12.07.2015 Views

A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

SHOW MORE
SHOW LESS
  • No tags were found...

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

crata, logo após o fim da escravidão, <strong>no</strong>s primórdios das ciências sociais,defenden<strong>do</strong> a necessidade de se transformar o “<strong>negro</strong>” em objetode ciência; seja Ruth Landes lapidan<strong>do</strong> um olhar estrangeiro sobre aquestão racial brasileira; seja Edison Carneiro, <strong>negro</strong> de classe média,realizan<strong>do</strong>, <strong>no</strong>s a<strong>no</strong>s 30, bastante inconsciente, uma socioantropologiaauto-reflexiva; seja Thales de Azeve<strong>do</strong>, minan<strong>do</strong> a reificação que elepróprio fez da democracia racial brasileira emblematicamentepresentificada <strong>no</strong> cotidia<strong>no</strong>, nas relações sociais de uma Bahia hierárquica,estamental e clientelista da década de 50.Além <strong>do</strong> trabalho destes autores, vou considerar o “drama social” 6que tenho vivi<strong>do</strong> como <strong>do</strong>utoran<strong>do</strong> <strong>no</strong> Programa de Pós-Graduação emAntropologia Social-PPGAS — da Universidade de Brasília (UnB), depoisde uma injusta e mal versada reprovação numa disciplina obrigatóriaministrada pelo professor Dr. Klaas Woortmann, eminente <strong>no</strong>me daAntropologia <strong>do</strong> Parentesco, <strong>no</strong> Brasil. Acomoda<strong>do</strong> ao status de “excelente”que adquiriu ao longo <strong>do</strong>s seus quase 30 a<strong>no</strong>s de existência, esteprograma é um consistente resíduo conserva<strong>do</strong>r <strong>no</strong> Brasil. Resiste adiscutir uma questão tabu na sociedade e na academia brasileira como aquestão racial. Não possui sequer um professor <strong>negro</strong> ou que se apresentecomo tal. Apesar de ser um <strong>do</strong>s seus raros alu<strong>no</strong>s <strong>negro</strong>s, numauniversidade visivelmente branca 7 , o corpo de <strong>do</strong>centes que controla asinstâncias de poder e decisão <strong>do</strong> PPGAS vem tentan<strong>do</strong> sufocar as tensõese os conflitos gera<strong>do</strong>s pela minha presença negra através de umdiscurso universalista e meritocrático. Discurso este, contraditório umavez que referenda o humanismo parcial que, <strong>no</strong> Brasil, favorece o segmentosocial branco. Ou seja, é a condição, a fala e presença brancaque se reatualiza como universal, positiva, neutra e contínua. Enquantoa negra parece só poder se inscrever como tal pela afirmação de umconflito de caráter histórico e político <strong>do</strong> qual sou personagem.67Victor Turner, Schism and Continuity in an African Society. A Study of Ndembu Village Life,Lusaka/New York, Institute for African Studies/University of Manchester, 1972.A propósito <strong>do</strong> alto grau de embranquecimento da UnB, evidente para nós estudantes <strong>negro</strong>sautoconscientes, recentemente a inédita pesquisa “Desigualdades Raciais <strong>no</strong> Ensi<strong>no</strong> Superior”,realizada pela Profa. Delcele M. Queiroz ,<strong>do</strong> Programa A Cor da Bahia, da UFBA, apontouda<strong>do</strong>s impactantes.Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312 285

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!