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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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discutir méto<strong>do</strong>s de avaliação, de estabelecer alguma coerência entre odebate antropológico de sala de aula, <strong>no</strong> que diz respeito à dignidade, aoreconhecimento da capacidade <strong>intelectual</strong> e dialógica de sujeitos marginais,de admitir o fato de que o professor também pode errar; desprezaramuma carta de solidariedade assinada por um grupo de alu<strong>no</strong>s <strong>do</strong>PPGAS, encaminhada à chefia <strong>do</strong> departamento, assim como os protestose a indignação de colegas e figuras emergentes <strong>do</strong> <strong>meio</strong> <strong>acadêmico</strong><strong>brasileiro</strong>; desconsideraram a fala perversa <strong>do</strong> então Coordena<strong>do</strong>r<strong>do</strong> PPGAS, que afirmou que eu “só podia ser baia<strong>no</strong> 65 , que estava crian<strong>do</strong>muito problema, que tinha mesmo é que ser expulso, pois ninguémestava pedin<strong>do</strong> para que ficasse <strong>no</strong> PPGAS”; ratificaram o imaginárionacional sobre a questão racial <strong>no</strong> Brasil, ao transformarem uma suspeitade racismo, em questão inimaginável, i<strong>no</strong>minável, tabu.No departamento, os <strong>do</strong>is únicos professores que se manifestaramabertamente contra a corrente e me defenderam, pagaram um altopreço pelo gesto. Um deles, antiga Coordena<strong>do</strong>ra <strong>do</strong> PPGAS, foi destituí<strong>do</strong>de maneira, <strong>no</strong> mínimo, confusa, da coordenação, num momentoestratégico. Juntos, estes <strong>do</strong>is professores, estiveram temporariamentesob voto de censura para que não manifestassem suas divergênciaséticas e políticas em relação ao grupo hegemônico <strong>do</strong> departamento,nem comentassem o meu caso fora e dentro da UnB.Acredito que se pode ver neste “drama social”, forte indício decrime de racismo. Entretanto, como prová-lo? Quais da<strong>do</strong>s, palavras,idéias, representações ou categorias podem sustentar esta suspeita? Oque posso realmente falar sobre isso? Ao contrário, recebi fortes pressõespara que me calasse, inclusive de professores <strong>do</strong> PPGAS. Confessoque nunca me senti tão bloquea<strong>do</strong> ou repercutin<strong>do</strong> o aban<strong>do</strong><strong>no</strong> históricoao qual o segmento social a que pertenço foi relega<strong>do</strong>. Deusesafro-baia<strong>no</strong>s, se existem, nenhum amparo objetivo puderam me assegurar.Também a nenhuma voz negra coletiva, institucionalizada, legitima-66No que diz respeito ao apoio de vozes negras institucionalizadas é preciso <strong>no</strong>tar que, <strong>no</strong> início <strong>do</strong>processo, fiz contatos em Brasília que, pouco a pouco, se mostraram inconsistentes e se dispersaram.Muito próximo à decisão <strong>do</strong> CEPE da UnB, que me concedeu o crédito devi<strong>do</strong>, a organizaçãonão-governamental ENZP-Escritório Nacional Zumbi <strong>do</strong>s Palmares - aproximou-se <strong>do</strong> caso,conversou com meu advoga<strong>do</strong>, teve acesso aos <strong>do</strong>cumentos produzi<strong>do</strong>s, mas não interferiu <strong>no</strong>caso, preferin<strong>do</strong> observar o andamento <strong>do</strong> processo.310 Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312

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