale Project on training to healthstaff, developed in Brazil since the 1980’s. Her work is based on the indissolubleassociation between health and education, as an intrinsic requirement to thework in health. She was a Professor of Nursing in Public Health, at the NursingSchool of the Federal University of Pernambuco, from 1965 a 1974. She wasalso a consultant to the Pan American Health Organization (PAHO) in Brazil. Inthis interview, Professor Izabel dos Santos talks about the relevance of SUSTechnical Schools in Health and their importance in the context of reorganizingsanitation practices.87


○ ○ ○ ○Formação – As Escolas Técnicasde Saúde do Sistema Único de Saúde(ETSUS) estão sendo reestrutura<strong>da</strong>s.O que é necessário para que o SistemaÚnico de Saúde (SUS) absorva plenamenteo que elas oferecem?Izabel dos Santos – Para que asEscolas Técnicas de Saúde tenhamvisibili<strong>da</strong>de e sejam reconheci<strong>da</strong>s peloSUS, é preciso realizar um trabalhoconjunto. Existem várias iniciativasque podem ser incorpora<strong>da</strong>s. Umadelas é que a escola se torne ca<strong>da</strong> vezmais parceira do Sistema Único deSaúde. A exemplo <strong>da</strong>s escolas agrotécnicasque têm uma forte parceriacom o setor agroindustrial, as escolastécnicas de saúde devem atuar emparceria com o SUS, porque todo oprocesso tecnológico está nesta redede saúde. O fortalecimento dessarelação é essencial. Ele se inicia coma eleição de priori<strong>da</strong>des, desde aidentificação <strong>da</strong>s categorias profissionaisque necessitam de formaçãoaté a estruturação de programas deeducação permanente.Torna-se imprescindível a intensificaçãodessa parceria para acompanharas exigências desse mercadoprofissional em estruturar currículospor competência. A competênciaprofissional não pode ser estabeleci<strong>da</strong>pela escola, porque não é na escolaque ela se constrói, é na prática real,ou seja, no desempenho <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>desem serviço. O Sistema de Saúde équem vai dizer para a escola qual acompetência, entre as diferentescategorias, ele vai absorver. Isso éuma tarefa nova que vai requerermuito esforço e muito trabalhoconjunto. Se isso se concretizar, essaescola se tornará necessária aoSistema Único de Saúde e, como elaestá se reestruturando, não poderáperder de vista essa direcionali<strong>da</strong>de.F – Do seu ponto de vista, qual éa causa dessa desarticulação <strong>da</strong> EscolaTécnica com a organização doSistema Único de Saúde?IS – São várias as causas. Dentreelas está o modelo de escola quetrabalha o conhecimento sem umcompromisso real com a práticaprofissional. Nessa concepção deescola, o que existe é a valorizaçãodo conhecimento pelo conhecimento.Esse movimento de ensino porcompetência profissional que está seampliando é, na ver<strong>da</strong>de, umaestratégia para fazer com que a escolase comprometa também com a práticaprofissional. Por outro lado, aformação e a qualificação profissionaisnão são valoriza<strong>da</strong>s como umaexigência para a produção de serviçosde saúde. De fato, ain<strong>da</strong> existe umranço de treinamento por treinamento.O baixo índice de qualificaçãoque temos verificado nosprofissionais de nível médio demonstraclaramente a falta de conscientizaçãode gestores dessa área sobre aimportância desta formação para aquali<strong>da</strong>de do serviço de saúde para ousuário. Já em relação ao nívelsuperior, essa percepção é maispresente.F – Como promover esta articulaçãoentre os setores de Recursos Humanose a Política de Recursos Humanos nocampo <strong>da</strong> Saúde?IS – Essa pergunta é muitointeressante. Recentemente eu discutiessa questão com um profissional queestava saindo do setor público eentrando para o setor privado.Estávamos exatamente estabelecendoessa diferença, na área priva<strong>da</strong>, o setorde Recursos Humanos é fun<strong>da</strong>mentalem to<strong>da</strong>s as decisões, enquanto naárea pública, este setor é, na maioria<strong>da</strong>s vezes, ignorado e, em conseqüência,as decisões são to<strong>da</strong>stoma<strong>da</strong>s à revelia dele. A perguntaque faço é a seguinte: Por que, apesarde todos os nossos esforços com apreparação de gestores de recursoshumanos do SUS, isso ain<strong>da</strong> não setornou uma ação permanente?F – De acordo com essa visão, issoé quase contraditório. O setorpúblico, em determinado momento,se referiu à mais-valia, exército dereservas, profissionalização...IS – É ver<strong>da</strong>de, mas quando chegaa ocasião de usar o gerente derecursos humanos para pensar umaproposta de produção isso não ocorre,Formação89


○ ○ ○ ○porque o clientelismo ain<strong>da</strong> atravessaessa área e o setor público não temmuito interesse em modernizar esseprocesso de uma forma mais efetiva.