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da Tulipa CANTORA E COMPOSITORA LANÇA TUDO TANTO E ...

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RESENHA | o paraíso de zahraO PARAÍSONÃO É AQUIHistória em quadrinhos reveladramas do povo iranianoTEXTO micheliny verunschkTiras de O Paraíso de Zahra, que retrataacontecimentos ocorridos após as eleiçõespresidenciais de 2009O Paraíso de Zahra é o nome do mais importante cemitério iraniano, ao sulde Teerã, que leva o nome <strong>da</strong> filha do profeta Maomé, Fátima Zahra. Acredita-seque os mortos enterrados nesse local ressuscitarão no paraíso. OParaíso de Zahra (Leya, 2011) é também o nome de uma graphic novel queconta as atroci<strong>da</strong>des cometi<strong>da</strong>s contra o povo iraniano no período posteriorà conturba<strong>da</strong> eleição do atual presidente, Ahmadinejad, em 2009. Logoapós o pleito, on<strong>da</strong>s de protesto tomaram conta do país, com manifestantesacusando o partido vencedor de fraude. Sob as ordens de Ali Khamenei,líder supremo iraniano, a milícia Basij atacou os grupos causando váriasmortes, prisões e desaparecimentos. Uma dessas mortes, <strong>da</strong> jovem Ne<strong>da</strong>Agha-Soltan, tornou-se emblemática <strong>da</strong> luta do povo iraniano por seus direitos,entre eles a democracia. A imagem <strong>da</strong> moça coberta de sangue, agonizandono meio <strong>da</strong> rua, ganhou o mundo através <strong>da</strong>s redes sociais e expôsum fato que a grande mídia ocidental sempre deixou de lado: os anseios dopovo árabe não são tão diferentes <strong>da</strong>queles dos povos ocidentais.A história de O Paraíso de Zahra foi motiva<strong>da</strong> por esses acontecimentospolíticos e reuniu sob o mesmo projeto um autor iraniano, Amir, um artistagráfico árabe-americano, Khalil, e um editor judeu, Marc Siegel. Publica<strong>da</strong>de forma seria<strong>da</strong> na internet, a história se tornou uma resposta à censura eperseguição empreendi<strong>da</strong> pelaRepública Islâmica do Irã ao seupróprio povo. “Ficamos muitoemocionados em 2009 quandovimos o que estava acontecendonas ruas de Teerã. Vimos na internet uma mãe que havia perdido o filhode 19 anos, pessoas muito corajosas perguntando ‘onde está o meu voto?’,outras que saíam para as ruas e documentavam o que estava acontecendo,como se assumissem o papel <strong>da</strong> imprensa. Precisávamos <strong>da</strong>r uma respostarápi<strong>da</strong> e fizemos a publicação simultânea à produção. O livro foi produzidoem um ano e meio porque nosso propósito era sermos solidários para comaquelas pessoas.” Quem conta é Khalil, que em junho esteve no evento delançamento do livro no Itaú Cultural.A obra conta a história de Zahra, cujo filho Mehdi, de 19 anos, desaparecenos protestos subsequentes à eleição. Narra<strong>da</strong> em primeira pessoa pelo irmãode Mehdi, um blogueiro ativista, é ao mesmo tempo pungente e combativa.Por meio desse roteiro, o cotidiano do povo iraniano se mostra muitopróximo ao de qualquer outro e talvez seja essa uma <strong>da</strong>s maiores virtudesdo livro: a identificação imediata, seja pelo apelo jovem por liber<strong>da</strong>de, sejapor detalhes como o trânsito caótico, a conversa do taxista ou o tráfico depoder tão conhecido de nações que enfrentam problemas com a corrupção.Não há como pensar nas mães iranianas sem lembrar <strong>da</strong>s mães <strong>da</strong> Praça deMaio ou <strong>da</strong>s mães <strong>da</strong> Candelária. Para além de enxergar o iraniano como ooutro, o diferente extremo, é possível afirmar que eles somos todos nós. Oilustrador Khalil é contundente: “O Irã quer direitos humanos, comunicaçãoentre as pessoas. O rosto de Ahmadinejad é somente um rosto feio que olhoupara o mundo, não é a história do Irã, nem quem representa o país”.GUINDASTESEntretanto, não há como não se chocar com a visão, ain<strong>da</strong> que ilustra<strong>da</strong>, decorpos de dissidentes enforcados, martirizados em guin<strong>da</strong>stes e expostosem praça pública. Na história, o narrador é cru ao afirmar: “No Irã nós tambémtemos a nossa própria KKK. No lugar dos robes brancos e capuzes, elesusam turbantes e uniformes. Os cristãos têm a cruz; nós temos o guin<strong>da</strong>ste”.Oferecendo um panoramamuito atual do país, O Paraísode Zahra é o documento de umtempo, uma denúncia vigorosa.Zahra, a personagem principal,homenageia também a fotógrafa iraniana-canadense Zahra Kazemi, mortaem julho de 2003 depois de ficar duas semanas sob a custódia <strong>da</strong> RepúblicaIraniana por fotografar uma manifestação em frente à penitenciária de Evin.“NO IRÃ NÓS TAMBÉM TEMOS A NOSSA PRÓPRIA KKK.NO LUGAR DOS ROBES BRANCOS E CAPUZES, ELES USAMTURBANTES E UNIFORMES.”Zahra, a mãe sem seu filho, é uma metáfora do Irã. Como Zuzu Angel é umametáfora do Brasil. E ela, Zahra, pergunta: “Olhem pra este caixão, pra estetúmulo. Neste momento agora, onde está o Mehdi? Este túmulo é o seu futuro?Este caixão é o seu passado? E se ele não estiver no túmulo e nem nocaixão? Olho para este túmulo e não vejo Mehdi. E se eu abrisse este caixão,não encontraria Mehdi. Encontraria a assinatura de um povo sem nome esem rosto, sem história nem futuro”.

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