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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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ciar sobre as mais profundas compreensões, os mais profun<strong>do</strong>s desejosde reversão da desigualdade racial e injustiça social. 2A condição de subalternidade é a condição <strong>do</strong> silêncio. (...) Osubalter<strong>no</strong> carece necessariamente de um representante por suaprópria condição de silencia<strong>do</strong>. No momento em que o subalter<strong>no</strong>se entrega, tão somente, às mediações da representação desua condição, torna-se um objeto nas mãos de seu procura<strong>do</strong>r<strong>no</strong> circuito econômico e de poder e com isso não se subjetivaplenamente. (...) Para<strong>do</strong>xalmente, sua legitimidade passa a serdada por outra pessoa, que assume o seu lugar <strong>no</strong> espaço público,essencializan<strong>do</strong>-o como o lugar genérico <strong>do</strong> outro <strong>no</strong> poder.Daí a busca constante por capturar o momento em que a representaçãose funde à a-presentação, pois ele é especialmentepropício para o surgimento de processos de insurreição e demovimentos sociais não coopta<strong>do</strong>s e revolucionários, na medidaem que as classes subalternas tentarão controlar o mo<strong>do</strong> comoserão representadas. 3Deste mo<strong>do</strong>, embora saiba, como quer uma teoria crítica, queconstrói verdades resulta<strong>do</strong> <strong>do</strong> fluxo de enuncia<strong>do</strong>s compartilha<strong>do</strong>s comseus nativos, de que ao invés de os fazer falar, traduz experiênciasvivenciadas num encontro et<strong>no</strong>gráfico, como quer uma teoria clássica, o<strong>intelectual</strong> <strong>negro</strong> subalter<strong>no</strong> acaba por invisibilizar-se, apassivar e emudecersua autoconsciência, seu próprio corpo <strong>negro</strong> imiscuí<strong>do</strong> <strong>no</strong> contextode pesquisa. Assim, como objeto de estu<strong>do</strong>, representa<strong>do</strong> por umagrande maioria de pesquisa<strong>do</strong>res brancos locais e estrangeiros — vários,aliás, autores sérios e fundamentais —, o <strong>negro</strong> tem si<strong>do</strong> constituí<strong>do</strong>como “excesso et<strong>no</strong>gráfico” 4 , “resíduo de África” e deslocamento so-234Gayatri Spivak, “Can the subaltern speak?”, in Patrick William & Laura Chrisman (eds). Colonialdiscourse and post-colonial theory. A reader (New York, Columbia University Press, 1994),pp. 66-111.José Jorge de Carvalho, “O olhar et<strong>no</strong>gráfico e a voz subalterna”, Série Antropologia, 167 (Brasília,Depto. de Antropologia/UnB, 1999), pp. 1-30.Michel de Certeau, “Et<strong>no</strong>-grafia. A oralidade ou o espaço <strong>do</strong> outro: Léry”, in Michel de Certeau, Aescrita da História (Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1989), pp.211-242, aponta o papel e opoder da escrita et<strong>no</strong>gráfica em pôr os objetos e identidades em seu devi<strong>do</strong> lugar, fazen<strong>do</strong> históriadaquilo que se esvanece num corte cultural de alteridade, na oralidade, na inconsciência, naespacialidade ou quadro sincrônico de sistemas sociais sem história. Neste caso, Certeau opõe aAfro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312 283

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