É realmente um paradoxo. De umlado, se esforça para modernizar e,por outro, é boicotado por esseclientelismo ain<strong>da</strong>, infelizmente,presente no serviço público. É necessárioestabelecer uma parceria realentre a escola e o Sistema de Saúde,intermediado pelo setor de RecursosHumanos, mas isto está ain<strong>da</strong> muitolonge de ser alcançado. É um pontocrítico que pode ser um obstáculopara que o processo avance.F – Você acha que a discussãosobre um currículo por competênciaaproximaria, por exemplo, aquelesque discutem organização de serviços<strong>da</strong>queles que formam o trabalhador?IS – Pode ser uma estratégia deaproximação. Primeiro, porquequando se organiza o serviço éobrigatório estabelecer padrões dequali<strong>da</strong>de. Porque do contrário, comopoderemos avaliar? São os padrões dequali<strong>da</strong>de que vão fornecer elementospara a definição <strong>da</strong>s competências <strong>da</strong>svárias categorias que participarão<strong>da</strong>quele processo coletivo de trabalho.Vamos <strong>da</strong>r um exemplo: as ações depromoção <strong>da</strong> saúde são praticamentedesenvolvi<strong>da</strong>s por todos os profissionais<strong>da</strong> área <strong>da</strong> Saúde, mas ca<strong>da</strong> umtem uma especifici<strong>da</strong>de: a equipe deenfermagem trabalha em uma, a delaboratório em outra, e assim acontececom as outras categorias. Esse movimento<strong>da</strong> promoção <strong>da</strong> saúde é, defato, um trabalho coletivo, porém comespecifici<strong>da</strong>de. No conjunto elestrazem resultados, mas não é todomundo fazendo a mesma coisa.Quando se fala em aproximação, épreciso juntar padrão de quali<strong>da</strong>de doserviço com as competências estabeleci<strong>da</strong>spara o profissional. Ain<strong>da</strong> quenão seja suficiente, acredito que ocurrículo por competência seria umaferramenta favorável, para uma aliançamais forte entre os setores citados.F – As Escolas Técnicas do SUSnasceram, em sua grande maioria,com falta de recursos, causa<strong>da</strong> pelaconjuntura ou por dificul<strong>da</strong>des domomento, ou até por concepção.Atualmente a reali<strong>da</strong>de é outra: háuma injeção de investimentos nasescolas existentes e ain<strong>da</strong> há umconjunto de recursos disponíveis paraos gestores que queiram construir umanova Escola Técnica do SUS. Quaissão as diferenças <strong>da</strong>quele momentopara o atual?IS – A falta de recursos financeirosfoi realmente um obstáculo para aimplantação <strong>da</strong>s escolas técnicas,especialmente as pequenas escolas quetinham um grupo de coordenaçãotambém pequeno. O problema <strong>da</strong>sescolas médias e grandes era muitomais de concepção do que de recursosfinanceiros. Naquela época,basicamente coexistiam três modelosde escolas: um modelo de escolaformal, preparando profissionais parao mercado de trabalho; as escolastécnicas de muito bom nível; e asparticulares, como o Serviço Nacionalde Aprendizagem Comercial (Senac)e o Serviço Nacional de AprendizagemIndustrial (Senai). As escolasformais não tinham condições deatender a to<strong>da</strong> deman<strong>da</strong> por profissionalização,porque a força de trabalhoemprega<strong>da</strong> era enorme. Havia,portanto, uma necessi<strong>da</strong>de prementede implantação de um modelo deescola flexível, com uma concepçãoclara e um padrão homogêneo, paraatender às necessi<strong>da</strong>des de qualificaçãoprofissional.F – E essas distorções foramsoluciona<strong>da</strong>s com a criação <strong>da</strong>sETSUS nos anos 80?IS – Discutiu-se muito essaquestão, inclusive em vários fóruns.No início ficou evidente que o setorSaúde, embora pertencesse a área deserviços, era complexo e tinha umcontingente de técnicos que justificariaa criação de escolas para formaçãode trabalhadores de saúde. Foi umprocesso longo em que a tônica dodebate era a necessi<strong>da</strong>de de ter umformato de escola com uma basefilosófica, conceitual e que nãoestaria ensinando saúde em qualquerespaço. Por exemplo, não se poderia90Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○introduzir um curso de saúde dentrode uma escola agrotécnica que nãotivesse conhecimentos acumuladossobre formação em saúde e nem asbases conceituais de organização eavaliação de serviços.A partir dessa visão, a escola desaúde foi se configurando, no princípio,de uma maneira muito tími<strong>da</strong>e precária. No momento em quecomeçou a existir consenso sobre oassunto, surgiram as dificul<strong>da</strong>desfinanceiras. Naquele momento nãohavia recursos para os investimentosnecessários, porque havia um volumeenorme de pessoas que precisavamser forma<strong>da</strong>s e essas pessoas nãotinham dinheiro. Os primeiros cursosde profissionalização foram financiadospelo Projeto Nordeste. Nosoutros estados em que não existia umprojeto que desse apoio ou cooperaçãotécnico-financeira, houve sériasdificul<strong>da</strong>des, tais como: para a organizaçãodo espaço, para a produçãode material didático e para o pagamentode pessoal etc. Então, paraviabilizar o projeto <strong>da</strong>s escolas,optou-se pela estruturação de umnúcleo mínimo que contemplasse asquestões estratégicas exigi<strong>da</strong>s paraaquele momento. E tudo aconteceulenta e gra<strong>da</strong>tivamente.F – O laboratório didático, uminstrumental que está sendointroduzido agora nas escolastécnicas, pode ser um fator deaperfeiçoamento dessas escolas?IS – É preciso levar em conta queo laboratório didático não podesubstituir a prática real. Ele éfun<strong>da</strong>mental, não como instituição,mas como apoio. Sabe por quê?Porque, com o laboratório didático,há uma facilitação na relação ensinoaprendizagem,pois é uma intermediaçãoentre prática a simula<strong>da</strong> ea prática real. Até que o aluno fixeos princípios <strong>da</strong> execução de umatécnica, são i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s. O laboratóriodeve ser organizado de formaque os alunos possam treinar até tersegurança para entrar na prática real.Na minha opinião, esses laboratóriospoderão ser utilizados para oprocesso de certificação de competênciasprofissionais, porque ain<strong>da</strong>acredito que a avaliação <strong>da</strong> práticaprofissional deverá ser simula<strong>da</strong>.F – As Escolas Técnicas de Saúdedo SUS têm hoje uma outra expectativaem relação à educação