para o Plano de manejo espeleológico Mapeamento da - Bonito

Em 2008 uma equipede mergulhadorestopografou oabismo alagadoconhecido comoLagoa Misteriosa,que há pouco temporecebeu sua licençaprévia de instalaçãodo receptivo e devecomeçar a operar (setudo correr bem) até ofinal do anoCom a exceção do Abismo Anhumas,que na verdade nunca foi fechadoà visitação e sempre trabalhou comliminares judiciais, a Lagoa Misteriosaé a primeira caverna de mergulho doBrasil a ter seu PME (Plano de ManejoEspeleológico) aprovado pelo CECAV(Centro Nacional de Pesquisa e Conservaçãode Cavernas) e pelo IMASUL(órgão ambiental do MS) e já recebeusua licença prévia. As outras licenças(de instalação e de operação) devemsair em breve e dentro de alguns mesesa Lagoa poderá voltar a operar.Por este motivo, este relato só estásendo publicado agora. Quando ostrabalhos no Buraco das Abelhas foramdivulgados, acreditava-se que a cavernaseria colocada em operação logo.Mas, apesar da criação do TR (Termode Referência) para PMEs exclusivos decavernas alagadas (antes a referênciapara PMEs era o TR das cavidades “secas”),um outro impedimento surgiu: os“Parques Nacionais de Papel” – as áreassão desapropriadas, porém não sãoindenizadas, o que causa um grandeproblema com os antigos proprietáriosdas terras (ou atuais, visto que aindanão receberam nenhum dinheiro porelas). Essa divulgação antecipada gerauma frustração em relação à reaberturadas cavernas mergulháveis no Brasil.O entorno da Lagoa Misteriosapertence a Eduardo Coelho, um fazendeirode gado e criador de umAlex Porto Rudimar GuerriniEquipe no deck de acesso à Lagoapreparando-se para o trabalhoDeck de acessodos passeios pioneiros da região deBonito e Jardim: a flutuação do Rio daPrata, que já ganhou prêmio de melhorpasseio ecológico do Brasil pelarevista Quatro Rodas.Eduardo tornou-se pioneiro nestenovo momento em que os PMEs de cavernasalagadas começam a se tornarrealidade. Quando adquiriu a área doantigo proprietário, deu continuidadeao PME e contratou nossa equipe parafazer a topografia do abismo alagado.Foi uma demorada negociação quese estendeu por mais de um ano. AMisteriosa é uma das cavernas maisprofundas do país e já foi exploradaaté 220 metros de profundidade pelomergulhador Gilberto Menezes. Nestaprofundidade existe um cone de blocosabatidos e a caverna continua paraos lados e certamente para baixo. Aproposta do projeto era o mapeamentodo abismo até os 70 metros de profundidade,onde se concentra a grandemaioria dos mergulhos que serão executadospelos mergulhadores visitantes.Revista mergulho 37

Alex PortoDaniel Romioanotando visadano Poço BRudimar GuerriniDeco stages aguardando osmergulhadores na águasupervisão das misturas e recargas deacordo com o plano estipulado paraas próximas imersões, a inserção dasnovas informações topográficas namassa de dados já contida no softwarede mapeamento. O trabalho semprepode ficar melhor e a interpretação dacaverna mais fidedigna. Efetivamentenão é “uma viagem de mergulho”; é umtrabalho que envolve mergulho.PLANEJAMENTO DOS MERGULHOSOs mergulhos foram divididos emrasos (até 30 metros de profundidade)e fundos (entre 30 e 70 metros deprofundidade). O gás de fundo paraos mergulhos rasos era o ar ou EANxe para os fundos misturas com hélio(trimix), sempre com equivalente narcóticode 30 metros de profundidade oumenos. Utilizamos também EANx paragás de viagem e descompressão eoxigênio para descompressão. Posicionamoscilindros extras por toda a áreade trabalho nos dois poços, com os gasese misturas adequados para as profundidadesem que eles se encontravam,além de cilindros de oxigênio comadaptadores e reguladores DAN paraemergências na superfície. Tínhamoscaixa de primeiros socorros completa,plano de ação de emergência, radiocomunicadoresutilizados para contatocom a central da fazenda CabeceiraRudimar Guerrinido Prata e de lá acesso a telefones eoutros meios de comunicação. Além demaca e carros para transporte, toda aequipe possuía treinamento em resgate,primeiros socorros e administraçãode oxigênio.O principal método de topografiaque utilizamos consistiu basicamente emcriar “pontos em planta”; linhas verticaiscom o maior comprimento possível. UmDois timesna parada dedescompressãono Poço Acabo vertical, iniciando na superfíciee se aprofundando o máximo possívelantes de atingir alguma parede ou fundo,foi utilizado. Deste cabo, que vistode cima (planta) é representado porum ponto por ser exatamente vertical,a cada cinco metros eram nomeadas asbases topográficas na própria linha edestas bases eram tomadas cerca deoito visadas radiais ao mesmo tempoRevista mergulho 39

