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O Brasil de Betinho - Ibase

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“Eu fui trabalhar numafábrica <strong>de</strong> porcelana,em Mauá, on<strong>de</strong> fiquei seis meses. (...) Na primeira semana,eu carregava caixotes com louça. Eu que nunca tinha carregadocaixote na minha vida punha no ombro e saía. No primeiro diacomeçou uma hemorragia no joelho. Eu trabalhei <strong>de</strong> segunda asábado com hemorragia. No sábado eu não conseguia nem andar.Fui transferido para outro trabalho. Passei a ser lixador <strong>de</strong> xícara.”(<strong>Betinho</strong>, na revista Teoria e Debate, nº 16)“A clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> é tão difícil <strong>de</strong> ser entendidapor quem não a viveu, como a doença para quemsempre esteve são. Clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong> é uma situaçãoanormal, invertida em todos os seus aspectos. Onormal para qualquer pessoa é ter seu nome ea sua história, o reconhecimento social da suaindividualida<strong>de</strong>. O clan<strong>de</strong>stino <strong>de</strong>ve ao contrárioocultar seu próprio nome e buscar que a sua própriahistória não seja conhecida. (...) Em permanentesituação <strong>de</strong> perigo, vivendo a tensão cotidiana dorisco <strong>de</strong> ser localizado, isolado <strong>de</strong> seus ambientesanteriores, cortado em sua história pessoal, vivendoartificialmente uma história em parte verda<strong>de</strong>ira eem parte inventada, o clan<strong>de</strong>stino acaba por sofreruma série <strong>de</strong> condicionamentos que o testam sobmuitos aspectos.”“A coisa em Mauá começou a ficar meio tensa, porque a gentefazia trabalho <strong>de</strong> panfletagem, pregando a luta armada. Eu memu<strong>de</strong>i para Santo André, e, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1970, caiu todo otrabalho em Mauá. (...) Pren<strong>de</strong>ram 60 caras, batendo, torturando.(...) Eu saí da casa on<strong>de</strong> estava. Segundo soube, algumas horas<strong>de</strong>pois a polícia chegou lá. Eu ainda fiquei em São Paulo umano criando as condições <strong>de</strong> saída para o exterior, porque aorganização não tinha condições <strong>de</strong> dar nada (...). E foi aí queeu comecei a tomar uma consciência claríssima do quão suicidaera a nossa situação. A gente pensava: ‘Se eu cair, eu tenho duaschances: ou eu falo, e me transformo num traidor, ou eles vão mematar’. (...) Foi aí que eu realmente tive medo.”[ <strong>Betinho</strong>, na revista Teoria e Debate, nº 16 ][ <strong>Betinho</strong>, em “Sobre a clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>”, ArquivoHerbert <strong>de</strong> Souza, CPDOC/FGV ]Da “guerra popular” ao exílio91

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