profissional.O foco central é para atender àformação profissional na área de Saúde,basea<strong>da</strong>, inclusive, nos parâmetros <strong>da</strong>Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong> EducaçãoNacional (LDB). O PROFAE vemtrabalhando também com a idéia deuma escola que abra as suas portas paraespaços intermediários. Qual é a suaopinião sobre isso?IS – As Escolas Técnicas do SUS,a partir de sua concepção, forampensa<strong>da</strong>s para atender a uma necessi<strong>da</strong>dede deman<strong>da</strong>s que iam desde aformação <strong>da</strong>queles profissionaisempregados no Sistema Único deSaúde até a formação <strong>da</strong>queles quedesejavam entrar no mercado detrabalho em saúde. Além dos cursosde formação profissional, acreditoque as escolas ain<strong>da</strong> possam oferecercursos de qualificação básica nas maisdiversas áreas. Da mesma forma, sedeve enfatizar a questão <strong>da</strong> multiprofissionali<strong>da</strong>deque, na área deSaúde, é uma exigência para contemplara complexi<strong>da</strong>de dos problemas.Nesse sentido, uma escola não podeoferecer apenas uma habilitação, épreciso diversificar para atender àsnecessi<strong>da</strong>des do serviço.F – O PROFAE acredita que asETSUS serão escolas de referênciapara o Sistema de Saúde e até para aeducação profissional. Esse conceitoestá claro para os gestores?IS – Escola de referência significa,no meu entendimento, o reconhecimentopor aqueles que utilizam osseus serviços (gestores, alunos,docentes e também os usuários querecebem uma assistência sem risco).Ela é referência quando articulaconhecimentos, tecnologia e informaçãoa serviço <strong>da</strong> socie<strong>da</strong>de. Porquequem confere referência, excetuandoseos parâmetros técnicos, é quem usaou é beneficiado por aquele serviço.Formação91


○ ○ ○ ○F – Por que tantas dificul<strong>da</strong>despara a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong>s ETSUS?IS – Esse processo de construçãonão é linear. Ele apresenta ganhos eper<strong>da</strong>s, i<strong>da</strong>s e vin<strong>da</strong>s. Sendo umprocesso social, ele sofre a influência<strong>da</strong>s várias conjunturas nas quais eleestá inserido. Assim, essas escolasnecessitariam de um órgão de caráternacional que formulasse e conduzisseuma política de sustentação <strong>da</strong>smesmas. Caso contrário, elas sedesenvolveriam em situação dedesigual<strong>da</strong>de. As Escolas Técnicas doSUS precisam de fato fazer parte <strong>da</strong>agen<strong>da</strong> política <strong>da</strong> saúde e <strong>da</strong>educação profissional nos estados. Namedi<strong>da</strong> em que isso acontece, elas vãoganhando corpo próprio a despeitodessas variações conjunturais. É umobjetivo muito ambicioso para serconcretizado a curto prazo, mas istonão quer dizer que a médio prazo asescolas técnicas não possam tornarseescolas de excelência, estrutura<strong>da</strong>se moderniza<strong>da</strong>s, tanto do ponto devista do processo político-pe<strong>da</strong>gógicoquanto do arcabouço tecnológico para<strong>da</strong>r sustentação aos processos deformação profissional.F – Nessa perspectiva, o fortalecimento<strong>da</strong> Rede de EscolasTécnicas de Saúde do Sistema Únicode Saúde (RET-SUS) é uma estratégia?IS – A idéia <strong>da</strong> RET-SUS ultrapassagovernos. É preciso ter semprealguém estimulando, fazendo debates,para não deixar morrer a idéia. Elanão pode cair numa teia burocrática,assim é necessário um bom“animador” no comando, que poderiaser o diretor <strong>da</strong> escola com essa visãode integração e moderni<strong>da</strong>de que,afinal, se refletirá na valorização <strong>da</strong>formação profissional. A Rede podese transformar nesse processo em algoque não é só uma secretaria parafomento de processos. Eu ousariapensar que politicamente as EscolasTécnicas deveriam <strong>da</strong>r mais um passoa frente e, quem sabe, se reunirem emuma natureza também jurídica. Umaassociação, por exemplo, que pudessecaptar recursos e canalizar esseencontro de interesses <strong>da</strong>s escolas.Uma associação teria o papel deliderar o movimento, mobilizandopessoas e reunindo dirigentes, paraque a escola pudesse ter, de fato, umpapel ativo e dinâmico nos processosde educação profissional.F – A Escola Técnica de Saúde doSUS poderia trabalhar com que níveis<strong>da</strong> educação profissional? Ela poderiaassumir a especialização do níveltécnico, por exemplo?IS – Até o momento, a formaçãoprofissional realiza<strong>da</strong> pelas escolasalcança o nível técnico. Já o níveltecnológico, que seria a especializaçãodo nível técnico, exige uminvestimento muito grande no corpodocente, com a contratação deprofessores altamente especializados,inclusive com cursos de pósgraduação.Quando se trata deformação na atenção básica de saúde,não há exigência de um corpo docenteespecializado, mas na formação paraativi<strong>da</strong>des de média e alta complexi<strong>da</strong>deocorre o contrário. Apesar <strong>da</strong>especialização para o nível médio <strong>da</strong>área de Enfermagem estar prevista nalegislação educacional, o que se fazhoje é ain<strong>da</strong> muito pouco em relaçãoà especialização.92Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Entrevista Marli Apareci<strong>da</strong> Jacober PasqualinCentro Formador de Recursos Humanos“Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” – Secretariade Estado <strong>da</strong> Saúde do ParanáHuman Resources Training Center“Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” –Paraná State Health