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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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Arthur Ramos, um <strong>do</strong>s principais articula<strong>do</strong>res da “Escola de Nina Rodrigues”34 , e <strong>no</strong> extremo <strong>do</strong> empirismo, <strong>do</strong> erro e falta de inteligência,Manuel Queri<strong>no</strong>. Reivindica, deste mo<strong>do</strong>, para si, uma linhagem teóricaque passa pela incorporação de argumentos e estabelecimento da continuidadeda obra de Nina Rodrigues, além da cumplicidade com o médicoe pesquisa<strong>do</strong>r Arthur Ramos. Como fez Nina Rodrigues e ArthurRamos, Édison Carneiro apostou durante longo tempo na superioridade<strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s sudaneses e na verdade da tradição <strong>do</strong> Can<strong>do</strong>mblé Jejenagôdas “tradicionais” casas citadas acima. Seus informantes principaise seu campo preferencial de observação, foram os nativos destascasas, em que ele e outros intelectuais da época, eram amigos e protegi<strong>do</strong>s.Casas que, necessitadas de proteção política e <strong>legitimação</strong> cultural,estiveram prontas a criar espaços institucionais para brancos, abasta<strong>do</strong>se personalidades influentes. 35Ao meu ver, é, portanto, o anseio pela filiação a uma ciência branca,objetiva, paternalista e pretensamente imparcial que explica “aextrema severidade, às vezes <strong>no</strong> limite mesmo da injustiça crítica” 36com que Édison Carneiro se refere ao “peque<strong>no</strong> funcionário público”,Ma<strong>no</strong>el Queri<strong>no</strong>, pesquisa<strong>do</strong>r orgânico <strong>do</strong>s cultos afro-<strong>brasileiro</strong>s, contemporâneo<strong>do</strong> “mestre e cientista” racista e evolucionista, NinaRodrigues, com o qual Édison Carneiro é tão complacente:Antes de tu<strong>do</strong>, Nina Rodrigues foi muito unilateral. Para ele, oproblema <strong>do</strong> <strong>negro</strong> na América Portuguesa se resumia <strong>no</strong> problema<strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s nagôs e jejes, <strong>no</strong> problema <strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s sudaneses.(...) Culpa de Nina Rodrigues? Talvez não. Foi o gover<strong>no</strong> provisórioda República que man<strong>do</strong>u queimar os arquivos daescravidão...Outro grande erro de Nina Rodrigues — que foi,aliás, como o acentua bem Artur Ramos, um erro <strong>do</strong> seu tempo,— foi a escola antropológica de Lombroso e Ferri, que endeusoua raça branca, reduzin<strong>do</strong> o problema da cultura a uma questão desimples pigmentação de pele e de medidas craniométricas. Estaescola reacionária (...) muito atrapalhou o curso claro e certo <strong>do</strong>raciocínio de Nina Rodrigues. (...) Nem mesmo Manuel Queri<strong>no</strong>,3536Dantas, Vovó Nagô e Papai Branco, p.202.Oliveira e Lima, Cartas de Édison, p. 97.296 Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312

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