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Alex PortoMergulhador nocontra-luz: a Lagoa éuma piscina gigante!em que o mergulhador croquista desenhavao contorno criado pelas pontasdestas radiais nas paredes do conduto.O incidenteApesar dos procedimentos de segurançapreverem apenas um mergulhopor dia para as equipes que mergulharamfundo, de alternarmos um dia demergulho fundo por um dia de mergulhoraso e de executarmos mergulhoscom perfis conservadores, tivemos umacidente descompressivo durante aexpedição. Neste dia tive uma reuniãocom Eduardo Coelho para atualizá-losobre os avanços do mapeamento, equando cheguei ao deck na borda daMisteriosa encontrei a equipe toda jáfora da água depois do mergulho eo mergulhador acidentado deitadodescansando. Johnny já estava alerta econtou que o mergulhodor tinha voltadodo mergulho com um cansaço muitogrande e que estava em observação.O mergulhador chamado Inaldo, acreditavaque seu cansaço era decorrênciada longa viagem realizada há dois diase recusou o oxigênio oferecido. Passadasduas horas, ele continuou cansadoe começou a sentir dores no quadril,náuseas e enjoo. Assumimos, então, queera doença descompressiva (16h30min).Ele foi colocado deitado e aquecidona cama além de passar a receberoxigênio. Seu dupla de mergulho continuavanormal sem nenhum sintoma eassim permaneceu. Johnny comandoua operação de resgate com extremaeficiência. Parte da equipe acionou aDAN, levou-o para o hospital e coma orientação e ajuda do Dr. EduardoVinhaes (medico hiperbárico voluntárioda DAN no Brasil) conseguiu embarcá-lono avião de resgate da operadora desaúde às 08h00min da manhã seguinteao acidente. Às 12h00min, Inaldo davaentrada no Hospital 9 de julho, em SãoPaulo, para início do tratamento. Apóstrês dias de internação e três sessõesem câmara hiperbárica, ele recebeualta e foi para casa. Uma investigaçãoposterior mostrou que Inaldo tem ForameOval Patente (FOP), que aumenta osriscos de Doença Descompressiva.Conclusão dos trabalhosQuando o Plano de Manejo daLagoa Misteriosa ficou pronto, LuizaCoelho (responsável técnica) me pediupara escrever uma apresentação parao PME. Finalizo este artigo com doistrechos desta apresentação:Hoje sabemos que uma das melhores emais efetivas formas de preservação deambientes naturais é o turismo sustentável,que ao mesmo tempo em que mantémas características originais do local,oferece a oportunidade de as pessoas42 Revista mergulho

Tuta BarrocoVegetaçãosubmersa namargem oestedo Lagoconhecerem lugares fantásticos, gerandorecursos que mantém o ciclo de estudo,conservação, visitação e manutenção.A oportunidade de participar da elaboraçãodo Plano de Manejo Espeleológicoda Lagoa Misteriosa, chefiando omapeamento subaquático do trecho doabismo alagado que será adentrado pelagrande maioria dos visitantes, presenteoua mim e a toda a equipe de mergulhadorescom uma visão e conhecimento dacaverna que como mergulhadores esportivosnunca tínhamos tido. A representação,o desenho e as medidas nos colocaramem contato íntimo com a cavidade,marcando nossas almas para sempre.O visual calcárioruiniforme doparedão oeste daLagoa MisteriosaJosé “Tuta” Barroco é instrutor de mergulho emcavernas PADI, NSS/CDS e TDI. Organizou e liderou asexpedições Buraco das Abelhas 2006 e Lagoa MisteriosaTopo 2008, além de finalizar os mapas resultantesdestas duas expedições. É membro do CEMEC –Conselho Especializado em Mergulho em Cavernas doCECAV/ICMBio. tutabarroco@ig.com.brTuta BarrocoRevista mergulho 43