SecretariatMarli Apareci<strong>da</strong> Jacober PasqualinDiretora do Centro Formador de Recursos Humanos “Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha”Secretária de Estado <strong>da</strong> Saúde do ParanáA entrevista<strong>da</strong> Marli Apareci<strong>da</strong> Jacober Pasqualin é Diretora do Centro Formadorde Recursos Humanos “Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” (CFRH), Escola Técnica doSistema Único de Saúde (SUS) <strong>da</strong> Secretaria de Estado <strong>da</strong> Saúde do Paraná.Desde 1990, atuou como docente e coordenadora técnica de cursos, respondeutambém pela Divisão de Desenvolvimento de Cursos do Centro Formador. Égradua<strong>da</strong> em Farmácia Bioquímica pela Universi<strong>da</strong>de Federal do Paraná, comespecialização em Administração com ênfase em Recursos Humanos pelaPontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica do Paraná (PUC/PR). Tem experiência na áreade Educação como docente dos cursos <strong>da</strong> área de Saúde de nível básico, médioe tecnológico, lecionando na Facul<strong>da</strong>de de Ciências Biológicas Bezerra deMenezes. É representante titular <strong>da</strong>s Escolas na Rede de Escola Técnica do SUS(RET-SUS) e também representante titular <strong>da</strong> área de Saúde no Conselho Estadualdo Trabalho do Paraná.The interviewed, Ms. Marli Apareci<strong>da</strong> Jacober Pasqualin is the Director of theHuman Resources Training Center “Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” (CFRH), UnifiedHealth System (SUS) Technical School of the Paraná State Health Secretariat.Since 1990, she has worked as teacher and technical coordinator of courses, andwas also the responsible for the Division on Courses Development of the TrainingCenter. She is graduated in Biochemical Pharmacy by the Federal University ofParaná, with specialization in Administration focusing on Human Resources, bythe Pontifícia Universi<strong>da</strong>de Católica do Paraná (PUC/PR). She has broad experiencein the field of Education, as a teacher for the basic-, medium- and technologicallevelcourses in the field of Health, teaching in the Bezerra de Menezes Collegeof Biologic Sciences. She is the representative of Schools in the SUS Network ofTechnical Schools (RET-SUS), as well as representative of the Health field inthe Paraná State Labor Council.93


○ ○ ○ ○Formação – Qual é a importânciahistórica do Centro Formador nocontexto <strong>da</strong>s políticas de saúde noperíodo de sua implantação até aatuali<strong>da</strong>de?Marli Pasqualin – A preocupação <strong>da</strong>Secretaria de Estado <strong>da</strong> Saúde doParaná (SESA), com a profissionalizaçãodos trabalhadores <strong>da</strong> área deSaúde de nível médio e elementar vemdesde 1954, ocasião <strong>da</strong> criação <strong>da</strong>Escola de Auxiliares de EnfermagemDr. Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha. Oobjetivo inicial era formar auxiliaresde enfermagem que tivessem escolari<strong>da</strong>deprimária (4 a série do antigoensino primário). Dessa forma, aEscola era subordina<strong>da</strong> à orientação<strong>da</strong> Associação Feminina de Proteção àMaterni<strong>da</strong>de e à Infância. A Escolapassou para administração do estadodo Paraná por meio de DecretoEstadual em 1965, recebendo então adenominação de Colégio Dr. CaetanoMunhoz <strong>da</strong> Rocha.Algumas déca<strong>da</strong>s depois, nos anos80, com o advento <strong>da</strong>s AçõesIntegra<strong>da</strong>s de Saúde, gerou-se umademan<strong>da</strong> maior na organização dosserviços, utilizando profissionais denível médio nas diversas áreas deSaúde. A circunstância em que aEscola estava estrutura<strong>da</strong> não atendiaàs necessi<strong>da</strong>des de profissionalização.Diante disso, o Paraná buscou subsídiosjunto ao Ministério <strong>da</strong> Saúde quena época havia firmado o “Acordo deRecursos Humanos” com os Ministérios<strong>da</strong> Previdência, <strong>da</strong> Educação ea Organização Pan-Americana <strong>da</strong>Saúde (OPAS). A partir <strong>da</strong>í, em 1985,implantou o Programa de Formaçãode Recursos Humanos para osserviços básicos de saúde – formaçãode nível médio e elementar querecebeu a denominação de ProjetoLarga Escala. Os princípios desseProjeto são até hoje aplicados:formação de pessoal em serviço, semdeslocá-los em tempo integral <strong>da</strong> redede serviços em saúde; a utilização deinstrutores e supervisores devi<strong>da</strong>mentecapacitados na função dedocente; a adoção de conhecimentointegrado com a reali<strong>da</strong>de do serviço(currículo); o respeito aos váriosritmos de aprendizagem e a estruturação<strong>da</strong> escola com regimentoespecífico aprovado pelo ConselhoEstadual de Educação (CEE).Em 1989, o então Colégio Dr.Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha passoupara a denominação de CentroFormador de Recursos Humanos“Caetano Munhoz <strong>da</strong> Rocha” (CFRH),escola com abrangência de ação emnível estadual com a possibili<strong>da</strong>de deoferecer cursos profissionalizantes denível médio e elementar para o setorde Saúde, buscando <strong>da</strong>r respostas àsnecessi<strong>da</strong>des de formação <strong>da</strong> força detrabalho atuante nos quadros doSistema Único de Saúde (SUS/PR).Nesse mesmo período, houve aampliação de outros cursos na área deSaúde: Técnico de Higiene Dental(THD), Técnico em Patologia Clínica(TPC), Técnico em VigilânciaSanitária e Saúde Ambiental (TVSSA).A partir de 1996, os cursossofreram forte impulsão devido àsparcerias estabeleci<strong>da</strong>s entre aSecretaria de Estado <strong>da</strong> Saúde e aSecretaria de Estado do Emprego eRelações de Trabalho, comdisponibili<strong>da</strong>de dos recursos do Fundode Amparo ao Trabalhador (FAT).Além disso, outros atores participaramdesse novo momento <strong>da</strong>Escola, como a Secretaria de Estadode Educação, as Secretarias Municipaisde Saúde, os ConselhosMunicipais do Trabalho, o ConselhoEstadual do Trabalho, as InstituiçõesHospitalares, a Federação de Hospitaisdo Paraná (FEHOSPAR) e osórgãos representativos de classe.No ano de 2000, estabeleceu-seuma importante parceria entre aSESA, o Instituto de Tecnologia parao Desenvolvimento (LACTEC) e oProjeto de Profissionalização dosTrabalhadores <strong>da</strong> Área de Enfermagem(PROFAE) <strong>da</strong> Secretaria de Gestão eInvestimentos em Saúde do Ministério<strong>da</strong> Saúde. Desde então, a Escolapassou a ter maior visibili<strong>da</strong>deperante a socie<strong>da</strong>de paranaense. Adescentralização se fez presente emtodos os 399 municípios do Paraná,Formação95


○ ○ ○ ○pois foram inicia<strong>da</strong>s 165 turmas deQualificação Profissional Auxiliar deEnfermagem (QP) e Complementação<strong>da</strong> Qualificação Profissional deAuxiliar de Enfermagem para Técnicode Enfermagem (CQP), totalizando5.940 alunos atendidos até agosto de2002.Na área de Odontologia (atendentede consultório dentário),resultado <strong>da</strong> parceria com a SecretariaEstadual de Emprego e Relaçõesdo Trabalho (SERT) e a SESA, aEscola qualificou até 2001, 1.600alunos num total de 44 turmasdescentraliza<strong>da</strong>s, beneficiando mais200 municípios do estado. Nomomento, existem 11 turmas descentraliza<strong>da</strong>squalificando 396 alunos.Outros cursos de qualificação(capacitação na área de copa, cozinha,lavanderia e lactário) também sãooferecidos respondendo às deman<strong>da</strong>s<strong>da</strong>s Políticas Públicas de Saúde queprimam pela interiorização <strong>da</strong> qualificaçãoem atenção ao processo demunicipalização iniciado nos anos 80,com a implantação do Sistema Únicode Saúde (SUS). Ao estado cabe opapel de coordenação, supervisão eapoio aos municípios na implantaçãoe desenvolvimento de suas estruturase projetos. No caso <strong>da</strong> Escola, estatem a função de ordenar, orientar eparticipar <strong>da</strong> qualificação profissionalde nível básico e técnico para supriros municípios em seus quadros derecursos humanos e atender à consoli<strong>da</strong>ção<strong>da</strong>s Políticas Públicas de SaúdeParanaense, entre elas: Acreditaçãodos Hospitais, Agentes Comunitáriosde Saúde, Prevenção e Controle <strong>da</strong>Hipertensão Arterial, Prevenção eControle do Câncer Ginecológico,Saúde Bucal não tem I<strong>da</strong>de, Saúde <strong>da</strong>Criança, Saúde <strong>da</strong> Família, Saúde <strong>da</strong>Mulher, Saúde do Idoso, SaúdeIndígena e Amigos <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>.Houve notável crescimento <strong>da</strong>capaci<strong>da</strong>de formativa do CentroFormador de Recursos Humanosnestes últimos sete anos de trabalho.De 1954 (ano de início <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des)até 1995, a Escola formou2.682 alunos. De 1996 a 2002observou-se expressivo crescimentoexponencial, totalizando nesteperíodo 25.626 alunos qualificados.Esse salto se deu, principalmente, pelacapaci<strong>da</strong>de e esforço conjunto de to<strong>da</strong>a equipe técnica, auxilia<strong>da</strong> pelasimportantes parcerias conquista<strong>da</strong>snesses últimos sete anos, estasconseqüências <strong>da</strong> vontade política quevalorizou expressivamente a principalcaracterística <strong>da</strong> Escola: a capaci<strong>da</strong>dede descentralizar os cursos para todoo território do estado do Paraná.F – Quais os mecanismos quepoderão assegurar a continui<strong>da</strong>de epermanência <strong>da</strong> oferta de cursos <strong>da</strong>Escola para os próximos anos?MP – Um dos mecanismos é opróprio PROFAE, por meio dofortalecimento <strong>da</strong>s Escolas Técnicasdo SUS, juntamente com o financiamento<strong>da</strong> nova sede do CentroFormador (CF), a ser concretiza<strong>da</strong> noano de 2003. O novo prédio do CFserá subsidiado com recursos doPrograma de Expansão <strong>da</strong> EducaçãoProfissional do Ministério <strong>da</strong> Educação(PROEP/MEC), tendo oPROFAE como mediador dessa novaconquista. Ambas ações beneficiarãoa aquisição de equipamentos, incorporaçãode tecnologias educacionais,modernização <strong>da</strong> estrutura administrativa,consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> visibili<strong>da</strong>dee credibili<strong>da</strong>de no contexto social, ouseja, os benefícios diretos e indiretosque esta Escola trará como resultadossão: a implementação <strong>da</strong>s parceriasatuais e a busca de outras, a adequação<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des do mercadode trabalho consoante às propostaspe<strong>da</strong>gógicas oferta<strong>da</strong>s, o estabelecimentode referência máxima comoordenadora do processo estadual deformação e qualificação de nívelbásico, técnico e pós-técnico para aárea de Saúde. Vale ressaltar que oquantitativo de recursos que oPROFAE e o PROEP disponibilizarãopara viabilizar a nova construção e asaquisições são <strong>da</strong> ordem deR$ 2.550.000,00. Após essa fase dereestruturação, a Escola estará aptapara atender às tendências <strong>da</strong> área deEducação em Saúde de acordo com a96Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○nova Lei de Diretrizes e Bases <strong>da</strong>Educação Nacional (LDB), ao mesmotempo em que se consoli<strong>da</strong> como póloreferencial no estado para outrasEscolas e Institutos Formadores deRecursos Humanos.Para que a Escola tenha continui<strong>da</strong>de,acreditamos que trêsdiretrizes devem ser segui<strong>da</strong>s:- A primeira refere-se à identificaçãoou à realização do diagnóstico<strong>da</strong>s necessi<strong>da</strong>des do universo detrabalhadores <strong>da</strong> área de Saúde, deforma permanente.