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da Tulipa CANTORA E COMPOSITORA LANÇA TUDO TANTO E ...

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U N I V E R S O S O N O R OO projeto Memórias Capitais reúne entrevistas sensoriais comdiversos artistas sobre a ci<strong>da</strong>de onde nasceramREPORTAGEM | memórias capitaisManaus, uma <strong>da</strong>sci<strong>da</strong>des do projetoMemórias CapitaisTEXTO gabriela rassyFOTO matthieu rougéFotos, vídeos, textos. Temos uma infini<strong>da</strong>de de meios para guar<strong>da</strong>r, de algumaforma, um tempo que passou. O registro dos momentos, porém, nãosupre o sabor, o perfume e as experiências pessoais conta<strong>da</strong>s. Retomar essassensações, através <strong>da</strong> contação de histórias, sempre relacionando-as àci<strong>da</strong>de de nascimento é a ideia principal de Memórias Capitais. Idealizadopor Cacá Machado, com direção e fotografia de Matthieu Rougé, o projeto éuma compilação de entrevistas que pretende resgatar as nuances <strong>da</strong> infânciapara retratar ca<strong>da</strong> capital brasileira por meio <strong>da</strong>s lembranças de nativosque sejam, hoje, criadores de arte.Nesse sentido, a ideia é seguir um personagem, partindo sempre do bairro,<strong>da</strong> casa ou <strong>da</strong> rua onde cresceu, para, por meio de depoimentos, traduzirsuas lembranças. “É uma experiência sensorial, por isso, é apenas sonora,para que o ouvinte possa recriar a imagem <strong>da</strong> época”, explica MatthieuRougé, que, depois do primeiro programa gravado, insistiu em acrescentarimagens ao site [itaucultural.org.br/memoriascapitais] onde o projeto éexibido. As fotos, porém, não seguem ordem cronológica nem podem servistas enquanto se escuta o áudio, exatamente para preservar o imagináriodo ouvinte. Em Salvador, por exemplo, Carlinhos Brown caminha comproprie<strong>da</strong>de pelas ruas onde vive até hoje. Canta, ri e cumprimenta ca<strong>da</strong>pessoa que passa enquanto mostra com orgulho o bairro onde passou ainfância. “Abre o gueto aqui, Helena, por favor?”, diz ao entrar em uma desuas histórias.A Salvador de Brown, aliás, tem mais intervenções de criação sonora doque a ci<strong>da</strong>de de Fafá de Belém, por exemplo, em que o som é direto. “É umprojeto muito flexível, que se a<strong>da</strong>pta a ca<strong>da</strong> personagem. Saem depoimentosmuito diferentes, o que torna o conjunto muito mais interessante do queum só programa. Além disso, de ca<strong>da</strong> um sobressaem subtemas”, explicaRougé. Um dos assuntos recorrentes é a ditadura militar, até mesmo pelai<strong>da</strong>de dos artistas escolhidos pelo diretor, todos com mais de 45 anos. “Éum recorte geracional. Acho que são personagens mais interessantes emtermos de lembranças”, diz Rougé.Alguns dos depoimentos mais atraentes considerados pelo diretor do projetosão o de Paulo Lins [Rio de Janeiro] e o de Paulo Mendes <strong>da</strong> Rocha[Vitória]. “O do Paulo Lins me toca muito porque ele tem uma voz incrível,que traduz vários sentimentos do Rio com doçura. O do Mendes <strong>da</strong> Rochase destaca pela visão, gentileza articula<strong>da</strong> e pelo recuo <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de”, conta.“Minha infância era o meu paraíso.” Essa foi a definição que o escritor Milton Hatoumencontrou para seu lugar de origem, durante uma <strong>da</strong>s entrevistas. Em Manaus,Hatoum nos leva à rua onde morou, à escola do bairro e ao porto. Depoisde tantos anos vivendo longe <strong>da</strong>li, ele avalia sua relação com a ci<strong>da</strong>de, de ondesaiu aos 15 anos. “Acho que esse foi um dos maiores traumas <strong>da</strong> minha vi<strong>da</strong>. [...]Eu queria e não queria sair <strong>da</strong>qui. Queria porque a província é sufocante e nãoqueria para não abandonar meu paraíso”, conta o escritor. Em outro momento,ele lembra <strong>da</strong> cultura <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de naquele tempo. “Na<strong>da</strong> era perto, tudo era distante,mas as coisas chegavam. Até mesmo as rádios do Caribe, bolero, rumba. OCaribe era mais próximo <strong>da</strong> gente do que o Brasil”, diz quase em tom de poesia.A narrativa oral foi a base de to<strong>da</strong>s as culturas antes <strong>da</strong> escrita. Segundo oprofessor de pesquisa em sociologia Paul Thompson, que estu<strong>da</strong> a importância<strong>da</strong> orali<strong>da</strong>de dos fatos, a história oral é “a interpretação <strong>da</strong> história,<strong>da</strong>s socie<strong>da</strong>des e <strong>da</strong>s culturas por meio <strong>da</strong> escuta e do registro <strong>da</strong> históriade vi<strong>da</strong> <strong>da</strong>s pessoas. E a habili<strong>da</strong>de fun<strong>da</strong>mental na história oral é aprendera escutar”, como escreveu em História Fala<strong>da</strong> – Memória, Rede e Mu<strong>da</strong>nçaSocial (Sesc SP, Museu <strong>da</strong> Pessoa e Imprensa Oficial, 2006).Para Rougé, é um privilégio circular pelas ci<strong>da</strong>des conta<strong>da</strong>s e aprender comos personagens novas leituras sobre ca<strong>da</strong> lugar. “Acho que o fato de eu serfrancês aju<strong>da</strong> o programa. O João Donato, por exemplo, fazia questão decontextualizar coisas, explicar melhor, como se eu não soubesse o que aconteceulá. Acho que essa é uma vantagem de eu ser estrangeiro”, disse aosrisos. Ain<strong>da</strong> faltam nove ci<strong>da</strong>des para completar o projeto, que será concluídono final de 2012. Os próximos a entrar no ar são os depoimentos de JoãoDonato, sobre Rio Branco, e Antonio Carlos Viana, sobre Aracaju.CONTINUUM26 27

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