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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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Neste senti<strong>do</strong>, Melville Herskovits observa, numa resenha queescreveu sobre a edição em inglês de A cidade das mulheres, que,apesar das várias qualidades <strong>do</strong> trabalho de Landes, a autora estavapouco familiarizada e pouco habilitada para lidar com aspectos delica<strong>do</strong>s<strong>do</strong> seu campo de pesquisa:Há várias passagens em A Cidades das Mulheres que demonstrama má preparação da Senhorita Landes. A autora conheciamuito pouco o background africa<strong>no</strong> e perspectivas <strong>do</strong> seu materialet<strong>no</strong>gráfico. Isto pode ser constata<strong>do</strong> tanto em detalhes quantona orientação geral da obra. Explica-se, assim, a má interpretaçãoou erros <strong>no</strong> entendimento <strong>do</strong> significa<strong>do</strong> de da<strong>do</strong>s sutis. (...) ofato é que a autora revela pouco trei<strong>no</strong> <strong>no</strong> manejo <strong>do</strong> que poderiaser chama<strong>do</strong> de aspectos diplomáticos <strong>do</strong> trabalho de campo,perde-se, em muitos casos, por causa da não familiaridade com obackground histórico <strong>do</strong> campo sem corresponder às mais amplasdemandas da pesquisa et<strong>no</strong>gráfica. 20Em sua perspectiva mali<strong>no</strong>wskiana, Landes acreditava “estar viven<strong>do</strong>entre os <strong>negro</strong>s baia<strong>no</strong>s”, “participan<strong>do</strong> de suas vidas”, “entenden<strong>do</strong>-osde fato”. A autora percebeu as ambigüidades nas relaçõesentre <strong>negro</strong>s e brancos, entre intelectuais e o povo, entre cor, classe estatus, distâncias estruturais entre mulheres e homens <strong>negro</strong>s <strong>no</strong> Can<strong>do</strong>mblé,desigualdades sociais e econômicas entre um mun<strong>do</strong> branco eoutro <strong>negro</strong>, a<strong>no</strong>tou a perseguição policial e moral às manifestaçõesculturais e religiosas <strong>do</strong>s <strong>negro</strong>s, mas termina sua pesquisa confirman<strong>do</strong>o que já sabia, ou seja, a suposta harmonia e inexistência de conflitosentre um mun<strong>do</strong> <strong>negro</strong> bárbaro e outro branco civiliza<strong>do</strong>. Isto porque,contraditória como Bronislaw Mali<strong>no</strong>wski 21 , a autora confessa ter vivi<strong>do</strong>entre os <strong>negro</strong>s baia<strong>no</strong>s hospedada num <strong>do</strong>s melhores hotéis da época,pagou praticamente a to<strong>do</strong>s os seus cordiais informantes, não exploroumais detidamente suas contradições ou sobre o contexto racial <strong>no</strong>qual estavam inseri<strong>do</strong>s, poucas vezes investiu ou aproveitou fontes que2021Melville J. Herskovits, “The City of Women. Ruth Landes”, American Anthropology, v. 50, n.1, Part 1 (January-march, 1948), Menasha/Wisconsin/U.S.A, p. 125. Tradução <strong>do</strong> autor.Bronislaw Mali<strong>no</strong>wski, Argonautas <strong>do</strong> Pacífico Ocidental: Um relato <strong>do</strong> empreendimento eda aventura <strong>do</strong>s nativos <strong>no</strong>s arquipélagos da Nova Guiné Melanésia, SP, Abril Cultural, ColeçãoOs Pensa<strong>do</strong>res, 1978.Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312 291

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