- A segun<strong>da</strong> é a manutenção e buscade novas parcerias para viabilizaçãoe operacionalização de projetosestratégicos para atender à deman<strong>da</strong>existente do mercado de trabalho.- E por último, é a busca <strong>da</strong>quali<strong>da</strong>de objetivando que o resultadocause um diferencial na efetivi<strong>da</strong>de domundo do trabalho.Foram realizados estudos naSecretaria de Estado <strong>da</strong> Saúde e posteriormenteapresentados à Secretariade Gestão e Investimentos em Saúdepara que a Escola passe a deter umnovo status dentro <strong>da</strong> Estrutura <strong>da</strong>Administração Pública Estadual,transformando-se possivelmente emuma nova autarquia, ou então, paraque o Centro passe a ser subordinadodiretamente ao Secretário de Saúde.Isso implicaria em uma maiorautonomia administrativa e financeira,podendo então participar doorçamento estadual e definir, por meiode recursos próprios, o planejamentode operacionalização de novos cursosde nível básico e técnico de saúde.F – Como o mercado vem absorvendoos egressos do Centro Formador?Qual é a contribuição que aformação desses alunos vem <strong>da</strong>ndopara as políticas de saúde?MP – Os resultados observadossão expressos conforme depoimentosde Secretários Municipais de Saúdee de empregadores de instituiçõeshospitalares, na mu<strong>da</strong>nça efetiva doserviço, na aprovação expressiva deegressos em concursos públicos paraa área de Saúde, na satisfação dousuário, no aumento <strong>da</strong> mão-de-obraqualifica<strong>da</strong> em todos os municípiosdo estado, garantindo a empregabili<strong>da</strong>dee gerando novos empregos.Um dos objetivos para os próximosanos é medir por meio de um estudocientífico, os impactos do processo dedescentralização <strong>da</strong> organizaçãocurricular no estado do Paraná.Sabemos que os resultados sãopositivos, pois o mercado vemabsorvendo profissionais qualificadose fortalecendo o Sistema de Saúde.Cabe destacar que a parceria PROFAEe PROEP viabilizará a implantação deum sistema no Centro Formador quepossibilitará o acompanhamentodesses egressos. Boa parte dosegressos já são trabalhadores,participantes <strong>da</strong>s Políticas Públicas deSaúde Paranaense e o que mais nosorgulha, é que o diploma expedidopela Escola é um item diferencialpositivo para a contratação de novostrabalhadores tanto na iniciativapriva<strong>da</strong> como pública. Os egressosdos cursos são rapi<strong>da</strong>mente absorvidospelo mercado de trabalho. Osindicadores demonstram que o nívelde empregabili<strong>da</strong>de é alto, comoconseqüência, existe um forte impactona melhoria dos serviços de saúde –Políticas Públicas de Saúde –, porexemplo, a redução nas taxas demorbimortali<strong>da</strong>de. A partir <strong>da</strong>í, tantoo setor público está sendo beneficiadopara otimizar o serviço, como o setorprivado, que passa a oferecer umtrabalho com maior segurança,dirimindo o risco de erros na relaçãousuário e profissional <strong>da</strong> área deSaúde de nível básico e técnico.F – Quais são os cursos que aEscola oferece e pretende expandirnos próximos anos? Porquê?MP – A Escola possui duas estratégiasde formação. A primeiradesenvolve-se com os cursos de longaduração, os quais são vinculados auma titulação vali<strong>da</strong><strong>da</strong> pela Secretariade Estado <strong>da</strong> Educação, de modo queo Centro Formador possui cursos dequalificação, formação profissional eem fase de a<strong>da</strong>ptação curricular àFormação97


○ ○ ○ ○nova LDB, são eles: QualificaçãoProfissional em Auxiliar de Enfermagem(QP AE); Complementação <strong>da</strong>Qualificação Profissional de Auxiliarde Enfermagem para Técnico deEnfermagem (CQP TE); Atendente deConsultório Dentário (ACD); Complementação<strong>da</strong> Qualificação Profissionalde Atendente de ConsultórioDentário para Técnico em HigieneDental (THD); Qualificação Profissionalem Auxiliar de PatologiaClínica (APC); Complementação <strong>da</strong>Qualificação Profissional de Auxiliarde Patologia Clínica e para Técnicoem Patologia Clínica (TPC); Técnicoem Vigilância em Saúde (TVSSA).Esses cursos visam atender a deman<strong>da</strong>existente, já que a legislação obrigao profissional a ter qualificação, ouaos casos em que o serviço seja de altacomplexi<strong>da</strong>de, tais como: VigilânciaSanitária, Patologia Clínica, dentreoutros.A segun<strong>da</strong> estratégia é desenvolvercursos livres de qualificação básica(curta duração) que visem atender ostrabalhadores que precisam serinseridos no serviço, bem comoaqueles que também querem melhorara quali<strong>da</strong>de <strong>da</strong> ativi<strong>da</strong>de profissionalpresta<strong>da</strong>. Os cursos oferecidos são:- Cui<strong>da</strong>dor de idosos. Esse cursosurgiu <strong>da</strong> necessi<strong>da</strong>de de diminuir ahospitalização, estimulando medi<strong>da</strong>sde promoção e prevenção à saúde doidoso, preocupando-se com a humanização<strong>da</strong> assistência e a manutençãodo idoso no seu próprio domicílio oucasas asilares (centros de convivência).Isso vem gerando um mercadode trabalho novo e diferenciado, poisoferece um serviço com quali<strong>da</strong>de.