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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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que nasceu <strong>do</strong> ventre de uma negra, que tinha a cor a ajudá-lo,que viveu num ambiente fetichista toda a sua vida de peque<strong>no</strong>burocrata da Secretaria da Agricultura, nem mesmo ManuelQueri<strong>no</strong> põe a disposição <strong>do</strong>s estudiosos tão grande<strong>do</strong>cumentário, tanto material a estudar. (...) Nina Rodrigues, seestivesse vivo, estaria co<strong>no</strong>sco na trincheira, como um camarada,(...) ele era um <strong>do</strong>s <strong>no</strong>ssos. 37Pior <strong>do</strong> que Nina foi Manuel Queri<strong>no</strong>, que nem sabia dessasdivisões <strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s da África. Ele foi <strong>no</strong>tician<strong>do</strong> o que via emtor<strong>no</strong> de si, com a falta de inteligência que sempre o caracterizou,sem indagar nada, mas tentan<strong>do</strong> explicações pueris para os casosobserva<strong>do</strong>s. De maneira que a gente, hoje, apenas pôde utilizaro material eter<strong>no</strong> por ele trazi<strong>do</strong> à et<strong>no</strong>grafia e à psicologiasocial <strong>do</strong> afro-<strong>brasileiro</strong>, reinterpretan<strong>do</strong> tu<strong>do</strong>, à luz <strong>do</strong>s <strong>no</strong>vosconhecimentos, atuais, sobre o continente africa<strong>no</strong>. 38Deste mo<strong>do</strong>, temos um Édison Carneiro, embranqueci<strong>do</strong>, querecusa a influência e o controle <strong>do</strong> místico sobre os estu<strong>do</strong>s de Queri<strong>no</strong>,e quiçá dele próprio, que <strong>intelectual</strong>mente subordina<strong>do</strong>, superdimensionao distanciamento, aparentemente crítico e científico, de Nina Rodriguessobre nativos vistos sempre como dissimula<strong>do</strong>s. 39 Insisto emproblematizar, desloca<strong>do</strong> <strong>no</strong> tempo e <strong>no</strong> espaço, o que <strong>no</strong> passa<strong>do</strong> talvezfosse impossível ao próprio Édison Carneiro fazê-lo, porque considerofundamental ratificar as contradições de tão importante <strong>intelectual</strong> <strong>negro</strong>,“comunista”, defensor de políticas públicas para os <strong>negro</strong>s, masnada crítico em relação a sua posição enuncia<strong>do</strong>ra afinada aos argumentosracistas e evolucionistas de Nina Rodrigues. Se Nina Rodrigues,salvaguarda<strong>do</strong> <strong>no</strong> saber científico, pretendeu determinar o atavismo inferior<strong>do</strong> <strong>negro</strong>, o da<strong>no</strong> moral, a degenerescência e a falta de integridade<strong>do</strong> mestiço, apesar de apelar para o embranquecimento como salvação,Édison Carneiro, alia<strong>do</strong> a Nina Rodrigues, escreve que os cultos <strong>negro</strong>s,“seja qual for o mo<strong>do</strong> em que se apresentam, são um mun<strong>do</strong>, to<strong>do</strong> umestilo de comportamento, uma subcultura, que pode ser vencida (grifo37Carneiro, Ursa Maior, pp. 55-56-57. Edita<strong>do</strong> por mim.38Carneiro, Religiões Negras, p.128.39Corrêa, As Ilusões da Liberdade; Landes, A Cidade das Mulheres.40Carneiro, Can<strong>do</strong>mblés da Bahia, p. 36.Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312 297

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