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A legitimação do intelectual negro no meio acadêmico brasileiro

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acor<strong>do</strong>u to<strong>do</strong>s, para a presença de uma identidade masculina repugnada,mas evidenciou que o matriarca<strong>do</strong> independia <strong>do</strong> sexo biológico daquelesque o exerciam, era, portanto, um princípio religioso historicamenteconstruí<strong>do</strong> e legitima<strong>do</strong>, inclusive, através <strong>do</strong>s arquétipos de determinadasentidades místicas associadas aos sacer<strong>do</strong>tes.Há, entretanto, outro aspecto de A Cidade das mulheres e daposição <strong>no</strong> campo de Ruth Landes, negligencia<strong>do</strong> pelos intérpretes cita<strong>do</strong>sacima, que gostaria de enfatizar. Este aspecto diz respeito à questãoracial na Bahia e <strong>no</strong> Brasil. 17 Landes afirma ter chega<strong>do</strong> à Bahia jáimpressionada com prévias informações de que, ao contrário <strong>do</strong> seupaís, <strong>negro</strong>s e brancos, conviviam juntamente de maneira civil e proveitosa.Na introdução <strong>do</strong> seu livro, adianta que não discute problemas derelações raciais na Bahia por que não havia nenhum, descreverá, simplesmente,“a vida de <strong>brasileiro</strong>s de raça negra, gente graciosa e equilibrada,cujo encanto é proverbial na sua própria terra e imorre<strong>do</strong>uro naminha memória”. 18 Por fim conclui, dizen<strong>do</strong> queem retrospecto, a vida de lá parece remota e fora <strong>do</strong> tempo. Fuienviada à Bahia para saber como as pessoas se comportam quan<strong>do</strong>os <strong>negro</strong>s com quem convivem não são oprimi<strong>do</strong>s. Verifiqueique eram oprimi<strong>do</strong>s por tiranias políticas e econômicas, mas nãopor tiranias raciais. Nesse senti<strong>do</strong> os <strong>negro</strong>s eram livres e podiamlivremente cultivar a sua herança africana. Mas estavam <strong>do</strong>entes,subnutri<strong>do</strong>s, analfabetos e desinforma<strong>do</strong>s, exatamente como a gentepobre de origens raciais diferentes. Era a sua absoluta pobreza queos isolava <strong>do</strong> pensamento moder<strong>no</strong> e os obrigava a construir oseu próprio e seguro universo. Viviam <strong>no</strong> único mun<strong>do</strong> que lhesera permiti<strong>do</strong> e o tornavam íntimo e amistoso através da instituição<strong>do</strong> can<strong>do</strong>mblé, cujo vigor, fausto e promessas de segurança seduziamoutras pessoas na Bahia e eram motivo de exaltação e orgulhopara o resto <strong>do</strong> Brasil. 19171819Entre os intérpretes da obra de Landes cita<strong>do</strong>s é preciso lembrar que Dantas, Vovó Nagô e PapaiBranco, p. 206, embora não se detenha sobre esta questão em Ruth Landes, constitui uma exceçãoquan<strong>do</strong> afirma que a autora percebeu, <strong>no</strong> seu contexto de pesquisa, a utilização <strong>do</strong> <strong>negro</strong>baia<strong>no</strong> como símbolo de identidade nacional, mas termina por proclamar a <strong>no</strong>ssa democraciaracial e cultural.Ruth Landes, A Cidade das Mulheres, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira 1967, p. 2Landes, A Cidade das Mulheres, p. 278.290 Afro-Ásia, 25-26 (2001), 281-312

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