- Copa, cozinha, lavanderia,lactário e limpeza. O curso atenderáà Resolução Estadual de Liberação deLicença Sanitária dos EstabelecimentosHospitalares, nº 742/97, ea Portaria Estadual de Controle deInfecção, nº 2616/98, que preconizaque todos os funcionários sejamcapacitados, inclusive o serviço nutricional(copa, cozinha e lactário),assim como o pessoal de processamentode roupa (lavanderia),limpeza e zeladoria. Esse curso contribuirápara a liberação <strong>da</strong> licençasanitária dos estabelecimentos desaúde.- Agente Comunitário de Saúde.Visa atender ao Programa Saúde <strong>da</strong>Família (PSF), incrementando aassistência, a promoção e a prevençãoà saúde em domicílios. É necessáriocapacitar recursos humanos para queaten<strong>da</strong>m aos princípios do PSF, umavez que esse programa está presentena maior parte dos municípiosparanaenses.- Agente Indígena de Saúde. Essecurso objetiva a<strong>da</strong>ptar o modelo deAgente Comunitário de Saúde àsreali<strong>da</strong>des <strong>da</strong> Saúde Indígena, semprelevando em conta as característicasculturais e antropológicas.- Amigos <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>. Tem comoobjetivo treinar pessoas <strong>da</strong>comuni<strong>da</strong>de para que saibam osprocedimentos básicos em casos deurgência e emergência, principalmentepessoas que trabalham emlocais de grande aglomeração(shoppings e supermercados). O cursose fun<strong>da</strong>menta no princípio de que osprimeiros minutos de uma urgência eemergência são os momentos maiscríticos para que se possa reverter oquadro agudo instalado no paciente.Quanto à expansão, ela estáprevista nos próximos cinco anos,uma vez que existe grande deman<strong>da</strong>em todos os municípios do estado doParaná. Essa expansão pretendeatender também a área de Oncologia.Em nosso estado, a Política Públicade Saúde relativa a essa área temcomo meta a prevenção, medianteexames citológicos (biodiagnóstico),e a cura por meio de procedimentosradiológicos. Portanto, é necessárioque recursos humanos de nível médiosejam incorporados a esse serviço,atuando junto a bioquímicos emédicos. Outra área é a Administraçãocom ênfase nos equipamentosde saúde. Existe uma carênciaexpressiva de trabalhadores com essaformação específica, tanto nessa áreacomo na área de manutenção deequipamentos hospitalares.98Nº 05 MAIO DE 2002


○ ○ ○ ○Finalmente, será implanta<strong>da</strong> aqualificação de Cui<strong>da</strong>dor de Crianças,em que se enfatizará o cui<strong>da</strong>do acrianças com i<strong>da</strong>de de zero a 4 anos.Essa qualificação atenderá funcionáriosque trabalham em creches,sendo que o conteúdo programáticoserá centralizado nas questões <strong>da</strong>saúde <strong>da</strong> primeira infância.Portanto, os cursos a seremimplantados, em 2003, pelo CentroFormador nas áreas Biodiagnóstico,Administração e Infância, são:Técnico em Citologia; Técnico emRadiologia; área de Administração(ênfase em manutenção de equipamentos);Cui<strong>da</strong>dor de Crianças.F – O que a Escola tem que adiferencia de outro aparelho formador?Quais são os pontos de diferença?MP – A Escola possui naturezapública e está inseri<strong>da</strong> na SecretariaEstadual de Saúde, portanto, garanteprincipalmente a conexão entre asPolíticas Públicas de Saúde e o ensinodisponibilizado para a sua clientela,sem ônus para os alunos. Nopanorama estadual, é a única que temcaracterística de descentralizarturmas para os municípios comviabili<strong>da</strong>de técnica para a execução(existência de docentes profissionais<strong>da</strong> área, campo de estágio, sala deaula, sala de práticas). A descentralizaçãonão implica em nova sede ousucursal, isto garante, ao final <strong>da</strong>deman<strong>da</strong> atendi<strong>da</strong>, a extinção doprocesso. A metodologia é o outrodiferencial, pois associa ensino eserviço, utiliza docentes do serviçooferecendo a estes CapacitaçãoPe<strong>da</strong>gógica e Técnica antes e durantea execução <strong>da</strong> descentralizaçãocurricular, destaca-se pelas PolíticasPúblicas de Saúde, Educação eTrabalho, assim como respeita ascaracterísticas regionais de ca<strong>da</strong> localonde exista a descentralizaçãocurricular, uma vez que o estado doParaná possui muitas peculiari<strong>da</strong>desde município para município.Outro diferencial é a participaçãodireta <strong>da</strong> Escola na Rede de EscolasTécnicas do SUS. A expectativa é quecompartilhemos as informações econhecimentos por meio <strong>da</strong> buscaconjunta de soluções aos problemasinerentes a todos os outros CentrosFormadores e Escolas, assim comodefinição de novas estratégias paraatender novas deman<strong>da</strong>s, contribuindopara construir a política nacional deformação profissional de nível básico,técnico e pós-técnico. Também existeuma aproximação com outras esferasadministrativas como: Ministério <strong>da</strong>Saúde, Conselho Nacional deSecretários de Saúde (CONASS),Conselho Nacional de SecretáriosMunicipais de Saúde (CONASEMS),Conselhos Estaduais e Municipais deSaúde, Bipartite e Conselho Estadualdo Trabalho (CET).F – O método pe<strong>da</strong>gógico produzum diferencial no ensino em saúde noEstado do Paraná?MP – Sim, pois o CFRH organizao seu trabalho de forma descentraliza<strong>da</strong>,considerando que a educaçãopode ocorrer nos mais diversosespaços e situações sociais, representandoum processo contínuo deaprendizagem, sempre