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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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porque o próprio pesquisa<strong>do</strong>r os colocou. Negros específicos, eram, emseu gabinete de trabalho, fontes cooptadas, anônimas e passivas.Um outro caso <strong>no</strong>tável da presença negra ainda como objeto, é olivro A Cidade das mulheres, de Ruth Landes, antropóloga <strong>no</strong>rte-americanaque chegou à Bahia em 1938, enviada pelo Departamento deAntropologia da Universidade de Columbia para estudar “a gente <strong>do</strong>can<strong>do</strong>mblé” e o modelo racial <strong>brasileiro</strong>. Normalmente, os autores usamo trabalho de Ruth Landes para referendar suas críticas contra “o idealismode África”, “a pureza nagô” ou o tabu “da presença destacada <strong>do</strong>homossexualismo <strong>no</strong> Can<strong>do</strong>mblé”. 14 Assim é que Peter Fry, ao mesmotempo em que enfatiza o desgosto da autora pela presença <strong>do</strong>s homossexuaismasculi<strong>no</strong>s, ou a sua corroboração da opinião de que os homossexuaismasculi<strong>no</strong>s traem a “tradição” e a seriedade <strong>do</strong> culto das grandesmães de santo, destaca a ousadia de Landes em tocar num tematabu, levantar uma polêmica sobre a regularidade da presença de homossexuais<strong>no</strong>s cultos afro-<strong>brasileiro</strong>s e suscitar um debate sobre osrecortes e contradições da “pureza nagô”. 15 Patrícia Birman, por suavez, afirma que, na polêmica levantada por Landes, chamava a atençãoo fato de que a crítica à autora ter se apresenta<strong>do</strong> como uma “defesa”<strong>do</strong> culto, como se o mesmo sofresse um ataque à sua legitimidade pelapresença de homossexuais ou como se houvesse uma tentativa deestigmatização <strong>do</strong>s já tão sofri<strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s. Afirma Patrícia Birman queArthur Ramos, Roger Bastide ou Melville Herskovits reagiram, certosde que Landes pecava ao questionar a correspondência entre gênero esexo biológico. Isto porque Ruth Landes afirmava a presença <strong>no</strong> Can<strong>do</strong>mbléde um papel femini<strong>no</strong> disponível, que poderia ser assumi<strong>do</strong> porhomens desde que estes, homens <strong>no</strong> pla<strong>no</strong> biológico, socialmente, fossemidentifica<strong>do</strong>s como mulheres. 16 Deste mo<strong>do</strong>, Ruth Landes não só14Peter Fry, “Homossexualidade e Cultos Afro-Brasileiros”, in Peter Fry, Para Inglês Ver. Identidadee Política na Cultura Brasileira (Rio de Janeiro, Zahar Editores, 1982), pp. 54-85; BeatrizGóis Dantas, Vovó Nagô e Papai Branco. Usos e Abusos da África <strong>no</strong> Brasil, Rio de Janeiro,Graal, 1982; Patrícia Birman, Fazer Estilo Crian<strong>do</strong> Gêneros. Possessão e Diferenças de Gêneroem Terreiros de Umbanda e Can<strong>do</strong>mblé <strong>no</strong> Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Relume-Dumará/EdUERJ, 1995; Jocélio Teles <strong>do</strong>s Santos, O Do<strong>no</strong> da Terra. O Caboclo <strong>no</strong>s Can<strong>do</strong>mblésda Bahia, Salva<strong>do</strong>r, Sarah Letras, 1995.15Fry, “Homossexualidade e Cultos Afro-Brasileiros”, p. 61.16Birman, Fazer Estilo Crian<strong>do</strong> Gêneros, pp. 65-66.Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312 289

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