buscandoproduzir conhecimentos relevantescapazes de formar profissionaisadequados às necessi<strong>da</strong>des sociais,aptos a prestar serviços de quali<strong>da</strong>deà população. Esse conhecimento temsido construído a partir de pe<strong>da</strong>gogiasinovadoras, sempre considerando areali<strong>da</strong>de dos serviços de saúde e doeducando, articulando teoria e prática,na interdisciplinari<strong>da</strong>de e naparticipação ativa do aluno que é osujeito do processo de ensinoaprendizagem.A metodologia busca umainteração efetiva entre o ensino e aprática profissional. A integraçãoensino, trabalho e comuni<strong>da</strong>deimplica em uma imediata contribuiçãopara essa comuni<strong>da</strong>de, aintegração entre o professor e o alunona investigação e na busca deesclarecimentos e propostas, bemcomo a<strong>da</strong>ptação a ca<strong>da</strong> reali<strong>da</strong>de locale aos padrões culturais próprios deuma determina<strong>da</strong> estrutura social.Essas características fazem do CentroFormador de Recursos Humanos umaFormação99


○ ○ ○ ○“escola-função” – ela vai aonde oaluno está. Sua sede administrativaestá localiza<strong>da</strong> em Curitiba, mas suassalas de aula estão distribuí<strong>da</strong>s portodo o estado do Paraná. Atingindopotencialmente 100% dos municípiosdo estado onde houver deman<strong>da</strong>acompanha<strong>da</strong> de viabili<strong>da</strong>de técnicae pe<strong>da</strong>gógica, uma sala de aula éinstala<strong>da</strong> sempre em parceria com acomuni<strong>da</strong>de e atores sociais. Essa salavai permanecer o tempo necessário edeterminado até atender à deman<strong>da</strong>.Para ca<strong>da</strong> turma descentraliza<strong>da</strong>,existe um coordenador técnico e umcoordenador administrativo local eresponsável pela operacionalização docurso, que está sob a supervisão diretade um profissional técnico <strong>da</strong> áreaespecífica: o coordenador pe<strong>da</strong>gógicodo Centro Formador.F – Qual é o impacto produzidopela implantação do PROFAE naEscola e quais são as possibili<strong>da</strong>des eperspectivas trazi<strong>da</strong>s pelo Projeto?MP – O PROFAE veio para Escolanum momento ímpar, quando estavinha construindo a visibili<strong>da</strong>deperante o Sistema de Saúde, asocie<strong>da</strong>de cientifica e a socie<strong>da</strong>decivil. Ela abriu um leque deoportuni<strong>da</strong>des nunca antes visto. EssaEscola atingiu metas ousa<strong>da</strong>s com oProjeto. Hoje, ela está com umquantitativo de cerca de 800 docentespara o desenvolvimento de 115 turmasdescentraliza<strong>da</strong>s, com 115 coordenadorestécnicos e 115 coordenadoresadministrativos para atendero Projeto em nível local. O Projetoatende até o momento 5.400 alunos,implicando na geração de trabalho eren<strong>da</strong> para estas pessoas, no impactona quali<strong>da</strong>de do serviço prestado,assim como, na manutenção doemprego para aqueles que estavamsob o risco de perdê-lo.Quanto às possibili<strong>da</strong>des trazi<strong>da</strong>spelo Projeto, assim como nas perspectivas,percebe-se que o PROFAEnão se esgota por si mesmo, elemostra o caminho para a sustentabili<strong>da</strong>de<strong>da</strong>s Políticas Públicas deSaúde nas questões que se referem aRecursos Humanos para o nívelbásico, técnico e pós-técnico. Emoutras palavras, é necessário quevenhamos a buscar a ampliação doleque de possibili<strong>da</strong>des formativa deoutras áreas <strong>da</strong> Saúde. Isso demonstraque existe um universo a ser cobertoe que o PROFAE indica as EscolasTécnicas do SUS que desenvolvam asua missão em to<strong>da</strong> a sua plenitude.F – Em termos políticos, como searticulam as Escolas e as Políticas deRecursos Humanos desenvolvi<strong>da</strong>s pelaSecretaria de Estado de Saúde?MP – O modelo principal consistena articulação por meio de Oficinasde Trabalho entre vários atores <strong>da</strong>Administração Pública Estadual,dentre eles: a diretoria de recursoshumanos; as Regionais de Saúde, asSecretarias Municipais de Saúde; osConselhos Municipais de Saúde, osConselhos Municipais do Trabalho; oConselho Estadual do Trabalho; oConselho Estadual de Educação (CEE);a Secretaria de Estado <strong>da</strong> Educação; aCoordenação de Educação Profissional<strong>da</strong> Secretaria Estadual de Emprego eRelações do Trabalho (SEED/SERT).Nessas oficinas buscam-se a integraçãoe a sensibilização para desenvolvimentodos cursos e de suas turmas descentraliza<strong>da</strong>s,em que são apresentados osprojetos, a metodologia, a forma deexecução curricular, as atribuições doscoordenadores técnicos e administrativos,as atribuições <strong>da</strong>s SecretariasMunicipais de Saúde, o papeldos coordenadores pe<strong>da</strong>gógicos estaduais,a função <strong>da</strong>s Regionais deSaúde. Ain<strong>da</strong> nessas oficinas são seladosos compromissos <strong>da</strong>s partes paraque os resultados possam ser atingidos.Importante são as oficinas internasem que o Centro Formador participajuntamente com vários setores deserviços <strong>da</strong> SESA para nortear asações de ensino volta<strong>da</strong>s às necessi<strong>da</strong>desdo público-alvo. Como exemplo,temos a última estratégiadesenvolvi<strong>da</strong> por este Centro Formadorque é o “Projeto Amigos <strong>da</strong> Vi<strong>da</strong>”,citado anteriormente, o que resultoude participação colaborativa demuitos segmentos <strong>da</strong> Secretaria deEstado <strong>da</strong> Saúde.100Nº 05 MAIO DE 2002

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